American Idiot: diferenças entre revisões

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A banda Green Day, que formou-se em 1986 e passou seus primeiros anos apresentando-se em clubes de punk rock, emergiu no começo da [[década de 1990]] como um dos grupos mais populares de rock.<ref name="am">{{citar web|língua=en|url=http://www.allmusic.com/artist/green-day-mn0000154544/biography|título=Green Day: Biography|publicado=[[Allmusic]]|autor=Stephen Thomas Erlewine|acessodata=22 de dezembro de 2017|arquivourl=https://web.archive.org/web/20150423200649/http://www.allmusic.com/artist/green-day-mn0000154544/biography|arquivodata=23 de abril de 2015}}</ref> O terceiro disco do conjunto, ''[[Dookie]]'', lançado em 1994, vendeu mais de vinte milhões de cópias mundialmente.<ref name="yahoonews2-1-2014">{{citar web|língua=en|url=https://news.yahoo.com/green-day-39-album-dookie-20-years-old-182200607.html|título=Green Day's Album 'Dookie' Is 20 Years Old Today|data=1º de fevereiro de 2014|acessodata=22 de dezembro de 2017|autor=Adam Chandler|publicado=[[Yahoo! Music]]|arquivourl=https://web.archive.org/web/20150704125052/http://news.yahoo.com/green-day-39-album-dookie-20-years-old-182200607.html |arquivodata=4 de julho de 2015}}</ref><ref name="punktomainstream">{{citar web|língua=en|autor=Zac Crain|url=http://www.miaminewtimes.com/1997-10-23/music/green-day-family-values/|título=Green Day Family Values|obra=Miami New Times|data=23 de outubro de 2017|acessodata=22 de dezembro de 2017|arquivourl=https://web.archive.org/web/20140522215802/http://www.miaminewtimes.com/1997-10-23/music/green-day-family-values/|arquivodata=22 de maio de 2014}}</ref> Os lançamentos subsequentes também obtiveram sucesso; ''[[Insomniac (álbum de Green Day)|Insomniac]]'' (1995) e ''[[Nimrod (álbum)|Nimrod]]'' (1997) foram certificados com múltiplos [[disco de platina|discos de platina]] nos Estados Unidos, mas falharam em conquistar a certificação de diamante que foi obtida por ''Dookie''.<ref name="RIAA Certifications" /> O próximo álbum, ''[[Warning (álbum de Green Day)|Warning]]'', lançado em 2000, foi considerado um fracasso comercial,<ref name="cbs" /> apesar das críticas positivas.<ref>{{citar web|língua=en|url=http://www.metacritic.com/music/artists/greenday/warning|título=''Warning'' (2000): Reviews|publicado=[[Metacritic]]|acessodata=21 de outubro de 2014|arquivourl=https://web.archive.org/web/20100323091914/http://www.metacritic.com/music/artists/greenday/warning|arquivodata=23 de março de 2010}}</ref> No começo de 2002, o grupo embarcou na [[Pop Disaster Tour]], liderada em conjunto com os compatriotas do [[Blink-182]].{{sfn|Spitz|2006|p=143}} A turnê impulsionou o trio, que passou a ser visto como "os velhos experientes" da cena do pop punk à época, que consistia de bandas como [[Good Charlotte]], [[Sum 41]] e [[New Found Glory]].<ref name="ew05" /><ref name="amp" />
 
