Lexicologia: diferenças entre revisões

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ROCHA, R. e PIRES, Hidenburg da S. Minidicionário da Língua Portuguesa.São Paulo, Scipioni, 2005
SACCONI, L. A. Dicionário Essencial da Língua Portuguesa. São Paulo, Atual, 2001.
 
 
 
'''Mecanismos de Explicação em Dicionários Escolares
 
Antônio Luciano Pontes (UECE – UNIFOR)'''
 
 
RESUMO: O dicionário escolar, concebido como texto didático, tem características próprias e específicas. Institui-se em uma formulação de discurso pedagógico que leva o lexicógrafo necessariamente a repensar todo um conjunto de estratégias discursivas, fundamentalmente de caráter explicativo, as quais funcionam como didatizantes, com o fim de graduar as informações veiculadas em função do nível de escolarização do leitor ou consulente. Objetivamos então nesta pesquisa descrever as diversas estratégias discursivas que o produtor do dicionário põe em funcionamento com o fim de alcançar a compreensão das unidades léxicas consultadas. Os verbetes que compõem o corpus foram extraídos dos dicionários escolares brasileiros, adotados pelos professores da escola pública para o ensino fundamental e avaliados pelo MEC. Os dados são estudados à luz dos pressupostos teóricos da Lexicografia Didática. A análise dos dados revelam os mecanismos de explicações para facilitar a compreensão dos significados das unidades léxicas, entre os quais estão incluídas as categorias mais utilizadas pela Lexicografia escolar: a definição, a analogia, classificação, paráfrase.
 
Palavras-chave: dicionário escolar,explicação, Lexicografia
 
1. Considerações gerais
 
É indiscutível a natureza didática do dicionário escolar, instrumento que se utiliza para buscar o que se desconhece, para levar a cabo as tarefas que se encomendam aos alunos em qualquer nível de educação, e, ainda, para ensinar, pois “as respostas que nele estão contidas não são simplesmente informações, mas uma ordem que deve ser executada” (Ávila Martin, 2000:27).
O dicionário escolar, concebido como texto didático, tem características próprias e específicas. Institui-se em uma formulação de discurso pedagógico que leva o lexicógrafo necessariamente a repensar todo um conjunto de estratégias discursivas, fundamentalmente de caráter explicativo, as quais funcionam como didatizantes, com o fim de graduar as informações veiculadas em função do nível de escolarização do leitor ou consulente.
Objetivamos então neste trabalho descrever as diversas estratégias discursivas que o produtor do dicionário põe em funcionamento com o fim de facilitar o reconhecimento de uma unidade léxica. Também é objetivo do presente trabalho mostrar os usos particulares dessas estratégias.
Os verbetes que compõem o corpus foram extraídos dos dicionários escolares brasileiros, adotados pelos professores da escola pública para o ensino fundamental e avaliados pelo MEC. Os dicionários estudados foram: Ferreira (2001,2005), Mattos (2005), Sacconi (2001), Luft (2004), Rocha (1996, 2005).
Os dados são analisados à luz dos pressupostos teóricos da Lexicografia Didática e da Lingüística do Texto. Mais precisamente, desta última, estudamos os aspectos relativos ao tipo de texto explicativo e aos mecanismos de explicação. Buscam-se bases teóricas em Marcuschi (2002), Zamudio e Atorresi (2000), Martinez (1998), Ávila Martin (2000), Porto Dapena (2002) e Alves (1997).
O artigo se organiza em seções com a seguinte ordenação: inicialmente apresentamos os fundamentos teóricos e aspectos metodológicos que nortearam nossa pesquisa, para em seguida analisar os dicionários brasileiros mais adotados.
 
2. Fundamentos teóricos
 
O texto dicionarístico se inscreve no domínio discursivo didático, identificando-se como do tipo explicativo, pois é “uma espécie de construção teórica definida pela natureza lingüística de sua composição” (Marcuschi, 2002:22), cuja função essencial é explicar.
Explicar é uma palavra polissêmica, que compreende significados como “comunicar”, “desenvolver”, “ensinar”, “interpretar”, “dar conta de”, “dar motivos”, como reconhece Grize (citado por Zamuio e Atarrazi, 2000:5). Aqui entenderemos o termo explicar basicamente como ensinar. Nesse sentido, a explicação funciona a partir de dois segmentos de base: um, que representa algo que deve explicar ao interlocutor, o explicando e outro segmento, o explicante, que modifica o objeto para fazê-lo mais inteligível, ou seja, o conteúdo das explicações.
As relações entre ambos podem ser do tipo por equivalência, ativadas por estratégias de comparação, reformulação, exemplo, tradução, analogia, definição, etc. Esses mecanismos dizem respeito, portanto, a atividades decodificadoras. Quanto mais clara for a definição, mais facilmente o usuário compreenderá o sentido da palavra desconhecida. Essa noção corresponde ao que Seco (1987) denomina segundo enunciado ou, para Rey-Debove, metalinguagem de conteúdo.
Como fenômeno discursivo, a explicação no dicionário consiste em fazer saber, fazer compreender e aclarar. O contexto da explicação supõe um agente possuidor de um saber e um interlocutor ou um público que está à disposição de lê-lo ou interpretá-lo a partir de habilidades e conhecimentos prévios. A relação entre eles é assimétrica, ou seja, há sempre, de um lado, o senhor do conhecimento; e de outro, de menor ou pouca experiência, o consulente. No cenário da comunicação lexicográfica, reconhece-se no dicionarista a autoridade para facilitar a compreensão dos conceitos, legitimando a explicação confiável e adequada ao usuário, que pode ser um aprendiz, um especialista ou mesmo qualquer sujeito integrante de uma comunidade lingüística caracterizada por aspectos culturais os mais variados.
Essa é a razão pela qual para cada nível do conhecimento se propõe entre os interlocutores condições distintas (um contrato de explicação), segundo o propósito da transmissão da informação e da identidade dos interlocutores. Por isso, a informação veiculada num dicionário especializado, de alto nível técnico ou cientifico, tem tratamento metalingüístico diferente, produzida em relação a um dicionário escolar para o ensino fundamental.
 
3. Análise dos dados
 
Distinguem-se a partir da análise do corpus vários tipos de mecanismos de explicação. Há mecanismos utilizados para auxiliar a compreensão (recepção) da informação veiculada na microestrutura do dicionário, pois o consulente precisa ter uma idéia mais clara da unidade léxica que ele busca. A reformulação, por exemplo, é um dos mecanismos desse tipo. E existem outros mecanismos, de diversos tipos, para ajudar o consulente na produção de textos, como os exemplos de aplicação (ver Pontes, 2006), registrados em alguns dicionários analisados. Aqui, discutimos apenas os mecanismos relacionados com à recepção, procedimentos discursivos, de caráter explicativo e interativo, sendo os mais freqüentes no texto em análise a reformulação, a definição, o exemplo, a analogia e a ilustração representada por imagem ou verbalmente, os quais representam enunciados de caráter explicativo. Tais enunciados assumem no texto do dicionário as mais variadas funções discursivas, representadas por estruturas igualmente variadas, responsáveis pela interação entre autor-texto-leitor.
Como adiante demonstraremos, há dicionários que apresentam mais mecanismos de explicação, outros menos. E, muitas vezes, usam vários mecanismos de explicação, mas não conseguem inteligibilidade pelo fato de empregar, entre outros motivos, palavras na metalíngua de conteúdo mais difícil que a do definido e de se utilizarem muitos recursos de redução para economizar espaço. No entanto, todos os dicionários procuram explicar, cada um ao seu modo e visando a graus de compreensão diversificados.
 
3.1. Reformulação textual
 
A reformulação é um procedimento que serve para expressar de maneira mais inteligível o que está formulado em termos específicos (mais abstratos ou mais formais), o que resulta obscuro para o interlocutor. Isso significa que, quando algo se explica ou reformula, é porque se considera que essa operação é necessária para satisfazer às exigências da intercompreensão, em função da inteligibilidade, das crenças do interlocutor, do objetivo da comunicação (Casado Velarde, 1991:113).
O dicionarista mostra, quando reformula, uma nítida vocação para diminuir o caráter assimétrico da interação, por isso se utiliza de vários recursos de natureza explicativa. A reformulação, nesse caso, constitui uma auto-reformulação, construída pelo próprio lexicógrafo.
A partir da análise do corpus, classificamos a reformulação em três categorias básicas, a saber: definição simples, reduplicação de definição, reformulação encaixada. A definição simples, por sua vez, compreende a definição lingüística e seus tipos e definição enciclopédica.
 
