Império Bizantino: diferenças entre revisões

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Seção sobre recreação
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{{lknb|Nicéforo|I, o Logóteta}} {{nwrap|r.|802|811}}, por não reconhecer Carlos Magno como imperador, causou a deterioração nas relações externas entre bizantinos e francos, o que provocou uma guerra por [[Veneza]] entre 806-810. A consequente [[Paz de Nicéforo]] acordou que o Ducado de Veneza pertenceria explicitamente aos domínios bizantinos,{{sfn|Lane|1973|p=5}} enquanto a [[Croácia Dálmata]], com exceção das ilhas e cidades bizantinas, pertenceria aos francos.{{sfn|Dzino|2010|p=183}}
 
Sob liderança de [[Crum da Bulgária|Crum]] {{nwrap|r.|803|811}}, a ameaça búlgara reapareceu: cidades como [[Cerco de Sérdica (809)|Sérdica]] (atual [[Sófia]]) {{sfn|Boinodiris|2004|p=84}} e [[Cerco de Adrianópolis (813)|Adrianópolis]]{{sfn|Runciman|1930|p=64-65}} foram sitiadas e tomadas, enquanto em [[Batalha de Plisca|Plisca]] (811){{sfn|KazhdanHollingsworth|1991|p=1362}} e [[Batalha de Versinícia|Versinícia]] (813){{sfn|Zlatarski|1971|p=268-269}} o império foi decisivamente derrotado; em 814, o filho de Crum, [[Omurtague da Bulgária|Omurtague]] {{nwrap|r.|814|831}}, negociou a paz.{{sfn|Treadgold|1997|p=432–433}} Aproveitando as revoltas de {{lknb|Tomás,|o Eslavo}} e [[Eufêmio (Sicília)|Eufêmio]] na década de 820, o [[Califado Abássida]] capturou [[Emirado de Creta|Creta]] em 824, enquanto o [[Emirado Aglábida]] [[Conquista muçulmana da Sicília|atacou]] a [[Tema da Sicília|Sicília]], sitiando [[Cerco de Siracusa (827-828)|Siracusa]] e conquistando [[Palermo]] (831);{{sfn|Haldon|2002|p=20}} [[Amório]], na Anatólia, foi [[Saque de Amório|destruída]] pelos abássidas em 838.{{sfn|Treadgold|1988|p=303}}{{sfn|Rekaya|1977|p=64}}{{sfn|Ivison|2007|p=31, 53}}{{sfn|Vasiliev|1935|p=170–172}} Porém, através de operações militares dos imperadores [[Teófilo (imperador)|Teófilo]] {{nwrap|r.|829|842}} e {{lknb|Miguel|III, o Ébrio}} {{nwrap|r.|842|867}}, o Império Bizantino conquistou as cidades de [[Tarso]] (831), [[Melitene]] e [[Arsamosata]] (837), destruiu [[Sozópetra]] (837){{sfn|Vasiliev|1935|p=141}}{{sfn|Treadgold|1997|p=440}} e derrotou decisivamente os árabes em [[Batalha de Lalacão|Lalacão]] (863).{{sfn|Vasiliev|1935|p=255-256}}
 
A remoção da ameaça do leste e o aumento da confiança dos bizantinos abriu novas oportunidades no oeste, onde o cã {{lknb|Bóris|I|da Bulgária}} {{nwrap|r.|852|889}} vinha negociando com o [[papa]] e {{lknb|Luís,|o Germânico}}, {{nwrap|r.|817|876}} para uma possível conversão pessoal e de seu povo ao [[cristianismo]]. Esta expansão da influência eclesiástica de [[Roma]] até perto de Constantinopla não poderia ser tolerada pelo governo bizantino. Em 864, os exércitos orientais vitoriosos foram transferidos à Europa e invadiram a Bulgária, numa demonstração de poderio militar que convenceu Bóris a aceitar missionários. O rei búlgaro foi batizado, assumindo o nome de Miguel em honra ao imperador, iniciando a [[cristianização da Bulgária]] e assegurando que seu país estaria sob influência da [[Igreja Ortodoxa|Igreja bizantina]].{{sfn|Jenkins|1987|p=163}}{{sfn|Treadgold|1997|p=452}}{{sfn|Whittow|1996|p=282–284}}
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[[Imagem:John the Grammarian as ambassador before Theophilos and Mamun.jpg|thumb|upright=1.2|esquerda|Embaixada de [[João, o Gramático]] em 829, entre o imperador [[Teófilo (imperador)|Teófilo]] {{nwrap|r.|829|842}} e o [[califa abássida]] [[Almamune]] {{nwrap|r.|813|833}}]]
 
