Miguel Reale: diferenças entre revisões

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'''Miguel Reale''' ([[São Bento do Sapucaí]], {{dtlink|lang=br|6|11|1910}} — [[São Paulo (cidade)|São Paulo]], {{dtlink|lang=br|14|4|2006}}) foi um advogado, político, [[jurista]], [[Filosofia|filósofo]], [[educação|professor universitário]] e [[poeta]] brasileiro.<ref>{{citar periódico|título=Prof. Dr. Miguel Reale|jornal=Revista da Faculdade de Direito|ano=1966|volume=LXI|páginas=separata}}</ref>
político, [[jurista]], [[Filosofia|filósofo]], [[educação|professor universitário]] e [[poeta]] brasileiro.<ref>{{citar periódico|título=Prof. Dr. Miguel Reale|jornal=Revista da Faculdade de Direito|ano=1966|volume=LXI|páginas=separata}}</ref>
 
É notório principalmente por sua longa atuação na [[advogado|advocacia]] e na [[academia]], sendo um autor de relevo no campo da [[filosofia do direito]]. É criador da [[teoria tridimensional do direito]], que integra a norma jurídica ao fato social e aos valores culturais, num processo histórico-dialético de implicação e complementaridade, e que é particularmente difundida no Brasil.
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Foi membro da [[Academia Brasileira de Letras]] e um dos membros-fundadores da [[Academia Brasileira de Filosofia]].
 
== VidaPrimeiros familiaranos ==
 
Miguel Reale é filho do [[medicina|médico]] [[Itália|italiano]] Biagio "Brás" Reale e de Felicidade Chiaradia, [[Minas Gerais|mineira]] de ascendência italiana. FoiCom casadoo comfalecimento Filomenado "Nuce"pai, Puccio porMajor 63Chiaradia, dr. Brás anosReale, que fora médico do Exército Italiano e clinicava em São Bento, resolve se mudar com quema tevefamília ospara filhoso Ebe[[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], Líviaentão Mariaa Capital Federal. Lá, instalou farmácia e consultório. Certa noite, as ondas do mar invadiram a farmácia e destruiram tudo o que ali havia. Desanimado com o sucedido, Brás Reale se transferiu para a cidade de [[Itajubá]], em [[Minas Gerais]]. Miguel Reale lá viveu até 1921, fazendo o curso primário no Colégio Nossa Senhora da Glória. Em 1922, ingressou no Instituto Medio Dante Alighieri, em [[São Paulo (cidade)|São Paulo]], de onde sairia diplomado em 1929.
 
Nesse período, Reale era adepto do socialismo reformista de [[Carlo Rosselli]]. Chegou a ter algum contato com [[Trotskismo|trotskistas]], mas tal contato fora, segundo ele, "breve e desagradável", pois os trotskistas estavam sempre "perdidos em estéreis e intermináveis" debates e discussões com os adeptos do [[stalinismo]] e versando temas totalmente alheios à realidade e aos problemas nacionais, que os [[Modernismo|modernistas]] da [[Semana de Arte Moderna]] de 1922 haviam acendido em seu espírito.
Ebe Reale é historiadora formada pela Faculdade Sedes Sapientiae, da [[Pontifícia Universidade Católica de São Paulo]], autora de Dissertação de Mestrado sobre a História do Município de Pindamonhangaba e professora de "Cultura Brasileira" na Escola de Comunicações da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) na Capital paulista. É membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, tendo publicado 18 livros sobre a História de São Paulo.
 
Em 1930, Reale apoiou, como boa parte dos estudantes da [[Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo|Faculdade de Direito de São Paulo]], o vitorioso movimento político-militar liderado por [[Getúlio Vargas]].<ref name=":3" />
Lívia Maria Reale Ferrari era formada em Línguas Neolatinas e foi casada com Antônio Carlos Ferrari, tendo o casal falecido jovem, em 1973, deixando três filhos menores que foram criados por Miguel e Nuce Reale.
 
[[Miguel Reale Júnior]], filho caçula de Miguel Reale, é advogado e professor, tendo ocupado o cargo de ministro da Justiça durante o governo [[Fernando Henrique Cardoso]].
 