Nessa altura, as coisas haviam chegado ao ponto de existir brigas não resolvidas entre os três membros. A banda estava "briguenta e miserável", de acordo com o [[baixista]] [[Mike Dirnt]], e precisava de uma "mudança de direção".<ref name="rs05.2" /> Em adição, acabava de ser lançada a [[Álbum de grandes êxitos|coletânea de grandes sucessos]] ''[[International Superhits!]]'', que a banda sentiu ser "um convite à [[crise da meia-idade]]".<ref name="time">{{cite newscitar jornal|titletítulo=Green Party |pagespáginas=60–62 |workobra=[[Time (revista)|Time]] |authorautor =Josh Tyrangiel |datedata=31 de janeiro de 2005 |volume=165 |issuenúmero=5}}</ref> O [[vocalista]] do grupo, [[Billie Joe Armstrong]], ligou para Dirnt e perguntou: "Você quer continuar a fazer a banda?" Ele sentia-se inseguro, tendo tornado-se "fascinado e aterrorizado" por seu modo de vida imprudente, e seu casamento estava correndo perigo.<ref name="kerrang05.1" /> Dirnt e o [[baterista]] [[Tré Cool]] viam-no como controlador, enquanto Armstrong relutava em mostrar novas canções a seus companheiros.<ref name="rs05.2" /> A partir de janeiro de 2003, o grupo passou a ter encontros semanais, o que resultou em um sentimento de revitalização nos integrantes.{{sfn|Lanham|2004|p=118}}<ref name="blender06" /> Eles focaram em dar mais atenção às ideias de Cool e Dirnt, com "mais respeito e menos críticas".<ref name="kerrang05.1">{{citecitar journalperiódico|authorautor =Tom Bryant|titletítulo=Blaze of Glory|datedata=3 de dezembro de 2005|workobra=[[Kerrang!]]|volume=|locationlocal=[[London]]|issn= 0262-6624|publisherpublicado=Bauer Media Group|issuenúmero=1085}}</ref>
 
Grande parte do ano de 2002 foi passada no Studio 880 em [[Oakland (Califórnia)|Oakland]], [[Califórnia]], onde novo material estava a ser gravado para um álbum chamado ''[[Cigarettes and Valentines]]'';{{sfn|Spitz|2006|p=152}} estavam a ser criadas "canções de [[polka]], versões explícitas de músicas de [[Natal]] [e] faixas de [[salsa]]" para o projeto, com a esperança de estabelecer algo novo para o som do Green Day.<ref name="rs05.2" /> Depois de completar em torno de vinte músicas, as fitas mestre cruas foram roubadas em novembro de 2002.{{sfn|Pappademas|2004|p=66}} Os membros do grupo disseram que não tinham ideia de onde estavam as fitas até 2016, quando, durante uma entrevista para a ''[[NME]]'', Armstrong e Dirnt disseram ter recuperado o material e que a banda estava a usá-lo para novas ideias.<ref>{{citar web|url=http://www.nme.com/news/music/green-day-cigarettes-and-valentines-lost-album-interview-listen-1862365|língua=en|autor=Andrew Trendell|título=Green Day reveal the fate of 'lost' pre-'American Idiot' album 'Cigarettes And Valentines'|obra=[[NME]]|data=18 de novembro de 2016|acessodata=22 de dezembro de 2017|arquivourl=https://web.archive.org/web/20170118042702/http://www.nme.com/news/music/green-day-cigarettes-and-valentines-lost-album-interview-listen-1862365|arquivodata=18 de janeiro de 2017}}</ref> Com o roubo, o grupo consultou seu produtor de longa data, [[Rob Cavallo]], sobre o que fazer em seguida. Cavallo disse-os para pensar se as faixas perdidas representavam "o melhor trabalho" da banda.{{sfn|Spitz|2006|p=153}} De acordo com Armstrong: "Não podíamos olhar para nós mesmos e pensar: 'Isso foi a melhor coisa que já fizemos'. Então decidimos seguir e frente e fazer uma coisa completamente nova".{{sfn|Pappademas|2004|p=67}}<ref name="ew05" /> Eles concordaram em passar os próximos três meses escrevendo novas faixas.{{sfn|Spitz|2006|p=154}}
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== Gravação e produção ==
[[Ficheiro:Rob Cavallo.jpg|thumb|left|190px|[[Rob Cavallo]] produziu todas as faixas de ''American Idiot'', mantendo uma parceria que começou com ''[[Dookie]]'', em 1994.]]
