Amor: diferenças entre revisões

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[[Imagem:DickseeRomeoandJuliet.jpg|250px|[[Arquétipo]] do amor romântico, [[Romeu e Julieta]] retratados por [[Frank Bernard Dicksee|Frank Dicksee]]|miniaturadaimagem]]
 
'''Amor''' (do [[latim]] ''amore'') é uma [[emoção]] ou sentimento que leva uma pessoa a desejar o bem a outra pessoa ou a uma coisa.<ref name="au">[[Dicionário Aurélio]], verbete ''amor'', primeira definição.</ref> O uso do vocábulo, contudo, lhe empresta outros tantos significados, quer comuns, quer conforme a ótica de apreciação, tal como nas [[Religião|religiões]], na [[filosofia]] e nas ciências humanas. O amor possui um mecanismo biológico que é determinado pelo [[sistema límbico]], centro das emoções, presente somente em [[mamíferos]] e talvez também nas [[aves]] — a tal ponto que [[Carl Sagan]] afirmou que o amor parece ser uma invenção dos mamíferos.<ref>{{citar livro|autor=Delton Croce e D. Croce Jr. |título=Manual de Medicina Legal |editora=Saraiva |ano=1995|página=527|isbn=8502014927}}</ref>
 
Para o psicólogo [[Erich Fromm]], ao contrário da crença comum de que o amor é algo "fácil de ocorrer" ou espontâneo, ele deve ser aprendido; ao invés de um mero sentimento que acontece, é uma faculdade que deve ser estudada para que possa se desenvolver - pois é uma "arte", tal como a própria vida. Ele diz: "''se quisermos aprender como se ama, devemos proceder do mesmo modo por que agiríamos se quiséssemos aprender qualquer outra arte, seja a música, a pintura, a carpintaria, ou a arte da medicina ou da engenharia''".<ref name="fromm">{{Citar livro|autor=Erich Fromm |coautor=Milton Amado (tradução) |título=A Arte de Amar|idioma=português|local=Belo Horizonte | editora=Itatiaia|página=19-25}}</ref> O sociólogo [[Anthony Giddens]] diz que os mais notáveis estudos sobre a sexualidade, na quase totalidade feitos por homens, não trazem qualquer menção ao amor.<ref name="giddens">{{citar livro|autor=Anthony Giddens|título=A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas |editora=Unesp |ano=1992|páginas=228|isbn=8571390371|url=http://books.google.com.br/books?id=O28DBmHWICMC&dq=amor&lr=&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s }}</ref> Ambos os autores revelam existir uma omissão científica sobre o tema.<ref name="giddens"/><ref name="fromm"/>
 
A percepção, conceituação e idealização do objeto amado e do amor variam conforme as épocas, os costumes, a cultura.<ref name="fromm"/> O amor é ponto central de algumas religiões, como no [[cristianismo]] onde a expressão ''[[Deus é amor]]'' intitula desde uma [[encíclica]] papal<ref>{{citar web|url=http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20051225_deus-caritas-est.html |título=CARTA ENCÍCLICA DEUS CARITAS EST |autor=Papa Bento XVI |data=25/12/2005 |publicado=Página oficial do Vaticano |acessodata=1/1/2012}}</ref> até em o nome de uma Igreja, no [[Brasil]]<ref>{{citar web|url=http://web.archive.org/web/20071008220618/http://www.ipda.org.br/nova/n_pagina.asp?Codigo=76 |título=Histórico da IPDA |autor=Institucional |data=|publicado=site oficial da IPDA |acessodata=1/1/2012}}</ref> - derivadas da máxima de [[São João Evangelista|João Evangelista]] contida na sua [[Primeira Epístola de João|primeira epístola]].<ref>
{{Citar bíblia |livro =I João |capítulo =4 |verso =16}}</ref>
 
Embora seja corrente a máxima "''o amor não se define, o amor se vive''",<ref>{{citar web|URL=http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf/st4/Oliveira,%20Adelino%20Francisco.pdf|título=A Lógica do Dom e a Teologia da Retribuição: reflexões sobre a religiosidade midiática na pós-modernidade |autor=Adelino Francisco de Oliveira |data= |publicado=Revista Brasileira de História das Religiões |acessodata=9/1/2015}}</ref> há várias definições para o amor como: a "''dedicação absoluta de um ser a outro''", o "''afeto ditado por laços de família''", o "''sentimento terno ou ardente de uma pessoa por outra''" e aqueles em que também se inclui a atração física, tornando-o aplicável também aos animais, um mero "''capricho''", as aventuras amorosas, o sentimento transcendental e religioso de adoração, perpassando ao sinônimo de amizade, apego, carinho, etc.<ref name="au"/> Diante desta gama variada de conceitos, os teóricos se dividem na possibilidade de uma conceituação única, que reúna aquelas tantas definições e representações do amor.<ref name="doc">{{Citar periódico |autor=Thiago de Almeida, Andréa Soutto Mayor |ano=2006|titulo=O amar, o amor: uma perspectiva contemporâneo-ocidental da dinâmica amorosa para os relacionamentos|jornal=R. R. Starling & K. A. Carvalho. Ciência do Comportamento Humano: conhecer e avançar|editora=ESETec|local= São Paulo|notas=pp. 99-105 }}</ref>{{nota de rodapé|Dentre os autores que levantam tal questionamento sobre a definição do amor estão: J. A. Lee, G. Levinger, B. I. Murstein e S. Peele (in: ''The psychology of love''), R. Sternberg (''Love stories'' in: ''Personal Relationships'') e S. S. Hendrick & C. Hendrick (in: ''Romantic Love'').}} Outros, como André Lázaro, afirmam que "''não há dois amores iguais''".<ref>{{Citar livro|autor=André Lázaro|título=Amor: do mito ao mercado|idioma=português|local=Petrópolis | editora=Vozes |ano=1996 |página=15|isbn=853261681X}}</ref> Já [[Leandro Konder]] diz que o termo amor possui uma "''elasticidade impressionante''".<ref>{{citar livro|autor=KONDER, Leandro|título=Sobre o amor|editora=São Paulo, Boitempo|ano=2007|página=7}}</ref> Erich Fromm, ainda, ressalta que "''O amor é uma atividade, e não um afeto passivo; é um "erguimento" e não uma "queda". De modo mais geral, o caráter ativo do amor pode ser descrito afirmando-se que o amor, antes de tudo, consiste em ''dar'', e não em receber.''"<ref>FROMM, op. cit., pág. 37</ref> Como sentimento individual e personalíssimo, traz complexidade por envolver componentes [[emoção|emocionais]], [[conhecimento|cognitivos]], [[comportamento|comportamentais]] que são difíceis - ou quase impossíveis - de separar e, no caso do amor romântico, também se insere os componentes [[erotismo|eróticos]].<ref name="neuro"/>
 
O amor romântico, celebrado ao longo dos tempos como um dos mais avassaladores de todos os estados afetivos, serviu de inspiração para algumas das conquistas mais nobres da humanidade; tem o poder de despertar, estimular, perturbar e influenciar o comportamento do indivíduo.<ref name="neuro"/> Dos mitos à psicologia, das artes às relações pessoais, da filosofia à religião, o amor é objeto das mais variadas abordagens, na compreensão de seu verdadeiro significado, cujos aspectos principais são retratados a seguir.
 
==Conceitos preliminares e comuns de "amor" ==
[[Imagem:Haynes-Williams Motherhood.jpg|miniaturadaimagem|Amor materno, exemplo comum da manifestação amorosa]]
 
Na concepção vulgar o termo ''amor'' encontra variadas significações que devem ser abordadas em sentidos próprios e respectivos, definidos em sentimentos e ações que muitas vezes se fazem impróprios à definição do sentimento, mas que podem ter ou não implicações nas demais percepções, como na filosofia; assim, considera-se o amor como:<ref name="filosofia">{{citar livro|autor=Nicola Abbagnano |título=Dicionário de Filosofia |editora=Martins Fontes, São Paulo |ano=2007 |página=38-50 |isbn=9788533623569 }}</ref>
# A atração física [[sexo|sexual]], na relação entre indivíduos (como quando se diz "''fazer amor''")<ref name="filosofia"/>
# Para designar as diversas relações interpessoais como a [[amizade]], o amor entre pais e filhos, etc.<ref name="filosofia"/>
# O sentimento de apego a seres inanimados, que nada mais é senão o "desejo de posse" - como quando se diz "amor ao dinheiro", ou "aos livros", etc.<ref name="filosofia"/>
# Apreço a valores ideais (amor à justiça, ao bem, etc).<ref name="filosofia"/>
# Apreço por certas atividades ou formas de vida (como quando se diz do amor a uma profissão, ao jogo, à diversão, etc.)<ref name="filosofia"/>
# Sentimento de apreço ao coletivo: amor à pátria, a um partido político, etc.<ref name="filosofia"/>
# Amor ao próximo, amor a Deus.<ref name="filosofia"/>
 
===Amor e conceitos relacionados===
Precursor da química no {{séc|XVI}}, o suíço [[Paracelso]], ligava o amor ao conhecimento: "''Quem nada conhece, nada ama. Quem nada pode fazer, nada compreende, nada vale. Mas quem compreende, também ama, observa, vê... Quanto mais conhecimento houver inerente numa coisa, tanto maior o amor''".<ref>FROMM, op. cit., pág. 17</ref>
 
O psicanalista [[Jacques Lacan]] relaciona o amor com a [[verdade]], num de seus seminários, dizendo que ambos possuem uma estrutura ficcional e são como que artifícios usados para camuflar enigmas que não podem ser decifrados.''<ref name="nadia">{{citar livro|autor=Nadiá Paulo Ferreira|título=A teoria do amor na psicanálise|editora=Zahar|ano=2004|páginas=70 páginas|isbn=8571107777|url=http://books.google.com.br/books?id=W4eKiXBoe7wC&pg=PA5&dq=amor+religi%C3%A3o&lr=&hl=pt-BR&source=gbs_selected_pages&cad=3#v=onepage&q=amor%20religi%C3%A3o&f=false }}</ref>
 
====Casamento e o amor ====
[[Imagem:Devant lautel (Vilnius) (7661194886).jpg|miniaturadaimagem|No Ocidente, o amor passou a integrar o casamento a partir do {{séc|XVIII}}]]
 
O amor, tal como se tem hoje como algo que envolve consenso, escolha e paixão amorosa, não fazia parte do matrimônio até o {{séc|XVIII}}, quando a sexualidade passou a crescer em importância dentro do casamento.<ref name="casamar">{{citar web|URL=http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-98932002000200009&script=sci_arttext&tlng=es|título=Amor, casamento e sexualidade: velhas e novas configurações |autor=Maria de Fátima Araújo |mês=Junho |ano=2002|publicado=Psicol. cienc. prof. vol.22 no.2 Brasília |acessodata=29/10/2015}}</ref>
 
Dos tempos primitivos até à Idade Média eram os pais quem cuidavam dos casamentos dos filhos, como um negócio; o casamento tinha bases que eram mais importantes que o amor, e o sentimento era reservado para as relações adulterinas.<ref name="casamar"/>
 
A [[Revolução Francesa]] foi um divisor de águas na visão ocidental do casamento, celebrando o rompimento com a sacralização do ritual pela [[Igreja Católica|Igreja]]; até ali, não apenas no Ocidente, se distinguia amor de casamento (textos judaicos e gregos declaram que a função do matrimônio era a procriação, o amor era desnecessário). Quem primeiro expressou a ideia do afeto integrando o matrimônio foi o pastor anglicano [[Thomas Malthus]]; segundo ele, a amizade, companheirismo e afeto são os principais motes do casamento, e não a procriação.<ref name="casamar"/>
 
As maiores mudanças, contudo, ocorrem com a modernidade, em que a valorização do amor individual presente na ideologia burguesa, leva ao predomínio do amor-paixão com erotismo na relação conjugal - criando uma emboscada já que isto resultou em criação de expectativas e conflitos decorrentes de suas frustrações.<ref name="casamar"/>
 
====Ética amorosa ====
 
Uma [[ética]] do amor envolve questões morais que se adequam ao sentimento, bem como as formas que ele pode ou não tomar, abordando questionamentos como: será aceitável, eticamente, amar um objeto, ou a si mesmo? Amar a si mesmo ou a outro é um dever? O amor desleal é moralmente aceitável, ou lícito (ou seja, é errado, mas desculpável)? O amor só pode envolver aqueles com quem a pessoa tenha um relacionamento significativo? O amor deve transcender ao desejo sexual ou à aparência física? - indo além para as questões que envolvem a própria ética do sexo, aquelas que lidam com a adequação da atividade sexual, da reprodução, das atividades hétero e homossexuais, etc.<ref name="iep">{{citar web|URL=http://www.iep.utm.edu/love/|título=Love|autor=Alexander Moseley |data= |publicado=IEP - Internet Encyclopedia of Philosophy |acessodata=9/1/2015}}</ref>
 
====Homossexualidade e o amor ====
[[Imagem:London Gay Pride 2012 Legalise Love.jpg|miniaturadaimagem|Marcha em [[Londres]] (2012) pede legalização do amor homossexual]]
 
