Reino Visigótico: diferenças entre revisões

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O '''Reino Visigótico''' foi um [[Estado]] [[Germanos|germânico]] fundado pelos [[visigodos]] que ocupou o sudoeste da [[Gália]] (atual [[França]]) e a [[Península Ibérica]] dos séculos V-VIII. Sucessor do [[Império Romano do Ocidente]], foi originalmente criado quando os visigodos sob o rei [[Vália]] {{nwrap|r.|415|419}} foram assentados pelos romanos na província da [[Aquitânia]] e começaram a se expandir em direção à Península Ibérica. O reino manteve-se independente do [[Império Bizantino]], que tentou restabelecer no {{séc|VI}} a autoridade romana na Hispânia.
 
Pelo {{séc|VI}}, o território do reino na Gália foi perdido para os [[francos]], salvo a estreita faixa costeira da [[Septimânia]], mas o controle visigodo da Ibéria foi assegurado até o final do século com a submissão do [[Reino Suevo]]. Muito do Reino Visigótico foi conquistado pelo [[Califado Omíada]] em 711, com apenas as porções do extremo norte da Espanha permanecendo nas mãos dos nativos. Estas terras deram origem ao [[Reino das Astúrias]] com um senhor local chamado [[Pelágio das Astúrias|Pelágio]] sendo aclamado príncipe pelos asturianos.
 
Os visigodos e seus primeiros reis eram [[Arianismo|cristãos arianos]] e entraram em conflito com a [[Igreja Católica]], mas após se converterem ao [[cristianismo niceno]], a Igreja exerceu enorme influência em assuntos seculares através dosde [[Concílios de Toledo]]. ApósAo se converterem em 589, a [[língua gótica]], que estava em franco declínio devido ao gradual desaparecimento dos visigodos, que haviam miscigenado com a população hispano-romana, perde sua função como língua eclesiástica.{{sfn|Pohl|1998|p=119-121}} Os visigodos também desenvolveram um código de leis altamente influente na [[Europa Ocidental]] chamado [[Código Visigótico]] (''Liber Iudiciorum'' em latim), que tornou-se a base para o direito espanhol através da Idade Média.
 
== História ==
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=== Reino federado ===
 
No rescaldo da queda do oficial romanode [[Estilicão]], mulheres e filhos dos [[Federados (Roma Antiga)|federados]] visigodos foram sistematicamente assassinados em toda a [[península Itálica]]. Como consequência, os homens, que somavam {{formatnumfmtn|30000}}, uniram-se com o rei visigodo {{lknb|Alarico|I}} {{nwrap|r.|395|410}} em busca de vingança e o último começou em 408 o cerco à [[Roma]] que culminaria no [[Saque de Roma (410)|saque da cidade em 410]];{{sfn|Kulikowski|2008|p=246}} neste cerco [[Gala Placídia]], a irmã do [[imperador romano do ocidente|imperador]] [[Honório]] {{nwrap|r.|395|423}}, foi capturada.{{sfn|name=Mat1999|Mathisen|1999}} Em 412, sob [[Ataúlfo]] {{nwrap|r.|410|415}}, os visigodos partiram para aà [[Gália]] e, dada uma aliança selada com Honório, derrotaram e capturaram os usurpadores [[Jovino]] {{nwrap|r.|411|413}} e [[Sebastiano (usurpador)|Sebastiano]] {{nwrap|r.|412|413}}.{{sfn|Elton|1999}} As relações de Ataúlfo e Honório melhoraram e foram cimentadas com oseu casamento do rei visigodo com Gala Placídia em 1 de janeiro de 414,<ref name=Mat1999 /> porémmas Ataúlfo seriafoi assassinado em 415. Placídia deu a ele-lhe um filho chamado [[Teodósio (filho de Ataúlfo)|Teodósio]], que morreu no começo de 415, eliminando a possibilidade de umapossível linhagem romano-visigoda.{{sfn|Cawley|2017a}}{{sfn|Cawley|2017b}}
 
