Iemanjá: diferenças entre revisões

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'''Iemanjá''' (''Yemọjá'' na [[Nigéria]], ''Yemayá'' em [[Cuba]] ou ainda '''Dona Janaína''' no [[Brasil]]; ver seção [[#Nome e Epítetos|''Nome e Epítetos'']]) é o [[orixá]] do povo [[Egba (povo)|Egba]], divindade da fertilidade originalmente associada aos rios e desembocaduras. Seu culto principal estabeleceu-se em [[Abeokuta]] após migrações forçadas, tomando como suporte o rio ''Ògùn'' de onde manifesta-se em qualquer outro corpo de água. Também é reverenciada em partes da [[América do Sul]], [[Caribe]] e [[Estados Unidos]]. Sendo identificada no [[merindilogun]] pelos [[Odu]]s ''[[Irosun]]'',<ref name="costa">[https://books.google.com.br/books?id=kchOBQAAQBAJ&pg=PA63&dq=false#v=onepage&q&f=false M. Costa, p. 63].</ref><ref>[https://books.google.com.br/books?id=FE68BAAAQBAJ&pg=PT43&dq=#v=onepage&q&f=false Barbosa Junior, Barbosa (2014)].</ref> ''[[Ossá]]''<ref>[https://books.google.com.br/books?id=VXKnBQAAQBAJ&pg=PT64&dq=#v=onepage&q&f=false Assef, p. 64]</ref> e ''[[ObéogundáEtaogundá|Ogunda]]'',<ref name="Bascom">[https://books.google.com.br/books?id=LMl5CgAAQBAJ&pg=PA491=false#v=onepage&q&f=false W. Bascom, pp. 489-491]</ref> é representada materialmente pelo assentamento sagrado denominado [[igba yemanja|Igba Iemanjá]]. Manifesta-se em iniciados em seus mistérios (''eleguns'') através de possessão ou transe.
 
Celebrada em [[Ifé]] como filha de [[Olokun]] a divindade dos mares, essa simbiose lendária foi enaltecida no processo da [[diáspora africana]] resultando na assimilação de Iemanjá dos atributos da água salgada, sendo o motivo para a sua associação aos mares no Novo Mundo. Com o sincretismo de outras divindades e de influências européias, foi imbuída de inúmeros atributos e poderes em uma grande variedade de cultos. O seu arquétipo maternal consolidou-se sobretudo como ''Mãe de todos os Orixás''. Iemanjá nas palavras de D. M. Zenicola, "''representa o poder progenitor feminino; é ela que nos faz nascer, divindade que é maternidade universal, a Mãe do Mundo''".<ref>[https://books.google.com.br/books?id=ryZuBgAAQBAJ&pg=PT41&dq=#v=onepage&q&f=false Zenicola, p. 41]</ref>
 
No Brasil considerado o orixá mais popular festejado com festas públicas, desenvolveu profunda influência na [[Cultura do Brasil|cultura popular]], música, literatura e na religião, adquirindo cada vez maisprogressivamente uma identidade consolidada pelo [[Novo Mundo]], conforme pode ser observado atravésem desuas suarepresentações representaçãonos pormais diversos [[Intelectual|intelectuais]], artistas e pelo [[folclore]]âmbitos que em sua imagem reuniram as "[[Mito das três raças|três raças]]". Figura na ''Dona Janaína'' uma personalidade à parte, sedutora, sereia dos mares [[Região Nordeste do Brasil|nordestinos]], com cultos populares simbólicos e acessíveis que muitas vezes não expressam necessariamente uma [[liturgia]]. Nessa visão, segundo T. Bernardo Iemanjá "(...)é mãe e esposa. Ela ama os homens do mar e os protege. Mas quando os deseja, ela os mata e torna-os seus esposos no fundo do mar".<ref>Blass, Leila
[[apud]] [http://www.pucsp.br/revistanures/revista5/nures5_leila.pdf BERNARDO, T, p.02]</ref>
 
== Nome e Epítetos ==
[[Ficheiro:DiosaPraia delCamburi mar- Pier Iemanja - VITÓRIA - ES - panoramio (1).JPGjpg|thumb|left|Estátua de Iemanjá emna Praia de Camburi, [[MontevidéuVitória (Espírito Santo)|Vitória]], no [[UruguaiVitória (Espírito Santo)|Espírito Santo]].]]
"Iemanjá", nome que deriva da [[Contração (gramática)|contração]] da expressão em [[Língua iorubá|iorubá]] ''Yèyé omo ejá'' ("Mãe cujos filhos são peixes") ou simplesmente ''Yemọjá'' em referência a um rio homônimo cultuado nos primórdios do culto deste [[orixá]].<ref name="apudverger">N. Lopes, [[apud]] [https://books.google.com.br/books?id=rtTDBAAAQBAJ&pg=PT812&dqfalse#v=onepage&q&f=false P. Verger (1981)]</ref><ref> [https://books.google.com.br/books?id=JkEeCwAAQBAJ&pg=PT160&dq=#v=onepage&q&f=false Asante, 2015]</ref><ref>[https://books.google.com.br/books?id=mc4dTf_svKcC&pg=PA237&dq=#v=onepage&q&f=false M, Kagiso p. 237]</ref> Na [[Nigéria]], ''Yemọjá'' pronuncia-se com o som de "''djá''" na última sílaba.<ref>Arnaldo Rodrigues, p. 28</ref><ref group="nb">O que leva alguns [[Templos afro-brasileiros|ilês]] a adotarem o nome ''Yemonjá'' (pron. Iêmondjá).</ref> A versão lusófona amplamente mais aceita no âmbito acadêmico é Iemanjá, por vezes também assume a grafia de ''Yemanjá'' onde a letra inicial alude a origem do nome. Isso também observa-se no caso de ''Yemayá'' na [[Santeria]] em [[Cuba]].<ref group="nb">A substituição de "Y" por "[[I]]" entre os autores é justificada pelo [[Formulário Ortográfico de 1943]] em vigor até 2008 que baniu o "[[Y]]" do [[Alfabeto português]] compreendendo portanto a maior parte das referências bibliográficas utilizadas neste artigo, publicadas dentro desse período. De acordo com o [[Acordo Ortográfico de 1990]], o "Y" pode ser utilizado em palavras estrangeiras e derivadas das mesmas, como é o caso de ''Yemanjá''.</ref> No [[odu]] ''Ogunda'' é chamada de ''Mọjẹlẹwu'', esposa de ''Ọkẹrẹ'' rei de S̩aki.<ref name="Bascom"/> Também é conhecida como ''Aleyo'' na mesma região de [[Egbado]], Ayetoro, Igan e Okoto.<ref name="notasverger.293">[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA293&dq=#v=onepage&q&f=false Verger, p. 293]</ref> Em [[Trinidad e Tobago]] é chamada de ''Emanjah'' ou ''Amanjah'', e ''Metre Silí'' ou ''Agué Toroyo'' na [[República Dominicana]].<ref name=''nei''>[https://books.google.com.br/books?id=rtTDBAAAQBAJ&pg=PT813&dqfalse#v=onepage&q&f=false N. Lopes, 2004]</ref>
 
