Lexicografia: diferenças entre revisões

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'''Lexicografia''' é a técnica de redação e feitura de [[dicionário]]s. Faz muito tempo que existem dicionários de um tipo ou de outro, mas a maneira como se faziam dicionários na [[Antigüidade]] e na [[Idade Média]] era muito diferente da que prevaleceu nos tempos modernos. Para começar, os primeiros dicionários eram geralmente bilíngües, glossários que ofereciam traduções de palavras de uma [[língua]] para outra. O período [[idade Média|medieval]] conheceu a produção de dicionários monolíngües, mas geralmente estes dicionários (do tipo [[tesauro]] ou [[thesaurus]]) não adotavam um arranjo por ordem alfabética; ao contrário, as palavras eram agrupadas conforme o sentido (palavras que diziam respeito às atividades da fazenda, nomes de frutas, e assim por diante). Os primeiros dicionários alfabéticos do inglês não eram completos: eram, ao contrário, compêndios de “palavras complicadas”, isto é, de palavras obscuras e difíceis, freqüentemente de origem latina.
 
=={{Páginas externas}}==
'''GLOSSÁRIO DOS TERMOS DA LINGÜÍSTICA DA ENUNCIAÇÃO: ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
*[http://www.instituto-camoes.pt/cvc/hlp/biblioteca/origens_lex_port.pdf Origens e estruturação histórica do léxico português]
 
{{esboço-linguística}}
Antônio Luciano Pontes
Universidade Estadual do Ceará/Universidade de Fortaleza'''
 
[[Categoria:Linguística]]
 
[[Categoria:Lexicografia]]
RESUMO: Esta comunicação tem o objetivo de apresentar as decisões tomadas diante dos problemas encontrados em relação à organização do Glossário dos termos da Lingüística da Enunciação, nos aspectos relativos à macro e microestrutura. Para atingir este objetivo, temos por base os fundamentos teóricos da Terminologia, de base descritiva, e os procedimentos metodológicos da Terminografia, partindo de um corpus constituído de textos especializados, produzidos pelos estudiosos em Lingüística da Enunciação.
 
Palavras-chave: Terminografia, Lingüística da Enunciação, textos especializados
 
Considerações iniciais
Esta comunicação tem o objetivo de apresentar as decisões tomadas diante dos problemas encontrados em relação à organização do Glossário dos termos da Lingüística da Enunciação, nos aspectos relativos à macro e microestrutura. Estas dificuldades surgem em função das especificidades conceituais que caracterizam o domínio em análise.
Inicialmente, a questão que se coloca é a seguinte: qual a necessidade de um Glossário dos Termos da Lingüística da Enunciação que abranja em sua nomenclatura os termos da Pragmática Lingüística e da Análise do Discurso? Esta decisão foi tomada com base no fato de que é impossível repartir em caixas estanques as subáreas que tomam como objeto de estudo o texto/discurso, uma vez que resultam de saberes conectados entre si, em interação, possibilitando, assim, movimentos de conceitos e de termos sem contudo poder objetivamente selecionar de per si os termos específicos das diversas disciplinas afins, numa divisão rigorosa de limites de área.
Possenti (1993) vai nessa direção, quando afirma: “Eu não proporia, em princípio, que um pragmaticista incorporasse os princípios da Análise do Discurso, mas, de fato, há alguns que não os desprezam totalmente.” Maingueneau (1998), discutindo o campo da Análise do Discurso, lembra que nos países anglo-saxões, muitos aproximam esta área da análise conversacional, considerando o discurso como atividade fundamentalmente interacional. Além disso, sobre o campo da Lingüística Textual, o autor lembra que sua delimitação é tema de controvérsias. Alguns lhe dão, antes de tudo, os fenômenos da coesão por objeto, outros, orientando em direção aos problemas de gênero e de tipologia do discurso, estão muito próximos das perspectivas da Análise do Discurso.
Com efeito, percebe-se que, na prática, há trocas entre áreas, acumulando sentido nos termos, deslocados de um campo para outro, como decorrência inclusive das proximidades conceituais, de paradigmas e de influências que se dão entre si.
Nesta exposição, apresentaremos as características do público ao qual o glossário é destinado, como também os princípios teórico-metodológicos que orientam a sua organização: a constituição do corpus e a formação dos verbetes.
 
