Luís IX de França: diferenças entre revisões

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| cônjuge = [[Margarida de Provença|Margarida da Provença]]
| tipo-cônjuge = Esposa
| descendência = [[Isabel de França, Rainha de Navarra|Isabel de França]]<br/>Luís de França<br/>[[Filipe III de França]]<br/>João Tristão, Conde de Valois<br/>Pedro, Conde de Perche e Alençon<br/>Branca de França<br/>[[Margarida da França (1254-12711254–1271)|Margarida da França]]<br/>[[Roberto de França, conde de Clermont|Roberto, Conde de Clermont]]<br/>[[Inês da França, Duquesa da Borgonha|Inês da França]]
| casa = [[Dinastia capetiana|Capeto]]
| pai = [[Luís VIII de França]]
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| religião = [[Igreja Católica|Catolicismo Romano]]
}}
'''Luís IX''' ([[Poissy]], [[ Île-de-France]], [[Reino da França]], {{dtlink|25|4|1214}} – [[Tunes]], [[Reino Háfsida]], {{dtlink|25|8|1270}}), comumente chamado de '''São Luís''', foi o [[Lista de monarcas da França|Rei da França]] de 1226 até sua morte e um santo da [[Igreja Católica]]. Era filho do rei [[Luís VIII de França|Luís VIII]] e da rainha [[Branca de Castela]], que governou o reino como regente até São Luís adquirir a maioridade. Foi o 42º [[rei da França]], a contar de [[Clóvis I]], e o nono rei da [[Dinastiadinastia Capetianacapetiana]] a ocupar o trono da França.
 
Quando adulto, Luís enfrentou conflitos recorrentes com poderosos nobres, consolidando a supremacia real levada a cabo por seu avô [[Filipe II de França|Filipe Augusto]], além de ter derrotado o rei [[Henrique III de Inglaterra]] em suas tentativas de restaurar o [[Império Plantageneta]]. Após anexar a maior parte das antigas terras inglesas na França, assinou um [[Tratado de Paris (1259)|tratado]] com a Inglaterra colocando fim aos cem anos de rivalidade franco-inglesa.
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Suas ações foram inspiradas nos valores [[Cristianismo|cristãos]], sendo ele um homem extremamente devoto da [[fé católica]], punindo a [[blasfémia]], jogos de azar, empréstimos de interesse e prostituição, comprando relíquias de [[Cristo]] para construir a [[Sainte-Chapelle]] e tentando converter os judeus franceses. Construiu inúmeros hospitais, leprosários, orfanatos e escolas e era notadamente conhecido pela sua caridade e cuidado com os pobres e doentes. <ref>http://www.franciscanos.org.br/?p=59471</ref>
 
Foi casado com a rainha [[Margarida da Provença]], cujo casamento se celebrou em [[1234]] e com ela teve onze filhos, dentre os quais o rei [[Filipe III dade França]], que o sucedeu. Através de sua vasta prole, os descendentes de São Luís chegaram a quase todos os tronos da Europa e América, incluídas as dinastias posteriores que reinaram na [[França]], [[Espanha]], [[Áustria]], [[Sacro Império Romano-Germânico]], [[Alemanha]], [[Inglaterra]], [[Escócia]], [[Suécia]], [[Noruega]], [[Dinamarca]], [[Hungria]], [[Portugal]], [[Bélgica]], [[Grécia]], [[Bulgária]], [[Itália]], [[Holanda]], [[Polônia]], [[Romênia]], [[Rússia]], [[México]] e [[Brasil]].
 
Em todas as épocas posteriores da [[história da França]], marcada por conflitos, guerras e revoluções, seu governo foi lembrado com nostalgia pelos franceses como "''o bom tempo de Meu Senhor São Luís''" ou como o "''século de ouro de São Luís''", deixando uma imagem imensamente positiva aos olhos da história e do imaginário popular [[francês]].<ref>http://sumateologica.wordpress.com/2009/09/23/um-cristao-leigo-sao-luis/</ref>
 
Morreu no norte da África em [[25 de agosto]] de [[1270]] e foi canonizado como santo pelo papa [[Papa Bonifácio VIII|Bonifácio VIII]] em [[11 de julho]] de [[1297]].
 
== Infância ==
São Luís nasceu no castelo de [[Poissy]], a 30 quilómetros de [[Paris]], a [[25 de abril]] de [[1214]], dia de [[procissão|procissões]] solenes do dia de [[São Marcos]]. Na mesma época, [[Filipe Augusto]] venceu a célebre [[batalha de Bouvines]], contra uma aliança dedo [[imperador romano-germânico]] [[Otão IV, do Sacro ImperadorImpério Romano-Germânico|Otão IV]], com [[João de Inglaterra]] e com nobres da [[Flandres]].
 
Tradicionalmente, depois de [[Filipe I de França]], os [[dinastia capetiana|reis capetianos]] [[baptismo|baptizavam]] os seus primogénitos com o prenome do avô. Luís IX foi o quinto filho de [[Luís VIII de França]] e [[Branca de Castela]], sendo o seu irmão Filipe o herdeiro da coroa até à morte deste em [[1218]].
 
A sua infância terá sido influenciada pela figura do seu pai que, unindo o zelo pela [[religião]] à bravura marcial que lhe valeu o cognome de ''"o Leão''", [[Cruzada albigenseAlbigense|subjugou os cátaros]] do sul da França. Particularmente zelosos da sua educação, os pais de Luís IX deram-lhe bons preceptores: Mateus II de Montmorency, Guilherme des Barres, conde de [[Rochefort-en-Yvelines|Rochefort]], e Clemente de [[Metz]], marechal da França, inspiraram-lhe os sentimentos de um rei [[cristianismo|cristianíssimo]] e filho da Igreja.
 
