Guilherme I de Inglaterra: diferenças entre revisões

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| religião = [[Igreja Católica|Catolicismo]]
}}
'''Guilherme I,''' também chamado de '''Gustavo I''' (em [[Língua normanda|normando antigo]]: Williame I; {{Lang-ang|Willelm I}}; [[Falaise]], {{circa}} [[1028]]<ref name=Bates33>Bates ''William the Conqueror'' p. 33</ref> — [[Ruão]], [[9 de setembro]] de [[1087]]), geralmente chamado de '''GustavoGuilherme, o Conquistador''' e algumas vezes de '''GustavoGuilherme, o Bastardo''',<ref name=DNB/>{{nota de rodapé|Ele só foi descrito como "o Bastardo" em fontes escritas por não-normandos.<ref name=DNB/>}} foi o primeiro [[Lista de monarcas da Inglaterra|rei normando da Inglaterra]], que governou de 1066 até sua morte em 1087. Descendente de invasores [[vikings|viquingues]], ele era [[duque da Normandia]] desde 1035. Depois de uma longa luta para estabelecer seu poder em 1060, seu domínio sobre a [[Normandia|região francesa]] tornou-se seguro, e deu início à [[conquista normanda da Inglaterra]] em 1066. O resto de sua vida foi marcada por lutas para consolidar seu domínio sobre a Inglaterra e suas terras continentais, e por dificuldades com seu filho mais velho.
 
Era filho do solteiro [[Roberto I da Normandia|Roberto I, duque da Normandia]], com sua amante [[Arlete de Falaise|Arlete]]. Sua posição como [[Filiação ilegítima|filho ilegítimo]] e sua juventude lhe causaram algumas dificuldades depois que sucedeu seu pai, assim como a anarquia que assolou os primeiros anos de seu governo. Durante sua infância e adolescência, membros da aristocracia normanda lutaram entre si, tanto para ter o controle do jovem [[duque]] quanto para seus próprios fins. Em 1047, GustavoGuilherme foi capaz de esmagar uma rebelião e começar a estabelecer sua autoridade sobre o ducado, um processo que não ficou completo até cerca de 1060. Seu casamento no início da década de 1050 com [[Matilde de Flandres]] forneceu-lhe um poderoso aliado no condado vizinho de [[Condado da Flandres|Flandres]]. Na época de seu casamento, foi capaz de providenciar as nomeações de seus partidários como bispos e abades na igreja normanda. Sua consolidação no poder lhe permitiu expandir seus horizontes, e em 1062 foi capaz de garantir o controle do condado vizinho do [[Maine (província)|Maine]].
 
No final da década de 1050 e início da década de 1060, o duque se tornou um candidato ao trono da Inglaterra, então mantido por [[Eduardo, o Confessor]], seu [[Parentesco#Graus de parentesco|primo em primeiro grau]] e que não tinha descendentes. Havia outros potenciais pretendentes, incluindo o poderoso conde inglês [[Haroldo II de Inglaterra|Haroldo Godwinson]], que foi nomeado o próximo rei por Eduardo em seu leito de morte em janeiro de 1066. GustavoGuilherme argumentou que o falecido rei tinha prometido anteriormente o trono a ele, e que Haroldo tinha jurado apoiar sua reivindicação. Construiu uma grande frota e invadiu a Inglaterra em setembro de 1066, decisivamente derrotando e matando Haroldo na [[Batalha de Hastings]] em 14 de outubro. Depois de mais alguns esforços militares, o duque normando foi coroado rei no Natal de 1066, em Londres. Fez arranjos para o seu governo na Inglaterra no início de 1067, antes de voltar à Normandia. Diversas rebeliões sem sucesso se seguiram, mas em 1075 seu domínio na Inglaterra estava praticamente consolidado, permitindo-lhe passar a maior parte do resto de seu reinado no continente.
 
Os anos finais de GustavoGuilherme foram marcados por dificuldades em seus domínios continentais, problemas com seu primogênito, e ameaças de invasões da Inglaterra pelos [[danos]]. Em 1086 ordenou a compilação do ''[[Domesday Book]]'', uma pesquisa que lista todos os proprietários de terras na Inglaterra, juntamente com suas herdades. GustavoGuilherme morreu em setembro de 1087 enquanto liderava uma campanha no norte da França, e foi sepultado em [[Caen]]. Seu reinado na Inglaterra foi marcado pela construção de castelos, o estabelecimento de uma nova nobreza normanda sobre as terras, e a mudança na composição do clero inglês. Ele não tentou integrar seus vários domínios em um império coeso, mas em vez disso continuou a administrar cada parte separadamente. As terras de GustavoGuilherme foram divididas após a sua morte: a Normandia foi para o seu filho mais velho, [[Roberto II da Normandia|Roberto]], e seu segundo filho sobrevivente, [[Guilherme II de Inglaterra|GustavoGuilherme, o Ruivo]], recebeu a Inglaterra.
 
== Antecedentes ==
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== Início de vida ==
[[Imagem:Falaise chateau guillaume conquerant 1.jpg|thumb|260px|[[Castelo de Falaise]] em [[Falaise]], [[Baixa Normandia]], França. GustavoGuilherme nasceu em um edifício localizado aqui]]
 
GustavoGuilherme nasceu em 1027 ou 1028 em [[Falaise]], Normandia, mais provavelmente no final de 1028.<ref name="Bates33"/><ref name=Official>{{citar web|url=http://www.royal.gov.uk/HistoryoftheMonarchy/KingsandQueensofEngland/TheNormans/WilliamItheConqueror.aspx|título=William the Conqueror History of the Monarchy|arquivourl=http://web.archive.org/web/20100528153037/http://www.royal.gov.uk/HistoryoftheMonarchy/KingsandQueensofEngland/TheNormans/WilliamItheConqueror.aspx|arquivodata=28 de maio de 2010|acessodata=5 de fevereiro de 2017|publicado=The British Monarchy}}</ref>{{nota de rodapé|A data exata do nascimento de Guilherme é confundida por declarações contraditórias por parte dos cronistas normandos. [[Orderico Vital]] o descreve em seu leito de morte alegando que ele tinha 64 anos de idade, o que colocaria o seu nascimento em torno de 1023. Mas em outras partes, Orderico afirma que o duque tinha 8 anos quando o pai partiu para Jerusalém, em 1035, colocando seu ano de nascimento em 1027. [[Guilherme de Malmesbury]] citou que tinha 7 anos quando seu pai o deixou, indicando 1028. Outra fonte, ''De Obitu Willelmi'', afirma que Guilherme tinha 59 anos quando morreu em 1087, alegando ser 1028 ou 1029.<ref name=Douglas379>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 379–382</ref>}} Era o único filho de [[Roberto I da Normandia|Roberto I, o Magnífico]], filho de [[Ricardo II da Normandia]].{{nota de rodapé|Isso fez com que [[Ema da Normandia]] fosse sua tia-avó e [[Eduardo, o Confessor]], seu primo.<ref name=Douglas417>Douglas ''William the Conqueror'' p. 417</ref><ref name=Douglas420>Douglas ''William the Conqueror'' p. 420</ref>}} Sua mãe, [[Arlete de Falaise|Arlete]] (ou Herleva), era filha de [[Fulberto de Falaise]]; ele pode ter sido um curtidor ou embalsamador.<ref name=Douglas379/> Possivelmente ela era um membro da família ducal, mas não se casou com Roberto.<ref name=DNB/> Em vez disso, se casou com [[Herluino de Conteville]], com quem teve dois filhos&nbsp;– [[Odo de Bayeux]] e [[Roberto, Conde de Mortain]]&nbsp;– e uma filha cujo nome é desconhecido.{{nota de rodapé|Esta filha mais tarde se casou com Guilherme, senhor de [[La Ferté-Macé]].<ref name=Douglas379/>}} Um dos irmãos de Arlete, Gualtério,{{nota de rodapé|Tio materno de Guilherme. Não confundir com [[Gualtério Gifardo|Gualtério Gifardo, Senhor de Longueville]], seu primo.}} tornou-se um defensor e protetor de GustavoGuilherme durante sua infância.<ref name=Douglas379/>{{nota de rodapé|Gualtério tinha duas filhas. Uma tornou-se uma freira, e a outra, Matilde, casou-se com Raul Tesson.<ref name=Douglas379/>}} Roberto também teve uma filha, [[Adelaide da Normandia]], com outra amante.<ref name=Houts19>van Houts "Les femmes" ''Tabularia "Études"'' pp. 19–34</ref>
 
Roberto tornou-se duque da Normandia em 6 de agosto de 1027, sucedendo seu irmão mais velho, [[Ricardo III da Normandia|Ricardo III]], que só tinha conseguido o título no ano anterior.<ref name=Bates33/> Roberto e seu irmão estavam em desacordo sobre a sucessão, e a morte de Ricardo foi repentina. O novo governante foi acusado por alguns escritores de matar seu irmão, o que era plausível, mas hoje considerado improvável.<ref name=Douglas31>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 31–32</ref> As condições na Normandia eram incertas, pois famílias nobres despojaram a Igreja e [[Alano III da Bretanha]] travou uma guerra contra o ducado, possivelmente em uma tentativa de controlá-lo. Em 1031, Roberto havia reunido considerável apoio de nobres, muitos dos quais se tornariam proeminentes durante a vida de GustavoGuilherme. Eles incluíam o tio de Roberto, o [[Roberto de Évreux|arcebispo Roberto]] de [[Arquidiocese de Ruão|Ruão]], que originalmente se opunha ao duque, [[Osberno de Crépon|Osberno]], sobrinho de [[Gunora de Crépon]], esposa do duque [[Ricardo I da Normandia|Ricardo I, o Destemido]], e o conde [[Gilberto de Brionne]], um neto de Ricardo I.<ref name=Douglas32>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 32–34, 145</ref> Após a sua adesão, Roberto continuou o apoio normando aos príncipes ingleses Eduardo e Alfredo, que ainda estavam em exílio no norte da França.<ref name=DNB/>
 
Há indícios de que Roberto pode ter sido brevemente prometido em casamento à filha do rei Canuto, mas nenhum casamento ocorreu. Não está claro se GustavoGuilherme seria substituído na sucessão ducal se o seu pai tivesse um filho legítimo. Duques anteriores eram [[Filiação ilegítima|ilegítimos]], e sua associação com seu pai nas cartas ducais parece indicar que foi considerado o mais provável herdeiro normando.<ref name=DNB/> Em 1034, o duque Roberto decidiu ir em [[peregrinação]] a [[Jerusalém]]. Embora alguns de seus partidários tentassem dissuadi-lo de empreender a viagem, Roberto convocou um conselho em janeiro de 1035 e teve os magnatas normandos reunidos jurando [[fidelidade]] ao seu filho ilegítimo como seu herdeiro<ref name=DNB/><ref name=Douglas35/> antes de partir a Jerusalém. Ele morreu no início de julho em [[İznik|Niceia]], em seu caminho de volta à Normandia.<ref name=Douglas35>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 35–37</ref>
 
== Duque da Normandia ==
=== Desafios ===
[[Imagem:Tree of William I struggle for Normandy-pt.svg|450px|thumb|esquerda|Diagrama mostrando as relações familiares de GustavoGuilherme. Nomes com "---" sob eles foram adversários do duque da Normandia, e nomes com "+++" eram partidários de GustavoGuilherme. Alguns parentes mudaram de lado ao longo do tempo, e são marcados com os dois símbolos]]
 
GustavoGuilherme enfrentou vários desafios para se tornar duque, incluindo seu nascimento ilegítimo e sua juventude: as evidências indicam que ele tinha sete ou oito anos de idade na época.<ref name=Bates36>Bates ''William the Conqueror'' p. 36</ref><ref name=Douglas37>Douglas ''William the Conqueror'' p. 37</ref>{{nota de rodapé|A forma de ver a ilegitimidade pela Igreja, por leigos, e pela sociedade estava passando por uma mudança durante este período. A Igreja, sob influência da [[reforma gregoriana]], mantinha a visão de que o pecado do sexo extraconjugal contaminava qualquer descendência resultante, mas os nobres não tinham abraçado totalmente esse ponto de vista durante a vida do duque.<ref name=Crouch132>Crouch ''Birth of Nobility'' pp. 132–133</ref> Em 1135, o nascimento ilegítimo de [[Roberto, 1º Conde de Gloucester|Roberto de Gloucester]], neto de Guilherme, filho do rei Henrique I de Inglaterra, foi o suficiente para barrar sua sucessão como rei quando seu pai morreu sem herdeiros masculinos legítimos, mesmo que ele tivesse algum apoio dos nobres ingleses.<ref name=Bastards42>Given-Wilson and Curteis ''Royal Bastards'' p. 42</ref>}} Ele contou com o apoio de seu tio-avô, o arcebispo Roberto, assim como o rei da França, [[Henrique I de França|Henrique I]], habilitando-o para suceder ao ducado de seu pai.<ref name=Douglas38/> O apoio dado aos príncipes ingleses exilados em sua tentativa de voltar à Inglaterra em 1036 mostra que os guardiões do novo duque estavam tentando dar continuidade às políticas de seu pai,<ref name=DNB/> mas a morte do arcebispo de Ruão em março de 1037 removeu um dos principais partidários de GustavoGuilherme, e as condições na Normandia rapidamente caíram em caos.<ref name=Douglas38>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 38–39</ref>
 