Em 418, Honório recompensou os federados visigodos sob [[Vália]] {{nwrap|r.|415|419}} dando a eles-lhes terras no [[Rio Garona|vale do Garona]], na [[Gália Aquitânia|Aquitânia]], para que se assentassem. Isto provavelmente ocorreu sob ''[[hospitalitas]]'', as leis para alojar [[Exército romano tardio|soldados do exército]]. Parece provável que no começo não foi cedido a eles uma grande quantidade de propriedades na região (como provavelmentetalvez se acreditou), mas coletaram os impostos, com os aristocratas gauleses agora pagando os impostos aos visigodos aoem invésvez do governo romanoimperador.{{sfn|Lee|2008|p=48}} DaDe sua capital deles em [[Toulouse|Tolosa]], mantiveram-se ''de facto'' independentes, e logo começaram a se expandir em território romano em detrimento do débil [[Império Romano do Ocidente|império ocidental]]. Sob {{lknb|Teodorico|I}} {{nwrap|r.|418|451}}, os visigodos atacaram [[Arles]] (em 425 e 430) e [[Narbona]] (436), mas foram reprimidos por [[Flávio Aécio]] com ajuda de mercenários hunos, e Teodorico foi derrotado em 438. Em torno de 451, a situação mudou e os [[hunos]] invadiram a Gália; Teodorico lutou sob Aécio contra [[Átila]] {{nwrap|r.|434|453}} na subsequente [[batalhaBatalha dos Campos Cataláunicos]]. Átila retirou-se, mas Teodorico foi morto em batalha.{{sfn|Collins|2008|p=113}}
 
Por volta de 454, os [[vândalos]] conquistaram o [[Norte da África]] e os [[suevos]] tomaram muito da [[Hispânia]]. O imperador romano [[Ávito]] {{nwrap|r.|455|456}} enviou os visigodos para aà Hispânia. {{lknb|Teodorico|II}} {{nwrap|r.|453|466}} invadiu e derrotou o [[rei dos suevos,suevo]] {{lknb|Requiário|I}} {{nwrap|r.|448|456}}, na [[batalhaBatalha de Órbigo]] em 456, próximo de Astúrica Augusta (atual [[Astorga (Espanha)|Astorga]]) e então saqueou Bracara Augusta (atual [[Braga]]), a capital sueva. Os godos saquearam brutalmente as cidades na Hispânia: massacraram uma porção da população e até mesmo atacaram alguns lugares sagrados, provavelmente devido ao apoio do clero aos suevos.{{sfn|Barbero|2005a|p=165}} Teodorico tomou controle sobre as províncias de [[Bética]], [[Cartaginense]] e sul da [[Lusitânia]]. Em 461, os godos receberam a cidade de Narbona do imperador [[Líbio Severo]] {{nwrap|r.|461|465}} em troca da ajuda deles. Isto levou a uma revolta do exército e dos [[Cultura galo-romana|galo-romanos]] sob [[Egídio]]; como resultado, os romanos sob Severo e os visigodos de Teodorico&nbsp;II lutaram contra outras tropas romanas, e a revolta foi suprimida apenas em 465.{{sfn|Heather|2008|p=24}}
 
=== Reino de Tolosa ===
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[[Imagem:Bréviaire d'Alaric (Clermont).jpg|thumb|upright=1|Trecho dum manuscrito do [[Breviário de Alarico]] preservado na [[Universidade de Auvérnia]]]]
 
Em 466, [[Eurico]] {{nwrap|r.|466|484}}, que foi o filho mais novo de Teodorico&nbsp;I, assumiu o trono visigótico. É famoso por assassinar seu irmão mais velho Teodorico&nbsp;II que tinha se tornado rei por assassinar seu irmão mais velho [[Turismundo]] {{nwrap|r.|451|453}}. Sob Eurico, os visigodos começaram a se expandir na Gália e consolidaram a presença deles na Hispânia. Eurico lutou uma série de guerras com os suevos que mantiveram alguma influência na Lusitânia, e trouxe muito da região sobre controle visigótico, tomando Emérita Augusta (atual [[Mérida (Espanha)|Mérida]]) em 469. Eurico também atacou o Império Romano do Ocidente, capturando [[Tarraconense]] em 472, o último bastião do poder romano na Hispânia. Cerca de 476, estendeu seu domínio para os rios [[Rio Reno|Reno]] e [[Rio LoireLíger|LoireLíger]] que compreenderam muito do sul da Gália. Também ocupou as cidades romanas chave de Arles e [[Marselha]].{{sfn|name=Bar171|Barbero|2005a|p=167-171}}
 