O seu nome na cultura popular brasileira ''Dona Janaína'' a ''Mãe d'água'' é associado por alguns autores a uma origem [[Línguas indígenas do Brasil|indígena]]<ref>Berkenbrock, p. 237</ref><ref>Megale, p.76</ref><ref>Autor não definido. ''[https://books.google.com.br/books?id=1SLWCwAAQBAJ&pg=PT19&dq=false Cantigas de umbanda e candomblé: Pontos cantados e riscados de orixás, caboclos, pretos-velhos e outras entidades]''. p. 19, Pallas Editora, 2015. ISBN 978-85-347-0583-7</ref> mas não evidenciam seu significado ou grupo linguístico. "Jana" pode ser referênciaNo [[Língua guarani|guarani]] deexiste ''Jara'', pronúncia correta de [[''Iara]]'', significando, segundo M. A. Sampaio, "''senhor, senhora, dono, dona, proprietário, proprietária. Não quer dizer'' "'senhora das águas"'. ''Para esse termo, seria ''Y-jara: Y''- água; ''jára'', senhor ou senhora.''"<ref>Sampaio, p. 61</ref> Tal alusão à figura [[Folclore brasileiro|mitológica brasileira]] de [[Iara]] justificaria dois títulos em comum, ''Mãe d'Água'' e ''Sereia'', e sua origem apresenta o porquê ser mencionada como "Dona".<ref group="nb">Na tradição Lusófona, em especial no Brasil, a expressão "Dona" é um tratamento polido para referir-se a "senhora" e não propriamente no sentido de posse.</ref> Lenz, H. Goldammer em seu dicionário de [[Língua tupi|tupi]] e guarani identifica Janaína como corruptela de ''ja nã inã'', que significaria "''costuma ser semelhante ao solitário''" ou "''Rainha do Mar''" em uma tradução livre do Tupi.<ref>[https://books.google.com.br/books?id=FmU0CwAAQBAJ&pg=PT117&dq=false Lenz, p.117]</ref> O [[dicionário Houaiss]] registra a explicação da composição do nome por Olga Cacciatore como de origem [[Língua iorubá|iorubá]]: ''iya'', "mãe" + ''naa'', "que" + ''iyin'', "honra".<ref name="janaina">[http://archive.is/pkPGZ/ ''A Outra origem de Janaína'', artigo de Antonio Luiz M. C. Costa] (28 de novembro de 2006).</ref> M. C. Costa, em um artigo referente, localiza sua origem no [[diminutivo]] de ''Jana'', expressão portuguesa para ''Anjana'', ser mitológico ligado às [[Xana (mitologia)|Xanas]], uma espécie de [[fada]] ou [[ninfa]] da mitologia [[Astúrias|asturiana]] que vive nos rios, fontes e mananciais.<ref name="janaina"/> Já outro nome ''Inaê'' é segundo Édison Carneiro apenas [[aférese]] de ''Janaína'' com mais um "ê" [[eufônico]].<ref name="edison">Carneiro, p. 55</ref>
 
Iemanjá também assume diversos [[epíteto]]s e títulos em sua grande variedade de cultos. Segue uma lista incompleta, excluindo-se também qualidades e [[avatar]]es (ver seção [[#Qualidades e Avatares|''Qualidades e Avatares'']]): ''Ayaba ti gbe ibu omi'', rainha que vive na profundeza das águas;<ref name="verger301">[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA301&focus=viewport&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false Verger, p. 301]</ref> ''Ibu gba nyanri'', regato que retém a areia; Oloxum (''Olosun''), regato vermelho; ''Ibu Alaro'', regato negro (anil); ''Olimọ'', dona da folha de [[palmeira]]; ''Onilaiye'', dona do mundo;<ref>[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA302&focus=viewport&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false Verger, p. 302]</ref> ''Onibode Iju'', guardiã da floresta; mãe de Minihun (''Iya ominihun''), em referência a ''minihun'' que é o nome que se dá às crianças que acredita-se concebidas graças a Iemanjá;<ref>[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA303&focus=viewport&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false Verger, p. 303]</ref> ''Ayaba lomi o'', rainha na água;<ref>[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA305&focus=viewport&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false Verger, p. 305]</ref> ''Iyá Ori'', mãe da cabeça<ref>[https://books.google.com.br/books?id=VXKnBQAAQBAJ&pg=PT30&dq=#v=onepage&q&f=false Assef, p.30]</ref> ''Rainha do Mar'', ''Sereia''.<ref>Koguruma, Paulo. ''[https://books.google.com.br/books?id=fk2vi9db3J0C&pg=PA297&dq=#v=onepage&q&f=false Conflitos do imaginário: a reelaboração das práticas e crenças afro-brasileiras na "metrópole do café" 1890-1920].'' Ed. Annablume: Fapesp, 2001, 1º edição. ISBN 85-7419-196-5, p. 297</ref> Outras referências como ''Aiucá'' ou ''Princesa do Aioká'' parecem [[corruptela]]s de ''Abeokuta'', cidade principal do culto de Iemanjá,.<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo dicionário da língua portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 914.</ref><ref>CARYBÉ. ''Mural dos orixás''. Salvador. Banco da Bahia Investimentos. 1979. p. 54.</ref> enquanto ''Maria'' teria origem no sincretismo religioso com [[Nossa Senhora]].<ref name=maria>Iwashita, Pedro. ''Maria e Iemanjá: análise de um sincretismo''. Edições Paulinas, 1991.</ref>.
O [[dicionário Houaiss]] registra a explicação da composição do nome por Olga Cacciatore como de origem [[Língua iorubá|iorubá]]: ''iya'', "mãe" + ''naa'', "que" + ''iyin'', "honra".<ref name="janaina">[http://archive.is/pkPGZ/ ''A Outra origem de Janaína'', artigo de Antonio Luiz M. C. Costa] (28 de novembro de 2006).</ref> M. C. Costa, em um artigo referente, localiza sua origem no [[diminutivo]] de ''Jana'', expressão portuguesa para ''Anjana'', ser mitológico ligado às [[Xana (mitologia)|Xanas]], uma espécie de [[fada]] ou [[ninfa]] da mitologia [[Astúrias|asturiana]] que vive nos rios, fontes e mananciais.<ref name="janaina"/> ''Inaê'' é segundo Édison Carneiro, [[aférese]] de ''Janaína'', com mais um "ê" [[eufônico]].<ref name="edison">Carneiro, p. 55</ref>
 
Iemanjá também assume diversos [[epíteto]]s em sua grande variedade de cultos. Segue uma lista incompleta, excluindo-se também qualidades e [[avatar]]es (ver seção [[#Qualidades e Avatares|''Qualidades e Avatares'']]): ''Ayaba ti gbe ibu omi'', rainha que vive na profundeza das águas;<ref name="verger301">[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA301&focus=viewport&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false Verger, p. 301]</ref> ''Ibu gba nyanri'', regato que retém a areia; Oloxum (''Olosun''), regato vermelho; ''Ibu Alaro'', regato negro (anil); ''Olimọ'', dona da folha de [[palmeira]]; ''Onilaiye'', dona do mundo;<ref>[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA302&focus=viewport&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false Verger, p. 302]</ref> ''Onibode Iju'', guardiã da floresta; mãe de Minihun (''Iya ominihun''), em referência a ''minihun'' que é o nome que se dá às crianças que acredita-se concebidas graças a Iemanjá;<ref>[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA303&focus=viewport&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false Verger, p. 303]</ref> ''Ayaba lomi o'', rainha na água;<ref>[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA305&focus=viewport&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false Verger, p. 305]</ref> ''Iyá Ori'', mãe da cabeça<ref>[https://books.google.com.br/books?id=VXKnBQAAQBAJ&pg=PT30&dq=#v=onepage&q&f=false Assef, p.30]</ref> ''Rainha do Mar'', ''Sereia''.<ref>Koguruma, Paulo. ''[https://books.google.com.br/books?id=fk2vi9db3J0C&pg=PA297&dq=#v=onepage&q&f=false Conflitos do imaginário: a reelaboração das práticas e crenças afro-brasileiras na "metrópole do café" 1890-1920].'' Ed. Annablume: Fapesp, 2001, 1º edição. ISBN 85-7419-196-5, p. 297</ref> Outras referências como ''Aiucá'' ou ''Princesa do Aioká'' parecem [[corruptela]]s de ''Abeokuta'', cidade principal do culto de Iemanjá,<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo dicionário da língua portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 914.</ref><ref>CARYBÉ. ''Mural dos orixás''. Salvador. Banco da Bahia Investimentos. 1979. p. 54.</ref> enquanto ''Maria'' teria origem no sincretismo religioso com [[Nossa Senhora]].<ref name=maria>Iwashita, Pedro. ''Maria e Iemanjá: análise de um sincretismo''. Edições Paulinas, 1991.</ref>.
 