1.0 Procedimentos metodológicos
 
1.1 Público-alvo
Há quem defenda que os problemas terminológicos nunca deveriam ser verdadeiramente importantes em gramática, em Lingüística ou em qualquer outro ramo do saber, posto que o que deveria interessar ao estudioso não é tanto buscar nomear os conceitos como compreender os fenômenos que se examinam.
No entanto, para os professores, para os estudantes que se iniciam e até mesmo para os iniciados no âmbito da Lingüística da Enunciação, a Terminologia constitui seguramente o principal problema para a compreensão dos fenômenos e para a produção na área. São muitos os fatores que justificam estudar esta disciplina: sua contínua expansão e especialização em perspectivas e enfoques, a produção de sentidos novos para representar conceitos que surgem e, ainda, graus de polissemia que esta linguagem tem apresentado nos últimos tempos. Por tudo isso é que se justifica apresentar um dicionário, instrumento sobretudo didático, que reflita a realidade metalingüística da área em questão.
Como se sabe, desde que surgiram teóricos, como Benveniste, Ducrot, Bakhtin, Levinson, só para citar alguns, a Lingüística da Enunciação tem experimentado um desenvolvimento nunca conhecido até então. Por conseguinte, é urgente produzir um trabalho que se destine a estudantes de Letras, professores e alunos de várias outras áreas, interessados nos estudos do texto e do discurso. Espera-se, então, que este trabalho venha ajudar aos interessados ver com clareza os avanços das idéias lingüísticas hoje. Este é o propósito do Glossário dos Termos da Lingüística da Enunciação, aqui ora apresentado, numa versão preliminar.
Para atingir este objetivo, temos por base os fundamentos teóricos da Terminologia, de base descritiva, e os procedimentos metodológicos da Terminografia, partindo de um corpus constituído de textos especializados, produzidos pelos estudiosos em Lingüística da Enunciação.
 
1.2 Dos passos metodológicos
Numa primeira etapa, levantamos a produção científica dos principais programas de pós-graduação brasileiros, de 1990 a 2000, objetivando construir a nomenclatura do glossário. A literatura para a composição do corpus constituiu-se de teses, dissertações, artigos de periódicos e livros, cujos temas dizem respeito ao texto e ao discurso, encarados sob as perspectivas da Pragmática e da Análise do Discurso.
Numa etapa posterior, os termos coletados foram registrados em fichas terminológicas com vistas a facilitar a produção dos verbetes e a organização da macroestrutura do glossário.
A ficha, preparada para o trabalho, foi composta dos seguintes campos:
• Unidade terminológica lematizada
• Informação gramatical
• Sigla
• Equivalentes
• Contexto
• Definição
• Remissiva(s)
Concluídas as fichas, organizamos o glossário, do ponto de vista macroestrutural e microestrutural. As definições e os verbetes, uma vez produzidos, passaram pela revisão de especialistas em Lingüística, para, numa última fase, proceder-se a versão definitiva do produto.
O glossário é do tipo monolíngüe com equivalentes em inglês, francês e espanhol. Os equivalentes foram extraídos em documentos escritos, produzidos em situações reais de comunicação especializada, tais como livros, artigos, anais de congressos e dicionários especializados e serão apresentados, alfabeticamente, em índices remissivos, considerando-se o português como língua de partida.
 
