Benedito Calixto: diferenças entre revisões
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
rodapé arrumado |
m ajustes gerais nas citações, outros ajustes usando script |
||
Linha 18:
== Biografia ==
Diferente da típica trajetória dos consagrados artistas brasileiros da época, não frequentou a [[Academia Imperial de Belas Artes|Academia Imperial de Belas-Artes]], no [[Rio de Janeiro]].<ref name=":0">{{citar periódico|ultimo=Dionisio G. de Oliveira|primeiro=Emerson|data=2008|titulo=Instituições, Arte e o Mito Bandeirante: Uma Contribuição de Benedito Calixto|url=http://scholar.google.com.br/scholar_url?url=http%3A%2F%2Fperiodicos.ufpb.br%2Fojs2%2Findex.php%2Fsrh%2Farticle%2Fdownload%2F11411%2F6525&hl=pt-BR&sa=T&oi=ggp&ct=res&cd=0&ei=xawMWo_1Csf_mAHbxK74Bw&scisig=AAGBfm0ATgJXQtzf5A8yoRNIJhkmO14B0A&nossl=1&ws=1366x650|jornal=SÆCULUM - Revista de História|volume=19|via=}}</ref>Benedito Calixto começou como autodidata<ref name=":1">{{citar periódico|ultimo=Santos de Mato|primeiro=Maria Izilda|data=2012|titulo=Revista Porto|url=https://periodicos.ufrn.br/porto/article/view/2194/1615|jornal=Revista Porto|volume=1|via=}}</ref>e teve sua formação em ateliês e escolas de artes do [[São Paulo|estado de São Paulo]]. Iniciou sua carreira como retratista na cidade de [[Brotas]], no interior do estado. Passou a realizar trabalhos de propaganda em [[Santos]], onde teve seu talento reconhecido pela elite da cidade, através da Associação Comercial, que acabou por patrocinar a ida de Calixto à [[França]],<ref name=":0" />
Destaca-se em suas obras um gosto acentuado pelo tema regionalista.<ref name=":2" /> O artista preocupou-se em construir uma carreira voltada para organizações ligadas à esfera pública e seus interesses.<ref name=":0" /> A cidade foi a temática central em todos os seus domínios. A afinidade às tradições populares, cívicas e religiosas formam seu traço característico, tendo dedicado-se, nos últimos anos de sua vida, à [[pintura histórica]], de costumes regionais e temas religiosos.<ref name=":2" /> Com obras compostas por pinturas de cenas históricas, retratos de figuras históricas e personalidades, painéis decorativos e vistas das cidades, Calixto escreveu memórias históricas sobre [[São Paulo]], [[Santos]], [[Itanhaém]] e o litoral santista. O maior aspecto de sua obra se concentra nas paisagens e marinhas do [[Litoral de São Paulo|litoral paulista]]. A [[fotografia]] foi grande aliada e importante referência para o artista em suas produções, utilizada para estudo de composição, registro de cenas, preparação de posturas e organização dos personagens que povoavam sua pintura.<ref name=":8" /> O artista também escreveu contos, como o intitulado "Costumes de Minha Terra"<ref name=":2" /> e manteve contribuição intensa com jornais locais, nos quais publicava diversos artigos.<ref name=":8" />
Apesar de encomendas de quadros religiosos e de temática histórica e documentarista serem o que lhe rendeu maior reconhecimento, a observação da natureza e telas de paisagens e marinhas continuaram a ser parte importante de sua produção. Além da pintura, Calixto mantinha grande interesse pela história do litoral.<ref name=":8" /> Tal interesse fez com que, em [[1895]], o artista torna-se sócio do [[Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo]] ([[Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo|IHGSP]]),
Benedito Calixto manteve a atividade de pintor, trabalhando em constantes encomendas, até falecer. Sua última exposição foi realizada no mês de junho de [[1926]], no Teatro Coliseu de Santos, onde apresentou principalmente cenas históricas. Deixou aproximadamente 1.000 pinturas. Como forma de manter e valorizar suas obras e sua memória, instalou-se em Santos a [[Pinacoteca Benedito Calixto]], onde um centro de documentação de sua obra foi instalado.<ref name=":8">{{citar periódico|ultimo=ANA KALASSA|primeiro=EL BANAT|data=2014|titulo=A cidade pelos olhos do pintor: memória e representação de Santos em Benedito Calixto entre 1890 e 1927|url=http://www.encontro2014.sp.anpuh.org/resources/anais/29/1406702320_ARQUIVO_CalixtoTEXTOANPUH.pdf|jornal=Anais eletrônicos do XXII Encontro Estadual de História da ANPUH-SP|volume=|via=}}</ref>
Linha 35:
=== 1877 - 1880 ===
Aos 24 anos, Calixto retorna à [[Itanhaém]], onde se casa com sua prima Antônia Leopoldina de Araújo, com quem teve três filhos: Fantina, Sizenando e Pedrina. Sizenando e Pedrina vieram a dedicar-se à [[pintura]] e o filho de Sizenando, João Calixto de Jesus, seguiu a carreira de Benedito Calixto e foi [[professor]] de pintura na [[Escola de Belas Artes de São Paulo]].