A. Definição simples
 
A definição simples constitui um procedimento habitual nos discursos explicativos. Segundo Zamudio e Aterrasi (2000:86), isto se deve às exigências mesmas do tipo textual em questão, já que tanto o objeto de explicação como os objetos referenciais que integram os enunciados explicantes terão maior força explicativa quanto mais nítida for sua representação. Daí constituir a definição simples o mecanismo fundamental para a aclaração de um conhecimento considerado difícil para o consulente.
Como mecanismo metalingüístico por excelência, no âmbito lexicográfico, a definição tem o caráter de explicar um definido. Mas para que isso ocorra plenamente o usuário necessita de explicações semântico-pragmáticas complementares ou de informações enciclopédicas.
Várias outras estratégias de definição simples, formalmente diferentes, se dão com muita freqüência. Entretanto, todas se realizam dentro de uma orientação semasiológica. Sem querer esgotar o assunto, citaremos os tipos de definição simples, a lingüística (e seus tipos) e a enciclopédica:
 
a) Definição lingüística
 
A definição lingüística tem fundamentalmente natureza metalingüística, ou seja, a função dela é explicar as palavras ou unidades léxicas em geral. Cabe distinguir vários tipos:
 
i) Definição perifrástica ou analítica
 
Essa definição pode ser definida como aquela que se forma a partir de uma perífrase, um conjunto de itens lexicais que representa ou pode representar apenas uma unidade lexical. Ou seja, a referida definição corresponde a uma autêntica análise semântica e, portanto, haverá de estar constituída por um sintagma, cujos componentes, cada um deles de per si, poderão, logicamente, indicar uma parte ou um aspecto do conteúdo do definido. O exemplo de Mattos(2005) representa tal conceito:
 
(1). Disco sm 1. Objeto chato e redondo em que se grava alguma coisa que pode ser reproduzida.
 
Nesse exemplo, o conjunto dos componentes semânticos reproduz o significado do definido. Mas, além disso, devemos observar o princípio de transparência, que consiste em fazer compreensível para o leitor o que presumivelmente não é. Portanto, as explicações haverão de realizar-se em uma linguagem mais clara ou simples. Mas o problema está em selecionar que palavras resultam mais compreensivas ou simples ao usuário. O que é mais compreensível ou simples – ou seja, mais usual e conhecido – vai depender do tipo da obra ou do público a que se destina.
No dicionário monolíngüe de caráter geral, ao contrário, o dicionarista prefere resolver a questão definindo no interior do mesmo dicionário, nas palavras usadas na construção das definições, a fim de evitar pistas perdidas. Pista perdida, então, se configura quando uma palavra desconhecida aparece na definição de uma palavra que o consultor buscou conhecer. Ao querer localizá-la, se dá conta de que aquela não figura no dicionário, tornando-se sua consulta frustrada.
Em Rocha(1996), temos um caso de pista perdida a definição de roqueiro: músico de rock, mas a palavra rock não figura no dicionário.Isso já foi corriido na edição de 2005, revista.
Em relação à definição analítica, Porto Dapena (2002:290) assim se expressa:
 
Ainda que a definição sinonímica seja viável e justificável em qualquer dicionário, isso não impede, naturalmente, que o tipo de definição preferível continue sendo a perifrástica. Só esta tem caráter analítico e, portanto, cumpre o princípio de análise, exigível a uma definição propriamente dita.
 
Portanto, este é o tipo de definição mais usual pela Lexicografia tradicional. Mas a definição analítica se realiza quase sempre de forma ainda “mais explicada” com ajuda de vários outros mecanismos, os quais se podem observar mais adiante.
 
ii) Definição sinonímica
 
São abundantes as definições sinonímicas, que podem ser definidas como constituídas por um sinônimo do definido. Elas ocorrem mais comumente em dois casos:
 
1. Como parte da definição, reforçada ou ampliada por uma definição analítica que se segue ou se antecipa. Ou seja, uma espécie de reformulação (como já foi anteriormente mencionado), que expande, reformula o enunciado definitório analítico. Aparece no exemplo seguinte, de Ferreira,2005:
 
(2) tra.du.zir. 1. Transpor, trasladar, duma língua para outra; verter.
 
No exemplo(2), o definido é explicado por sinônimo e ampliado por uma definição analítica. Mas há casos em que o definido é explicado por uma definição analítica e ampliado por um sinônimo mais usual, no contexto comunicativo do aprendiz. Ou a definição é dobrada, representada por sinônimos, o primeiro explicando melhor o segundo, por ser aquele de menos uso que o outro.
 
2. Outra possibilidade é o dicionarista se restringir à mera indicação de sinônimos. O sinônimo constitui assim um segmento, tornando-se uma definição puramente sinonímica, como em (3).
Mas só se recorre, na maioria das vezes, a simples sinonímia quando a explicação dos sentidos da unidade lexical já foi fornecida. Veja-se um caso, de Ferreira,2005:
 
(3) es.pór.tu.la. 2. Esmola.
 
Como se vê, espórtula foi definido por um sinônimo esmola (sem marca) que, por sua vez, constitui entrada, passando a ser definido.
Nos dois sistemas referidos acima, deve-se evitar que uma palavra fique sem ser entendida. Impede-se, assim, que se dê lugar a imprecisões, e ainda mais grave, a pistas perdidas.
Há um outro caso a considerar: muitas vezes, a definição de uma unidade léxica se dá por um sinônimo, e este, por sua vez, é definido, como entrada independente, por palavras difíceis para o aprendiz, causando consultas sucessivas. Isso ocorre em Ferreira,2005:
 
(4) la.crau Escorpião.(1)
(5) es.cor.pi.ão Zool. 1. Nome comum a aracnídeos escorpionídeos; lacrau.
 
Para entender a definição de lacrau e escorpinídeos haverá que aclarar o significado de aracnídeos e escorpionídeos. Este procedimento, a nosso ver, poderá causar problemas ao aluno em relação à consulta ao dicionário, pois o obriga a consultas suplementares, o que lhe causa desanimo e decepção no seu manuseio.
As definições sinonímicas, como já foi lembrado, podem causar imprecisões. Rocha(2005), em vários lugares, produz definições vagas. O seguinte caso é ilustrativo:
 
(6) Calçado. Sapato. A numeração dos calçados surgiu na Inglaterra. A medida era baseada inicialmente no grão de cevada; três grãos de cevada correspondiam a uma polegada.
 
Como se pode observar, neste verbete, o definido se apresenta explicado por um falso sinônimo, que, na verdade, pode ser considerado antes um hipônimo, de sentido específico, que comporta um conceito mais amplo (hiperonímico), que é o próprio definido.
 
iii) Definição por analogia
 
São vários os tipos de definição por analogia. Realizam-se, mais comumente, por expressões de natureza aproximativa ou por comparação.
 
● Por expressões de natureza aproximativa
 
A definição por aproximação, de natureza analógica, se materializa por meio de fórmulas que indicam aproximação ou semelhança: espécie de, à semelhança em forma de, similar a:
 
(6) Peteca Brinquedo que consiste numa espécie de almofada, pequena e achatada, com penas espetadas em forma de penacho, própria para ser jogada para cima com a palma das mãos. Mattos,2005
 
Mattos(2005), em (6), usa espécie, em forma de para tentar, por aproximação, por semelhança, definir algo de impreciso, bem como em Ferreira, (7), 2005:
 
(7) pseu.do.fru.to Órgão semelhante a baga, resultante do crescimento de parte acessória da flor, e que pode incluir, ou não, sementes. Ex: o pedúnculo do fruto do cajueiro, o caju. Ferreira,
 
Em relação às definições de natureza aproximativa, Biderman (1993:36) faz um comentário bastante lúcido sobre sua função comunicativa: “Ao usar essas estratégemas (espécie de..., variedade...) o definidor sabe que o definiendum não é isso, mas é uma espécie vizinha disso, ou seja: X é um objeto próximo de Y, mas não é isso. Esse procedimento é muito freqüente na linguagem coloquial espontânea e tem um valor aproximativo”.
 
● Por comparação
 
Definição por comparação é o procedimento de aclaração ou ilustração que se constitui a partir da relação de um conceito ou um conjunto de conceitos com outros de distinto campo. Manifesta-se lingüisticamente mediante elementos de comparação, como que, mais que, menos que, menor que, maior que.
 