Da mesma forma, mais tarde Luís interessar-se-ia pela educação, particularmente a religiosa, dos seus filhos. Ensinar-lhes-ia orações, a necessidade de assistir à missa e de fazer penitência. Conta-se também por exemplo que às [[sexta-feira|sextas-feiras]] não permitia que usassem qualquer ornamento na cabeça, por ter sido o dia da [[coroa de espinhos|coroação de espinhos]] de [[Jesus Cristo]].
 
== Reinado ==
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Com a morte do seu pai em [[8 de novembro]] de [[1226]], Luís IX subiu ao trono aos 12 anos de idade. Foi sagrado na catedral de [[Reims]] por Jacques de Bazoches, bispo de [[Soissons]], em [[30 de novembro]] do mesmo ano.
 
[[Ficheiro:Louis ix sacre.jpg|thumb|left|200pxupright=1.0|''Sagração de Luís IX de França na [[catedral]] de [[Reims]]'', <small> [[iluminura]] do século XIII</small>]]
 
Por testamento de Luís VIII, a mãe do jovem monarca assumiu a [[Regência (sistema de governo)|regência]] de França com o título de «''baillistre''», guardião da tutela do rei. Bartolomeu de Roy, o velho [[camareiro]] da corte havia vinte anos, era o mais influente conselheiro do reino, pelo que se disse na época que o poder passava assim «''entre as mãos de uma criança, de uma mulher e de um velho''».<ref>''Chronique de Tours''</ref>
 
De personalidade forte, [[Branca de Castela]] encarnava a glória de ser filha, sobrinha, esposa, irmã e tia de reis. Com efeito, o seu pai foi [[Afonso VIII de Castela]], os [[lista de monarcas britânicos|reis da Inglaterra]] [[Ricardo Coração de Leão]] e [[João sem Terra]] eram seus tios, [[Luís VIII de França]] seu esposo, [[Henrique I de Castela]] e [[Berengária de Castela]] seus irmãos, Luís IX de França e [[Carlos I da Sicília|Carlos I da Sicília e Nápoles]] seus filhos, [[Sancho II de Portugal]] e [[Afonso III de Portugal]] seus sobrinhos através da sua irmã [[Urraca de Castela, rainha de Portugal|Urraca]] e [[Fernando III de Leão e Castela]] também seu sobrinho através da sua irmã [[Berengária de Castela|Berengária]].
 
Durante a menoridade de Luís IX a [[rainha mãe]] enfrentou as ambições da [[Inglaterra]] e as pressões da [[nobreza]] do reino, que desejavam valer-se da pouca idade do soberano para retomar os direitos perdidos para os monarcas do último século.
 
O reino entrou em um período conturbado, com a revolta organizada por [[Filipe Hurepel]], tio do jovem rei e filho legitimado de Filipe Augusto, pela casa de [[Dreux]] e pelo duque Pedro Mauclerc da [[Bretanha]]. Depois de sufocar a rebelião, a regente concluiu a conquista do [[Languedoc]] iniciada pelo seu esposo ao comprometer o conde [[Raimundo VII de Toulouse]], casando a filha deste, Joana, com o seu filho [[Afonso III de Poitiers|Afonso]]. Acabava assim a [[Cruzada dos Albigenses]].
 
=== Maioridade e casamento ===
Delicado, louro e de [[olho]]solhos [[azul|azuis]], Luís atingiu a maioridade a [[25 de abril]] de [[1234]] mas continuou a manter a mãe numa posição de confiança e poder. Não há uma data precisa em que se defina a efectiva tomada do poder por Luís, os seus contemporâneos viram o seu reinado como um período de partilha do poder com [[Branca de Castela]]. No entanto, os historiadores costumam definir o ano da sua maioridade como aquele em que Luís passou a governar mais tradicionalmente como rei, relegando a mãe para um papel mais de conselheira, se bem que continuou a ser uma poderosa força política até à sua morte em [[1252]].
 
Esta organizou o seu [[casamento]], realizado no dia [[27 de maio]] de [[1234]], na catedral de [[Sens]], pouco depois de o rei completar 20 anos. A esposa escolhida foi [[Margarida da Provença]], a filha mais velha de [[Beatriz de Saboia, condessa de Provença|Beatriz de Saboia]] e do conde [[Raimundo Berengário IV da Provença|Raimundo Berengário IV]] da [[Provença]] e de [[Forcalquier]], e irmã de [[Leonor da Provença|Leonor]], esposa de [[Henrique III da Inglaterra]].
 
Com esta união pretendia-se agregar este condado ao reino da [[França]], uma vez que Raimundo Berengário IV não tinha um herdeiro varão. Dizia-se que a graça e a natureza haviam dotado a sua esposa de toda sorte de perfeições<ref name="saints">''Vie des Saints'', Les Petits Bollandistes, Typographie des Célestins, ancienne Maison L. Guérin, tomo V, pp. 192 a 217, Bar-le-Duc, 1874</ref>, e de facto foi bem sucedida em prover a [[dinastia capetiana]] com herdeiros.
 
=== Política interna ===
A partir de [[1241]], Luís IX parece tomar mais responsabilidades para si no governo do país. Fez do seu irmão [[Afonso III de Poitiers|Afonso]] [[conde]] de [[Poitiers]] a fim de obrigar a [[nobreza]] local a lhe [[Cerimônia de Vassalagem|prestar homenagem]]. A rebelião de Hugo X de Lusignan permitiu-lhe estabelecer a autoridade real em uma curta campanha, de [[28 de abril]] de [[1242]] a [[7 de abril]] de [[1243]], e o mesmo tempo aproveitou a situação de vantagem até [[Quercy]] (aproximadamente o actual [[Lot (departamento)|departamento de Lot]]) para expulsar da lá o rei [[Henrique III de Inglaterra]], que decidira romper a trégua de [[1238]].
 