''American Idiot'' nasceu de dois incidentes: o supracitado roubo das fitas e uma ocasião em que os integrantes, individualmente, tentaram criar faixas de trinta segundos cada. Armstrong lembrou: "Começou a ficar mais sério à medida em que tentávamos superar uns aos outros. Continuamos a conectar esses pedaços de meio minuto até termos algo". Isso resultou em "Homecoming", e, em seguida, "[[Jesus of Suburbia]]".<ref name="ew05" /> Com isso, o desenvolvimento do álbum foi consideravelmente alterado, e o trio passou a ver canções como mais que apenas isso — como capítulos, movimentos, ou, potencialmente, um filme ou romance.<ref name="amp">{{citecitar newsjornal|titletítulo=Green Day|workobra=AMP|datedata=1º de janeiro de 2005|authorautor =Steve Baltin|pagespáginas=62–66}}</ref> Pouco depois, o vocalista escreveu a faixa-título, que trata, explicitamente, sobre problemas sociopolíticos. Logo após, o grupo decidiu que iriam direcionar o trabalho no disco para que ele se tornasse o que chamaram de "[[ópera rock|ópera]] [[punk rock]]".{{sfn|Lanham|2004|p=120}}
 
Antes de gravar, o Green Day alugou um espaço de ensaio em Oakland. Armstrong convidou Cavallo para comparecer às sessões e ajudá-los com o processo de composição. O produtor incentivou a ideia de um [[álbum conceitual]], lembrando-se de uma conversa que os dois tiveram uma década antes, em que o vocalista lhe disse que desejava que a carreira da banda tivesse um "arco criativo parecido com o dos [[Beatles]]".{{sfn|Lanham|2004|p=120}} Durante as sessões no Studio 880, os membros passavam os dias escrevendo e ficavam acordados até tarde, bebendo e discutindo sobre música. Eles criaram uma [[Radiodifusão clandestina|rádio pirata]], onde eram transmitidas ''[[jam session|jam sessions]]s'', e, ocasionalmente, trotes.{{sfn|Pappademas|2004|p=67}} O grupo ensaiou o álbum de maneira que, quando fossem de fato gravar, já o tivessem todo escrito e sequenciado.<ref name="bigcheese04" /> Com o objetivo de esvaziar a cabeça e ter novas ideias para faixas, Armstrong viajou para [[Nova York]] sozinho por algumas semanas, alugando um pequeno apartamento em [[East Village]], [[Manhattan]].{{sfn|Spitz|2006|p=150}} Ele passava a maior parte do seu tempo vagando e participando de ''jam sessions'' no porão do Hi-Fi, um bar de Manhattan.{{sfn|Spitz|2006|p=151}} O cantor passou a socializar com os compositores [[Ryan Adams]] e [[Jesse Malin]].{{sfn|Winwood|2010|p=50}} Muitas das canções presentes no produto final foram inspiradas pelo tempo em que ele viveu em Manhattan, incluindo "Boulevard of Broken Dreams" e "Are We the Waiting". Enquanto morava lá, Armstrong também formulou grande parte da história do disco, sobre as pessoas "saindo e curtindo à beça, mas, mesmo assim, lutando contra seus demônios".{{sfn|Winwood|2010|p=50}}
 
Com as ''[[Versão de demonstração|demos]]'' completas, o trio realocou-se em [[Los Angeles]] para continuar a trabalhar no projeto.{{sfn|Spitz|2006|p=166}} No começo, as gravações ocorreram no Ocean Way Recording; depois, foram realocadas para o Capitol Studios, para a finalização.{{sfn|DiPerna|2005|p=28}} Cool levou diversos ''kits'' de bateria para o estúdio, incluindo mais de 75 [[Caixa (instrumento musical)|caixas]].{{sfn|Zulaica|2004|p=65}} As faixas de bateria foram gravadas em fitas de 2" para produzir um som comprimido, e foram transferidas para o [[Pro Tools]], para mixagem com os outros instrumentos;{{sfn|DiPerna|2005|p=28}}{{sfn|Zulaica|2004|p=67}} elas foram produzidas no Ocean Way Studio B, escolhido por seu teto alto e pisos acústicos, que resultavam em um melhor som,{{sfn|Zulaica|2004|p=67}} e gravadas na ordem das faixas, algo que aconteceu pela primeira vez na história da banda;{{sfn|Zulaica|2004|p=62}} cada canção era gravada em sua totalidade antes de proceder.{{sfn|Zulaica|2004|p=66}} Eles trocaram a ordem em que gravavam guitarra e baixo, passando a gravar a guitarra primeiro, já que ouviram dizer que era assim que os Beatles faziam.{{sfn|Zulaica|2004|p=67}} Armstrong afirmou que, durante o processo de gravação, houve momentos em que teve medo da quantidade de trabalho que dependia de si, comparando com escalar uma montanha.<ref name="amp" />