(8) i.lha. Qualquer porção de terra emersa, menor que um continente, cercada de água, em oceano, mar, lago ou rio. Sacconi.
(9) Zu.nir. Emitir zunido (como o vento sibilando). Luft,2005
 
Os procedimentos referidos acima podem ser explicados com base em Grize (apud Zamudio e Atorreai, 2000:101) quando afirmam que “esses dois procedimentos parecem pertencer a um mesmo movimento de pensamento : fazer compreender alguma coisa ao destinatário a partir de dados concretos.”
 
iv) Definição Ostensiva
 
Biderman (1984:137) a define da seguinte forma: “É um tipo de definição que utiliza a mostração do referente da palavra como recurso, em virtude da dificuldade de a linguagem verbal identificar claramente o definiendum”. As definições ostensivas não icônicas, como formula Bosque (1982:111), não se distinguem com facilidade das definições analógicas, quer dizer, das definições em que se estabelece uma semelhança entre o referente do termo que se define e o outro que propõe o lexicógrafo. Nesse tipo de definição, deve salientar que pode complementar-se por definição hiperonímica ou enciclopédica. Observe um verbete, de Ferreira(2005), em que aparece uma definição ostensiva:
( 10) ver.de 1. Da cor mais comum nas ervas e nas folhas das árvores.
 
Como se pode observar, a definição para o definido ver.de mostra diretamente o referente mediante uma alusão ao objeto que possui a propriedade que se define.
v) Definição mista: analítica e sinonímica
 
I. Definição analítica se segue de uma reformulação materializada por um enunciado completo. Trata-se, na verdade, de uma definição reformulada, como veremos mais adiante. E se adiciona a ela, ainda, um sinônimo ou mais de um, com o fim de ampliar, entre outras funções, o vocabulário do aprendiz. Observe o exemplo de Ferreira,2005:
 
(11) ca.ren.te adj. Que carece, necessita; carecente.
 
Nesse caso, a definição analítica, reformulada, é construída através de uma perífrase, acrescentada por um sinônimo. Há ainda a observar nesse enunciado lexicográfico que a definição relaciona-se ao definido através de elos elípticos, os quais têm natureza verbal representada por significa, é, etc.
No exemplo abaixo, de Mattos(2005), temos uma definição analítica, seguida de uma série de sinônimos, e mais ainda um exemplo de uso, que dá pistas de como se poderá usar o definido:
 
(11) Cativar 2. Ganhar a simpatia de alguém: atrair, encantar, seduzir- A leitura daquela poesia me cativou.
 
Já Ferreira,2005, no exemplo seguinte, reduz enormemente as estratégias de natureza explicativa, como em:
(12) ca.ti.var 2.ganhar a simpatia, a estima de; encantar.
 
No caso de Ferreira, não apenas é selecionado um número menor de estratégias discursivas para explicar o definido, mas também se encurta o enunciado definitório, eliminando os complementos da frase. O definido não é contextualizado por meio de exemplos de uso, nem se oferecem pistas ao consulente para empregá-lo em seus textos.
Ferreira(2005), abaixo, no verbete es.po.re.ar apresenta vários sinônimos seguidos de definição analítica para aclarar o definido:
 
(13) es.po.re.ar v.t.d. 1. Ferir, picar, excitar com espora.
 
Neste caso, o sinônimo com o qual define a palavra se explica em seguida, por meio de uma definição analítica.
 
b) definição enciclopédica
 
A definição enciclopédica, o outro tipo de definição simples, informa acerca das coisas. Descreve processos, explica idéias ou conceitos, aclara situações, enumera partes, tamanhos etc. em quantidade necessária para distinguir o definido de qualquer outro termo que possa semanticamente aproximar-se a ele.
Para Lara (1997, apud Nascimento, 2001:45), a definição enciclopédica se caracteriza, fundamentalmente, pelo fato de sua entrada ser considerada significante na língua objeto e por estar orientada para a descrição exaustiva da coisa nomeada. Em outras palavras, a definição enciclopédica se caracteriza por: a) apresentar um lema considerado significante da língua objeto; b) referir-se indiretamente a uma fração da realidade extralingüística; c) dar informações sobre o significante lingüístico, o conteúdo, o uso e a interpretação dos conhecimentos sociais da realidade. Enfim, a definição enciclopédica explica por meio da língua a realidade, ou referente, representada pela entrada, a qual se diferencia da definição lingüística que apenas objetiva explicar o significado das palavras.
Além disso, vale salientar que, numa definição enciclopédica, o espaço em branco que relaciona a entrada com a definição deve entender-se como é: ou seja, O LEMA É. Os dicionários em que elas ocorrem com maior freqüência são conhecidos como “dicionário de coisas”.
A definição enciclopédica é inevitável quando o substantivo corresponde a um léxico não estruturado linguisticamente, como lembra Coseriu (apud Porto Dapena, 2002:278) no caso das terminologias que só podem ser abordadas sob a ótica de uma determinada disciplina, encarregada de estudar as realidades por elas representadas. É o que ocorre, por exemplo, com os substantivos referentes à fauna e à flora, que em nossos dicionários vêm sempre definidos enciclopedicamente. Na prática se trata de definições que consistem em descrições mais ou menos extensas do objeto representado pelo definido, daí a denominação, que às vezes se lhe aplica, definição extensa. Vejamos exemplos em que ocorrem alguns traços enciclopédicos:
 
(14) re.nas.ci.men.to. Movimento com início no séc XIV, na Itália, prolongando-se até o séc XVII, marcado pelo florescimento das artes e da literatura sob a influencia da Antiguidade Clássica, e tb. como início da ciência moderna. Ferreira,2001
 
Como se vê, a presença de elementos enciclopédicos neste autor não se restringe exclusivamente aos nomes científicos dos animais e das plantas, mas são freqüentes as informações deste tipo nos nomes de movimentos históricos e artísticos, religiões, e de outros domínios como Informática, Química, Matemática, Física, Medicina, etc.
As definições enciclopédicas têm sua razão de ser, sobretudo quando escrita numa linguagem simples para o usuário. Elas são importantes, na medida em que são do interesse para o estudante e trazem contextualizações para o definido.
Os autores, como Ferreira, Sacconi, Mattos, trazem farta quantidade de dados enciclopédicos em seus dicionários, sendo sobretudo o primeiro o que elabora de forma mais complexa as definições enciclopédicas, o que é lamentável.
 
i) Definição híbrida: enciclopédica e lingüística
 
Numa definição, podem-se fundir dois ou mais tipos de definição. A definição ilustrada a seguir contem traços enciclopédicos e outros lingüísticos:
 
(15) Ou.ro. O mais precioso, maleável e dúctil dos metais (sim.: Au), de n. atômico 79, amarelo, altamente resistente à corrosão, de inúmeras utilidades. Sacconi,2001.
 
A definição acima, de Sacconi, como se observa, constitui-se de traços enciclopédicos, não distintivos (amarelo, de inúmeras utilidades). Os traços enciclopédicos se caracterizam como traços descritivos fazendo parte de uma atividade epilingüística. Somam-se a estes alguns traços semânticos distintivos e inerentes (maleável e dúctil dos metais, n. atômico 79).
Na definição do verbete de Sacconi, aparecem traços semânticos mais essenciais que definem linguisticamente a palavra-entrada, tornando-se mais fácil sua compreensão.
Mas não é sempre assim que isso acontece. Sobretudo em Ferreira(2001), algumas definições se constituem apenas de traços enciclopédicos que se referem às coisas, como em:
 
(16) man.guei.ra. 2 sf Árvore anacardiaácea de origem asiática; o seu fruto é saborosíssimo.
Nesse caso, a definição se presta mais ao ensino de conteúdos da área das ciências naturais, como observa Miranda (2005:115), falando sobre definições essencialmente enciclopédicas em dicionários semasiológicos.
 
ii).Definição esteriotipada
 
As definições esteriotipadas, assim denominadas por Martín (apud Zamudio e Atorresi, 2000:94), aparecem nos dicionários porque é por meio delas que se manifestam as representações coletivas dos objetos.
 