Até os estudos feitos por [[Alfred Kinsey|Kinsey]] (1948 e 1953) a literatura médica tratava a [[homossexualidade]] como uma patologia ou desordem psicológica e algo não-natural ou perversão (uma visão que persiste em muitos heterossexuais). A partir de então, os movimentos sociais, como o que introduziu a palavra "''gay''" (''alegre'', em [[língua inglesa]]), vieram paulatinamente a mudar esta classificação excludente na conquista da aceitação social de tais relacionamentos.<ref name="giddens"/>
 
Em estudo realizado na [[década de 1980]] a pesquisadora Sharon Thompson constatou que a diversidade sexual não interferia na busca do romantismo no relacionamento amoroso entre as garotas adolescentes: o sentimento era igual, tanto nas experiências hétero quanto homossexuais.<ref>GIDDENS, Anthony. Op. cit. - THOMPSON, Sheron: ''Search for tomorrow: or feminism and the reconstruction of teen romance'' in: Carole S. Vance, ''Pleasure and Danger. Exploring Female Sexuality'', Londres: Pandora, 1989.</ref>
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==Simbologia e mítica ==
 
A compreensão dos símbolos que cria sempre fascinou o homem, e por meio da sua análise pode-se então responder sobre a origem de sua própria existência, conhecendo os antigos costumes, as crenças religiosas, a medicina alternativa e a comunicação. Neste sentido, o símbolo surge como algo que vem para elucidar, por analogia, aquilo que ainda está desconhecido ou para antever o que ainda não ocorreu - e não como o disfarce de algo que já se conhece.<ref name="fada">{{citar web|URL=http://educonse.com.br/2011/cdroom/eixo%209/PDF/Microsoft%20Word%20-%20O%20ENCANTAMENTO%20DA%20MAca.pdf |título=O Encantamento da Maçã: um olhar sobre o conto de fadas da Branca de Neve |autor=Ane Rose de Jesus Santos Maciel, Giovana Scareli |ano=2011 |publicado=Educonse |acessodata=13/4/2015}}</ref>
 
Os principais símbolos do amor são a maçã, o coração, a flecha e, dentre sua mítica, está a crença de que forças mágicas podem vir a controlá-lo, como se verá a seguir:{{Nota de rodapé|Também são símbolos do amor a rosa, a [[Nelumbo|flor de lótus]], o [[lingam]] indiano, o ponto irradiante.<ref name="amart"/>}}
 
===Maçã ===
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Na [[mitologia grega]] a maçã torna-se o [[pomo da discórdia]]: a deusa [[Éris]] nela inscrevera a dedicatória - "à mais bela" - e lançou no banquete dos deuses entre as deusas. [[Hera]], [[Afrodite]] e [[Atena]] brigaram pela posse do pomo. [[Zeus]] não querendo privilegiar nenhuma deixa a decisão com [[Páris]] no episódio conhecido como [[Julgamento de Páris]] que é um prelúdio para [[Guerra de Troia]]<ref> Kerenyi, Karl. Os heróis dos gregos, VII: "o prelúdio da Guerra de Troia", pp 308ff, 1959. Ir para cima ↑</ref>: Afrodite promete a Páris o amor da mais bela das mulheres, [[Helena (mitologia)|Helena de Esparta]]. Páris escolhe Afrodite como deusa mais bela, ao invés de aceitar o poder prometido por Hera ou a sabedoria prometida por Atena. A moral do conto é que o homem sempre escolhe o amor.<ref> Pausânias, ''Description of Greece'', 5.19.5</ref>
 
Embora haja outros frutos, como a [[uva]] ou o [[figo]], que representem a alegoria do [[pecado original]] citado na Bíblia, foi a [[maçã]] quem, a partir do {{séc|XII}} assumiu o papel principal de representar a transgressão vivida por [[Adão e Eva]], o motivo de sua expulsão do Éden.<ref name="maca">{{citar web|URL=http://www.raco.cat/index.php/Mirabilia/article/viewFile/283726/371655|título=Significados medievais da maçã: fruto proibido, fonte do conhecimento, ilha paradisíaca |autor=Adriana Zierer |mês=dezembro |ano=2001 |publicado=Mirabilia 01, ISSN 1676-5818 |acessodata=13/4/2015 }}</ref>
 
A maçã traz em si os símbolos da fecundidade no amor, da eternidade, da sedução mundana, do pecado, da traição e da culpa.<ref name="fada"/> Por outro lado, tem ainda a simbologia que a liga, como vegetal, à árvore que, no caso do saber espiritual, é representada ao contrário - com as raízes para o céu e o galhos para a Terra, sendo [[Jesus]] o fruto mais belo enviado pelos céus.<ref name="maca"/>
 
Essas representações ambíguas da maçã surgem em quadros - ora simbolizando o pecado original, ora sendo trazido nas mãos da Virgem Maria e do Menino Jesus; a maçã muitas vezes está associada ao coração, tido como a sede do amor.<ref name="maca"/>
 
A ligação da fruta com o amor é universal, sendo ingrediente em muitos [[feitiço de amor|feitiços amorosos]], além de seus [[licor]]es terem função estimulante;<ref>{{citar web|URL=http://bdm.unb.br/bitstream/10483/565/1/2004_SorayaSousaAlbuquerque.pdf|título= A gastronomia e o amor: os alimentos afrodisíacos |autor=Albuquerque, Soraya Sousa de|ano=2004 |publicado=UNB |acessodata=16/5/2016}}</ref> finalmente, é feito com ela o doce chamado [[maçã do amor]], onde a fruta é mergulhada em uma calda açucarada.<ref>{{citar web|URL=http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/e/e5/GT5-6.pdf|título=O Junino se encanta pela doçura da moça no cenário folkcomunicacional |autor=Severino Alves de Lucena Filho et al.|mês=junho |ano=2012 |publicado=Encipecom|acessodata=16/5/2016}}</ref>
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[[Imagem:01259 Valentinstagsdekoration eines Schaufensters in Sanok.jpg|miniaturadaimagem|Coração estilizado, símbolo universalizado do amor.]]
 
Para [[Santo Agostinho]] o [[coração]] é o recipiente do amor divino, e o conhecimento deve ser buscado através do amor. É ele o órgão central do corpo humano, estando assim simbolicamente ligado como o centro do homem, e do mundo.<ref name="maca"/>
 
O desenho estilizado do coração teria surgido na [[Reino da França|França]] para representar um dos naipes do [[baralho]] que, originalmente, simbolizaria uma das classes sociais - ''Choeur'', ou clero, que logo se tornou ''couer'', coração; o símbolo universalizou-se e modernamente representa não o órgão em si, mas o amor.<ref>{{citar web|URL=http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v12n3/21.pdf|título=Símbolo do coração |autor=Paulo R. Prates |mês=set.-dez. |ano=2005|publicado=História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 12, n. 3, p. 1025-31 |acessodata=18/4/2015}}</ref>
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A existência de um elixir capaz de infundir no objeto dos desejos o sentimento amoroso é relatada por [[Horácio]], num dos seus [[Epodos]] (Epodo V), onde se elabora a poção do amor a partir do fígado de uma criança que as bruxas fizeram morrer lentamente.<ref>{{citar web|URL=https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/principia/article/download/8157/5938|título=Epodos e Sátiras - Magia?: o olhar crítico de Horácio e Machado de Assis |autor=Idemburgo Frazão |data= |publicado=UERJ |acessodata=12/04/2015}}</ref>
 
Ressurge com o mito medieval de [[Tristão e Isolda]], onde o casal que dá nome à história se apaixona após beber a poção por engano, engendrando-se ali um caso de adultério: nas primitivas versões da história o elixir teria efeito temporário, ao passo que nas versões da literatura cortês seu efeito seria duradouro, perene.<ref name="gual">{{citar web|url=http://seer.franca.unesp.br/ojs/index.php/historiaecultura/article/view/1115/1077 |título=Do verso à prosa: o potencial histórico dos romances de cavalaria (séculos XII-XIV) |autor=Carolina Gual da Silva; Claudia Regina Bovo e Flávia Amaral |ano=2013 |publicado=Revista História e Cultura, Franca-SP, vol. 2 e 3 (especial), p. 414-441, ISSN 2238-6270 |acessodata=12/4/2015}}</ref> A versão cavalheiresca do mito dá a conotação do conteúdo trágico que envolve o amor-paixão, servindo portanto de alerta contra esse "mal", que contradiz a propaganda da obediência estrita às leis e códigos morais.<ref name="gual"/>
 
A [[ópera]] ''[[L'elisir d'amore]]'', de [[Donizetti]], também traz a poção como plano principal do enredo, que dá título à obra.<ref>{{citar web|URL=http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/08/elixir-do-amor-abre-de-festival-de-opera-em-belem.html|título='Elixir do amor' abre festival de ópera em Belém |autor=Ingo Müller |data=8/8/2013 |publicado=G1 |acessodata=26/5/2016}}</ref>
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[[Imagem:Eros lyre Met 06.1054.jpg|miniaturadaimagem|esquerda|Eros em [[terracota]] (c. {{AC|400|X}})]]
 
O historiador [[Will Durant]] conta que "''o amor romântico existia entre os gregos, mas raramente determinava os casamentos''". Foi assim que [[Homero]] registra que [[Agamenão]] e [[Aquiles]] tomaram para si [[Criseida|Críseis]], [[Briseis]] e [[Cassandra]] movidos por um apelo físico somente. Apesar dos antigos contarem de amores como o de [[Orfeu]] por [[Eurídice]], o amor de que geralmente falam é o apetite sexual.<ref name="wd1">{{Citar livro|autor=[[Will Durant]] |coautor=Trad. por Gulnara Lobato (rev. [[Monteiro Lobato]] |título=História da Civilização|local=São Paulo |editora=Companhia Editora Nacional |editor=Monteiro Lobato |ano=1955 |página=369-393 |capítulo=Cap. XIII - Moral e costumes atenienses |volume=2ª parte, tomo 1º, Livro II: Nossa Herança Clássica - A Vida na Grécia }}</ref>
 
É uma exceção, assim, a história narrada por [[Estesícoro]], onde uma donzela morre de amor; entretanto, [[Teano (filósofa)|Teano]], esposa de [[Pitágoras]], registrou que amor era "''a doença de uma alma saudosa''" - uma definição que em tudo se aproxima à visão romântica.<ref name="wd1"/>
 
Daqueles primórdios a civilização evoluiu para além do mero desejo sobre o objeto amado, fazendo com que sobre ele também pairasse o sentimento da ternura: a poesia passou a ter mais espaço sobre o desejo; [[Sófocles]] declara, assim, que "''o amor faz o que quer dos deuses''" e [[Eurípedes]] proclama em várias passagens o poder de [[Eros]].<ref name="wd1"/>
 
Além dos poetas, dramaturgos falam com frequência de rapazes apaixonados por moças e [[Aristóteles]] diz de "''amantes que olham nos olhos da amada, nos quais o pudor habita''" - mas quase sempre em relações pré-nupciais, não no casamento propriamente: o romantismo era, para os gregos, um tipo de "''possessão maligna''", uma sandice, e ririam de quem usasse tal sentimento como meio de escolha para o casamento.<ref name="wd1"/>
 
Assim, o matrimônio fazia-se antes pelo dote, escolhido por meio de profissionais casamenteiros; uma mulher sem dotes raramente se casava, e a instituição servia tão-somente à perpetuação da família e do estado.<ref name="wd1"/> Tão pouco convidativo era o casamento que após [[Péricles]] o número de homens solteiros tornou-se um problema; em {{AC|415|X}} a lei permitia casamentos duplos, e foi o que fizeram [[Sócrates]] e Eurípedes; as concubinas eram aceitas.<ref name="wd1"/>
 
====O mito de Eros ====
[[Imagem:Paris Bordone (A Pair of Lovers) Daphnis and Chloe 1540s.png|thumb|220px|De um deus cósmico, o mito de [[Eros (mitologia)|Eros]] ([[Cupido]] para os romanos) evoluiu para um menino travesso.<br><small>[[Paris Bordone]], [[National Gallery (Londres)|National Gallery]].</small>]]
 
Ausente na obra de [[Homero]], apenas com [[Hesíodo]] que o deus surge, em meados do {{-séc|VIII}}, com grande destaque em sua obra; [[Eros (mitologia)|Eros]] era objeto de adoração em [[Téspias]], na [[Beócia]], terra natal do poeta - embora somente como elemento de fecundidade para o gado e no casamento. É em Hesíodo, portanto, que seu mito adquire universalidade, traduzido na sua obra ''[[Teogonia]]'': dando encadeamento onde tudo teve uma origem, o poeta explica que no princípio tudo era o [[Caos (mitologia)|Caos]] e em seguida surgiram os [[deuses primordiais]], [[Gaia (mitologia)|Terra]] e a Procriação - "criador de toda a vida".<ref>{{citar web|título=Eros Protogenos|url=http://www.theoi.com/Protogenos/Eros.html|publicado=Theoi|acessodata=24 de maio de 2016}}</ref><ref name="abril">{{citar livro|autor=Victor Civita (editor) |título=Enciclopédia Mitologia (vol. I) |subtítulo=Capítulo II: Divindades Primordiais - Eros. |editora=Abril Cultural |ano=São Paulo, 1973 |página=33-48}}</ref>
 