[[Ficheiro:Louis IX gros 1266.jpg|thumb|left|250pxupright=1.5|Moeda de prata de [[Tours]], ''Gros tournois'', de São Luís, c. 1266]]
Resolveu antigas divergências com [[Jaime I de Aragão]] pelo [[Tratado de Corbeil]], pelo qual o rei francês renunciava a hipotéticos e caducos direitos sobre [[Reino de Aragão|Aragão]], em troca da renúncia do monarca [[Catalunha|catalão]]-[[Aragão|aragonês]] a direitos muito concretos sobre vastos territórios no [[sul]] da [[França]]. Para selar este tratado, Luís casou a sua filha Branca com o [[infante]] [[Fernando de La Cerda]], [[príncipe]] herdeiro do [[reino de Castela]], e Jaime I de Aragão casou a sua filha [[Isabel de Aragão (1247)|Isabel]] com o príncipe francês, o futuro rei [[Filipe III de França]].
 
Na administração do reino, Luís IX designou inspectores gerais, que eram considerados funcionários públicos, criou a comissão judicial da cúria e instituiu uma comissão de fazenda e de inspecção de contas.
 
Proibiu aos juízes, oficiais e outros emissários seus enviados às [[Antigas províncias da França|províncias]] para ali exercerem justiça durante algum tempo, de adquirir bens e empregar os seus filhos. Nomeou, acima deles, juizes extraordinários para examinar a conduta dos primeiros e rever os seus julgamentos, funcionando como justiça de apelação.<ref name="saints" />. Para a pessoa do rei ficava reservado o papel de ''juiz supremo''.
 
Segundo os relatos da época, se entendia que os seus oficiais tivessem agido mal, impunha em primeiro lugar uma severa penitência a si mesmo, como culpado pelo excesso praticado pelos seus representantes, e em seguida ministrava-lhes severa punição, obrigando-os a restituir o que haviam tomado do povo, se fosse esse o caso, ou a reparar aqueles que haviam sido condenados injustamente. Pelo contrário, quando tomava conhecimento de que haviam cumprido dignamente os seus deveres, recompensava-os regiamente e os fazia ascender a funções mais honrosas.<ref name="saints" />. Foi também o primeiro rei a proibir [[duelo]]sduelos, anteriormente tolerados e por vezes ordenados a fim de se conhecer o direito das partes.
 
=== Zelo religioso ===
Este reinado foi um período de paz e prosperidade para a França, mas também de excepcionais zelo religioso e [[intolerância religiosa|intolerância]], com a intenção de conduzir o povo francês à salvação da alma. São Luís não negligenciava o cuidado dos pobres, proibiu o jogo e a prostituição e punia a blasfémia. As punições estipuladas eram tão rigorosas que o papa [[papaPapa Clemente IV|Clemente IV]] julgou ser necessário atenuá-las.
 
[[Ficheiro:Sacre Coeur - Vitraux St Louis.jpg|thumb|left|200pxupright=1.0|''São Luís, ''<br><small>[[Vitral|vitraisVitrais]] na [[Basílica de Sacré Cœur]] de [[Montmartre]]</small>]]
 
Outro dos traços em que a religiosidade deste monarca se manifestou foi na aquisição da [[coroa de espinhos]] e de um fragmento da cruz da crucificação de [[Jesus Cristo]], em [[1239]]-[[1241]], a [[Balduíno II de Constantinopla|Balduíno II]], [[Império Latino|imperador de Constantinopla]], por 135.000{{fmtn|135000}} [[libra (moeda)|libras]]. Para estas [[relíquia]]s mandou edificar a [[capela]] [[arquitectura gótica|gótica]] de [[Sainte-Chapelle]] no coração de [[Paris]]<ref>''La Sainte Chapelle et la Conciergerie'', F. Gebelin, Paris, 1937</ref>, que curiosamente só custou 60.000{{fmtn|60000}} libras para construir. Sob este reinado foram também construídas as [[catedral|catedrais]] de [[Amiens]], [[Rouen]], [[Beauvais]], [[Auxerre]] e [[Saint-Germain-en-Laye]].
 
A compra das relíquias deve ser entendida no contexto de extremo fervor religioso que existia na [[Europa]] do século XIII. A posse destas contribuiu muito para reforçar a posição central do rei da França na cristandade ocidental, bem como para aumentar a fama de Paris, na época a maior cidade da [[Europa ocidentalOcidental]]. Na época em que as cidades e os governantes competiam pela posse de relíquias sagradas, Luís IX conseguiu colocar algumas das mais ambicionadas na sua capital. É possível ver este acto não só como devoção, mas também uma declaração política: a [[Lista de monarcas da França|monarquia francesa]] a tentar estabelecer o seu reino como a ''"nova Jerusalém''" dos [[bíblica|textos bíblicos]].
 
O monarca francês era zeloso da sua missão de "''lugar-tenente de Deus na Terra''", da qual fora investido na sua coroação em [[Reims]]. De forma a cumprir este dever organizaria duas cruzadas e, apesar de ambas terem fracassado, contribuíram para o seu prestígio. Os seus contemporâneos não teriam compreendido se um rei tão poderoso e piedoso não fosse libertar a [[Terra Santa]].
 