A anarquia no ducado durou até 1047,<ref name=Douglas51>Douglas ''William the Conqueror'' p. 51</ref> e o controle do jovem governante era uma das prioridades das pessoas que disputavam o poder. No início, Alano da Bretanha tinha a custódia do duque, mas quando ele morreu no final de 1039 ou outubro de 1040, Gilberto de Brionne se encarregou de GustavoGuilherme. Gilberto foi morto após alguns meses, e outro guardião, Turchetil, também foi morto na mesma época.<ref name=Douglas40>Douglas ''William the Conqueror'' p. 40</ref> Mais um guardião, Osberno, foi morto no início do ano de 1040 no quarto de GustavoGuilherme, enquanto o duque dormia. Dizia-se que Gualtério, seu tio materno, foi ocasionalmente forçado a esconder o jovem nas casas dos camponeses,<ref name=Bates37>Bates ''William the Conqueror'' p. 37</ref> embora esta história possa ser um embelezamento de [[Orderico Vital]]. A historiadora Eleanor Searle especula que GustavoGuilherme teria sido criado com os três primos que mais tarde se tornaram importantes em sua carreira&nbsp;– [[Guilherme FitzOsbern|Gustavo FitzOsbern]], [[Rogério de Beaumont]], e [[Rogério de Montgomery]].<ref name=Searle196>Searle ''Predatory Kinship'' pp. 196–198</ref> Embora muitos dos nobres normandos se envolvessem em suas próprias guerras e feudos durante a menoridade de GustavoGuilherme, os viscondes ainda reconheciam o governo ducal, e a hierarquia eclesiástica apoiava GustavoGuilherme.<ref name=Douglas42>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 42–43</ref>
 
[[Imagem:Colonne Vimont.jpg|miniaturadaimagem|Coluna no local da [[Batalha de Val-ès-Dunes]]]]
 
O rei Henrique continuou a apoiá-lo,<ref name=Douglas45>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 45–46</ref> mas no final de 1046 opositores de GustavoGuilherme se uniram em uma rebelião centrada na [[Baixa Normandia]], liderada por [[Alice da Normandia|Guido de Borgonha]] com o apoio de Nigel, Visconde do Cotentin, e Ranulfo, Visconde de Bessin. De acordo com as histórias que podem ter elementos lendários, foi feita uma tentativa de apreender GustavoGuilherme em [[Valognes]], mas ele escapou protegido pela escuridão, buscando refúgio com o rei francês.<ref name=Douglas47>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 47–49</ref> No início de 1047, Henrique e GustavoGuilherme voltaram à Normandia e foram vitoriosos na [[Batalha de Val-ès-Dunes]] perto de [[Caen]], embora poucos detalhes da luta real sejam registrados.<ref name=Bates38>Bates ''William the Conqueror'' p. 38</ref> [[Guilherme de Poitiers|Gustavo de Poitiers]] alegou que a batalha foi ganha, principalmente, por meio dos esforços do jovem duque, mas relatos anteriores afirmam que homens e a liderança do rei Henrique também desempenharam um papel importante.<ref name=DNB/> GustavoGuilherme assumiu o poder na Normandia, e logo após a batalha promulgou a [[Paz de Deus|Trégua de Deus]] em todo seu ducado, em um esforço para limitar a guerra e a violência, restringindo os dias do ano em que a luta era autorizada.<ref name=Bates40>Bates ''William the Conqueror'' p. 40</ref> Embora a Batalha de Val-ès-Dunes tenha marcado um ponto de virada em seu controle do ducado, não foi o fim de sua luta para ganhar vantagem sobre a nobreza. O período de 1047 e 1054 viu guerra quase contínua, com crises menores continuando até 1060.<ref name=Douglas53>Douglas ''William the Conqueror'' p. 53</ref>
 
=== Consolidação do poder ===
[[Imagem:Bayeuxtapestryodowilliamrobert.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|Imagem da [[tapeçaria de Bayeux]] mostrando GustavoGuilherme com seus meio-irmãos. O duque da Normandia está no centro, Odo está à esquerda com as mãos vazias, e Roberto está à direita com uma espada na mão]]
[[Imagem:William+Henry 2.jpg|thumb|esquerda|[[Iluminura]] do {{séc|XIV}} da [[Batalha de Mortemer]]]]
 
Os esforços seguintes de GustavoGuilherme foram contra Guido de Borgonha, que havia se retirado para seu castelo em [[Brionne]], o qual foi sitiado pelo duque normando. Depois de um longo esforço, ele conseguiu exilar Guido em 1050.<ref name=Douglas54>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 54–55</ref> Aliou-se ao rei Henrique para enfrentar o crescente poder do [[Lista de condes e duques de Anjou|conde de Anjou]], [[Godofredo II de Anjou|Godofredo Martel]],<ref name=Douglas56/> a última cooperação conhecida entre os dois. Eles conseguiram capturar uma fortaleza angevina, mas conseguiram pouca coisa.<ref name=Bates43>Bates ''William the Conqueror'' pp. 43–44</ref> Godofredo tentou expandir sua autoridade para o [[Lista de condes e duques do Maine|Condado do Maine]], especialmente após a morte do conde {{lknb|Hugo|IV|do Maine}} em 1051. O centro para o controle da região eram as participações da família de Bellême, que controlava a [[Bellême|cidade homônima]] na fronteira do condado com a Normandia, assim como as fortalezas em [[Alençon]] e Domfort. O soberano de Bellême era o rei da França, mas Domfort estava sob a soberania de Godofredo Martel e o duque GustavoGuilherme era soberano de Alençon. A família Bellême, cujas terras estavam estrategicamente colocadas entre os três diferentes soberanos, foi capaz de jogar uns contra os outros e garantir a independência virtual para si mesma.<ref name=Douglas56>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 56–58</ref>
 
Com a morte de Hugo do Maine, Godofredo Martel ocupou o condado em um movimento contestado por GustavoGuilherme e pelo rei Henrique; posteriormente, eles conseguiram retirar Godofredo do condado, e, no processo, GustavoGuilherme conseguiu garantir as fortalezas da família Bellême em Alençon e Domfort para si. Portanto, ele era capaz de afirmar a sua soberania sobre a família e obrigá-la a agir de forma coerente com os interesses normandos.<ref name=Douglas59>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 59–60</ref> Mas em 1052 o rei e Godofredo Martel fizeram causa comum contra GustavoGuilherme, ao mesmo tempo que alguns nobres normandos começaram a contestar o poder crescente do duque. A reviravolta de Henrique provavelmente foi motivada por um desejo de manter o domínio sobre a Normandia, que agora estava ameaçado pelo crescente domínio do ducado de GustavoGuilherme.<ref name=Douglas63>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 63–64</ref> O duque normando estava envolvido em ações militares contra os seus próprios nobres durante todo ano de 1053,<ref name=Douglas66>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 66–67</ref> assim como com o novo arcebispo de Ruão, [[Maugério]].<ref name=Douglas64>Douglas ''William the Conqueror'' p. 64</ref> Em fevereiro de 1054 o rei e os rebeldes normandos lançaram uma invasão dupla contra o ducado. Henrique liderou as principais linhas através do [[Conde de Évreux|Condado de Évreux]], enquanto a outra ala, sob o irmão do rei francês, [[Odão de França|Odão]], invadiu o leste da Normandia.<ref name=Douglas67>Douglas ''William the Conqueror'' p. 67</ref>
 
GustavoGuilherme encontrou a invasão dividindo suas forças em dois grupos. O primeiro, que ele liderou, enfrentou Henrique. O segundo, que incluía alguns que se tornaram firmes partidários, como [[Roberto, Conde d'Eu]], [[Gualtério Gifardo]], [[Rogério de Mortemer]], e [[Guilherme de Warenne, 1.º Conde Surrey|GustavoGuilherme de Warenne]], enfrentou a outra força invasora. Esta segunda força derrotou os invasores na [[Batalha de Mortemer]]. Além de acabar com ambas as invasões, a batalha permitiu aos partidários eclesiásticos do duque depor Maugério do arcebispado de Ruão. Mortemer, assim, marcou mais um ponto de virada no controle crescente de GustavoGuilherme na região,<ref name=Douglas68>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 68–69</ref> apesar de seu conflito com o rei francês e o conde de Anjou continuar até 1060.<ref name=Douglas75>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 75–76</ref> Henrique e Godofredo lideraram outra invasão da Normandia em 1057, mas foram derrotados pelo normando na [[Batalha de Varaville]]. Esta foi a última invasão da Normandia durante a vida de GustavoGuilherme,<ref name=Bates50/> e as mortes do conde e do rei, em 1060, cimentaram a mudança no equilíbrio de poder para GustavoGuilherme.<ref name=Bates50>Bates ''William the Conqueror'' p. 50</ref>
 
[[Imagem:Acrdwnch.jpg|miniaturadaimagem|upright=1.3|As assinaturas de GustavoGuilherme I e Matilde são as primeiras duas grandes cruzes sobre o [[Acordo de Winchester]] de 1072]]
 
Um fator a favor de GustavoGuilherme era seu casamento com [[Matilde de Flandres]], a filha do conde [[Balduíno V da Flandres|Balduíno V, o Piedoso]]. A união foi organizada em 1049, mas o papa [[Papa Leão IX|Leão X]] {{nwrap|r.|1049|1054}} proibiu o casamento no [[Concílio de Reims]], em outubro de 1049.{{nota de rodapé|As razões para a proibição do casamento de Guilherme com [[Matilde de Flandres]] não estão claras. Não há registro do motivo do [[Concílio de Reims]], e a principal evidência é de Orderico Vital. Ele deu a entender que obliquamente Guilherme e Matilde também eram [[Afinidade (lei canônica)|intimamente relacionados]], mas não deu detalhes e assim a questão permanece obscura.<ref name=Douglas391->Douglas ''William the Conqueror'' pp. 391–393</ref>}} O casamento, no entanto, foi adiante em algum momento no início do ano de 1050,<ref name=Douglas76>Douglas ''William the Conqueror'' p. 76</ref>{{nota de rodapé|A data exata do casamento de Guilherme com Matilde é desconhecida, mas foi provavelmente em 1051 ou 1052, e, certamente, antes do final de 1053, já que a rainha é nomeada como a esposa de Guilherme em uma [[Carta Régia|carta]] datada do final do mesmo ano.<ref name=Douglas391>Douglas ''William the Conqueror'' p. 391</ref>}} possivelmente não sancionado pelo papa. De acordo com uma fonte tardia comumente não considerada confiável, a sanção papal não foi assegurada até 1059, mas como as relações papal-normandas na década de 1050 eram geralmente boas, e o clero normando foi capaz de visitar Roma em 1050 sem nenhum incidente, provavelmente foi assegurado anteriormente.<ref name=Bates44>Bates ''William the Conqueror'' pp. 44–45</ref> A sanção papal do casamento parece ter exigido a fundação de dois mosteiros em Caen&nbsp;– um por GustavoGuilherme e o outro por Matilde.<ref name=Douglas80>Douglas ''William the Conqueror'' p. 80</ref>{{nota de rodapé|Os dois mosteiros são a [[Abadia dos Homens]] (ou São Estêvão) para os homens, que foi fundada por Guilherme por volta de 1059, e a [[Abadia das Damas]] (ou Santíssima Trindade) para as mulheres, que foi fundada por Matilde cerca de quatro anos mais tarde.<ref name=Bates66>Bates ''William the Conqueror'' pp. 66–67</ref>}} A união foi importante para sustentar a condição do duque, já que Flandres era um dos territórios franceses mais poderosos, com laços com a casa real francesa e os [[Imperador Romano-Germânico|imperadores romano-germânicos]].<ref name=Bates44/> Escritores contemporâneos consideraram a união, que gerou quatro filhos e cinco ou seis filhas, como um sucesso.<ref name=Douglas393/>
 