A seguir, apresentaremos exemplos que ilustrarão esta questão:
 
(17) Ouro 1. Metal amarelo, de grande valor, usado para fazer jóias. Mattos,2005
 
Observa-se neste exemplo que esta definição é expressa através de traços que não são necessários nem suficientes, já que existe também, por exemplo, o ouro branco. Trata-se de uma definição estereotipada, pois todo um grupo de usuários concebe o ouro como amarelo.
Para as plantas, animais e enfermidades, Perez (2000:45) propõe definições descritivas que não recorram à taxionomia científica prolixamente desenvolvida. Segundo o mesmo autor, “para definir encontraremos dados que ressaltem o mais característico de cada árvore, animal, por seu aspecto, por sua utilidade, por seus costumes ou pelo seu simbolismo ou pelo estereótipo que representa em nosso mundo cultural”. Ou seja, o estereótipo está na linguagem porque esta representa uma prática social, estabelecida e consagrada por um grupo. Nos exemplos abaixo, observa-se que são definições muito técnicas:
 
(18) al.mis.ca.rei.ro Mamífero artiodáctilo, cervídeo, asiático, que tem forte secreção odorífera produzida por uma glândula abdominal. Ferreira,2001
 
Nesse caso, o autor define a entrada mediante uma linguagem extremamente técnica. Possivelmente, o consulente-aprendiz não entenderá o que o dicionarista quis expressar. Somente um leitor-especialista necessitará destas informações ou se interessará por elas.
Ferreira (18) não gradua a metalinguagem da definição, em nível de compreensão do aprendiz, pois “não leva em conta o caráter estereotipado que muitos conceitos possuem na consciência do falante” (Cano, 2002:314). A mesma autora acrescenta:
 
O parâmetro da função (para que serve, como se utiliza, o que causa) revela-se mais esclarecedor, em muitos casos, do que a definição em que se privilegiam o gênero próximo mais diferença específica, marcadamente heteronímica.
 
Os dicionários devem produzir definições menos técnicas e cientificas, pois não é no dicionário escolar que se deve buscar a precisão nem a exaustividade cientificas, mas a simplicidade, de forma que se ofereçam ao leitor dados suficientes para que este possa reconhecer o mais rapidamente possível o objeto que se descreve. Para tanto, é necessário, segundo Calderon Campos (1989:42), deixar de lado as definições de caráter cientifico, em favor de uma definição descritiva, destacando os traços mais salientes do conceito definido (os estereótipos) ou descrevendo como é ou para que serve aquilo que se está descrevendo. Desse modo, na produção de definições de animais, plantas, etc., deve-se recorrer com freqüência a adjetivos. Por exemplo, em vez de os termos taxionômicos mais especializados serem incluídos no corpo central do verbete, deveriam ir para as margens, como informação complementar.
A definição dos dicionários escolares deve caracterizar-se pela sua metalíngua de conteúdo, como afirma Perez (2000:43): “as definições hão de redigir-se com claridade, precisão, e correção; nunca se deve definir uma palavra com palavras que não se acham por sua vez definidas no dicionário”. A seleção das palavras e das construções sintáticas dependerá do usuário a quem vá destinar-se a obra: as definições de um dicionário escolar não deverão coincidir em muitos casos com as de um dicionário geral de máximo nível, nem poderão coincidir sempre com as definições adequadas para um dicionário monolíngüe de espanhol para estrangeiros.
Além desses critérios, vale salientar ainda que a escolha das palavras para compor a definição e as formas sintáticas usadas em sua redação dependerá do usuário a quem se destina o dicionário: as definições de um dicionário escolar não deverão ser iguais em muitos casos com as de um dicionário geral de nível elevado, nem podem coincidir sempre com as definições adequadas para um dicionário monolíngüe para estrangeiros (Perez, 2000:45).
 
B..Reduplicação de definição
 
A reduplicação de definição ocorre quando se desenvolvem enunciados explicativos em série para um mesmo definido. A cada enunciado explicativo que se venha acrescentar, reformula-se o anterior, em linguagem usual, mais simples, com o objetivo de atingir o nível de compreensão do consulente, como ocorre nos verbetes produzidos respectivamente por Aulete,2005, Ferreira,2001:
 
(19) alimento. 1. aquilo que alimenta, que nutre; comida
 
No exemplo (19), o autor parafraseia em vários enunciados paralelos o definido, como se tivesse tentando selecionar uma forma mais clara para atingir o leitor.
 
Um pouco diferente em relação a (19) ocorre em (20) com a reduplicação da definição. A explicação se dá num enunciado completo e encontra-se entre colchetes, em linguagem menos técnica, obviamente mais acessível ao leitor.
 
(20) ca.fe.ei.ro 1. Arbusto da família das rubiáceas (Coffea arábica), originário da Arábia, e cultivado para obtenção das sementes de seus frutos, com os quais se produz o pó aromático chamado café. [O cafeeiro tem flores pequenas, alvas, e perfumadas; os frutos são vermelhos, com 1 ao 1,5 cm de diâmetro, e encerram duas sementes esverdeadas.]
 
Em (21), abaixo, a reformulação se acha entre parênteses, a partir de uma definição expressa por uma negação. O autor enfatiza, assim, a definição principal, enunciada afirmativamente, indicando as características do definido.
 
(21) i.de:o.gra.ma Sinal ideográfico, que representa uma idéia ou noção (e não os sons que formam a palavra que expressa a idéia). Ex.: hieróglifo, os sinais da escrita chinesa.
Ferreira,2001
 
C. Reformulação encaixada.
 
A reformulação encaixada, mecanismo bastante freqüente, desenvolve uma explicação que se subordina a uma porção, membro de um enunciado definitório.
As definições encaixadas podem se dar em um duplo movimento, da palavra para o conceito, numa perspectiva semasiológica, ou deste para aquela, numa perspectiva onomasiológica.
A partir desses dois movimentos possíveis, realizam-se no corpus várias formas de definir as unidades lexicais. Observa-se a reformulação encaixada (30), (31), (32), (33) a seguir:
 
(22) a.ri.a.no s.m. Membro dos arianos, povos que se consideravam os iniciadores da civilização indo-européia. Sacconi,2001.
 
Em (22), a reformulação povos que se consideravam os iniciadores da civilização indo-européia funciona como um aposto, paráfrase de um membro-matriz arianos. A ligação entre as partes não se dá através de marcador explicativo.
Em (23), abaixo, a reformulação se liga a matriz por meio de um marcador explicativo, abreviado (i.e.), como veremos mais adiante.
 
(23) mas.sa 8. Grandeza fundamental da física que mede a inércia de um corpo, i.e., sua resistência a aceleração, e cuja unidade de medida no S.I. é o quilograma. Ferreira,2001.
(24) A.e.des Grande gênero de insetos culicídeos, mosquitos que são vetores de germes patogênicos. Ferreira,2001.
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A forma raríssima observada é aquela que Leibruder (2000, 243) denomina nomeação, que se define numa perspectiva onomasiológica, em que se dá o movimento do conceito para o termo. Ou a definição que Alves (1997:130) nomeia denominação, também de natureza onomasiológica, em que os verbos chamar, denominar, designar, entre outros, estabelecem uma ligação entre o enunciado formulado e o reformulado. No primeiro caso, temos uma nomeação (25); e no segundo, uma denominação (26):
 
(25) ma.ra.ca.tu sm Bras PE Cortejo carnavalesco que segue uma mulher que num bastão leva uma bonequinha enfeitada, a calunga. Ferreira,2005
(26) ca.ju.ei.ro Árvore anacardiácea cujo fruto, uma noz, torrada, tem excelente sabor. [a parte suculenta, impr. considerada fruto, é o caju, comestível e tb. us. em doces e bebidas.]. Ferreira,2005
 
3.2. Exemplo (exemplar)
 
Ao lado da reformulação textual, como estratégias de explicação, temos com muita freqüência em alguns dicionários estudados, como em Ferreira, a presença do exemplo. Nos enunciados marcados por esse mecanismo, observa-se um segmento denominado exemplificado e o outro, dito exemplo. O primeiro é produto da atividade conceptualizadora dos falantes, ao passo que o exemplo é considerado como fato que pertence ao domínio do concreto, funcionando como uma explicação. Para Martinez (1997:121), a exemplificação é um tipo de paráfrase, “mas consiste num enunciado fragmentário que forma parte dum paradigma, coisa que não ocorre nos outros tipos de paráfrase, que ademais, admitem outra classe de marcador, como quer dizer”.
A exemplificação, em termos discursivos, é um procedimento que realiza uma formulação geral ou abstrata pondo-a no cenário de uma experiência mais próxima ao interlocutor. O exemplo pode consistir em fatos, ditos, problemas reais ou histórias. É um recurso amplamente usado na seqüência explicativa, especialmente quando se dão estados epistêmicos substancialmente diferentes entre emissor e receptor. Os exemplos se orientam pela concreção, como em:
 
(27) e.pên.te.se Desenvolvimento de fonema(s) no meio de uma palavra [ Ex: lat. stella port. estrela] . Ferreira,2005
(28) es.pí.ri.to 2. Entidade sobrenatural ou imaginária, como os anjos, o diabo, os duendes. Ferreira,2005
Pode-se observar que a função da exemplificação no verbete enunciado é graduar os textos em nível de leitura e colocar o definido de forma mais concreta para o leitor.
 