A partir da Procriação - Eros -, Hesíodo pode finalmente traçar uma [[genealogia]] das [[Mitologia Grega|divindades gregas]] de forma sistemática, e não mais um universo de mitos separados. Eros, a Procriação, é a força de atração que viria a unir imortais e mortais entre si e uns com os outros; este caráter que o poeta lhe dá - de elemento de ligação - perpassa por toda a ''Teogonia'', e como tal surgirá na obra de vários filósofos.<ref name="abril"/>
 
Na evolução do mito somente no período [[Alexandre Magno|alexandrino]] o deus assume a forma de garoto travesso, um moleque que atormenta a vida de mortais e imortais: Eros vira o deus do amor, filho de [[Afrodite]] e [[Ares]], deixando de ter suas dimensões cósmicas e é muitas vezes representado como um menino com asas, cujas flechas promovem as aventuras amorosas dos mortais.<ref name="abril"/>[[Platão]] faz-lhe está descrição e diz que: "''Deita-se sempre por terra e não possui nada para cobrir-se, descansa dormindo ao ar livre sob as estrelas, nos caminhos e junto às portas. Enfim, mostra claramente a natureza da sua mãe, andando sempre acompanhado da pobreza. Ao invés, da parte do pai, Eros está sempre à espreita dos belos de corpo e de alma, com sagazes ardis. É corajoso, audaz e constante. Eros é um caçador temível, astucioso, sempre armando intrigas''".<ref>[[Platão]], ''[[O Banquete]]''</ref>
 
Entretanto, já no {{séc|II}} da era cristã, o poeta [[Roma Antiga|romano]] [[Apuleio]] constrói o mito de [[Psiquê|Eros e Psiquê]] (a "Alma"), pleno de alegorias - nele a alma encontra a felicidade somente no Amor e, perdendo-o, enfrenta qualquer empecilho para reconquistá-lo. Pelos séculos afora a estória inspirou variados artistas, desde [[Giulio Romano]] a [[César Franck]].<ref name="abril"/>
 
====O mito de Afrodite ====
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Afrodite possui duas origens distintas: de acordo com [[Hesíodo]], ela teria nascido das espumas formadas pelos testículos de [[Urano (mitologia)|Urano]] decepados por [[Cronos]], neste caso é chamada [[Afrodite Urânia]] - deusa dos amores etéreos, superiores, elevados; no outro seria ''[[Afrodite Pandêmia]]'', filha de Zeus e [[Dione]] - deusa dos amores femininos, dos desejos incontroláveis, vulgares.<ref name="junito">[[Junito de Souza Brandão]] (1986). ''Mitologia Grega, vol. I''. Vozes [S.l.] p. 408. ISBN 8532604072.</ref> Além de Eros, seria mãe de outros meninos alados do amor: [[Anteros]], [[Himeros]], [[Pothos]] que juntos eram chamados de [[Erotes]] e personificavam faces diferentes do amor.<ref>{{citar web|título=Erotes|url=http://www.theoi.com/Ouranios/Erotes.html|publicado=''Theoi''}}</ref>
 
Na [[Guerra de Troia]], segundo a ''[[Ilíada]]'', Afrodite é consorte de [[Ares]], deus da guerra, ódio e violência, e sob sua influência toma parte nos conflitos;<ref>[[Homero]], ''[[Ilíada]]'', adaptação de Bruno Berlendis de Carvalho, 1º edição, 2007, Berlendis Editores Ltda.</ref> O amor dos dois simbolizava o conceito de "''opostos se atraem''" e a união ideal do homem e mulher grego: Ares representa a virilidade e por isto era perfeito para Afrodite que representava feminilidade.<ref>Barba, Miguel Ángel Elvira. ''Arte y mito: manual de iconografía clásica''. Silex Ediciones, 2008. p.226</ref> Na guerra, ela veio a ser ferida enquanto protegia seu filho mortal [[Eneias]] e por Ares socorrida - o que serviu de zombaria por todo o [[Olimpo]]; Zeus, rindo de sua desventura a aconselhara: "''Não foste feita, minha filha, para os trabalhos da guerra: consagra-te aos doces trabalhos do himeneu''"(Il. V, 428-429)<ref name="junito"/>{{nota de rodapé|"Himeneu", neste caso, refere-se ao casamento, às relações amorosas, e não ao deus com este nome, [[Himeneu]].}}
 
====Filosofia e poesia gregas ====
[[Imagem:Platón Academia de Atenas.png|thumb|esquerda|[[Platão]] foi o filósofo grego que mais se ocupou do amor]]
 
Influenciado por Hesíodo, [[Parmênides de Eleia|Parmênides]] ({{-séc|VI}}), no seu poema ''Sobre a Natureza'', coloca Eros como intermediário capaz de unir elementos conflitantes como Luz e Noite, no fundamento do universo. Também [[Empédocles]], falando da força de atração a que Hesíodo nomeia de ''Amor'', dá-lhe grande importância; o universo é fruto de duas grandes forças que agem sobre os quatro elementos primordiais (água, ar, terra e fogo): de um lado atua a ''Philia'', o Amor, que aproxima os diferentes e, do outro, ''Neikos'', o Ódio, que aproxima os iguais (fogo de fogo, terra de terra, e assim por diante); agindo com isonomia, essas forças deixam o universo em permanente tensão, uma força compensando a outra, de tal forma que o universo apresenta ciclos em que num dado momento ''Philia'' exerce domínio e, reagindo, ''Neikos'' se desenvolve até atingir por sua vez o ápice e provocar a reação da força oposta, e assim sucessivamente. Foi [[Platão]], contudo, o filósofo grego que mais dedicou-se ao Amor, a tal ponto que este se constitui mesmo no centro da construção de seu pensamento. Em ''[[O Banquete]]'', ele apresenta a "''ascese erótica''" como um dos caminhos em que a pessoa possa ascender ao plano das ideias - o mundo verdadeiro do qual o plano material seria uma mera imitação. Ali a figura de Eros conduz a alma a contemplar a beleza partindo da beleza física até atingir a contemplação de todo o belo.<ref name="abril"/>
 
É neste diálogo que Platão apresenta a origem de Eros, em narrativa onde [[Sócrates]] o dá como sendo filho de [[Pênia]] - a Pobreza, e de [[Poro (mitologia)|Poros]] - o Recurso, gerado no dia em que o [[Deuses olímpicos|Olimpo]] comemorava o nascimento da deusa da Beleza - [[Afrodite]], de quem o amor por isto seria eterno companheiro. E, herdando as características da mãe (a penúria) e do pai (a riqueza), terá sempre caráter duplo: a carência permanente e índole andarilha maternas, e a coragem e energia paternas que o tornam caçador esperto em sua busca do Belo e do Bom - e não apenas, será mortal e imortal, ora nascendo, enriquecendo e finalmente minguando e desaparecendo, para depois renascer. Da mãe o Amor não herdou sabedoria, senão a sede pelo conhecimento: Eros ama a Sabedoria.<ref name="abril"/> Também ali Platão coloca [[Aristófanes]], célebre [[Comédia|comediante]], a engendrar a teoria de que na criação todos os seres humanos tinham formas duplicadas (com duas cabeças, quatro braços, etc.) mas, como castigo por haverem desafiado os deuses, foram separados e sofriam à busca de sua outra metade, levando então [[Zeus]] a criar Eros, que permitia aos homens encontrarem sua metade e, assim, amenizarem seu sofrimento.<ref name="amart"/>
 
===Idade Média ===
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[[Imagem:Amantes in Abadia Sto Domingo de Silos.png|miniaturadaimagem|Amantes -<small>Detalhe de pintura no teto do claustro do [[Mosteiro de Santo Domingo de Silos]]</small>]]
 
[[Will Durant]] relata que a Idade Média viveu sob uma ética cristã que pregava ter nascido o homem do pecado (em 1150 Graciano dissera em seu ''Decretum'' - aceito não-oficialmente pela Igreja - que "''Todo ser humano que for concebido pelo coito do homem com a mulher nascerá com o pecado original, ficará sujeito a impiedade e morte e será, portanto, um filho do ódio.''").<ref name="wdhc">{{citar livro|autor=Will Durant |título=História da Civilização (Tomo 4º, 4ª Parte - A Idade da Fé), Livro V - O Clímax do Cristianismo |editora=Companhia Editora Nacional |ano=1955|lugar=São Paulo |páginas=700-1300}}</ref>
 
Durant lembra que neste período os casamentos se davam muito cedo, e por motivos patrimoniais; cita o caso de Graça de Soleby, que casou-se aos quatro anos com um nobre que, falecendo, permitiu-lhe novo casamento aos seis anos e novamente aos onze - uniões estas que poderiam ser anuladas pois a idade núbil era de doze anos para a menina e de catorze para os rapazes.<ref name="wdhc"/>
 
Até a Igreja tornar o casamento um [[Sacramentos católicos|sacramento]], bastavam os votos dos noivos; o adultério era frequente entre nobres que, tendo seduzido uma serva sem o consentimento desta, estaria livre do erro após pagamento de pequena multa; [[Thomas Wright (escritor)|Thomas Wright]] chegou a dizer que "''a sociedade medieval era profundamente imoral e licenciosa.''"<ref name="wdhc"/>
 
A despeito disto tudo, a visão católica da mulher prevalecia, tal como preconizara [[João Crisóstomo|Crisóstomo]]: "''um mal necessário, tentação natural, calamidade desejável, perigo doméstico, fascinação mortal, o próprio mal que se apresenta disfarçado''" e [[Tomás de Aquino]] dava-lhe uma posição inferior à de um escravo: "''A sujeição da mulher está de acordo com a lei da natureza, o que já não se dá com o escravo''" - pois o homem, não a mulher, havia sido feito à imagem e semelhança de Deus.<ref name="wdhc"/>
 
O termo ''amor cortesão'' surgiu com [[Gaston Paris]], no final do {{séc|XIX}}, para designar a forma de amar expressa nas canções dos trovadores do {{séc|XII}} da região de [[Languedoque]], onde teria se originado. Suas regras teriam origem em [[Ovídio]] (no seu ''[[Ars Amatoria]]''), na poesia árabe ibérica e no [[platonismo]], embora guardem realmente caracteres do ambiente palaciano no qual se desenvolveu - e pressupõem uma série de normas que formam uma espécie de código a ser obedecido. Por este código o homem deveria demonstrar seu valor, sua coragem, para merecer da amada uma recompensa, que deveria ser razoável - pois a dama deveria obrigatoriamente a ela aquiescer, sob pena de ser taxada de cruel e desalmada. Havia, contudo, o componente de que o objeto do amor - a mulher amada - deveria ser inatingível, quer por a dama ocupar uma posição social mais elevada, quer por já se encontrar comprometida ou, mais raramente, até mesmo ser casada. Este seria o "verdadeiro amor", em contraste com o "falso amor", onde haveria falsidade nas declarações e na devoção, ciúmes indevidos ou inconstância nos sentimentos.<ref name="zahar">{{citar livro|autor=Henry R. Loyn (org.) |título=Dicionário da Idade Média |editora=Jorge Zahar Editor|local=Rio de Janeiro|ano=1990|isbn=8571101515}}</ref>
 
Da região de origem, no Languedoque, se espalhou ao sul até a [[Península Itálica|Itália]], e ao norte, em [[Reino da França|França]], alcançando também a [[Reino de Portugal|Portugal]] - onde é lapidar a obra ''[[Amadis de Gaula]]'', de Vasco de Lobeira.<ref name="zahar"/> Este era o livro de cabeceira de [[Dom Quixote]], personagem de [[Miguel de Cervantes]] que veio a zombar desse amor ideal, e assim selar o fim da cavalaria e seus códigos morais; apesar disto as narrativas cavalheirescas perduram no tempo.<ref name="quixote">{{citar web|url=http://www.scielo.br/pdf/tem/v16n30/a07v16n30.pdf |título=Explorando um gênero literário: os romances de cavalaria |autor=Marcos Antônio Lopes |mês=julho |ano=2009 |publicado=Scielo |acessodata=1 de março de 2012}}</ref>{{Nota de rodapé|Dentre as obras posteriores que ressuscitaram os valores cavalheirescos estão ''[[Ivanhoé]]'', de [[Walter Scott]] em 1820, e em autores como [[Prosper Mérimée]], [[Victor Hugo]], [[Alfred de Vigny]], etc.<ref name="quixote"/>}}
 
===Amor romântico ===
[[Imagem:Brera Hayez 02.JPG|miniaturadaimagem|esquerda|Detalhe de "O Beijo", do pintor romântico [[Francesco Hayez]]]]
 
Durante o [[romantismo]] o amor passou a ser o fator essencial da própria vida; nenhum outro período histórico teve o amor tão presente na literatura; o amor, suas angústias - "''a paixão sobrepondo a razão, a insatisfação com a vida, o prazer no sofrimento, o arrebatamento da imaginação e o desejo de morte''" sempre foram retratados nas artes - contudo, foram incorporados ao cotidiano dos românticos do {{séc|XIX}}.<ref name="roman">{{citar web|URL=http://web.archive.org/web/20160527060337/https://revistas.ufg.emnuvens.com.br/lep/article/download/32594/17324 |título=Amor, Erotismo e Morte |autor=Maria Imaculada Cavalcante |ano=2005 |publicado=LINGUAGEM – Estudos e Pesquisas, Catalão, vol. 6-7|acessodata=2/1/2013}}</ref>
 
Os românticos constroem um melancólico e nostálgico mundo imaginário, e trazem como principais características um distanciamento da realidade social, experiência da perda e procura pelo que se perdeu; a poesia e o amor se tornam a própria vida.<ref name="roman"/>
 
Em autores como [[Álvares de Azevedo]] esse estado de espírito melancólico leva ao paradoxo de aproximar o amor com a [[morte]], também uma característica dos românticos, patenteados nos dois últimos versos do poema "''Amor''" deste autor brasileiro:<ref name="roman"/><br>"''Quero viver um momento,''<br>''Morrer contigo de amor!''
 