1.3 Seleção dos termos
Os termos selecionados, para compor a nomenclatura do glossário, situam-se na estruturação conceptual do domínio, que se circunscreve na árvore de campo. O critério inicial então para gerar o glossário em tela foi o de agrupar as subáreas da Lingüística da Enunciação, as quais compreendem os termos das diversas orientações teóricas que incorporam o componente pragmático em suas abordagens, tais como a Lingüística Textual, a Semântica da Enunciação e a Análise da Conversação, bem como os termos da Análise do Discurso.
Outros critérios foram levados em conta. Os termos que se movem das várias disciplinas para a Lingüística da Enunciação foram tratados como específicos dentro do domínio visado. Desse modo, fazem parte do produto os termos cuja pertinência temática é indiscutível, embora a maioria desses termos se desloquem da Psicanálise, da Psicologia Cognitiva, da Sociologia, só para dar alguns exemplos. Além disso, há, ainda, termos que se originam da Lingüística do Sistema e da língua comum, justificando tais deslocamentos a feição interdisciplinar e dinâmica que a Lingüística da Enunciação assume.
E, por último, tomou-se a relevância do termo dentro da Lingüística da Enunciação como critério fundamental.
 
1.4 Do mapa conceitual
A área em estudo caracteriza-se pela interdisciplinaridade, uma vez que se apresenta complexa e multifacetada, por conseguinte, de difícil sistematização. Esta é a razão pela qual se configura este trabalho terminográfico a partir de uma árvore de campo, em que se determinam a priori as noções específicas do domínio, expressando, assim, sua estrutura conceptual. Desse modo, a árvore de campo é imprescindível para poder traçar o alcance temático do trabalho, controlar a pertinência dos termos considerados, bem como defini-las de forma sistemática e coerente. Eis então a árvore de campo previamente delineada para este trabalho:
1. Pragmática
1.1 Conceitos básicos
1.2 Concepções e tendências
1.2 Atos de fala
1.2.1 Constituição
1.2.2 Classificação
1.3 Argumentação
1.3.2 Operadores argumentativos
1.3.3 Índices de polifonia
1.3.4 Índices modais
1.3.5 Teoria da relevância
1.3.6 Leis do discurso
1.4 Texto
1.4.1 Conceitos fundamentais
1.4.2 Métodos de análise
1.4.3 Tipologias textuais
1.4.4 Gêneros textuais
1.4.4.1 Fatores de coerência
1.4.4.2 Mecanismos de coesão
1.4.4.3 Superestruturas
1.5 Conversação
1.5.1 Organização conversacional
1.5.2 Marcadores conversacionais
1.5.3 Conversação como ato social
1.5.4 Postulados conversacionais
2. Análise do Discurso
2.1 Conceitos básicos
2.2 Vertentes
2.3 Tipologias do discurso
2.4 Constituição do discurso
2.5 Discurso e ideologia
 