=== Aparência e características ===
Nenhum retrato autêntico de GustavoGuilherme foi encontrado; as representações contemporâneas dele na [[tapeçaria de Bayeux]] e em seus selos e moedas são apenas representações convencionais destinadas a afirmar sua autoridade.<ref name=Bates115>Bates ''William the Conqueror'' pp. 115–116</ref> As descrições existentes relatam uma aparência forte e robusta, com uma voz gutural. Possuía excelente saúde até uma idade avançada, embora tenha se tornado obeso na velhice.<ref name=Douglas368>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 368–369</ref> Era forte o suficiente para atirar com arcos que os outros eram incapazes de puxar e tinha uma grande resistência.<ref name=Bates115/> Godofredo Martel o descreveu como um lutador e cavaleiro sem igual.<ref name=Searle203>Searle ''Predatory Kinship'' p. 203</ref> O exame de seu [[fêmur]], o único osso a sobreviver quando o resto de seus restos foi destruído, mostrou que tinha aproximadamente 1,78 metros de altura, muito alto para a época.<ref name=Bates115/>
 
Há registros de dois tutores do jovem duque durante o final dos anos de 1030 e início da década de 1040, mas a extensão de sua educação literária não é esclarecida. Ele não era conhecido como um patrocinador de autores, e há pouca evidência de que tenha feito mecenato do conhecimento ou outras atividades intelectuais.<ref name=DNB/> Orderico Vital registra que GustavoGuilherme tentou aprender a ler [[inglês antigo]] no final da vida, mas não foi capaz de dedicar tempo suficiente para o esforço e rapidamente desistiu.<ref name=Huscroft323>Huscroft ''Norman Conquest'' p. 323</ref> Parece que seu passatempo principal era a caça. Seu casamento com Matilde parece ter sido muito carinhoso, e não há sinais de que ele era infiel a ela&nbsp;– algo incomum para um monarca medieval. Escritores medievais criticaram GustavoGuilherme pela sua ganância e crueldade, mas sua piedade pessoal foi universalmente elogiada por contemporâneos.<ref name=DNB/>
 
=== Administração normanda ===
O governo normando sob GustavoGuilherme foi semelhante ao governo que existia liderado por duques anteriores. Era um sistema administrativo bastante simples, construído em torno da casa ducal,<ref name=Bates133>Bates ''William the Conqueror'' p. 133</ref> que consistia de um grupo de oficiais, incluindo [[Administrador|administradores]], [[mordomo]]s e [[Marechal|marechais]].<ref name=Bates23>Bates ''William the Conqueror'' pp. 23–24</ref> O duque viajava constantemente ao redor de suas terras, confirmando [[Foro (direito)|cartas]] e cobranças de receitas.<ref name=Bates63>Bates ''William the Conqueror'' pp. 63–65</ref> A maior parte da renda vinha das terras ducais, assim como de taxas e alguns impostos. Este rendimento era recolhido pela câmara, um dos departamentos domésticos.<ref name=Bates23/>
 
GustavoGuilherme cultivava relações estreitas com a igreja em seu ducado. Participou de conselhos e fez várias nomeações para o episcopado normando, incluindo a nomeação de [[Maurílio]] como arcebispo de Ruão.<ref name=Bates64/> Outro compromisso importante foi o de seu meio-irmão Odo como [[Diocese de Bayeux e Lisieux|Bispo de Bayeux]] por volta de 1049 ou 1050.<ref name=DNB/> Também contou com o clero para o conselho, incluindo [[Lanfranco de Cantuária|Lanfranco]], um não-normando, que passou a se tornar um dos proeminentes conselheiros eclesiásticos de GustavoGuilherme no final dos anos de 1040 e permaneceu assim durante toda década de 1050 e 1060. O duque fazia doações generosas à igreja;<ref name=Bates64>Bates ''William the Conqueror'' pp. 64–66</ref> entre 1035 e 1066, a aristocracia normanda fundou pelo menos 20 novas casas monásticas, incluindo dois mosteiros de GustavoGuilherme em Caen, uma expansão notável da vida religiosa no ducado.<ref name=Douglas111>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 111–112</ref>
 
== Preocupação inglesa e continental ==
[[Imagem:Bayeuxtapestrywilliamgivesharoldarms.jpg|miniaturadaimagem|upright=1.2|Cena da tapeçaria de Bayeux cujo texto indica que GustavoGuilherme forneceu armas para Haroldo durante sua viagem ao continente em 1064]]
Em 1051 o rei sem filhos Eduardo da Inglaterra parece ter escolhido GustavoGuilherme como seu sucessor ao trono inglês.<ref name=Barlow>Barlow "Edward" ''Oxford Dictionary of National Biography''</ref> O duque era neto do tio materno do rei, [[Ricardo II da Normandia|Ricardo II, o Bom]].<ref name=Barlow/> A ''[[Crônica Anglo-Saxônica]]'', na versão "D", afirma que o governante normando visitou a Inglaterra no final de 1051, talvez para garantir a confirmação da sucessão,<ref name=Bates46/> ou talvez GustavoGuilherme estava tentando conseguir ajuda para seus problemas na Normandia.<ref name=Huscroft93/> A viagem é improvável dada a sua absorção na guerra com [[Anjou]] no momento. Quaisquer que fossem os desejos de Eduardo, era provável que qualquer reclamação de GustavoGuilherme seria contestada por Goduíno, o [[Conde de Wessex]], um membro da família mais poderosa na Inglaterra.<ref name=Bates46>Bates ''William the Conqueror'' pp. 46–47</ref> Eduardo havia se casado com [[Edite de Wessex|Edite]], filha de Goduíno, em 1043, e o conde de Wessex parece que foi um dos principais partidários da reivindicação do Confessor ao trono.<ref name=Huscroft86>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 86–87</ref> Foi durante este exílio que Eduardo ofereceu o trono a GustavoGuilherme.<ref name=Huscroft89>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 89–91</ref> Goduíno retornou do exílio em 1052 com as forças armadas, e um acordo foi alcançado entre o rei e o conde, restaurando-o junto com sua família às suas terras e substituindo [[Roberto de Jumièges]], um normando a quem Eduardo tinha nomeado [[arcebispo da Cantuária]], por [[Stigand]], o [[bispo de Winchester]].<ref name=Huscroft95>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 95–96</ref> Nenhuma fonte inglesa menciona uma suposta embaixada do arcebispo Roberto ao duque da Normandia transmitindo a promessa de sucessão, e as duas fontes normandas que o mencionam, [[Guilherme de Jumièges|Gustavo de Jumièges]] e [[Guilherme de Poitiers|Gustavo de Poitiers]], não são precisas em suas cronologias de quando essa visita ocorreu.<ref name=Huscroft93>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 93–95</ref>
 
O conde [[Herberto II do Maine]] morreu em 1062, e GustavoGuilherme, que havia prometido seu filho mais velho [[Roberto II da Normandia|Roberto Curthose]] à sua irmã Margarida, reivindicou o condado através de seu filho. Nobres locais resistiram a reivindicação, mas o duque invadiu e em 1064 tinha o controle seguro da região.<ref name=Douglas174>Douglas ''William the Conqueror'' p. 174</ref> GustavoGuilherme nomeou um normando para o [[Diocese de Le Mans|bispado de Le Mans]] em 1065. Também permitiu que seu filho Roberto Curthose fizesse homenagem ao novo conde de Anjou, [[Godofredo III de Anjou|Godofredo, o Barbudo]].<ref name=Bates53>Bates ''William the Conqueror'' p. 53</ref> Sua fronteira ocidental foi, assim, garantida, mas sua divisa com a [[Ducado da Bretanha|Bretanha]] manteve-se insegura. Em 1064 invadiu a Bretanha, em uma campanha que permanece obscura em seus detalhes. Seu efeito, porém, era desestabilizar a região, forçando o seu duque, [[Conan II da Bretanha|Conan II]], a se concentrar em problemas internos ao invés de expansão. A morte do duque em 1066 garantiu ainda mais as fronteiras de GustavoGuilherme na Normandia. Também se beneficiou de sua campanha na Bretanha, assegurando o apoio de alguns nobres bretões, que passaram a apoiar a invasão da Inglaterra em 1066.<ref name=Douglas178>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 178–179</ref>
 
[[Imagem:Bayeux Tapestry scene23 Harold sacramentum fecit Willelmo duci.jpg|miniaturadaimagem|upright=1.4|esquerda|''Haroldo faz um juramento ao Duque GustavoGuilherme''. Esta cena é demonstrada na tapeçaria de Bayeux ocorrendo em Bágia (Bayeux; provavelmente na [[catedral de Bayeux|catedral da cidade]]). Mostra Haroldo tocando em dois altares enquanto o duque entronizado observa. É uma cena central para a invasão normanda da Inglaterra]]
Na Inglaterra, o conde Goduíno morreu em 1053 e seus filhos estavam crescendo em poder: [[Haroldo II de Inglaterra|Haroldo]] sucedeu o condado de seu pai, e outro filho, [[Tostig Godwinson|Tostig]], tornou-se [[Conde de Nortúmbria]]. Posteriormente outros filhos também receberam condados: [[Gurt]] como [[Conde da Ânglia Oriental]] em 1057 e [[Leofivino]] como [[Conde de Kent]] em algum momento entre 1055 e 1057.<ref name=Huscroft98>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 98–100</ref> Algumas fontes afirmam que Haroldo tomou parte na campanha bretã de GustavoGuilherme em 1064 e que jurou defender a afirmação do duque ao trono inglês no final da campanha,<ref name=Bates53/> mas não há relatórios de origem inglesa desta viagem, e não está claro se isso realmente ocorreu. Pode ter sido propaganda normanda concebida para desacreditar Haroldo, que tinha emergido como o principal candidato a suceder o rei Eduardo.<ref name=Huscroft102>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 102–103</ref> Enquanto isso, outro concorrente ao trono tinha emergido&nbsp;– [[Eduardo, o Exilado]], filho de [[Edmundo II de Inglaterra|Edmundo, Braço de Ferro]] e um neto de Etelredo II, voltou à Inglaterra em 1057 e, embora morreu pouco depois de seu retorno, trouxe consigo sua família, que incluía duas filhas, [[Margarida da Escócia (santa)|Margarida]] e [[Cristina (filha de Eduardo)|Cristina]], e um filho, [[Edgar de Wessex|Edgar, o Atelingo]].<ref name=Huscroft97>Huscroft ''Norman Conquest'' p. 97</ref>{{nota de rodapé|Atelingo (no original ''Ætheling'') significa "príncipe da casa real" e, geralmente denotado um filho ou irmão de um rei governante.<ref name=BASEAetheling>Miller "Ætheling" ''Blackwell Encyclopaedia of Anglo-Saxon England'' pp. 13–14</ref>}}
 
Em 1065 a Nortúmbria se revoltou contra Tostig, e os rebeldes escolheram [[Morcar]], o irmão mais novo de [[Eduíno de Mércia|Eduíno]], [[Conde de Mércia]], como conde em seu lugar. Haroldo, talvez para assegurar o apoio de Eduíno e Morcar em sua busca pelo trono, apoiou os rebeldes e convenceu o rei Eduardo a substituir Tostig por Morcar. O conde nortúmbrio foi para o exílio em Flandres, juntamente com sua esposa [[Judite de Flandres, Condessa da Nortúmbria|Judite]], que era filha do conde [[Balduíno IV da Flandres|Balduíno IV, o Barbudo]]. Eduardo estava doente, e morreu em 5 de janeiro de 1066. Não está claro o que exatamente aconteceu no leito de morte do rei inglês. Uma história, decorrente da ''[[Vida do Rei Eduardo]]'', uma biografia de sua vida, afirma que o Confessor contou com a presença de sua esposa Edite, Haroldo, o arcebispo Stigand, e [[Roberto FitzWimarc]], e que o rei nomeou Haroldo como seu sucessor. As fontes normandas não contestam o fato de que Haroldo foi nomeado como o rei seguinte, mas declaram que o seu juramento e a promessa anterior de Eduardo do trono não poderia ser alterada no leito de morte do rei. Mais tarde, fontes inglesas afirmaram que Haroldo foi eleito rei pelo clero e magnatas da Inglaterra.<ref name=Huscroft107>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 107–109</ref>
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[[Imagem:Norman conquest 1066-pt.svg|miniaturadaimagem|upright=1.4|Locais de alguns dos eventos de 1066]]
 