Após a [[Queda do Império Romano do Ocidente|queda do Ocidente]], o principal desafio ao Império Bizantino era manter relações entre si e seus vizinhos. Quando essas nações forjaram instituições políticas formais, muitas vezes se basearam nas de [[Constantinopla]]. A [[diplomacia]] conseguiu atrair rapidamente seus vizinhos numa rede de relações internacionais interestatais.{{sfn|Neumann|2006|p=869–871}} Ela se baseava em tratados, que incluíam a integração do novo líder na família dos reis e assimilação de hábitos sociais, valores e instituições bizantinas.{{sfn|Chrysos|1992|p=35}} Enquanto os escritores clássicos faziam distinções éticas e legais entre paz e guerra, os bizantinos consideravam a diplomacia como forma de guerra alternativa.{{sfn|Antonucci|1993|p=11–13}} A [[Igreja Ortodoxa]] também teve seu papel, e a propagação do cristianismo era objetivo diplomático importante do império.{{sfn|KazhdanOikonomides|1991|p=634-635}}
 
A diplomacia era entendida como tendo função de recolha de informações, além da função puramente política. O [[Gabinete dos Bárbaros]] da capital lidava com questões de protocolo e registro de todas as questões sobre "[[bárbaros]]" e talvez incluía, assim, um serviço básico de informações (inteligência).{{sfn|Seeck|1876|p=31–33}} [[John Bagnell Bury|Bury]] acredita que o gabinete supervisionava sobre todo estrangeiro que visitava a capital e estava sob supervisão do [[logóteta do dromo]].{{sfn|Bury|1911|p=93}} Apesar de aparentemente ser um organismo protocolar — sua principal missão era garantir que emissários fossem adequadamente tratados e recebessem fundos suficientes do Estado para sua manutenção, e a ele pertenciam todos os tradutores oficiais — provavelmente tinha também função de segurança. O ''Tratado sobre Estratégia'', do {{séc|VI}}, aconselhava sobre embaixadas estrangeiras: "[emissários] que nos são enviados devem ser recebidos com honra e generosidade, pois todos mantêm-os em alta estima. Seus membros, porém, devem ser mantidos sob vigilância para impedir que obtenham quaisquer informações por meio de perguntas sobre nosso povo".{{sfn|Dennis|1985|p=125}}
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[[Imagem:Byzantine Trebuchet Skylintzes.jpg|thumb|upright=1.2|esquerda|[[Iluminura]] do ''[[Escilitzes de Madri]]'' representando um [[cerco]] bizantino a uma [[cidadela]]]]
 
O exército bizantino foi um continuação do seu [[Exército romano|antecessor romano]]. Sua história como força independente remonta às reformas do início do {{séc|IV}}, quando as [[Legião romana|legiões]] foram trocadas por [[milícia]]s locais fronteiriças ([[limítanes]]) e exércitos campais móveis ([[comitatenses]]) que guarneceram o império.{{sfn|KazhdanMcGear|1991|p=183}} Nos séculos V e VI, oficiais chamados [[mestre dos soldados|mestres dos soldados]] foram nomeados para algumas das principais fronteiras do império e sob seu comando estavam as forças nativas e aquelas dos [[federados (Roma Antiga)|federados]], os bárbaros sob proteção bizantina; mercenários estrangeiros, os chamados símocos (''symmochoi''), foram por vezes contratados como unidades separadas controladas por seus próprios comandantes. Nesses mesmos séculos, como descrito no ''[[Strategicon (Maurício I)|Strategicon]]'' de {{lknb|Maurício|I}} {{nwrap|r.|582|602}}, o método de guerra passou por uma transição na qual regimentos de [[arqueiro]]s e [[cavaleiro]]s foram valorizados, imitando as práticas [[Império Sassânida|persas]] e [[Caganato Ávaro|avares]].{{sfn|name=Kazh185Mc185|KazhdanMcGear|1991|p=184-185}}
 