1.5 Dos fundamentos teóricos
Nossa pesquisa seguirá a orientação teórica da terminologia temática monolíngüe, com base nos fundamentos da Teoria Comunicativa da Terminologia, doravante TCT. Tal paradigma se deve a Cabré (1999, 2001), para quem as terminologias funcionam discursivamente nos textos especializados, produzidos em situações reais de comunicação técnico-científicas. Partindo desse ponto de vista, a autora delineia sua proposta com base nos aspectos teórico-metodológicos seguintes:
a) a variação é inerente á comunicação (especializada ou não);
b) as situações de uso são consideradas, gerando desse modo uma multiplicidade de discursos em vários níveis de especialidade;
c) a Terminologia é uma interdisciplina construída a partir de conceitos provenientes das ciências da linguagem, das ciências da cognição e das ciências sociais;
d) um conceito pode pertencer à estrutura conceptual de diferentes disciplinas. Parte-se do princípio de que um conceito circula, especializando-se em cada área a que passa a pertencer. Os conceitos podem ainda movimentar-se da língua comum para a língua especializada e vice-versa;
e) palavras e termos se localizam dentro de um mesmo léxico, fazendo parte da linguagem natural e da gramática que descreve cada língua. O que distingue, então, a palavra do termo são aspectos relativos à Pragmática.
Em conseqüência, a metodologia terminográfica baseia-se nas assertivas que se seguem:
a) o trabalho terminológico deve pelo menos inicialmente ser descritivo;
b) o corpus considerado para análise pode ser escrito ou falado;
c) o fazer terminológico supõe aplicar uma metodologia específica para detectar e extrair os termos especializados;
d) o trabalho terminológico conduz sempre a uma aplicação;
e) a metodologia há de adequar-se a diversidade de contextos, situações, necessidades, funções, finalidades e usuários;
f) a orientação onomasiológica é preponderante, mas não é exclusiva. Tudo dependerá dos objetivos do trabalho, da natureza conceptual da área, do tipo do produto que se quer, etc.
g) as definições podem adequar-se ao tipo do produto estabelecido (mais terminológicas, umas vezes; mais enciclopédicas, outras vezes).
Dentro desta orientação metodológica, são passos do trabalho terminológico:
a) conhecer bem o tema para traçar a rede de domínio;
b) determinar o tema, a perspectiva, o tipo de trabalho, os destinatários, os objetivos e as finalidades;
c) selecionar o corpus a partir das características de cada trabalho;
d) coletar os termos tendo em vista o corpus considerado;
e) adequar flexivelmente todas as etapas do trabalho terminológico, considerando a natureza dos termos na diversidade da comunicação, o dinamismo dos conceitos, a circularidade do conhecimento, o uso dos termos no discurso e as possibilidades de novas tecnologias. Numa etapa final, apresentar o trabalho, fazendo prevalecer o critério da adequação.
 
2.0 Organização do glossário:
2.1 Da macroestrutura:
Quanto à disposição dos termos na macroestrutura, optou-se por considerar a ordem alfabética, e não a organização por campos, uma vez que é muito difícil fazer recortes estanques no sistema conceptual da terminologia em questão.
Os termos polissêmicos, cujos sentidos representam perspectivas e usos diferentes, terão uma estrutura com múltiplos enunciados terminográficos. Aqui, tem-se um caso de verbete múltiplo, portanto.
Os termos homonímicos terão tantas entradas quantos forem os conceitos identificados, cada um deles, representando as subáreas da macro-área em análise, como por exemplo:
Sujeito¹
Sujeito²
Os termos considerados quase-sinônimos(parasssinônimos) terão entradas diferentes, constituindo verbetes plenos em sua microestrutura. Exemplo:
Intertextualidade
Interdiscursividade
Os termos co-hipônimos assim como os hiperônimos terão entradas diferentes. Exemplo:
Enunciador
Locutor
Autor
2.2 Da microestrutura (modelos e tipos de verbetes):
Os verbetes de nosso vocabulário podem ser de duas categorias:
1. Verbete-principal: este se estrutura como simples ou complexo, dependendo da natureza do termo-entrada e da função do verbete no repertório.
1.1 Verbete-principal simples: são os verbetes que possuem apenas um enunciado terminográfico. Neste caso, o termo-entrada é monossêmico. Exemplos:
Assalto ao turno s. m.
 
Tomada de turno por um falante na conversação fora do momento adequado.
 
Nota 1: No momento do assalto ao turno, ocorre normalmente o fenômeno da sobreposição de vozes, isto é, por alguns instantes, dois (ou mais) participantes falam ao mesmo tempo, até que um deles desiste e o outro fique definitivamente na posse do turno.
Nota 2: Há dois tipos de assalto ao turno: assalto com deixa e assalto sem deixa.
 
V.: Assalto com deixa; Assalto sem deixa.
 
Assalto com deixa s. m.
 
Assalto ao turno através de uma marca lingüística.
 
Nota: O ouvinte aproveita-se de um momento de hesitação caracterizado pela ocorrência dos seguintes fenômenos: pausas, alongamentos, repetições de palavras ou sílabas.
 