== Formação e carreira ==
Formou-se pela [[Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo]] (1934), onde foi [[professor catedrático]] (1941) e por duas vezes reitor eleito (1949 — 1950; 1969 — 1973)
 
Em 1969 foi nomeado pelo presidente [[Artur da Costa e Silva]] para a “Comissão de Alto Nível”, incumbida de rever a [[Constituição brasileira de 1967|Constituição de 1967]]. Resultou desse trabalho parte do texto da [[Emenda Constitucional nº 1]], de 17 de outubro de 1969, que consolidou o [[Ditadura militar|regime militar]] no Brasil.
 
Ocupou a cadeira 14 da [[Academia Brasileira de Letras]], a partir de 16 de janeiro de 1975. Escreveu coluna quinzenal no jornal [[O Estado de S. Paulo]], na qual tratou de questões filosóficas, jurídicas, políticas e sociais da atualidade.
 
Foi supervisor da comissão elaboradora do [[Código Civil brasileiro]] de 2002, cujo projeto foi posteriormente sancionado pelo [[Presidente do Brasil|presidente da República]] [[Fernando Henrique Cardoso]], tornando-se a Lei nº 10.406 de 2002, novo Código Civil, que entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003.
 
Miguel Reale teve atuação de relevo no campo da filosofia, tendo sido um dos fundadores da [[Academia Brasileira de Filosofia]]<ref>http://www.filosofia.org.br/mem.html</ref> e do Instituto de Filosofia Brasileira de [[Lisboa]], [[Portugal]]. Foi organizador de sete Congressos Brasileiros de Filosofia (1950 a 2002) e do VIII Congresso Interamericano de Filosofia ([[Brasília]], 1972), relator especial nos XII, XIII e XIV Congressos Mundiais de Filosofia ([[Veneza]], 1958; [[Cidade do México]], 1963; e [[Viena]], 1968), conferencista especialmente convidado pela [[Federação Internacional de Sociedades Filosóficas]] para os XVI e XVIII Congressos Mundiais ([[Düsseldorf]], [[Alemanha]], 1978; e [[Brighton]], [[Reino Unido]], 1988), e organizador e presidente do Congresso Brasileiro de Filosofia Jurídica e Social ([[São Paulo]], 1986, [[João Pessoa]], 1988 e [[Paraíba]], 1990).
 
É autor, entre outros, de ''Filosofia do Direito'' e de ''Lições Preliminares de Direito'', ''O Direito como Experiência'', ''Horizontes do Direito e da História'', ''Experiência e Cultura'', ''Nos Quadrantes do Direito Positivo'', ''Pluralismo e Liberdade'', todas obras clássicas do pensamento filosófico-jurídico brasileiro. Suas obras foram traduzidas para o italiano, o espanhol e o francês.
 
== Revolução Constitucionalista de 1932 ==
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Em 1933, tenta, sem sucesso, concorrer pela AIB a uma vaga na Assembleia Nacional Constituinte, que definiria a [[Constituição brasileira de 1934]].<ref name=":6" /> Em 1936, por motivos jamais plenamente esclarecidos, é afastado do cargo de Secretário Nacional de Doutrina da Ação Integralista Brasileira, fundando em outubro o jornal ''Ação''. O ''Ação'' se empenhou em todas as numerosas campanhas nacionalistas daquele tempo, incluindo aquela em favor da extração nacional do petróleo, apoiando entusiasticamente a campanha de [[Monteiro Lobato]].<ref name=":3" /><ref name=":6" />
 
Mesmo após deixar a militância, Miguel Reale se manteve para sempre fiel aos princípios do pensamento integralista. Reale continuou atento à ''visão integral da realidade e dos problemas'' e à mesma ''concepção integral de história.'' Sua principal contribuição ao pensamento jurídico e filosófico brasileiro, a ''[[teoria tridimensional do direito]]'', pode ser também designada ''teoria integral do direito'', nome, aliás, sugerido pelo próprio para que Javier García Medina a designasse. Permaneceu igualmente fiel à doutrina do Estado Ético tal como proposta pelo Integralismo. Nas palavras do [[Tristão de ataíde|Tristão de Ataíde]], "a tentação da integralidade sempre foi uma nota dominante na personalidade de Miguel Reale, desde 1934, data em que iniciou sua monumental obra filosófica, a mais importante sem dúvida do movimento filosófico contemporâneo".<ref name=":3" />
 