Rebeliões internas e derrotas nas fronteiras perante as investidas estrangeiras no final do {{séc|VI}} e começo do VII levaram a rápido decréscimo dos efetivos imperiais que, embora tenham sido reorganizados em 628 sob [[Heráclio]] {{nwrap|r.|610|641}}, estiveram na origem de inúmeras derrotas frente aos ataques [[Expansão muçulmana|árabes]], [[lombardos]] e [[Primeiro Império Búlgaro|búlgaros]] nos séculos VII e VIII. Para fazer face a crise militar, foi elaborada nova reestruturação: estabeleceram-se distritos militares ([[Tema (distrito bizantino)|temas]]) onde estacionaram grupos armados que recebiam propriedades em troca de serviços. Estes exércitos, conquanto relativamente eficazes contra invasões, pois eram recrutados e mantidos localmente, apresentavam problemas de prontidão, mobilidade, rapidez de ação e coordenação em campanha, frequentemente carecendo de disciplina e habilidade militar e eram propensos a rebeliões. Isto levou o imperador {{lknb|Constantino|V Coprônimo}} {{nwrap|r.|741|745}} a dissolver o [[Tema Opsiciano|exército opsiciano]], que constituía a força de campo imperial, e criou novas unidades conhecidas como [[Tagma (militar)|tagmas]], que tiveram bases em Constantinopla ou cercanias. As unidades tagmáticas foram melhor equipadas e no {{séc|IX}} participaram em expedições com os exércitos temáticos.<ref name=Kazh185Mc185 />
 
Nos séculos X e XI, de acordo com o que os documentos do período indicam, os imperadores soldados {{lknb|Nicéforo|II|Focas}} {{nwrap|r.|963|969}} e {{lknb|Basílio|II|Bulgaróctone}} {{nwrap|r.|976|1025}} fizeram reformas, usando mais unidades pesadas como os [[catafractário]]s e novas táticas que uniam [[infantaria]] e [[cavalaria]] em batalha ou campanha, elevando a eficiência militar e permitindo reconquistar muitos territórios antes perdidos a árabes e búlgaros. Outrossim, a composição e estrutura começaram a mudar: o comando foi centralizado na capital, as unidades temáticas e tagmáticas foram substituídas por novos contingentes que foram alojados nas províncias e efetivos mercenários ([[guarda varegue]] e [[normandos]]) tornaram-se preponderantes. Sob {{lknb|Manuel|I Comneno}} {{nwrap|r.|1143|1180}}, os bizantinos tentaram imitar as táticas e [[panóplia]] ocidentais, o que não teve bons resultados. Os [[Império de Niceia|imperadores de Niceia]] desenvolveram as tradições adotadas por Manuel e lograram criar exércitos mercenários ([[cumanos]], turcos, ocidentais) que, embora pequenos, eram eficientes. Sob os imperadores paleólogos, as últimas unidades de soldados-camponeses foram desmanteladas e o organização do [[serviço militar]] a nível local passou a estar a cargo dos proprietários de terras, uma vez que o poder central já não tinha mais capacidade para manter forças terrestres e marítimas substanciais.<ref name=Kazh185Mc185 />
 