== Mito ==
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Muitos atributos e códigos morais de Iemanjá podem ser verificados em suas cantigas e ''[[oriki]]s'',<ref>[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA301&dq=#v=onepage&q&f=false Verger, pp. 301-306].</ref> tradições orais entre os [[iorubás]],<ref>Jegede, Olutoyin Bimpe. ''[http://www.ces.fe.uc.pt/publicacoes/rccs/artigos/47/Olutoyin%20Bimpe%20Jegede%20-%20A%20poesia%20laudatoria%20e%20a%20sociedade%20nigeriana,%20a%20Oriki%20entre%20os%20Yoruba.pdf A Poesia Laudatária e a Sociedade Nigeriana: a Oriki entre os Yoruba].'' pp. 76-78</ref> seus ''[[itan]]'' ou mitos e demais tradições também se preservaram de mesmo modo, estando segundo R. Ogunleye suscetíveis às limitações da memória e à extinção de saberes com a morte dos que a preservam.<ref>Ogunleye, Adetunbi Richard. ''[http://www.inkanyiso.uzulu.ac.za/journals/vol7i1/08%20Ogunleye%20prs.pdf Cultural identity in the throes of modernity: an appraisal of Yemoja among the Yoruba in Nigeria].'' Department of Religion & African Culture, Adekunle Ajasin University Akungba-Akoko Ondo State, Nigeria, 2015. p. 66</ref> Com a perda de muitos de seu culto durante as guerras sofridas pelo povo Egba, que resultaram na sua [[Migração humana|migração]] para uma nova região,<ref name="notasverger.293"/> não é espantoso que seus mitos originais só aludam ao suporte de seu culto na nova localidade, o rio Ògùn e não seu predecessor como adiante verificamos.
 
Os primeiros registros literários de seus mitos assim, como de alguns outros orixás, foram prejudicados por diversos equívocos. A. B. Ellis a ela associa uma [[cosmologia]] e gênese incestuosa influenciada por P. Baudin e repetida diversas vezes por autores como R. E. Dennett, Stephen Septimus Farrow, Olumide Lucas e [[Richard Francis Burton|R. F. Burton]] influenciados uns pelos outros.<ref name="notasverger.295">[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA295&dq=#v=onepage&q&f=false Verger, p. 295]</ref> [[Pierre Verger|P. Verger]] inicialmente influenciado por tais mitos já alertava que os mesmos não eram mais conhecidos ou possível de se verificar na costa da [[África]]<ref>[https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA296&dq=#v=onepage&q&f=false Verger, p. 296]</ref> e posteriormente conclui tratar-se de uma série de equívocos e os rebate duramente em obras posteriores.<ref name="artigoverger">[[Pierre Verger|Verger, Pierre]]. ''[http://www.babalawoifalolablackpagesbrazil.com.br/2011/01/etnografia-religiosa-ioruba-e-probidade.html/ ?p=2206 Etnografia religiosa iorubá e probidade científica].'' Revista Religião e Sociedade - nº 8, ISER, Editora Cortez São Paulo, 1982.</ref> Essas influências ocidentais imprecisas que parecem ter aderido à interpretação de Iemanjá assim como de outras divindades iorubás já era alertada em 1772 por P. Labat, "''que certas informações foram dadas por vários autores''" e acrescentava: "''mas talvez não tenha sido senão a opinião do que as escreveu primeiro e que os outros seguiram e copiaram sem se importar se estavam bem ou mal fundadas''".<ref name="artigoverger"/>
 
Para S. Poli, mesmo a concepção de Iemanjá que vislumbramos na obra de Verger é uma divindade já sincrética, como podemos conferir em sua associação a [[Yewá]] e também Yeyemowo, divindade casada com [[Obatalá]].<ref>Poli, ppp. 87 e 92.</ref><ref>[[Confer|Cf.]] [https://books.google.com.br/books?id=mYZtSQsR2v4C&pg=PA298&dq=#v=onepage&q&f=false Verger, p. 298]</ref> Tal confusão não é grave no seu culto no Brasil por exemplo, onde Iemanjá tornou-se em uma nova interpretação segunda esposa de [[Oxalá]]<ref>[[Jorge Amado]]. ''[https://books.google.com.br/books?id=uJ2p__JpvY0CbcJQBQAAQBAJ&pg=PT124PA65&dq=false#v=onepage&q&f=false Bahia de Todos-os-Santos]''. Editora Companhia das LetrasModesto, 2012 - 400 páginas. p. 12465]</ref> -uma concepção dos mesmos de Obatalá-, formando o casal essencial da criação.<ref name="sousa">Sousa Junior, p. 128</ref> Muitos autores, como [[Lydia Cabrera|L. Cabrera]] em sua memorável explanação e abordagem sobre Iemanjá e [[Oxum]], abordaram essa visão da [[diáspora africana|diáspora]] centrada no seu novo contexto social, cultural e histórico, como é o caso de Cuba na análise da pesquisadora, não preocupando-se em um resgate propriamente a partir da origem.<ref name="cabrera">[[Lydia Cabrera|Cabrera, Lydia]]. ''[https://books.google.com.br/books?id=6cSpx3vgc8sC&printsecpg=frontcoverPA13&dq=isbn:8531407427&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiinZqY47TKAhWFWpAKHSk2AnMQ6AEIHTAA#v=onepage&q&f=false Iemanjá & Oxum: Iniciações, Ialorixás e Olorixás]L.'' Tradução: Carlos Eugênio Marcondes de Moura. Ed. UspCabrera, 2004pp. ISBN 8513-314-0742-718]</ref>
 
