São João Batista no Cárcere: diferenças entre revisões

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Dessa forma, a pintura segue os valores tradicionais arraigados da Academia<ref name=":8">http://www2.eca.usp.br/cap/ars6/chiarelli.pdf</ref> e a composição estética retrata o evento da forma mais fidedigna possível aos fatos, atentando-se ao cenário e personagem,<ref name=":3">https://periodicos.ufsc.br/index.php/esbocos/article/viewFile/447/9907</ref> fazendo uma releitura do movimento clássico que retomava os ideais greco-romanos: perfeição, harmonia, rigor e ordem.<ref name=":4">https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/105436/Cassia%20Aline%20Schuck.pdf?sequence=1</ref> O artista brasileiro aproximava seus trabalhos da produção europeia: sistematizando padrões de beleza utilizando racionalmente as formas e proporções geométricas<ref name=":1">http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/252037/1/Bezerra_CarolinaCavalcanti_M.pdf</ref> e repleta de detalhes.<ref name=":2">http://www.fernandoboppre.net/wordpress/wp-content/uploads/2009/01/victormeirelles_aspartes_dc_fernandocboppre.pdf</ref>
 
Sabe-se que Meirelles parcelava sua pintura para melhor agir sobre ela, podendo focar nos detalhes de cada elemento do quadro, oferecendo volume e perspectiva. Seguindo a visão neoclássica, o catarinense baseava-se nas partes para posteriormente constituir o todo.<ref name=":2" /> Os estudos prévios anatômicos realizados pelo artista são refletidos na imagem por meio de uma representação verossímil do corpo de São João Batista.<ref name=":10">http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/srh/article/view/11349/6463</ref> Devido o seu grau de perfeição, quando professor, desenvolveu uma metodologia para desenhar: envolvendo representações geométricas das formas tradicionais (triângulo, retângulo, círculo, trapezóidetrapezoide, oval) que permitiam aos iniciantes brincarem com suas construções testando diferentes esquemas de composições, posições de cada componente na tela e escalas de cores.<ref name=":16">http://www.eba.ufrj.br/pintura/pesquisas/docentes/monique/2.pdf</ref>
 
É perceptível a idealização do traços na pintura em questão: corpo viril e expressão serena.<ref name=":16" /> Nesta obra em análise, há destaque para São João Batista com o uso de efeito luz e sombra.<ref name=":1" /> Em um estudo realizado acerca dos 26 anos em que Meirelles pintou, constatou-se que a grande maioria de suas obras, assim como esta, é uma ilustração de um indivíduo sozinho, em posições cotidianas, sem cenários, com a paleta de cores variando entre os tons terrosos e neutros, realçando os quesitos: perspectivas, anatomias, formas e sombras.<ref>http://www1.udesc.br/arquivos/id_submenu/2553/12.pdf</ref>
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=== Vida artística ===
Victor Meirelles, em 1843, iniciou seu estudo das línguas fracêsfrancês e latim com o padre Joaquim Gomes d'Oliveira, assim como de filosofia. <ref>https://www.ebiografia.com/victor_meirelles/</ref> Em relação à arte, seu estudo começou em 1945, lecionado pelo engenheiro e imigrante argentino Marciano Moreno, que havia sido contratado por seus pais uma vez que a cidade natal não possuía escolas voltadas para as artes plásticas. O conteúdo se fundamentava sobre os desenhos geométricos. <ref name=":1" />
 
Ainda menino, com apenas 14 anos de idade e gosto pela arte, enviou duas pinturas autorais à direção da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA) que foram selecionadas para a Exposição Geral da organização que ocorreu em dezembro de 1846. Com tal reconhecimento, o garoto foi convidado a estudar nesta famosa escola da época que reunia jovens promessas do universo das artes plásticas. Como a Academia ficava no Rio de Janeiro, ele se mudou para a cidade em 1847 <ref name=":2" /> com o apoio de alguns amigos da família e do Conselheiro Jerônimo Francisco Coelho que arcaram com as despesas da viagem <ref name=":21">http://anpap.org.br/anais/2008/artigos/014.pdf</ref> e matriculou-se na escola onde realizou os seus primeiros trabalhos acadêmicos. Lá suas obras passaram a ter caráter histórico visando a construção de uma identidade nacional.
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O Museu Nacional de Belas Artes/IPHAN localizado no Rio de Janeiro conta com cerca de mil obras de Meirelles desde estudos realizados pelo pintor até seus desenhos sobre o papel e as pinturas. <ref>http://www.fernandoboppre.net/wordpress/wp-content/uploads/2009/01/victormeirelles_aspartes_dc_fernandocboppre.pdf </ref>
 