V.: Assalto ao turno; Assalto sem deixa; Turno.
 
Assalto sem deixa s. m.
 
Assalto ao turno de forma brusca e inesperada do ouvinte no turno do outro interlocutor, sem que seja marcado lingüisticamente.
 
Nota: O assalto sem deixa sempre gera sobreposição de vozes, o que nem sempre ocorre no assalto com deixa.
 
V.: Assalto ao turno; Assalto com deixa; Turno.
 
 
Auto-repetição s. f.
 
Tipo de repetição produzida pelo mesmo falante no discurso oral.
 
Nota: A auto-repetição se dá devido a exigências de ordem cognitivo-intencional, podendo, pois, ser orientada quer para o próprio falante, quer para o interlocutor (ou, ainda, para ambos). (Koch, 1997, p. 103). No 1 CASO, tem por função ganhar tempo para o planejamento, assegurar a posse do turno ou, ainda, simplificar a tarefa de produção discursiva. As repetições orientadas para o interlocutor visam a segmentar o discurso para o devido processamento ou, de modo geral, garantir a compreensão, ou ainda, para substituir ou reparar a formulação inicial.
 
V.: Turno; Discurso oral; Repetição.
 
Catáfora s. f.
 
Referência textual que aponta uma unidade semântica que surgirá posteriormente.
 
Nota: A presença de catáforas pode dificultar a compreensão do texto: Ex. É preciso considerar o seguinte: que para compreender um texto não basta o conhecimento lingüístico, mas uma série de informações ou conhecimentos que fazem parte do processo. "o seguinte" é catáfora de que para compreender um texto não basta o conhecimento lingüístico, mas uma série de informações ou conhecimentos que fazem parte do processo.
 
V.: Texto; Coesão; Anáfora; Endófora.
 
Détournement s. m.
 
Modificação sofrida no intertexto, nos níveis de forma e de sentido, a partir da aplicação das operações de retextualização.
 
Nota 1: As operações de retextualização são de vários tipos: de apagamento, de substituição, de inversão, de acréscimo aos níveis fonético-fonológico, lexical, sintático, morfológico. São exemplos retirados de Koch (1997):
a) Devagar se vai ao longe. > Devagar se vai ao longe, mas leva muito tempo. (de acréscimo ao nível de palavra)
b) Prepare-se para levar um susto. > Prepare-se para levar um surto. (substituição ao nível fonético-fonológico)
c) Quem vê cara, não vê coração > Quem vê cara, não vê AIDS. (substituição ao nível lexical)
a) Quem espera sempre alcança. > Quem espera nunca alcança. (substituição ao nível lexical)
Nota 2: Grésillon e Maingueneau (1984) preconizam dois tipos de détournement: o lúdico (V.) e o militante (V.).
Nota 3: Há diversos tipos de détournement, considerando as formas de retextualização:
a) détournement de provérbios, frases feitas, títulos de filmes ou obras literárias. Muito freqüente, por exemplo, na publicidade, no humor, na música popular, em charges políticas etc.;
b) détournement de textos ou títulos de textos literários – como não só na publicidade e na propaganda, mas também em outros textos literários;
c) détournement de provérbios, frases feitas, passagens bíblicas, etc. em enunciados do tipo concessivo, por meio de adjunções, como é o caso de: "Devagar se vai ao longe, mas leva muito tempo – (em mínimas, Luís Fernando Veríssimo).
Nota 4: Empréstimo do francês.
 
V.: Texto; Intertexto; Intertextualidade; Détournement lúdico; Détournement militante.
 
Formação ideológica s. f.
 
Conjunto complexo de atitudes e representações que dizem respeito, mais ou menos diretamente às posições de classe em conflito umas com as outras (Haroche et alii).
 