3.3. Explicação em série
 
Neste tipo de explicação, enumeram-se os objetos aos quais uma noção faz referência, ou seja, apresentam-se todos os termos subordinados a um termo genérico, no mesmo nível de abstração. Essas explicações se dão entre parênteses, como em (29):
 
(29) cer.rar. Unir (os olhos, lábios, etc.). Ferreira,2005
 
Nesse caso, os exemplares se organizam em série, para que o leitor selecione, entre eles, aquele exemplar que seja mais adequado ao contexto de sua comunicação.
 
3..4. Classificação
 
A classificação é um procedimento que distribui qualquer entidade referida em diferentes agrupamentos realizados a partir de sistemas de semelhanças e de diferenças. A classificação se pode realizar segundo diferentes critérios, e também do mais especifico ao mais geral, ou vice-versa:
 
(30) I.gre.ja 2. Comunidade Cristã: a Igreja Protestante e a Ortodoxa. Sacconi,2001.
(31) o.ce.a.no 2. Cada uma das grandes porções em que se dividem essas águas: o Pacífico, o Atlântico, o Indico, o Glacial Ártico e o Glacial Antártico. Ferreira,2005.
Como se vê, os exemplos apresentados se organizam do mais geral para o mais específico.
 
3.5. tradução
 
Nesse caso, o autor apresenta o equivalente da unidade estrangeira em português, para ser aquele melhor interpretado pelos usuários do dicionário:
(32) CPU (Inf.) Sigla do Ing. Central Processing Unit (Unidade Central de Processamento), o cérebro do computador; em microcomputadores, é um pequeno chip, chamado microcomputador (q.v.) que põe o computador em funcionamento. Luft,2005.
(33) CD-ROM s.m.(o) Sigla inglesa de compact disk read only memor = memória em disco a laser exclusiva de leitura: disco de formato igual ao de um CD, capaz de armazenar imagens e textos, além de informações de áudio. Sacconi,2001.
l
Esse procedimento se dá mediante a realização de variantes competitivas (terminologia cunhada por Faulstich,, 1999). E se define como aquelas que relacionam significados entre itens lexicais de línguas diferentes. Realizam-se por meio de pares formados por empréstimos lingüísticos e formas vernaculares.
 
Considerações finais
Os autores, uns mais que outros, apresentam muitos mecanismos de explicação, diversificados. Na maioria das vezes utilizam mecanismos diversos para explicar o mesmo item lexical, porém pecam pelo fato de usar palavras raras e difíceis na construção da metalíngua das definições.
Os mecanismos mais utilizados para explicar o significado das unidades léxicas consultadas foram os seguintes: as paráfrases, reformulação, explicações, exemplos.
As definições científicas (produzidas em linguagem extremamente difícil) aparecem principalmente em Ferreira As definições aproximativas e analógicas aparecem, com muita freqüência, em todos os dicionários analisados. As definições perifrásticas são mais freqüentes nos dicionários, de Mattos. Na definição que se dá por meio de outro sinônimo, nos bons dicionários, este se define analiticamente em outra entrada. Ou se utilizam de palavras fáceis na metalíngua da definição para evitar consultas remissivas.
Por último, devemos reforçar aqui a importância de os dicionários registrarem num equilíbrio, e uniformemente, na definição, as informações lingüísticas e as enciclopédicas. Também, desse mesmo modo, apresentar as informações de metalinguagem de conteúdo acrescidas de informações contextuais, com o fim de não só definir a unidade léxica, mas também explicá-la.
Diante das peculiaridades estilísticas do dicionário, para compreendê-las melhor, talvez não seja demais reforçar que o professor precisa saber orientar o uso do dicionário e trabalhar melhor seu potencial em sala de aula, uma vez que o usuário do dicionário precisa ter conhecimentos sobre dicionário e habilidades prévias para lê-lo ou consultá-lo.
Outros mecanismos de explicação são importantes, mas não foram estudados aqui, a saber: aspectos semióticos, tipográficos e imagísticos, marcas de transição semânticas, marcas de restrições normativas, etc. Esses mecanismos serão estudados noutro trabalho de pesquisa.
 
 
 
Referências bibliográficas
 
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GLOSSÁRIO DOS TERMOS DA LINGÜÍSTICA DA ENUNCIAÇÃO: ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
 
Antônio Luciano Pontes
Universidade Estadual do Ceará/Universidade de Fortaleza'''
 
 
RESUMO: Esta comunicação tem o objetivo de apresentar as decisões tomadas diante dos problemas encontrados em relação à organização do Glossário dos termos da Lingüística da Enunciação, nos aspectos relativos à macro e microestrutura. Para atingir este objetivo, temos por base os fundamentos teóricos da Terminologia, de base descritiva, e os procedimentos metodológicos da Terminografia, partindo de um corpus constituído de textos especializados, produzidos pelos estudiosos em Lingüística da Enunciação.
 
Palavras-chave: Terminografia, Lingüística da Enunciação, textos especializados
 
Considerações iniciais
Esta comunicação tem o objetivo de apresentar as decisões tomadas diante dos problemas encontrados em relação à organização do Glossário dos termos da Lingüística da Enunciação, nos aspectos relativos à macro e microestrutura. Estas dificuldades surgem em função das especificidades conceituais que caracterizam o domínio em análise.
Inicialmente, a questão que se coloca é a seguinte: qual a necessidade de um Glossário dos Termos da Lingüística da Enunciação que abranja em sua nomenclatura os termos da Pragmática Lingüística e da Análise do Discurso? Esta decisão foi tomada com base no fato de que é impossível repartir em caixas estanques as subáreas que tomam como objeto de estudo o texto/discurso, uma vez que resultam de saberes conectados entre si, em interação, possibilitando, assim, movimentos de conceitos e de termos sem contudo poder objetivamente selecionar de per si os termos específicos das diversas disciplinas afins, numa divisão rigorosa de limites de área.
Possenti (1993) vai nessa direção, quando afirma: “Eu não proporia, em princípio, que um pragmaticista incorporasse os princípios da Análise do Discurso, mas, de fato, há alguns que não os desprezam totalmente.” Maingueneau (1998), discutindo o campo da Análise do Discurso, lembra que nos países anglo-saxões, muitos aproximam esta área da análise conversacional, considerando o discurso como atividade fundamentalmente interacional. Além disso, sobre o campo da Lingüística Textual, o autor lembra que sua delimitação é tema de controvérsias. Alguns lhe dão, antes de tudo, os fenômenos da coesão por objeto, outros, orientando em direção aos problemas de gênero e de tipologia do discurso, estão muito próximos das perspectivas da Análise do Discurso.
Com efeito, percebe-se que, na prática, há trocas entre áreas, acumulando sentido nos termos, deslocados de um campo para outro, como decorrência inclusive das proximidades conceituais, de paradigmas e de influências que se dão entre si.
Nesta exposição, apresentaremos as características do público ao qual o glossário é destinado, como também os princípios teórico-metodológicos que orientam a sua organização: a constituição do corpus e a formação dos verbetes.
 
1.0 Procedimentos metodológicos
 
1.1 Público-alvo
Há quem defenda que os problemas terminológicos nunca deveriam ser verdadeiramente importantes em gramática, em Lingüística ou em qualquer outro ramo do saber, posto que o que deveria interessar ao estudioso não é tanto buscar nomear os conceitos como compreender os fenômenos que se examinam.
No entanto, para os professores, para os estudantes que se iniciam e até mesmo para os iniciados no âmbito da Lingüística da Enunciação, a Terminologia constitui seguramente o principal problema para a compreensão dos fenômenos e para a produção na área. São muitos os fatores que justificam estudar esta disciplina: sua contínua expansão e especialização em perspectivas e enfoques, a produção de sentidos novos para representar conceitos que surgem e, ainda, graus de polissemia que esta linguagem tem apresentado nos últimos tempos. Por tudo isso é que se justifica apresentar um dicionário, instrumento sobretudo didático, que reflita a realidade metalingüística da área em questão.
Como se sabe, desde que surgiram teóricos, como Benveniste, Ducrot, Bakhtin, Levinson, só para citar alguns, a Lingüística da Enunciação tem experimentado um desenvolvimento nunca conhecido até então. Por conseguinte, é urgente produzir um trabalho que se destine a estudantes de Letras, professores e alunos de várias outras áreas, interessados nos estudos do texto e do discurso. Espera-se, então, que este trabalho venha ajudar aos interessados ver com clareza os avanços das idéias lingüísticas hoje. Este é o propósito do Glossário dos Termos da Lingüística da Enunciação, aqui ora apresentado, numa versão preliminar.
Para atingir este objetivo, temos por base os fundamentos teóricos da Terminologia, de base descritiva, e os procedimentos metodológicos da Terminografia, partindo de um corpus constituído de textos especializados, produzidos pelos estudiosos em Lingüística da Enunciação.
 