Para financiar a sua primeira cruzada, perseguiria a comunidade judaica. No século XIII era generalizada a aversão pelos judeus por serem considerados culpados pela morte de [[Jesus]] pelos cristãos. Tal como os seus antecessores, São Luís tomou medidas discriminatórias e persecutórias contra esta minoria, também com a intenção de a converter ao [[cristianismo]]:<ref name="saints" />:
 
[[Ficheiro:Etoile-Jaune-IMG 0942.jpg|thumb|150pxupright=1.0|''Rouelle'' ou [[estrela amarela]], o emblema obrigatório dos [[judeus]] implementado por SãoLuís LuísIX na [[França]] e empregue pela última vez pelo [[governo de Vichy]]]]
 
* Ordenou a expulsão de todos os judeus envolvidos em actividades de usura e assim pôde confiscar as riquezas destes para financiar os seus projectos. No entanto não eliminou as dívidas dos cristãos: foi perdoado um terço da dívida, mas os outros dois terços deveriam ser enviados para o tesouro real.
* Em [[1242]], supostamente sob solicitação de judeus convertidos ao cristianismo, e que afirmavam que o [[Talmud]] continha invectivas contra [[Cristo]] e a [[Virgem Maria]], ordenou a queima dos exemplares deste livro religioso em [[Paris]] <ref>{{link|en|http://www.newadvent.org/cathen/08399a.htm|''Judaism'', Francis E. Gigot, ''The Catholic Encyclopedia'', vol. VIII, New York: Robert Appleton Company, 1910}}</ref>.
* Em [[1254]], ordenou a expulsão dos judeus não convertidos da França, apropriando-se dos seus bens. No entanto, não terá sido feito um controlo muito eficaz para fazer cumprir esta medida, pelo que muitos permaneceram nos locais em que viviam. Alguns anos depois o rei anularia este decreto em troca de um pagamento, em prata, da comunidade judaica ao tesouro real.
* Em [[1269]], em aplicação de uma recomendação do [[Quarto Concílio de Latrão]] de [[1215]], impôs a obrigatoriedade de usarem sinais vestimentares distintivos. Para os homens a ''rouelle'' ou [[estrela amarela]] ao peito, e para as mulheres um chapéu especial. Estes sinais permitiam diferenciá-los do resto da população e ajudar a impedir os casamentos mistos.
 
Para além da legislação contra os judeus e a usura, o rei alargou o alcance da [[Inquisição]] na França. A área mais visada foi o sul do país, onde a [[heresia]] [[cátaros|cátara]] tinha sido mais forte. A quantidade de confiscos atingiu o ponto máximo nos anos anteriores à [[Sétima Cruzada]], e diminuiu aquando do seu regresso à Europa em [[1254]].
 
Em todos estes actos, Luís tentava cumprir o que se encarava ser o dever da França, chamada de ''"a filha mais velha da Igreja"'' (''la fille aînée de l'Église''), com uma tradição de protectora da [[Igreja]] desde os tempos dos [[francos]] e de [[Carlos Magno]], que fora coroado pelo [[papa]] em [[Roma]] no ano de [[800]]. De facto, para além dos títulos ''Rex Francorum'' ("rei dos francos"), ou ''Franciae Rex'' ("rei da França"), que Luís IX foi o primeiro a usar, os monarcas franceses também eram intitulados ''Rex Christianissimus'' ("rei cristianíssimo"). As relações entre a França e o papado atigiram o seu ponto máximo nos [[século XII|séculos XII]] e [[século XIII|XIII]], e a maioria das cruzadas foram proclamadas pelos papas em solo francês.
 
=== Sétima cruzada ===
{{Ver artigo principal|[[Sétima Cruzada]]}}
 
[[Ficheiro:Gustave Doré, le départ de Louis IX pour la croisade.jpg|thumb|''Partida de Luís IX de [[Aigues-Mortes]] para a [[Sétima Cruzada]] ([[ilustração]] de''<br><small>Por [[Gustave Doré]]).</small>]]
 
Em [[1244]], Luís IX caiu gravemente enfermo de [[disenteria]], a ponto de alguns terem como certa sua morte. Foram organizadas vigílias, [[procissão|procissões]] e outros actos religiosos pela sua convalescença, e o próprio monarca fez então um voto: caso sobrevivesse, partiria em [[cruzada]] para libertar o [[Santo Sepulcro]].
 
[[Ficheiro:Emile Signol - Louis IX, dit Saint Louis, Roi de France (1215-1270).jpg|thumb|200pxupright=1.0|left|''Luís IX de França'' <small>porPor Emile Signol, 1839, [[Palácio de VersaillesVersalhes]]</small>]]
 
A organização da cruzada durou quatro anos, durante os quais foi construído o porto de [[Aigues-Mortes]], sob a iniciativa de [[Carlos I da Sicília|Carlos de Anjou]], irmão do rei. A [[cidade]] nunca chegaria a ser ressarcida do custo exorbitante da infraestrutura requerida para este projecto e por isso levaria Carlos de Anjou perante a justiça.
 
A 12 de junho de 1248 Luís armou-se com a ''oriflamme'', o [[estandarte]] de [[guerra]] [[dinastia capetiana|capetiano]], na [[basílica]] de [[Saint-Denis (França)|Saint-Denis]]. Partiu então, acompanhado da [[rainha]] [[Margarida da Provença]], e dos seus irmãos Carlos de Anjou e [[Roberto I de Artois]].
 
Dirigiu-se para [[Lyon|Lião]], onde se encontrou com o papa [[papaPapa Inocêncio IV|Inocêncio IV]], de quem recebeu a [[benção apostólica]], e em seguida para [[Aigues-Mortes]], onde o aguardavam as embarcações que deveriam conduzir os cruzados ao [[Egipto]]. A 25 de agosto de 1248, iniciou-se a [[Sétima Cruzada]].
 