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== Lançamento e capa ==
''American Idiot'' foi lançado em 20 de setembro de 2004 no [[Reino Unido]] e um dia depois nos [[Estados Unidos]], através da [[Reprise Records]], e foi distribuído mundialmente pela [[Warner Music Group|Warner Music]]. O encarte do álbum apresenta as letras das faixas escritas à mão, em um papel que assemelha-se a de um caderno.<ref>{{citar web|língua=en|url=https://www.amazon.com/American-Idiot-Green-Day/dp/B0002OERI0|título=Green Day - American Idiot|publicado=[[Amazon.com]]|acessodata=23 de dezembro de 2017}}</ref> Em 27 de novembro de 2015, o álbum foi relançado em formato de [[disco de vinil]], como forma de comemoração da [[Black Friday]]; a prensagem foi de 5 mil cópias.<ref>{{citar web|língua2língua=en|url=https://www.altpress.com/news/entry/green_day_re_releasing_american_idiot_on_vinyl_for_black_friday|título=Green Day re-releasing 'American Idiot' on vinyl for Black Friday|publicado=Alt Press|acessodata=23 de dezembro de 2017}}</ref>
 
Depois do término das gravações do álbum, a banda decidiu que a capa deveria refletir os temas presentes no disco, comparando a mudança de imagem a uma campanha política. Armstrong afirmou: "Queríamos estar além de tudo, do estilo à música e à aparência. Simplesmente tudo."{{sfn|Lanham|2004|p=116}} O trio inspirou-se pela propaganda do [[China|governo comunista chinês]] que viram em galerias de arte na [[Melrose Avenue]], e recrutou o artista Chris Bilheimer, que havia trabalhado anteriormente nas capas de ''[[Nimrod (álbum)|Nimrod]]'' e ''[[International Superhits!]]'', para designar a obra. O desejo do grupo era de que a arte fosse "ao mesmo tempo uniforme e poderosa".{{sfn|Lanham|2004|p=116}} A capa do CD —"uma forte impressão de uma granada em formato de coração posicionada em um pulso cheio de sangue" — é representativa de seu conteúdo político.{{sfn|Lanham|2004|p=116}} Depois de ouvir ao novo material em seu computador, Bilheimer anotou o verso "''E ela está segurando em meu coração como uma granada de mão''",{{Nota de rodapé|No original: "''And she's holding on my heart like a hand grenade''".}} de "She's a Rebel". Influenciado pelo pôster do filme ''[[The Man with the Golden Arm]]'', designado por [[Saul Bass]], ele criou um braço esticado a segurar uma granada vermelha em forma de coração. Embora achasse que vermelho era a "cor mais usada em excesso no [[Design gráfico|''design'' gráfico]]", ele sentiu que as qualidades "imediatas" da cor a tornavam apropriada para o uso na capa. O artista explicou: "Tenho certeza de que há teorias psicológicas que afirmam que por ser a mesma cor do sangue, ela possui o poder de vida e morte... E eu, como ''designer'', sempre senti que vermelho era meio que uma cor muito óbvia, então nunca a usei. Mas não tinha como não usá-la nessa capa".{{sfn|Spitz|2006|p=169}} A banda também passou por uma significativa mudança de estilo, passando a vestir-se em uniformes das cores vermelho e preto nas apresentações ao vivo. Armstrong considerou isso uma extensão natural de sua "habilidade como ''showman''", que começou a ser aparente em sua infância.<ref name="blender06" />
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=== Temas e influências na composição ===
[[Ficheiro:UStanks baghdad 2003.JPEG|thumb|right|''American Idiot'' foi inspirado pela [[Guerra do Iraque]]. A imagem apresenta tanques americanos em [[Bagdá]], em 2003.]]