No Novo Mundo, também observa-se uma moralização de sua figura em associação ao sincretismo com figuras do [[cristianismo]], sendo que mesmo suas descrições de formas generosas e seios fartos já cedem lugar a uma versão mais latinizada e branca,<ref>Valéria Amim, Ruy do Carmo Póvoas. ''[http://www.xiconlab.eventos.dypedocplayer.com.br/resources/anais/3/1308314375_ARQUIVO_IEMANJAIMAGENSARQUETIPICASDAGRANDEMAENADIASPORA7554579-Iemanja-imagens-arquetipicas-da-grande-mae-na-diaspora.pdf html Iemanjá: Imagens Arquetípicas da Grande Mãe na Diáspora].'' p. 6</ref> segundo Sousa Junior: "''O exemplo mais ilustrativo disso é a perda de características guerreiras em detrimento da exacerbação de elementos como virgindade, pureza e docilidade, ideais por excelência da figura da [[Virgem Maria]]'' (...)". quando não em determinados momentos assume os aspectos da sensualidade em demasia por associações à figura europeia da sereia, ou mesmo a [[Iara]]<ref>Casemiro, Sandra Ramos. ''[http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-21082012-112832/publico/2012_SandraRamosCasemiro_VRev.pdf A Lenda de Iara: Nacionalismo Literário e Folclore].'' p.22</ref> de atributos já carregados da influência dos colonizadores do velho continente,<ref>Hélio Lopes, Alfredo Bosi. ''[https://books.google.com.br/books?id=p--jHdG3PCUC&pg=PA174&dq#v=onepage&q&f=false Letras de Minas e outros ensaios].'' EdUSP, 1 de jan de 1997 - 443 páginas. ISBN 85-314-0381-2, p. 174</ref> como podemos verificar na ''Dona Janaína'' da obra de Jorge Amado ou das canções de [[Dorival Caymmi]] (ver seção [[#Iemanjá e a Música Popular Brasileira|Iemanjá e a Música Popular Brasileira]]), ou mesmo no culto de ''Lá Sirène'' ou [[Mami Wata]] no [[Caribe]] (ver seção [[#Sincretismo|Sincretismo]]).
 
Contudo, de atributos que lhe são associados em qualquer contexto ou reinterpretação verificamos sua relação com as [[água]]s e os [[peixe]]s, muito embora essa possa ter passado dos rios aos mares, como observamos no [[Brasil]] e [[Cuba]], no primeiro cenário em substituição de cultos de divindades esquecidas no processo de diáspora como o de [[Olokun]]<ref group="nb">O culto à Olokun é praticamente inexistente nas Nações [[Candomblé Ketu|Ketu]] e [[Nagô]] no [[Candomblé]].</ref> que foi substituído no panteão afro-brasileiro por Iemanjá,<ref>[[Roger Bastide]]. ''As religiões africanas: contribuição a uma sociologia das interpenetrações de civilizações'', Volume 2. Livraria Pioneira Editôra, Editôra da Universidade de São Paulo, 1971 - 567 páginas. p. 341</ref> ou como no segundo, o estreitamento demasiado dessas duas divindades de mesma família, como observamos cunhado na figura de ''Yemayá Olokun''<ref>Margarite Fernández Olmos, Lizabeth Paravisini-Gebert ''[https://books.google.com.br/books?id=fAzYsAsJXDAC&pg=PA52&dq=#v=onepage&q&f=false Creole Religions of the Caribbean: An Introduction from Vodou and Santería to Obeah and Espiritismo].'' NYU Press, 2011 - 309 páginas. ISBN 978-0-8147-6227-1; ISBN 978-0-8147-6228-8; ISBN 978-0-8147-2825-3; p. 52</ref> explorada por Cabrera.<ref>[https://books.google.com.br/books?id=6cSpx3vgc8sC&pg=PA30&dq=#v=onepage&q&f=false L. Cabrera, p.30]</ref> Outra associação de Iemanjá que preservou-se é a fertilidade e maternidade que como demais atributos fora reforçada, ao ponto de ter se tornado mãe de todos os orixás, ou como na visão de R. Prandi ajudando pessoalmente Olodumaré na construção do mundo.<ref>Manzini, Yaskara. ''[http://olorum.lendas.orixas.nom.br/classificados/ebooks/015_iyamiosoronga.pdf Iyami Osoronga (Minha Mãe Feiticeira)].'' p. 19</ref>
 
=== Origens ===
{| class="float" style="float:right; width:33%; background:inherit; border-collapse:collapse; border-style:none; margin:.5em .75em;"
{{quote2|''Ògùn ó Yemonja, Ògùn ó Yemonja e lódò e lódò
| style="vertical-align:top; width:20px; color:#b2b7f2; font-size:40px; font-family:'Times New Roman',serif; font-weight:bold; text-align:left; padding:2px; 2px; padding-top:4px;"| “
 
{{quote2| style="text-align:left; vertical-align:top; padding:0 10px;"|''Ògùn ó Yemonja, Ògùn ó Yemonja e lódò e lódò.
''Sà wè a Ògùn ó Yemonja.
 
''Ìyá àwa sé wè, Yemonja dò ó rere Yemonja.
 
''Ìyá àwa sé wè, Yemonja dò ó rere Yemonja.
''Ìyá àwa sé wè, Yemonja dò ó rere Yemonja.''|Xirê de Iemanjá<ref>''[https://www.letras.mus.br/carlinhos-doxum/1376947/ Carlinhos D'Oxum - Xirê de Yemonjá].'' Acessado em 01 de fevereiro de 2016./</ref><ref group="nb">O rio Ògùn é de Iemanjá, o rio Ògùn é de Iemanjá
 
Ela tem o rio, tem o rio que escolhemos para nos banharmos,
<br />O rio Ògùn é de Iemanjá, Mãeo rio Ògùn é de Iemanjá. Ela tem o rio, tem o rio que escolhemos para nos banharmos, o rio Ògùn é de Iemanjá, mãe, vamos nos banhar, Iemanjá que o rio esteja bom, Iemanjá..''
| style="vertical-align:bottom; width:20px; color:#b2b7f2; font-size:40px; font-family:'Times New Roman',serif; font-weight:bold; text-align:right; padding:2px; 2px; padding:4px;"| ”
Iemanjá que o rio esteja bom, Iemanjá.</ref>}}
|-
''Ìyá| àwacolspan="3" style="padding-top: wè,10px" Yemonja|<p style="font-size:smaller;line-height:1em;text-align: óright"><cite rere Yemonja.''|Xirêstyle="font-style:normal;">—Xirê de Iemanjá<ref>''[https://www.letras.mus.br/carlinhos-doxum/1376947/ Carlinhos D'Oxum - Xirê de Yemonjá].'' (Acessado em 01 de fevereiro de 2016)./</ref><ref group="nb">O rio Ògùn é de Iemanjá, o rio Ògùn é de Iemanjá
|}
 
