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Reale passa a defender, no seio da AIB, uma posição própria, baseada no corporativismo democrático de [[Mihail Manoilescu]] na obra ''Le Siècle du Corporativisme'', negando a concepção fascista da corporação como "órgão do Estado", em prol das corporações como estrutura democrática com organização social autônoma. Segundo constata, "o Integralismo não se reduzia à doutrina seguida por Plinio Salgado, comportando variantes pessoais".<ref name=":2" /> Ele divide os teóricos integralistas em três tipos: "a maioria" seduzida pelos valores do nacionalismo ou da "reação espiritualista" no desempenho da vida política, como se dava sobretudo com [[Plínio Salgado]]; aqueles que davam mais importância aos problemas jurídico-políticos da organização da sociedade e do Estado, como era o caso dele; e "a reduzida minoria", à testa dos quais estava [[Gustavo Barroso]], "mais seduzidos pelos valores da Milícia, pela força-aliciadora e irracional dos símbolos, da camisa verde e do sigma, acentuando as diretrizes anticomunistas e anti-capitalistas, até o ponto de adotarem (...) o antissemitismo."<ref name=":4">REALE (tomo I, Cadernos da UnB) 1983, p. 9</ref>
 
Reale rejeita a comparação do Integralismo a regimes totalitários, constatando: "Tal estudo só será válido se forem superados certos preconceitos, o maior dos quais é a redução simplista do Integralismo a uma forma de Fascismo caboclo, ou mesmo de Nazismo. (...) Na realidade, o Integralismo surgiu como decorrência de vários fatores, uns internos, outros externos".<ref>REALE (tomo I, Cadernos da UnB) 1983, pp. 7-8</ref> Diz ainda: "O Integralismo, a meu ver, não surgiu como uma expressão de mimetismo de fenômenos como o fascismo e muito menos o nazismo. Inicialmente, o Integralismo foi uma meditação sobre os problemas brasileiros, o que se pode ver pela obra de Plínio Salgado (...) Tanto na sua obra literária como na sua atuação política, Plínio reflete a meditação sobre a obra de [[Alberto Torres]], [[Oliveira Viana|Oliveira Vianna]], [[Raimundo de Farias Brito|Farias Brito]], [[Aureliano Tavares Bastos|Tavares Bastos]], [[Euclides da Cunha]], que eram seus autores prediletos. De maneira que a sua formação inicial foi, digamos assim, [[Caboclo|cabocla]]. Aliás, sempre o considerei um grande caboclo, até pelo físico, pela maneira de ser."<ref>{{citar web|url=http://www.integralismolinear.org.br/site/mostrar_texto.asp?id=69#.WeOpMflSxac|titulo=MIGUEL REALE SOBRE O CHEFE NACIONAL|data=11/03/2013|acessodata=15/10/2017|publicado=Movimento Integralista e Linearista Brasileiro (MIL-B)|ultimo=|primeiro=}}</ref> Ainda contra as comparações ao nazismo, escreve, já nos seus últimos dias de vida: "Nada mais errôneo do que ligar a Ação Integralista Brasileira a Hitler, pois ela foi criada em outubro de 1932, quando a doutrina daquele líder alemão era praticamente desconhecida no Brasil."<ref name=":5">{{citar web|url=http://www.miguelreale.com.br/artigos/intrev.htm|titulo=O INTEGRALISMO REVISITADO|data=28/08/2004|acessodata=13/10/2017|publicado=|ultimo=|primeiro=|autor=Miguel Reale}}</ref> Sobre as externalidades, ele comenta: "Não se deve (...) olvidar que todos nós estávamos convictos de que (...) seria impossível arrancar o povo de seu torpor, graças apenas a frios raciocínios ou cálculos econômicos: tornava-se necessário carisma, ou seja, o recurso a valores emocionais aliciantes, o que era, de resto, traço comum a unir os dois grandes grupos em confronto (Fascismo, lato sensu, e Comunismo) com a força de suas doutrinas e de seus emblemas, gestos e bandeiras."<ref name=":4" />
{{Quote|texto=Em primeiro lugar, não se pode recusar aos integralistas vivência dos problemas brasileiros, situando-se no contexto de nossas circunstâncias. Nesse sentido, cabe-lhes a responsabilidade de terem tirado as consequências lógicas das críticas feitas pelos mais lúcidos intérpretes da sociedade brasileira da época, os quais reclamavam uma reforma de fundo, baseada numa visão realista de nossas coisas, liberta dos reiterados vícios de uma vida política miúda e pequenina, tanto no plano mais alto das chamadas elites, como entre as camadas populares.|autor=Reale, prefaciando a reedição de suas obras integralistas pela UnB em 1982.}}
Nos anos em que militou no movimento, Reale publicou várias obras integralistas. Sua estreia data de 1934, ano de sua graduação, quando publica ''O Estado Moderno''. ''"Foi esse, dentre todos os meus livros, o que logrou mais repercussão, fato explicável não só pela atualidade dos temas versados como por seu caráter polêmico".'' Antes disso, porém, já havia publicado o pequeno ''Posição do Integralismo'' (04/1933), que chegou a ser considerado "documento complementar do famoso Manifesto de Outubro".<ref>REALE (tomo I, Cadernos da UnB) 1983, p. 6</ref> Publica também as seguintes obras: A ''Política Burguesa'' (1934); ''Formação da Política Burguesa'' (1935); ''ABC do Integralismo'' (1935); ''Perspectivas Integralistas'' (1935); ''O Capitalismo Internacional'' (1936); ''Atualidades Brasileiras'' (1936);<ref>{{citar web|url=http://www.integralismo.org.br/?cont=109|titulo=MIGUEL REALE|data=|acessodata=13/10/2017|publicado=Frente Integralista Brasileira|ultimo=|primeiro=}}</ref> e ''Atualidades de um mundo antigo'' (1936).<ref>REALE (tomo I, Caderno da UnB) 1983.</ref>
 