=== 1881 ===
Calixto realizou sua primeira exposição no saguão do [[Correio Paulistano]], foi reconhecido pela crítica, porém, nenhuma tela foi vendida. Retorna a [[Santos]], onde volta a realizar trabalhos de propaganda, como o mural "Deusa da Fortuna" para uma casa de [[
=== 1882 ===
Já conhecido na cidade, é convidado por [[Garcia Redondo]], engenheiro responsável pela construção do [[Teatro Guarani]], para decorar esta nova sala de espetáculos. Calixto ficou responsável pela pintura do teto e do pano de boca.<ref name=":3" />Ponto de destaque em seus primeiros anos de carreira, os trabalhos no [[Teatro Guarani]] marcam uma encruzilhada na trajetória de Calixto, que vai de [[artesão]] de prestígio a [[artista]].<ref name=":4" />Devido a repercussão destas [[
=== 1883 ===
Linha 57:
=== 1897 - 1899 ===
Calixto pinta a tela “José de Anchieta e a Fera”. Muda-se para uma nova residência, na Rua Martim Afonso, 192, com amplo espaço para seu [[atelier]], além de um laboratório fotográfico construído com o equipamento que trouxe de [[Paris]].<ref name=":7" />
=== 1900 - 1906 ===
Linha 64:
=== 1907 - 1910 ===
No início do período, realiza “O Naufrágio do Sírio”. Faz uma [[exposição]] em [[Belém do Pará]], na qual alcança excelente resultado [[financeiro]]. Em [[1909]] pinta “Santa Ceia”, e dá início aos seus trabalhos para a [[Igreja de Santa Cecília]].<ref name=":3" />
=== 1911 ===
Participa da primeira Exposição Brasileira de Belas Artes no [[Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo|Liceu de Artes e Ofícios]] de [[São Paulo (cidade)|São Paulo]]. Realiza as obras “O Batismo de Cristo”, “Corpo de Cristo Morto”, “O Martírio de Pedro Correa”, além de trabalhos para a [[Igreja de Santa Ifigênia|igreja da Santa Ifigênia]]: “Anunciação à Maria”, “Deposição de Cristo” e “A Ceia de Emaús”. Realiza obras para o [[Palácio São Joaquim]], no [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]]: “Conversão de São Paulo”, “Investidura de São Pedro”, “Martim Afonso a caminho de Piratininga” e “Partida de Estácio de Sá”. Em [[1915]], realiza “Santo Afonso” para os Padres Redentoristas de Aparecida e publica Memória Histórica sobre a Egreja e o Convento da Imaculada Conceição de [[Itanhaém]].<ref name=":3" />A produção religiosa de Calixto se insere no contexto de união entre [[Igreja]] e [[Estado]]. O artista executa aproximadamente [[dezessete]] encomendas religiosas para [[
=== 1917 - 1919 ===
Linha 82:
=== Contexto e estilo ===
Benedito Calixto foi pintor de paisagens, marinhas, costumes populares, cenas históricas e religiosas. Considerado pintor de história e religioso, gêneros nos quais deixou produção abundante, suas obras de cenas portuárias e litorâneas o consagraram como artista. Dedicado a temas históricos e a paisagens, suas telas são registros raros de cenas e eventos marcantes do passado do [[litoral paulista]], bem como de vistas urbanas e de marinhas à época em que viveu. Além da pintura e da fotografia, Calixto se desenvolveu na palavra escrita. O artista escreveu e publicou vários artigos e livros.
Produz obras importantes para vários museus, entre eles o [[Museu Paulista]], em [[São Paulo (cidade)|São Paulo]], para inúmeras igrejas em todo o país, associações, fundações, instituições.<ref name=":3" /> Além da pintura se revelou como historiador, escritor e fotógrafo. Como historiador, resgatou a existência da então ignorada [[Capitania de Itanhaém]],<ref>http://www.novomilenio.inf.br/santos/calixtoch24.htm</ref>
=== Capitanias Paulistas ===
Na obra reconhecida como a mais importante do artista como historiador, Calixto enaltece a índole e a história dos paulistas identificados como os bandeirantes, expõe suas descobertas, interpretações e impressões sobre a história dos vicentinos. O historiador transita de uma história fundiária privada com fortes tons e acentuada inclinação genealógica até os aspectos mais gerais sobre a história do Brasil. Uma versão preliminar de Capitanias Paulistas foi originalmente publicada em [[1915]], na revista do [[Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo]] (IHGSP), com o nome de “Capitanias de Itanhaen”, mas seu formato revisado fora publicado somente em [[1924]]. O livro tinha como objetivo apresentar os desdobramentos dos primeiros anos colonização do litoral paulista por meio das disputas das famílias herdeiras dos irmãos Martim e Pero Afonso de Souza, entre [[1535]] – criação da capitania de São Vicente – e [[1791]] – extinção da capitania de Itanhaen.<ref name=":0" />
Para Calixto, ao visar instituir s história como “ciência”, essa necessitava de um elenco de personagens-mito e tradições, a tornando capaz de compreender o passado como um conjunto de estruturas controladas e pretensamente imutáveis. Empenhado na representação da história e na “invenção” de uma paisagem do litoral paulista, Calixto contribuiu para a representação iconográfica do mito “bandeirante” através da tela "O Mestre de campo Domingos Jorge Velho e seu lugar-tenente Antônio Fernandes de Abreu" ([[1903
=== Museu Paulista ===
Affonso de Escragnole Taunay assumiu a direção no [[Museu Paulista]] em [[1917]], quando dedicou-se a Seção de História Nacional e desenvolveu um projeto de exposições históricas visando as comemorações do centenário da Independência, em [[1922]]. Quatro das dezesseis salas de exposições foram reservadas à história de [[São Paulo (cidade)|São Paulo]], duas das quatro salas foram voltadas especificamente à reconstrução da cidade em meados do [[século XIX]]: a sala da maquete São Paulo, em [[1841]] e a antiga Iconografia Paulista. Para a "Antiga Iconografia Paulista", Taunay encomendou telas a óleo de pintores como Benedito Calixto de Jesus. Affonso de Escragnole Taunay forneceu como modelo para as telas fotografias de [[Militão Augusto de Azevedo]], que registram aspectos da cidade em [[1862]] e em [[1887]].