[[Ficheiro:Arte yoruba, nigeria, testa da ife, 12-15mo secolo.JPG|thumb|left|180px|''Ori Olokun'' (Cabeça de Olokun):<ref group="nb">Este bronze é conhecido entre os acadêmicos como ''Cabeça de Bronze de Ifé'', considerado como uma representação de um rei de [[Ifé]]. No [[Religião iorubá|Culto Tradicional de Ifá]] e na cultura popular, conveniou-se como sendo a representação da cabeça de [[Olokun]], daí a denominação ''Ori Olokun'', não evidenciando-se o motivo e sendo altamente reproduzido.</ref> este [[bronze]] do século XII apresenta aspectos masculinos do Orixá. [[Museu Britânico]].]]
Iemanjá, em seu culto original, é um orixá associado aos rios e [[desembocadura]]s, à [[fertilidade]] feminina, à maternidade e primordialmente ao processo de gênese do ''[[Àiyé (yoruba)|Àiyé]]'' (mundo) e a continuidade da vida (''[[emi]]''). Também é regente da pesca, e do plantio e colheita de [[inhame]]s.<ref>Valéria Amim, Ruy do Carmo Póvoas. ''[http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1308314375_ARQUIVO_IEMANJAIMAGENSARQUETIPICASDAGRANDEMAENADIASPORA.pdf Iemanjá: Imagens Arquetípicas da Grande Mãe na Diáspora].'' p. 4</ref> [[Pierre Verger|P. Verger]], em seu livro ''Dieux d'Afrique'',<ref>[[Pierre Verger|Verger, Pierre]]. ''Dieux D'Afrique''. Paris: Paul Hartmann (1ª edição, 1954; 2ª edição, 1995). 400pp, 160 fotos. ISBN 2-909571-13-0</ref> registra: "''é o orixá das águas doces e salgadas dos [[Egba]], uma nação [[Iorubás|iorubá]] estabelecida outrora na região entre [[Ifé]] e [[Ibadan]], onde existe ainda o rio ''Yemọjá''. As guerras entre nações iorubás levaram os Egba a emigrar na direção oeste, para [[Abeokuta]], no início do [[século XIX]]. (...)O rio ''Ògùn'', que atravessa a região, tornou-se, a partir de então, a nova morada de Iemanjá.''"<ref>[[Confer|Cf.]] Zdenka Kalnická. ''[https://books.google.com.br/books?id=IZCLAAAAQBAJ&pg=PT198&dq=#v=onepage&q&f=false Wagadu: Water & Women in Past, Present & Future, Volume 3].'' Xlibris Corporation, 26 de set de 2007 - 248 páginas. ISBN 978-1-4257-5287-3, ISBN 978-1-4653-3137-3</ref> Após a guerra entre os [[Egba (povo)|egbás]] e os [[Reino do Daomé|daomeanos]], sobraram poucas pessoas desse culto, tendo em vista a dispersão ou mesmo prisão destes pelos inimigos.<ref name="notasverger.293"/> Segundo R. Ogunleye, "''Não está claro se o rio ''Ogun'' precede ''Yemoja'' ou se ''Yemoja'' trouxe o rio ''Ogun'' a existir para que ela pudesse criar um quartel-general como um assento de seu governo. Seja qual for o caso, o rio ''Ogun'' tem vindo a ser aceito pelos iorubás como o "quartel-general" de ''Yemoja''. De seu trono lá, ela se manifesta em qualquer outro corpo de água''".<ref name=ibara>Ogunleye, Adetunbi Richard. ''[http://www.inkanyiso.uzulu.ac.za/journals/vol7i1/08%20Ogunleye%20prs.pdf Cultural identity in the throes of modernity: an appraisal of Yemoja among the Yoruba in Nigeria].'' Department of Religion & African Culture, Adekunle Ajasin University Akungba-Akoko Ondo State, Nigeria, 2015.</ref> A referência da guerra e da fuga dos egbas reflete-se em sua mitologia.
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Os principais relatos [[mitologia|mitológicos]] de Iemanjá se desenrolam com os [[orixá]]s primordiais da criação iorubá do mundo. Evidenciou-se na segunda metade do [[século XX]] um consenso entre autores de que Iemanjá é filha da divindade soberana dos mares e oceanos [[Olokun]] (esta última uma divindade feminina em Ifé e masculina no [[Benim]]), sendo esse vínculo celebrado na [[cidade]] de [[Ifé]], considerado como berço da civilização [[Iorubás|iorubá]].<ref name="mikelle">Mikelle Smith Omari-Tunkara. ''[Manipulating the sacred: Yorùbá art, ritual, and resistance in Brazilian Candomblé.'' African American life series. Wayne State University Press,‎ 2005. ISBN 9780814328521</ref><ref>[https://books.google.com.br/books?id=oZD9AwAAQBAJ&pg=PA77&dq#v=onepage&q&f=false Assef, p. 77].</ref><ref>Luna, Jayro. ''[https://books.google.com.br/books?id=8Q5CXXRDycoC&pg=PA98&dq#v=onepage&q&f=false Teoria do Neo-Estruturalismo Semiótico].'' 1ª Ed. São Paulo: Vila Rica, 2006. ISBN 85-905231-9-5, p. 98</ref><ref>Póvoas, Ruy do Carmo. ''Da porteira para fora: mundo de preto em terra de branco.'' Universidade Estadual de Santa Cruz. UESC, 2007. p. 183</ref><ref>''Exu'', Edições 1-11. Fundação Casa de Jorge Amado, 1987. p. W-24</ref><ref>Hoornaert, Eduardo. ''O cristianismo moreno do Brasil.'' Ed. Vozes, 1991 - 181 páginas. p.87</ref> R. Ogunleye alude sua origem também a partir de [[Olorun]] (''Olodumaré''), divindade do ''[[orun]]''.<ref>[http://www.inkanyiso.uzulu.ac.za/journals/vol7i1/08%20Ogunleye%20prs.pdf Ogunleye, p. 61]</ref> Se constata então como filha da união mitológica conturbada de Olokun e Olorun e irmã de [[Ajê Salugá]].<ref>Bàbá Osvaldo Omotobàtálá. ''Ajé Salugá: òrìṣà de la riqueza.'' Bayo editores, 2007.</ref> Olokun pelo caráter instável e destrutivo foi atada ao fundo do oceano em seus domínios após uma tentativa de [[dilúvio]] frustrada por Olorun,<ref>Coleção Arthur Ramos. ''Introdução a antropologia brasileira as culturas negras''. Ed. Casa do Estudante do Brasil, 1972; vol. III, pág. 65.</ref> E. L. Nascimento menciona, ao referir-se ao temor aos aspectos antissociais ou negativos dos Orixás femininos, "''Iemanjá, igualmente,<ref group="nb">Aqui a autora E. L. Nascimento, faz uma análise comparativa do lado negativo de Iemanjá com Oxum.</ref> representa em seu aspecto perigoso a ira do mar, a esterilidade e a loucura''".<ref>[https://books.google.com.br/books?id=0e7rpd-Rwg0C&pg=PA126&dq=#v=onepage&q&f=false E. L. Nascimento, p. 126]</ref> Não obstante, é muito frequente referências a natureza benéfica de Iemanjá, [[Lydia Cabrera|L. Cabrera]] assim defende: "''Sem deformar essa definição encantadora e irrefutável, podemos imaginar Iemanjá emanada de Olokun, com seu poder e suas riquezas, mas sem as características tremebundas que o associam mais à morte do que à vida, como sua manifestação feminina - ''Iemanjá é muito maternal'' - e benéfica''".<ref>[https://books.google.com.br/books?id=6cSpx3vgc8sC&pg=PA37&dq=#v=onepage&q&f=false L. Cabrera, p. 37]</ref><ref group="nb">Nesta menção L. Cabrera utiliza-se da hipótese de Olokun ser um orixá masculino.</ref> Na cosmologia e gênese de A. B. Ellis influenciada por P. Baudin é filha da união de [[Obatalá]] com [[Oduduwa]] numa manifestação feminina.<ref>Ellis, Alfred Burdon. ''The Yoruba-Speaking peoples of the Slave Coast of West Africa : their religion, manners, customs, laws, language etc. ; with an appendix containing a comparison of the Tshi, Ga, Ewe and Yoruba languages.'' London. Chapman and Hall, 1894.</ref><ref name=baudin>Baudin, Noel. ''Dictionnaire français-yoruba-français.'' Cotonou, 1967.</ref>
 