Nota 1: Cada formação ideológica pode compreender várias formações discursivas interligadas.
Nota 2: Como as visões de mundo estão vinculadas às classes sociais, há, em princípio, numa formação social, tantas visões de mundo quantas foram as classes aí existentes. No entanto, a visão de mundo dominante é a da classe dominante (Fiorin, 1995).
 
V.: Formação social; Formação discursiva.
 
Formação social s. f.
 
Relação entre classes que compõem uma comunidade em um determinado momento de sua história.
 
Nota: Estas relações estão assentadas em práticas exigidas pelo modo de produção que domina a formação social. A essas relações correspondem posições políticas e ideológicas que mantêm entre si laços de aliança, de antagonismo ou de dominação.
 
V.: Formação discursiva; Formação ideológica.
 
Nota 4: O sujeito do discurso apresenta-se dotado de pré-consciente e de inconsciente. (Iuduorsky, Fredo, 1998, p. 112.)
Nota 5: Percebe-se que o sujeito é duplamente afetado em seu funcionamento individualizado, pelo inconsciente e, em seu funcionamento social, pela ideologia. Vê-se que o sujeito da Análise do Discurso encontra seus fundamentos, por um lado, em Marx e Althusser e, por outro, em Freud. (Iuduorsky, Fredo, 1998, p. 112).
 
V.: Discurso; Sujeito-posição.
 
 
1.2 Verbete-principal: são os verbetes cuja estrutura se constitui em vários enunciados terminográficos. Neste caso, o termo-entrada é de natureza polissêmica, produzindo enunciados terminográficos múltiplos.
Leitura
1. (Da perspectiva do texto). Processo de extração de significados do texto, que se dá seqüencialmente, da esquerda para direita, de cima para baixo, página após página, considerando que as letras vão formando palavras, as palavras frases e as frases parágrafos. O processo é então ascendente, pois faz uso linear e indutivo das informações visuais, lingüísticas; e sua abordagem é composicional, isto é, constrói o significado através da análise e síntese do significado das partes.
 
Nota 1: Nessa perspectiva, na medida em que leitura é extração de significados, um mesmo texto produz sempre os mesmos significados, pelo menos em leitores de um mesmo nível de competência. O mais competente pode ditar o significado ao menos competente incluindo a situação típica de sala de aula, onde o texto significa aquilo que o professor diz que ele significa.
Nota 2: Críticas:
1- Ênfase no processo linear da leitura. 2. Defesa da intermediação do sistema fonológico da língua para o acesso ao significado. 3- Valorização das habilidades de baixo nível, como o reconhecimento de letras e palavras.
 
V.: Leitor (1), Significado, Frase, Texto (1).
2. (Da perspectiva do leitor): Processo de atribuição de sentido ao texto. Os sentidos construídos têm base na experiência de vida do leitor, anterior ao seu encontro com o texto, e envolve conhecimentos lingüísticos, textuais e enciclopédicos.
 
Nota 1: A leitura não é interpretada como um procedimento linear, onde o significado é construído palavra por palavra, mas como um procedimento de levantamento de hipóteses. O que o leitor processa da página escrita é o mínimo necessário para confirmar ou rejeitar hipóteses. O processo é então descendente.
Nota 2: Leitura depende mais de informações não visuais (InV) do que visuais(IV). Podemos dizer que não é possível ler um texto valendo-se apenas de IV; A leitura é o resultado da interação entre a IV, fornecida pelo texto, e a InV, isto é, o conhecimento prévio armazenado na memória do leitor. O leitor proficiente utiliza esse conhecimento prévio para fazer uma leitura rápida e seletiva através da previsão de parte do material do texto. Além disso, a InV é também utilizada pelo leitor para completar a construção do sentido do texto através do estabelecimento de inferências.
Nota 3: Leitura fluente é feita através de um processo parcial do material visual, e completada pelas previsões. Os olhos não vêem o que realmente está escrito na página, mas apenas determinadas informações pedidas pelo cérebro. A compreensão não começa pelo que está na frente dos olhos, mas pelo que está atrás.
Nota 3: Críticas:
1 Bom leitor é aquele que é capaz de descobrir as marcas deixadas pelo autor para chegar à formulação de suas idéias e intenções. 2. A perspectiva de leitura centrada no leitor repousa principalmente na abordagem psicolingüística da compreensão, com ênfase nos aspectos cognitivos. O leitor passa a ser visto como o soberano absoluto na construção do significado.
 