Haroldo foi coroado em 6 de janeiro de 1066 na nova abadia em [[Arquitetura normanda|estilo normando]] de [[Abadia de Westminster|Westminster]], reformada por Eduardo, embora existe certa controvérsia envolvendo quem realizou a cerimônia. Fontes inglesas alegam que [[Aldredo]], [[Arcebispo de Iorque]], realizou a coroação, enquanto fontes normandas afirmam que ela foi realizada por Stigand, que era considerado um arcebispo não-canônico pelo papado.<ref name=Huscroft115>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 115–116</ref> A reivindicação de Haroldo ao trono não era inteiramente segura, no entanto, não havia outros pretendentes, talvez incluindo seu irmão exilado Tostig.<ref name=Ruling12>Huscroft ''Ruling England'' pp. 12–13</ref>{{nota de rodapé|[[Edgar, o Atelingo]] era outro pretendente,<ref name=Bates78>Bates ''William the Conqueror'' p. 78</ref> mas era jovem,<ref name=Thomas18>Thomas ''Norman Conquest'' p. 18</ref> provavelmente tinha apenas 14 anos em 1066.<ref name=Conquest132>Huscroft ''Norman Conquest'' p. 132</ref>}} O rei [[Haroldo III da Noruega|Haroldo Hardrada]] da Noruega também tinha uma reivindicação ao trono como o tio e herdeiro do rei [[Magno I da Noruega|Magno I]], que havia feito um pacto com Hardacanuto por volta de 1040 que se um dos dois morresse sem herdeiros, o outro o sucederia.<ref name=Huscroft118/> O último requerente era GustavoGuilherme da Normandia, cuja invasão antecipou o rei Haroldo Godwinson a fazer a maior parte de seus preparativos.<ref name=Ruling12/>
 
Seu irmão, Tostig, fez ataques de sondagem ao longo da costa sul da Inglaterra em maio de 1066, desembarcando na [[Ilha de Wight]] usando uma frota fornecida por Balduíno de Flandres. Tostig parece ter recebido pouco apoio local, e novas incursões em [[Lincolnshire]] e perto do [[Humber|rio ''Humber'']] não tiveram o mesmo sucesso, então ele se retirou para a Escócia, onde permaneceu por um tempo.<ref name=Ruling12/> De acordo com o escritor normando GustavoGuilherme de Jumièges, GustavoGuilherme por sua vez tinha enviado uma embaixada ao rei Haroldo Godwinson para lembrá-lo de seu juramento em apoiar sua reivindicação, embora se esta embaixada realmente ocorreu não está claro. Haroldo montou um exército e uma frota para repelir com vigor uma invasão antecipada do governante normando, implantando tropas e navios ao longo do [[Canal da Mancha|Canal Inglês]] pela maior parte do verão.<ref name=Ruling12/>
 
=== Preparações de GustavoGuilherme ===
[[Imagem:BayeuxTapestryScene37.jpg|miniaturadaimagem|upright=1.4|esquerda|Cena da tapeçaria de Bayeux mostrando os normandos se preparando para a invasão da Inglaterra]]
 
GustavoGuilherme de Poitiers descreveu um conselho convocado pelo duque GustavoGuilherme, no qual o escritor relata um grande debate que aconteceu entre os nobres e partidários do governante normando sobre a possibilidade de arriscar uma invasão da Inglaterra. Embora algum tipo de reunião formal provavelmente tenha sido realizada, é improvável que qualquer debate tenha ocorrido, já que até então o duque havia conseguido estabelecer o controle sobre seus nobres, e a maioria dos que estavam reunidos estavam ansiosos para garantir a sua parte das recompensas da conquista da Inglaterra.<ref name=Bates79>Bates ''William the Conqueror'' pp. 79–81</ref> GustavoGuilherme de Poitiers também relata que o duque obteve o consentimento do papa [[Papa Alexandre II|Alexandre II]] para a invasão, juntamente com uma bandeira papal. O cronista alega ainda que o duque garantiu o apoio do [[Lista de imperadores do Sacro Império Romano-Germânico|imperador romano-germânico]] [[Henrique IV do Sacro Império Romano-Germânico|Henrique IV]] {{nwrap|r.|1084|1105}} e do rei [[Sueno II da Dinamarca]] {{nwrap|r.|1047|1074}}. No entanto, Henrique ainda era menor de idade e o rei da Dinamarca era mais propenso a apoiar Haroldo, que poderia, então, ajudá-lo contra o rei norueguês, de modo que essas alegações devem ser tratadas com cautela. Embora Alexandre tenha dado aprovação papal posterior à conquista, nenhuma outra fonte afirma o apoio pontifício antes da invasão.{{nota de rodapé|A tapeçaria de Bayeux pode descrever uma bandeira papal transportada pelas forças de Guilherme, mas isso não é nomeado como certo na tapeçaria.<ref name=Huscroft120/>}}<ref name=Huscroft120>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 120–123</ref> Os eventos após a incursão, que incluem a penitência realizada por GustavoGuilherme e as declarações dos papas posteriores, prestam apoio circunstancial ao pedido de aprovação papal. Para lidar com assuntos normandos, GustavoGuilherme colocou o governo da Normandia nas mãos de sua esposa durante o período da invasão.<ref name=DNB/>
 
Durante todo o verão, GustavoGuilherme reuniu um exército e uma frota de invasão na Normandia. Embora a alegação de GustavoGuilherme de Jumièges que a frota ducal contava com {{fmtn|3000}} navios seja claramente um exagero, era provavelmente grande e quase toda montada a partir do zero. Embora GustavoGuilherme de Poitiers e GustavoGuilherme de Jumièges discordam sobre onde a frota foi montada&nbsp;– Poitiers afirma que foi construída na foz do [[rio Dives]], enquanto Jumièges afirma que foi montada em [[Saint-Valery-sur-Somme]]&nbsp;– ambos concordam que, posteriormente, partiram de Valery-sur-Somme. A frota transportou uma força de invasão, que incluía, além de tropas dos territórios de GustavoGuilherme na Normandia e Maine, um grande número de mercenários, aliados e voluntários da [[Bretanha]], nordeste da França, e em Flandres, juntamente com números menores de outras partes da Europa. Embora o exército e a frota estivessem prontos já no início de agosto, os ventos adversos mantiveram os navios na Normandia parados até o final de setembro. Havia provavelmente outras razões para a demora de GustavoGuilherme, incluindo relatórios de inteligência da Inglaterra, revelando que as forças de Haroldo estavam implantadas ao longo da costa. Ele teria preferido adiar a invasão até que ele pudesse fazer um pouso sem oposição.<ref name=Huscroft120/> Haroldo manteve suas forças em alerta durante todo o verão, mas com a chegada da temporada de colheita, dissolveu o exército no dia 8 de setembro.<ref name=Carpenter72>Carpenter ''Struggle for Mastery'' p. 72</ref>
 
=== Invasão de Tostig e Hardrada ===
[[Imagem:Battle Flat - geograph.org.uk - 285158.jpg|thumb|Local moderno onde ocorreu a [[Batalha de Stamford Bridge]]]]
 
O irmão de Haroldo, Tostig, e Haroldo Hardrada invadiram a [[Reino da Nortúmbria|Nortúmbria]] em setembro de 1066 e derrotaram as forças locais sob Morcar e Eduíno na [[Batalha de Fulford]], perto de [[Iorque]]. O rei Haroldo recebeu a notícia da invasão e marchou para o norte, derrotando os invasores e matando Tostig e Hardrada em 25 de setembro na [[Batalha de Stamford Bridge]].<ref name=Huscroft118>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 118–119</ref> A frota normanda finalmente partiu dois dias depois, desembarcando na Inglaterra na [[Pevensey|baía de Pevensey]] em 28 de setembro. GustavoGuilherme, em seguida, mudou-se para [[Hastings]], algumas milhas a leste, onde construiu um castelo como uma base de operações. De lá, ele devastou o interior e esperou pelo retorno de Haroldo do norte, recusando-se a se aventurar muito longe do mar, sua linha de comunicação com a Normandia.<ref name=Carpenter72/>
 
=== Batalha de Hastings ===
{{Artigo principal|Batalha de Hastings}}
Haroldo, depois de derrotar Tostig e Haroldo Hardrada da Noruega, deixou uma parte de seu exército no norte, incluindo Morcar e Eduíno, e marchou com o resto até o sul para lidar com a ameaça normanda.<ref name=Carpenter72/> Ele provavelmente ficou sabendo do desembarque de GustavoGuilherme enquanto viajava para o sul. O rei parou em Londres, e ficou lá por cerca de uma semana antes de marchar para Hastings, por isso é provável que passou cerca de uma semana em sua marcha ao sul, com uma média de cerca de 43 quilômetros por dia,<ref name=Marren93>Marren ''1066'' p. 93</ref> em uma distância de aproximadamente 320 quilômetros.<ref name=Huscroft124>Huscroft ''Norman Conquest'' p. 124</ref> Embora o rei inglês tentou surpreender os normandos, sentinelas de GustavoGuilherme relataram a chegada inglesa para o duque. Os eventos exatos que precedem a batalha são obscuros, com relatos contraditórios nas fontes, mas todos concordam que GustavoGuilherme liderou seu exército de seu castelo e avançou em direção ao inimigo.<ref name=Lawson180>Lawson ''Battle of Hastings'' pp. 180–182</ref> Haroldo tomou uma posição defensiva na parte superior do monte Senlac (atual [[Battle (East Sussex)|Battle, East Sussex]]), a cerca de 9,7 quilômetros do castelo de GustavoGuilherme em Hastings.<ref name=Marren99>Marren ''1066'' pp. 99–100</ref>
 
[[Imagem:Bayeux Tapestry Horses in Battle of Hastings.jpg|thumb|esquerda|upright=1.5|Cena da tapeçaria de Bayeux descrevendo a [[Batalha de Hastings]]]]
A batalha começou por volta das 9&nbsp;horas da manhã em 14 de outubro e durou o dia todo, mas enquanto um esboço geral dessa é conhecido, os acontecimentos exatos são obscurecidos por relatos contraditórios nas fontes.<ref name=Huscroft126>Huscroft ''Norman Conquest'' p. 126</ref> Ainda que os números de cada lado eram aproximadamente iguais, GustavoGuilherme tinha tanto cavalaria quanto infantaria, incluindo muitos arqueiros, enquanto Haroldo tinha apenas soldados a pé e poucos arqueiros, se tinha.<ref name=Carpenter73>Carpenter ''Struggle for Mastery'' p. 73</ref> Os soldados ingleses formaram uma [[parede de escudos]] ao longo do cume e no início foram tão eficazes que o exército de GustavoGuilherme acabou recuando com pesadas baixas. Algumas de suas tropas [[Bretões|bretãs]] entraram em pânico e fugiram, e algumas das tropas inglesas parecem ter perseguido os bretões que fugiam até que eles próprios foram atacados e destruídos pela cavalaria normanda.<ref name=Huscroft127>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 127–128</ref> Durante a fuga dos bretões surgiram rumores que varreram as forças normandas de que o duque havia sido morto, mas GustavoGuilherme mostrou-se ainda vivo aos seus homens, conseguindo restaurar a ordem entre eles.<ref>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 200-201</ref> Duas outras retiradas normandas foram fingidas, para mais uma vez atrair os ingleses em perseguição e expô-los aos repetidos ataques da cavalaria normanda. As fontes disponíveis são mais confusas sobre eventos no período da tarde, mas parece que o evento decisivo foi a morte de Haroldo, sobre a qual diferentes histórias são contadas. GustavoGuilherme de Jumièges alegou que Haroldo foi morto pelo duque. A tapeçaria de Bayeux tem sido invocada como referência por mostrar a morte de Haroldo por uma flecha no olho, mas a cena pode ser uma reformulação posterior da tapeçaria em conformidade com histórias do {{séc|XII}} em que Haroldo foi morto por um ferimento de flecha na cabeça.<ref name=Huscroft129>Huscroft ''Norman Conquest'' p. 129</ref>
 
O corpo de Haroldo foi identificado no dia seguinte à batalha, por meio de sua armadura ou pelas marcas em seu corpo. Os ingleses mortos, o que incluía alguns dos irmãos do rei e seus ''[[Huscarl|housecarls]]'', foram deixados no campo de batalha. Gytha, a mãe do falecido rei inglês, ofereceu ao duque vitorioso o peso do corpo de seu filho em ouro pela sua custódia, mas sua oferta foi recusada.{{nota de rodapé|[[Guilherme de Malmesbury]] afirma que Guilherme aceitou a oferta de Gytha, mas Guilherme de Poitiers afirma que o duque recusou a oferta.<ref name=Godwine>Williams "Godwine , earl of Wessex" ''Oxford Dictionary of National Biography''</ref> Biógrafos modernos de Haroldo concordam que ele a recusou.<ref name=Walker181>Walker ''Harold'' p. 181</ref><ref name=Rex254>Rex ''Harold II'' p. 254</ref>}} GustavoGuilherme ordenou que o corpo de Haroldo fosse lançado ao mar, mas se isso ocorreu é incerto. A [[Abadia de Waltham]], que foi fundada por Haroldo, mais tarde afirmou que seu corpo foi enterrado secretamente lá.<ref name=Huscroft131>Huscroft ''Norman Conquest'' p. 131</ref>
 