Em suas campanhas, contou com uma porção da aristocracia galo-romana e hispano-romana que serviu sob ele como generais e governadores. O Reino Visigótico estava formalmente reconhecido quando o imperador ocidental [[Júlio Nepos]] {{nwrap|r.|473|480}} assinou uma aliança com Eurico, garantindo a ele as terras ao sul do Loire e leste do Reno em troca de serviço militar e as terras de [[Provença]] (incluindo Arles e Marselha). As terras na Hispânia permaneceram sob controle visigótico. Após [[Odoacro]] depôr o último imperador romano do Ocidente, [[Rômulo Augusto]] {{nwrap|r.|475|476}}, Eurico rapidamente recapturou Provença, um fato que Odoacro formalmente aceitou em um tratado.<ref name=Bar171 />
 
Em torno de 500, o Reino Visigótico, centrado em [[Toulouse|Tolosa]], controlava a Gália Aquitânia e [[Gália Narbonense]] e muito da Hispânia, com a exceção do [[Reino Suevo]] da [[Galiza]] e pequenas áreas controladas por povos hispânicos independentes, tais como os [[bascos]] e [[cântabros]]. O filho de Eurico, {{lknb|Alarico|II}} {{nwrap|r.|484|507}}, emitiu um novo conjunto de leis, o [[Breviário de Alarico]] ({{langx|la|''Breviarium Alaricianum''}}), e realizou um [[Concílio de Agde|concílio]] da Igreja em [[Agde]], ambos em 506. Os visigodos entraram em conflito com os [[francos]] sob o [[rei merovíngio|rei]] {{lknb|Clóvis|I}} {{nwrap|r.|481|511}}, que conquistou o norte da Gália. Após uma breve guerra, Alarico foi forçado a acabar com uma rebelião em Tarraconense, provavelmente causada pela recente imigração visigótica para aà Hispânia devido a pressão dos francos. Em 507, os francos atacaram novamente, desta vez aliados com os [[burgúndios]]. Alarico&nbsp;II foi morto na [[batalhaBatalha do Campo Vogladense]], próximo de [[Poitiers]], e Tolosa foi saqueada. Cerca de 508, os visigodos perderam muitas de suas possessões gálicas, salvo Septimânia no sul.{{sfn|Collins|2008|p=113-114}}
 
=== Reino ariano da Hispânia ===
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[[Imagem:Iberia 586-pt.svg|thumb|Reino Visigótico em 586 depois das conquistas de Leovigildo]]
 
Após a morte de Alarico&nbsp;II, seu filho ilegítimo [[Gesaleico]] {{nwrap|r.|507|511}} tomou o poder até ser deposto por [[Teodorico, o Grande]] {{nwrap|r.|493|526}}, governante do [[Reino Ostrogótico]], que invadiu e derrotou-o em [[Barcelona]]. Gesaleico fugiu e reagrupou, mas foi derrotado novamente em Barcelona, e foi capturado e morto.{{sfn|Barbero|2005a|p=174}} Teodorico então instalou seu neto [[Amalarico]] {{nwrap|r.|511|531}}, o filho de Alarico&nbsp;II, como rei. Amalarico, contudo, ainda era uma criança e o poder da Hispânia permaneceu sob o general e regente ostrogodo [[Têudis]].{{sfn|Barbero|2005a|p=175}} Apenas após a morte de Teodorico (526), Amalarico obteve controle de seu reino. Porém, seu reinado não duraria muito, pois seria derrotado em 531 pelo [[rei merovíngio]] {{lknb|Quildeberto|I}} {{nwrap|r.|511|558}} e mais tarde assassinado em Barcelona.{{sfn|Barbero|2005a|p=177-178}}
 