{{Quote|texto=Foi dito que ele [Plínio Salgado] era um intelectual e acho que se manteve um intelectual até o fim. (...) Plínio Salgado era um político de cultura muito superior ao usual nos meios partidários. Cultura literária, filosófica e política. Era um temperamento irrequieto, um feixe de nervos, e com uma intuição fora do comum. (...) Prevalecia nele um poder de intuição próprio do brasileiro. Intuição dos problemas sociais, políticos e uma grande capacidade de apostolado. Foi sobretudo um homem que mobilizava inteligências e a opinião pública, capaz de falar tanto ao intelectual como ao homem do povo, porquanto sua palavra vinha carregada de afetividade e sentimento. Jamais acreditou na direção do país tão-somente com idéias puras, ou seja, com idéias apenas através de conceitos. E sentia a necessidade de governar lançando mão também dos elementos de comunicação, que envolvem sem dúvida aspectos afetivos. Era inegavelmente um homem que tinha uma dedicação à causa brasileira que não pode ser contestada. (...) Essa é a imagem que guardo de Plínio Salgado: um autodidata que passou do plano literário para o plano político sem solução de continuidade. Toda a sua doutrina política está nos seus romances. Se fizermos uma análise de sua obra literária, verificaremos como o literato passou de uma atitude puramente estética para outra de caráter político. Apesar de toda essa apresentação que corre por aí de um homem violento, Plínio Salgado no fundo era um tímido, e os que conviveram com ele sabem disso. Posso dizer-lhes que o Integralismo se preparou para tudo, menos para a conquista violenta do poder.|autor=Miguel Reale sobre Plínio Salgado em entrevista a 14 de maio de 1978. Reprodução do Movimento Integralista e Linearista Brasileiro (MIL-B).}}
Em 1933, tenta, sem sucesso, concorrer pela AIB a uma vaga na Assembleia Nacional Constituinte, que definiria a [[Constituição brasileira de 1934]].<ref name=":6" /> Em 1936, por motivos jamais plenamente esclarecidos, é afastado do cargo de Secretário Nacional de Doutrina da Ação Integralista Brasileira, fundando em outubro o jornal ''Ação''. O ''Ação'' se empenhou em todas as numerosas campanhas nacionalistas daquele tempo, incluindo aquela em favor da extração nacional do petróleo, apoiando entusiasticamente a campanha de [[Monteiro Lobato]].<ref name=":3" /><ref name=":6" />
 
