Conspiração dos Suassunas: diferenças entre revisões

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A '''Conspiração dos Suassunas''', ou '''dos Suaçunas,''' foi um projeto de revolta supostamente proposto em [[Olinda]], na então [[Capitania de Pernambuco]], em 1801. O motim compõe o cenário de crise do Antigo Sistema Colonial, durante o qual eclodiram levantes de teor emancipatório. Assim como a [[Inconfidência Mineira]] (1789) e a [[Conjuração Baiana|Baiana]] (1798) e a [[Revolução Pernambucana]] (1817), expressou a insatisfação dos colonos frente as políticas deficientes da metrópole Portugal, prenunciando a [[Independência do Brasil]], decretada em 1822.<ref name=":0" />
A chamada '''Conspiração dos Suassunas''', também grafada '''Conspiração dos Suaçunas''' — de acordo com as regras de ortografia vigentes<ref>Segundo o [[Formulário Ortográfico de 1943]] e o [[Acordo Ortográfico de 1945]], palavras [[indígenas]] devem ter a sua [[ortografia]], em [[língua portuguesa]], atualizada de acordo com a [[onomástica]] do idioma.</ref> —, foi um projeto de revolta que se registrou em [[Olinda]], na então [[Capitania de Pernambuco]], no alvorecer do [[século XIX]].
 
Os irmãos Francisco, Luiz e José, todos de sobrenome “de Paula Cavalcante de Albuquerque”, proprietários de um engenho chamado Suassuna, planejaram um motim secreto pela independência da capitania de [[Pernambuco]]. A descoberta se deu após um amigo dos Suassuna, José da Fonseca Silva e Sampaio, denunciar que um dos irmãos enviava cartas de [[Portugal]] aos outros em [[Pernambuco]], tramando a conspiração.<ref name=":1" />
== O movimento ==
Influenciadas pelas ideias do [[Iluminismo]] e pela [[Revolução Francesa]], algumas pessoas, entre as quais [[Manuel Arruda Câmara]] — membro da [[Sociedade Literária do Rio de Janeiro]] —, fundaram em [[1796]] a [[loja maçônica]] [[Areópago de Itambé]], da qual não participavam europeus.
 
O movimento se inspirou no discurso libertário e igualitário do [[Iluminismo]] e no caráter subversivo e contra hegemônico predominantes tanto na [[Revolução Francesa]] (1789) como na [[Revolução Americana|Independência dos EUA]] (1776). Mas todavia a moção não passou de uma corrente de pensamento, que fracassou em suas ações, assim contentando-se em compor o imaginário coletivo da historiografia das reivindicações populares brasileiras.<ref name=":1" />
As mesmas ideias também eram discutidas por padres e alunos do [[Basílica e Mosteiro de São Bento (Olinda)|Seminário de Olinda]], fundado pelo bispo dom [[José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho]] em [[16 de fevereiro]] de [[1800]]. Esta instituição teve, entre os seus membros, o [[Padre Miguelinho]], um dos futuros implicados na [[Revolução Pernambucana|Revolução Pernambucana de 1817]].
 
Apesar do fiasco de sua execução, a Conjuração dos Suassunas foi uma semente silenciosa do movimento mais vibrante pré-independência: a [[Revolução Pernambucana]], de 1817. A relação se deve à constatação de que muitos revoltosos desta última conheciam os irmãos Cavalcante e sobretudo porque nela, depois de fracassada a Conjuração de 1801, eles dois seriam afligidos pela repressão de 1817: um morto, outro preso.<ref name=":0">{{Citar web|url=http://www.historia.uff.br/impressoesrebeldes/?revoltas_categoria=1801-confederacao-dos-suassunas|titulo=Conspiração dos Suassunas – Pernambuco {{!}} Revoltas {{!}} Impressões Rebeldes|acessodata=2017-11-19|obra=www.historia.uff.br|lingua=pt-BR}}</ref>
As discussões filosóficas e políticas no Areópago evoluíram para uma conjuração contra o domínio [[Portugal|português]] no [[Brasil]], com o projeto de emancipação de Pernambuco, constituindo-se uma [[república]] sob a proteção de [[Napoleão Bonaparte]]. Integravam o grupo de conspiradores os irmãos Cavalcanti – [[Luís Francisco de Paula Cavalcanti e Albuquerque|Luís Francisco de Paula]], [[José Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque]] e [[Francisco de Paula Cavalcanti e Albuquerque|Francisco de Paula]] –, o último sendo proprietário do ''Engenho Suassuna'', que daria nome ao movimento.
 
