Império Bizantino: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 1:
{{Info/Império Bizantino}}
 
O '''Império Bizantino''' foi a continuação do [[Império Romano]] na [[Antiguidade Tardia]] e [[Idade Média]]. Sua capital, [[Constantinopla]] (modernaatual [[Istambul]]), originalmente era conhecida como [[Bizâncio]]. Inicialmente parte oriental do Império Romano{{sfn|name=Hal1999|Halsall|1999}} (frequentementecomumente chamada de '''Império Romano do Oriente''' no contexto), sobreviveu à fragmentação e ao colapso do [[Império Romano do Ocidente]] no {{séc|V}} e continuou a prosperar, existindo por mais de mil anos até [[Queda de Constantinopla|sua queda]] diante da expansão dos [[turcos otomanos]] em [[1453]]. Foi conhecido simplesmente como '''Império Romano''' ({{Langx|el|Βασιλεία τῶν Ῥωμαίων||''Basileía tôn Rhōmaíōn''}}; {{langx|la|''Imperium Romanum''}}) ou '''România''' ({{langx|el|Ῥωμανία|nome|''Rhōmanía''}}) por seus habitantes e vizinhos.
 
Como a distinção entre o ''Império Romano'' e o ''Império Bizantino'' é em grande parte uma convenção moderna, não é possível atribuir uma data de separação. Vários eventos do {{séc|IV}} ao {{séc|VI}} marcaram o período de transição durante o qual as metades oriental e ocidental do Império Romano se dividiram.{{sfn|Treadgold|1997|p=847}} Em 285, o imperador [[Diocleciano]] {{nwrap|r.|284|305}} dividiu a administração imperial em duas metades. Entre 324 e 330, [[Constantino]] {{nwrap|r.|306|337}} transferiu a capital principal de [[Roma]] para Bizâncio, conhecida mais tarde como Constantinopla ("Cidade de Constantino") e Nova Roma.{{notaNT|A referência ao nome "Nova Roma" aparece pela primeira vez num documento oficial do [[Primeiro Concílio de Constantinopla]] (381), onde é usado para justificar a afirmação de que a sé patriarcal de Constantinopla é precedida apenas por aquela de Roma.{{sfn|Benz|1963|p=176}}}} Sob {{lknb|Teodósio|I}} {{nwrap|r.|379|395}}, o [[cristianismo]] tornou-se a [[religião estatal do Império Romano|religião oficial do império]] e, com sua morte, o Estado romano dividiu-se definitivamente em duas metades, cada qual controlada por um de seus filhos. E finalmente, sob o reinado de [[Heráclio]] {{nwrap|r.|610|641}}, a administração e as [[Exército bizantino|forças armadas]] do império foram reestruturadas e o grego foi adotado em lugar do latim. Em suma, o Império Bizantino se distingue da [[Roma Antiga]] na medida em que foi orientado à cultura grega em vez da latina e caracterizou-se pelo [[Igreja Ortodoxa|cristianismo ortodoxo]] em lugar do [[politeísmo romano]].{{sfn|name=Millar15|Millar|2006|p=2; 15}}{{sfn|Ostrogorsky|1969|p=27}}{{sfn|Kaldellis|2008|p=2-3}}{{sfn|Kazhdan|1982|p=12}}{{sfn|Norwich|1998|p=383}}
Linha 346:
{{AP|Igreja estatal do Império Romano}}
 
[[Imagem:Clasm Chludov.jpg|thumb|esquerda|Página do [[Saltério Chludov]] criticando a [[iconoclastia]]. No fundo há uma representação da crucificação de [[Jesus]] no [[Gólgota]]. O artista compara os soldados romanos maltratando Jesus com os patriarcas iconoclastas [[João Gramático]] e o {{lknb|Antônio|I|de Constantinopla}}, destruindo o [[ícone]] de [[Cristo]]]]
 
A sobrevivência do Império Romano do Oriente assegurou um papel ativo do imperador em assuntos da Igreja. O Estado bizantino herdou dos [[Religião na Roma Antiga|tempos pagãos]] os procedimentos administrativos e financeiros dos assuntos religiosos — o imperador romano era o [[pontífice máximo]] (''pontifex maximus'') — e esses procedimentos foram aplicados à [[Igreja Cristã]]. Seguindo o padrão estabelecido por [[Eusébio de Cesareia]], os bizantinos viam o imperador como um representante ou mensageiro de [[Jesus Cristo]], responsável, em particular, pela propagação do cristianismo entre os pagãos e pelos temas que não se relacionavam diretamente à doutrina, como administração e finanças. A busca pela unificação das crenças, costumes e ritos deem todo o império e a hierarquia eclesiástica foram dois fatores essenciais que legitimaram o poder do imperadorimperial assim como a centralização do Estado: como [[Cyril Mango]] aponta, o pensamento político bizantino pode ser resumido no lema "Um Deus, um império, uma religião".{{sfn|name=Mango108|Mango|2007|p=108}} No entanto, o papel imperial nos assuntos da Igreja nunca se desenvolveu num sistema fixo legalmente definido.{{sfn|Meyendorff|1982|p=13}} Com o declínio de Roma e a dissenção externa nos outros [[Pentarquia|Patriarcados do Oriente]] ([[Patriarca de Antioquia|Antioquia]], [[Patriarca de Alexandria|Alexandria]] e [[Patriarca de Jerusalém|Jerusalém]]), a Igreja de Constantinopla tornou-se, entre oos séculos {{séc|VI}} e o {{séc|XI}}, o mais influente e rico centro da cristandade.{{sfn|Meyendorff|1982|p=19}} Mesmo quando o império foi reduzido paraa apenas uma sombra de seu esplendor, a Igreja continuou a exercer influência significativa tanto dentro como fora das fronteiras imperiais. Como [[George Ostrogorsky]] aponta:
 
