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'''Selim III''' (turco otomano: سليم ثالث Selīm-i sālis) ([[24 de Dezembro]] de [[1761]] – [[28 de Julho|28]]/ [[29 de Julho]] de [[1808]]) foi um [[sultão]] do [[Império Otomano]] desde [[1789]] a [[1807]]. Era filho de [[Mustafá II]] .
==Ascenção ao Trono==
Selim III ascendeu ao trono em 7 de abril de 1789, com a idade de vinte e seis anos, sucedendo a seu tio [[Abd-ul-Hamid I]].
 
O Império Otomano encontrava-se em guerra, lutando simultaneamente em duas frentes de batalha; contra o Império Russo ([[Guerra Russo-Turca (1787–1792)|Guerra Russo-Turca 1787-1792]]); e contra o [[Sacro Império Romano-Germânico|Sacro-Império Romano-Germânico]] ([[Guerra Austro-Turca 1787-1791]]).
 
Após lentos progressos militares, os austríacos, haviam tomado parte da [[Valáquia]] e apoderaram-se da cidade de [[Bucareste]].
 
Uma revolta grega, mais uma vez drenou o esforço da guerra otomano, enquanto uma epidemia se abatia sobre os exércitos austríacos, o que levou a uma trégua entre otomanos e austríacos. Os russos, porém, continuaram seu avanço quando [[Alexander Suvorov|Suvorov]] capturou a importante fortaleza de Ismail na entrada do [[Rio Danúbio|Danúbio]], em dezembro de 1790.
 
Após a morte do imperador [[José II do Sacro Império Romano-Germânico|José II]], em 1790; seu sucessor [[Leopoldo II do Sacro Império Romano-Germânico|Leopoldo II]] viu-se forçado a abandonar o conflito, devido à ameaça da intervenção prussiana em apoio aos otomanos. A paz foi celebrada no [[Tratado de Sistova]], de 4 de agosto de 1791, pelo qual o Sacro-Império devolveu todo o território conquistado, salvo a pequena cidade de Orsova e uma tira de terra perto da fronteira entre a Bósnia e a Croácia.
 
A retirada dos austríacos abriu caminho para as negociações de paz com a Rússia, que foram concluídas pelo [[Tratado de Jassy|Tratado de Iaşi]], assinado em 9 de janeiro de 1792; pelo qual os russos obtiveram novos territórios ao longo do [[Mar Negro]] (Odessa e Oczakov), além de ratificar as conquistas anteriores. Os Otomanos conservaram seu domínio sobre a [[Sérvia]].
 
==Reformas Internas==
Após a conclusão das guerras contra austríacos e russos; Selim III buscou implementar seus planos de reforma do Estado.
 
Durante décadas, a autoridade do sultão tornara-se fraca nas províncias periféricas e suas reformas militares buscaram impor novamente o controle central e equiparar o exército otomano a seus oponentes europeus.
 
A exemplo de alguns de seus antecessores, recrutou técnicos e oficiais instrutores na Europa e adquiriu novos armamentos.
 
Selim III criou uma tropa de elite denominada “nizam-i-jedid” (ou "nova ordem"), treinada e equipada nos moldes europeus; porém os corpos militares mais antigos, sobretudo os [[Janízaro|janízarosjanízaro]]s, permaneceram intactos e hostis ao novo modelo.
 
Planejou também uma ampla reforma educacional, pela qual o Estado passaria a incumbir-se da educação primária, até então a cargo de escolas religiosas. As primeiras incursões no sistema foram feitas com a criação de faculdades de engenharia naval, ciências médicas e militares; absorvendo o modelo de treinamento ocidental especializado que foi enxertado ao sistema tradicional, com vistas a formação de especialistas para o exército. Posteriormente foram fundadas instituições similares para diplomatas e administradores, incluindo o escritório de tradução e a escola de serviço civil.
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==Campanha do Egito==
Após os acordos de paz de 1791 que puseram fim aos conflitos com austríacos e russos, Selim III buscou a neutralidade em relação aos conflitos da Europa, naquela época convulsionada pela [[Revolução Francesa]].
 
Selim III mantivera uma extensa correspondência com [[Luís XVI de França|Luís XVI.]] Embora angustiado pelo estabelecimento da república na França, o governo otomano foi apaziguado pelos representantes franceses em [[Constantinopla]].
 
Neste período Selim III aproximou-se dos britânicos, chegando a intermediar as relações entre o Reino Unido e o [[Reino de Maiçor|Sultanato de Maiçor]], durante a quarta [[Guerra Anglo-Mysore]].
 
A invasão de [[Napoleão Bonaparte]] ao Egito e à Síria em 1798 levou à ruptura da aliança franco-otomana e a [[Sublime Porta]] aliou-se ao Reino Unido. As forças otomanas foram derrotadas pelos franceses na [[Batalha das Pirâmides]]; enquanto a vitória britânica na [[Batalha do Nilo|Batalha Naval de Abuquir]], isolava a força expedicionária francesa. Contando com o auxílio da marinha britânica, os otomanos recuperaram algum território, porém face à defecção de [[Murad Bei|Murad Bey]] sofreram nova derrota frente aos franceses na [[Batalha de Heliópolis]] e perderam o controle da cidade do [[Cairo]] em 1800.
 