Suas obras integralistas foram reeditadas pela [[Universidade de Brasília]] em 3 tomos a 1983, ao lado dos artigos ''A crise da liberdade'', ''Amor à liberdade'', ''Nós e os fascistas da Europa'' e ''Corporativismo e unidade nacional''.<ref>REALE (tomo III, Cadernos da UnB) 1983</ref> Em 2004, durante seus últimos anos de vida, publica, em seu site, o artigo "O Integralismo revisitado", revoltado com a seguinte situação: "Duas novelas ou mini-séries da TV GLOBO, a pretexto de apresentar o cenário ideológico vigente na primeira metade do século passado, fizeram referência ao Integralismo fundado por Plinio Salgado, mas com manifesta má fé, como é hábito dos chamados 'esquerdistas', até o ponto de apresentá-lo como simples variante do hitlerismo, com gangues atuantes com deliberada e constante violência."<ref name=":5" /> Na atualidade, a [[Frente Integralista Brasileira]] se afirma sucessora legítima da Ação Integralista Brasileira.
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== A teoria tridimensional do direito ==
 
Dentre as contribuições de Miguel Reale para a [[teoria geral do direito]], a que lhe atribuiu maior prestígio foi a [[teoria tridimensional do direito]] (ou teoria Integral do direito),<ref name=":3" /> apresentada primeiramente em suas obras ''Teoria do Direito e do Estado'' e ''Fundamentos do Direito'', de 1940, em que o autor buscou integrar três concepções de direito: a sociológica (associada aos fatos e à eficácia do direito), a axiológica (associada aos valores e aos fundamentos do direito) e a normativa (associada às normas e à vigência do direito). Assim, segundo essa teoria, o direito seria composto da conjugação harmônica entre as três dimensões — a fática, a axiológica e a normativa —, numa dialética de implicação e polaridade, em um processo histórico-cultural. Em linhas muito simples, todo fato (acontecimento, ação) possui um valor (aspecto axiológico) e para tal uma determinada norma jurídica.
 
Embora essa teoria tenha conhecido ampla difusão no meio acadêmico e jurídico brasileiro e de alguns países da [[América Latina]],<ref>{{Citar periódico|titulo=Teoria tridimensional do Direito - Filosofia|jornal=InfoEscola|url=http://www.infoescola.com/filosofia/teoria-tridimensional-do-direito/|idioma=pt-BR}}</ref> fora desses espaços ela é muito pouco conhecida ou citada. Alem disso, cabe notar que Reale não foi o primeiro filósofo a postular uma teoria tríplice do direito, sendo precedido por autores como Emil Lask, [[Gustav Radbruch]], Roscoe Pound e Wilhelm Sauer.
 
== Formação e carreira ==
Formou-se pela [[Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo]] (1934), onde foi [[professor catedrático]] (1941) e por duas vezes reitor eleito (1949 — 1950; 1969 — 1973) .
 
Em 1969 foi nomeado pelo presidente [[Artur da Costa e Silva]] para a “Comissão de Alto Nível”, incumbida de rever a [[Constituição brasileira de 1967|Constituição de 1967]]. Resultou desse trabalho parte do texto da [[Emenda Constitucional nº 1]], de 17 de outubro de 1969, que consolidou o [[Ditadura militar|regime militar]] no Brasil.
 
Ocupou a cadeira 14 da [[Academia Brasileira de Letras]], a partir de 16 de janeiro de 1975. Escreveu coluna quinzenal no jornal [[O Estado de S. Paulo]], na qual tratou de questões filosóficas, jurídicas, políticas e sociais da atualidade.
 
Foi supervisor da comissão elaboradora do [[Código Civil brasileiro]] de 2002, cujo projeto foi posteriormente sancionado pelo [[Presidente do Brasil|presidente da República]] [[Fernando Henrique Cardoso]], tornando-se a Lei nº 10.406 de 2002, novo Código Civil, que entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003.
 