1.2 Dos passos metodológicos
Numa primeira etapa, levantamos a produção científica dos principais programas de pós-graduação brasileiros, de 1990 a 2000, objetivando construir a nomenclatura do glossário. A literatura para a composição do corpus constituiu-se de teses, dissertações, artigos de periódicos e livros, cujos temas dizem respeito ao texto e ao discurso, encarados sob as perspectivas da Pragmática e da Análise do Discurso.
Numa etapa posterior, os termos coletados foram registrados em fichas terminológicas com vistas a facilitar a produção dos verbetes e a organização da macroestrutura do glossário.
A ficha, preparada para o trabalho, foi composta dos seguintes campos:
• Unidade terminológica lematizada
• Informação gramatical
• Sigla
• Equivalentes
• Contexto
• Definição
• Remissiva(s)
Concluídas as fichas, organizamos o glossário, do ponto de vista macroestrutural e microestrutural. As definições e os verbetes, uma vez produzidos, passaram pela revisão de especialistas em Lingüística, para, numa última fase, proceder-se a versão definitiva do produto.
O glossário é do tipo monolíngüe com equivalentes em inglês, francês e espanhol. Os equivalentes foram extraídos em documentos escritos, produzidos em situações reais de comunicação especializada, tais como livros, artigos, anais de congressos e dicionários especializados e serão apresentados, alfabeticamente, em índices remissivos, considerando-se o português como língua de partida.
 
1.3 Seleção dos termos
Os termos selecionados, para compor a nomenclatura do glossário, situam-se na estruturação conceptual do domínio, que se circunscreve na árvore de campo. O critério inicial então para gerar o glossário em tela foi o de agrupar as subáreas da Lingüística da Enunciação, as quais compreendem os termos das diversas orientações teóricas que incorporam o componente pragmático em suas abordagens, tais como a Lingüística Textual, a Semântica da Enunciação e a Análise da Conversação, bem como os termos da Análise do Discurso.
Outros critérios foram levados em conta. Os termos que se movem das várias disciplinas para a Lingüística da Enunciação foram tratados como específicos dentro do domínio visado. Desse modo, fazem parte do produto os termos cuja pertinência temática é indiscutível, embora a maioria desses termos se desloquem da Psicanálise, da Psicologia Cognitiva, da Sociologia, só para dar alguns exemplos. Além disso, há, ainda, termos que se originam da Lingüística do Sistema e da língua comum, justificando tais deslocamentos a feição interdisciplinar e dinâmica que a Lingüística da Enunciação assume.
E, por último, tomou-se a relevância do termo dentro da Lingüística da Enunciação como critério fundamental.
 
1.4 Do mapa conceitual
A área em estudo caracteriza-se pela interdisciplinaridade, uma vez que se apresenta complexa e multifacetada, por conseguinte, de difícil sistematização. Esta é a razão pela qual se configura este trabalho terminográfico a partir de uma árvore de campo, em que se determinam a priori as noções específicas do domínio, expressando, assim, sua estrutura conceptual. Desse modo, a árvore de campo é imprescindível para poder traçar o alcance temático do trabalho, controlar a pertinência dos termos considerados, bem como defini-las de forma sistemática e coerente. Eis então a árvore de campo previamente delineada para este trabalho:
1. Pragmática
1.1 Conceitos básicos
1.2 Concepções e tendências
1.2 Atos de fala
1.2.1 Constituição
1.2.2 Classificação
1.3 Argumentação
1.3.2 Operadores argumentativos
1.3.3 Índices de polifonia
1.3.4 Índices modais
1.3.5 Teoria da relevância
1.3.6 Leis do discurso
1.4 Texto
1.4.1 Conceitos fundamentais
1.4.2 Métodos de análise
1.4.3 Tipologias textuais
1.4.4 Gêneros textuais
1.4.4.1 Fatores de coerência
1.4.4.2 Mecanismos de coesão
1.4.4.3 Superestruturas
1.5 Conversação
1.5.1 Organização conversacional
1.5.2 Marcadores conversacionais
1.5.3 Conversação como ato social
1.5.4 Postulados conversacionais
2. Análise do Discurso
2.1 Conceitos básicos
2.2 Vertentes
2.3 Tipologias do discurso
2.4 Constituição do discurso
2.5 Discurso e ideologia
 
1.5 Dos fundamentos teóricos
Nossa pesquisa seguirá a orientação teórica da terminologia temática monolíngüe, com base nos fundamentos da Teoria Comunicativa da Terminologia, doravante TCT. Tal paradigma se deve a Cabré (1999, 2001), para quem as terminologias funcionam discursivamente nos textos especializados, produzidos em situações reais de comunicação técnico-científicas. Partindo desse ponto de vista, a autora delineia sua proposta com base nos aspectos teórico-metodológicos seguintes:
a) a variação é inerente á comunicação (especializada ou não);
b) as situações de uso são consideradas, gerando desse modo uma multiplicidade de discursos em vários níveis de especialidade;
c) a Terminologia é uma interdisciplina construída a partir de conceitos provenientes das ciências da linguagem, das ciências da cognição e das ciências sociais;
d) um conceito pode pertencer à estrutura conceptual de diferentes disciplinas. Parte-se do princípio de que um conceito circula, especializando-se em cada área a que passa a pertencer. Os conceitos podem ainda movimentar-se da língua comum para a língua especializada e vice-versa;
e) palavras e termos se localizam dentro de um mesmo léxico, fazendo parte da linguagem natural e da gramática que descreve cada língua. O que distingue, então, a palavra do termo são aspectos relativos à Pragmática.
Em conseqüência, a metodologia terminográfica baseia-se nas assertivas que se seguem:
a) o trabalho terminológico deve pelo menos inicialmente ser descritivo;
b) o corpus considerado para análise pode ser escrito ou falado;
c) o fazer terminológico supõe aplicar uma metodologia específica para detectar e extrair os termos especializados;
d) o trabalho terminológico conduz sempre a uma aplicação;
e) a metodologia há de adequar-se a diversidade de contextos, situações, necessidades, funções, finalidades e usuários;
f) a orientação onomasiológica é preponderante, mas não é exclusiva. Tudo dependerá dos objetivos do trabalho, da natureza conceptual da área, do tipo do produto que se quer, etc.
g) as definições podem adequar-se ao tipo do produto estabelecido (mais terminológicas, umas vezes; mais enciclopédicas, outras vezes).
Dentro desta orientação metodológica, são passos do trabalho terminológico:
a) conhecer bem o tema para traçar a rede de domínio;
b) determinar o tema, a perspectiva, o tipo de trabalho, os destinatários, os objetivos e as finalidades;
c) selecionar o corpus a partir das características de cada trabalho;
d) coletar os termos tendo em vista o corpus considerado;
e) adequar flexivelmente todas as etapas do trabalho terminológico, considerando a natureza dos termos na diversidade da comunicação, o dinamismo dos conceitos, a circularidade do conhecimento, o uso dos termos no discurso e as possibilidades de novas tecnologias. Numa etapa final, apresentar o trabalho, fazendo prevalecer o critério da adequação.
 