Nos anos em que militou no movimento, Reale publicou várias obras integralistas. Sua estreia data de 1934, ano de sua graduação, quando publica ''O Estado Moderno''. ''"Foi esse, dentre todos os meus livros, o que logrou mais repercussão, fato explicável não só pela atualidade dos temas versados como por seu caráter polêmico".'' Antes disso, porém, já havia publicado o pequeno ''Posição do Integralismo'' (04/1933), que chegou a ser considerado "documento complementar do famoso Manifesto de Outubro".<ref>REALE (tomo I, Cadernos da UnB) 1983, p. 6</ref> Publica também as seguintes obras: A ''Política Burguesa'' (1934); ''Formação da Política Burguesa'' (1935); ''ABC do Integralismo'' (1935); ''Perspectivas Integralistas'' (1935); ''O Capitalismo Internacional'' (1936); ''Atualidades Brasileiras'' (1936);<ref>{{citar web|url=http://www.integralismo.org.br/?cont=109|titulo=MIGUEL REALE|data=|acessodata=13/10/2017|publicado=Frente Integralista Brasileira|ultimo=|primeiro=}}</ref> e ''Atualidades de um mundo antigo'' (1936).<ref>REALE (tomo I, Caderno da UnB) 1983.</ref>
 
Em 1933, tenta, sem sucesso, concorrer pela AIB a uma vaga na Assembleia Nacional Constituinte, que definiria a [[Constituição brasileira de 1934]].<ref name=":6" /> Em 1936, por motivos jamais plenamente esclarecidos, é afastado do cargo de Secretário Nacional de Doutrina da Ação Integralista Brasileira, fundando em outubro o jornal ''Ação''. O ''Ação'' se empenhou em todas as numerosas campanhas nacionalistas daquele tempo, incluindo aquela em favor da extração nacional do petróleo, apoiando entusiasticamente a campanha de [[Monteiro Lobato]].<ref name=":3" /><ref name=":6" />{{Quote|texto=Em primeiro lugar, não se pode recusar aos integralistas vivência dos problemas brasileiros, situando-se no contexto de nossas circunstâncias. Nesse sentido, cabe-lhes a responsabilidade de terem tirado as consequências lógicas das críticas feitas pelos mais lúcidos intérpretes da sociedade brasileira da época, os quais reclamavam uma reforma de fundo, baseada numa visão realista de nossas coisas, liberta dos reiterados vícios de uma vida política miúda e pequenina, tanto no plano mais alto das chamadas elites, como entre as camadas populares.|autor=Reale, prefaciando a reedição de suas obras integralistas pela UnB em 1982.}}Mesmo após deixar a militância, Miguel Reale se manteve para sempre fiel aos princípios do pensamento integralista. Reale continuou atento à ''visão integral da realidade e dos problemas'' e à mesma ''concepção integral de história.'' Sua principal contribuição ao pensamento jurídico e filosófico brasileiro, a ''[[teoria tridimensional do direito]]'', pode ser também designada ''teoria integral do direito'', nome, aliás, sugerido pelo próprio para que Javier García Medina a designasse. Permaneceu igualmente fiel à doutrina do Estado Ético tal como proposta pelo Integralismo. Nas palavras do [[Tristão de ataíde|Tristão de Ataíde]], "a tentação da integralidade sempre foi uma nota dominante na personalidade de Miguel Reale, desde 1934, data em que iniciou sua monumental obra filosófica, a mais importante sem dúvida do movimento filosófico contemporâneo".<ref name=":3" />
 
Suas obras integralistas foram reeditadas pela [[Universidade de Brasília]] em 3 tomos a 1983, ao lado dos artigos ''A crise da liberdade'', ''Amor à liberdade'', ''Nós e os fascistas da Europa'' e ''Corporativismo e unidade nacional''.<ref>REALE (tomo III, Cadernos da UnB) 1983</ref> Em 2004, durante seus últimos anos de vida, publica, em seu site, o artigo "O Integralismo revisitado", revoltado com a seguinte situação: "Duas novelas ou mini-séries da TV GLOBO, a pretexto de apresentar o cenário ideológico vigente na primeira metade do século passado, fizeram referência ao Integralismo fundado por Plinio Salgado, mas com manifesta má fé, como é hábito dos chamados 'esquerdistas', até o ponto de apresentá-lo como simples variante do hitlerismo, com gangues atuantes com deliberada e constante violência."<ref name=":5" /> Na atualidade, a [[Frente Integralista Brasileira]] se afirma sucessora legítima da Ação Integralista Brasileira.