== Contexto ==
A [[21 de Maio]] de [[1801]], um delator informou às autoridades da capitania os planos dos conjurados, o que conduziu à detenção de diversos implicados. Instaurado o processo de devassa, entretanto, vieram a ser absolvidos mais tarde, por falta de provas. O aerópago foi fechado em [[1802]], reabrindo pouco mais tarde sob o nome de ''Academia dos Suassunas'', com sede no mesmo engenho, palco das reuniões dos antigos conspiradores.
 
No mesmo ano de 1801 em que foi deflagrada a Conjuração dos Suassunas, a [[Espanha]] invadiu [[Portugal]], por convencimento de [[Napoleão Bonaparte]], a fim de fechar os portos lusitanos ao comércio inglês<ref>{{citar web|url=http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/secretaria_extraordinaria_de_cultura/DOC/DOC000000000108782.PDF|titulo=Personalidades Históricas - José Francisco de Paula Cavalcanti Albuquerque|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>, assim iniciando a batalha que se estenderia por um mês e ficaria conhecida como [[Guerra das Laranjas]]. A [[França]] se uniu aos espanhóis, para castigar o afastamento recente de Portugal e forçar a [[Grã-Bretanha|Grã Bretanha]], sua rival endividada, a socorrer os lusitanos emergencialmente e, com o desgaste disso, enfraquecer-se.<ref name=":2" />
O episódio é pouco conhecido na [[historiografia]] em [[História do Brasil]], uma vez que a devassa correu em sigilo à época, devido à elevada posição social dos implicados.
 
O jogo político prosseguia. As forças militares e econômicas de [[Portugal]] eram escassas e, como se isso não bastasse, as águas portuguesas tornaram-se infestadas por vários corsários franceses, que intensificaram os prejuízos do país na virada para o século XIX. E é sob esse contexto de pressões externas, guerras e incursões de franceses acometendo Portugal que se ergue a Conspiração dos Suassunas, em Pernambuco.<ref name=":2" />
O movimento inscreve-se no contexto de [[Crise do Antigo Sistema Colonial]]. Apesar da repressão aos envolvidos, os seus ideais voltaram a reaparecer, anos mais tarde, na [[Revolução Pernambucana]].
 
No início do século XIX, [[Pernambuco]] destacava-se geograficamente como um campo de luta política entre as regiões da colônia, sobretudo porque lá se evoca a resistência local imposta aos holandeses, no [[século XVII]].<ref name=":1" /> Foi quando, combatendo os [[flamengos]] pela preservação da unidade nacional, despertou nos pernambucanos uma vocação política, que se aliaria ao sentimento [[Nativismo|nativista]] e libertário com o qual se passa a perceber, no [[Nordeste]], o valor do nativo, seu apego à terra e a confiança em sua capacidade de auto governo.<ref name=":3">{{Citar periódico|ultimo=Quintas|primeiro=Amaro|data=1963|titulo=VOCAÇÃO POLÍTÍCA E TENDÊNCIAS IDEOLÓGICAS DO NORDESTE|url=http://faje.edu.br/periodicos/index.php/Sintese/article/view/3211|jornal=Síntese: Revista de Filosofia|lingua=pt|volume=5|numero=17|paginas=18–32|issn=2176-9389}}</ref>
 