Miguel Reale teve atuação de relevo no campo da filosofia, tendo sido um dos fundadores da [[Academia Brasileira de Filosofia]]<ref>http://www.filosofia.org.br/mem.html</ref> e do Instituto de Filosofia Brasileira de [[Lisboa]], [[Portugal]]. Foi organizador de sete Congressos Brasileiros de Filosofia (1950 a 2002) e do VIII Congresso Interamericano de Filosofia ([[Brasília]], 1972), relator especial nos XII, XIII e XIV Congressos Mundiais de Filosofia ([[Veneza]], 1958; [[Cidade do México]], 1963; e [[Viena]], 1968), conferencista especialmente convidado pela [[Federação Internacional de Sociedades Filosóficas]] para os XVI e XVIII Congressos Mundiais ([[Düsseldorf]], [[Alemanha]], 1978; e [[Brighton]], [[Reino Unido]], 1988), e organizador e presidente do Congresso Brasileiro de Filosofia Jurídica e Social ([[São Paulo]], 1986, [[João Pessoa]], 1988 e [[Paraíba]], 1990).
 
É autor, entre outros, de ''Filosofia do Direito'' e de ''Lições Preliminares de Direito'', ''O Direito como Experiência'', ''Horizontes do Direito e da História'', ''Experiência e Cultura'', ''Nos Quadrantes do Direito Positivo'', ''Pluralismo e Liberdade'', todas obras clássicas do pensamento filosófico-jurídico brasileiro. Suas obras foram traduzidas para o italiano, o espanhol e o francês.
 
== Vida familiar ==
Foi casado com Filomena "Nuce" Pucci por 63 anos, com quem teve os filhos Ebe, Lívia Maria e Miguel.
 
Ebe Reale é historiadora formada pela Faculdade Sedes Sapientiae, da [[Pontifícia Universidade Católica de São Paulo]], autora de Dissertação de Mestrado sobre a História do Município de Pindamonhangaba e professora de "Cultura Brasileira" na Escola de Comunicações da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) na Capital paulista. É membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, tendo publicado 18 livros sobre a História de São Paulo.
 
Lívia Maria Reale Ferrari era formada em Línguas Neolatinas e foi casada com Antônio Carlos Ferrari, tendo o casal falecido jovem, em 1973, deixando três filhos menores que foram criados por Miguel e Nuce Reale.
 
[[Miguel Reale Júnior]], filho caçula de Miguel Reale, é advogado e professor, tendo ocupado o cargo de ministro da Justiça durante o governo [[Fernando Henrique Cardoso]].
 
== Cronologia ==
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**Fez parte, ao lado de [[Plínio Salgado]], [[Gustavo Barroso]], [[Roland Corbisier]], [[San Tiago Dantas]], do então padre [[Hélder Câmara]], de [[Goffredo da Silva Telles Júnior]] e de [[Alfredo Buzaid]], da [[Ação Integralista Brasileira]], movimento político nacionalista de terceira posição que teve destaque no cenário político brasileiro durante a década de 1930. Tal organização foi dissolvida durante o [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]], e ao término deste se reconfigurou sob o nome de Partido de Representação Nacional (PRP). Miguel Reale foi um dos fundadores da Ação Popular Sindicalista que confluiria posteriormente para a criação do [[Partido Social Progressista]], que elegeu [[Adhemar de Barros]] Governador do Estado de São Paulo.
*1934
**Bacharela-se em Direito pela [[Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo]]. No mesmo ano publica o primeiro livro, ''O Estado Moderno''.
*1940
**Lança sua tese ''Fundamentos do Direito'' (1940), onde monta as bases da sua versão da ''[[Teoria Tridimensional do Direito]]'', que se tornaria internacionalmente conhecida.
*1941
**Obtém titularidade tornando-se catedrático de [[Filosofia do Direito]], por concurso realizado em setembro de 1940, na [[Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo]],.
**Membro do Conselho Administrativo do Estado.(1942-1946)
*1947