As [[nau]]snaus tocaram inicialmente a [[ilha de Chipre]], onde o monarca se viu obrigado a permanecer durante o [[Inverno]]inverno devido a uma [[Peste negra|peste]] que arrebatou uma sexta parte do seu exército. Estas perdas e a demora foram contudo de algum modo compensadas pela adesão de [[Henrique I de Chipre|Henrique I de Lusignan]], [[Reino de Chipre|rei de Chipre]], a quem São Luís conseguiu convencer a juntar-se à expedição.
 
[[Ficheiro:Damietta1249.jpg|thumb|right|200pxupright=1.0|''Ataque dos [[cruzados]] a [[Damieta]], no [[Egipto]]'', <small>[[iluminura]]</small>]]
 
Os cruzados retomaram a expedição a 13 de maio de 1249, à frente de uma formidável armada de 1800 embarcações, grandes e pequenas. Devido a tempestades, mais da metade destas desviou-se da rota pelo que, ao passar em revista as suas tropas, o rei encontrou apenas 700 [[cavalaria medieval|cavaleiros]], dos 2800 de que se compunha o seu exército<ref name="saints" />. A cidade portuária de [[Damieta]] (actual [[Dimyat]]) foi a primeira a ser tomada, em 8 de junho.
 
[[Ficheiro:C croisade7 prisonnier1.jpg|thumb|left|''Luís IX feito prisioneiro durante a [[Sétima Cruzada]] (ilustração de''<br><small>Por [[Gustave Doré]]).</small>]]
 
O exército dirigiu-se então para [[Cairo]] mas sofreu ataques incessantes do [[emir]] Fakhr el-Din. De fevereiro a abril de [[1250]], os cruzados cercaram a [[cidadela]] de [[Al-Mansurah]]. O [[escorbuto]] e a [[disenteria]] dizimaram os soldados e forçaram o rei a bater em retirada. Um traidor lançou então o boato de que o monarca francês se rendera. A maior parte dos soldados rendeu-se e foi aprisionada, tal como Luís IX. [[Roberto I de Artois]] morrera no decurso das batalhas por esta cidade.
 
Durante o seu cativeiro, o rei encarregou [[Margarida da Provença]] de conduzir a cruzada. Neste período conta-se de os emires do Egipto o quererem eleger como [[sultão]] e do nascimento de um dos filhos em Damieta, durante a negociação com os seus algozes<ref name="saints" />. Em Maio os cruzados foram libertados sob um avultado resgate pago pela [[Ordem do Templo]].
 
São Luís decidiu então prolongar a sua estadia no que restava dos [[estados cruzados|estados latinos do Oriente]]. Reenviou os irmãos [[Afonso III de Poitiers]] e [[Carlos I da Sicília|Carlos de Anjou]] para a [[França]] para apoiar a mãe [[Branca de Castela]], só no governo do reino. De [[1250]] a [[1253]], consolidou as [[Fortaleza (arquitetura militar)|fortalezas]] de [[São João de Acre]], [[Cesareia Marítima]], [[Jafa]] e [[Sídon]] e conduziu a diplomacia dos cristãos com os poderes islâmicos da [[Síria]] e do [[Egipto]].
 
Na primavera de [[1253]], Luís IX tomou conhecimento do falecimento da [[rainha mãe]] regente, pelo que foi obrigado a voltar ao reino, deixando uma presença significativa de forças na cidade de Acre para a sua defesa contra ataques dos [[muçulmanos]]. Os cruzados embarcaram em [[Tiro]] a [[25 de abril]] (festa de [[São Marcos]]) de [[1254]] e chegaram à [[França]] a [[19 de julho]] do mesmo ano. Em [[5 de setembro]], encontrava-se no [[castelo]] de [[Vincennes]] e no dia seguinte entrava solenemente em [[Paris]]. O seu regresso foi acolhido com manifestações de afeição do papa [[papaPapa Clemente IV|Clemente IV]] e de [[Henrique III da Inglaterra]].
 
=== Relações com os mongóis ===
São Luís teve várias trocas epistolares com os [[Império Mongol|governantes mongóis]] da época e organizou o envio de embaixadores junto a estes. Os contactos iniciaram-se em [[1248]], com enviados mongóis apresentando uma carta de Eljigidei, o goverador mongol da [[Arménia]] e da [[Pérsia]], propondo uma [[aliança militar]]:<ref>[http://links.jstor.org/sici?sici=0013-8266(198007)95%3A376%3C481%3ATCITHL%3E2.0.CO%3B2-F ''The Crisis in the Holy Land in 1260'', Peter Jackson, ''The English Historical Review'', Vol. 95, No. 376 (Julho de 1980), pp. 481-513]([[língua inglesa|em inglês]])</ref> quando o rei francês desembarcou em [[Chipre]] em preparação para a Sétima Cruzada, encontrou-se em [[Nicósia]] com dois [[Nestorianismo|nestorianos]] de [[Mossul]] chamados David e Marco, enviados de Eljigidei. Estes comunicaram uma proposta de formar uma aliança contra o [[Império Aiúbida]] e o [[Califado Abássida]].<ref name="Grousset">''Histoire des Croisades'', René Grousset, p.523 e 581 ({{ISBN|2-262-02569-X}})</ref>
 
Em resposta, Luís enviou André de Longjumeau, um padre [[Ordem dos Pregadores|dominicano]], como [[emissário]] a [[Guyuk Khan]] na [[Mongólia]]. Mas Guyuk morreu antes da chegada deste à sua corte e a embaixada foi dispensada pela sua viúva, que lhes deu um presente e uma carta para o rei cruzado.
 