=== Marcha para Londres ===
GustavoGuilherme pode ter esperado que os ingleses se rendessem após sua vitória, mas não o fizeram. Em vez disso, alguns membros do clero e magnatas ingleses nomearam Edgar, o Atelingo como rei, embora o apoio que esse recebeu fosse tépido. Depois de esperar um pouco, GustavoGuilherme assegurou [[Dover]], partes de Kent, [[Cantuária]] e, ao mesmo tempo, enviou uma força para capturar [[Winchester]], onde estava o tesouro real.<ref name=Huscroft132/> Estas capturas garantiram áreas de retaguarda para GustavoGuilherme e também a sua linha de retirada à Normandia, caso fosse necessário.<ref name=DNB/> Em seguida, o duque marchou de [[Southwark]], através do [[Rio Tâmisa|Tâmisa]] para Londres, onde chegou no final de novembro. Logo depois, conduziu suas forças em torno do sul e oeste da capital inglesa, queimando ao longo do caminho. Ele finalmente atravessou o Tâmisa em [[Wallingford]] no início de dezembro. Lá o arcebispo Stigand se submeteu a GustavoGuilherme, e logo depois quando o duque passou para [[Berkhamsted]], Morcar, Eduíno, o arcebispo Aldredo e Edgar, o Atelingo também se renderam. O invasor normando, em seguida, enviou homens a Londres para construir um castelo; ele foi coroado na Abadia de Westminster no dia de Natal de 1066.<ref name=Huscroft132>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 131–133</ref>
 
== Consolidação ==
=== Primeiros atos ===
[[Imagem:King William I ('The Conqueror') from NPG.jpg|thumb|esquerda|Representação artística do século XVI de GustavoGuilherme]]
GustavoGuilherme permaneceu na Inglaterra após sua coroação e tentou reconciliar os magnatas nativos. Os condes restantes&nbsp;– Eduíno de Mércia, Morcar de Nortúmbria, e [[Valdevo da Nortúmbria]]&nbsp;– foram confirmados em suas terras e títulos.<ref name=Huscroft138/> Valdevo era casado com a sobrinha do duque normando, Judite, filha de Adelaide,<ref name=Douglas423>Douglas ''William the Conqueror'' p. 423</ref> e um casamento entre Eduíno e uma das filhas de GustavoGuilherme foi proposto. Edgar, o Atelingo também parece ter recebido terras. Ofícios eclesiásticos continuaram a ser mantidos pelos mesmos bispos como antes da invasão, incluindo o não-canônico Stigand.<ref name=Huscroft138/> Mas as famílias de Haroldo e seus irmãos perderam suas terras, assim como alguns outros que tinham lutado contra GustavoGuilherme em Hastings.<ref name=Carpenter75/> Até março, o duque estava seguro o suficiente para voltar à Normandia, mas levou consigo Stigand, Morcar, Eduíno, Edgar, e Valdevo. Ele deixou seu meio-irmão Odo, o bispo de Bayeux, no comando da Inglaterra, juntamente com outro defensor influente, [[Guilherme FitzOsbern|Gustavo FitzOsbern]], filho de seu antigo tutor.<ref name=Huscroft138/> Os dois homens também foram nomeados para condados&nbsp;– FitzOsbern para Hereford (ou Wessex) e Odo para Kent.<ref name=DNB/> Embora ele tenha colocado dois normandos como encarregados gerais, manteve muitos [[xerife]]s nativos da Inglaterra.<ref name=Carpenter75>Carpenter ''Struggle for Mastery'' pp. 75–76</ref> Uma vez na Normandia o novo rei foi para Ruão e à [[Abadia de Fécamp]],<ref name=Huscroft138>Huscroft ''Norman Conquest'' pp. 138–139</ref> e, em seguida, assistiu à consagração de novas igrejas em dois mosteiros normandos.<ref name=DNB/>
 
Enquanto GustavoGuilherme estava na Normandia, um ex-aliado, [[Eustácio II de Bolonha|Eustácio]], o [[Condado de Bolonha|conde de Bolonha]], invadiu a cidade de [[Dover]], mas foi repelido. A resistência inglesa também tinha começado, com [[Eadrico, o Selvagem]] atacando [[Hereford]] e revoltas em [[Exeter]], onde a mãe de Haroldo, Gytha, era um foco da resistência.<ref name=Ruling57/> FitzOsbern e Odo encontraram dificuldades para controlar a população nativa e empreenderam um programa de construção de castelos para manter seu domínio sobre o reino.<ref name=DNB/> GustavoGuilherme retornou à Inglaterra em dezembro de 1067 e marchou em Exeter, a qual sitiou. A cidade resistiu por 18 dias, e depois caiu perante seu novo rei; ele construiu um castelo para garantir seu controle. Entretanto, os filhos de Haroldo invadiram o sudoeste da Inglaterra a partir de uma base na Irlanda. Suas forças desembarcaram perto de [[Bristol]], mas foram derrotados por [[Eadnoth, o Condestável|Eadnoth]]. Na Páscoa, GustavoGuilherme estava em Winchester, onde logo foi acompanhado por sua esposa Matilde, que foi coroada em maio de 1068.<ref name=Ruling57>Huscroft ''Ruling England'' pp. 57–58</ref>
 
=== Resistência inglesa ===
{{Artigo principal|Massacre do Norte}}
[[Imagem:Baile Hill, York.JPG|miniaturadaimagem|upright=1.4|Os restos da [[Colina Baile]], o segundo castelo de mota e muralha construído por GustavoGuilherme em Iorque]]
 
Em 1068 Eduíno e Morcar se revoltaram, apoiados por [[Gospatrico da Nortúmbria|Gospatrico]]. O cronista [[Orderico Vital]] afirma que a razão de Eduíno se revoltar era que o casamento proposto entre ele e uma das filhas de GustavoGuilherme não aconteceu, mas outras razões provavelmente incluem o aumento do poder de GustavoGuilherme FitzOsbern em Herefordshire, o que afetou o poder dele dentro de seu próprio condado. O rei marchou nas terras de Eduíno e construiu um castelo em [[Castelo de Warwick|Warwick]]. Eduíno e Morcar se renderam, mas GustavoGuilherme continuou rumo a Iorque, construindo os castelos de [[Castelo de Iorque|Iorque]] e [[Castelo de Nottingham|Nottingham]] antes de retornar ao sul. Em sua jornada ao sul, o rei começou a construir castelos em [[Castelo de Lincoln|Lincoln]], [[Castelo de Huntingdon|Huntingdon]], e [[Castelo de Cambridge|Cambridge]]. GustavoGuilherme colocou partidários responsável por estas novas fortificações&nbsp;– entre eles [[Guilherme Peverel|Gustavo Peverel]] em Nottingham e [[Henrique de Beaumont]] em Warwick. Em seguida, o rei voltou à Normandia no final de 1068.<ref name=Ruling57/>
 
No início de 1069, Edgar, o Atelingo se rebelou e atacou Iorque. Embora GustavoGuilherme tenha voltado à cidade e construído um outro castelo, Edgar permaneceu livre e, no outono, juntou-se com o rei Sueno da Dinamarca.{{nota de rodapé|Cronistas medievais frequentemente referem aos acontecimentos do {{séc|XI}} somente pela época, tornando impossível datá-los de forma mais precisa.}} O rei dinamarquês tinha trazido uma grande frota para a Inglaterra e atacou não só Iorque, mas também Exeter e [[Shrewsbury]]. Iorque foi capturada pelas forças combinadas de Edgar e Sueno. O Atelingo foi proclamado rei pelos seus partidários, mas GustavoGuilherme reagiu rapidamente, ignorando uma revolta continental no [[Maine (província)|Maine]]. O rei normando simbolicamente usou sua coroa nas ruínas de Iorque no dia de Natal de 1069, e então passou a subornar os dinamarqueses. Ele marchou até o [[rio Tees]], devastando o campo pelo caminho. Edgar, após perder muito de seu apoio, fugiu para a Escócia,<ref name=Carpenter76/> onde o rei [[Malcolm III da Escócia|Malcolm III]] era casado com sua irmã Margarida.<ref name=Douglas225>Douglas ''William the Conqueror'' p. 225</ref> Valdevo, que se juntou à revolta, se rendeu, juntamente com Gospatrico, e ambos foram autorizados a manter suas terras. Mas GustavoGuilherme não tinha terminado; marchou ao longo dos [[Peninos|montes Peninos]] durante o inverno e derrotou os rebeldes restantes em Shrewsbury antes de construir castelos em [[Castelo de Chester|Chester]] e [[Castelo de Stafford|Stafford]]. Esta campanha, que incluiu a queima e destruição de uma parte do campo no qual as forças reais marcharam, é geralmente conhecida como o "[[Massacre do Norte|esbulhar do Norte]]"; acabou em abril de 1070, quando o Conquistador usou sua coroa cerimonialmente na Páscoa em Winchester.<ref name=Carpenter76>Carpenter ''Struggle for Mastery'' pp. 76–77</ref>
 
=== Assuntos da Igreja ===
[[Imagem:Battle Abbey - Klostergebäude.JPG|thumb|esquerda|[[Abadia de Battle]]]]
 
Enquanto em Winchester em 1070, GustavoGuilherme se reuniu com três [[Legado papal|legados papais]]&nbsp;– João Minuto, Pedro, e Ermenfrido de Sion&nbsp;– que foram enviados pelo papa Alexandre. Os legados cerimonialmente coroaram o rei durante o cortejo da Páscoa.<ref name=Bates106/> O historiador David Bates vê essa coroação como a cerimonia papal que deu o "selo de aprovação" à conquista de GustavoGuilherme.<ref name=DNB/> Os legados e o rei então começaram a realizar uma série de concílios eclesiásticos dedicados à reforma e reorganização da igreja na Inglaterra. Stigand e seu irmão, [[Etelmar de Elmham|Etelmar]], o [[Bispo de Elmham]], foram depostos de seus bispados. Alguns dos abades nativos também foram depostos, ambos no concílio realizado perto da Páscoa e em um próximo do dia de [[Pentecostes]]. Este último viu a nomeação de Lanfranco como o novo arcebispo de Cantuária, e [[Tomás de Bayeux]] como o novo arcebispo de Iorque, para substituir Aldredo, que morreu em setembro de 1069.<ref name=Bates106/> Odo, o meio-irmão do rei, talvez esperasse ser nomeado para Cantuária, mas GustavoGuilherme provavelmente não quis dar tanto poder a um membro da família.{{nota de rodapé|O historiador Frank Barlow aponta que Guilherme tinha sofrido pelas ambições de seu tio Maugério enquanto jovem e, portanto, não teria tolerado essa situação de novo.<ref name=Barlow59/>}} Outra razão para a nomeação pode ter sido a pressão do papado em nomear Lanfranco.<ref name=Barlow59>Barlow ''English Church 1066–1154'' p. 59</ref> O clero normando foi designado para substituir os bispos e abades depostos, e no final do processo, apenas dois bispos ingleses nativos permaneceram no cargo, juntamente com vários prelados continentais nomeados por Eduardo, o Confessor.<ref name=Bates106>Bates ''William the Conqueror'' pp. 106–107</ref> Em 1070, GustavoGuilherme também fundou a [[Abadia de Battle]], um novo mosteiro no local da Batalha de Hastings, em parte como uma penitência pelas mortes na batalha e, em parte, como um memorial aos mortos.<ref name=DNB/>
 
== Problemas na Inglaterra e no continente ==
=== Invasões dinamarquesas e rebelião no norte ===
Embora Sueno havia prometido deixar a Inglaterra, voltou na primavera de 1070, invadindo ao longo do ''Humber'' e Ânglia Oriental em direção à [[Ilha de Ely]], onde se juntou a [[Herevardo, o Vigilante]], um ''[[thegn]]'' (servo) local. As forças de Herevardo atacaram a [[Catedral de Peterborough|Abadia de Peterborough]], a qual capturaram e saquearam. GustavoGuilherme foi capaz de garantir a retirada de Sueno e sua frota em 1070,<ref name=Douglas221>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 221–222</ref> permitindo-lhe regressar ao continente para lidar com problemas no [[Maine (província)|Maine]], onde a cidade de [[Le Mans]] havia se revoltado no ano anterior. Outra preocupação era a morte do conde [[Balduíno VI da Flandres|Balduíno VI de Flandres]], em julho de 1070, que conduziu a uma crise de sucessão com sua viúva, [[Riquilda de Hainaut|Riquilda]], que governava por seus dois filhos novos, [[Arnulfo III da Flandres|Arnulfo]] e [[Balduíno II de Hainaut|Balduíno]]. No entanto, o seu governo foi contestado por [[Roberto I da Flandres|Roberto]], irmão de Balduíno. A viúva propôs casamento a GustavoGuilherme FitzOsbern, que estava na Normandia, e esse aceitou. Mas depois que foi morto em fevereiro de 1071 na [[Batalha de Cassel (1071)|Batalha de Cassel]], Roberto tornou-se conde. Ele se opunha ao poder do rei GustavoGuilherme no continente, assim, a Batalha de Cassel não só fez o rei perder um importante aliado, mas também perturbou o equilíbrio de poder no norte da [[Reino da França|França]].<ref name=Douglas223>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 223–225</ref>
 