O componente trágico do amor é então revelado: Eros se aproxima de [[Tanatos]], a morte; o amor significa também sofrer; a dualidade se manifesta também na contradição entre a adoração e o prazer carnal; o romântico busca a plenitude dos sentimentos, quer ser possuído pelo amor e, não o conseguindo, experimenta o mais atroz sofrimento.<ref name="roman"/>
 
Para o Ocidente o amor romântico passou a ser o "amor verdadeiro"; deste modo selou de forma definitiva a ruptura com a visão então dominante do cristianismo de que o amor servia à procriação, e manteve em seu legado conquistas como o fato de que todos têm liberdade de escolha de seu parceiro, e ainda o ideal de que para o amor não devem existir barreiras.<ref name="roman"/>
 
Numa análise sociológica, Anthony Giddens pondera que o amor romântico teve dois impactos na situação feminina: serviu para colocar a mulher "no seu lugar" - o lar. Segundo o autor, por outro lado, o romantismo também estabeleceu um compromisso ao machismo da sociedade moderna, estabelecendo um vínculo emocional duradouro.<ref name="giddens"/>
 
===Compreensão moderna do amor ===
[[Imagem:Ernst Ludwig Kirchner - Großes Liebespaar (Ehepaar Hembus)1930.jpg|miniaturadaimagem|Grandes Amantes, pintura de [[Ernst Ludwig Kirchner]]]]
 
O {{séc|XX}} assistiu a uma preocupação teórica da compreensão do amor, sob as mais variadas óticas; [[Denis de Rougemont]], ecologista suíço, publica em 1938 seu ''O Amor e o Ocidente'', ganhando diversas traduções, análises, críticas,<ref name="denis">{{Citar livro|autor=Denis de Rougemont |coautor= |título=O Amor e o Ocidente|idioma=português |editora=Guanabara |ano=1953}}</ref> despertando polêmica.<ref>{{citar web|url=http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/Raido/article/viewFile/979/811 |título=O Amor Cortês - suas origens e significados |autor=José D’Assunção Barros |mês=jan./jun. |ano=2011|publicado=Raído, Dourados, MS, v. 5, n. 9, p. 195-216|acessodata=1 de janeiro de 2012}}</ref>
 
A conselheira sentimental [[Betty Milan]] diz que sem o amor não existiria a vida, mas que o assunto nunca é tratado entre os homens, que falam apenas do sexo, ao passo em que o tema é comum entre mulheres - e isto porque elas são "marginalizadas", sendo então o amor é neutralizado na modernidade, em detrimento do prazer sexual; para esta autora, amor é uma paixão.<ref>{{citar livro|url=http://books.google.com.br/books?id=7g82-wHylZwC&printsec=frontcover&dq=amor&hl=pt-BR&sa=X&ei=_MalT9K8MYiO8wTHoPGaAw&ved=0CDwQ6AEwAA#v=onepage&q=amor&f=false|acessodata=2 de maio de 2012 |autor=Betty Milan |título=E o que é o amor?|editora=Record|ano=1999|página=16 |páginas=110 |isbn=8501055727}}</ref>
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[[Imagem:Crystal Project Amor.png|100px|miniaturadaimagem|[[Emoticon]] para o amor]]
 
O mundo atual é fruto de rápidas transformações ocorridas após o final da [[II Guerra Mundial]], que assistiu ao processo de emancipação feminina e seu controle da concepção, tudo isto levando a um estado individual de permanente crise derivada da insegurança diante das novas realidades que rapidamente surgem.<ref name="alceu">{{citar web|URL=http://revistaalceu.com.puc-rio.br/media/alceu_n4_babo.pdf|título=Folheando o amor contemporâneo nas revistas femininas e masculinas|autor=Thays Babo e Bernardo Jablonski |mês= jan./jun. |ano=2002 |publicado=ALCEU - v.2 - n.4 - p. 36 a 53|acessodata=18/5/2016}}</ref>
 
Neste contexto, as informações veiculadas pela mídia referem-se muito mais aos casos de violência e sexo do que propriamente ao relacionamento amoroso; por outro lado na propaganda o amor romântico é usado como plano de fundo para se vender de tudo, desde dentifrícios a seguros de vida.<ref name="alceu"/>
 
Para [[Zygmunt Bauman]] vive-se uma era de "amor líquido". Pela internet os relacionamentos virtuais ganharam maior fluidez em comparação aos laços reais (pesados, lentos e confusos), onde sempre há a alternativa de "deletar" uma relação com o simples apertar de uma tecla; isto torna os compromissos irrelevantes, as relações não se fundamentam sobre a honestidade e é pouco provável que se sustentem; assim, se por um lado romper os laços é algo fácil, por outro não reduzem os riscos - apenas os distribuem de modo diferente.<ref>{{citar livro|autor=Zygmunt Bauman|título=Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos|editora=Zahar|ano=2004|página=12, 13|isbn=8571107955|url=https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=BQy7oEp88HoC&oi=fnd&pg=PA4&dq=amor-pr%C3%B3prio&ots=KI-M544FAa&sig=s30ALkPC4q9XLMfqmjj0IHOHCnA&redir_esc=y#v=onepage&q=amor-pr%C3%B3prio&f=false}}</ref>
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[[Imagem:A temple in India, Madana-Mohana Temple, Bishnupur.jpg|miniaturadaimagem|Templo indiano dedicado a {{ilc|Madana Moana||Madana-Moana|Madana Mohana|Madana-Mohana}}]]
 
O [[hinduísmo]] moderno estabeleceu um culto centrado nas variadas manifestações de [[Críxena]], especialmente em três delas que se tornaram as mais adoradas na [[Índia]] e [[Bangladesh]]: {{ilc|Rada Madana Moana||Radha Madana Mohana}}; {{ilc|Rada Govinda Deva||Radha Govinda Deva}} e {{ilc|Rada Gopinataji||Radha Gopinathaji}} - sendo destes {{ilc|Madana Moana||Madana Mohana}} a divindade que "encanta todos os Cupidos", ou seja, o próprio deus do amor.<ref name="krish">{{citar web|URL=http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/historiaemreflexao/article/view/212/188 |título=A ÍNDIA MUITO ALÉM DO INCENSO: um olhar sobre as origens, preceitos e práticas do vaishnavismo |autor=Arilson Silva de Oliveira|mês=Jan-jun |ano=2009 |publicado=História em Reflexão (periódico da UFGD), vol. 3, nº 5 |acessodata=2/3/2015}}</ref>
 
Segundo os seguidores do filósofo [[Chaitanya Mahaprabhu|Caitanya]] ({{séc|XVI}}), Críxena é uma manifestação de [[Vishnu]] que demonstra que um deus pode ser visto e adorado como um amante - sendo esta relação com o deus a maior expressão que pode alcançar um devoto de sua vertente do hinduísmo.<ref name="krish"/>
 
Na antiga tradição hindu, expressa em [[veda]]s como o [[Bhagavad-gita]], o homem deve procurar unir-se à divindade, por caminhos que passam por cada vez mais se libertar das coisas materiais e descobrir as espirituais - dentre elas a prática da caridade; em suma, muitas outras obras propõem os sentimentos passionais, como o impulso sexual, sejam sublimados em sentimentos devocionais.<ref name="krish"/>
 
Para essa religião o amor materno é a forma mais sublime e pura do amor, uma vez que a mãe doa ao seu filho sem dele esperar nada em troca; isto torna esta manifestação deste sentimento superior a todas as demais.<ref>{{citar web|URL=http://www.vedantacuritiba.org.br/site/txt/sintese_hinduismo.pdf|título=Síntese do Hinduísmo |autor=Institucional |data= |publicado=Vendanta Curitiba |acessodata=15/12/2014}}</ref>
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{{AP|Perspectiva judaica sobre o amor}}
[[Imagem:Ahava.jpg|thumb|200px|Escultura da palavra ''Ahavá'', no [[Museu de Israel]].]]
O amor tem sua obrigatoriedade definida no [[Levítico]], 19:18 - ''"Tu não deves tomar vingança, nem conservar ira aos filhos de teu povo - mas deves amar ao seu vizinho (como alguém) a si próprio. Eu sou YHWH!''" - [[Maimônides]] diz ser este um [[mitzvá]]{{nota de rodapé|Um dos [[613 mandamentos]] da lei judaica.}} pois, como está escrito, "''amar seu próximo (como alguém) a si mesmo''" impõe a necessidade de cantar seus louvores, e mostrar preocupação com seu bem-estar financeiro, como faria para o seu próprio bem-estar e como faria para sua própria honra - e qualquer um que se aproveita do seu próximo para se elevar não tem participação na vida futura; em contraposição, [[Nachmânides]] pondera que, embora seja um mitzvá, a condição de amar ao próximo como a si mesmo é demais para qualquer ser humano, e já o [[rabino]] [[Akiva]] ensinava que "sua vida vem antes da vida de seu amigo"; ele remete ao preceito de amar ao estrangeiro como a si mesmo, também previsto no Levítico (19:33-34), relativizando o ensinamento, para desejar ao próximo todo o bem, sucesso e sabedoria.<ref name="tora">{{citar web|URL=http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Judaism/loving1.html |título=Be Loving to Your Neighbor as You Would Yourself |autor=Rabbi Avi Weinstein |data= |publicado=Jewish Virtual Library |acessodata=29/12/2013}} - {{en}}</ref>
 
No [[Shabat]] 31-A do [[Talmude Babilônico]] é narrada uma história onde um gentio procura [[Hilel, o Ancião|Hilel]], e lança-lhe o seguinte desafio: resumir toda a [[Torá]] durante o tempo em que conseguisse ficar em pé sobre um só pé; o sábio o repeliu, mas em seguida respondeu-lhe: "O que for odioso para ti, não faça ao teu próximo, esta é toda a Torá; o resto é comentário. Vá e estude-a!"<ref name="tora"/><ref>{{citar web|URL=http://www.come-and-hear.com/shabbath/shabbath_31.html |título=Shabbat 31 (Tradução de Rabbi Dr. H. Freedman |data=|publicado=Babylonian Talmud |acessodata=29/12/2013}} - {{en}}</ref>
 
Para a [[guemátria]] o amor é essencial; a palavra ''ahavá'' (amor em [[língua hebraica|hebraico]]) tem valor numérico 13, que equivale à metade do valor atribuído ao nome divino (26), de onde o rabino Haim Vital concluiu que a combinação do amor de duas pessoas (13 + 13) aumenta a presença divina entre elas - sejam elas cônjuges, amigos, pais, etc.<ref>{{citar web|url=http://web.archive.org/web/20091013165029/http://www.visaojudaica.com.br/Agosto2005/artigos/17.htm |título=Que mês!! |autor=Jane Bichmacher de Glasman |data=|publicado=Visão Judaica |acessodata=9 de maio de 2012}}</ref>
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===Cristianismo ===
O amor ocupa o centro do pensamento de [[Santo Agostinho]], um dos [[Pais da Igreja]]; tal como em sua própria vida, ele divide o amor em dois: o amor sensual, "''cupiditas''", e o amor transcendental, que evolui do primeiro, que é mundano, para o segundo, pleno e divino; o amor, ainda segundo o padre de Hipona, para se manifestar no ser humano é preciso que este possua paixão, desejo e carência.<ref name="frei">{{citar web|url=http://web.archive.org/web/20150419105018/http://www.3pinformatica.com.br/redemptor/fotos/fotos/admin/imagens/revistas/pdf/amorhumanoemsantoagostinho.pdf |título=O amor em Santo Agostinho, antes de sua conversão|autor=Fr. Rogério Gomes|acessodata=9 de maio de 2012}}</ref>
 
Na obra agostiniana vê-se clara influência dos textos [[Paulo de Tarso|paulinos]], especialmente da sua [[Primeira Epístola aos Coríntios]]; ali, vê-se o amor (caridade) como a base mesma do ser: "''Se não tiver amor, eu nada serei''".<ref name="frei"/>
 
