Gaita de fole: diferenças entre revisões

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Podemos dividir as gaitas-de-fole em três categorias relativas à morfologia do ponteiro, a peça onde o gaiteiro toca com os dedos: 1º as que possuem ponteiros cónicos e que regra geral funcionam com palheta dupla; 2.º as de ponteiros cilíndricos que costumam possuir palheta simples; 3.º e as de ponteiros cilíndricos duplos com palheta dupla e sem qualquer bordão a emitir nota pedal.
Esta classificação refere-se unicamente ao modo como os ponteiros são torneados no seu interior e não ao seu aspecto externo já que pode acontecer que ponteiros com conicidade interna sejam cilíndricos no seu exterior e vice-versa.
As palhetas, quer sejam de lâmina dupla ou simples, são geralmente feitas com [[cana-do-reino]] (''Arundo donax''). Já as palhetas de lâmina simples, são chamadas de ''palhão''.
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Há ainda uma distinção entre as gaitas-de-fole: as que são insufladas por meio dum assoprete – chamadas de ar-quente por necessitarem do fôlego do músico –, e as que são insufladas por um fole mecânico conhecido por barquim – chamadas de ar-frio (ou ''[[cauld-wind]]'' no [[Scots]]).
Na verdade essa distinção não é, musical e morfologicamente, muito relevante. Isso porque o sistema sonoro das palhetas, ainda que apresentando diferenças perante o nível de umidade de cada sistema, permanece praticamente o mesmo. Tanto é que muitos instrumentos tradicionalmente de ar quente são encontrados munidos de fole mecânico, e vice-versa.
A distinção relativa ao torneado do ponteiro e os tipos de palhetas utilizados são muito mais relevantes para as classificações organológicas.
 
A distinção quanto ao torneamento da cantadeira e os tipos de palhetas utilizados são muito mais relevantes aos musicólogos.
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||<small><center>nº01</center></small>|| <small><center>Ponteiro ou Cantadeira</center></small>|| <small>Tubo melódico pelo qual se digita a música, cuja extremidade geralmente possui uma campânula.</small>
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||<small><center>nº05-07</center></small>|| <small><center>Bordão, Ronco ou Roncão</center></small>|| <small>Tubo melódico pelo qual soa-se a constante nota pedal, geralmente distinguindo-se entre baixo e tenor quando há mais de um. A depender do modelo e costume, o bordão composto apenas de ombreira e copa é também chamado de ronqueta.</small>
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||<small><center>nº03</center></small>|| <small><center>Ombreira</center></small>|| <small>Sessão inferior do bordão, ligada ao soquete.</small>
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||<small><center>nº05</center></small>|| <small><center>Copa</center></small>|| <small>Sessão superior do bordão, cuja ponta geralmente possui um sino.</small>
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||<small><center>nº04</center></small>|| <small><center>Soprete ou Assoprador<center></small>|| <small>Peça pela qual insufla-se o fole nos modelos de ar quente, regulado por uma válvula que impede a saída de ar pelo mesmo.</small>
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||<small><center>nº02</center></small>|| <small><center>Fole, Odre ou Bolsa</center></small>|| <small>Reservatório de ar, por meio do qual soam-se as palhetas do instrumento.</small>
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|||| <small><center>Fole mecânico</center></small>|| <small>Peça pela qual insufla-se o fole nos modelos de ar frio, ligado por um tubo de plástico ou similar, e regulado por uma válvula.</small>
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||<small><center>nº03</center></small>|| <small><center>Palheta<br />e Palhão</center></small>|| <small>Item que produz o som da gaita, a ser ressoado pelos tubos melódicos; composta de duas lâminas de [[cana-do-reino]] ou similar, unidas a um pequeno tubo chamado tudel, presas por um anel metálico ou similar chamado frenilho. Quando composta de uma lâmina simples, é chamada de palhão.</small>
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||<small><center>nº08</center></small>|| <small><center>Franjas<br />e Cordão</center></small>|| <small>Enfeites compostos por fios a enfeitar a veste do fole e/ou o cordão do bordão, muito comuns nos modelos ibéricos.</small>
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||<small><center>nº08</center></small>|| <small><center>Borlas</center></small>|| <small>Pingentes geralmente presos às extremidades do cordão.</small>
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||<small><center>nº02</center></small>|| <small><center>Vestimenta<br />ou Capa</center></small>|| <small>Tecido que envolve a bolsa, de forma ornamental.</small>
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A partir da Renascença e principalmente a partir do período Barroco é que se desenvolveram modelos de gaita de fole mais “sofisticados”, com fole mecânico e inúmeras chaves e reguladores, capazes de soarem mais de uma oitava numa escala cromática – são as musetas, que apesar do nome, proliferam inicialmente não só na França como na Alemanha também, dois caldeirões de ideias novas para a música e a lutheria. Esses modelos chegaram posteriormente à Inglaterra e finalmente à Irlanda, sendo adaptados à estética local.
 
Infelizmente, foi justamente nesse período que as gaitas-de-fole começaram a sofrer seu declínio, especialmente as de ar quente. A estética musical começava a se transformar, novos instrumentos como os metais passam a ''competir'' com as gaitas e as possibilidades sonoras de apelam ao gosto das pessoas. As gaitas-de-fole passam a ser cada vez menos preservadas e, pouco a pouco, retornam às suas origens: populações pastoris, isoladas em pontos ermos, são preservadas em suas tradições.
[[Ficheiro:The way you hear it.jpg|thumb|350px|''No final do século XVII, o instrumento ainda gozava de admiração entre as elites.'']]
Uma das raras exceções a essa trajetória é a [[gaita das Highlands]], a essa altura tratada pelo povo britânico como um ''instrumento de guerra'' e mantido entre os batalhões reais, preservando-se e desenvolvendo-se suas características e repertório. Também, graças ao Império Britânico é que a gaita das Highlands disseminou-se pelo globo, sendo difundida entre os povos outrora colonizados e dentre os quais até hoje se toca o instrumento.
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===O mito celta===
Dentre as hipóteses menos consideradas por historiadores sérios está o famoso ''mito celta''. Para muitas pessoas, a gaita de fole estaria associada a povos descendentes dos celtas, os quais teriam criado e desenvolvido o instrumento. Muitas influências modernas contribuíram para essa crença, como o movimento [[New Age]] e a ignorância de outros modelos além da gaita das Highlands.
 
O facto é que as gaitas-de-fole se desenvolveram independentemente dos povos celtas, sem qualquer relação com eles. Para além das diversas torrentes migratórias ao longo dos séculos por diferentes povos, hoje questiona-se muito a real extensão desse povo.
 
Esse mito hoje serve sobretudo às indústrias culturais de massas, em especial à fonográfica e à cinematográfica.