Em 1071, GustavoGuilherme derrotou a última rebelião do norte. O conde Eduíno foi traído por seus próprios homens e morto, enquanto o rei construía uma ponte para subjugar a [[Ilha de Ely]], onde Herevardo, o Vigilante e Morcar estavam escondidos. Herevardo escapou, mas Morcar foi capturado, privado de seu condado, e preso. Em 1072 o rei invadiu a [[Reino da Escócia|Escócia]], derrotando Malcolm, que tinha invadido recentemente o norte da Inglaterra. GustavoGuilherme e Malcolm concordaram com a paz, ao assinar o [[Tratado de Abernethy]], e o rei escocês provavelmente entregou seu filho [[Duncan II da Escócia|Duncan]] como refém pela paz. É possível que uma outra disposição do Tratado foi a expulsão de Edgar, o Atelingo da corte escocesa.<ref name=Bates107>Bates ''William the Conqueror'' pp. 107–109</ref> GustavoGuilherme então voltou sua atenção para o continente, voltando à Normandia no início de 1073 para lidar com a invasão do Maine por [[Fulque IV de Anjou|Fulque le Rechin]], o conde de Anjou. Com uma campanha rápida, GustavoGuilherme apreendeu Le Mans das forças de Fulque, completando a investida em 30 de março de 1073. Isso fez com que o seu poder ficasse mais seguro no norte da França, mas o novo conde de Flandres aceitou Edgar, o Atelingo em sua corte. Roberto também casou sua meia-irmã [[Berta da Holanda|Berta]] com o rei da França, [[Filipe I de França|Filipe I, o Amoroso]], que se opunha ao poder normando.<ref name=Douglas228>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 228–229</ref>
 
GustavoGuilherme retornou à Inglaterra para liberar seu exército do serviço em 1073, todavia rapidamente voltou à Normandia, onde passou todo ano de 1074.<ref name=Bates111>Bates ''William the Conqueror'' p. 111</ref> Ele deixou a Inglaterra nas mãos de seus partidários, incluindo [[Ricardo fitzGilbert]] e GustavoGuilherme de Warenne,<ref name=Bates112/> bem como Lanfranco.<ref name=Douglas231/> O rei deixar a Inglaterra por um ano inteiro era um sinal de que sentia que seu controle do reino era seguro.<ref name=Bates112>Bates ''William the Conqueror'' p. 112</ref> Enquanto o Conquistador estava na Normandia, Edgar, o Atelingo retornou à Escócia por Flandres. O rei francês, buscando um foco para aqueles que se opunham ao poder de GustavoGuilherme, em seguida, propôs que Edgar recebesse o castelo de [[Montreuil (Passo de Calais)|Montreuil-sur-Mer]] no Canal Inglês, o que ter-lhe-ia dado uma vantagem estratégica contra o duque normando.<ref name=Douglas230/> Edgar foi forçado a submeter-se a GustavoGuilherme pouco tempo depois e, no entanto, regressou à corte do duque.<ref name=Bates111/>{{nota de rodapé|Edgar permaneceu na corte de Guilherme até 1086, quando foi para o [[Conquista normanda do sul da Itália|principado normando no sul da Itália]].<ref name=Bates111/>}} Filipe, embora frustrado nesta tentativa, voltou suas atenções à Bretanha, conduzindo uma revolta em 1075.<ref name=Douglas230>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 230–231</ref>
 
=== Revolta dos Condes ===
Linha 163:
[[Imagem:Castle Mound - Norwich - geograph.org.uk - 780624.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|O castelo de Norwich. A [[torre de menagem]] data de depois da Revolta dos Condes, mas o monte do castelo é anterior<ref name=Castles161>Pettifer ''English Castles'' pp. 161–162</ref>]]
 
Em 1075, durante a ausência de GustavoGuilherme, [[Raul de Gael]], [[Lista de condes de Norfolk|Conde de Norfolk]], e [[Rogério de Breteuil]], [[Conde de Hereford]], conspiraram para derrubar o rei na "Revolta dos Condes".<ref name=Douglas231/> Raul era em parte bretão, e passou a maior parte de sua vida antes de 1066 em sua terra natal, onde ainda tinha propriedades.<ref name=Ralph>Williams "Ralph , earl" ''Oxford Dictionary of National Biography''</ref> Rogério era um normando, filho de GustavoGuilherme FitzOsbern, mas tinha herdado menos autoridade do que seu pai possuía.<ref name=Roger>Lewis "Breteuil, Roger de , earl of Hereford" ''Oxford Dictionary of National Biography''</ref> A autoridade do conde de Norfolk também parece ter sido menor do que seus antecessores no condado, e essa foi provavelmente a causa da revolta.<ref name=Ralph/>
 
A razão exata da rebelião não está clara, mas começou no casamento de Raul com uma parente de Rogério, realizado em [[Exning]], Suffolk. Outro conde, Valdevo, embora um dos favoritos de GustavoGuilherme, também esteve envolvido, e havia alguns senhores bretões que estavam prontos para se rebelar em apoio de Raul e Rogério. O conde de Norfolk também solicitou ajuda dinamarquesa. GustavoGuilherme permaneceu na Normandia, enquanto seus homens na Inglaterra subjugaram a revolta. Rogério não foi capaz de deixar sua fortaleza em Herefordshire por causa dos esforços de [[Vulfstano (morto em 1095)|Vulfstano]], [[bispo de Worcester]], e {{ilc|Etelvigo||Æthelwig}}, o [[abade de Evesham]]. Raul foi cercado no [[Castelo de Norwich]] pelos esforços combinados de Odo de Bayeux, [[Godofredo de Montbray]], Ricardo FitzGilbert, e GustavoGuilherme de Warenne. Raul finalmente deixou Norwich no controle de sua esposa e abandou a Inglaterra, finalmente terminando na Bretanha. Norwich foi sitiada e se rendeu, com a guarnição autorizada a ir para a Bretanha. Enquanto isso, o irmão do rei dinamarquês, [[Canuto IV da Dinamarca|Canuto, o Santo]], finalmente chegou à Inglaterra com uma frota de 200 navios, mas era tarde demais pois Norwich já havia se rendido. Os dinamarqueses, em seguida, invadiram ao longo da costa, antes de voltar para casa.<ref name=Douglas231/> GustavoGuilherme voltou à Inglaterra mais tarde em 1075 para lidar com a ameaça dinamarquesa, deixando sua esposa Matilde no comando da Normandia. Ele comemorou o Natal em Winchester e lidou com o rescaldo da rebelião.<ref name=Bates181>Bates ''William the Conqueror'' pp. 181–182</ref> Rogério e Valdevo foram mantidos em prisão, onde o conde de Northampton foi executado em maio de 1076. Antes disso, GustavoGuilherme tinha voltado para o continente, onde o conde de Norfolk continuou a rebelião da Bretanha.<ref name=Douglas231>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 231–233</ref>
 
=== Problemas em casa e no exterior ===
Conde Raul tinha assegurado o controle do castelo em [[Dol-de-Bretagne|Dol]], e em setembro de 1076 GustavoGuilherme avançou para Bretanha e sitiou o castelo. O rei Filipe da França mais tarde aliviou o cerco e derrotou GustavoGuilherme na cidade, forçando-o a recuar à Normandia. Embora esta tenha sido sua primeira derrota em batalha, não alterou o desenrolar dos eventos. Um ataque angevino no Maine foi derrotado no final de 1076 ou 1077, com o conde Fulque le Rechin ferido na investida malsucedida. Mais grave foi o [[condado de Amiens|conde de Amiens]], [[Simão de Crépy]], ter se tornado um monge, porque entregou seu condado de [[Vexin]] ao rei Felipe. Vexin era um [[estado tampão]] entre a Normandia e as terras do rei francês, e o conde era um partidário do duque normando.{{nota de rodapé|Embora Simão fosse um defensor de Guilherme, Vexin ficou definitivamente sob a soberania do rei Filipe, razão pela qual o rei francês assegurou o controle do condado quando Simão se tornou um monge.<ref name=Bates183/>}} GustavoGuilherme foi capaz de fazer a paz com Felipe em 1077 e garantiu uma trégua com o conde Fulque no final do mesmo ano ou no início de 1078.<ref name=Bates183>Bates ''William the Conqueror'' pp. 183–184</ref>
 
[[Imagem:Williams dominions 1087.jpg|miniaturadaimagem|Mapa mostrando as terras de GustavoGuilherme em 1087 (as áreas pintadas em rosa eram controladas pelo rei normando)]]
No final de 1077 ou início de 1078 um problema começou entre GustavoGuilherme e seu filho mais velho, Roberto. Apesar de Orderico Vital descrever que a briga começou com seus dois irmãos mais novos, [[Guilherme II de Inglaterra|GustavoGuilherme, o Ruivo]] e [[Henrique I de Inglaterra|Henrique Beauclerc]], incluindo uma história de que a briga começou quando GustavoGuilherme e Henrique jogaram água em Roberto, é muito mais provável que o filho mais velho do rei estava se sentindo impotente. O cronista relata que ele chegou a exigir anteriormente o controle do Maine e da Normandia, o que lhe foi negado. Nessa época, o problema fez com que Roberto deixasse a Normandia acompanhado por um grupo de jovens, muitos deles filhos de partidários de seu pai. Entre eles estava [[Roberto de Bellême]], [[Guilherme FitzOsbern|GustavoGuilherme de Breteuil]], e Rogério, filho de Ricardo fitzGilbert. Esse grupo de jovens foi para o castelo em [[Rémalard]], onde passaram a atacar a Normandia. Os invasores foram apoiados por muitos dos inimigos continentais de GustavoGuilherme.<ref name=Bates185>Bates ''William the Conqueror'' pp. 185–186</ref> O duque normando atacou imediatamente os rebeldes e os expulsou de Rémalard, mas o rei Filipe deu-lhes o castelo em Gerberoi, onde novos apoiadores juntaram-se a eles. GustavoGuilherme então sitiou Gerberoi em janeiro de 1079. Depois de três semanas, as forças sitiadas [[Surtida|atacaram]] do castelo e conseguiram pegar os sitiantes de surpresa. GustavoGuilherme foi derrubado por Roberto e só foi salvo da morte por um inglês. Seus exércitos foram forçados a levantar o cerco, e o rei voltou para Ruão. Em 12 de abril de 1080, GustavoGuilherme e Roberto tinham chegado a um alojamento, com o rei mais uma vez afirmando que seu filho mais velho iria receber a Normandia quando ele morresse.<ref name=Douglas238>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 238–239</ref>
 
A informação da derrota de GustavoGuilherme em Gerberoi suscitou dificuldades no norte da Inglaterra. Em agosto e setembro de 1079, o rei Malcolm III dos escoceses invadiu o sul do [[rio Tweed]], devastando as terras entre o rio Tees e o Tweed em uma operação que durou quase um mês. A falta de resposta normanda parece ter causado uma crescente inquietude dos nortúmbrios, e na primavera de 1080 eles se rebelaram contra o governo de [[Guilherme Walcher|Gustavo Walcher]], o [[bispo de Durham]] e conde de Nortúmbria. O bispo foi morto em 14 de maio de 1080, e o rei normando despachou seu meio-irmão Odo para lidar com a rebelião.<ref name=Douglas240/> GustavoGuilherme partiu da Normandia, em julho de 1080,<ref name=Bates188>Bates ''William the Conqueror'' p. 188</ref> e no outono seu filho Roberto foi enviado em uma campanha contra os escoceses. Roberto invadiu em Lothian e forçou Malcolm a concordar com os termos, construindo uma fortificação em [[Newcastle upon Tyne]], quando regressava a Inglaterra.<ref name=Douglas240>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 240–241</ref>
 