O [[Nordeste]], historicamente, é o centro de irradiação do potencial revolucionário, que curiosamente não logrou, durante esse decurso, concretizar esse ânimo emancipatório em reformas efetivas e, via de regra, não consegue impedir sua volatilização em um romantismo político. Criou-se, na região, menos uma espécie de [[nativismo]] e mais um senso de coletividade que integrou a elite local, construindo uma identidade de objetivos, valores e demandas também coletivos. Ocorria por lá tanto uma ruptura com os valores anacrônicos e opressivos do [[Antigo Regime]], embora não total, como uma necessidade de auto afirmação, fruto de um sentimento de menosprezo, por parte dos colonizados, que passa a motivá-los a exigir o reconhecimento de direitos fundamentais tal como eles viam ser assegurados para os colonizadores.<ref name=":1" />
 
== Acontecimentos ==
 
=== Tentativa ===
O bispo [[José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho|Azeredo Coutinho]] recebeu a denúncia em 1801. Em 1800, fundara o Seminário de Olinda, entre cujos membros havia [[Padre Miguelinho]], depois implicado na [[Revolução Pernambucana|Revolução Pernambucana de 1817]]. Suspeitava-se, ainda, das reuniões nas [[Loja Maçônica|lojas maçônicas]], seio da propalada conspiração nacional, de que se destacou o [[Areópago de Itambé|Aerópago de Itambé]]<ref name=":0" />, fundado pelo padre [[Manuel Arruda Câmara]] e de cujas discussões, indiscutivelmente, não participavam europeus, uma vez que o movimento, composto por profissionais liberais, do clero e da pequena burguesia<ref name=":4">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=23JFT78k57UC&oi=fnd&pg=PA13&dq=%22conspira%C3%A7%C3%A3o+dos+suassunas%22&ots=bY6qLVCWk2&sig=FnO15i1IKgSxNZVm5fawnk9RgjY#v=onepage&q=%22conspira%C3%A7%C3%A3o%20dos%20suassunas%22&f=false|título=História dos movimentos e lutas sociais: a construção da cidadania dos brasileiros|ultimo=Gohn|primeiro=Maria da Glória Marcondes|data=1995|editora=Edições Loyola|lingua=pt|isbn=9788515011544}}</ref>, assumia um caráter disruptivo e não conciliatório. A maçonaria adotava uma sociabilidade política e intelectual direcionada a um projeto antiabsolutista, voltado aos elementos do Antigo Regime que a instalação da Corte no Brasil, para Pernambuco, em vez de mitigar, como se esperava, havia reforçado.<ref name=":8">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=AluwH7UZOKwC&pg=PA180&dq=conspira%C3%A7%C3%A3o+dos+suassunas&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjPjtKMpenWAhUEj5AKHe8OA1kQ6AEIJjAA#v=onepage&q=conspira%C3%A7%C3%A3o%20dos%20suassunas&f=false|título=O patriotismo constitucional: Pernambuco, 1820-1822|ultimo=Bernardes|primeiro=Denis|data=2006|editora=Editora Universitária UFPE|lingua=pt|isbn=9788560438006}}</ref>
 
Tanto o Seminário de Olinda, como o [[Areópago de Itambé|Aerópago de Itambé]] destacam-se,à época, como centros de polarização das ideias emancipatórias.
 
O projeto de emancipação de Pernambuco, que consistia em constituir na região uma [[República]] sob a proteção de [[Napoleão Bonaparte]], deriva do contexto macropolítico da época. O monarca francês enfrentava, inexpugnável, todos os demais países europeus, tanto com o fim de expandir o poderio militar, político e econômico de seu país, como para disseminar os ideais progressistas da [[Revolução Francesa]]. Quando o general soube que as comunidades maçônicas de Pernambuco floresciam aos montes, compostas por intelectuais discutindo política a partir da perspectiva igualitária-libertária-fraterna similar à da Revolução de 1789, Napoleão interessou-se por se dispôr à retaguarda do movimento, para auxiliá-lo.<ref name=":4" />
 