=== Marinha ===
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A marinha, tal como o exército, foi uma continuação de sua [[Marinha romana|correspondente romana]], porém mais importante.{{sfn|Lewis|1985|p=20}}{{sfn|Scafuri|2002|p=1}} No início do {{séc|IV}}, devido à não ocorrência de grande operações navais, as [[esquadra naval|esquadras]] imperiais eram compostas de navios relativamente pequenos que dedicavam-se quase exclusivamente a missões de policiamento e [[escolta]]. Com as guerras civis do final do {{séc|IV}} e começo do V, contudo, a atividade naval foi retomada e as frotas foram usadas sobretudo no transporte de tropas,{{sfn|Pryor|2006|p=7}}, mas só a partir do {{séc|VI}}, sob {{lknb|Anastácio|I|Dicoro}} {{nwrap|r.|491|518}}, o império possuiria frota fixa.{{sfn|Gardiner|2004|p=90}} Sob [[Justiniano]] {{nwrap|r.|527|565}} e [[Justino II]] {{nwrap|r.|565|578}}, a frota anastasiana foi aperfeiçoada e transformou-se numa força profissional bem treinada.{{sfn|Gardiner|2004|p=91}} Durante o {{séc|VI}}, desde as invasões árabes, foi necessário recompor as tropas imperiais para enfrentarem os novos inimigos. A marinha foi reorganizada aos moldes do sistema de temas, e estabeleceu-se a frota dos [[carabisianos]] ({{langx|el|Καραβισιάνοι||''Karabisianoi''|"os homens dos navios"}}) que foi a correspondente dos tagmas que constituíam o exército.{{sfn|Ahrweiler|1966|p=22}}
 
No {{séc|VIII}}, quando os carabisianos mostraram-se ineficientes diante das investidas árabes, a marinha passou por nova reforma, com as mudanças perdurando até o começo do {{séc|XI}} com pequenas alterações: uma frota imperial central baseada na capital, um pequeno número de grandes comandos navais regionais, tanto temas marítimas como comandos independentes chamados "drungariados", e um número maior de esquadras locais encarregadas de tarefas puramente defensivas e policiamento, subordinadas aos governadores provinciais.{{sfn|Ahrweiler|1966|p=31–35}} Após o declínio da marinha no {{séc|XI}}, {{lknb|Aleixo|I|Comneno}} {{nwrap|r.|1081|1118}} reconstruiu-a em moldes diferentes: uma frota imperial unificada foi estabelecida sob o comando do posto então criado de [[mega-duque]], substituindo assim o [[estratego]]; o [[grande drungário]], anteriormente o comandante geral naval, foi rebaixado a subordinado do mega-duque, atuando como seu principal ajudante.{{sfn|Haldon|1999|p=96}}{{sfn|Kazhdan|1991|p=1330663–664}} A partir do final do {{séc|XII}}, embora haja registros de uma frota, o império tornou-se cada vez mais dependente das frotas italianas provenientes de [[República de Veneza|Veneza]] e [[República de Gênova|Gênova]].{{sfn|Nicol|1993|p=16}}{{sfn|Bartusis|1997|p=39}} Sob {{lknb|Miguel|VIII Paleólogo}} {{nwrap|r.|1259|1282}} foram formadas novas unidades visando reduzir a dependência imperial dos navios estrangeiros,{{sfn|Nicol|1993|p=42}}{{sfn|Bartusis|1997|p=44-45}}{{sfn|Geanakoplos|1959|p=126–127}} e estas perdurariam ao longo dos últimos séculos do império.{{sfn|Heath|1995|p=17}}
 
== Economia ==
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A arte é quase inteiramente centrada na expressão religiosa e, notadamente, na tradução impessoal da [[teologia]] da Igreja cuidadosamente controlada em termos artísticos. Foi muito influenciada pela [[Arte e cultura clássicas|arte]] da [[Antiguidade Clássica]] e pela alegoria oriental, mantendo, a despeito da influência oriental, forte uniformidade da tradição clássica ao longo de sua história. A partir do {{séc|VI}} a arte começou a distanciar-se da produzida nas regiões do antigo [[Império Romano do Ocidente|Império Ocidental]]. Alcançou seu [[Renascença macedónica|apogeu]] sob a [[dinastia macedônica]] {{nwrap||886|1056}} e declinou com a [[Queda de Constantinopla]] em 1453.{{sfn|name=Gie1913|Gietmann|1913}} Foi muito prestigiosa e procurada na Europa Ocidental, mantendo influência na arte medieval até perto do final do período; tal era o caso na [[Península Itálica|Itália]], onde seus estilos persistiram de forma modificada ao longo do {{séc|XII}} e tornaram-se influências formativas na [[Renascença italiana|arte renascentista]]. Com a expansão da Igreja Ortodoxa, suas formas e estilos espalharam-se para todo o mundo ortodoxo e além.{{sfn|Weitzmann|1981|loc=cáps. II-VII}}{{sfn|Rice|1968|loc=cap. XV-XVII}}{{sfn|Evans|1997|p=389-555}}
 