Eljigidei planeava um ataque aos muçulmanos de Bagdade em [[1248]]. Tencionava que esta ofensiva fosse realizada em aliança com Luís, juntamente com a [[Sétima Cruzada]]. Mas com a morte prematura do [[Khan]], o governador adiou as operações até depois do [[interregno]] mongol, e o bem sucedido cerco de Bagdade só aconteceria em [[1258]]. Em [[1253]], São Luís enviou o franciscano [[William de Rubruk|Guilherme de Rubruck]] para a corte mongol. [[Mongke Khan]] deu-lhe uma carta em [[1254]], pedindo a submissão do rei francês.<ref>{{link|en|http://www.encyclopediairanica.com/articles/v10f2/v10f216a.html|''Encyclopedia Iranica'', J. Richard, p. 202, 1970}}</ref>
 
A colaboração militar ocorreria em 1259-1260, quando os [[cavalaria medieval|cavaleiros]] [[francos]] de [[Boemundo VI de Antioquia|Boemundo VI]], [[príncipe de Antioquia]], e os do seu sogro Hetoum I do [[Reino Arménio da Cilícia]], se aliaram com os mongóis liderados por [[Hulagu Khan]]. Juntos conquistaram a Síria muçulmana, tomando a cidade de [[Alepo]] e depois [[Damasco (cidade)|Damasco]].<ref name="Grousset" /> Os contactos entre as duas potências ainda se desenvolveriam no reinado de [[Filipe IV de França]], levando a uma cooperação militar entre os europeus e os mongóis contra os [[mamelucos]].
 
=== ''Primus inter pares'' ===
[[Ficheiro:Apotheosis-of-saint-louis.jpg|thumb|150pxupright=1.0|left|''A Apoteose de São Luís'', <br><small> [[estátuaEstátua equestre]] em [[St. Louis (Missouri)|St. Louis no Missouri, Estados Unidos]] por Charles Henry Niehaus</small>]]
 
O [[século XIII]] ficou para a [[história da França]] como "''o século de ouro de São Luís''". A [[França]], centro das [[arte]]sartes e da vida intelectual graças, entre outras, à [[Sorbonne]], atingia o seu apogeu também aos níveis económico e político. Luís IX comandou o maior exército e governou o mais poderoso reino da [[Europa]].
 
O mecenato que deu às artes impulsionou inovações na arte e na [[arquitectura gótica]]. O estilo da sua corte espalhou-se pela Europa pela compra de obras dos mestres parisienses e pelo casamento das filhas e outros membros da casa real com estrangeiros, introduzindo assim os modelos parisienses no exterior. A [[Sainte-Chapelle]] de Paris, a capela real, seria também copiada por alguns dos seus descendentes. E é muito provável que tenha ordenado a produção da ''Bíblia Morgan'', uma obra-prima da [[iluminura]] [[medieval]].
 
A reputação de [[santidade]] e de [[justiça]] do soberano estava já estabelecida durante a sua vida, pelo que era regularmente escolhido como árbitro das desavenças entre os grandes do velho continente. O prestígio e o respeito na Europa por Luís IX seria mais devido a estas qualidades que pelo poderio militar. Para os seus contemporâneos, foi considerado o melhor exemplo de um príncipe cristão, ''[[primus inter pares]]'' (o primeiro entre iguais). A [[4 de dezembro]] [[de 1259]], em Paris, assinou o [[Tratado de Paris (1259)|tratadoTratado de Albeville]] com [[Henrique III de Inglaterra]], acabando assim a primeira fase da [[Guerra dos Cem Anos]] entre os dois países.
 
Um decreto de [[1263]] assegurou finanças fortes. Luís instalou uma comissão financeira encarregada do controlo das contas reais, reforçando a estrutura criada em [[1190]] pelo seu avô [[Filipe Augusto]], um esboço da ''"Corte das Contas''", futuro [[parlamento]] da França. O [[prevoste]] de [[Paris]], Etienne Boileau, organizou e codificou em [[1268]] os ofícios da [[capital]] (redacção do ''Livro dos Ofícios'').
 
=== Oitava cruzada e morte ===
{{Ver artigo principal|[[Oitava Cruzada]]}}
[[Ficheiro:DeathSaintLouis.jpg|thumb|150pxupright=1.0|''A morte de São Luís'', <br><small>Por [[ilustração]] de Alphonse Marie de Neuville]], 1883</small>]]
 
Devido aos ataques continuados aos [[estados cruzados]] do [[Levante (Mediterrâneo)|Levante]], São Luís decidiu lançar uma [[Oitava Cruzada]], para a qual se apresentaram os seus filhos e [[Eduardo I da Inglaterra]], além de numerosos príncipes e senhores. Partiram em direção a [[Túnis]] a [[4 de Julho]]julho de [[1270]]. Mais uma vez no mar, outra grande tempestade dispersou as embarcações e impediu muitas outras de partir.
 
São Luís esperava converter o [[sultão]] de Túnis ao [[cristianismo]] para, aliados, atacarem o sultão do [[Egipto]]. No entanto, depois da rápida conquista de [[Cartago]] pelos cruzados, este não permitiu sequer o desembarque da armada europeia. Iniciou-se um confronto, com os franceses assediando vários pontos nevrálgicos dos inimigos e a própria capital. Como esta resistisse, decidiram dominá-la cortando os víveres.
 
Mas as doenças da cidade atingiram também o exército francês. Luís IX viu morrer seu filho João Tristão, nascido durante o seu cativeiro no Egipto, e pouco depois morreria ele mesmo, a [[25 de agosto]] de [[1270]], precisamente 22 anos após a sua partida para a [[Sétima Cruzada]]. Tradicionalmente tem sido aceite que fora vitimado pela [[peste bubónica]], mas estudos recentes indicam a sua morte por [[disenteria]].
 