V. Sentido (2), Texto, Leitor.
 
3. (Da perspectiva interativa sob a abordagem psicolingüística): Processo de interação que ocorre dentro de um contexto maior em que o leitor transaciona com autor através do texto, no contexto específico com intenções específicas. No modelo interativo o processo é ascendente/descendente: o leitor procura confirmar as predições com os dados do texto.
 
Nota 1: Bom leitor é aquele que é capaz de percorrer as marcas deixadas pelo autor para chegar à formulação de suas idéias e intenções. (Coracini, 1995).
Nota 2: O texto é construído não só pelo autor ao produzi-lo, mas também pelo leitor ao lê-lo.
 
V. Interação.
 
4. (Da perspectiva interativa sob a abordagem social). Processo de atribuição de sentido que está nas convenções, mais ou menos explícitas, que regem as relações entre os membros de uma comunidade discursiva.
Nota: A leitura não é um ato solitário, mas coletivo, exercido dentro de uma comunidade que tem suas regras e convenções.
 
V. Comunidade discursiva
 
5. (Da perspectiva da Semiótica Social) Capacidade de processar informação transmitida por uma combinação de formas de representação, pois qualquer que seja o texto escrito, é multi-modal.
 
Nota : Descardeci (2002) afirma: Preocupa-me o fato de que as crenças escolares sobre leitura, limitadas à leitura do código escrito, têm subestimado o valor das outras formas de representação presentes na composição da mensagem escrita, sendo estas tão portadoras de significado quanto aquele. Refiro-me a todos os recursos de composição e impressão do texto, como: a qualidade do papel, ilustrações (imagens significativas), cores, diagramação da página, formato (negrito, itálico) e a cor das letras, a formatação do parágrafo, tamanho de letras, etc. A esse conjunto de elementos, a Semiótica social refere-se como a multimodalidade das formas de representação.
Nota 2. O homem moderno precisa aprender a ler, de maneira ampla, para saber processar, completamente, as informações com as quais tem contato no seu dia-a-dia
Nota 3. A multimodalidade das formas de representação certamente estará mais próximo do significado de leitura do mundo, defendido por Paulo Freire.
 
Nota 4 ....podemos ler todos os sinais, dos livros e do mundo, buscando recuperar a intenção dos textos em direção a seus receptores, com base nas marcas gráficas e em todas as outras disponíveis. Por essas vias, não haverá alfabetizados funcionais, que apenas soletram ordens a serem obedecidas e informações a serem digeridas, mas leitores críticos, capazes de interagir com textos das mais diversas naturezas sociais e institucionais e estender essa capacidade leitora a todas as situações orais da vida quotidiana. (Aguiar, 2004).
 
2. Verbete-rappel (article-rappel): este tem como entrada uma unidade terminológica que se introduz na macroestrutura com a função de lembrete, remetendo a um termo anteriormente definido. Exemplo:
Atenuação s.f. – ver abrandamento.
 