====Protestantismo ====
As [[Calvinismo|ideias de Calvino]], segundo [[Max Weber]], romperam com visões tradicionais da Igreja ao colocar valores como o amor acima da terrível justiça divina; segundo [[Colin Campbell]] “''Essa revolução na crença preparou o caminho para uma revolução ainda maior, representada pelo Romantismo, que rejeitou ao mesmo tempo as doutrinas literal e histórica do Cristianismo, enquanto reteve uma crença tanto na bondade da humanidade como na espiritualidade que ligava a natureza do homem ao mundo natural''”.<ref>{{citar web|URL=http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v14n3/08.pdf|título=A orientalização do Ocidente como superfície de emergência de novos paradigmas em saúde |autor=NOGUEIRA, Maria Inês; CAMARGO JR., Kenneth Rochel de |mês=jul/set |ano=2007 |publicado=História, Ciências, Saúde - v. 13, n. 3, p. 841-861 (in www.scielo.br)|acessodata=15/2/2014}}</ref>
 
====Espiritismo ====
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====Testemunhas de Jeová ====
Para as [[Testemunhas de Jeová]] existe falta de amor no mundo; embora considerem o amor ao próximo algo essencial, ponderam que isto não se restringe a ser bondoso, e mais importante é o amor a Deus, manifesto na obediência aos seus mandamentos: o que se demonstra pelo estudo e aplicação da "Palavra de Deus" e pela reunião junto aos demais, em adoração.<ref name="tower">{{citar livro|autor=Watchtower Bible and Tract Society |título=Raciocínios à Base das Escrituras (edição brasileira)|ano=1989 |páginas=445}} págs. 9, 311, 313 e 422.</ref>
 
Através da reunião dos fiéis este amor transpõe todas as barreiras - sociais, raciais e nacionais - de modo tão forte que distingue as pessoas como realmente diferentes das demais: uma das razões pelas quais deve o cristão se recusar a pegar em armas, nas guerras.<ref name="tower"/>
 
O mundo apresenta desregramentos e crimes diversos, propagados através de "falsos profetas" - que falam de suas próprias ideias em detrimento da "Palavra de Deus", resultando no aumento do número de [[divórcio]]s, do sexo extra-matrimônio, aceitação da [[homossexualidade]]; seguir tais filosofias aumenta a falta de amor no mundo.<ref name="tower"/>
 
===Islamismo e crenças árabes ===
[[Imagem:Muslim Wedding.JPG|miniaturadaimagem|Na cultura islâmica o amor não é motivo para o casamento, ele vem depois]]
 
Para o [[Islã]] o amor está ligado ao ódio: não se pode amar a Deus (Alá) ou aos outros, sem com isto não odiar o mal. O amor humano distingue-se do amor divino, e este deve estar inerente à fé do indivíduo - está de tal forma impregnado na doutrina islâmica que constitui elemento essencial para a sua visão do mundo, nos aspectos teológicos, místicos e éticos.<ref name="islam">{{citar web|URL=http://www.al-islam.org/perspectives-concept-love-islam-mahnaz-heydarpoor/human-love |título=Human Love (in:Perspectives on the Concept of Love in Islam) |autor=Mahnaz Heydarpoor |mês=Fevereiro |ano=2001 |publicado=Al-islam.org (Ansariyan Publications - Qum)|acessodata=27/12/2013}} {{en}}</ref>
 
Esta peculiar visão do amor prega que "''a fé nada mais é do que o amor pelo amor de Deus, e ódio pelo amor de Deus''" e que "''foi por amor que Deus criou o mundo''".<ref>{{citar web|URL=http://www.al-islam.org/perspectives-concept-love-islam-mahnaz-heydarpoor/introduction-author |título=Introdution (in:Perspectives on the Concept of Love in Islam) |autor=Mahnaz Heydarpoor |mês=Fevereiro |ano=2001 |publicado=Al-islam.org (Ansariyan Publications -Qum)|acessodata=27/12/2013}} {{en}}</ref>
 
A compreensão da caridade, ou amor ao próximo necessitado, aproxima o [[Alcorão]] do [[Novo Testamento]]; nas escrituras do Profeta se lê (76: 8 e 9) que "''E eles dão comida ao pobre, ao órfão e ao cativo por amor a Ele. [Eles dizem:] Só os alimentamos pelo amor de Deus. Não desejamos de você nem recompensa, nem gratidão''", enquanto em [[Evangelho de Mateus|Mateus]] (25: 31-46) se lê que, no dia do Juízo, Deus perguntará a cada um o que fizeram por Ele, e esclarece que estava em cada um que teve sede, e não deram água; estava doente, e não foram visitá-lo.<ref name="islam"/>
 
O Corão faz mais de oitenta menções ao amor ou seus sinônimos (carinho e afeto){{nota de rodapé|O idioma árabe possui termos que especificam as várias graduações do amor: "''Al Hobb'' (o amor) , "''Al Mawadda''" (o afeto), "''Al ‘ishq''" – que significa uma paixão muito forte- "''Al Hayâm''" – que é um amor que chega à loucura, "As·sabâba" – que é a ternura da paixão, "Ash·shawq" – que é uma inclinação por alguém determinado ou por algo concreto, movido pelo amor - , "''Al-Hawâ''" – que é um amor que domina o coração, "''Ash·shahwa''" – que é o amor mesclado com o desejo, "''Al Waÿd''" – que é o amor muito forte, "''Al-Gharâm''" – que é um amor que domina a pessoa, e a paixão que tortura, "''At-tîm''" é chegar à loucura de tanto amor, diz-se quando alguém se encontra completamente dominado pelo amor."<ref name="islamist"/>}}; Dentre os diferentes tipos de amor, há aquele que busca a satisfação dos desejos, que é temporal e carente de valor positivo; há, em contrapartida, o amor que tende à satisfação do espírito e sentimental, tal como o pregado pelo [[sufismo]], e que cabe a um número reduzido de pessoas alcançar; finalmente há o amor ou afeto que tem papel familiar e humano, em que um dos aspectos é a obtenção da felicidade comum entre os indivíduos, as famílias e os grupos, bem como atingir a paz social - sendo portanto um tipo de amor permitido pela religião, pela moral e pelos costumes. Segundo o Imã Shamsuddin Ibnul Qayyem, "''Existem vários tipos de amor. O maior e o mais virtuoso deles é o amor em Alá e para Alá. Isto requer amar o que Alá ama, e amar a Alá e ao Seu Mensageiro.''"<ref name="islamist">{{citar web|URL=http://www.webislam.com/articulos/38943-el_amor_y_la_belleza_en_el_islam.html|título=El amor y la belleza en el Islam |autor=Mahmud Nacua |data=29/5/2010 |publicado=Webislam |acessodata=4/1/2015}} {{es}}</ref> Finalmente, para o Islã o amor precisa ser iluminado: a razão precisa estar no domínio pois, se o amor torna a pessoa negligente e parcial sobre o objeto amado, o amante fica "cego e surdo". Por isso que o amor sagrado precisa ser inteligente e perspicaz, o que só a razão permite ocorrer.<ref name="islam"/>
 
Ao contrário da cultura ocidental e cristã, o sexo dentro do relacionamento não é visto como algo pecaminoso - mas sim fruto de uma mais alta manifestação de alegria dos céus; os jogos sexuais (''mula‘aba'') no casamento são estimulados na obra de [[Maomé]], e o estudioso Abdelwahab Bouhdiba afirma que “''o amor muçulmano é um amor sem pecado, um amor sem culpa''”.<ref>{{citar web|URL=http://www.abhr.org.br/plura/ojs/index.php/anais/article/view/241|título=Sexualidade no Islã: estudo do livro O Jardim das Delícias de xeique Nefzaui |autor=Cesar Henrique de Queiroz Porto, Matheus Oliva da Costa|ano=2011 |publicado=Anais dos Simpósios da ABHR, Vol. 12 |acessodata=18/6/2016}}</ref> A despeito disto, um [[hádice]] atribuído ao Profeta diz que quando um homem e uma mulher se sentam juntos, Satã é o terceiro com eles - com isto o namoro ocidental como etapa de conhecimento mútuo é algo proibido, devendo ser supervisionado - e o amor romântico não é visto como algo inicialmente necessário para o casamento.<ref name="truzzi">{{citar web|URL=http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0011-52582008000100002&script=sci_arttext|título=Sociabilidades e valores: um olhar sobre a família árabe muçulmana em São Paulo |autor=Oswaldo Truzzi|ano=2008 |publicado=Dados, vol.51, no.1, Rio de Janeiro, ISSN 1678-4588 |acessodata=18/6/2016}}</ref> Desta forma, num casamento, espera-se que o amor venha depois, com o conhecimento entre o casal.<ref name="truzzi"/>
 
===Outras definições religiosas ===
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[[Imagem:2008 agboro e yagba 072.JPG|miniaturadaimagem|Duas alegorias de [[Oxum]], no [[Candomblé]]]]
 
Para as religiões de matriz [[África|africana]] no Brasil ([[Umbanda]], [[Candomblé]] e outras [[sincretismo|sincréticas]]), o amor é um dom que fora dado a [[Oxum]] pela divindade criadora de tudo, [[Olodumare]].<ref name="pelotas">{{citar web|URL=http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf8/ST7/002%20-%20Carla%20Silva%20de%20Avila.pdf|título="Com licença meu senhor eu vou saudar Iemanjá": a interface entre cultura, religião e política nas festividades de Iemanjá, Pelotas-RS |autor=Carla Silva de Avila |mês=janeiro |ano=2011|publicado=Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá (PR) v. III, n.9, ISSN 1983-2859 (Pág. 9) |acessodata=26/5/2016}}</ref>
 
No Candomblé cada manifestação da natureza torna-se uma área sob domínio de uma figura dos [[Orixá]]s, divindades que representam energia mas que, no imaginário social, assume formas humanas e seus gêneros masculino e feminino - de tal forma que Oxum será a deusa das águas doces, dona do amor e da fertilidade, personificada numa mulher de fartos seios, corpo escultural e dócil de caráter.<ref name="cand">{{citar web|URL=http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf8/ST7/003%20-%20Mary%20Anne%20Vieira%20Silva_%20Herta%20Camila%20Cordeiro%20Morato.pdf |título=Depois do trabalho a festa: o xirê como expressão de socialização no Candomblé |autor=Mary Anne Vieira Silva, Herta Camila Cordeiro Morato|mês=janeiro |ano=2011 |publicado=Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá (PR) v. III, n.9, ISSN 1983-2859|acessodata=18/3/2015}}</ref>
 
Para a construção sincrética do culto a Oxum ela é geralmente reverenciada como [[Nossa Senhora da Candelária]]; a sua comida típica é o [[ipetê]], servido em [[Ipeté de Oxum|ritual próprio]] do candomblé.<ref name="cand"/>
 
O hino da Umbanda canta que "''É o reino de oxalá / Onde há paz e amor (...) Umbanda é paz, é amor / É um mundo cheio de luz''".<ref name="pelotas"/>
 
==Filosofia ==
A discussão [[Filosofia|filosófica]] sobre o tema tem início no questionamento da "natureza do amor", levando-se em conta que o sentimento possua mesmo uma natureza (algo que sofre críticas, ao argumento de que o amor é algo irracional - como tal considerado por não poder receber descrições racionais ou de significado). Quando o termo não possui sinônimos no idioma, isto se resolve recorrendo-se aos termos [[língua grega|gregos]] [[eros]], [[philia]] e [[ágape]].<ref name="iep"/>
 
===Eros ===
É comum referir-se a ''eros'' (do grego ''erasthai'') como um amor apaixonado e muitas vezes como sinônimo do desejo sexual (do grego ''erotikos''). Mas em [[Platão]] este é o sentimento que procura o belo (Fedro, 249 E) que é algo que nunca será satisfeito até desaparecer - embora todos devamos almejar uma imagem além daquela que temos, contemplando a beleza em si. Eros, assim, se relaciona com a busca da beleza ideal, da verdade; muitos são os que seguem a ideia platônica de que o amor erótico transcende ao desejo físico que, sendo comum aos animais, é inferior do que algo conduzido pela razão.<ref name="iep"/>
 
=== Philia ===
Enquanto ''eros'' abarca desejo, a ''philia'' denota não somente amizade, mas a lealdade à família, à comunidade, ao trabalho, etc. [[Aristóteles]] (in: [[Ética a Nicômaco]], Livro VIII) explica que é a ação que o agente pratica visando o bem de outro, ao invés de a si próprio; o filósofo exemplifica (in: Retórica, II 4) que "as coisas que fazem a amizade ser o que é: fazer gentilezas, fazê-las sem ser convidado, e não proclamar o fato de tê-las feito".{{nota de rodapé|Trecho em livre tradução do original citado, em inglês.}}<ref name="iep"/>
 