P. Verger aponta sua primeira união com [[Orunmilá]], o orixá dos segredos (essa união é amplamente celebrada no culto de ifá afro-cubano com diferentes ''[[itan]]s'' registrados por L. Cabrera, mas é negada por [[Wande Abimbola|W. Abimbọla]]),<ref>[[Wande Abimbola|W. Abimbọla]], Ivor Miller; p. 95</ref> relação que pouco durou uma vez que Orumilá a expulsa e acusa de quebrar o ''[[Ewo (tabu)|ewo]]'' que proíbe o acesso de mulheres aos [[Odu]]s e o manuseio dos objetos sagrados de [[Ifá]].<ref name="verger">[[Pierre Verger|Verger, Pierre]]. ''Orixás: Deuses iorubás na África e no novo mundo''. Ed. Corrupio, 1997. ISBN 8586551023, ISBN 9788586551024</ref><ref name="cabrera">[[Lydia Cabrera|Cabrera, Lydia]]. ''[https://books.google.com.br/books?id=6cSpx3vgc8sC&printsec=frontcover&dq=isbn:8531407427&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiinZqY47TKAhWFWpAKHSk2AnMQ6AEIHTAA#v=onepage&q&f=false Iemanjá & Oxum: Iniciações, Ialorixás e Olorixás].'' Tradução: Carlos Eugênio Marcondes de Moura. Ed. Usp, 2004. ISBN 85-314-0742-7</ref><ref>Teixeira, Francisca Izabel. ''The Ritual of Iemanjá in Brazil: A Psychoanalytic Approach.'' University of California, Berkeley, 1992 - 174 páginas.</ref> L. Cabrera registra: "''Orunmilá teve de assistir a uma reunião de dezesseis ''awós'', convocada por Olofi.<ref group="nb">Olofi na santeria é o equivalente a Olorun.</ref> Ela ficou em casa e a todos que iam consultar seu marido, em vez de dizer-lhes que esperassem sua volta, ela fazia passar adiante e adivinhava para eles. (...)quando este voltou, todos lhe pediam quem Iemanjá olhasse para eles. Orunmilá explicava que as mulheres não podem jogar Ifá. Eles iam embora... e não voltavam mais''".<ref name=cabrera/>
[[Ficheiro:Yemoja Nigeria.jpg|thumb|left|180px|[[Elegun]] manifestada em Iemanjá durante um festival na [[Nigéria]].]]
Posteriormente, Iemanjá foi casada com Olofin [[Oduduwa]]<ref group="nb">Diversos autores, cautelosos pelo efeito de confusões por parte de autores do final do século XIX e início do século XX, costumam referir-se a Oduduwa nesse ''itan'' apenas como ''Olofin'' devido o equívoco ainda existente de Oduduwa ser um orixá feminino.</ref> criador do mundo e rei de Ifé, com a qual teve dez filhos. Alguns dos nomes enigmáticos de seus filhos parecem corresponder a orixás, Verger apresenta dois exemplos: "''Òsùmàrè ègò béjirìn fonná diwó''" (o arco íris que se desloca com a chuva e guarda o fogo nos seus punhos), e "''Arìrà gàgàgà tí í béjirìn túmò eji''" (o trovão que se desloca com a chuva e revela seus segredos).<ref name=maria/><ref name=verger/><ref name=mikelle/> Iemanjá, cansada da vivência na cidade de Ilê Ifé governada pelo marido, decide-se fugir para o Oeste, para a "''terra do entardecer''". Antes de viver no mundo, Iemanjá recebera, de Olokun, sempre precavida pois "''não se sabe jamais o que pode acontecer amanhã''", uma [[vasilha]] contendo um preparado mágico com a recomendação de que, se algum caso extremo se sucedesse, Iemanjá o quebrasse no chão. Iemanjá, que já havia se instalado no entardecer da Terra, foi surpreendida pelo exército de Olofin Oduduwa que estava a sua procura. Longe de se deixar capturar, quebrou a vasilha com o preparado conforme as indicações que recebera. O preparado mágico, ao tocar o chão, fez nascer, no mesmo lugar, um rio que levou Iemanjá novamente para ''okun'', os oceanos de Olokun onde foi acolhida.<ref name=verger/>
 
Outro mito sugere que foi casada com Okere, rei de Xaki, cidade localizada ao norte de [[Abeokuta]].<ref name=mikelle/><ref name=carybe>[[Pierre Verger|Verger, Pierre Fatumbi]], [ilustrações] [[Carybé]]. ''Lendas Africanas dos Orixás''. Tradução: Maria Aparecida da Nóbrega, 4ª edição, Corrupio: Salvador, 1997.</ref> Este mito parece complementar suas andanças após a fuga de seu [[casamento]] com Olofin Oduduwa. O mito se inicia com Iemanjá se instalando em [[Abeokuta]] que seria a terra do entardecer do mito anterior, e o desfecho muito se assemelha, com a presença da vasilha com o preparado mágico de Olokun. Iemanjá que "''continuava muito bonita''", despertou o desejo de Okere que lhe propôs casamento. A união se sucedeu com a condição que Okere em nenhuma situação expusesse o tamanho da imensidão de seus seios ao ridículo. Mas Okere certo dia bêbado retorna para casa e tropeça em Iemanjá que o recrimina, e este não tendo controle das faculdades ou emoções, grita ridicularizando-lhe os seios. Iemanjá foge em disparada ofendida com o feito de Okere, que lhe persegue. Em sua fuga, Iemanjá tropeça quebrando a vasilha que lhe foi entregue e dela nasce o rio que lhe ajudará a chegar até o mar. Okere não querendo permitir a fuga da mulher se transforma numa colina que lhe barra o caminho para qualquer direção. Iemanjá uma vez com sua rota até o [[oceano]] bloqueada, clama pelo mais poderoso de seus filhos, [[Xangô]].<ref name=carybe/><ref>Klotz, Lisa. ''Lemanjá und Sedna: Über welche Ansätze kann ein asymptotischer Vergleich zweier Meeresgöttinnen aus unterschiedlichen Kulturen erfolgen?''; ed. GRIN Verlag, março de 2010 - 112 páginas. ISBN 978-3-640-56268-8</ref>
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::"''Orum, o Sol andava exausto. Desde a criação do mundo ele não tinha dormido nunca. Brilhava sobre a Terra dia e noite. Orum já estava a ponto de exaurir-se, de apagar-se. Com seu brilho eterno, Orum <ref group="nb">Aqui ''Orum'' é a simplificação da grafia de '' Oòrùn'', sol em [[língua iorubá|iorubá]], não devendo ser confundido com [[Orun (yoruba)|Orun]], espaço espiritual oposto ao [[Àiyé (yoruba)|Àiyé]], o mundo físico.</ref> maltratava a Terra. Ele queimava dia após dia. Já quase tudo estava calcinado e os humanos já morriam todos. Os Orixás estavam preocupados e reuniram-se para encontrar uma saída. Foi Iemanjá quem trouxe a solução. Ela guardara sob a saia alguns raios de Sol. Ela projetou sobre a Terra os raios que guardara e mandou que o Sol fosse descansar, para depois brilhar de novo. Os fracos raios de luz formaram um outro astro. O Sol descansaria para recuperar suas forças e enquanto isso reinaria ''Oxu'', a Lua. Sua lua fria refrescaria a Terra e os seres humanos não pereceriam no calor. Assim, graças a Iemanjá, o Sol pode dormir. À noite, as estrelas velam por seu sono, até que a madrugada traga outro dia.''"<ref name=prandi/>
 
