Justiniano: diferenças entre revisões

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m Alteração feita na administração de justiniano e em seus feitos.
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sepultamento = [[Igreja dos Santos Apóstolos]], [[Constantinopla]], [[Turquia]]
}}
'''Flávio Pedro Sabácio Justiniano Augusto''' ({{langx|la|''Flavius Petrus Sabbatius Iustinianus Augustus''}}; {{langx|qgk|Φλάβιος Πέτρος Σαββάτιος Ιουστινιανός||''Flávios Pétros Sabbátios Ioustinianós''}}; [[Taurésio]], c. [[482]] — [[Constantinopla]], {{morte|14|11|565|si}}), também conhecido como '''Justiniano, o Grande''' e '''São Justiniano, o Grande''' na [[Igreja Ortodoxa]], foi [[imperador bizantino]] de 527 a 565. Em seu reinado, procurou reviver a grandeza do Estado (''renovatio imperii''){{sfn|Haldon|2003|p=17–19}} e reconquistar [[Império Romano do Ocidente|Império Romano Ocidental]] perdido aos [[bárbaros]]. Seu governo constitui uma época distintiva na história do [[Império Romano Tardio]].
 
Apesar de pertencer a uma família de origem humilde, que se crê ser de origem [[Ilírico (província romana)|Ilírica]]<ref>{{citar livro|titulo=The Cambridge Companion to the Age of Justinian.|ultimo=Maas|primeiro=Michael|editora=Cambridge University Press.|ano=2005}}</ref><ref>{{citar livro|titulo=A history of the Byzantine state and society|ultimo=Treadgold|primeiro=Warren T.|editora=Stanford University Press|ano=1997|isbn=978-0-8047-2630-6|local=|paginas=246|acessodata=}}</ref><ref>{{citar livro|titulo=Justinian and the later Roman Empire|ultimo=Barker|primeiro=John W.|editora=University of Wisconsin Press|ano=1966|isbn=978-0-299-03944-8paginas=75}}</ref> ou [[Trácia (província romana)|Trácia]]<ref>{{citar livro|titulo=Justinian and Theodora|ultimo=Browning|primeiro=Robert|editora=Gorgias Press|ano=2003}}</ref><ref>{{citar livro|titulo=Shifting Genres in Late Antiquity|ultimo=Geoffrey Greatrex e Hugh Elton|primeiro=|editora=Ashgate Publishing, Ltd.|ano=2015|isbn=1472443500|local=|paginas=259|acessodata=}}</ref><ref>{{citar livro|titulo=Pannonia and Upper Moesia: A History of the Middle Danube Provinces of the Roman Empire|ultimo=Mócsy|primeiro=András|editora=Routledge|ano=2014|isbn=1317754255|local=|paginas=350|acessodata=}}</ref>. Foi nomeado cônsul ligado ao trono por seu tio [[Justino I]], a quem sucedeu, após a morte deste (527) sendo o cognome ''Justinianus'', que este adoptou mais tarde, um indicativo da sua adopção pelo seu Tio [[Justino I|Justino]]<ref>As únicas fontes para o nome completo de Justiniano, ''Flavius Petrus Sabbatius Iustinianus'' (algumas vezes chamado de ''Flavius Anicius Iustinianus''), são [[díptico]]s consulares do ano 521 com o seu nome.</ref>. Culto, ambicioso, dotado de grande inteligência, o jovem Justiniano parecia talhado para o cargo. O [[Império Bizantino]] brilhou durante o seu governo. Na [[Páscoa]] de 527, ele e a sua esposa, [[Teodora (século VI)|Teodora]], foram solenemente coroados. Sobre Teodora, sabe-se que era filha de um tratador de [[urso]]s do hipódromo e que tivera uma juventude desregrada, escandalizando a cidade com as suas aventuras de atriz e dançarina. Não se sabe exatamente como Justiniano a conheceu. Seu matrimônio com a antiga bailarina de circo e prostituta teria grande importância, uma vez que ela iria influenciar decisivamente em algumas questões políticas e religiosas. Justiniano cercou-se de um estreito grupo de colaboradores, entre eles [[Triboniano]], [[Belisário]], [[João da Capadócia]] e [[Narses]]. Segundo Procópio, um escritor daquele tempo, Justiniano aspirava a restabelecer o antigo esplendor de [[Império Romano|Roma]], motivo pelo qual concretizou toda a ampla série de campanhas posteriores.<ref>{{citar livro|autor=Michael Withe|título=O Grande Livro das Coisas Horríveis|editora=Texto|ano=2011|páginas=65|id=9789724745183}}</ref>
 