A grande inspiração para ''American Idiot'' reside em eventos políticos envolvendo os [[Estados Unidos]], como a [[Presidência de George W. Bush|presidência]] de [[George W. Bush]] e a [[Guerra do Iraque]]. Há apenas duas canções explicitamente políticas em todo o disco ("American Idiot" e "Holiday"),<ref name="kerrang12">{{citecitar journalperiódico|authorautor =Ian Winwood|titletítulo=The Secrets Behind The Songs: "American Idiot"|datedata=9 de maio de 2012|workobra=[[Kerrang!]]|volume=|locationlocal=[[London]]|issn= 0262-6624|publisherpublicado=Bauer Media Group|issuenúmero=1414}}</ref> mas a obra "traça uma conexão casual entre a disfunção social americana contemporânea [...] e a ascensão de Bush".{{sfn|DiPerna|2005|p=26}} Embora o conteúdo do trabalho seja claramente sobre sua época, Armstrong disse ter esperanças de que o álbum se tornasse "atemporal" e "uma grande declaração sobre confusão".{{sfn|Pappademas|2004|p=65}}
 
Armstrong demonstrou desânimo em relação à [[Eleição presidencial nos Estados Unidos em 2004|eleição presidencial]] que estava por vir.{{sfn|Lanham|2004|p=116}} Ele sentia-se confuso pela guerra cultural no país, notando uma divisão no público em geral em relação à Guerra no Iraque. Em uma entrevista, o artista afirmou: "Essa guerra que está acontecendo no Iraque é simplesmente para construir um oleoduto e uma porra de um [[Wal-Mart]]".{{sfn|Lanham|2004|p=116}} O vocalista sentia a necessidade de evitar que seus filhos vissem imagens violentas, incluindo ''[[video game]]s'' e a cobertura midiática sobre a guerra e os [[Ataques de 11 de setembro de 2001|ataques do 11 de setembro]].{{sfn|Lanham|2004|p=116}} Ele sentia uma divisão entre a "cultura da TV americana" (que, segundo ele, só se importava com os canais de notícias) e a visão mundial em relação ao povo do país, que poderia ser considerado "um bando de warmongers imprudentes".<ref name="bigcheese04" /> Dirnt sentia-se de maneira semelhante, especialmente após assistir ao documentário ''[[Fahrenheit 9/11]]''. "Você não precisa analisar cada informação para saber que alguma coisa não está certa, e é hora de mudar".{{sfn|Lanham|2004|p=120}} Cool tinha esperanças de que o disco influenciaria os mais jovens a não votar em Bush, ou, em suas próprias palavras, "tornar o mundo um pouco mais são".{{sfn|Lanham|2004|p=118}} Anteriormente, ele sentia que não era seu dever "pregar" para crianças, mas ao perceber que havia "tanta coisa acontecendo" durante a eleição de 2004, isso mudou.{{sfn|Zulaica|2004|p=62}} O álbum também aponta para as pequenas empresas que são tiradas de negócio pelas grandes corporações. Cool deu o exemplo de pequenas lojas de discos fechando quando um grande varejo nacional chega até a cidade. "É como se houvesse apenas uma voz que você pode ouvir", ele disse. "Não quero parecer uma pessoa professoral, mas estamos quase no nível do [[Grande Irmão]] — com a exceção de que, aqui, há duas ou três empresas dominando tudo".<ref name="bigcheese04">{{citecitar newsjornal|titletítulo=Rebel Waltz|datedata=1º de outubro de 2004|workobra=Big Cheese|issuenúmero=56|pagespáginas=42–46|authorautor =Jim Sharples}}</ref>
 
{{quote box|align=left|width=30%|quoted=true|quote="Todo mundo parece não saber o que o futuro os reserva nesse momento, sabe?"|source=—Armstrong, 2004{{sfn|Lanham|2004|p=116}}}}
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''American Idiot'' é um [[álbum conceitual]] que descreve a história de uma personagem central chamada Jesus of Suburbia, um [[anti-herói]] criado por Billie Joe Armstrong.{{sfn|DiPerna|2005|p=26}} É escrito a partir da perspectiva de um adolescente americano de [[classe média baixa]] e suburbano, criado numa dieta de "[[refrigerante]] e [[ritalina]]".{{sfn|DiPerna|2005|p=26}} Jesus of Suburbia odeia sua cidade e aqueles próximos a ele, então ele acaba por migrar-se.{{sfn|Spitz|2006|p=165}} A segunda personagem a ser introduzida é St. Jimmy, um "orgulhoso lutador pela liberdade punk rock por excelência".{{sfn|DiPerna|2005|p=27}} Whatsername, "uma figura 'Mãe da Revolução'", é introduzida como o nêmesis de St. Jimmy na canção "She's a Rebel".{{sfn|DiPerna|2005|p=27}} A história do álbum é largamente indeterminada, uma vez que o grupo não sabia o que fazer com o enredo a partir de dado ponto. Portanto, Armstrong disse que o final seria construído pela imaginação do ouvinte.{{sfn|DiPerna|2005|p=28}} As duas personagens secundárias exemplificam o tema principal da obra — "raiva versus amor" — já que, enquanto St. Jimmy é tomado por "rebelião e autodestruição", Whatsername é focada em "seguir suas crenças e ética".{{sfn|DiPerna|2005|p=28}} Jesus of Suburbia acaba decidindo seguir a última, resultando no [[suicídio]] figurado de St. Jimmy, que acaba sendo revelado como uma faceta de sua personalidade.{{sfn|DiPerna|2005|p=28}} Na última canção, Jesus of Suburbia perde também a conexão com Whatsername, a ponto de nem conseguir lembrar seu nome.{{sfn|DiPerna|2005|p=28}}
 