Devido as importantes jazidas de [[mármore]] próximo a capital, desenvolveu-se no Império Bizantino, e sobretudo na [[Ásia Menor]], forte tradição artística de trabalho em pedra. Desde a Antiguidade o Oriente teve tradição na produção de artes menores{{notaNT|Por arte menor identifica-se toda produção artística diferente de arquitetura, pintura, escultura, desenho e gravura.<ref name=Minor />}} que foi mantida pelos bizantinos. Em Constantinopla floresceram, a par da escultura decorativa, os trabalhos com pedra, metal (como [[bronze]] ornamental), [[marfim]], [[esmalte]] e [[tecelagem]]; além desses, destaca-se na arte a pintura em [[afresco]], [[manuscrito]]s [[Iluminura|iluminados]], [[mosaico]]s e painéis.<ref name=Gie1913 /> Na [[arquitetura bizantina|arquitetura]], outra área de grande florescimento, nota-se tradição de construção geralmente associada com a história do [[Império Romano Tardio]] e do próprio Império Bizantino, que estendeu-se com maior esfera de influência no período que decorre entre 300 e 1450 e desafiou uma definição convencional compreensiva sobre bases geográficas, culturais, cronológicas e estilísticas.{{sfn|KazhdanCurchic|1991|p=157}}
 
A literatura tem influências de quatro elementos culturais: grego, romano, cristão e oriental. Seus autores são comumente classificados em cinco grupos: historiadores e analistas, enciclopedistas ([[Fócio]], [[Miguel Pselo]] e [[Nicetas Coniates]] são tidos como maiores enciclopedistas) e [[Ensaio|ensaístas]], escritores de [[poesia]] secular (sua única obra [[Épico (género)|épica]] é ''[[Digenis Acritas]]''), escritores de poesia popular e literatos eclesiásticos.{{sfn|Mango|2007|p=275-276}} Dos cerca de {{fmtn|3000}} volumes literários sobreviventes, apenas 330 são poesia secular, história, ciência e [[pseudociência]].{{sfn|Mango|2007|p=233–234}} Na literatura religiosa ([[Sermão|sermões]], livros [[Liturgia|litúrgicos]] e poesia, teologia, tratados devocionais etc.), {{lknb|Romano,|o Melodista}} foi o mais proeminente.{{sfn|Dieterich|1913}}
 
O [[teatro]] foi repudiado, sendo considerado a personificação da imoralidade pelos eruditos da Igreja. Foi completamente banido pela Igreja no final do {{séc|VII}}, com a palavra ''theatron'' denotando espetáculos do [[Hipódromo de Constantinopla]] ou círculos literários onde trabalhos [[Retórica|retóricos]] eram lidos em voz alta. Todavia, elementos teatrais sobreviveram no cerimonial imperial e em festividades populares, nas quais participavam [[Mímica|mímicos]], bobos, músicos, dançarinos, etc. Na literatura foram produzidas peças para leitura e na liturgia encontram-se várias características teatrais.{{sfn|KazhdanKarpozilos|19911991c|p=2031}} A [[dança bizantina|dança]] também foi mal vista pelos eruditos da Igreja, porém, tal como o teatro, sobreviveu ao período. Estava presente no cerimonial cortesão, principalmente nos festivais das [[Calendas]] e da [[Brumália]], e foi por inúmeras vezes mencionada em obras literárias como em ''Digenis Acritas''.{{sfn|KazhdanKarpozilos|19911991b|p=582}}
 