Calixto trabalhou especialmente na reprodução em pinturas de fotografias de [[Militão Augusto de Azevedo]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=7QjhAQAAQBAJ&pg=PA121&lpg=PA121&dq=benedito+calixto+taunay&source=bl&ots=ki3cccaPJi&sig=v-sx34Z9Sdfq_CVaLa-gBc2t5hk&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiP4pzkwc7WAhXKhJAKHZXWBEAQ6AEINTAC#v=onepage&q=benedito%20calixto%20taunay&f=false|título=O museu paulista: Affonso de Taunay e a memória nacional, 1917-1945|ultimo=Brefe|primeiro=Ana Claudia Fonseca|data=2005-01-01|editora=SciELO - Editora UNESP|isbn=9788539303281}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Lima|primeiro=Solange Ferraz de|ultimo2=Carvalho|primeiro2=Vânia Carneiro de|data=1993-01-01|titulo=São Paulo Antigo, uma encomenda da modernidade: as fotografias de Militão nas pinturas do Museu Paulista|url=https://www.revistas.usp.br/anaismp/article/view/5280|jornal=Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material|volume=1|numero=1|paginas=147–178|doi=10.1590/S0101-47141993000100012|issn=1982-0267}}</ref> As imagens no acervo do [[Museu Paulista]], que compõem a Coleção Benedito Calixto de Jesus (CBCJ), retratam paisagens urbanas da cidade de [[São Paulo (cidade)|São Paulo]], da [[Baixada Santista]] e de cidades do interior do [[Estado de são paulo|estado de São Paulo]]. Dentre os quadros de destaque na coleção do museu estão "Inundação da Várzea do Carmo, 1892", em que Calixto registra o limite industrial de [[São Paulo (cidade)|São Paulo]], destacando edificações associadas à indústria do café.<ref>{{Citar periódico|ultimo=|primeiro=|data=|titulo=Na Pinacoteca, a criação da paisagem de São Paulo|url=https://www.cartacapital.com.br/revista/887/a-criacao-da-paisagem|jornal=CartaCapital
=== Arte Sacra ===
Vindo de uma família de católicos, Calixto acompanhava as atividades da igreja de [[Itanhaém]] desde criança. Teria feito, na adolescência, o primeiro [[presépio]] da cidade, em madeira. Mesmo depois de adulto, era o responsável pela decoração da cidade durante as encenações da [[Semana Santa]]. Nessa época, o artista criou seus estreitos laços de amizade com senhores da igreja, o que posteriormente ajudaria em sua indicação para diversas obras. Pode-se afirmar que em sua formação, o gosto pela pesquisa, pintura e a importância de sua religiosidade se fundiram. Calixto se tornou um pintor [[católico]] que pesquisa. Suas primeiras pinturas religiosas são encomendas feitas por irmandades da cidade de [[Santos]]. Calixto passa por um importante ciclo de estudo e pinturas sobre a vida do padre jesuíta [[José de Anchieta]]. Após esse ciclo, o artista vislumbra um novo mercado para seu trabalho: a decoração de igrejas, principalmente no interior e na capital paulista. A partir da [[década de 1900]], o artista trabalharia arduamente para a [[Igreja Católica|Igreja católica]]. Além de telas, realiza também a decoração interna de igrejas, como a Santa Cecília, Anta Ifigênia e Consolação, em [[São Paulo (cidade)|São Paulo]]. No interior realiza trabalhos em [[São Carlos (São Paulo)|São Carlos]], [[Bocaina (São Paulo)|Bocaina]], [[Catanduva]] e [[Ribeirão Preto]].
=== Em Bocaina ===
Linha 145:
* LEITE, José Roberto Teixeira. ''Arte brasileira dos séculos XIX e XX na Coleção Bovespa''. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2007.
==
{{Commons}}
* [[
* [[Lista de pinturas de Benedito Calixto]]
|