[[Ficheiro:San Domenico47.jpg|thumb|left|150pxupright=1.0|''[[Relíquia|Reliquiário]] de São Luís'', <small>final do século XIII, no museu da [[basílica de São Domingos]], em [[Bolonha]], [[Itália]]</small>]]
 
O corpo de Luís IX foi colocado sobre um leito de [[cinza]]scinzas, em sinal de humildade, e os braços em [[cruz]], à imagem de [[Jesus Cristo]]. Este falecimento marcaria o fim da cruzada, a que se seguiriam mais mortes na família real. [[Isabel de Aragão (1247)|Isabel de Aragão]], esposa de [[Filipe III de França]], morreria na [[Sicília]] durante a viagem de regresso à [[França]]. [[Afonso III de Poitiers]] e a sua esposa Joana de Toulouse morreriam no intervalo de três dias, na [[Península Itálica|Itália]].
 
O cadáver do rei foi levado para França pelo seu filho e sucessor Filipe, com excepção das entranhas: algumas destas foram enterradas na actual [[Tunísia]], onde ainda é possível hoje em dia visitar um túmulo de São Luís; outras foram destinadas à abadia de [[Monreale]], na [[Sicília]], a pedido do seu irmão [[Carlos I da Sicília]].
 
O resto do seu corpo, depois de uma estadia na [[Basílica de São Domingos]] em [[Bolonha]] e de uma paragem em [[Lyon|Lião]], foi transladado para a [[necrópole]] real da abadia de [[Saint-Denis (França)|Saint-Denis]]. O seu túmulo na França era um magnífico [[monumento]] de [[bronze]] dourado concebido no final do [[século XIV]]. Foi fundido durante as [[guerras francesas de religião]], quando o corpo do [[rei]] [[santo]] desapareceu. Só foi recuperado um [[dedo]], mantido actualmente em Saint-Denis.
 
As relíquias conservadas na Sicília foram ainda transportadas para a Tunísia para a [[consagração]] da [[catedral]] São Luís de Cartago no final do século XIX e, por fim, aquando da [[história da Tunísia|independência deste país]], devolvidas à França, onde foram depositadas na [[Sainte-Chapelle]].
 
== Legado ==
=== Posteridade ===
[[Ficheiro:Plaque Meyos Louvre OA7495.jpg|thumb|150pxupright=1.0|''O cavaleiro Guy de Meyos ajoelhado perante São Luís'', <small>placa tumular com [[Esmalte (heráldica)|Esmalte]] em relevo sobre [[cobre]] dourado, [[Limoges]], [[França]], 1307</small>]]
 
O culto deste santo foi juridicamente examinado e aprovado pelo papa [[papaPapa Bonifácio VIII|Bonifácio VIII]], que o [[canonização|canonizou]] em [[1297]] com o nome de ''São Luís da França''.
 
São Luís IX foi frequentemente considerado o modelo do monarca cristão ideal. Devido à aura de santidade ligada à memória de Luís IX, muitos mais reis da França se chamariam Luís, especialmente na [[dinastia de Bourbon]] ([[Luís XIII de França|Luís XIII]] a [[Luís XVIII de França|Luís XVIII]]).
 
Diversas instituições e locais por todo o mundo receberam o nome de '''São Luís''' ou '''Saint-Louis''', frequentemente devido ao período do [[império colonial francês]], como por exemplo:
* A ''Ordem Real e Militar de São Luís'' (''l'Ordre Royal et Militaire de Saint-Louis''), [[Ordens de Cavalaria|ordem de cavalaria]] fundada em [[5 de abril]] de [[1696]] por [[Luís XIV de França]], a ''Missão de São Luís Rei da França'' (''Mission San Luis Rey de Francia''), fundada em [[Oceanside (Califórnia)|Oceanside]] ([[Califórnia]], [[Estados Unidos]]) em 13 de junho de 1798, e em 1842 também a ''Congregação das Irmãs de São Luís'', uma [[ordem religiosa]] [[católica]].
* As cidades de [[São Luís (Maranhão)|São Luís do Maranhão no Brasil]], [[St. Louis (Missouri)|Saint Louis no Missouri, Estados Unidos]], [[Saint-Louis (departamento)|Saint-Louis do Senegal]], [[Saint-Louis (Alto Reno)|Saint-Louis na Alsácia, França]].
* Diversos edifícios de culto religioso católico: [[capela]]scapelas, [[igreja]]sigrejas, [[basílica]]sbasílicas e [[catedral|catedrais]].
 
Ironicamente, na tradição da [[Tunísia|tunisina]] Luís não teria morrido em 1270. Ter-se-ia apaixonado por uma princesa [[berber]], convertido ao [[Islão]] sob o nome de ''Abou Said ibn Khalef ibn Yahia Ettamini el Beji'', sendo ''Sidi Bou Said'' a forma reduzida que deu origem à cidade costeira deste país com o [[Sidi Bou Said|mesmo nome]]. Ao morrer, no final do século XIII, teria sido enterrado como um santo islâmico em Djebel-Marsa<ref>{{link|en|http://www.tourismtunisia.com/togo/sidibousaid/sidibou.html|Página do turismo de Sidi Bou Said}}</ref>.
 
=== Interpretação política do reinado ===
[[Ficheiro:Saint-Louis statue-Aigues-Mortes.jpg|thumb|left|150pxupright=1.0|[[Estátua]] de ''Luís IX de França em [[Aigues-Mortes]],''<br><small>Estátua por James Pradier, [[século XIX]]</small>]]
 
No entanto, vários historiadores e analistas têm uma outra interpretação da vida de São Luís IX. O [[arquitecto]] [[Eugène Viollet-le-Duc]] por exemplo, avançou a hipótese de que o rei fora um astuto [[político]] que soube se servir habilidosamente da religião para consolidar o seu poder e aumentar o poder do seu reino.
 