{{Citação2|O [[Patriarcado Ecumênico de Constantinopla|Patriarcado de Constantinopla]] permaneceu o centro do mundo ortodoxo, com [[sé metropolitana|sés metropolitanas]] subordinadas e [[arcebispo|arcebispados]] no território da [[Ásia Menor]] e nos [[Bálcãs]], regiões na época perdidas paraao BizâncioImpério Bizantino, bem como no [[Cáucaso]], [[Principado de Rus'|Rússia]] e [[Grão-Ducado da Lituânia|Lituânia]]. A igreja continuou a ser o elemento mais estável do Império Bizantino.'{{sfn|Meyendorff|1982|p=130}}}}
 
A doutrina cristã oficial do Estado foi determinada pelos [[primeiros sete concílios ecumênicos]] e o imperador tinha o dever de impô-la a seusaos súditos. Um decreto imperial de 388, que foi depois incorporado no [[Código de Justiniano]], ordenava que a população do império "assumisse o nome dosde cristãos católicos" e considerava quedeclarava todos os que não cumprissem a lei seriamcomo "pessoas loucas e tolas", seguidoresseguidoras de "[[dogma]]s [[Heresia|heréticos]]".<ref name=Mango108 /> Apesar dos decretos imperiais e da postura rigorosa da [[Igreja estatal do Império Romano|Igreja do Estado]], que passou a ser conhecida comochamar-se "Igreja Ortodoxa", ela nunca representou todos os cristãos do império. Mango acredita que, nos estágios iniciais do império, as "pessoas loucas e tolas", justamente os rotulados como "hereges" pela Igreja do Estado, constituíam a maioria da população.{{sfn|Mango|2007|p=108–109}} Além de pagãos, que existiram até o final do {{séc|VI}}, e de [[judeus]], havia muitos seguidores — muitas vezes os imperadores — de várias doutrinas cristãs, como o [[nestorianismo]], [[monofisismo]], [[arianismo]] e [[paulicianismo]], cujoscujas ensinamentosdoutrinas de algumaalgum formamodo se opunham àao doutrinacânone teológicateológico "ortodoxaortodoxo" estabelecidaestabelecido pelosnos concílios ecumênicos.{{sfn|Mango|2007|p=108–109, 115–125}} Outra divisão entre os cristãos ocorreu quando {{lknb|Leão|III, o Isauro}} {{nwrap|r.|717|741}} ordenou a destruição dos [[ícone]]s em todo o império, o que provocou uma [[Iconoclastia|crise religiosa significativa]] que só terminou em meados do {{séc|IX}} com a [[Triunfo da Ortodoxia|restauração dos ícones]]. Durante oNesse mesmo período, uma nova onda de pagãos emergiu nos Bálcãs, proveniente principalmente dos povos eslavos. EstesEles foram gradualmente cristianizados e, durante estágios finais dedo Império BizâncioBizantino, a Ortodoxia passou a representar a maioria dos cristãos no que restava do império.{{sfn|Mango|2007|p=115–125}}
 
Depois da [[reconquista de Constantinopla]] em 1261, duas controvérsias religiosas dominaram a [[agenda política]] do império. A [[controvérsia hesicasta|hesicasta]], que contrastava uma abordagem mística da religião, tipicamente defendida pelos monges e pela população, com outra, mais racional e intelectualizada, influenciada pelo [[aristotelismo]] ocidental, defendida pela aristocracia e pelos que defendiam a união com a sé de Roma.{{sfn|Meyendorff|1987|p=73}}{{sfn|Meyendorff|1974|p=84}}{{sfn|Runciman|1986|p=146}} A vitória dos [[hesicasmo|hesicastas]] foi mais umaa reafirmação do sentimento antilatino entre os ortodoxos.{{sfn|Treadgold|1997|p=815}} Mais ampla, a controvérsia sobre a reunião das igrejasIgrejas, principalmente a "[[União das Igrejas]]" durante o [[Segundo Concílio de LyonLião]] (1275) e a "[[União de Florença]]" no [[Concílio de Florença]] (1437),{{sfn|Essen|1913}} dominou o debate teológico e foi utilizada pelos imperadores como "moeda de troca" para conseguir a ajuda do ocidenteocidental contra a ameaça islâmica.<ref name=Mango257 />{{NotaNT|1=''"Furthermore, the growing power of the Turks was a menace not alone to the existence of the Eastern Empire but to the whole of Europe, and made it imperative upon the Christian princes to abandon their internecine strife and unite with the Greeks in defence of their common Christianity agains the power of Islam"''. {{1913CE|Council of Basle}}
 
Tradução: Além do mais, o poderio crescente dos turcos era uma ameaça não só à existência do Império Oriental mas para toda a Europa, e tornava imperativo o abandono por parte dos príncipes cristãos dos seus conflitos mortíferos e a sua união com os gregos na defesa do seu cristianismo comum contra o poder do islã.}}
 
Os judeus foram uma minoria significativa no Estado bizantino ao longo de sua história e, de acordo com a lei romana, constituíam um grupo religioso legalmente reconhecido. No período inicial bizantino, eles foram geralmente tolerados, mas depois ocorreram períodos de tensões e perseguições (como a [[Revolta judaica contra Heráclio]]). De qualquer forma, após as conquistas árabes, a maioria dos judeus se viu fora do império; aqueles que ficaram dentro das fronteiras bizantinas aparentemente viveram em relativa paz a partir do {{séc|X}}.{{sfn|Mango|2007|p=111-114}}
 
== Língua ==