2.0 Organização do glossário:
2.1 Da macroestrutura:
Quanto à disposição dos termos na macroestrutura, optou-se por considerar a ordem alfabética, e não a organização por campos, uma vez que é muito difícil fazer recortes estanques no sistema conceptual da terminologia em questão.
Os termos polissêmicos, cujos sentidos representam perspectivas e usos diferentes, terão uma estrutura com múltiplos enunciados terminográficos. Aqui, tem-se um caso de verbete múltiplo, portanto.
Os termos homonímicos terão tantas entradas quantos forem os conceitos identificados, cada um deles, representando as subáreas da macro-área em análise, como por exemplo:
Sujeito¹
Sujeito²
Os termos considerados quase-sinônimos(parasssinônimos) terão entradas diferentes, constituindo verbetes plenos em sua microestrutura. Exemplo:
Intertextualidade
Interdiscursividade
Os termos co-hipônimos assim como os hiperônimos terão entradas diferentes. Exemplo:
Enunciador
Locutor
Autor
2.2 Da microestrutura (modelos e tipos de verbetes):
Os verbetes de nosso vocabulário podem ser de duas categorias:
1. Verbete-principal: este se estrutura como simples ou complexo, dependendo da natureza do termo-entrada e da função do verbete no repertório.
1.1 Verbete-principal simples: são os verbetes que possuem apenas um enunciado terminográfico. Neste caso, o termo-entrada é monossêmico. Exemplos:
Assalto ao turno s. m.
 
Tomada de turno por um falante na conversação fora do momento adequado.
 
Nota 1: No momento do assalto ao turno, ocorre normalmente o fenômeno da sobreposição de vozes, isto é, por alguns instantes, dois (ou mais) participantes falam ao mesmo tempo, até que um deles desiste e o outro fique definitivamente na posse do turno.
Nota 2: Há dois tipos de assalto ao turno: assalto com deixa e assalto sem deixa.
 
V.: Assalto com deixa; Assalto sem deixa.
 
Assalto com deixa s. m.
 
Assalto ao turno através de uma marca lingüística.
 
Nota: O ouvinte aproveita-se de um momento de hesitação caracterizado pela ocorrência dos seguintes fenômenos: pausas, alongamentos, repetições de palavras ou sílabas.
 
V.: Assalto ao turno; Assalto sem deixa; Turno.
 
Assalto sem deixa s. m.
 
Assalto ao turno de forma brusca e inesperada do ouvinte no turno do outro interlocutor, sem que seja marcado lingüisticamente.
 
Nota: O assalto sem deixa sempre gera sobreposição de vozes, o que nem sempre ocorre no assalto com deixa.
 
V.: Assalto ao turno; Assalto com deixa; Turno.
 
 
Auto-repetição s. f.
 
Tipo de repetição produzida pelo mesmo falante no discurso oral.
 
Nota: A auto-repetição se dá devido a exigências de ordem cognitivo-intencional, podendo, pois, ser orientada quer para o próprio falante, quer para o interlocutor (ou, ainda, para ambos). (Koch, 1997, p. 103). No 1 CASO, tem por função ganhar tempo para o planejamento, assegurar a posse do turno ou, ainda, simplificar a tarefa de produção discursiva. As repetições orientadas para o interlocutor visam a segmentar o discurso para o devido processamento ou, de modo geral, garantir a compreensão, ou ainda, para substituir ou reparar a formulação inicial.
 
V.: Turno; Discurso oral; Repetição.
 
Catáfora s. f.
 
Referência textual que aponta uma unidade semântica que surgirá posteriormente.
 
Nota: A presença de catáforas pode dificultar a compreensão do texto: Ex. É preciso considerar o seguinte: que para compreender um texto não basta o conhecimento lingüístico, mas uma série de informações ou conhecimentos que fazem parte do processo. "o seguinte" é catáfora de que para compreender um texto não basta o conhecimento lingüístico, mas uma série de informações ou conhecimentos que fazem parte do processo.
 
V.: Texto; Coesão; Anáfora; Endófora.
 
Détournement s. m.
 
Modificação sofrida no intertexto, nos níveis de forma e de sentido, a partir da aplicação das operações de retextualização.
 
Nota 1: As operações de retextualização são de vários tipos: de apagamento, de substituição, de inversão, de acréscimo aos níveis fonético-fonológico, lexical, sintático, morfológico. São exemplos retirados de Koch (1997):
a) Devagar se vai ao longe. > Devagar se vai ao longe, mas leva muito tempo. (de acréscimo ao nível de palavra)
b) Prepare-se para levar um susto. > Prepare-se para levar um surto. (substituição ao nível fonético-fonológico)
c) Quem vê cara, não vê coração > Quem vê cara, não vê AIDS. (substituição ao nível lexical)
a) Quem espera sempre alcança. > Quem espera nunca alcança. (substituição ao nível lexical)
Nota 2: Grésillon e Maingueneau (1984) preconizam dois tipos de détournement: o lúdico (V.) e o militante (V.).
Nota 3: Há diversos tipos de détournement, considerando as formas de retextualização:
a) détournement de provérbios, frases feitas, títulos de filmes ou obras literárias. Muito freqüente, por exemplo, na publicidade, no humor, na música popular, em charges políticas etc.;
b) détournement de textos ou títulos de textos literários – como não só na publicidade e na propaganda, mas também em outros textos literários;
c) détournement de provérbios, frases feitas, passagens bíblicas, etc. em enunciados do tipo concessivo, por meio de adjunções, como é o caso de: "Devagar se vai ao longe, mas leva muito tempo – (em mínimas, Luís Fernando Veríssimo).
Nota 4: Empréstimo do francês.
 
V.: Texto; Intertexto; Intertextualidade; Détournement lúdico; Détournement militante.
 
Formação ideológica s. f.
 
Conjunto complexo de atitudes e representações que dizem respeito, mais ou menos diretamente às posições de classe em conflito umas com as outras (Haroche et alii).
 
Nota 1: Cada formação ideológica pode compreender várias formações discursivas interligadas.
Nota 2: Como as visões de mundo estão vinculadas às classes sociais, há, em princípio, numa formação social, tantas visões de mundo quantas foram as classes aí existentes. No entanto, a visão de mundo dominante é a da classe dominante (Fiorin, 1995).
 
V.: Formação social; Formação discursiva.
 
Formação social s. f.
 
Relação entre classes que compõem uma comunidade em um determinado momento de sua história.
 
Nota: Estas relações estão assentadas em práticas exigidas pelo modo de produção que domina a formação social. A essas relações correspondem posições políticas e ideológicas que mantêm entre si laços de aliança, de antagonismo ou de dominação.
 
V.: Formação discursiva; Formação ideológica.
 
Nota 4: O sujeito do discurso apresenta-se dotado de pré-consciente e de inconsciente. (Iuduorsky, Fredo, 1998, p. 112.)
Nota 5: Percebe-se que o sujeito é duplamente afetado em seu funcionamento individualizado, pelo inconsciente e, em seu funcionamento social, pela ideologia. Vê-se que o sujeito da Análise do Discurso encontra seus fundamentos, por um lado, em Marx e Althusser e, por outro, em Freud. (Iuduorsky, Fredo, 1998, p. 112).
 
V.: Discurso; Sujeito-posição.
 
 
1.2 Verbete-principal: são os verbetes cuja estrutura se constitui em vários enunciados terminográficos. Neste caso, o termo-entrada é de natureza polissêmica, produzindo enunciados terminográficos múltiplos.
Leitura
1. (Da perspectiva do texto). Processo de extração de significados do texto, que se dá seqüencialmente, da esquerda para direita, de cima para baixo, página após página, considerando que as letras vão formando palavras, as palavras frases e as frases parágrafos. O processo é então ascendente, pois faz uso linear e indutivo das informações visuais, lingüísticas; e sua abordagem é composicional, isto é, constrói o significado através da análise e síntese do significado das partes.
 
Nota 1: Nessa perspectiva, na medida em que leitura é extração de significados, um mesmo texto produz sempre os mesmos significados, pelo menos em leitores de um mesmo nível de competência. O mais competente pode ditar o significado ao menos competente incluindo a situação típica de sala de aula, onde o texto significa aquilo que o professor diz que ele significa.
Nota 2: Críticas:
1- Ênfase no processo linear da leitura. 2. Defesa da intermediação do sistema fonológico da língua para o acesso ao significado. 3- Valorização das habilidades de baixo nível, como o reconhecimento de letras e palavras.
 
V.: Leitor (1), Significado, Frase, Texto (1).
2. (Da perspectiva do leitor): Processo de atribuição de sentido ao texto. Os sentidos construídos têm base na experiência de vida do leitor, anterior ao seu encontro com o texto, e envolve conhecimentos lingüísticos, textuais e enciclopédicos.
 