O rei estava em Gloucester para o Natal de 1080 e em Winchester para o Pentecostes em 1081, cerimonialmente vestindo sua coroa em ambas as ocasiões. Uma embaixada papal chegou na Inglaterra durante este período, pedindo que jurasse a lealdade da Inglaterra ao papado, pedido esse que o monarca rejeitou.<ref name=Bates188/> GustavoGuilherme também visitou o País de Gales durante 1081, embora as fontes inglesas e gaulesas divirjam sobre a finalidade exata da visita. A ''Crônica Anglo-Saxônica'' afirma que foi uma campanha militar, mas fontes galesas a registram como uma peregrinação a [[St Davids]] em honra de [[São David|São Davi]]. O biógrafo David Bates argumenta que a explicação anterior é a mais provável, pois o equilíbrio de poder havia recentemente mudado no [[País de Gales]] e o rei inglês teria desejado tirar vantagem das circunstâncias para estender o poder normando. Até o final de 1081, estava de volta ao continente, lidando com distúrbios no Maine. Embora tenha liderado uma expedição no condado, o resultado foi, em vez disso, uma solução diplomática negociada por um legado papal.<ref name=Bates189>Bates ''William the Conqueror'' p. 189</ref>
 
=== Últimos anos ===
Fontes para ações de GustavoGuilherme entre 1082 e 1084 são escassas. De acordo com o historiador David Bates, isso significa que provavelmente pouca coisa aconteceu, e devido ao fato de o rei estar no continente, não havia nada para a ''Crônica Anglo-Saxônica'' registrar.<ref name=Bates193>Bates ''William the Conqueror'' p. 193</ref> Em 1082, ele ordenou a prisão de seu meio-irmão Odo de Bayeux. As razões exatas não são claras, como nenhum autor contemporâneo registrou o que causou a briga entre os meio-irmãos. Orderico Vital mais tarde registrou que Odo tinha aspirações de se tornar papa. O cronista também relatou que Odo havia tentado persuadir alguns dos vassalos de GustavoGuilherme a se juntar a ele em uma invasão do sul da Itália. Isto teria sido considerado a adulteração da autoridade do rei sobre seus vassalos, o que GustavoGuilherme não teria tolerado. Embora Odo tenha permanecido no confinamento o resto do reinado de seu irmão, suas terras não foram confiscadas. Mais dificuldades o atingiram em 1083, quando seu filho mais velho Roberto se rebelou mais uma vez com o apoio do rei francês. Um novo golpe foi a morte de sua esposa Matilde, em 2 de novembro daquele ano. GustavoGuilherme foi sempre descrito próximo dela, e sua morte teria aumentado os seus problemas.<ref name=Douglas243>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 243–244</ref>
 
Maine continuou a ser uma região problemática, com uma rebelião de [[Huberto de Beaumont-au-Maine]], provavelmente em 1084. Ele foi sitiado em seu castelo em [[Sainte-Suzanne (Mayenne)|Sainte-Suzanne]] pelas forças de GustavoGuilherme por pelo menos dois anos, mas finalmente fez as pazes com o rei e foi restaurado favoravelmente. Seus movimentos durante 1084 e 1085 não são claros&nbsp;– estava na Normandia na Páscoa de 1084, mas pode ter estado na Inglaterra, para recolher o ''[[danegeld]]'' ("tributo dinamarquês") avaliado nesse ano à defesa da Inglaterra contra uma invasão do rei [[Canuto IV da Dinamarca|Canuto IV, o Santo]]. Embora forças inglesas e normandas tenham permanecido em alerta durante todo o ano de 1085 e em 1086, a ameaça de invasão terminou com a morte do rei dos dinamarqueses em julho de 1086.<ref name=Bates196>Bates ''William the Conqueror'' pp. 196–198</ref>
 
== Caraterísticas do reinado ==
=== Mudanças na Inglaterra ===
<!--{{Artigo principal|Castelos na Grã-Bretanha e Irlanda{{!}}Castelos ingleses|Floresta real#Inglaterra{{!}}Florestas reais na Inglaterra}} --->
[[Imagem:Tower of London White Tower.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|A [[Torre Branca (Torre de Londres)|Torre Branca]] em Londres foi erguida por GustavoGuilherme<ref name=Castles151>Pettifer ''English Castles'' p. 151</ref>]]
Como parte de seus esforços para assegurar a Inglaterra, GustavoGuilherme ordenou a construção de muitos [[castelo]]s, [[Torre de menagem|torres]] e [[Castelo de mota|motas]]&nbsp;– entre eles a fortaleza central da [[Torre de Londres]], a [[Torre Branca (Torre de Londres)|Torre Branca]]. Essas fortificações permitiram que os normandos recuassem em segurança quando ameaçados por uma rebelião e permitia que guarnições fossem protegidas enquanto eles ocupavam o campo. Os primeiros castelos eram simples construções de terra e madeira, posteriormente substituídos por estruturas de pedra.<ref name=Bates147>Bates ''William the Conqueror'' pp. 147–148</ref>
 
No início, a maioria dos normandos recém-estabelecidos mantinham [[cavaleiro]]s domésticos e não recompensaram os seus partidários com [[feudo]]s próprios, mas, gradualmente, terras foram concedidas a esses cavaleiros domésticos, um processo conhecido como [[subenfeudação]]. GustavoGuilherme também exigiu que os seus recém-criados magnatas contribuíssem com cotas fixas de cavaleiros não só para as campanhas militares, mas também para guarnições dos castelos. Este método de organizar as forças militares era um desvio da prática pré-conquista inglesa de basear o serviço militar em unidades territoriais como a ''[[Hide (unidade)|hide]]''.<ref name=Bates154>Bates ''William the Conqueror'' pp. 154–155</ref>
 
Aquando da morte do rei, depois de resistir a uma série de rebeliões, a maioria da aristocracia nativa anglo-saxônica tinha sido substituída por normandos e outros magnatas continentais. Nem todos os normandos que acompanharam o duque na conquista adquiriram grandes quantidades de terra na Inglaterra. Alguns ficaram relutantes em aceitar as terras em um reino que não estava completamente pacificado. Embora alguns dos novos normandos ricos da Inglaterra fossem próximos da família do rei ou da nobreza superior normanda, outros eram de origens relativamente humildes.<ref name=Bates148>Bates ''William the Conqueror'' pp. 148–149</ref> O monarca concedeu terras para seus seguidores continentais provenientes da exploração de um ou mais ingleses específicos; em certos casos, concedeu um agrupamento compacto de terras anteriormente detidas por muitos nativos diferentes para um único adepto normando, para permitir a consolidação dessas terras em torno de um castelo estrategicamente posicionado.<ref name=Bates152>Bates ''William the Conqueror'' pp. 152–153</ref>
 
O cronista medieval [[Guilherme de Malmesbury|Gustavo de Malmesbury]] disse que o rei também apreendeu e despovoou muitos quilômetros de terras (36 [[Paróquia (divisão administrativa)|paróquias]]), transformando-as na região real de [[New Forest]] para que pudesse praticar sua diversão favorita, a caça. Os historiadores modernos têm chegado à conclusão de que o suposto despovoamento de New Forest foi exagerado. A maior parte dessa região é composta por terras agrícolas pobres, e estudos arqueológicos e geográficos mostraram que a região era provavelmente pouco povoada quando foi transformada em uma floresta real.<ref name=Young7>Young ''Royal Forests'' pp. 7–8</ref> GustavoGuilherme era conhecido por seu amor pela caça, e foi ele que introduziu a [[floresta real|legislação florestal]] em certas áreas do país, regulando quem poderia caçar e o que poderia ser caçado.<ref name=Bates118>Bates ''William the Conqueror'' pp. 118–119</ref>
 
=== Administração ===
{{Artigo principal|Conquista normanda da Inglaterra#Consequências{{!}}Consequências da conquista normanda da Inglaterra}}
[[Imagem:William the Conqueror 1066 1087.jpg|miniaturadaimagem|Moeda inglesa de GustavoGuilherme, o Conquistador]]
Depois da conquista, GustavoGuilherme não tentou integrar seus domínios separados em um único reino unificado com um conjunto único de leis. O [[sinete]] que usou após 1066, do qual seis impressões ainda sobrevivem, foi feito depois que invadiu a Inglaterra e destacava seu papel como rei, mencionando separadamente o seu papel de duque.{{nota de rodapé|O selo mostra um cavaleiro montado e é o primeiro exemplo existente de um [[Sinete|selo equestre]].<ref name=Bates138/>}} Quando na Normandia, reconheceu que devia [[vassalagem]] ao rei francês, mas na Inglaterra nenhum tipo de confirmação foi feita&nbsp;– mais uma prova de que as várias partes de suas terras eram consideradas independentes. As estruturas administrativas da [[Normandia]], [[Inglaterra]] e [[Maine (província)|Maine]] continuaram a existir de forma separada, com cada um mantendo suas próprias formas de governo. Por exemplo, a Inglaterra continuou a usar [[Decreto-lei|decretos]], que não eram conhecidos no continente. Além disso, as cartas e documentos produzidos para o governo na Normandia diferiam em fórmulas daquelas produzidas na Inglaterra.<ref name=Bates138>Bates ''William the Conqueror'' pp. 138–141</ref>
 
GustavoGuilherme assumiu um governo inglês que era mais complexo do que o sistema normando. O país era dividido em ''[[shire]]s'' ou [[Condados da Inglaterra|condados]], os quais eram por sua vez divididos em ''[[hundred]]'' (centenas), nativamente também conhecidas como ''wapentakes''. Cada condado era administrado por um oficial do rei, chamado de [[xerife]], que tinha aproximadamente o mesmo estatuto que um [[visconde]] normando. O xerife era responsável pela justiça real e o recebimento das receitas.<ref name=Bates23/> Para supervisionar o seu domínio expandido, GustavoGuilherme foi forçado a viajar ainda mais do que viajava como duque. Transitou entre o continente e a Inglaterra ao menos 19 vezes entre 1067 e sua morte. Passou a maior parte de seu tempo na Inglaterra entre a batalha de Hastings e 1072, dedicando-se mais a Normandia posteriormente.<ref name=Bates133134>Bates ''William the Conqueror'' pp. 133–134</ref>{{nota de rodapé|Entre 1066 e 1072, o duque passou apenas 15 meses na Normandia e o resto de seu tempo na Inglaterra. Depois de voltar à Normandia em 1072, Guilherme passou cerca de 130 meses em sua terra natal, contra cerca de 40 meses na Inglaterra.<ref name=Bates133134/>}} O governo ainda estava centrado em torno da [[Royal Household|criadagem]] do rei; quando estava em uma determinada parte de seus reinos, as decisões tomadas para outras partes seriam transmitidas através de um sistema de comunicação que utilizava cartas e outros documentos. Também nomeou representantes que poderiam tomar decisões enquanto ele estava ausente, especialmente se sua ausência fosse prolongada. Normalmente, este era um membro próximo de sua família, frequentemente seu meio-irmão Odo ou sua esposa Matilde. Às vezes, os representantes eram designados para lidar com questões específicas.<ref name=Bates136>Bates ''William the Conqueror'' pp. 136–137</ref>
 
O monarca continuou a coleta da ''danegeld'', um imposto sobre terra. Esta era uma vantagem para GustavoGuilherme, já que era o único imposto universalmente recolhido pelos governantes da Europa Ocidental durante esse período. Era um imposto anual com base no valor da propriedade da terra, e que poderia ser recolhido em taxas diferentes. Na maioria dos anos via-se uma taxa de dois [[Xelim|xelins]] por ''hide'', mas em crises, poderia ser aumentada em até seis xelins por ''hide''.<ref name=Bates151>Bates ''William the Conqueror'' pp. 151–152</ref> A cunhagem entre as várias partes de seus domínios continuou a ser feita em diferentes ciclos e estilos. Moedas inglesas eram em geral de alto teor de prata, com elevados padrões artísticos, e eram obrigatoriamente recunhadas de três em três anos. Moedas normandas tinham um teor de prata muito mais baixo, eram muitas vezes de má qualidade artística, e raramente eram recunhadas. Além disso, na Inglaterra nenhuma outra cunhagem era permitida, enquanto no continente outra cunhagem era considerada de [[curso forçado]]. Também não há evidências de moedas de [[Pêni|dinheiro inglês]] circulando no ducado francês, o que mostra pouca tentativa de integrar os sistemas monetários da Inglaterra e Normandia.<ref name=Bates138/>
 
Além da tributação, os latifúndios de GustavoGuilherme por toda a Inglaterra reforçaram seu domínio. Como herdeiro do rei Eduardo, ele controlava todas as antigas terras reais. Também manteve o controle de grande parte das terras de Haroldo e sua família, o que fez dele o rei com a maior propriedade de terras seculares naquele país por ampla margem.{{nota de rodapé|No ''[[Domesday Book]]'', as terras do rei valiam quatro vezes mais do que as terras de seu meio-irmão Odo, o segundo maior proprietário de terras, e sete vezes mais do que as de Rogério de Montgomery, o terceiro maior proprietário de terras.<ref name=Bates150>Bates ''William the Conqueror'' p. 150</ref>}}
 