Através da história, Armstrong esperava detalhar o que era se tornar um adulto nos Estados Unidos na época do lançamento do disco.<ref name="kerrang05.2">{{citecitar journalperiódico|authorautor =Victoria Durham|titletítulo=Green Day: Let The Good Times Roll|pagespáginas=50–55|datedata=1º de março de 2005|workobra=[[Rock Sound]]|volume=|locationlocal=[[London]]|issn= 1465-0185 |publisherpublicado=Freeway Press Inc.|issuenúmero=70}}</ref> Embora considerasse o último trabalho da banda "cheio de coração", o vocalista passou a ter um instinto de que deveria tratar sobre questões do período em que a obra saiu.{{sfn|Lanham|2004|p=116}} À medida que foi entrando na fase [[adulto|adulta]], ele passou a ter o desejo de aumentar o conteúdo político em suas composições, notando que o clima ao redor de seu amadurecimento produziu um sentimento de responsabilidade nas faixas que escrevia.{{sfn|Lanham|2004|p=117}} Nas palavras do próprio: "Assim que você abandona a estrutura verso-refrão-verso-refrão-ponte ... sua mente se abre para um novo jeito de compor, onde realmente não há regras".{{sfn|DiPerna|2005|p=26}} Em adição à temática política do disco, ele também toca em temas como os relacionamentos interpessoais e aquilo que Dirnt chamou de "a confusão, a perda de individualidade".<ref name="bigcheese04" />
 
{{Cquote|Estávamos no estúdio a assistir os jornalistas embarcando com as tropas, e era como a pior versão dos ''[[reality show|reality shows]]s''. Troque de canal, e você tem ''[[Newlyweds: Nick and Jessica|Nick & Jessica]]''. Troque, e aparece ''[[Fear Factor]]''. Troque, e verá pessoas fazendo [[cirurgia plástica|cirurgias plásticas]] para se parecerem com [[Brad Pitt]]. Estamos cercados por toda essa merda, e as personagens Jesus of Suburbia e St. Jimmy também. É um sinal dos tempos.|autor=Armstrong, a explicar o conceito por trás de ''American Idiot''.<ref>{{citar web|língua=en|url=http://loudwire.com/green-day-american-idiot-album-anniversary/|título=13 Years Ago: Green Day Release 'American Idiot'|publicado=Loudwire|data=21 de setembro de 2017|autor=Chad Childers|acessodata=23 de dezembro de 2017}}</ref>}}
 
A banda usou mais sons de [[guitarra]] pesados para o disco. O vocalista afirmou: "A gente ficou tipo, 'vamos com tudo nesse som de guitarra — plugue [[Gibson Les Paul|Les Paul]] e [[Marshall Amplification|Marshall]] e deixa acontecer'".{{sfn|DiPerna|2005|p=24}} Ele adicionou faixas de [[violão]] tocando entre as canções para aumentar o ritmo da guitarra e da bateria, tocada por Cool.{{sfn|DiPerna|2005|p=28}} Para a maior parte da gravação, Dirnt usou um amplificador Ampeg SVT e tocou o [[baixo]] [[Fender Precision Bass]], sua marca registrada.<ref name="bass06" /> Ele e Cavallo procuraram por um som de baixo "sólido, grande, estrondoso", ao invés de um centrado em contramelodias. Dirnt passou seu baixo por uma [[unidade DI|''direct box'']], uma base de seus métodos de gravação desde ''Dookie''.<ref name="bass06">{{citecitar newsjornal|titletítulo=Ready Set Go!: Studio Secrets of Mike Dirnt and Green Day Producer Rob Cavallo|authorautor =E.E. Bradman & Terry Buddingh|workobra=Bass Guitar|datedata=18 de janeiro de 2006|publisherpublicado=Blaze Publishing}}</ref> Cool emprega instrumentos incomuns para o punk — como [[Tímpano (instrumento musical)|tímpano]], [[glockenspiel]] e [[sino]] — que ele recebeu através de um acordo promocional com Ludwig.