O Museu Victor Meirelles foi aberto em 1952 no centro de Florianópolis, <ref name=":5">http://museuvictormeirelles.museus.gov.br/o-museu/historico/</ref> após ser tombada como Patrimônio Histórico Nacional, <ref name=":2" /> no local que havia sido a moradia do catarinense. <ref name=":5" /> O pontapé inicial se deu durante a Semana de Arte Moderna de 1922 a fim de proteger e preservar patrimônios nacionais. Depois de 1994, o lugar tornou-se um centro cultural com diversos projetos como “Museu vai à escola/Escola vai ao Museu”, o qual diz respeito aos alunos de ensinos públicos. <ref name=":2" /> Atrelado ao Instituto Brasileiro de Museus do Ministério da Cultura, o estabelecimento persiste há mais de 55 anos expondo as coleções do artista assim como apresentações culturais no local com o cenário preservado da casa do artista construída entre os séculos XVIII e XIX. <ref name=":5" />
 
== Contexto histórico ==
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Criada em 1826 por Dom João VI e fundada por artistas franceses, <ref name=":1" /> a Academia Imperial de Belas Artes (AIBA) marcou o desenvolvimento neoclássico no Brasil, <ref name=":24">http://www.acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/3948/consuelo_final.pdf?sequence=1</ref> baseando-se na Academia Francesa. <ref name=":9">http://www.ufjf.br/virtu/files/2010/05/artigo-7a23.pdf</ref> Dessa forma, a influência iluminista objetivava civilizar a cidade por olhares europeus <ref name=":3" /> - tanto dos franceses quanto da elite monárquica portuguesa, ou seja, usar a arte com a função pedagógica <ref name=":7" /> por meio da criação de símbolos e alegorias. <ref name=":6" />
 
Através da imagem, a corte escolhia os fatos que pretendia gravar na memória da população, assim como os valores e virtudes de uma boa sociedade, além de impedir o surgimento de outros pontos de vista não oficiais, sendo fonte de um controle social na construção da memória dos cidadãos acerca do passado. Mantendo os ideais do Império, a Academia fomentou o progresso artístico no país exigindo uma técnica primorosa e um desenho rigososorigoroso, <ref name=":9" /> primeiramente, copiando outras obras europeias enfatizando o estudo da perspectiva e formas geométricas. Com o passar dos anos, introduziram às obras da Academia os aspectos anatômicos, arquitetônicos, cores, efeitos de luz e sombra, prezando pela simetria. <ref name=":6" /> A escola também sofreu influência da fotografia, agregando as suas pinturas objetividade, perfeição e potencialidade que aquela garantia. <ref name=":8" />
 
Somente alunos de destaque no ramo artístico tinha acesso a Academia <ref name=":6" /> e alguns artistas neoclássicos como Jacques Luis David (1748-1825) se rebelaram contra as suas imposições. Embora a rigidez de sua ideologia, ela não se manteve estática diante das mudanças sociais da época. Contudo, tais alterações não previam afrouxar o controle da mesma, mas ao contrário, adaptar suas narrativas com o intuito de ser útil para a corte monárquica: promovendo o projeto civilizador. A Academia fechou em 1889. <ref name=":1" />
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O Prêmio de Viagem ao Exterior oferecido pela Academia Imperial de Belas Artes tinha o papel estratégico de permitir aos melhores alunos da escola a oportunidade de aprender com grandes mestres das artes plásticas para basearem suas obras nestes novos ensinamentos e modelos europeus. Regulamentado na gestão de Félix Émile Taunay durante o Segundo Reinado, o concurso virou realidade em 1844 <ref name=":11">http://www.scielo.br/pdf/ts/v17n1/v17n1a14</ref> e tornou-se a prova máxima da instituição para aplicar em seus discípulos.
 
A posição de primeiro lugar permitia aos artistas uma viagem à Europa com duração média de 3 anos <ref name=":10" /> e pensão totalmente custeada pelo governo brasileiro, principalmente para Roma, na Itália por ser o berço do classicismo até 1855, quando o destino passou a ser Paris, na França que reunia as instituições artísticas mais consagradas da época - a exemplo da ''École des Beaux-Arts'' (EBA). Esta escola francesa realizava apenas duas provas de admissão por ano (em março e agosto) que incluíam várias etapas e somente os profissionais premiados através desse concurso adentravam a instituição sem necessitar participar destas etapas. Entendia-se que os medalhistas possuíam conhecimento prévio de anatomia, eram habilidosos nos seus traços, falavam o básico de francês e tinham noção básica da história do país. <ref name=":11" />
 
No exterior, o pintor estudava em ateliês renomados e, com o passar de cada ano, era mais cobrado pelos seus resultados, necessitando enviar seus trabalhos para o Brasil a fim de serem avaliados pelos profissionais da Academia. Este julgamento garantiria ou não o pagamento da pensão deste aluno por mais um período. As obras vencedoras dos concursos encontram-se no acervo da Academia e o quadro de Victor Meirelles São João Batista no Cárcere é um dos destaques.