Aristóteles relaciona coisas que a amizade não comporta, como as brigas, fofocas, personalidade agressiva ou injusta, etc. Assim,a pessoa que melhor será capaz de produzir uma amizade, e portanto o amor, é aquela de caráter bom e digno; o homem racional é o mais feliz e, portanto, é capaz de produzir a melhor forma de amizade que, contudo, é muito rara pois supõe uma amizade entre duas pessoas boas, "iguais em virtude". O pensamento aristotélico reflete as amizades baseadas no prazer ou em algum negócio - ao cabo dos quais a amizade se dissolve, sendo portanto de uma menor qualidade; a forma mais elevada de amor, para este pensador, principia no amor a si mesmo pois, sem uma base egoísta, a pessoa não será capaz de estender simpatia e carinho aos demais. Não é algo voltado ao auto-prazer ou imediatista, mas sim fruto da busca pelo nobre e virtuoso; ele vai além, dizendo que um homem virtuoso merece ser amado pelos que lhe estão abaixo, mas não está obrigado a devolver um amor igual - criando assim um conceito elitista ou perfeccionista; a despeito disto, mister haja uma reciprocidade na amizade e no amor, não necessariamente igual (a exceção seria o amor dos pais, que podem envolver um carinho unilateral).<ref name="iep"/>
 
===Ágape ===
Ágape define o amor de Deus para com os homens, e dos homens para com Deus - sendo extensivo também para o amor fraternal a toda a humanidade; envolve elementos de eros e da philia, na medida em que procura por uma perfeição, uma paixão sem reciprocidade. Este conceito foi ampliado na percepção religiosa judaico-cristã, tal como está prescrito em [[Deuteronômio]] (6:5): "Amarás o Senhor teu Deus com todo o coração, e de toda a tua alma e com todas as tuas forças".<ref name="iep"/>
 
[[Agostinho de Hipona]] é um elo entre as ideias platônicas de eros e o ágape, pois como nele tal amor envolve paixão, admiração e desejos, que estão além dos cuidados e obstáculos terrenos. [[Tomás de Aquino]], por sua vez, prende-se a tradição aristotélica da amizade, definindo Deus como o ser mais racional e, por conseguinte, o mais merecedor de amor, respeito e consideração.<ref name="iep"/>
 
Embora o amor universalista de ágape confronte o parcialismo de Aristóteles, Aquino coloca que há sim parcialismo quando devemos ser tolerantes com tudo; [[Kierkegaard]], porém, não admite parcialidade no conceito de ágape. O próprio filósofo grego, em sua concepção, disse que "''Não se pode ser um amigo de muitas pessoas, no sentido de ter amizade do tipo perfeito com eles, assim como não se pode ser no amor com muitas pessoas ao mesmo tempo (porque o amor é uma espécie de excesso de sentimento, e é da natureza disto que apenas pode ser sentida em direção a uma pessoa) ."<ref name="iep"/>
 
===Natureza do amor ===
Além dos conceitos acima, a filosofia se ocupa de várias noções acerca da natureza do amor; assim, uma visão [[epistemologia|epistemológica]] do amor envolve a filosofia da linguagem e teorias das emoções: se for meramente uma condição emocional está no âmbito da inacessibilidade por outra pessoa, a não ser pela expressão em palavras; já os emotivistas ponderam que quando alguém afirma estar amando o enunciado independe de outras declarações: é um enunciado não proposicional, sua verdade está além de qualquer exame.<ref name="iep"/>
 
Se o amor não possui uma "natureza" que possa ser identificável, podemos contudo questionar se temos a capacidade intelectual para compreendê-lo: o amor pode ser parcialmente descrito, ou insinuado, numa exposição [[dialética]] ou analítica, mas nunca compreendido em si mesmo. Neste sentido o amor está na categoria de conceitos transcendentais, aos quais os mortais mal podem conceber em sua pureza, como dizia Platão; deste filósofo derivam ainda outros pensamentos, como aqueles que defendem o ponto de vista em que o amor pode ser compreendido por algumas pessoas, mas não por outras; novamente se hierarquiza o amor - enquanto uns, iniciados, artistas, filósofos, o compreendem na sua pureza, outros possuem apenas a percepção do amor de desejo físico.<ref name="iep"/>
 
===Definições dos filósofos modernos ===
Em [[Spinoza]] tem-se que o amor era o elemento que conduz ao mais elevado grau de conhecimento ou seja, para este filósofo do {{séc|XVII}}, o amor leva o intelecto a Deus: segundo ele há três formas de saber - opinião, fé e conhecimento puro. Apenas neste último se percebe Deus - o conhecimento sobre o todo produz o amor verdadeiro, e este amor inevitavelmente leva a Deus.<ref>{{Citar periódico |autor=Maria Tereza Mendes de Castro |mês= julho |ano=2007|titulo=O Conceito de Conhecimento a Partir do Pensamento de Benedictus de Spinoza |jornal=Revista Conatus (Filosofia de Spinoza) |volume=vol. 1|numero=nº 1|notas= 67 e seg.}}</ref> O amor, ainda, é uma força que determina o estado de felicidade ou de tristeza: "''a felicidade ou infelicidade consiste somente numa coisa, a saber, na qualidade do objeto ao qual aderimos pelo amor.<ref>Maria Tereza Mendes de Castro, op. cit., pág. 113</ref>
 
Para [[Nietzsche]] amor e altruísmo são expressões de fraqueza e autonegação e, portanto, são sinais de degeneração; em seu pensamento a busca pelo amor é típica de escravos que, não podendo lutar por aquilo que querem, tentam consegui-lo por meio do amor.<ref name="ssh">{{citar web|URL=http://www.social-sciences-and-humanities.com/PDF/selfishness_and_selflove.pdf |título=Selfishness and Self-Love |autor=Erich Fromm |ano=1939 |publicado=Psychiatry. Journal for the Study of Interpersonal Process, Washington (The William Alanson Psychiatric Foundation), Vol. 2|acessodata=6/1/2013}}</ref>
 
==Ideologias políticas ==
O pensamento político trata o amor a partir de uma gama variada de perspectivas. Assim é que alguns veem o amor como forma de dominação social (onde um grupo - os homens - domina o outro - as mulheres); esta é uma concepção que se revela atraente para as [[feminismo|feministas]] e os marxistas, que veem as relações sociais (e todas as suas variadas manifestações de cultura, língua, política, instituições) como a refletir estruturas sociais mais profundas que dividem as pessoas (em classes, sexos e raças).<ref name="iep"/>
 
A seguir um exemplo do que expressaram sobre o amor algumas das grandes correntes ideológicas:
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===Nazismo ===
No [[nazismo]], uma ideologia e estado nascidos da mente de um único homem - [[Adolf Hitler]] - sua ideologia parece toda ela impregnada de seu próprio [[complexo de Édipo]]; ali a [[Alemanha]] assume a figura da mãe, ao passo que o povo judeu assume da figura do pai sádico - imagem esta que se patenteia na leitura de seu livro ''[[Mein Kampf]]'', e também em declarações e escritos de outros líderes.<ref name="nazi">{{citar web|URL=http://web.archive.org/web/20081119160844/http://www.psych-culture.com/docs/rk_nazi.html |título=Culture and Unconscious Phantasy: Observations on Nazi Germany. |autor=Richard Koenigsberg |ano=1968-1969 |publicado= Psychoanalytic Review , 55:681-696 |acessodata=8/1/2014 | arquivourl=https://web.archive.org/web/20081119160844/http://www.psych-culture.com/docs/rk_nazi.html | arquivodata=19/11/2008}}</ref>
 
Em sua obra, corroborando esta visão edipiana, Hitler clama por um "amor incondicional à mãe Alemanha"; isto significava, então, usar de todos os meios para protegê-la de ameaças, seja por um lado conquistando aliados para a sua causa, seja de outro imputando inimigos a serem combatidos; neste sentido, a construção individual da anomalia psicológica de Hitler moldou o estado alemão, numa ótica quase infantil que se aproxima do [[amor cortês]], onde "''o caráter é mais importante que o nascimento''".<ref name="nazi"/>
 
Isto se reflete ainda na visão [[determinismo|determinista]] de Hitler, e ainda a abolir os sentimentos internos de remorso pois "''a consciência é uma invenção do judeu''".<ref name="nazi"/> Esta ideia sobre o amor, consciência e remorso se encaixam na percepção de Nietzsche de que a sociedade deve ter uma "''fundação e andaimes por meio dos quais uma classe seleta de seres pode ser capaz de erguer-se às suas mais elevadas funções e, em geral, à sua mais elevada existência''."<ref name="ssh"/>
 
O indivíduo deve anular-se e sentir-se parte de um todo, ao qual deve servir: a raça, o estado, e o líder que o representa; ao suprimir sua individualidade e amor-próprio, o indivíduo está pronto para matar e morrer em nome daquilo que o representa e ama: o ''Führer''.<ref name="ssh"/>
 
===Comunismo, socialismo e marxismo ===
[[Ficheiro:Trailer-Doctor Zhivago-Yuri Zhivago and Lara.JPG|miniaturadaimagem|Cena de [[Doutor Jivago|Dr. Jivago]], romance que se passa na [[Revolução Russa de 1917|Revolução Russa]], censurado pelos soviéticos por ser "individualista".]]
Para analisar o casamento, [[Friedrich Engels]] recorre às sociedades por ele ditas "primitivas", servindo-se especialmente das ideias de [[Lewis Henry Morgan|Lewis Morgan]]. Sua premissa, portanto, parte da descrição do que Morgan denominou "''casamento sindiásmico''", de fácil dissolução; vendo o comunismo como modo originário da vida nos estágios iniciais da evolução humana, Engels propõe que o casamento por interesse foi uma invenção dos gregos, e contrário às formas comunistas verificadas originalmente; a monogamia foi um progresso moral que a sociedade experimentou, naquilo que chamou de "''o amor sexual individual moderno, anteriormente desconhecido no mundo.''"<ref name="feI">{{citar web|URL=https://www.marxists.org/portugues/marx/1884/origem/cap02.htm |título=A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado |autor=Engels (tradução: [[Leandro Konder]])|mês=junho |ano=1884 |publicado=Editorial Vitória Ltda., Rio de Janeiro, 1964.|acessodata=9/2/2014}}</ref>
 
Engels ressalva: "''Mas se a monogamia foi, de todas as formas de família conhecidas, a única em que se pôde desenvolver o amor sexual moderno, isso não quer dizer, de modo algum, que ele se tenha desenvolvido de maneira exclusiva, ou ainda preponderante, sob forma de amor mútuo dos cônjuges. A própria natureza da monogamia, solidamente baseada na supremacia do homem, exclui tal possibilidade. Em todas as classes históricas ativas, isto é, em todas as classes dominantes, o matrimônio continuou sendo o que tinha sido desde o matrimônio sindiásmico, coisa de conveniência, arranjada pelos pais. A primeira forma do amor sexual aparecida na história, o amor sexual como paixão, e por certo como paixão possível para qualquer homem (pelo menos das classes dominantes), como paixão que é a forma superior da atração sexual (o que constitui precisamente seu caráter específico), essa primeira forma, o amor cavalheiresco da Idade Média, não foi, de modo algum, amor conjugal. Longe disso, na sua forma clássica, entre os provençais, voga a todo pano para o adultério...''"<ref name="feI"/>
 
Para ele o casamento monogâmico na burguesia de sua época tinha duas variantes: na católica, que não admitia o divórcio, o casamento era arranjado; no protestante, dentro de sua hipocrisia, o amor era até admitido como motivo para o casamento, desde que entre pessoas da mesma classe; o amor sexual só seria uma possibilidade, em seu tempo, entre o proletariado.<ref name="feI"/>
 
Conclui que modernamente se pode encontrar a seguinte situação: "''Nosso amor sexual difere essencialmente do simples desejo sexual, do eros dos antigos. Em primeiro lugar, porque supõe reciprocidade no ser amado, igualando, nesse particular, a mulher e o homem, ao passo que no eros antigo se fica longe de consultá-la sempre.''"<ref name="feI"/>
 
[[Karl Marx]] assim se expressou sobre o sentimento: "''Se amas sem despertar amor, isto é, se teu amor, enquanto amor, não produz amor recíproco, se mediante tua exteriorização de vida como homem amante não te convertes em homem amado, teu amor é impotente, uma desgraça.''"<ref name="dialmarx"/> Por outro lado, também afirmou: "''Mas o amor é materialista, não-crítico e não cristão (...) <nowiki>[é]</nowiki> egoísta porque é a sua própria essência que um procura no outro.''"<ref>{{citar livro|autor=Karl Marx |título=[[A Sagrada Família (livro)|A Sagrada Família]] |editora=Presença |ano=1980 |páginas=|id=}}</ref>
 
A primeira experiência legal de amor livre ocorreu quando, após a [[Revolução Russa de 1917]], foi aprovado no ano seguinte o ''Código do Casamento, da Família e da Tutela'' que procurava tratar de forma igualitária homens e mulheres e abolindo a ligação dos conceitos de família ao casamento; um dos efeitos inesperados foi uma total exploração das mulheres pelos homens - uma vez que estes se viram livres das obrigações para com elas, ao passo em que elas se mantinham presas à procriação.<ref>{{citar web|url=http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/article/download/13560/10658|título=Mulher, Estado e Revolução - política da família Soviética e da vida social entre 1917 e 1936|autor=Wendy Goldman (resenha por Carolina Alves Vestena, Fernanda Goulart Lamarão e Valeska Rodrigues Bruzzi)|ano=2014|publicado=Revista Direito e Práxis, vol.5, nº 9, pp. 538-544|acessodata=18/5/2016}}</ref> A ideia de união livre fracassou, segundo a historiadora Wendy Goldman, porque "''a lei nascida da tradição do socialismo libertário estava dolorosamente em contradição com a vida''", pois as mulheres ainda eram demasiadamente dependentes dos homens.<ref>{{citar web|URL=http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2015000200619&script=sci_arttext|título=Mulheres, realidade social e desafios emancipatórios |autor=Carla Simara Ayres |mês=agosto |ano=2015 |publicado=Rev. Estud. Fem. vol.23 no.2, Florianópolis |acessodata=20/5/2016}}</ref>
 