{{sfn|Zulaica|2004|p=66}} Esses instrumentos são especialmente evidentes em "Homecoming" e "Wake Me Up When September Ends"; a última apresenta um [[xequerê]] que foi soldado a um [[chimbau]] para as apresentações ao vivo.{{sfn|Zulaica|2004|p=66}} "Extraordinary Girl", originalmente intitulada "Radio Baghdad", inclui sons de [[tabla]] na introdução, tocada por Cool.<ref name="drum04">{{citecitar journalperiódico|titletítulo=Birth of Tre Cool|datedata=1º de dezembro de 2004|workobra=Drummer Magazine|authorautor =Dave Tupper|pagespáginas=46–52}}</ref> Para "Whatsername", ele gravou a [[bateria (instrumento musical)|bateria]] em uma sala designada para gravar guitarra, com o objetivo de criar um som "seco".{{sfn|Zulaica|2004|p=65}}
 
{{Escute
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}}
O disco abre com "[[American Idiot (canção)|American Idiot]]", uma canção [[pop punk]] articulada em torno de um ''[[riff]]'' rápido e enérgico, já apresentado nos primeiros segundos da canção, que trata sobre a política americana à época e a influência da mídia na opinião pública;{{sfn|DiPerna|2005|p=24}} a música expressa, ainda, o desejo de não ver o [[povo americano]] tornar-se "idiotas liderados por um presidente estúpido" e os Estados Unidos tornarem-se um país odiado internacionalmente.<ref name="americanidiot">{{Citar web|língua=en|título=American Idiot {{lang|en|song meaning}} |url=http://www.geekstinkbreath.net/greenday/song-meanings/american-idiot/ |publicado=geekstinkbreath.net |acessodata=22 de dezembro de 2017}}</ref> A obra enfatiza o uso de [[Palavras de baixo calão|linguagem explícita]], justaposicionando a gíria homofóbica "''faggot''" com "''America''" para criar o que Armstrong definiu como "uma voz para os calados".{{sfn|Lanham|2004|p=122}} Esta primeira faixa é uma visão geral da temática de protesto e rebelião que permeia todo o álbum, e funciona como uma introdução à história de Jesus of Suburbia, que é apresentado na segunda faixa, que leva seu nome. "[[Jesus of Suburbia]]" é dividida em cinco partes. Ele se introduz na primeira, descrevendo-se como "''o filho da raiva e do amor''";{{Nota de rodapé|No [[Língua inglesa|original]]: "''The son of rage and love''".}} nas partes seguintes, "City of the Damned" e "I Don't Care", expressa sua visão pessimista em relação aos subúrbios e ao mundo ao seu redor.<ref name="jos">{{Citar web|língua=en |título=Jesus of Suburbia {{lang|en|song meaning}} |url=http://www.geekstinkbreath.net/greenday/song-meanings/jesus-of-suburbia/ |publicado=geekstinkbreath.net |acessodata=22 de dezembro de 2012}}</ref> No pedaço intitulado "Dearly Beloved", Jesus of Suburbia mostra-se cansado de estar sozinho e se sentir abandonado; portanto, na última parte da canção, "Tales of Another Broken Home", ele percebe que não está a viver, apenas a existir, e decide mudar-se para começar uma nova vida.{{sfn|Spitz|2006|p=165}} Segue-se "[[Holiday (canção de Green Day)|Holiday]]", uma música que assemelha-se a "American Idiot" em sua composição, já que também apresenta um rápido ''riff'' de introdução na guitarra. É a segunda faixa no disco a criticar abertamente a política americana;<ref name="kerrang12"/> Armstrong expressa suas preocupações com a [[política externa]] de Bush, particularmente em relação à Guerra do Iraque e lamenta pelas vítimas desse conflito e de [[atentado terrorista|atentados terroristas]] em trechos como "''Uma vergonha, aqueles que morreram sem nome''".{{Nota de rodapé|No original: "''A shame, the ones who died without a name''"}}<ref name="holiday">{{Citar web|língua=en|título=Holiday {{lang|en|song meaning}} |url=http://www.geekstinkbreath.net/greenday/song-meanings/holiday/ |publicado=geekstinkbreath.net |acessodata=22 de dezembro de 2012}}</ref> "Holiday" demorou dois meses para ficar pronta, já que Armstong sentia que sua letra não estava boa o suficiente. Encorajado por Cavallo, ele a terminou; o vocalista a caracterizou como um "vá se foder" franco para Bush.<ref name="amp" /><ref name="ew05">{{citecitar journalperiódico|titletítulo=Sitting on Top of the World|datedata=11 de fevereiro de 2005|workobra=[[Entertainment Weekly]]|authorautor =Tom Sinclair|pagespáginas=25–31}}</ref>
 