No caso da [[Música bizantina|música]], para além das aclamações, nenhuma obra não ligada às liturgias sobreviveu. Embora a música secular é citada várias vezes por autores cristãos e historiadores, o gênero, estilo e forma são incertas, sendo que autores modernos considerem como "música bizantina" todo cântico sagrado medieval que seguiu o rito Ortodoxo Oriental e alguns cânticos cerimoniais em honra ao imperador, a família imperial e altos dignitários da Igreja Ortodoxa.{{sfn|KazhdanConomos|1991|p=1425}} A pouca informação preservada sobre [[Instrumento musical|instrumentos musicais]] também é um problema. O seu número, tipo e função não está completamente compreendido e, embora alguns nomes tenham sido preservados em textos contemporâneos, é muito difícil associá-los claramente com as representações pictóricas e/ou escultóricas remanescentes.{{sfn|KazhdanConomos|1991|p=1426}}
 
== Conhecimento ==
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No [[direito]], as reformas de [[Justiniano]] {{nwrap|r.|527|565}} tiveram efeito claro sobre a evolução da [[jurisprudência]] e a [[Código de Écloga|Écloga]] de {{lknb|Leão|III, o Isauro}} {{nwrap|r.|717|741}} influenciou a formação das instituições jurídicas do [[Eslavos|mundo eslavo]].{{sfn|Troianos|1997|p=340}} {{lknb|Leão|VI, o Sábio}} {{nwrap|r.|886|912}} fez, numa obra de [[Basílicas (código)|60 volumes]], a codificação completa do direito romano em grego.<ref name=Brow98 /> No {{séc|X}}, os imperadores legisladores, de {{lknb|Romano|I|Lecapeno}} {{nwrap|r.|920|944}} a {{lknb|Basílio|II|Bulgaróctone}} {{nwrap|r.|976|1025}}, fizeram inúmeras reformas com base nos problemas de seu tempo e os imperadores finais trataram de modificar o procedimento legal.{{sfn|Kazhdan|1991|p=1192}}
 
No Império Bizantino havia nítida preocupação pelo conhecimento. A ''Apedeusia'', falta de cultura mental ou conhecimento, era motivo para ridicularização e zombaria.{{sfn|name=Rimco178|Rimcomann|1977|p=173-174; 178}} A educação monástica dava instruções básicas a monges analfabetos e crianças que queriam ser padres e freiras, enquanto o ensino secular ficou a cargo das escolas primárias que são atestadas a partir do {{séc|VI}}. [[João Crisóstomo]] pretendia implementar o ensino secular no âmbito monástico, mas não recebeu retorno dos eclesiásticos. A escola secundária, embora parcialmente controlada pelo Estado e a Igreja, era privada, e o ensino superior, como era tradição nas ''[[Pólis|poleis]]'' [[Grécia Antiga|gregas]], foi assunto do Estado: {{lknb|Teodósio|II}} {{nwrap|r.|408|450}} fundou a [[Universidade de Constantinopla]] e em meados do {{séc|IX}} foi fundada no palácio uma escola de ensino secundário e superior, que foi posteriormente reincentivada ou restaurada por {{lknb|Constantino|VII|Porfirogênito}} {{nwrap|r.|913|959}}.{{sfn|name=Ka1853Bro1853|KazhdanBrowning|1991|p=1853}} É importante notar, entretanto, notar que o ensino primário foi ministrado em todas as localidades do império, o secundário apenas em grandes cidades e o superior exclusivamente em Constantinopla.<ref name=ByzEdu />
 
Sob {{lknb|Constantino|IX|Monômaco}} {{nwrap|r.|1042|1055}}, foram fundadas escolas de direito e [[filosofia]], e no {{séc|XII}} o patriarca manteve escola de [[retórica]] e [[teologia]], a chamada [[Escola Patriarcal]]. No final do {{séc|XIII}} e no XIV, nota-se a manutenção do patrocínio imperial do ensino superior e há registro de muitas escolas, privadas ou semi-privadas.<ref name=Ka1853Bro1853 /> Durante a vida acadêmica os alunos aprendiam [[gramática]] (leitura, escrita e crítica a obras clássicas, sobretudo [[Homero]]), retórica (correção da pronúncia e estudo de autores), filosofia, [[arte]], [[aritmética]], [[geometria]], [[música]], astronomia, direito, medicina e [[física]], além de educação religiosa. Não há menções sobre educação feminina mas supõe-se que jovens de classes abastadas recebiam, em parte, a mesma educação dos meninos, enquanto que nas classes inferiores aprendiam geralmente apenas a ler e escrever.<ref name=Rimco178 />
 