2.2 Apresentação do glossário:
1) Termo: os termos se apresentam sob forma lematizada, isto é, substantivos e adjetivos no masculino singular e verbos, no infinitivo.
Alguns termos constituem unidades terminológicas já pertencentes à Terminologia da Lingüística da Enunciação (por exemplo: coesão, enunciação). Alguns, na verdade, deslocam-se de outras áreas do conhecimento (exemplo: frame, polifonia, gênero, assalto). E, ainda, muitos outros se originam da Lingüística do Sistema (sinônimo, sujeito e texto). Do ponto de vista da formação, os termos deste glossário constituem, na maior parte dos casos, em formações sintagmáticas que decidimos tratá-los como substantivos.
Além dos sintagmas nominais, os termos que compõem o glossário, também são formados pelos processos vernáculos da derivação e da composição.
2) Definição. Estas são do tipo “definição por compreensão”, que são formadas por um termo genérico e as características que individualizam o termo definido. Elementos enciclopédicos, assim como comentários de cunho lingüísticos, serão considerados em notas. Em alguns casos, as definições se iniciam pela referência a um subdomínio ou a uma perspectiva, refletindo assim o caráter interdisciplinar da área em questão.
3) Notas. Há vários microparadigmas:
3.1) Exemplificação: ilustrações dos conceitos apresentados.
3.2) Fontes: referências aos nomes das teorias ou escolas que propuseram o termo.
3.3) Informação Enciclopédica: esclarecimentos ou informações complementares em torno do termo-entrada considerado.
4) Classificação: proposta de classificação para o termo em questão.
5) Composição: partes, fases ou operações do termo-entrada considerado.
6) Informações lingüísticas: registro relativo à formação e origem do termo-entrada.
7) Sinonímia: consideramos sinônimos os seguintes casos:
• variações em que os elementos sintagmáticos apresentam alternância de caráter morfossintático;
• o sintagma preposicionado alterna com o emprego do adjetivo;
• variações em que um dos itens lexicais do composto é apagado;
• variações que consistem no uso de uma unidade lexical por outra;
• empréstimos externos alternando com um elemento vernacular;
• as alternâncias morfemáticas.
8) Remissivas: Simbolizadas por V, relacionam termos que fazem parte do repertório:
• termos que estão incluídos na definição de outro;
• termos que mantêm uma relação hiponímica ou hipernímica entre si;
• termos que indicam relações antonímicas, complementares;
• termos de uma subárea que se aproximam conceitualmente ou que se correspondem aos de outra subárea.
 
Considerações finais
Nossa pesquisa levou-nos a constatar que, a nível de microestrutura, um único modelo de verbete não é capaz de responder às necessidades específicas de descrição das diferentes unidades terminológicas do domínio estudado. A variedade de verbetes se dá em função da natureza semântica dos termos, ou seja, os termos monossêmicos comportam uma microestrutura do tipo simples e os termos polissêmicos configuram-se numa microestrutura do tipo múltipla.
Dependendo do papel que o verbete exerce dentro do glossário, temos dois tipos de verbetes: verbete-principal e verbete-rappell. A cada tipo de verbete corresponde uma microestrutura básica, na qual os macroparadigmas são constantes em uma relação intra-vocabulário e entre os verbetes do mesmo tipo.
Desse modo, os verbetes-principais têm como microestrutura básica a fórmula que é a seguinte:
 
 
 
 
Já os verbetes-rappels têm uma estrutura mais simplificada:
 
 
 
 
A identificação dos modelos de microestruturas capazes de responder a estas particularidades garantem um tratamento terminográfico uniforme para todos os dados terminológicos, além de garantir ainda uma homogeneidade a todos os verbetes do glossário.
 
Referências bibliográficas
CABRÉ, M. T. (2000). La terminología: representación y comunicación. Elementos para una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Institut Universitari de Lingüística Aplicada, Universitat Pompeu Fabra.
CABRÉ, M. T. & FELIU, J. (2001). Terminología científico-técnica. Barcelona: Institut Universitari de Lingüística Aplicada, Universitat Pompeu Fabra.
MAINGUENEAU, D. (1998). Termos-chave da Análise do Discurso. Belo Horizonte: UFMG.
POSSENTI, S. (1996). “Pragmática na Análise do Discurso”. In: Cadernos de Estudos Lingüísticos, n. 30. p. 1-116.
 
[[bg:Лексикография]]