Em sua associação aos mares, Iemanjá através da [[lua]] e suas fases juntamente com a força do vento, que agita as águas, controlaria as marés.<ref>George Maurício, Vera de Oxaguiã, Marcelo Barros. ''O candomblé bem explicado: nações Bantu, Iorubá e Fon.'' Ed. Pallas, 2009 - 367 páginas.</ref> P. Iwashita ao discutir o arquétipo da maternidade e feminino afirma que "''Por sua vez o mais importante símbolo para a [[Anima e Animus|Anima]] é a [[lua]], por causa da relação entre as suas diferentes fases e o ciclo menstrual na mulher.''"<ref>P. name=mariaIwashita, p. 239</ref> Azevedo Filho em uma análise, justifica que pelas suas "''diversas fases, que descrevem o ciclo contínuo de aniquilamento/regeneração, a lua se tornou, sem dúvida, o símbolo maior das variações no (do) tempo(...) Correlacionada portanto com Iemanjá, a lua representa ainda a zona noturna, inconsciente, obscura da psique humana, pulsões adormecidas, mas que revivem nos sonhos, nas fantasias e no desejo impossível, ao contrário do sol(...).''"<ref>Azevedo Filho, Leodegário Amarante. ''Estudos universitários de língua e literatura: Homenagem ao Prof. Dr. Leodegário A. de Azevedo Filho.'' Tempo Brasileiro, 1993 - 665 páginas.</ref>
 
Essa analogia entre a [[lua]] e os ciclos com ''aniquilamento/regeneração'', é notável no mito registrado por [[Lydia Cabrera|L. Cabrera]] que relata a vingança de Iemanjá contra a humanidade que teria conspirado contra o seu primogênito, que foi sentenciado a morte e executado. Iemanjá tomada de ira (aqui consegue absorver as características e o objetivo de [[Olokun]], mas com grande êxito), teria destruído a ''primeira humanidade'', habitando nesse mito o contraste entre origem e destruição.<ref name=cabrera/><ref name=prandi/>
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[[Ficheiro:Iemanja manifestada na umbanda.jpg|thumb|left|[[Médium]] [[transe mediúnico|manifestada]] em Iemanjá na [[umbanda]], no Terreiro Mãe Iemanjá e Boiadeiro Zé do Laço.]]
Segundo R. Fonseca, o trato dos mitos [[iorubás]] na concepção de [[arquétipo]] pode nos auxiliar na interpretação dos modelos sociais, históricos ou místicos, que neles evidenciam-se.<ref name=fonseca>Fonseca, Denise Pini Rosalem da. ''Filhas do desejo de Eva, herdeiras da sorte de Obá.'' ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.</ref>
Na visão de Omari-Tunkara, "''muitos traços de personalidades das deusas estão em conformidade com os atributos míticos de ''Yemanjá'' e suas variantes e, portanto, ''Yemanjá'' pode ser considerada um arquétipo.''"<ref name=mikelle/> EsseTal conceitoarquétipo evidencia-sepode fortementeser naelucidado análisecomo dosa atributosvisão deprimordial Iemanjádo porfeminino esculpida na "''Grande Mãe''".<ref>P. Iwashita, em sua comparação com outros símbolos maternosp.<ref name=maria216</ref> S. Poli, focando nos padrões de comportamento faz uma comparativa do código moral de Yeyemowo com Iemanjá, e conclui que não é possível negar que pode-se observar "''(...)que vemos muito de mulheres que conhecemos ou mesmo de nossas mães neste mito''", sendo que "''Muito provavelmente por esse motivo tenha se tornado tão popular e amado entre nós na diáspora.''"<ref name=poli/> Para A. Vallado, Iemanjá representa o arquétipo da mulher zelosa e generosa.<ref name=vallado/> Na interpretação de R. Fonseca, "''Iemanjá nos fala de um precioso arquétipo feminino: o da mulher-mãe, daquela que concebe, alimenta e abriga os seus filhos. Esta mulher é fecunda e, por ser condescendente e conciliadora, ela é sistematicamente usurpada''". Numa [[análise]] mais profunda, expõe:
 