"[[Boulevard of Broken Dreams]]", uma composição mais calma e lenta que as anteriores, segue o disco. Inicia-se com Armstrong cantando sobre um [[violão]], e segue a mesma [[progressão harmônica]] de "[[Wonderwall]]", do grupo britânico [[Oasis]]; dessa forma, o Green Day recebeu críticas do vocalista do Oasis, [[Noel Gallagher]].<ref>{{Citar web|língua=en|autor=Elizabeth Goodman|título=Noel Gallagher Turns Loathing of Green Day Into Personal Pastime|obra=[[Rolling Stone]]|data=20 de dezembro de 2006|url=https://www.rollingstone.com/rockdaily/index.php/2006/12/20/noel-gallagher-turns-loathing-of-green-day-into-personal-pastime/|acessodata=22 de dezembro de 2017}}</ref> Jesus of Suburbia percebe que sua sensação de liberdade acabou e que ele deve enfrentar a solidão, as ruas vazias da cidade e o abandono.<ref name="boulevard">{{Citar web|língua=en|título=Boulevard of Broken Dreams {{lang|en|meaning}} |url=http://www.geekstinkbreath.net/greenday/song-meanings/boulevard-of-broken-dreams/ |publicado=geekstinkbreath.net |acessodata=22 de dezembro de 2017}}</ref> O jeito que ele imaginava a cidade, com [[Néon|luzes de néon]] e [[arranha-céu]]s, colapsa, e ele aceita em "Are We the Waiting" que tem que superar sua frustração e essa visão para sentir-se bem.<ref name="arewe">{{Citar web|língua=en|título=Are We the Waiting {{lang|en|meaning}} |url=http://www.geekstinkbreath.net/greenday/song-meanings/are-we-the-waiting/ |publicado=geekstinkbreath.net |acessodata=22 de dezembro de 2017}}</ref> A faixa, estilisticamente semelhante à anterior, também pode ser interpretada como um reflexo da frustração do vocalista com a situação do mundo.<ref name="arewe"/> A sexta obra, "St. Jimmy", apresenta influências do punk rock na sua introdução e é cantada por Armstrong em uma guitarra elétrica tocada em ''[[palm mute]]''. Este tema rápido e áspero relata o encontro de Jesus of Suburbia com seu ''[[alter ego]]'', St. Jimmy;<ref name="jimmy">{{Citar web|língua=en|título=St. Jimmy {{lang|en|meaning}} |url=http://www.geekstinkbreath.net/greenday/song-meanings/st-jimmy/ |publicado=geekstinkbreath.net |acessodata=22 de dezembro de 2017}}</ref> ele representa a parte contenciosa e destrutiva de Jesus: um rebelde de sangue frio, incrível e autossuficiente; uma pessoa que ele nunca foi.<ref name="jimmy"/> Essa nova vida continua a ser expressa em "Give Me Novocaine", uma obra que apresenta violão; ela narra o protagonista a experimentar drogas e a fazer o que St. Jimmy lhe diz.<ref name="novocaine">{{Citar web|língua=en|título=Give Me Novocaine {{lang|en|meaning}} |url=http://www.geekstinkbreath.net/greenday/song-meanings/give-me-novocaine/ |publicado=geekstinkbreath.net |acessodata=22 de dezembro de 2017}}</ref> A canção também trata sobre os ''[[reality show]]s'', que Armstrong comparou com "gladiadores no [[Coliseu]]".{{sfn|Lanham|2004|p=122}}
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| ''[[Kerrang]]''
| ''100 Maiores Álbuns de rock de todos os tempos''<ref>{{citar web|url=http://www.gnrdaily.com/news_detail.asp?id=307 |título=GNR Top Kerrang's 100 Greatest Album List |obra=GNR Daily |data=10 de novembro de 2009 |acessodata=13 de julho de 2010|arquivourl= http://web.archive.org/web/20100822082925/http://www.gnrdaily.com/news_detail.asp?id=307|arquivodata=22 de agosto de 2010 <!--DASHBot-->| deadurlurlmorta= nonão}}</ref>
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| ''[[NPR]]''
| ''As 50 gravações mais importantes da década''<ref>{{citar web|url=http://www.npr.org/blogs/allsongs/2009/11/the_decades_50_most_important.html |título=The Decade's 50 Most Important Recordings |primeiro =Bob |último =Boilen |obra=NPR |acessodata=13 de julho de 2010|arquivourl= http://web.archive.org/web/20100818173751/http://www.npr.org/blogs/allsongs/2009/11/the_decades_50_most_important.html|arquivodata=18 de agosto de 2010 <!--DASHBot-->| deadurlurlmorta= nonão}}</ref>
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