Na época de Luís IX, os grandes [[feudalismo|senhores feudais]] faziam uma concorrência feroz ao poder dos [[Lista de monarcas da França|reis da França]]. Estavam constantemente em conflito e por vezes conspiravam contra a própria pessoa do rei.
 
São Luís soube, ao se mostrar como um santo, usar a fé a a ambição dos seus barões para os incitar a participar nas duas cruzadas. Poucos dos grandes senhores que nelas participaram voltaram à [[França]], e Luís pôde, sem grande oposição, tomar as suas possessões. Os que sobreviveram ficaram arruinados pela expedição, e por isso mais dependentes do monarca para a sua segurança, logo mais dóceis.
 
As medidas contra os pecados, a perseguição dos judeus e as constuções de edifícios religiosos demonstram talvez um fervor religioso, mas também um refinado espírito político. Ao ganhar os favores da [[Igreja]] Católica, também ganhava o favor dos súbditos mais pios do seu tempo. Conseguia assim um melhor controlo sobre o reino, e uma maior legitimidade.
 
A modernização da administração do estado e o reforço que deu à justiça real seriam as últimas conquistas por que lutou, a fim de aumentar os seus poderes e os dos seus descendentes no [[dinastia capetiana|trono dos capetianos]]. A sua ''Corte das Contas'' foi o instrumento fundamental desta construção política.
 
Assim São Luís conseguiu firmar os alicerces do que começava finalmente a ser o estado-nação da França, unido sob um rei de direito divino. E conseguiu-o por uma subtil política, muito mais eficaz do que conflitos com os seus [[vassalo]]s e tentativas de os subjugar pela força.
 
==Família==
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=== Descendência ===
Do seu casamento a [[27 de maio]] de [[1234]] com [[Margarida da Provença]], teve os seguintes filhos:
 
[[Ficheiro:Miniature Philippe III Courronement.jpg|thumb|150pxupright=1.0|''Coroação de [[Filipe III de França]]'', sucessor de São Luís no [[Lista de monarcas da França|trono francês]] <small>[[iluminura]] em ''Grandes Chroniques de France'', século XIV-XV</small>]]
 
* Branca ([[4 de dezembro]] de [[1240]] - [[29 de abril]] de [[1243]])
* [[Isabel de França, Rainha de Navarra|Isabel de França]] ([[2 de Março]]março de [[1242]] - [[27 de abril]] de [[1271]]), casada em [[1258]] com[[Teobaldo II de Navarra|Teobaldo II]], [[rei de Navarra]]
* Luís ([[21 de setembro]] de [[1243]] ou [[24 de fevereiro]] de [[1244]] - [[13 de janeiro]] de [[1260]])
* [[Filipe III de França]] ([[1 de maio]] de [[1245]] - [[5 de outubro]] de [[1285]]), seu sucessor no [[Lista de monarcas da França|trono francês]]
* João ([[1246]] - [[10 de março]] de [[1248]])
* João Tristão ou João de Damieta ([[8 de abril]] de [[1250]] - [[3 de agosto]] de [[1270]]), [[Casa de Valois|conde de Valois]], casado em [[1266]] com Iolanda da Borgonha, condessa de [[Nevers]]
* Pedro ([[1251]] - [[6 de Abril]]abril de [[1284]]), conde de [[Alençon]] e de [[Perche]], casado em [[1272]] com Joana de Châtillon, condessa de [[Blois]] e [[Chartres]]
* Branca ([[1252]] ou [[1253]] - [[17 de junho]] de [[1320]]), casada em [[1269]] com [[Fernando de La Cerda]] príncipe herdeiro do [[reino de Castela]]
* [[Margarida da França (1254-1271)|Margarida da França]] ([[1254]] ou [[1255]] - julho de [[1271]]), casada em [[1271]] com [[João I de Brabante|João I]], [[duque de Brabante]]
* [[Roberto de França, conde de Clermont]] ([[1256]][[7 de fevereiro]] de [[1317]]), casado em [[1279]] com Beatriz de Borgonha, herdeira de [[Bourbon]], ancestral de [[Henrique IV de França]]
* [[Inês da França, Duquesa da Borgonha|Inês]] ([[1260]] - [[19 de dezembro]] de [[1325]]), casada em [[1279]] com o [[duque]] [[Roberto II da Borgonha]]
 
O segundo dos seus filhos varões, [[Filipe III de França]], foi o seu sucessor no trono, cujos descendentes directos foram reis até [[Henrique III de França]]. A descendência do varão mais jovem de São Luís, [[Roberto de França, conde de Clermont|Roberto de Bourbon]], subiu ao trono francês depois de nove gerações.
 
== Fontes historiográficas sobre São Luís ==
Muito do que actualmente se sabe sobre a vida de São Luís foi o que ficou registrado por [[Jean de Joinville]], o seu principal biógrafo com a obra ''A Vida de São Luís''. Jean de Joinville era amigo, confidente e conselheiro do rei, e também foi uma das principais testemunhas no processo de canonização em [[1297]] pelo papa [[papaPapa Bonifácio VIII|Bonifácio VIII]].
 
Duas outras biografias importantes foram escritas pelo confessor do rei, Godofredo de Beaulieu, e pelo seu capelão, [[Guilherme de Chartres]], Grão-Mestre da [[Ordem dos Templários]]. A quarta notável fonte de informação é a biografia de Guilherme de Saint-Pathus, escrita usando o inquérito papal sobre a vida do rei para a sua canonização. Apesar de vários outros terem escrito biografias nas décadas seguintes à morte de Luís IX, só Jean of Joinville, Godofredo de Beaulieu e Guilherme de Chartres conheceram pessoalmente o rei.