== Sociedade ==
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Os [[Império Sassânida|persas]] introduziram o [[chatrangue]] (um dos antecessores do [[xadrez]]) no Império Bizantino por volta do {{séc|VII}} que foi assimilado sob o nome de zatrício ({{langx|el|ζατρίκιον||''zatrikion''}}). Porém, sua primeira evidência da qual é possível estabelecer uma data correta é do {{séc|XII}}, numa passagem da biografia de {{lknb|Aleixo|I|Comneno}}, escrita por sua filha [[Ana Comnena]]. Não se conhece em detalhes as regras do jogo que era praticado na corte bizantina e com a derrocada do império em 1453, a versão existente do jogo foi substituída pela versão turca que viria a ser posteriormente substituída pela [[Xadrez na Europa|versão europeia]].{{sfn|Murray|1913|p=161-168}} Os bizantinos eram ávidos jogadores de [[tábula]] ({{langx|qgk|τάβλη||''táble''}}), o moderno [[gamão]], que ainda é popular em antigo territórios bizantinos e é conhecido na [[Grécia]] pelo mesmo nome.{{sfn|Austin|1934|p=202–205}}
 
Participar e comparecer em eventos esportivos eram as formas mais relevantes de entretenimento na [[Antiguidade Clássica]], porém no mundo bizantino houve alterações. Devido as restrições impostas pelo [[cristianismo]], esportes perigosos foram condenados, sobretudo os fatais como as lutas de [[gladiadores]]. Sob {{lknb|Teodósio|I}} {{nwrap|r.|378|395}}, os [[Jogos Olímpicos]] foram abolidos (em 393), mas aparentemente continuaram a ser realizados em [[Dafne (Antioquia)|Dafne]], próximo de [[Antioquia]], até 521 sob {{lknb|Justino|I}} {{nwrap|r.|518|527}}. O [[direito canônico bizantino|direito canônico]] permitia [[luta]], [[boxe]], [[corrida]] (que eram realizadas no [[Hipódromo de Constantinopla|hipódromo]]), salto e [[lançamento de disco]]; diz-se que {{lknb|Basílio|I, o Macedônio}} {{nwrap|r.|867|886}} quando jovem era excelente em lutas e {{lknb|João|I|Tzimisces}} {{nwrap|r.|969|976}} era habilidoso no [[tiro com arco]].{{sfn|name=Ka1939|Karpozilos|19911991a|p=1939}}
 
Além da caça, praticava-se três modalidades de esportes equestres: o {{ilc|tzicânio||tzikanion}}, o {{ilc|tornemo||tornemen}} e o {{ilc|dzustra||dzoustra}}. O tzicânio, similar ao [[Polo (esporte)|polo]], veio muito cedo da Pérsia e um [[Tzicanistério]] (estádio para este jogo) foi edificado por {{lknb|Teodósio|II}} {{nwrap|r.|408|450}} dentro do [[Grande Palácio de Constantinopla]];{{sfn|Kazhdan|1991|p=2137}} Basílio&nbsp;I destruiu o edifício original para edificar a [[Igreja Nova (Constantinopla)|Igreja Nova]] e edificou um maior; diz-se que Basílio era excelente no jogo,<ref name=Ka1939 /> Aleixo&nbsp;I se feriu quando jogava com [[Tatício]]{{sfn|Ana Comnena|1148|loc=XIV.IV}} e {{lknb|João|I|de Trebizonda}} {{nwrap|r.|1235|1238}} se feriu fatalmente quando jogava em [[Trebizonda]]. O tornemo e a dzustra foram introduzidos pelos ocidentais e jogados segundo as regras dos encontros cavalheirescos.{{sfn|Karpozilos|19911991a|p=1939-1940}}
 
=== Vestuário ===