=== ''Domesday Book'' ===
{{Artigo principal|Domesday Book}}
[[Imagem:Domesday Book - Warwickshire.png|miniaturadaimagem|Uma página do ''Domesday Book'' para Warwickshire]]
No Natal de 1085, GustavoGuilherme ordenou a compilação de um levantamento das propriedades rurais detidas por si mesmo e por seus vassalos em todo o reino, organizado por condados. Isso resultou em um trabalho hoje conhecido como ''Domesday Book''. A listagem para cada condado mostra as posses de cada proprietário de terras, agrupados por donos. As listagens descrevem a posse, quem a possuía antes da conquista, o seu valor, qual era a taxa de assentamento, e, geralmente, o número de camponeses, arados, e quaisquer outros recursos que tinham exploração. Cidades eram listadas separadamente. Todos os condados ingleses ao sul do rio Tees e do [[rio Ribble]] estão incluídos, e toda a obra parece ter sido concluída principalmente até 1º de agosto de 1086, quando a ''Crônica Anglo-Saxônica'' registra que o governante recebeu os resultados e que todos os principais magnatas se uniram e juraram o [[Juramento de Salisbury]], uma renovação dos seus juramentos de fidelidade.<ref name=Bates198>Bates ''William the Conqueror'' pp. 198–202</ref> A motivação exata do rei em ordenar a pesquisa é obscura, mas provavelmente tinha vários propósitos, como fazer um registro de obrigações feudais e justificar o aumento dos impostos.<ref name=DNB/>
 
== Morte e consequências ==
GustavoGuilherme deixou a Inglaterra no final de 1086. Após chegar ao continente, casou sua filha [[Constança da Normandia|Constança]] com [[Alano IV, duque da Bretanha|Alano Luva de Ferro]], o [[Ducado da Bretanha|duque de Bretanha]], no cumprimento de sua política em buscar aliados contra os reis franceses. Seu filho Roberto, ainda aliado com o rei francês Filipe I, ainda aparece criando problemas suficientes para que o duque liderasse uma expedição contra o Vexin francês em julho de 1087. Enquanto apreendia Mantes, o rei ou adoeceu ou foi ferido por uma alça de sua [[sela]].<ref name=Bates202/> Ele foi levado para o [[priorado]] de Saint Gervase em Ruão, onde morreu em 9 de setembro de 1087.<ref name=DNB/> O conhecimento dos eventos que precederam a sua morte são confusos visto que existem dois contos diferentes. Orderico Vital preserva um relato longo, com discursos feitos por muitos dos subordinados, mas este é mais provavelmente uma descrição de como um rei deveria morrer do que o que realmente aconteceu. A outra, o ''De Obitu Willelmi'', ou ''Sobre a Morte de GustavoGuilherme'', é uma cópia de dois relatos do {{séc|IX}} com nomes alterados.<ref name=Bates202>Bates ''William the Conqueror'' pp. 202–205</ref>
 
[[Imagem:Church of Saint-Étienne interior (2).jpg|miniaturadaimagem|upright=1.4|esquerda|Sepultura de GustavoGuilherme na [[Abadia dos Homens]], Caen]]
GustavoGuilherme deixou a Normandia para Roberto, e a custódia da Inglaterra foi dada ao seu segundo filho sobrevivente, também chamado de [[Guilherme II de Inglaterra|GustavoGuilherme]], na suposição de que ele tornar-se-ia rei. O filho mais novo, Henrique, recebeu dinheiro. Depois de confiar a coroa inglesa ao seu segundo filho, o Conquistador enviou o jovem GustavoGuilherme de volta à ilha britânica em 7 ou 8 de setembro, levando consigo uma carta para Lanfranco, que ordenava o arcebispo a ajudar o novo rei. Outras heranças incluíam presentes à Igreja e dinheiro a ser distribuído aos pobres. GustavoGuilherme também ordenou que todos os seus prisioneiros fossem libertados, incluindo seu meio-irmão Odo.<ref name=Bates202/>
 
A desordem sucedeu seu falecimento; todo mundo que estava em seu leito de morte deixou o corpo em Ruão e correu para cuidar de seus próprios assuntos. Posteriormente, o clero da cidade se organizou para enviar o corpo a Caen, onde GustavoGuilherme desejara ser sepultado em sua fundação da [[Abadia dos Homens]]. O funeral, do qual participaram os bispos e abades da Normandia, assim como seu filho, Henrique, foi perturbado pela afirmação de um cidadão de Caen, que alegou que sua família fora ilegalmente despojada do terreno sobre o qual a igreja foi construída. Após consultas apressadas, a alegação foi comprovada e o homem compensado. Uma outra indignidade ocorreu quando o cadáver foi posto na tumba. Era muito grande para o espaço, e quando os atendentes forçaram o corpo para dentro do túmulo ele se abriu, espalhando um odor repugnante por toda a igreja.<ref name=Bates207>Bates ''William the Conqueror'' pp. 207–208</ref>
 
Seu túmulo está marcada por uma placa de mármore com uma inscrição em [[latim]] que data do início do {{séc|XIX}}. O túmulo foi perturbado várias vezes desde 1087, pela primeira vez em 1522, quando foi aberto por ordem do papado. O corpo intacto foi restaurado para o túmulo naquela época, mas em 1562, durante as [[guerras religiosas na França]], foi reaberto e os ossos dispersos e perdidos, com a exceção de um osso da coxa. Esta relíquia solitária foi enterrada novamente em 1642 com um novo marcador, que foi substituído 100 anos mais tarde com um monumento mais elaborado. Este túmulo foi novamente destruído durante a [[Revolução Francesa]], mas acabou sendo substituído pelo marcador atual.<ref name=Douglas362>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 362–363</ref>{{nota de rodapé|Assumisse que o osso da coxa atualmente no túmulo seja aquele que foi enterrado novamente em 1642, mas o historiador vitoriano [[Edward Augustus Freeman]] opinou que o osso fora perdido em 1793.<ref name=Douglas363>Douglas ''William the Conqueror'' p. 363 nota de rodapé 4</ref>}}
 
== Legado ==
[[Imagem:Statue d'Dgilliaume lé Contchéthant à Falaise 02.jpg|miniaturadaimagem|Estátua de GustavoGuilherme, o Conquistador em Falaise, França]]
Uma consequência imediata após a morte do rei foi a guerra entre seus filhos Roberto e GustavoGuilherme, o Ruivo sobre o controle da Inglaterra e Normandia.<ref name=DNB/> Mesmo após a morte de GustavoGuilherme, o Ruivo em 1100 e a sucessão de seu irmão mais novo Henrique I como rei, a Normandia e Inglaterra permaneceram controvertidas entre os irmãos, até a captura de Roberto por Henrique na [[batalha de Tinchebray]] em 1106. As dificuldades na sucessão levaram a uma perda de autoridade no ducado francês, já que a aristocracia recuperou muito do poder que fora perdido para o Conquistador. Seus filhos também perderam muito de seu controle sobre o Maine, que se revoltou em 1089 e conseguiu manter-se na maior parte livre de influência normanda posteriormente.<ref name=Bates208>Bates ''William the Conqueror'' pp. 208–209</ref>
 
O impacto da conquista de GustavoGuilherme na Inglaterra foi profundo; mudanças na igreja, aristocracia, cultura e na língua do país têm persistido até os tempos modernos. A conquista trouxe ao reino um contato mais próximo com a França e forjou laços entre ambas as nações, que duraram toda a Idade Média. Outra consequência da invasão de GustavoGuilherme foi o rompimento dos laços anteriormente estreitos entre a Inglaterra e Escandinávia. Seu governo misturou elementos dos sistemas inglês e normando em um novo, que posteriormente lançou as bases do reino medieval inglês.<ref name=Bates210>Bates ''William the Conqueror'' pp. 210–211</ref> Quão bruscas e quão grande alcance as mudanças tiveram ainda é uma questão de debate entre os historiadores, com alguns, como [[Richard Southern]] alegando que a conquista foi a mudança mais radical na história da Europa entre a queda de Roma e o {{séc|XX}}. Outros, como H. G. Richardson e G. O. Sayles, vêem as mudanças trazidas pela conquista como muito menos radicais do que Southern sugere.<ref name=Rulers31/> A historiadora Eleanor Searle descreveu a invasão de GustavoGuilherme como "um plano que nenhum governante, exceto um escandinavo, teria considerado".<ref name=Searle232>Searle ''Predatory Kinship'' p. 232</ref>
 
Seu reinado causou polêmica histórica desde antes de sua morte. GustavoGuilherme de Poitiers escreveu elogiosamente sobre o reinado do Conquistador e seus benefícios, mas o obituário de GustavoGuilherme na ''Crônica Anglo-Saxônica'' o condena usando termos duros.<ref name=Rulers31>Clanchy ''England and its Rulers'' pp. 31–32</ref> Nos anos desde a conquista, políticos e outros líderes têm usado o monarca e os acontecimentos de seu reinado para ilustrar eventos políticos ao longo da história inglesa. Durante o reinado da rainha [[Isabel I de Inglaterra]], o arcebispo [[Matthew Parker]] viu a conquista como tendo corrompido a pura Igreja Inglesa, que ele tentou restaurar. Durante os séculos XVII e XVIII alguns historiadores e juristas viram seu reinado impondo um "[[jugo normando]]" sobre os nativos anglo-saxões, um argumento que continuou durante o {{séc|XIX}} com elaborações adicionais ao longo de linhas nacionalistas. Estas várias controvérsias levaram o Conquistador a ser visto por alguns historiadores tanto como um dos criadores da grandeza da Inglaterra quanto por infligir uma das maiores derrotas na história do país. Outros têm visto GustavoGuilherme como um inimigo da constituição inglesa, ou, alternativamente, como seu criador.<ref name=Douglas4>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 4–5</ref>
 
== Família e descendência ==
{{Artigo principal|Descendentes de Guilherme I de Inglaterra}}
GustavoGuilherme e sua esposa Matilde de Flandres tiveram pelo menos nove filhos. A ordem de nascimento dos meninos é clara, mas nenhuma fonte dá a ordem relativa ao nascimento das filhas.<ref name=DNB/>
 
# [[Roberto II da Normandia|Roberto II]], nascido entre 1051 e 1054, e morto em 10 de fevereiro de 1134.<ref name=Douglas393>Douglas ''William the Conqueror'' pp. 393–395</ref> Duque da Normandia, casou-se com [[Síbila de Conversano]], filha de [[Godofredo de Conversano]].<ref name=RobertDNB>Thompson "Robert, duke of Normandy" ''Oxford Dictionary of National Biography''</ref>
# [[Ricardo da Normandia|Ricardo]], nascido depois de 1056 e morto por volta de 1075.<ref name=Douglas393/>
# [[Guilherme II de Inglaterra|GustavoGuilherme II]] nasceu entre 1056 e 1060, e morreu 2 de agosto de 1100.<ref name=Douglas393/> Rei da Inglaterra, morto em New Forest.<ref name=RufusDNB>Barlow "William II" ''Oxford Dictionary of National Biography''</ref>
# [[Henrique I de Inglaterra|Henrique I]] nasceu no final de 1068, morreu em 1º de dezembro de 1135.<ref name=Douglas393/> Rei da Inglaterra, casou com [[Edite da Escócia]], filha de [[Malcolm III da Escócia]]. Sua segunda esposa foi [[Adeliza de Lovaina]].<ref name=Handbook35/>
# [[Adeliza da Normandia|Alice]] (ou Adeliza,<ref name=Adelida/> Adelaide<ref name=Handbook35>Fryde, et al., ''Handbook of British Chronology'', p. 35</ref>) morreu antes de 1113, alegadamente prometida a [[Haroldo II de Inglaterra|Haroldo II Godwinson]], provavelmente tornou-se uma freira de Saint Léger em Préaux.<ref name=Adelida>Van Houts "Adelida" ''Oxford Dictionary of National Biography''</ref>
# [[Cecília da Normandia|Cecília]] nasceu antes de 1066, morta em 1127, abadessa da [[Abadia das Damas]], Caen.<ref name=Douglas393/>
# Matilde<ref name=DNB>Bates "William I" ''Oxford Dictionary of National Biography''</ref><ref name=Adelida/> nascido por volta de 1061, e morreu, talvez, por volta de 1086.<ref name=Handbook35/> Mencionada no ''Domesday Book'' como uma filha de GustavoGuilherme.<ref name=Douglas393/>
# [[Constança da Normandia|Constança, duquesa da Bretanha]], morta em 1090, casou-se com [[Alano IV, duque da Bretanha|Alano IV, Luva de Ferro]], [[Ducado da Bretanha|Duque da Bretanha]].<ref name=Douglas393/>
# [[Adela da Normandia|Adela]], morta em 1137, casou-se [[Estêvão II de Blois|Estêvão II, Conde de Blois]].<ref name=Douglas393/>