====Neo-marxismo ====
Na [[década de 1930]] os comunistas de [[Cambridge]] propunham a eliminação do amor; proclamavam, no dizer de [[Eric Hobsbawm]], que... “''Nós, que queríamos preparar o terreno para a bondade, não podíamos ser bondosos''” - isto porque numa revolução, que separa, jamais poderiam admitir o amor, que une.<ref name="dacosta">{{citar web|URL=http://www.ricardocosta.com/artigo/entre-pintura-e-poesia-o-nascimento-do-amor-e-elevacao-da-condicao-feminina-na-idade-media|título=Entre a Pintura e Poesia: o nascimento do Amor e a elevação da condição feminina na Idade Média|autor=Priscilla Lauret Coutinho e [[Ricardo da Costa]] |mês=dezembro |ano=2003 |publicado=GUGLIELMI, Nilda (dir.). Apuntes sobre familia, matrimonio y sexualidad en la Edad Media. Colección Fuentes y Estudios Medievales 12. Mar del Plata: GIEM (Grupo de Investigaciones y Estudios Medievales), Universidad Nacional de Mar del Plata (UNMdP), diciembre de 2003, p. 4-28 (ISBN 987-544-029-9) |acessodata=13/1/2015}}</ref>
 
Numa percepção [[Dialética marxista|dialética]] do [[marxismo]], o amor possui uma base [[ontologia|ontológica]] que, contudo, na sociedade mercantil, assume o caráter de fetiche, tornando-se ele próprio uma mercadoria.<ref name="dialmarx">{{citar web|URL=http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=214664|título=Do Homem do Amor ao Amor do Homem: esboço para uma teoria histórico-ontológica do amor |autor=Vinícius Bezerra |data= |publicado=dominiopublico.org |acessodata=8/1/2015}}</ref>
 
[[Raoul Vaneigem]], um dos principais pensadores da [[Internacional Situacionista]] do final da [[década de 1960]] disse que "''Aqueles que falam de revolução e luta de classes sem se referirem à vida cotidiana, sem compreenderem o que há de subversivo no amor e na recusa das coações, esses têm na boca um cadáver.''"<ref name="dialmarx"/>
 
===Positivismo===
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[[Carl Gustav Jung|Jung]] dizia que "''o amor é como Deus: ambos só se oferecem a seus serviçais mais corajosos.''"<ref>{{citar web|URL=http://www.ijrs.org.br/includes/_incDownload.php?arquivo=arq_20130102121713_1.pdf |título=Eros e a Alma Ferida |autor=Laudeci Amoêdo Saldívia|publicado=Instituto Junguiano do Rio Grande do Sul|acessodata=30/12/2013}}</ref>
 
Para [[Raul Mesquita]] o amor é um sentimento, em geral duradouro, para com outrem ou em face de um certo objeto que, para alguns psicólogos, está mais afeito à [[poesia]] do que à [[psicologia]].<ref>Verbete "amor" in: {{citar livro|autor=Raul Mesquita e Fernanda Duarte |título=Dicionário de Psicologia |editora=Plátano |ano=1996|isbnid=ISBN 9789726119170}}</ref>
 
O psicólogo [[Robert Sternberg]] propõe um [[teoria triangular do amor]], onde existem três componentes que determinam a forma e quantidade de amor existente numa relação: primeiro, o grau de intimidade, que engloba os sentimentos de proximidade, conectividade, e ligação experimentadas no relacionamento amoroso; segundo, a paixão presente, que reúne elementos que levam ao romance, atração física e consumação sexual; e, em terceiro, a decisão ou compromisso existente - a curto prazo, a decisão que se toma de amar o outro e, a longo prazo, o compromisso em manter esse amor.<ref name="tri">{{citar web|URL=http://web.archive.org/web/20150922092453/http://pzacad.pitzer.edu/~dmoore/psych199/1986_sternberg_trianglelove.pdf |título=A triangular theory of love |autor=Sternberg, Robert J.|mês=abril |ano=1986 |publicado=Psychological Review, Vol. 93 (2), pp. 119-135|acessodata=28/12/2013 }} - {{en}}</ref>
 
==Direito ==
Linha 375:
 
==Artes ==
Cada obra artística retrata o amor conforme sua época, sendo um testemunho de seu tempo; é o afeto mais ilustrado na arte, e sua representação começa pelos símbolos mitológicos (deuses, lendas), e também em traços culturais que remontam à mais remota antiguidade (que vão de imagens como as cruzes orientais, ao coração estilizado).<ref name="amart">{{citar web|URL=http://200.18.15.27/bitstream/1/402/1/Luana%20Gon%C3%A7alves%20Venson.pdf|título=O amor entre casais na arte |autor=Luana Gonçalves Venson |mês=Junho |ano=2011 |publicado=Unesc |acessodata=27/10/2015 }}</ref> Neste sentido, muitos são os que, através dos tempos, procuram retratar o amor; são "''escritores, artistas, músicos e pessoas que não escrevem sobre, mas falam, mesmo sem saber concretamente o que estão dizendo. Descrevem o que sentem enquanto amam, são amados, e sentem o prazer do amor''".<ref name="amart"/>
 
===Literatura ===
{| class="toccolours" style="float: left; margin-left: 1em; margin-right: 2em; font-size: 85%; background:#c6dbf7; color:black; width:30em; max-width: 40%;" cellspacing="5"
| style="text-align: left;" | <poem>"Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói e não se sente,
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.
 
É um não querer mais que bem querer,
É um andar solitário entre a gente,
É nunca contentar-se de contente,
É um cuidar que ganha em se perder."</poem>
|-
| style="text-align: left;" | ''Camões''<ref name="litport"/>
|}
Os autores que vieram a tratar do amor, na literatura ocidental do {{séc|XVI}} (como [[William Shakespeare]] em seu ''[[Romeu e Julieta]]''), tiveram por base as obras de Ovídio e de [[Petrarca]] - neste período floresceram os [[soneto]]s de amor.<ref>{{citar web|URL=http://digitalcommons.georgiasouthern.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1165&context=etd|título=Love, Lust and Literature in the Late Sixteenth Century |autor=Johnson, Kristin J. |ano=2009|publicado=Electronic Theses & Dissertations|acessodata=29/10/2015 }}</ref>
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[[Imagem:Ines de castro.jpg|miniaturadaimagem|''[[Drama de Inês de Castro (Columbano)|Drama de Inês de Castro]]'' por [[Columbano Bordalo Pinheiro]]. [[Inês de Castro]] foi vítima do amor com o herdeiro do trono.]]
 
Já na Idade Média, quando surge em [[Reino de Portugal|Portugal]] sua [[Literatura portuguesa|literatura]], tem-se a [[cantiga de amor]], em que a mulher amada é retratada como um ser inatingível e perfeito, e como objeto de desejo inacessível, levando ao sofrimento.<ref name="litport">{{citar web|URL=http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/view/4493/3294|título=O Amor na Literatura: um exercício de compreensão histórica |autor=Mônica Raisa Schpun |ano=2004 |publicado=revista Soletras, nª 8 |acessodata=26/10/2015}}</ref>
 
Em [[Luís Vaz de Camões|Camões]] surge a própria [[Vênus (mitologia)|Vênus]] e a ''"Ilha dos Amores"'', a seduzir os lusos às navegações; em ''[[Os Lusíadas]]'', o poeta relata a história de amor-paixão entre [[Inês de Castro|Inês]] e [[Pedro I de Portugal|Pedro]]; durante o [[Romantismo em Portugal|romantismo]] o amor ocupa o centro das histórias, quase sempre avassalador e, se contrário às regras, também levando ao sofrimento como nas cantigas medievais; o [[Modernismo em Portugal|modernismo]] surge para contraditar aquele amor-paixão, que passa a ser visto como algo doentio, sobrepujado pela racionalidade, encontrando seus expoentes em [[Eça de Queiroz]] e [[Fernando Pessoa]].<ref name="litport"/>
 
====Poesia ====
"''Quem nunca escreveu uma poesia de amor''?", pergunta [[Ricardo da Costa]]; os versos de amor surgiram na [[Idade Média]], lembra ele, onde os poetas "''derramavam suas lágrimas e seu sofrimento por amadas - acessíveis e inacessíveis''" - de que foram exemplos [[Pedro Abelardo|Abelardo]] e [[Heloísa de Paráclito|Heloísa]], [[Dante Alighieri|Dante]] e [[Beatriz Portinari|Beatriz]] ou [[Laura de Noves|Laura]], provável musa de [[Petrarca]].<ref name="dacosta"/>
 
Numa ótica da psicanálise, [[Nadiá Paulo Ferreira]] diz que "''os poetas sempre souberam que tudo que se diz sobre o amor revela apenas uma face dos seus mistérios''"; neste sentido exemplifica com os versos de Fernando Pessoa{{nota de rodapé|Poema II de ''O Guardador de Rebanhos''.}} que dizem: "''Porque quem ama nunca sabe que ama/ Nem sabe por que ama, nem o que é amar...''".<ref name="nadia"/>
 
Fernando Pessoa e [[Miguel Torga]] trazem um amor que é um anseio no homem contemporâneo, unindo Eros a Psiquê, fruto antes de um "mergulho" em si mesmo para depois voltar-se ao objeto amado.<ref name="litport"/>
 
[[Paulo Leminski]], ao comparar a poesia com a carta de amor, assinala que esta seria o oposto daquela por ter um destinatário certo; na poesia não se pode ter um destinatário conhecido: o poeta escreve - mesmo ao reportar um sentimento como o amor de Petrarca por Laura, ou de Camões por [[Dinamene]] - para a humanidade, para Deus. Ele lembra que a visão do amor é ocidental, e como forma idílica manifesta na arte somente na Europa medieval; por fim, afirma que a poesia "''é um ato de amor entre o poeta e a linguagem''"; algo que se traduz no fato de que há grande dificuldade em tentar-se transformar poesia em mercadoria, pois ela não se vende; assim como o amor, é algo que se dá de graça e que "''a paixão do poeta pela linguagem, da linguagem pelo poeta, é coisa que tem amplas implicações sociológicas, históricas, transcendentais.''"<ref name="leminski">Paulo Leminski, ''Poesia: a paixão da linguagem'', in: {{citar livro|autor=Sérgio Cardoso, Marilena Chauí, et al.|título=Os Sentidos da Paixão.|editora=Companhia das Letras/Funarte, São Paulo |ano=1990 |página=283-306|isbn=858509544-X}}</ref>
 
===Música ===
[[Imagem:Antoine Watteau 063.jpg|miniaturadaimagem|[[Serenata]], por [[Antoine Watteau]]]]
 
As emoções podem ser invocadas de forma proposital ou não e a música é uma forma em que todas as pessoas experimentam emoções, quando a ouvem; ela própria retrata a emoção nas letras, nos sons e no desempenho, numa variação de emoções imensas: predomina entre estas emoções o amor nas letras das músicas populares.<ref name="musicart">{{citar web|URL=http://www.hca.westernsydney.edu.au/gmjau/archive/v6_2012_1/ann_werner_RA.html|título=Emotions in music culture: the circulation of love |autor=Ann Werner |ano=2012 |publicado=Global Media Journal : Australian Edition, ISSN 1835-2340, Vol. 6, no 1, -8 |acessodata=28/10/2015 }}</ref>
 
Os estudos que relacionam a música com a emoção estão aumentando, e tem-se por base que as emoções experimentadas enquanto se ouve a música não são triviais, mas fazem parte da criação da vida social e cultural dos indivíduos.<ref name="musicart"/>
 
Diversos gêneros musicais (como [[Música pop|pop]], [[Rock'n roll|rock]], [[R&B]] ou [[hip hop]]) têm em comum o ritmo lento, letras sobre o amor e performances emocionais dos artistas - geralmente acompanhadas por vídeos com imagens que ilustram o amor ou o amor perdido (provocando assim a tristeza).<ref name="musicart"/>
 
===Cinema e televisão===
A representação do amor em novelas e filmes pode variar, mas suas histórias parecem atrair sobretudo as mulheres, no sentido de construírem sua feminilidade preocupadas com os sentimentos, sobretudo o amor – que seria então a chave para sua felicidade.<ref name="musicart"/>
 
Na sociedade moderna o amor surge como um elemento essencial à felicidade do indivíduo e, como tal, passa a ser retratado pela [[cinema|indústria cinematográfica]]; neste sentido, qualquer que seja a história narrada - desde na Roma Antiga ou em qualquer tempo, todas as tramas ilustram a busca da paixão amorosa.<ref name="alceu"/>
 