O apoio de [[Napoleão Bonaparte|Napoleão]] foi conquistado pela presença de um dos irmãos Cavalcante, José Francisco, que teria sido o agente da conjura na Europa, a fim de obter seu apoio, graças às conexões maçônicas de que dispunha em Paris, como sugere o fato de que será nomeado representante do Grande Oriente da França junto do Grande Oriente lusitano, tornando-se um dos negociadores e articuladores do convênio de cooperação de ambos. Tal como os [[Conjuração Baiana|conjurados baianos]] de 1798, os Suassunas criam poder contar com a ajuda da França, pois, face ao obstáculo da aliança anglo-portuguesa, ela sempre parecera aos conspiradores da terra seu óbvio protetor internacional.<ref name=":6">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=lTMN4ifXPrIC&pg=PA25&dq=conspira%C3%A7%C3%A3o+dos+suassunas&hl=pt-br&ei=NwK_TOKdE5HrOZrX5Ds&sa=X&oi=book_result&ct=result&redir_esc=y#v=onepage&q=conspira%C3%A7%C3%A3o%20dos%20suassunas&f=false|título=A outra independência: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824|ultimo=Mello|primeiro=Evaldo Cabral de|data=2004|editora=Editora 34|lingua=pt|isbn=9788573263145}}</ref>
 
Mas mais do que o desejo de [[Napoleão Bonaparte|Napoleão]], a configuração dos movimentos libertários pernambucanos não ganharia consistência sem a atuação onipresente do ex-ministro [[Rodrigo de Sousa Coutinho]]. Conhecido como amigo da pátria, ele formou a Geração de 1790, um grupo composto em maioria por [[Naturalismo|naturalistas]] egressos da [[Universidade de Coimbra]] e que decidiu delegar o poder sobre o conhecimento a uma restrita elite, assim incumbida de tomar as decisões políticas e representar os novos desejos progressistas. O grupo, cuja presença paradigmática é a do patriarca da Independência, [[José Bonifácio de Andrada e Silva|José Bonifácio de Andrada]], exerceu extensa e impregnável influência na definição da cultura política da época, inclusive e sobretudo no movimento de emancipação que estava por eclodir.<ref name=":1">{{citar livro|título=A Suposta Conspiração de 1801|ultimo=NEVES|primeiro=Guilherme Pereira das|editora=|ano=|local=|páginas=|acessodata=}}</ref>
 
[[Rodrigo de Sousa Coutinho|Rodrigo]] e os demais ilustrados procuravam uma linguagem para traduzir quem seria o ''brasileiro'' da época e se defrontavam com a dificuldade de situar o sujeito nacional de forma integral, uma vez que o país rompia progressivamente com o [[Antigo Regime]] rumo à ambição da modernidade; e, com isso, assumia um perfil clivado, híbrido, deformado. Quem efetivava as reformas propostas pelo grupo de [[Rodrigo de Sousa Coutinho|D. Rodrigo]] era o bispo [[José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho|Azeredo]], um político pragmático, seguro e confiante, liberto dos valores com os quais, para ele, o Brasil não podia mais compactuar. E isso incomodava os ricos, poderosos e militares da colônia, interessados em preservar os abusos naturalizados pela monarquia brasileira, que lhes favorecia. [[José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho|Azeredo]] recebeu cartas que o pressionavam, o ameaçavam, as quais subentendiam uma pretensão escusa por parte desses grupos de, indiscretamente, assassiná-lo.<ref name=":1" />
 
A imagem de [[José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho|Azeredo]] foi construída pela historiografia como a do percursor do [[liberalismo]] em Pernambuco, imagem alimentada e talvez corroborada pelo fato de que muitos dos que participaram das Revoluções de [[Revolução Pernambucana|1817]] e [[Revolução de 1820 (onda revolucionária)|1824]], entre padres e leigos, como alunos ou professores, passaram pelo Seminário de Olinda. Mas, atendo-se ao registro sobre sua carreira política, notar-se-á que [[José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho|Azeredo]] foi ao contrário um súdito fiel da [[Monarquia]] e do Império Português, fazendo-se muito mais um colono ajustado do que um [[Reformismo|reformista]].<ref name=":8" />
 
=== Enfraquecimento ===
É inegável que se o [[Regência (governo)|Príncipe Regente]] caísse em mãos inimigas, em 1801, se verificaria a implementação de um [[governo provisório]] não só na capitania de [[Pernambuco]], mas no Brasil, à maneira do que ocorreu na [[América espanhola|América Espanhola]] com as juntas autônomas, formadas para fim de auto-defesa e em nome da monarquia. O projeto, porém, se frustrou com a chegada da [[Monarquia de Portugal|família real portuguesa]], fugitiva desesperada do exército de [[Napoleão Bonaparte|Napoleão]], que decretara o [[Bloqueio Continental]] e havia pouco tentara acossar também os portugueses.<ref name=":6" />
 
A instalação do aparelho estatal no Rio de Janeiro, então capital do país, anunciando a intenção de fundar um grande império luso-brasileiro, que recuperasse o protagonismo de Portugal no cenário político-econômico europeu, provocou uma inflexão imprevista e negativa à emancipação da América portuguesa. Com sua fixação no Rio, a Coroa ficou exponencialmente mais apta a se intrometer nos negócios provinciais, redundando, com isso, na diminuição, também assertiva, da autonomia e da influência das elites locais.<ref name=":6" />
 
Eis que José da Fonseca Silva e Sampaio, amigo dos irmãos Suassuna, denuncia o movimento, ao abafar uma carta remetida por eles. Não se sabe por que traiu seus amigos, mas, sim, que recebeu quatrocentos mil réis por interceptá-la.<ref name=":1" /> Ainda hoje estranha-se que homens de prestígio e fortuna quiseram romper um modelo de Estado que lhes agraciava. Eles não manifestavam indícios sediciosos; pelo contrário, alinhavam-se muito bem às convenções sociais e culturais da época. Pode-se, porém, questionar se a carência de opiniões sobre a situação então conflitiva de Pernambuco sugeria que outras missivas teriam sido trocadas em segredo e que, hoje, fogem ao conhecimento público.<ref name=":1" />
 
== Consequências ==
Fracassa a intentona, limitadamente romântica. Nas correspondências do correio marítimo remetidas a [[Lisboa]], adotou-se medidas de cautela para evitar que a família dos irmãos tomasse conhecimento do ocorrido. Fecha se o [[Areópago de Itambé|Areópago]]. Mas o espírito que o animara subsiste, e novas sociedades secretas, de semelhante espírito insubmisso, continuam atuando como centros de politização. A Academia dos Suassunas, localizada no engenho do mesmo nome, e a Academia do Paraíso, situada no pátio de mesma denominação, agem, juntamente com a pregação pessoal de [[Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva|Antônio Carlos Ribeiro de Andrade]], ouvidor-mor de [[Olinda]], e conhecido, pelo seu vasto saber, como "Academia Ambulante", com o propósito de implementar a educação política revolucionária dos nordestinos<ref name=":3" /> a partir das reuniões particulares, especialmente as dirigidas com dinamismo por [[Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva|Antônio Carlos]]. E dessa atuação, embora sem sucesso, desse insurgimento [[Idealismo|idealista]], eivado de concepções patrióticas e antimonárquicas<ref name=":8" />, surge a monumental e efetiva [[Revolução Pernambucana|Revolução de 1817]]. <ref name=":3" />
 
Diferentemente dos líderes da [[Conjuração Baiana]] e da [[Inconfidência Mineira]], os irmãos Cavalcante não foram julgados traidores, ou condenados à execução, muito por suas respectivas posições sociais. Donos de engenho, afortunados e dotados de influência política e social na capitania<ref name=":0" />, após a denúncia, dois deles, [[Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque|Francisco de Paula]] e Luís, acabaram presos, mas o terceiro, José, em [[Lisboa]], de onde se correspondia com os outros, teve de fugir para a [[Inglaterra]].<ref name=":1" /> Mesmo que as prisões tenham sido decretadas em sigilo, a população veio a lhes tomar conhecimento, e com assombro, pela difusão oral e informal específicas da comunicação social no nordeste brasileiro.<ref name=":2" />
 