Depois, Têudis {{nwrap|r.|531|548}} tornou-se rei. Ele expandiu o controle visigótico sobre as regiões do sul, mas foi também morto após uma invasão falha à África.{{sfn|Barbero|2005a|p=179-182}} A Hispânia visigótica sofreu uma guerra civil sob o rei {{lknb|Ágila|I}} {{nwrap|r.|549|554}}, o que incitou o [[imperador bizantino]] [[Justiniano]] {{nwrap|r.|527|565}} a enviar um exército sob comando de [[Libério]], que conquistou território ao longo do sul da Hispânia e formou a província imperial da [[Espânia]].{{sfn|Bury|1923|p=286-288}}{{sfn|Evans|2005|p=11}} Ágila foi morto, e seu inimigo [[Atanagildo]] {{nwrap|r.|552|568}} tornou-se o novo rei. Ele atacou os bizantinos, mas foi incapaz de desalojá-los do sul da Hispânia, sendo obrigado a reconhecer formalmente a suserania do império.{{sfn|Barbero|2005a|p=179-183}}
 
O próximo rei visigótico foi [[Leovigildo]] {{nwrap|569|21 de abril de 586}}. Foi um líder militar eficaz e consolidou o poder visigótico na Hispânia. Leovigildo fez campanha contra os bizantinos no sul nos anos 570 e retomou [[Córdova (Espanha)|Córdova]] após outra revolta. Também lutou no norte contra os suevos e vários estados pequenos independentes, incluindo os bascos e os cantábrios. Pacificou o norte da Hispânia, mas foi incapaz de completar a conquista daqueles povos. Quando Leovigildo estabeleceu seu filho [[Hermenegildo]] como governante conjunto, uma [[Rebelião de Hermenegildo|guerra civil]] eclodiu. Hermenegildo tornou-se o primeiro rei visigótico a se converter ao [[cristianismo niceno]] devido a seus laços com os romanos, mas foi derrotado em 584 e morto em 585.{{sfn|Previte-Orton|1979|p=145}} Pelo fim de seu reinado, Leovigildo uniu a Península Ibérica inteira, incluindo o Reino Suevo que ele conquistou em 585 durante a guerra civil sueva que se seguiu à morte do rei [[Miro (monarca)|Miro]] {{nwrap|r.|570|583}} Leovigildo estabeleceu termos amigáveis com os francos através de casamentos reais, e eles permaneceram em paz durante a maior parte de seu reinado. Leovigildo também fundou novas cidades, tais como [[Recópolis]] e [[Victoríaco]], o primeiro rei bárbaro a fazê-lo.{{sfn|Barbero|2005a|p=183-193}}{{sfn|van Dam|2005|p=193-209}}{{sfn|Collins|2008|p=122-124}}
 
=== Reino católico da Hispânia ===
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{{AP|vt=s|Protofeudalismo}}
 
[[Imagem:Concil Toled.jpg|thumb|esquerda|[[{{lknb|Recaredo |I]]}} presidindo o [[Terceiro Concílio de Toledo]]]]
[[Imagem:Reyes visigodos Codex Vigilanus.jpg|thumb|esquerda|Os reis visigodos [[Chindasvinto]], [[Recesvinto]] e [[Égica]] segundo o ''[[Codex Vigilanus]]'']]
 
Ao tornar-se rei, {{lknb|Recaredo|I}} {{nwrap|r.|586|601}}, filho de Leovigildo, converteu-se ao cristianismo católico. Isto levou a alguma agitação no reino, notadamente uma revolta pelo bispo ariano de [[Mérida (Espanha)|Mérida]] que foi derrubado; ele também repeliu outra ofensiva franca no norte. Recaredo&nbsp;I, em seguida, supervisionou o [[Terceiro Concílio de Toledo]] em 589, onde anunciou seu fé no credo niceno e denunciou o [[arianismo]]. Adotou o nome Flávio, o nome familiar da [[dinastia constantiniana]], e denominou-se como sucessor dos imperadores romanos. Recaredo também lutou contra os bizantinos na Bética após eles iniciarem uma nova ofensiva.{{sfn|Barbero|2005b|p=346-350}} {{lknb|Liúva|II}}, o filho de Recaredo, tornou-se rei em 601, mas foi deposto pelo nobre visigótico [[Viterico]] {{nwrap|r.|603|610}}, terminando a dinastia de curta duração. Houve vários reis visigóticos entre 610 e 631, e este período viu constante regicídio.{{sfn|name=Bar353|Barbero|2005b|p=350-353}}
 