Nota 1: A leitura não é interpretada como um procedimento linear, onde o significado é construído palavra por palavra, mas como um procedimento de levantamento de hipóteses. O que o leitor processa da página escrita é o mínimo necessário para confirmar ou rejeitar hipóteses. O processo é então descendente.
Nota 2: Leitura depende mais de informações não visuais (InV) do que visuais(IV). Podemos dizer que não é possível ler um texto valendo-se apenas de IV; A leitura é o resultado da interação entre a IV, fornecida pelo texto, e a InV, isto é, o conhecimento prévio armazenado na memória do leitor. O leitor proficiente utiliza esse conhecimento prévio para fazer uma leitura rápida e seletiva através da previsão de parte do material do texto. Além disso, a InV é também utilizada pelo leitor para completar a construção do sentido do texto através do estabelecimento de inferências.
Nota 3: Leitura fluente é feita através de um processo parcial do material visual, e completada pelas previsões. Os olhos não vêem o que realmente está escrito na página, mas apenas determinadas informações pedidas pelo cérebro. A compreensão não começa pelo que está na frente dos olhos, mas pelo que está atrás.
Nota 3: Críticas:
1 Bom leitor é aquele que é capaz de descobrir as marcas deixadas pelo autor para chegar à formulação de suas idéias e intenções. 2. A perspectiva de leitura centrada no leitor repousa principalmente na abordagem psicolingüística da compreensão, com ênfase nos aspectos cognitivos. O leitor passa a ser visto como o soberano absoluto na construção do significado.
 
V. Sentido (2), Texto, Leitor.
 
3. (Da perspectiva interativa sob a abordagem psicolingüística): Processo de interação que ocorre dentro de um contexto maior em que o leitor transaciona com autor através do texto, no contexto específico com intenções específicas. No modelo interativo o processo é ascendente/descendente: o leitor procura confirmar as predições com os dados do texto.
 
Nota 1: Bom leitor é aquele que é capaz de percorrer as marcas deixadas pelo autor para chegar à formulação de suas idéias e intenções. (Coracini, 1995).
Nota 2: O texto é construído não só pelo autor ao produzi-lo, mas também pelo leitor ao lê-lo.
 
V. Interação.
 
4. (Da perspectiva interativa sob a abordagem social). Processo de atribuição de sentido que está nas convenções, mais ou menos explícitas, que regem as relações entre os membros de uma comunidade discursiva.
Nota: A leitura não é um ato solitário, mas coletivo, exercido dentro de uma comunidade que tem suas regras e convenções.
 
V. Comunidade discursiva
 
5. (Da perspectiva da Semiótica Social) Capacidade de processar informação transmitida por uma combinação de formas de representação, pois qualquer que seja o texto escrito, é multi-modal.
 
Nota : Descardeci (2002) afirma: Preocupa-me o fato de que as crenças escolares sobre leitura, limitadas à leitura do código escrito, têm subestimado o valor das outras formas de representação presentes na composição da mensagem escrita, sendo estas tão portadoras de significado quanto aquele. Refiro-me a todos os recursos de composição e impressão do texto, como: a qualidade do papel, ilustrações (imagens significativas), cores, diagramação da página, formato (negrito, itálico) e a cor das letras, a formatação do parágrafo, tamanho de letras, etc. A esse conjunto de elementos, a Semiótica social refere-se como a multimodalidade das formas de representação.
Nota 2. O homem moderno precisa aprender a ler, de maneira ampla, para saber processar, completamente, as informações com as quais tem contato no seu dia-a-dia
Nota 3. A multimodalidade das formas de representação certamente estará mais próximo do significado de leitura do mundo, defendido por Paulo Freire.
 
Nota 4 ....podemos ler todos os sinais, dos livros e do mundo, buscando recuperar a intenção dos textos em direção a seus receptores, com base nas marcas gráficas e em todas as outras disponíveis. Por essas vias, não haverá alfabetizados funcionais, que apenas soletram ordens a serem obedecidas e informações a serem digeridas, mas leitores críticos, capazes de interagir com textos das mais diversas naturezas sociais e institucionais e estender essa capacidade leitora a todas as situações orais da vida quotidiana. (Aguiar, 2004).
 
2. Verbete-rappel (article-rappel): este tem como entrada uma unidade terminológica que se introduz na macroestrutura com a função de lembrete, remetendo a um termo anteriormente definido. Exemplo:
Atenuação s.f. – ver abrandamento.
 
2.2 Apresentação do glossário:
1) Termo: os termos se apresentam sob forma lematizada, isto é, substantivos e adjetivos no masculino singular e verbos, no infinitivo.
Alguns termos constituem unidades terminológicas já pertencentes à Terminologia da Lingüística da Enunciação (por exemplo: coesão, enunciação). Alguns, na verdade, deslocam-se de outras áreas do conhecimento (exemplo: frame, polifonia, gênero, assalto). E, ainda, muitos outros se originam da Lingüística do Sistema (sinônimo, sujeito e texto). Do ponto de vista da formação, os termos deste glossário constituem, na maior parte dos casos, em formações sintagmáticas que decidimos tratá-los como substantivos.
Além dos sintagmas nominais, os termos que compõem o glossário, também são formados pelos processos vernáculos da derivação e da composição.
2) Definição. Estas são do tipo “definição por compreensão”, que são formadas por um termo genérico e as características que individualizam o termo definido. Elementos enciclopédicos, assim como comentários de cunho lingüísticos, serão considerados em notas. Em alguns casos, as definições se iniciam pela referência a um subdomínio ou a uma perspectiva, refletindo assim o caráter interdisciplinar da área em questão.
3) Notas. Há vários microparadigmas:
3.1) Exemplificação: ilustrações dos conceitos apresentados.
3.2) Fontes: referências aos nomes das teorias ou escolas que propuseram o termo.
3.3) Informação Enciclopédica: esclarecimentos ou informações complementares em torno do termo-entrada considerado.
4) Classificação: proposta de classificação para o termo em questão.
5) Composição: partes, fases ou operações do termo-entrada considerado.
6) Informações lingüísticas: registro relativo à formação e origem do termo-entrada.
7) Sinonímia: consideramos sinônimos os seguintes casos:
• variações em que os elementos sintagmáticos apresentam alternância de caráter morfossintático;
• o sintagma preposicionado alterna com o emprego do adjetivo;
• variações em que um dos itens lexicais do composto é apagado;
• variações que consistem no uso de uma unidade lexical por outra;
• empréstimos externos alternando com um elemento vernacular;
• as alternâncias morfemáticas.
8) Remissivas: Simbolizadas por V, relacionam termos que fazem parte do repertório:
• termos que estão incluídos na definição de outro;
• termos que mantêm uma relação hiponímica ou hipernímica entre si;
• termos que indicam relações antonímicas, complementares;
• termos de uma subárea que se aproximam conceitualmente ou que se correspondem aos de outra subárea.
 
Considerações finais
Nossa pesquisa levou-nos a constatar que, a nível de microestrutura, um único modelo de verbete não é capaz de responder às necessidades específicas de descrição das diferentes unidades terminológicas do domínio estudado. A variedade de verbetes se dá em função da natureza semântica dos termos, ou seja, os termos monossêmicos comportam uma microestrutura do tipo simples e os termos polissêmicos configuram-se numa microestrutura do tipo múltipla.
Dependendo do papel que o verbete exerce dentro do glossário, temos dois tipos de verbetes: verbete-principal e verbete-rappell. A cada tipo de verbete corresponde uma microestrutura básica, na qual os macroparadigmas são constantes em uma relação intra-vocabulário e entre os verbetes do mesmo tipo.
Desse modo, os verbetes-principais têm como microestrutura básica a fórmula que é a seguinte:
 
 
Já os verbetes-rappels têm uma estrutura mais simplificada:
 
 
A identificação dos modelos de microestruturas capazes de responder a estas particularidades garantem um tratamento terminográfico uniforme para todos os dados terminológicos, além de garantir ainda uma homogeneidade a todos os verbetes do glossário.
 
Referências bibliográficas
CABRÉ, M. T. (2000). La terminología: representación y comunicación. Elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Institut Universitari de Lingüística Aplicada, Universitat Pompeu Fabra.
CABRÉ, M. T. & FELIU, J. (2001). Terminología científico-técnica. Barcelona: Institut Universitari de Lingüística Aplicada, Universitat Pompeu Fabra.
MAINGUENEAU, D. (1998). Termos-chave da Análise do Discurso. Belo Horizonte: UFMG.
POSSENTI, S. (1996). “Pragmática na Análise do Discurso”. In: Cadernos de Estudos Lingüísticos, n. 30. p. 1-116.