Foram raríssimas as informações oficiais divulgadas pelas autoridades, restringindo o imaginário público à base imprecisa que incorre invariavelmente em aventar especulações.<ref name=":2">{{citar web|url=https://www.revistas.ufg.br/Opsis/article/view/14175/10512#.WhHtv1WnHIV|titulo=Artigo Revista UFG - Breno Gontijo Andrade|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref> O denominador comum de todas essas suposições é que os irmãos Cavalcante, até então incontestavelmente lembrados como homens honrosos e fiéis ao [[catolicismo]] e à [[Monarquia de Portugal|Coroa Portuguesa]], foram subversivos, traidores, vassalos infiéis.<ref name=":2" /> Ao que a documentação referente o episódio indica, os irmãos Cavalcante eram incapazes de conversar sobre ideias de liberdade e eram dotados de virtudes morais e civis incorrigíveis, diametralmente opostas às de sedição e rebeldia, as quais eles foram associados durante a investigação.<ref name=":1" />
 
Instaurou-se uma [[devassa]], conduzida pelo próprio juiz de [[Olinda]], mas cujas informações correram em sigilo à época, novamente em razão da condição social dos denunciados, contribuindo para sua explicação ainda turva na historiografia nacional.<ref name=":1" /> Apesar da devassa, em 8 de junho de 1801, os três irmãos foram absolvidos e soltos, à falta de provas. Preso foi o denunciante, José da Fonseca Silva e Sampaio, que, menos de um mês antes, a 21 de maio, havia delatado às autoridades da companhia os planos dos conjurados.<ref name=":2" />
 
Atuou-se comprometidamente para evitar que as notícias sobre a Conspiração dos Suassunas se propagassem com rapidez.<ref name=":8" /> Diz-se, dramaticamente, que o público jamais pôde penetrar os esconderijos deste mistério, porque molas reais e secretas fizeram correr sobre ele cortinas impenetráveis.<ref name=":6" /> E há quem pressuponha que esse misterioso plano de revolta foi abafado às custas de rios de dinheiro que teriam corrido para as mãos de um frei conhecido pelo nome de José Laboreiro.<ref name=":8" />
 
Fato é que o único documento oficial que serve ao detalhamento das investigações a respeito do que foi a Conspiração é a devassa que examinou o movimento e que, ainda assim, carece de detalhes dominados pelas próprias autoridades, o que ainda dificulta o entendimento do mapa complexo de interesses e intrigas entre os grupos locais de Pernambuco, assim permitindo à historiografia incorrer por vezes no erro de simplificar a disputa ideológica entre os integrantes da colônia, de um lado, e os membros da metrópole, de outro.<ref name=":1" />
 
A Conspiração dos Suassunas fica, portanto, enquanto objeto de estudo, ao aguardo do esclarecimento possível a partir de novas pesquisas, porque, como um provável fruto de conflitos locais e tradicionais, no ambiente carregado de antagonismos que caracterizava a capitania de [[Pernambuco]] de então, ela parece carecer de outro suporte histórico senão a perspectiva nacionalista e a teleologia simplista que, ao colocar 1822 como ponto de fuga no qual todas desembocam, tem desviado da interpretação dos movimento rebeldes de finais do século XVIII e início do século XIX no Brasil. Tarefa essa que requer uma análise mais fina da documentação e, acima de tudo, menos repressão daqueles que a detém.<ref name=":1" />
 
==Outras conjurações em domínios portugueses==
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*[[Revolução Pernambucana]] (1817)
 
{{Referências|col=2}}
{{Portal3|Brasil}}
 
{{DEFAULTSORT:Conspiracao Suassunas}}
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