Após os exércitos britânicos retomarem [[Alexandria]], foi negociada uma capitulação honrosa aceita pelos franceses em 1801. O Reino Unido e a França assinaram a [[Tratado de Amiens|Paz de Amiens]], em março de 1802. Um dos artigos deste tratado previa que as posses e a integridade do Império Otomano deveriam ser preservadas como antes da guerra. Os otomanos assinaram ainda uma paz separada com a França. Através deste acordo, os franceses recuperaram seus antigos privilégios (como capitulações e o status de protetores dos súditos católicos do sultão) e, pela primeira vez, concedia-se aos navios mercantes franceses o direito de comerciar livremente no Mar Negro.
 
A reconstrução das relações diplomáticas franco-otomanas, ainda que a influência francesa junto à [[Sublime Porta]] não tenha revivido plenamente; levou o Império Otomano à juntar-se ao “Sistema Continental” de [[Napoleão I]], colocando-se novamente num campo político oposto aos seus tradicionais rivais; os russos e os austríacos.
 
==Guerra Russo-Turca (1806-1812)==
Após a derrota Austro-Russa na [[Batalha de Austerlitz|Batalha de Austerlitz (1805)]] e a ocupação da [[Dalmácia]] pelos franceses, um contingente russo de 40.000 soldados avançou sobre a Moldávia e a Valáquia; a fim de salvaguardar a fronteira russa contra um possível ataque francês.
 
Selim III reagiu bloqueando os Dardanelos e declarando guerra à Rússia em 1806. Uma ofensiva otomana tentou recuperar Bucareste; mas foi contida pelas tropas russas lideradas pelo general Mikhail Miloradovich em junho de 1807.
 
Uma contra-ofensiva russa na [[Arménia|Armênia]] liderada pelo Conde Gudovich derrotou os otomanos na [[Batalha de Arpachai]]; enquanto a marinha imperial russa sob [[Dimitri Nicolaievich Seniavin|Dimitri Senyavin]] aniquilava a frota otomana nas batalhas navais dos [[Dardanelos]] e do [[Monte Atos|Monte Athos]] entre maio e junho de 1807.
 
==Deposição e Morte==
A partir de 1803, Selim III voltara a se defrontar com revoltas internas em províncias do Império; com destaque para a insurreição da Sérvia liderada por Georges Petrović; e a rebelião do [[Emir]] do [[Nejd]]; [[Saud Ibn Abdul Aziz Ibn Mohammed Ibn Saud]], um convertido ao [[Wahhabismo]], que arrebatou do Império Otomano as cidades sagradas de [[Medina]] e [[Meca]], integrando-as ao [[primeiro Estado Saudita]], o que gerou grande comoção em Constantinopla.
 
A anarquia, manifesta ou latente, que ganhou corpo em todas as províncias foi agravada com os insucessos militares verificados na [[Guerra Russo-Turca (1806–1812)|Guerra Russo-Turca (1806-1812)]] então em andamento.
 
Os janízaros levantaram-se mais uma vez em revolta; induziram o xeque Ul-Islam a conceder uma fetva contra as reformas e destronaram Selim III em 29 de maio de 1807; colocando no trono seu primo Mustafa IV.
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As versões sobre como se deu seu assassinato divergem. Alguns relatos dão conta que ele teria sido esfaqueado, enquanto outros sustentam que a morte se deu por asfixia.
 
Selim III seria o único sultão otomano a ser assassinado. Foi sepultado na [[Mesquita de Laleli]], próximo ao túmulo de seu pai.
 
Seu primo mais novo, o príncipe Mahmud, cujo assassinato também teria sido ordenado por Mustafá IV, conseguiu escapar, vindo a ser elevado ao trono como [[Mahmud II|Mahmud II,]], após a deposição de seu irmão Mustafá IV.
 
==Vida Pessoal==
Selim III teve sete esposas, porém não teve filhos.
 
Era um homem culto e religioso. Falava árabe e persa com fluência. Foi poeta e músico, além de um patrono apaixonado das artes plásticas e arquitetura.
 
Persuadido da necessidade de reformar seu Estado, abriu-se aos modelos ocidentais, tanto nos aspectos militares e administrativos, quanto no campo artístico e intelectual, sem contudo desprezar as tradições culturais turcas, as quais também valorizou e patrocinou.
==Legado==
As reformas pretendidas por Selim III em geral não lograram êxito, sendo barradas pelos setores conservadores presentes tanto na esfera militar, quanto na sociedade civil. Talvez a única exceção parcial esteja no âmbito da reforma educacional, onde suas iniciativas progrediram, ainda que lentamente devido à falta de recursos, mas forneceram uma estrutura dentro da qual se desenvolveu um programa educacional sistemático e secular que viria a ser consolidado num plano educacional ainda mais ambicioso iniciado em 1869 no reinado de [[Abdülaziz I|Abd-ul-Aziz I.]]
 
Quanto aos aspectos geo-políticos, seus fracassos escreveram mais um capítulo da chamada “[[Questão Oriental|questão oriental]]”, referente ao lento declínio do Império Otomano.
 
 
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|antes = [[Abd-ul-Hamid I]]
|título = [[Dinastia Otomana|Sultão Otomano]]
|anos = [[1789]] – [[1807]]
|depois = [[Mustafa IV]]
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