==Movimentos sociais ==
===Amor livre===
Os [[anarquismo|anarquistas]] defendiam o [[divórcio]], e que a [[prostituição]] fosse tratada em casas de recolhimento, onde as mulheres seriam cuidadas, e espaços destinados à prática do sexo livre.<ref name="corpo"/>
 
Considerando o casamento como "túmulo do amor", pregavam os anarquistas que o amor deveria ser "livre"; o amor e o desejo fogem às regras morais que a sociedade [[burguesia|burguesa]] ergueu a partir do {{séc|XIX}}. Combatendo não a política em si, mas a moral instituída, o anarquismo defendia novas formas de relacionamento, quer sociais, quer sexuais; [[Malatesta]] então pregava que o anarquismo resulta das vontades pessoal e coletiva, com um amor ao próximo tão profundo que não poderia ser percebido pelas teorias científicas.<ref name="corpo">{{citar livro|url=http://books.google.com.br/books?id=P--V1E-p9qMC&pg=PA160&dq=%22amor+livre%22+conceito+hist%C3%B3ria&hl=pt-BR&sa=X&ei=UCZmT_iOK4SWgweK5OXvAg&ved=0CDoQ6AEwAQ#v=onepage&q&f=false |autor=Carmen Lúcia Soares |título=Corpo e história |editora=Autores Associados |ano=2001 |página=159-160 |páginas=180|isbn=8574960144|acessodata=2 de março de 2012 }}</ref>
 
A despeito disso, já em 1932 [[Federica Montseny]] questionava este assunto tão "delicado e difícil": "''quem, até agora, pôs de fato em prática o verdadeiro amor livre?''" Segundo ela, a mulher continuava seu papel submisso na relação, além da condição frágil perante a sociedade caso assuma sua liberdade, denunciando um "outro amor livre" - que é o do homem servir-se das mulheres como grande sedutor, ou uma forma disfarçada de prostituição - negando assim o "comunismo amoroso" pregado por [[Émile Armand]].<ref name="corpo"/>
 
Adeptos do amor livre o casal [[Simone de Beauvoir]] e [[Jean-Paul Sartre]] viviam em casas separadas, e muitas mulheres seguiram a máxima "''nem família, nem filhos, nem lar, nem marido''" pregada por ela em suas obras; Beauvoir escandalizou a sociedade francesa, e pregava às [[feminismo|feministas]] que, na medida em que nessa sociedade - capitalista e patriarcal - as mulheres estavam condenadas essencialmente ao papel de reprodução da espécie, a maternidade e a fecundidade eram obstáculos à liberdade das mulheres.<ref>{{citar livro|url=http://books.google.com.br/books?id=W2NJdZYNTqIC&pg=PA30&dq=%22amor+livre%22+%22simone+de+beauvoir%22&hl=pt-BR&sa=X&ei=fi9mT8WrBI_1ggfDzcmdAg&ved=0CDkQ6AEwAQ#v=onepage&q=%22amor%20livre%22%20%22simone%20de%20beauvoir%22&f=false |acessodata=1 de março de 2012 |autor=Marlene Neves Strey, Sonia T. Lisboa Cabeda, Denise Rodrigues Prehn |título=Gênero e cultura: questões contemporâneas |editora=EdiPUCRS |ano=2004 |página=30-32|isbn=8574304425}}</ref>
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[[Imagem:Tie-dye hippie.jpg|miniaturadaimagem|Jovem em trajes hippies faz o sinal de "paz e amor"]]
 
Com o crescimento da [[Guerra Fria]], colocando como grandes antagonistas no cenário mundial as potências nucleares [[URSS|União Soviética]] e [[EUA|Estados Unidos]], neste último formou-se uma série de movimentos de [[contracultura]] que, embora sem vinculações políticas partidárias, questionavam o chamado ''[[american way of life]]'', ações do governo como o [[macartismo]], a [[Guerra do Vietnã]], a sociedade de consumo, etc.<ref name="beat">{{citar web|url=http://www.seer.ufu.br/index.php/cdhis/article/viewFile/130/89#page=68 |título=Paz e amor na Era de Aquário: a contracultura nos Estados Unidos |autor=Neliane Maria Ferreira |ano=2005 |publicado=Cadernos de Pesquisa do CDHIS - Número Especial - Vol. 33 - Ano 18|acessodata=2 de março de 2012}}</ref> Pregando valores que entravam em choque com o ''status quo'' vigente, tendo o [[rock'n roll]] por fundo, surgem os movimentos [[beatnik]] (já nos fins da [[década de 1950]]) e [[hippie]], em que o uso de drogas (especialmente o [[LSD]]), o amor livre, e as atitudes anti-sociais são a tônica, expressas na máxima "''[[paz e amor]]''".<ref name="beat"/>
 
Num discurso proferido em 1961, [[Martin Luther King Jr.]] analisa a visão do amor então pregada pelos jovens segundo a divisão filosófico-teológica dos gregos em eros, philia e ágape - sendo que a ética amorosa dos estudantes estaria nesta última categoria (ágape): "''Eu acho que era isto que Jesus queria dizer quando falava para amar ao inimigo, porque é bastante difícil gostar de algumas pessoas. Isto é sentimental, e é muito difícil gostar de alguém que bombardeia a sua casa; é bastante difícil gostar de alguém que está ameaçando seus filhos; é difícil gostar de congressistas que gastam todo seu tempo tentando derrotar os direitos civis. Mas Jesus dizia para os amar, e com um amor maior do que outros. O amor é compreensão, é redentor, criativo, boa vontade para com todos os homens. E é essa a ideia, é toda a ética do amor que forma a ideia que está na base do movimento estudantil''".{{nota de rodapé|Livre tradução para: "I think this is what Jesus meant when he said “ love your enemies.” I'm very happy that he didn't say like your enemies, because it is pretty difficult to like some people. Like is sentimental, and it is pretty difficult to like someone bombing your home; it is pretty difficult to like somebody threatening your children; it is difficult to like congressmen who spend all of their time trying to defeat civil rights. But Jesus says love them, and love is greater than like. Love is understanding, redemptive, creative, good will for all men. And it is this idea, it is this whole ethic of love which is the idea standing at the basis of the student movement.''"}}<ref>{{citar web|URL=http://web.archive.org/web/20160129101100/http://www.americanrhetoric.com/speeches/mlkmethodistyouthconference.htm|título=Love, Law, and Civil Disobedience |autor=Martin Luther King Jr.|ano=1961 |publicado=americanrhetoric.com |acessodata=24/05/2016}}</ref>
 
Em meados da [[década de 1970]] o movimento enfim decaiu, transformando-se em mais um modismo.<ref name="beat"/>
 
==Base biológica do amor ==
[[Imagem:Base química do amor.png|thumb|330px|Substâncias envolvidas no processo amoroso.]]
 
Um pioneiro estudo sobre o funcionamento do [[cérebro]] foi feito em [[2000]], procurando por um lado identificar as áreas [[córtex cerebral|corticais]] e periféricas envolvidas no complexo sentimento do amor romântico, e por outro traçar um paralelo com as emoções causadas pela amizade.<ref name="neuro">{{citar web|URL=http://www.vislab.ucl.ac.uk/pdf/NeuralBasisOfLove.pdf |título=The neural basis of romantic love |autor=Andreas Bartels e Semir Zeki |mês=novembro |ano=2000 |publicado=Neuro Report - Vol 11 No 17 27 |acessodata=29/12/2013 }} - {{en}}</ref>
 
Embora encontrando diferenças nos resultados entre os estímulos provocados pelo objeto amado e por amizades, estas não seriam notadas por um observador pouco familiarizado com as imagens; as áreas do cérebro envolvidas se revelaram especialmente pequenas, e nalguns casos guardando grandes diferenças com sentimentos negativos - estes como o [[medo]], [[raiva (sentimento)|raiva]], [[depressão nervosa|depressão]], etc, muito mais estudados - por outro lado guardou semelhanças curiosas nas áreas desativadas, inclusive com o estado psíquico após uso de substâncias como a [[cocaína]] ou derivados do [[ópio]].<ref name="neuro"/>
 
Um fato surpreendeu os pesquisadores: um sentimento tão complexo envolve a ativação de uma área total relativamente pequena do cérebro - mas a quantidade de áreas ativadas reporta a uma complexa rede de funcionamento integrada, cuja compreensão deve ser objeto de estudos posteriores. Ao contrário de alguns sentimentos negativos, não há uma área específica do cérebro responsável pela caracterização do amor romântico.<ref name="neuro"/>
 
===Escolha do(a) parceiro(a) ===
No processo inicial dos relacionamentos a visão procura parceiros que apresentem beleza física; neste sentido, quanto maior a simetria das formas corporais, maiores as chances de aceitação - sendo constatado, por exemplo, que mulheres em ovulação ficam com as mãos, orelhas e seios tornam-se mais simétricos; homens com o tronco triangular, ombros largos e barriga e cintura magras são mais resistentes a vírus e bactérias - gerando naturalmente um aspecto atrativo.<ref name="supup">{{citar web|URL=http://super.abril.com.br/ciencia/par-perfeito-447841.shtml|título=O par perfeito |autor=Alexandre Versignassi e Nina Weingrill|mês=novembro |ano=2008 |publicado=Superinteressante |acessodata=1/3/2014}}</ref>
 
Na escolha do parceiro a reprodução também dita as regras; em um experimento pessoas foram levadas a escolher roupas que outras do sexo oposto usaram por vários dias; o resultado foi que, ao cheirarem e selecionarem aquelas que mais lhes tenham atraído, foram escolhidas as que apresentavam uma maior diferença genética.<ref name="supup"/>
 
Outro experimento, contudo, levou a uma conclusão aparentemente contrária à anterior: indivíduos apresentados, sem saber, a uma versão modificada do próprio rosto como sendo do sexo oposto tenderam a escolhê-los como "parceiro ideal" em meio a outros; isto se deve à busca por confiança, que um rosto similar proporciona.<ref name="supup"/>
 
===Processo neuro-químico da paixão ===
Estudos demonstraram que o indivíduo apaixonado ativa as seguintes estruturas cerebrais: [[núcleo caudado]], [[área tegmental ventral]] e [[córtex pré-frontal]], justamente as mais ricas nas substâncias endógenas de recompensa (com efeitos similares aos da [[morfina]]) - a [[dopamina]] e a [[endorfina]]; isto levou à conclusão de que o estar perto da pessoa amada leva a uma maior sensação de prazer e recompensa.<ref name="supquim">{{citar web|URL=http://super.abril.com.br/cotidiano/quimica-paixao-446309.shtml|título=A química da paixão |autor=Aline Rochedo |mês=março |ano=2006 |publicado=Superinteressante |acessodata=1/3/2014}}</ref>
 
Também estão associadas à sensação outras substâncias orgânicas: a [[feniletilamina]] (espécie de [[anfetamina]] natural); a [[noradrenalina]], que serve para a fixação na memória dos fatos vividos; hormônios como [[oxitocina]] e [[vasopressina]] (presentes no estabelecimento dos laços afetivos permanentes, como entre mãe e filho) aumentam também durante a fase aguda do relacionamento, como a preparar a pessoa para uma convivência duradoura.<ref name="supquim"/>
 
A dopamina, liberada durante os [[orgasmo]]s, tem o mesmo efeito de doses de [[cocaína]] ou [[heroína]] - fazendo com que a pessoa sinta-se ainda mais ligada ao parceiro; por outro lado, sua ausência num relacionamento torna-o mais frágil e propenso à busca pelo prazer com outra pessoa.<ref name="supup"/>
 
===Alterações comportamentais ===
Algumas das substâncias envolvidas no amor, como o [[fator de crescimento neural]] (conhecido pela sigla em inglês ''NGF'' e cujos efeitos foram publicados inicialmente em 2005), experimentam um aumento substancial na fase aguda do relacionamento; já outras, como a [[serotonina]], experimentam uma diminuição sensível, similar aos que sofrem de [[transtorno obsessivo compulsivo]] - o que explicaria o pensamento sem controle, a fixação no objeto amado e algumas atitudes insanas.<ref name="supquim"/>
 
Se na doença estes níveis permanecem alterados, no amor eles tendem a se normalizar em semanas ou meses; se persistirem, os efeitos podem ser danosos - donde a pesquisadora italiana Donatella Marazziti ter afirmado que: “''No auge, as alterações químicas são tão intensas e tão estressantes que, se durarem tempo demais, o organismo entra em colapso''”.<ref name="supquim"/>
 
==Bibliografia ==
Linha 491:
{{Referências|col=3}}
 
== {{Ver também}} ==
{{Correlatos
|commons= Category:Love
|wikiquote= Amor
Linha 509:
* [[Sexo]]
 
== {{Ligações externas}} ==
* {{Link|en|2=http://web.archive.org/web/20100317212355/http://www.in-mind.org/issue-6/the-anatomy-of-love.html |3=The Anatomy of Love|4= Explanation of Theories of Love}}
* {{Link|en|2=http://web.archive.org/web/20060901191532/http://iserver.saddleback.cc.ca.us/faculty/jfritsen/articles.html|3=A Ciência do Amor}}