== Resistência à ação do imperador ==
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=== A Revolta de Nika ===
{{Artigo principal|Revolta de Nika}}
Logo no início de seu reinado (532), Justiniano teve de enfrentar uma grave revolta, a Revolta de Nika. [[Teodora (esposa de Justiniano)|Teodora]], mulher pequena, mas bem proporcionada, de rosto pálido, iluminado por dois grandes olhos negros, dominou Justiniano e o ajudou a sufocar a revolta. O que causou esta revolta foi o descontentamento com os altos impostos e a miséria.<ref name=":0">{{citar livro|título=Império Bizantino|ultimo=FRANCO JR.|primeiro=Hilário|ultimo2=FILHO|primeiro2=Ruy de Oliveira Andrade|editora=Coleção Tudo é História, nº 107, Ed. Brasiliense|ano=|local=|páginas=|acessodata=}}</ref>
 
Em Bizâncio, existiam organizações esportivas rivais, que defendiam suas cores no hipódromo. Eram os Verdes, os Azuis, os Brancos e os Vermelhos. Esses grupos haviam se transformado em partidos políticos. Os '''Azuis''' reuniam representantes dos grandes proprietários rurais e da ortodoxia religiosa. Já os '''Verdes''' tinham, em suas fileiras, altos funcionários nativos das províncias orientais, comerciantes, artesãos e adeptos da [[monofisismo|doutrina monofisista]].
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== Administração de Justiniano ==
[[Imagem:Hagia-Sofia-01s.jpg|thumb|esquerda|[[Santa Sofia|Basílica de Santa Sofia]], reconstruída sob supervisão pessoal de Justiniano|283.991x283.991px]]
Para garantir a centralização administrativa, Justiniano combateu o poder local dos grandes proprietários de terra e estabeleceu leis sólidas e eficazes, cujo cumprimento era rigorosamente fiscalizado pela burocracia, que contava com os militares.
 
Em seu governo, foi redigido o [[Código de Justiniano]], um sistema de leis básico que afirmava o poder ilimitado do imperador e, ao mesmo tempo, garantia a submissão dos escravos e colonos a seus senhores. Em seu governo, o regime político do império pode ser caracterizado como [[Autocracia|autocrático]] e [[Burocracia|burocrático]]. Autocrático, porque o imperador controlava todo o sistema político e religioso. Burocrático, porque uma vasta camada de funcionários públicos, dependentes e obedientes ao imperador, vigiava e controlava todos os aspectos da vida dos habitantes do império. Esse poder não chegava a ser totalitário, porque o império era vasto e composto por povos de naturalidades e línguas diferentes, que conseguiam escapar do controle das autoridades imperiais e manter certas tradições culturais particulares.<ref name=":1">{{citar livro|título=História da civilização, vol. IV: A idade da fé|ultimo=DURANT|primeiro=Will|editora=Record|ano=2002|local=Rio de Janeiro|páginas=|acessodata=}}</ref>
 
Pode-se resumir a politica de Justiniano em dois objetivos, duas ideias. Como imperador romano, trazer prosperidade ao reino e como imperador cristão, impor sua organização à igreja. Durante seu reinado ele foi responsável por abrir todo o império com fortificações, para exigir menos de seus soldados. Além de restaurar ou construir grande quantidade de obras pelas províncias, formando naturalmente uma enorme linha de defesa que protegia todos os pontos estratégicos. A chamada “ciência do governo dos bárbaros”, hábil diplomacia feita por Justiniano, completava seu estratégico fortalecimento defensivo. Apesar de sua politica externa de [[Queda do Império Romano do Ocidente|reconquista do ocidente]], os territórios reconquistados estavam em um estado econômico miserável o que gerou fragilidade ao império. Justiniano logo se vê enfraquecido devido aos persas que avançavam em direção ao mediterrâneo. Foi necessário um pesado tributo para renovar o acordo de paz e conte-los temporariamente. Além das periódicas invasões dos hunos e eslavos, que mesmo sendo rechaçados enfraqueciam o reino aos poucos.
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Justiniano também se destacou como construtor: fortificações em torno de todas as fronteiras, [[estrada]]s, [[ponte]]s, [[templo]]s e edifícios públicos foram algumas de suas obras.<ref>{{citar livro|título=História de Bizâncio|ultimo=LEMERLE|primeiro=Paul|editora=Martins Fontes|ano=1991|local=São Paulo|páginas=|acessodata=}}</ref>
 