Além disso, o período foi marcado pela retomada de conflitos com os bizantinos, e a guerra constante com bascos e asturianos, que acabaria se estendendo por todo o resto da existência do Reino Visigótico. Estes reis também trabalharam na legislação religiosa, especialmente o rei [[Sisebuto]] {{nwrap|r.|612|621}}, que aprovou várias leis severas contra os judeus e forçou muitos deles a conversão ao cristianismo. Sisebuto foi também bem sucedido contra os bizantinos, tomando várias de suas cidades, incluindo [[Málaga]]. Os bizantinos foram finalmente derrotados por [[Suíntila]] {{nwrap|r.|621|631}}, que capturou todas as possessões hispânicas deles aproximadamente em 625. Suíntila foi deposto pelos francos e substituído por [[Sisenando]].<ref name=Bar353 />
 
A instabilidade deste período pode ser atribuída ao luta pelo poder entre os reis e a nobreza. A unificação religiosa fortaleceu o poder político da Igreja, que exercitou-o através de concílio da Igreja em [[Toledo]] junto com os nobres. O [[Quarto Concílio de Toledo|quarto concílio]], ocorrido durante o breve reinado de Sisenando em 633, excomungou e exilou o rei, substituindo-o por [[Chintila]] {{nwrap|r.|636|639}}. Os concílio da Igreja eram agora a mais poderosa instituição do Estado visigótico; eles assumiram o papel de regular o processo de sucessão para o trono pela eleição do rei por "senadores" nobres góticos e oficiais da Igreja. Eles também decidiram reunir-se em uma base regular para discutir assuntos eclesiásticos e políticos que afetavam a Igreja. Finalmente, eles decidiram que os reis deveriam morrer em paz, e declararam a pessoas deles sagrada, procurando acabar a violência e regicídios do passado. Apesar de tudo isso, outro golpe ocorreu e Chintila foi deposto em 639, e [[Tulga]] {{nwrap|r.|640|641}} tomou seu lugar; foi também deposto no terceiro ano de seu reinado e o concílio elegeu o nobre [[Chindasvinto]] {{nwrap|r.|642|653}}.{{sfn|Barbero|2005b|p=353-356}}
 
Os reinados de Chindasvinto e seu filho [[Recesvinto]] {{nwrap|r.|553|572}} viu a compilação do mais importante livro do direito visigótico, o [[Código Visigótico]] (''Liber Iudiciorum''), que foi concluído em 654. O código incluiu leis antigas de reis passados, tais como Alarico&nbsp;II em seu Breviário, e Leovigildo, mas muitas também foram leis novas. O código foi baseado quase inteiramente no [[direito romano]], com alguma influência do [[direito germânico]] em raros casos. Chindasvinto fortaleceu a monarquia em detrimento da nobreza, executou cerca de 700 nobres, exilou outros, forçou dignitários a jurar, e no Sétimo Concílio de Toledo afirmou seu direito de excomungar clérigos que atuaram contra o governo. Ele também foi capaz de manobrar seu filho Recesvinto ao trono, o que provocou uma rebelião da nobreza gótica que aliou-se com os bascos, que acabou debelada. Recesvinto realizou outro concílio de Toledo, que reduziu sentenças de traição e afirmou o poder dos concílios para eleger reis.{{sfn|Barbero|2005b|p=356-360}}
 
[[Imagem:Erwig tremissis 680 612197.jpg|thumb|[[Tremisse]] cunhado sob [[Ervígio]] {{nwrap|r.|680|687}}]]
 
Após Recesvinto, rei [[Vamba]] {{nwrap|r.|672|680}} foi eleito rei. Teve que lidar com revoltas em Tarraconense, e devido a isto, sentiu a necessidade de reformar o exército. Aprovou uma lei declarando que todos os duques, condes e outros líderes militares, bem como bispos, tinham que vir em auxílio do reino uma vez que a ameaça tornou-se conhecida, com perigo de severa punição. Vamba foi finalmente deposto em um golpe. O Rei [[Ervígio]] {{nwrap|r.|680|687}} realizou mais concílios da Igreja e revogou as leis de Vamba, embora ainda fez provisões ao exército. Ervígio fez rei seu genro [[Égica]] {{nwrap|r.|687|702}}. Apesar de uma rebelião do bispo de Toledo o concílio décimo sexto, realizado em 693, denunciou a revolta do bispo. O décimo sétimo concílio em 694 aprovou leis severas contra os judeus, citando uma conspiração, e muitos foram escravizados, especialmente aqueles que tinham se convertido ao cristianismo. Égica também elevou seu filho [[Vitiza]] {{nwrap|r.|698|710}} como co-governante em 698. Pouco é conhecido de seu reinado, mas um período de guerra civil rapidamente se seguiu entre seu filhos ({{lknb|Ágila|II}} e [[Ardão]]) e o rei [[Rodrigo]] {{nwrap|r.|710-|711}}, que havia capturado Toledo.{{sfn|Barbero|2005b|p=360-369}}
 
=== Conquista muçulmana ===
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[[Imagem:Tarik_ibn_Ziyad_-.jpg|thumb|Representação do {{séc|XIX}} de [[Tárique]]]]
 
Em 711, [[Tárique]], um [[berberberbere]] muçulmano cliente de [[Muça ibne Noçáir]], o governador da África islâmica[[Ifríquia]], invadiu a Hispânia com ca. {{formatnumfmtn|7000}} homens, enquanto Rodrigo estava no norte lutando com os bascos. Historiadores muçulmanos, tais como [[Ibnibne KhaldunCaldune]], contam a lenda de um nobre ibérico baseado no Norte da África, Juliano, que pediu a ajuda de Tárique, um líder militar muçulmano no Norte da África, para derrubar Rodrigo. Além de ser um tirano opressivo, Rodrigo havia sequestrado e estuprado a filha de Juliano. Ao final de Julho, uma batalha ocorreu no [[rio Guadalete]] na província de [[Cádis]]. Rodrigo foi traído por suas tropas, que apoiaram seus inimigos, e o rei foi morto em batalha. Os muçulmanos então tomaram muito do sul da Hispânia com pouca resistência, e continuaram para capturar Toledo, onde eles executaram vários nobres visigóticos. Em 712, Muça, o governador de [[Ifríquia]], chegou com outro exército de {{formatnumfmtn|18000}} homens com grandes contingentes árabes. Ele tomou Mérida em 713 e invadiu o norte, tomando [[Saragoça]] e Leão, que estava ainda sob o rei Ardão, em 714.{{sfn|name=Bar370|Barbero|2005b|p=369-370}}{{sfn|name=Mc276|McKitterick|1995|p=256-258; 275-276}}
 
Após ser chamado de volta pelo califa, Muça deixou seu filho [[Abdalazize ibne Muça]] no comando. Cerca de 716, muito da [[Península Ibérica]] estava sob comando islâmico, com a [[Gália Narbonense]] tomada entre 721 e 725. A única resistência efetiva foi nas Astúrias, onde um nobre visigótico chamado Pelágio revoltou-se em 718, aliado com os bascos e derrotou os muçulmanos na [[batalhaBatalha de Covadonga]]. A resistência também continuou em regiões ao redor dos [[Pireneus]] e as regiões montanhosas do norte da Hispânia, onde os muçulmanos estavam desinteressados em mantar a autoridade. Os berberes se estabeleceram no sul de [[Meseta Central]], em [[Castela]]. Inicialmente, os muçulmanos geralmente deixaram os cristãos sozinhos para praticar a religião deles, embora não-muçulmanos fossem sujeitos a lei islâmica e foram tratados como cidadãos de segunda classe.<ref name=Bar370 /><ref name=Mc276 />
 
== Direito visigótico ==
 
As novas leis foram aplicadas tanto para asàs populações góticas como para asàs hispânicas que estavam sujeitas a diferentes leis no passado, e substituíram todos os códigos de direito antigos. Entre as leis antigas eliminadas estavas as leis severas contra os judeus. O Código Visigótico mostrou que o velho sistema de divisões militares e civis na administração estava mudando, e [[duque]]s (''duces provinciae'') e [[conde]]s (''comes civitatis'') começaram a receber mais responsabilidades fora de seus deveres civis e militares originais. Os servos ou escravos do rei tornaram-se muito proeminentes na burocracia e exerceram amplos poderes administrativos. Com os códigos de direito visigótico, mulheres poderiam herdar terra e título e administrá-la independentemente de seus maridos ou parentes masculinos, dispor de propriedade em testamentos levais, e podiam representar-se e testemunhar em tribunal aos 14 anos e organizar seus próprios casamentos aos 20.{{sfn|Barbero|2005b|p=357-358}}
 
{{referências|col=3}}