::"''A relação de Iemanjá com os homens, nas lendas mais antigas, é a de distância física. Ela está sempre farta dos esposos, sempre fugindo deles ou, no mínimo, eles estão ausentes. Não há relatos ancestrais de amores ardentes e sensuais e seus companheiros aparecem apenas como os pais materiais de seus filhos, embora ela habitualmente conceba sozinha a sua prole. A relação de Iemanjá com os seus companheiros é de a parceria, de amizade, de comunhão e não de amor sexual. (...)Quanto ao último elemento das lendas de Iemanjá, podemos dizer que os seios da mulher contêm um duplo simbolismo. Primeiramente eles representam o princípio feminino, inequivocamente, a mãe, personificada em Iemanjá. Por outro lado, os seios femininos também materializam a proteção, o refúgio, o lugar de repouso. Na ideologia mortuária iorubá, morrer nas águas significa regressar à origem, ao conforto e abrigo do corpo sagrado da Mãe. Durante os duros séculos de escravidão moderna, a imagem da mãe, à qual os [[nagô]] imaginavam regressar após a morte, era a da Mãe África, o berço da cultura iorubá.''"<ref name=fonseca/>
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=== Sincretismo ===
[[Ficheiro:Mami Wata poster.png|thumb|left|180px|Representação de [[Mami Wata]] por Schleisinger.]]
Iemanjá, na cultura da [[diáspora africana|diáspora]], é, sobretudo, uma [[Sincretismo|divindade sincrética]], reunindo, em si, os diferentes atributos de outros orixás femininos das águas. Sua figura embasada no arquétipo da ''Grande-Mãe'' é promovida a ''Grande-Deusa'', em especial pelo fato de que, no Brasil, tratando-se da divindade mais cultuada da Bahia, com grande prestígio popular, encontra seu par em [[Nossa Senhora da Conceição]] (no [[Rio Grande do Sul]], [[Nossa Senhora dos Navegantes]]), ou mais especificamente na [[Virgem Maria]], o que, segundo Verger, teria ocasionado uma equivalência de importância dentro do panteão iorubá, tornando-a a única do mesmo com um sincretismo iconográfico acabado.<ref name=maria/><ref name=poli/><ref name=verger/><ref>de Azevedo, Manuel Quitério. ''O culto a Maria no Brasil: história e teologia.'' Editora Santuário, 2001 - 260 páginas</ref><ref>Valente, Waldemar. ''Sincretismo religioso afro-brasileiro''. Companhia Editora Nacional, 1976 - 117 páginas.</ref><ref name=coimbra>Coimbra, Créso. ''Fenomenologia da cultura brasileira.'' LISA, 1972 - 681 páginas.</ref><ref name=marcello>Azevedo, Marcello de Carvalho. ''Teologia da inculturação e inculturação da teologia.'' Ed. Vozes, 1 de jan de 1995 - 132 páginas.</ref><ref name=humanidade>''Humanidades, Edições 35-38''. Editora Universidade de Brasília, 1994.</ref><ref>Dreher, Martin. ''Populacoes Rio-Grandenses E Modelos de Igreja.'' Editora Sinodal, 1998 - 340 páginas.</ref> Tal sincretismo ocorreu devido ao culto entusiasmado dos orixás disfarçados de santos do catolicismo pelos escravos nas [[senzalas]].<ref name=reid>Reid, Michael. ''[https://books.google.com.br/books?id=xtFpBAAAQBAJ&pg=PT53&dq#v=onepage&q&f=false Brasil: A Turbulenta Ascensão De Um País]''. Elsevier Brasil, 20 de ago de 2014 - 320 páginas.</ref> A assimilação católica também observa-se em Cuba com o culto da Virgem de Regla, todavia vale ressaltar que em tal mimetismo em que o orixá se camuflou em uma divindade católica o mesmo não se corrompeu, nas palavras de Stella e M. Loddy, "''Iemanjá é Iemanjá na Bahia, em Cuba ou no mais sincrético terreiro de umbanda''".<ref name=cabrera/><ref>Stella (de Oxóssi, Mãe.), Raul Giovanni da Motta Lody. ''Faraimará, o caçador traz alegria: Mãe Stella, 60 anos de iniciação.'' Ed. Pallas, 1999 - 412 páginas.</ref> O mesmo sincretismo é um aspecto distintivo da cultura brasileira até a atualidade.<ref name=reid/> No Brasil, seu culto também confundiu-se com o culto da ''Mãe-d'água'', a [[Iara]], o que justifica sua representação por vezes como [[sereia]].<ref name=maria/><ref name=coimbra/><ref>de Andrade, Mario. ''Música de feitiçaria no Brasil''. Nova Fronteira, 2 de jul de 2015 - 338 páginas.</ref> Essa associação à sereia contrasta evidentemente com o lado maternal de Iemanjá na concepção africana, e em especial com a Virgem Maria pela demasiada sensualidade, mas não obstante também aparece no [[Voodoo da Louisiana|Vodu da Louisiana]] e [[Vodu haitiano]], onde Iemanjá é associada à ''Lá Sirène'' e [[Mami Wata]], espíritos das águas.<ref name=humanidade/><ref>Alvarado, Denise. ''[https://books.google.com.br/books?id=qiJoEAOGmYkC&pg=PA33&dq=#v=onepage&q&f=false Voodoo Hoodoo Spellbook].'' Ed. Weiser Books, 2011 - 320 páginas. ISBN 978-1-57863-513-9</ref><ref>Lifshitz, Fima. ''[https://books.google.com.br/books?id=ghVF7yRvMA0C&pg=PA17&dq=#v=onepage&q&f=false An African Journey Through Its Art].'' AuthorHouse, 2009 - 214 páginas. p. 17</ref> Essa aglutinação com tais divindades evidencia-se na afirmativa de S. Otero e T. Falola que "''Iemanjá e [[Oxum]] fazem parte de uma rede global de [[espíritos]] da água que muitos estudiosos, especialmente Henry John Drewal, trouxeram sob a égide Mami Wata. Seja em [[Serra Leoa]], [[República Democrática do Congo|Congo]], [[Togo]], em Igbo na Nigéria, [como] ''Lasiren'' no Haiti, ''Santa Marta Dominadora'' na República Dominicana (...)os espíritos (divindades, energias, forças cósmicas) compartilham algumas semelhanças notáveis''".<ref name="mamiwata">Solimar Otero, Toyin Falola. ''Yemoja: Gender, Sexuality, and Creativity in the Latina/o and Afro-Atlantic Diasporas.'' SUNY Press, 2013 - 336 páginas. ISBN 978-1-4384-4799-5</ref> Em ''Candomblés da Bahia'' E. Caneiro confunde Iemanjá com um [[Nkisi]] do [[Candomblé bantu]] [[Ndanda Lunda|Dandalunda]], apresentando esta como um dos nomes da primeira, essa identificação das duas divindades costuma aparecer com certa frequência.<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo dicionário da língua portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 914.</ref><ref name="edison"/>
 
=== Qualidades e Avatares ===
Linha 288 ⟶ 291:
*ASSEF, Carlos Renato. ''O Candomblé e seus Orixás''. Ed. LeBooks, 2013. ISBN 978-85-66833-69-0
*AUGRAS, Monique. ''De Iyá mi a pomba-gira: transformações e símbolos da libido.'' In: Moura, Carlos Eugênio. ''Candomblé, religião do corpo e da alma: tipos psicológicos nas religiões afro-brasileiras.'' Rio de Janeiro, Ed. Pallas, 2000.
*BARBOSA JUNIOR, Ademir Barbosa. ''O livro essencial de Umbanda.'' Universo dos Livros Editora, São Paulo, 2014. ISBN 978-85-7930-744-7
*BASCOM, William W. ''Sixteen Cowries: Yoruba Divination from Africa to the New World.'' Indiana University Press, 1980. ISBN 0-253-35280-0, ISBN 0-253-20847-5
*BERKENBROCK, Volney J. ''A experiência dos orixás: um estudo sobre a experiência religiosa no candomblé.'' Editora Vozes, 1998.
Linha 293 ⟶ 297:
*CARNEIRO, Edison. ''Candomblés da Bahia.'' Secretaria de Educação e Saúde, 1948.
*COSTA, Eduard Montgomery Meira. ''Orixás.'' Clube de Autores, 2007.
*IWASHITA, Pedro. ''Maria e Iemanjá: análise de um sincretismo''. Edições Paulinas, 1991.
*JUNIOR, Ademir Barbosa. ''O livro essencial de Umbanda.'' Universo dos Livros Editora, São Paulo, 2014. ISBN 978-85-7930-744-7
*LENZ, Helena Goldammer. ''Tupi e Guarani: A língua dos bandeirantes.'' Cia do eBook, 2015. ISBN 978-85-6822-786-2
*[[Nei Lopes|LOPES, Nei]]. ''[[Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana]]''. São Paulo: Selo Negro, 2004. ISBN 85-87478-21-4.
*MASON, P.H. (2016) ''Fight-dancing and the Festival: Tabuik in Pariaman, Indonesia, and Iemanjá in Salvador da Bahia, Brazil.'' Martial Arts Studies Journal, 2, 71-90. DOI: 10.18573/j.2016.10065
*MEGALE, Nilza Botelho. ''Folclore brasileiro.'' Editora Vozes, 1999.
*MODESTO, Luís Antonio. ''O Livro Da Nação Espírita.'' Clube de Autores, 2009.
*MSIMANGO, Kagiso. ''The Goddess Bootcamp.'' Jacana Media, 2013. ISBN 978-1-920601-04-1
*NASCIMENTO, Elisa Larkin. ''GUERREIRAS DE NATUREZA: Mulher negra, religiosidade e ambiente''. Grupo Editorial Summus, São Paulo: Selo Negro, 2008. ISBN 978-85-87478-34-4
*NETO, Arnaldo Rodrigues. ''Yorùbá Básico - Guia de Referência Rápida de Yorùbá e Candomblé.'' Clube de Autores, 2008.
*SAMPAIO, Mário Arnaud. ''Palavras indígenas no linguajar brasileiro''. Porto Alegre: Sagra : D.C. Luzzatto Editores, 1995. ISBN 85-241-0469-4
*SOUSA JUNIOR, Vilson Caetano de. ''Na Palma da Minha Mão - temas afro-brasileiros e questões contemporâneas.'' Salvador, Ed. EDUFBA, 2011. ISBN 978-85-232-0796-0
*ZENICOLA, Denise Mancebo. ''Performance e Ritual: a dança das iabás no xirê''. 1ª ed. - Rio de Janeiro : Mauad X : Faperj, 2014. ISBN 978-85-7478-716-9