[[Revolta de nika|A revolta de 532]], ''Nika'' (em grego “vitória”), mostrou a Justiniano a necessidade de uma reforma. A reforma administrativa está contida principalmente nos dois decretos de 535, que se resume ao conjunto de medidas para melhorar o império, através da eliminação de postos inúteis, supressão da venalidade dos cargos, aumento do vencimento, criação de alguns agente especiais ou “justinianos”, que reuniam poderes militares e civis. Tais medidas visavam aumentar a dependência dos funcionários para com o imperador. Em outra medida, ele buscou impedir os abusos dos grandes proprietários de bens de raiz, que acreditava serem seus piores inimigos. Como resultado ele teve de infringir suas próprias [[Corpus Juris Civilis|leis]]. Devido à necessidade constante de dinheiro com as enormes despesas com a guerra, Justiniano aumentou taxas, criou impostos, vendeu cargos, alterou a moeda, dando exemplo de mau administrador.<ref name=":0" />
 
Internamente, os maiores problemas enfrentados pelo império foram os senhores locais e as heresias. Estas quebravam a unidade da [[Patriarcado Ecumênico de Constantinopla|Igreja de Constantinopla]] e, em geral, surgiam em províncias do império, adquirindo, assim, um caráter de luta autonomista diante do poder central.<ref name=":1" />
 
== Os assuntos religiosos ==
[[Imagem:Mosaic of Justinian I - San Vitale - Ravenna 2016.jpg|thumb|O imperador Justiniano - Mosaico na [[Basílica de São Vital]] em [[Ravena]].|305.994x305.994px]]
 
Justiniano tinha grande interesse pelas questões teológicas. Seu objetivo maior era unir o Oriente com o Ocidente por meio da religião. Seu programa político pode ser sintetizado numa breve fórmula: "Um Estado, uma Lei, uma Igreja". Justiniano procurou solidificar o [[monofisismo]] (doutrina elaborada por [[Eutiques]], segundo a qual só havia uma natureza, a divina, em [[Jesus|Cristo]]). Essa doutrina tornou-se forte na [[Síria]] ([[patriarca de Antioquia]]) e no [[Egipto|Egito]] ([[patriarca de Alexandria]]), que tinham aspirações emancipacionistas. Os seguidores dessa heresia tinham na imperatriz [[Teodora (esposa de Justiniano)|Teodora]] uma partidária. Esta tentou conciliar ortodoxos e heréticos, com relativo êxito. Autoritário, Justiniano combateu e perseguiu [[judeu]]s, [[pagão]]s e [[herético]]s, ao mesmo tempo que interveio em todos os negócios da Igreja, a fim de mantê-la como sustentáculo do Império e sob seu controle. A [[Academia de Platão]], último baluarte do paganismo, foi fechada. As catedrais dos [[Igreja dos Santos Apóstolos|Santos Apóstolos]] e de [[Basílica de Santa Sofia|Santa Sofia]] foram construídas durante seu governo, para evidenciar o poder imperial.
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== Reconstituição territorial do império ==
[[Imagem:The Byzantine State under Justinian I-pt.svg|esquerda|upright=1.7|thumb|[[Império Bizantino]] em 550. A parte mais clara representa as conquistas de Justiniano|338.991x338.991px]]
 
No plano externo, a política de Justiniano teve como objetivo fundamental a tentativa de reconstrução do fragmentado [[Império Romano do Ocidente]], que, desde [[450]], era vítima dos ataques dos [[bárbaros]] [[Germanos|germânicos]], e que havia sucumbido em [[476]]. Ao sentido político e social dessa empreitada juntava-se o fator religioso, pois, para Justiniano, Roma continuava sendo o centro do mundo católico.
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== O ''corpus juris civilis'' ==
[[Ficheiro:Flickr - Yale Law Library - RL 22 B56 1700 v.1.jpg|miniaturadaimagem|272.983x272.983px|Uma das versões de capa do [[Corpus Juris Civilis|conjunto de leis]] propostas por [[Justiniano]].]]
{{Artigo principal|[[Corpus juris civilis]]}}
Ao lado da religião, o [[direito romano]] ajudou a manter a unidade e a ordem imperial. Justiniano percebeu a importância de salvaguardar a herança do direito romano e, aproveitando a prosperidade econômica e comercial que lhe proporcionavam as novas conquistas, empreendeu um importante trabalho legislativo e de recompilação jurídica. A recompilação e reorganização das leis romanas tornou-se um dos marcos mais notáveis de sua administração, confiado a um colégio de dez juristas dirigido por Triboniano, cujos trabalhos duraram dez anos<ref>{{citar livro|autor=César Fiuza|título=Direito Civil curso completo|editora=Del Rey|ano=2008|páginas=62|id=978-85-7308-963-9}}</ref>. Essa obra ficou conhecida como ''[[Corpus Juris Civilis|corpus juris civilis]]'', composta de quatro partes<ref>{{citar livro|título=História Do Direito - Geral E Do Brasil|ultimo=CASTRO|primeiro=Flávia Lages de|editora=Lumen Juris|ano=2017|local=São Paulo|páginas=570|acessodata=}}</ref>: