História do cristianismo: diferenças entre revisões

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{{Cristianismo}}
A '''história do cristianismo''' é o estudo da [[religião]] baseada nos ensinamentos de [[Jesus]] de [[Nazaré]]. O cristianismo tornar-se-ia numa das maiores religiões, afetando todas as outras e mudando o curso da História do mundo|história humana]] (''ver: [[impacto do cristianismo na civilização]]''). Isso diz respeito principalmente a [[cristianismo|religião cristã]] e da [[Igreja cristã|Igreja]], até a era atual e as [[Denominação cristã|denominações]]. O [[cristianismo]] difere significativamente das outras [[Religião abraâmica|religiões abraâmicas]] na afirmação de que [[Jesus Cristo]] é o [[Filho de Deus]]. A grande maioria dos cristãos acreditam num [[Trindade (cristianismo)|Deus trino]] formado por [[Hipóstase|três pessoas unidas e distintas]]: [[Deus, o Pai|Pai]], [[Cristo|Filho]] e [[Espírito Santo]]. Ao longo da sua história, a religião tem resistido a cismas e a disputas teológicas que resultaram em muitas igrejas distintas. Os maiores ramos do cristianismo são a [[Igreja Católica Romana]], a [[Igreja Ortodoxa]], as [[Protestantismo|Igrejas protestantes]].
 
O cristianismo começou a se espalhar a partir de [[Jerusalém]], e depois em todo o [[Oriente Médio]], acabando por se tornar a [[estado confessional|religião oficial]] da [[Armênia]] em 301, da [[Etiópia]] em 325, da [[Geórgia]] em 337, e depois a [[Igreja estatal do Império Romano]] em 380. Tornando-se comum em toda a Europa na [[Idade Média]], ela se expandiu em todo o mundo durante a [[Era dos Descobrimentos]].
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{{Artigo principal|[[Cristianismo primitivo]]}}
 
[[Ficheiro:Cristo crucificado.jpg|thumb|direita|''Crucificação de Jesus Cristo'' <small> por [[Diego Velázquez]]</small>.: A morte e ressurreição de Jesus foi um dos fatos mais importantes para os primeiros anos do cristianismo.<br><small>[[Diego Velázquez]], 1632<br>[[Museu do Prado]]</small>]]
 
Durante sua história, o cristianismo passou de uma obscura [[Judaísmo|seita judaica]] do século I para uma religião existente em todo o mundo conhecido na [[Antiguidade]].
 
Na [[Judeia (província romana)|Judeia]], uma das províncias romanas no [[Oriente]], facções políticas locais se digladiavam em fins do século I a.C. De um lado, a aristocracia e os sacerdotes [[judeujudeus]]s aceitavam a dominação romana, pois os primeiros obtinham vantagens comerciais e os segundos mantinham o monopólio da religião. Entre as várias seitas judaicas que coexistiam na região, estavam a dos [[fariseus]], voltados para a vida religiosa e o estudo da [[Torá]], e a dos [[essênios]], que pregavam a vinda do [[Messias]], um rei poderoso que lideraria os judeus rumo à independência. Nesse clima de agitação, durante o governo de [[Augusto|Otávio]], nasceu, em [[Belém (CisjordâniaPalestina)|Belém]], um judeu chamado [[Jesus]].
 
Poucas fontes históricas não-cristãs mencionam Jesus ou os primeiros anos do [[cristianismo]]. A principal fonte a respeito de sua vida são os [[Evangelhos]], que relatam o nascimento e os primeiros anos no modesto lar de um artesão de [[Nazaré (Israel)|Nazaré]]. Há um período sobre o qual praticamente não há informações, até que, aos trinta anos, Jesus recebe o [[batismo]] pelas mãos de [[João Batista]], nas águas do [[Riorio Jordão]] e começa a pregação de seu ideário. Para os cristãos, Ele seria o Messias esperado pelos judeus. No [[Sermão da Montanha]], descrito nos evangelhos de [[Mateus (evangelista)|Mateus]] e de [[São Lucas|Lucas]], é apresentado os princípios básicos de seu pensamento: para Jesus, a moral, como a religião, era essencialmente individual e a virtude não era social, mas de consciência. Pregava a igualdade entre os homens, o perdão e o amor ao próximo.
 
Segundo os Evangelhos, as autoridades religiosas judaicas não aceitaram que aquele homem simples, que pregava aos humildes, pudesse ser o rei, o Messias que viria salvá-los (''ver: [[Rejeição de Jesus]]''). Consideraram-no um dissidente e o enquadraram na lei religiosa, condenando-o à morte por [[crucificação]], a ser aplicada pelos romanos (do ponto de vista das autoridades romanas, Jesus era um rebelde político). Levadas pelos seus discípulos, os [[apóstolosapóstolo]]s, a diversas partes do impérioImpério romanoRomano, as ideias de Jesus frutificaram. O apóstolo [[Paulo de Tarso|Paulo]], judeu com [[cidadania romana]], deu caráter universal à nova religião: segundo ele, a mensagem de Jesus, chamado de Cristo (o ungido) por seus seguidores, era dirigida não somente aos [[judeujudeus]]s, mas a todos os povos. Com Paulo, o cristianismo deixou de ser uma seita do [[judaísmo]] para se tornar uma religião autônoma (''ver: [[Paulinismo]]''). Por não aceitarem a divindade imperial e por acreditarem que havia uma única verdade - a de Jesus -, os cristãos foram perseguidos pelos romanos.
 
Por volta do ano 70, foram escritos os evangelhos atribuídos a [[Mateus (evangelista)|Mateus]] e [[São Marcos|Marcos]], em [[língua grega]]. Trinta anos depois, publicava-se o evangelho atribuído a [[São João, o Evangelista|João]], e a doutrina da [[Trindade (cristianismo)|Santíssima Trindade]] (Pai, Filho e Espírito Santo) começava a tomar forma.
 
Apegados ao [[monoteísmo]], os cristãos não juravam o culto divino ao imperador, provocando reações violentas. As perseguições ocorreram em curtos períodos, embora violentos, na medida em que o culto divino ao imperador, estabelecido por [[Augusto]] mas formalizado por [[Domiciano]], era aplicado nas províncias .<ref>{{citar livro
| autor = ATIENZA, Juan G.
| título = Santos pagãos
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| volume = 1
| isbn = 85-274-0371-4|ref=harv}}</ref>
. Muitos foram perseguidos, outros morreram nas arenas, devorados por feras. Ao mesmo tempo, cada vez mais pessoas se convertiam ao cristianismo, especialmente pobres e [[escravoEscravidão na Roma Antiga|escravos]]s, que se voltavam para a Igreja por acreditarem na promessa de vida eterna no [[Paraíso (religião)|Paraíso]].
 
O poder do cristianismo não podia mais ser ignorado. A partir do momento em que cidadãos ricos do [[Império Romano]] se converteram à nova religião, a doutrina, que pregava a igualdade e a liberdade, deixava de representar um perigo social. Aos poucos, a [[Igreja Católica]] se institucionalizava e o clero se organizava, numa enorme escalada da hierarquia com o surgimento dos bispos e presbíteros, no lugar de anciãos e superintendentes. O território sob o domínio romano foi dividido em províncias eclesiásticas. Os patriarcas, bispos dos grandes centros urbanos - como [[Roma]], [[Constantinopla]], [[Antioquia da Síria]] e [[Alexandria]] -, ampliaram seu poder, controlando as províncias. O bispado de Roma procurou se sobrepor aos demais, alegando que o bispo de Roma era o herdeiro do apóstolo Pedro, que teria recebido de Jesus a incumbência de propagar a fé cristã entre os povos.
 
Em 313, o imperador [[Constantino I|Constantino]] fez publicar o [[Édito de Milão]], que instituía a [[tolerância religiosa]] no império, beneficiando principalmente os cristãos. Com isso, recebeu apoio em sua luta para se tornar o único imperador e extinguir a [[tetrarquia]]. Em 361, assumiu o trono [[Juliano, o Apóstata(imperador)|Juliano]], que tentou reerguer o paganismo, dando-lhe consistência ético-filosófica e reabrindo os templos. Três anos depois o imperador morreu e, com ele, as tentativas de retomar a antiga [[Religião na Roma Antiga|religião romana]].
 
Em 391, [[Teodósio I]] (379-395) oficializou o cristianismo nos territórios romanos e perseguiu os dissidentes. Após seu reinado, o império foi dividido em duas partes. Os filhos de Teodósio assumiram o poder: [[Arcádio]] herdou o [[Império Romano do Oriente]], cujo centro político era Constantinopla (antiga Bizâncio, rebatizada em homenagem ao imperador Constantino, localizava-se onde hoje é a cidade turca de [[Istambul]]); a [[Honório I]] coube o [[Império Romano do Ocidente]], com capital em Roma.
 
O [[cristianismo primitivo]] pode ser dividido em duas fases distintas: o [[era apostólica|período apostólico]], quando os primeiros [[apóstolosapóstolo]]s estavam vivos e propagaram a [[fé]] cristã: e o [[Período ante-niceno|período pós-apostólico]], quando foi desenvolvida uma das primeiras estruturas [[Episcopado|episcopais]] e houve uma intensa [[perseguição aos cristãos]]. Essa perseguição terminou em 313 sob o governo de [[Constantino I]], em 325 ele promulgou o [[primeiroPrimeiro concílioConcílio de Niceia]], dando início aos [[Concílios ecuménicosConcílio católicosecuménico|Concíliosconcílios Ecumênicosecumênicos]].
 
=== Igreja Apostólica ===
 
{{artigo principal|[[IgrejaCristianismo primitivaprimitivo]]}}
{{AP|vt=s|Judaísmo e cristianismo}}
 
A Igreja Apostólica era uma comunidade liderada pelos [[apóstolosapóstolo]]s e pelos parentes e seguidores de [[Jesus]].<ref>R. Gerberding and J. H. Moran Cruz, Medieval Worlds (New York: Houghton Mifflin Company, 2004) p. 51</ref> De acordo com o [[Novo Testamento]], depois de sua [[Ressurreição de Jesus|ressurreição]], Jesus ordenou na ''[[Grande Comissão]]'' que [[ministério de Jesus|seus ensinamentos]] fossem espalhados por todo o mundo. Os ''[[Atos dos Apóstolos]]'' é a [[fonte primária]] de informação sobre esse período. Tradicionalmente atribuído a [[São Lucas|Lucas]], este livro conta a história da igreja primitiva a partir dessa comissão em {{Citar bíblia|livro=Atos|capítulo= 1|verso=3-11}} até a propagação da religião entre os [[gentio]]s<ref>{{citar web | url=http://www.newadvent.org/cathen/04375b.htm | título=Catholic Encyclopedia: Cornelius }} "O batismo de [[Cornélio, (Bíblia)|Cornélio]]o Centurião foi um importante evento na história da igreja primeva. As portas da igreja, dentre eles até mesmo os que eram [[Circuncisão|circuncidados]] e observavam a Lei de Moisés tinham sido admitidos, agora estavam abertas aos gentios incircuncisos sem [[Lei bíblica no cristianismo|a obrigação de se submeterem as leis cerimoniais judaicas]]."</ref> do [[Região do Mediterrâneo|leste do Mediterrâneo]] por [[Paulo de Tarso]] e outros.
 
Os primeiros cristãos eram de [[etnias judaicas]] ou [[Proselitismo|judeus prosélitos]]. Em outras palavras, os primeiros seguidores do [[cristianismo]] foram os [[judeus]] que [[Jesus]] chamou para ser seus primeiros discípulos. Apesar da Grande Comissão de {{Citar bíblia|livro=Mateus|capítulo= 28|verso=19-20}} ser dirigida a ''todas as nações'', os primeiros cristãos se depararam com uma questão que trouxe problemas para os primeiros líderes da [[Igreja Primitiva|igreja]]: se os [[gentio]]s convertidos ao cristianismo precisariam se tornar judeus. Isso geralmente estava associado a [[circuncisão]] a adesão de [[Cashrut|leis dietéticas]]. Enquanto os [[judaizantes]] apoiavam essas restrições, alguns pregadores cristãos, como o [[Paulo de Tarso|apóstolo Paulo]], foram contra impor aos novos [[Conversão (religião)|conversos]] essas práticas. Além disso, a circuncisão era considerada repulsiva pelos [[gregos]]<ref>{{citar web | url=http://jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=514&letter=C&search=circumcision#2 | título=Jewish Encyclopedia: Circumcision: In Apocryphal and Rabbinical Literature }} "O contato com a vida grega, especialmente nos jogos da arena [o qual envolvia nudes], fazia esta distinção chocante com os helenistas, ou antinacionalistas; e a consequência foi a sua tentativa de se parecerem com os gregos por [[epispasmo]] ("making themselves foreskins"; I Macc. i. 15; Josephus, "Ant." xii. 5, § 1; Assumptio Mosis, viii.; I Cor. vii. 18; , Tosef., Shab. xv. 9; Yeb. 72a, b; Yer. Peah i. 16b; Yeb. viii. 9a). Tudo o mais fez com que a observancia da lei judaica desencadeasse o decreto de [[Antíoco Epifânio]] que proibia a circuncisão (I Macc. i. 48, 60; ii. 46); e as mulheres judias demostraram a sua fidelidade a Lei, mesmo correndo risco de vida, pois elas mesmas circuncidaram os seus filhos."; {{citar periódico| sobrenome = Hodges| nome = Frederick, M.| ano = 2001| título = The Ideal Prepuce in Ancient Greece and Rome: Male Genital Aesthetics and Their Relation to Lipodermos, Circumcision, Foreskin Restoration, and the Kynodesme| jornal = The Bulletin of the History of Medicine| volume = 75| issue = Fall 2001| páginas = 375–405| url = http://www.cirp.org/library/history/hodges2/| acessodata = 24 de julho de 2007| doi = 10.1353/bhm.2001.0119| pmid=11568485}}</ref> da [[Bacia do Mediterrâneo]]. As ações de [[São Pedro|Pedro]] na conversão de [[Cornélio (Bíblia)|Cornélio, o centuriãoCenturião]],<ref>Ver [http://www.newadvent.org/cathen/04375b.htm Catholic Encyclopedia: Cornelius]</ref> parecia indicar que não era preciso estar circuncidado, e isso foi debatido e aprovado pelo [[Concílio de Jerusalém|Concílio Apostólico de Jerusalém]]. Questões relacionadas são debatidas ainda hoje.
 
As [[doutrina]]s que os apóstolos trouxeram para a [[Igreja Primitiva]] entraram em conflito com algumas [[Religiosidade judaica|autoridades religiosas judaicas]]. Isto levou a expulsão dos cristãos das [[sinagogassinagoga]]s. O livro de [[Atos dos Apóstolos|Atos]] registra o [[Mártir|martírio]] dos líderes cristãos, como [[Santo Estêvão|Estêvão]] e [[Santiago Maior|Tiago, filho de Zebedeu]]. A partir daí, o cristianismo adquiriu uma identidade distinta do [[judaísmo rabínico]]. Entretanto, essa diferença não foi reconhecida de uma vez pelo [[Império Romano]]. O nome ''[[cristão]]'' (do grego ''χριστιανοί'') foi aplicado pela primeira vez aos discípulos em [[Antioquia da Síria]], conforme registrado em {{Citar bíblia|livro=Atos|capítulo= 11|verso=26}}.<ref>E. Peterson, "Christianus" pp. 353–72</ref> Alguns afirmam que o termo ''cristão'' foi criado como um nome depreciativo, sendo aplicado como um termo de escárnio para aqueles que seguiram os ensinamentos de Jesus.
 
==== Crenças e credos dos cristãos primitivos ====
 
[[Ficheiro:Good shepherd 02b close.jpg|thumb|160pxupright=1.0|Cristo ''Jesus, o Bom Pastor''<ref>"A figura (…) é uma alegoria de Cristo como um pastor" [[André Grabar]], "Christian iconography, a study of its origins", ISBN 0-691-01830-8</ref> O <br><small>[[BomCatacumba Pastorde Calisto]], século III.</small>]]
 
As fontes para as [[crença]]s da comunidade cristã primitiva são os [[EvangelhosEvangelho]]s e as [[epístola]]s do [[Novo Testamento]]. Os relatos mais antigos da crença estão contidos nesses textos, como os [[credo]]s e os [[hinoshino]]s cristãos, bem como as histórias da [[Paixão (cristianismo)|Paixão]], do [[Mistério pascal|túmulo vazio]] e as [[Ressurreição de Jesus|aparições da ressurreição]]. Algumas dessas crenças são datadas nos anos [[30|30 d.C]] ou [[40|40 d.C]], originário dentro da [[Igreja primitiva|Igreja de Jerusalém]].<ref>Sobre os credos, ver Oscar Cullmann, ''The Earliest Christian Confessions'', trans. J. K. S. Reid (London: Lutterworth, 1949)</ref>
 
=== Igreja pós-apostólica ===
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{{Artigo principal|[[Padres da Igreja]]}}
 
Essa fase do cristianismo pós-apostólico vai desde a morte dos [[apóstolosapóstolo]]s (aproximadamente {{DC|100|x}} até o término das perseguições e a legalização do culto cristão porpelo imperador [[Constantino I|Constantino]], o Grande]].
 
==== Perseguições ====
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{{AP|vt=s|Cristianismo e paganismo}}
 
Desde o início os cristãos foram sujeitos a várias [[Perseguição aos cristãos|perseguições]]. Isso resultou na morte dos primeiros cristãos, como [[Santo Estêvão|Estêvão]] ({{Citar bíblia|livro=Atos|capítulo= 7|verso=59}}) e e [[Santiago Maior|Tiago, filho de Zebedeu]] ({{Citar bíblia|livro=Atos|capítulo= 12|verso=2}}). A perseguição aos cristãos pelo [[Império Romano]] ficou mais feroz a partir do ano 64 quando, conforme relatado pelo historiador Romano [[Tácito]], o imperador [[Nero]] culpou-os pelo [[grande incêndio de Roma]]. De acordo com a tradição da igreja, [[Paulo de Tarso|Paulo]] e [[São Pedro|Pedro]] foram martirizados em [[Roma]] por Nero. Da mesma forma, vários dos escritos do [[Novo Testamento]] mencionam o [[stress]]estresse que era causado pelas perseguições na vida dos primeiros seguidores de [[Jesus]]. Por 250 anos os cristãos sofreram perseguições esporádicas por sua recusa em adorar o [[imperador romano]]. Por isso, eles eram considerados traidores, sendo assim punidos com a [[pena de morte]]. Apesar das perseguições serem intensas, a religião cristã continuou a sua propagação em toda a [[bacia do Mediterrâneo]].<ref>Michael Whitby, et al. eds. '' Christian Persecution, Martyrdom and Orthodoxy'' (2006) [http://www.questia.com/read/115080283?title=Christian%20Persecution%2c%20Martyrdom%2c%20and%20Orthodoxy online edition]</ref>
 
==== Estrutura e episcopado ====
 
[[Ficheiro:Jean-Léon_Gérôme_-_The_Christian_Martyrs'_Last_Prayer_-_Walters_37113.jpg|thumb|left|210pxupright=1.0|''A Última Prece dos Mártires Cristãos'', <small> por [[Jean-Léon Gérôme]], 1883.</small>: Desde o início os cristãos foram sujeitos a várias [[Perseguição aos cristãos|perseguições]].<br><small>[[Jean-Léon Gérôme]], 1883<br>[[Museu de Arte Walters]]</small>]]
 
Os [[bisposbispo]]s da Igreja Pós-Apostólica emergiram como superintendentes das populações urbanas cristãs. Além disso, a igreja formou gradualmente uma [[Episcopado|hierarquia no clero]] que tomou a forma de de ''episkopos'' (bispos), anciãos e [[presbíteros]] ([[Pastor (religião)|pastores]]), além dos [[diáconos]] (servos). Mas isso aconteceu lentamente e em diferentes momentos para diferentes localidades. [[Papa Clemente I|Clemente]], [[Bispo de Roma]], refere-se na sua carta [[I Clemente]] aos líderes da igreja de [[CoríntoCorinto]] como bispos e presbíteros, indistintamente, e também diz que os bispos estão a conduzir o rebanho de Deus para o pastor chefe (presbítero), [[Jesus Cristo]]. Os escritores do [[Novo Testamento]] também usam os termos diáconos, presbíteros e anciãos de forma intercambiável.<ref>Philip Carrington, ''The Early Christian Church'' (2 vol. 1957) [http://www.questia.com/read/13569586?title=The%20Early%20Christian%20Church%20(Vol.%201) online edition vol 1]; [http://www.questia.com/read/23514152?title=The%20Early%20Christian%20Church%20(Vol.%202) online edition vol 2]</ref>
 
Os principais bispos da era pós-apostólica incluem [[Policarpo de Esmirna]], [[Clemente de Roma]] e [[Ireneu de LiãoLyon]]. Esses homens supostamente conheceram e estudaram pessoalmente com os [[apóstolosapóstolo]]s. Por isso eles são chamados de [[Padres Apostólicos]]. Cada comunidade cristã tinha os presbíteros, que eram ordenados e ajudavam o bispo; O cristianismo se difundiu especialmente nas áreas rurais. Os presbíteros exerciam mais responsabilidades dentro das igrejas locais, tomando forma distinta como [[sacerdotessacerdote]]s. Por último, os diáconos também exerciam determinadas funções, tais como cuidar dos pobres e doentes. No século II, uma [[Episcopado|estrutura episcopal]] se torna mais visível. Essa estrutura foi apoiada pela doutrina da [[sucessão apostólica]], onde o bispo se tornava o sucessor espiritual do bispo anterior em uma linha que remontaria aos próprios apóstolos.
 
A diversidade do [[cristianismo primitivo]] pode ser documentada a partir do registro do [[Novo Testamento]]. O livro de [[Atos dos Apóstolos|Atos]] admite conflitos entre [[hebreus]] e [[helenistas]]; e entre cristãos judeus e cristãos [[gentio]]s. As cartas de [[Paulo de Tarso|Paulo]], [[São Pedro|Pedro]], [[São João, o Evangelista|João]], [[Tiago, o Justo|Tiago]] e [[Judas, irmão de Jesus|Judas]] são testemunhos de conflitos de liderança e de teologia na [[Igreja Primitiva]]. Em resposta aos ensinos [[Gnosticismo|gnósticos]], [[Ireneu de LiãoLyon]] criou o primeiro documento que descreve a [[Sucessão apostólica]].<ref name=langan107>Langan, ''The Catholic Tradition'' (1998), p. 107/</ref>
 
==== Primeiros escritos cristãos ====
 
Como a expansão do cristianismo, alguns membros bem-educados que faziam parte do círculos do mundo helenístico vieram a se tornar bispos e líderes da igreja. Eles produziram dois tipos de obras: [[Teologia|teológica]] e [[Apologéticaapologética]]. EsteEstas últimoúltimas eram destinadosdestinadas a defender a fé usando a [[razão]] para refutar os argumentos contra a veracidade do [[cristianismo]]. Esses autores são conhecidos como os [[Padres da Igreja]], e o estudo de suas obras é chamado de [[patrística]]. Entre os notáveis Padrespadres desse período estão [[Inácio de Antioquia]], [[Policarpo de Esmirna]], [[Justino Mártir]] Mártir, [[IrineuIreneu de LiãoLyon]], [[Tertuliano]], [[Clemente de Alexandria]] e [[Orígenes]] de Alexandria]].
 
==== Início da arte ====
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{{AP|Arte paleocristã}}
 
[[Ficheiro:VirgenNino.jpg|thumb|upright=1.0|''A Virgem e o Menino''. <br><small>Pintura do século IV em uma [[catacumba romana]]</small>]]
 
A arte cristã ou [[arte cristãsacra]] surgiu relativamente tarde e as primeiras imagens cristãs conhecidas surgem no ano 200,<ref>"As primeiras imagens cristãs apareceram em algum lugar entre os anos do século II." Andre Grabar, p.7</ref> embora haja algumas evidências literárias que pequenas imagens domésticas eram usadas anteriormente. As mais antigas pinturas cristãs que temos são da época das [[Catacumba romana|catacumbas romanas]]. Já as mais antigas esculturas cristãs são de [[sarcófagos]], que datam do início do século III.<ref name = "Grabar-p7"/> Apesar de muitos [[judeus]] helenistas terem imagens de figuras religiosas no templo, como na [[Sinagoga Dura-Europos]], por exemplo, a proibição mosaica tradicional de fazer qualquer tipo de ''imagem esculpida'' tinha algum efeito, embora nunca tenha sido proclamada pelos teólogos. Esta rejeição inicial de imagens e a necessidade de ocultar a prática cristã da perseguição nos deixa com poucos registros arqueológicos a respeito do cristianismo primitivo e sua evolução.<ref name = "Grabar-p7">Andre Grabar, p7</ref>
 
==== Primeiras heresias ====
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{{Artigo principal|heresias cristãs segundo a Igreja Católica}}
 
O [[Novo Testamento]] fala da importância de manter a [[doutrina]] (ortodoxa) correta e refutar as [[heresias]], mostrando o quão antiga era essa preocupação.<ref>e.g., {{Citar bíblia|livro = 2Coríntios|capítulo = 11|verso = 13|verso final = 15}}; {{Citar bíblia|livro = 2Pedro|capítulo = 2|verso = 1|verso final = 17}}; {{Citar bíblia|livro = 2João|verso = 7|verso final = 11}}; {{Citar bíblia|livro = Judas|verso = 4|verso final = 13}}, e a Epístola de Tiago em geral.</ref> Por causa do alerta bíblico contra os falsos [[profetas]], o [[cristianismo]] sempre se preocupou em manter e ensinar a interpretação ortodoxa da fé. Com efeito, um dos papéis principais dos [[bisposbispo]]s na [[Igreja primitiva]] era determinar e manter importantes crenças corretas, além de refutar as opiniões contrárias conhecidas como heresias. Como não havia diferentes opiniões entre os bispos sobre novas questões, a definição da ortodoxia iria ocupar a Igreja por algum tempo.
 
As primeiras [[Disputas cristológicas|controvérsias]] eram muitas vezes sobre a [[cristologia|natureza cristológica]], isto é, eles estavam relacionados com a [[divindade]] ou a humanidade de [[Jesus]]. O [[docetismo]] declarava que a humanidade de Jesus era apenas uma ilusão, negando assim a encarnação. Já o [[arianismo]] considerava Jesus como um ser que não era eternamente divino - mas que também não era um mero mortal - sendo portanto de menor status do que o [[Deus, o Pai|Pai]].<ref>{{Citar bíblia|livro = João|capítulo = 14|verso = 28}}</ref> O [[Trindade (cristianismo)|trinitarianismo]] declarou que o Pai, o Filho e o [[Espírito Santo]] formavam um ser com três pessoas. Além disso, Cristo possuía uma dupla natureza, conhecida pelos teólogos como [[união hipostática]]. Muitos grupos mantinham [[Maniqueísmo|crenças dualistas]], sustentando que a realidade era composta de duas partes radicalmente opostas: a matéria, vista como mal, e o espírito, visto como bom. Tais visões deram origem a algumas [[Gnosticismo|teologias da encarnação]], que foram declaradas heréticas. A maioria dos estudiosos concorda que a [[Bíblia]] ensina que tanto o mundo material quanto o mundo espiritual foram criados por Deus, sendo portanto bons.<ref>R. Gerberding and J. H. Moran Cruz, ''Medieval Worlds'' (New York: Houghton Mifflin Company, 2004) p. 58</ref>
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[[Ficheiro:P46.jpg|thumb|esquerda|170|A folha de P46, um das primeiras coleções do século III das [[epístolas paulinas]].]]
 
O [[cânon bíblico]] é o conjunto de livros que os [[cristãos]] consideram como divinamente [[Inspiração (teologia)|inspirada]], formando assim a [[Bíblia|Bíblia cristã]]. Embora a [[Igreja Primitiva]] usasse o [[Antigo Testamento]] de acordo com o cânon da [[Septuaginta|Septuaginta (LXX)]], ao escrever os seus textos os [[apóstolosapóstolo]]s não pretendiam criar um conjunto definido de novas Escrituras, mesmo eles reconhecendo que seus escritos eram divinamente inspirados; O [[Novo Testamento]] foi escrito e reunido ao longo dos anos.
 
O processo de canonização do [[Novo Testamento]] foi complexo e demorado. Caracterizou-se por uma coletânea de livros que a tradição apostólica considerou autoritária no culto e no ensino, além de serem relevantes para as situações históricas em que viviam, e em consonância com o Antigo Testamento. Contrário à crença popular, o cânon do Novo Testamento não foi sumariamente decidido em reuniões do Conselho grande igreja, mas sim desenvolvido ao longo de muitos séculos.
 
Os escritos dos apóstolos circularam entre as primeiras comunidades cristãs. As [[Epístolas paulinas|epístolas de Paulo]] estavam circulando em forma de textos coletados no final do [[Século I|primeiro século dC]]. [[Justino Mártir]], no século II, menciona as ''memórias dos apóstolos'', que os cristãos chamam de [[evangelhos]] e que foram considerados em pé de igualdade com o Antigo Testamento.<ref>Everett Ferguson, "Factors leading to the Selection and Closure of the New Testament Canon", em ''The Canon Debate''. eds. L. M. McDonald & J. A. Sanders (Hendrickson, 2002) pp. 302–303; cf. Justin Martyr, ''[[First Apology]]'' 67.3</ref> Um cânone contendo os quatro evangelhos (o ''Tetramorph'') já estava circulando na igreja no tempo de [[Ireneu de Lião|IrineuLyon]] em 160.<ref>Everett Ferguson, "Factors leading to the Selection and Closure of the New Testament Canon", em ''The Canon Debate''. eds. L. M. McDonald & J. A. Sanders (Hendrickson, 2002) pp. 301; cf. Irenaeus, ''[[On the Detection and Overthrow of the So-Called Gnosis|Adversus Haereses]]'' 3.11.8</ref> No início do século III, [[Orígenes de Alexandria]] talvez tenha usado os mesmos 27 livros que compõem o Novo Testamento moderno, mas ainda havia disputas sobre a canonicidade de [[Epístola aos Hebreus|Hebreus]], [[Epístola de Tiago|Tiago]], [[II Pedro]], [[Segunda Epístola de João|II]] e [[Terceira Epístola de João|III João]] e [[Apocalipse]].<ref>Ambos pontos tomados de Mark A. Noll's ''Turning Points'', (Baker Academic, 1997) pp. 36–37</ref> Essas obras que foram questionadas sobre sua autenticidade são chamadas ''"[[antilegomena]]"''. Em contraste, os escritos que foram aceitos universalmente pela igreja desde meados do século II e que compõe hoje a maior parte do Novo Testamento são denominadas ''homologoumena''.<ref>''The Cambridge History of the Bible'' (volume 1) eds. P. R. Ackroyd and C. F. Evans (Cambridge University Press, 1970) p. 308</ref> Da mesma forma, o [[Cânone Muratori|fragmento de Muratori]] mostra que em 200 já existia um conjunto de escritos cristãos semelhante ao Novo Testamento atual.<ref>H. J. De Jonge, "The New Testament Canon", em ''The Biblical Canons''. eds. de Jonge & J. M. Auwers (Leuven University Press, 2003) p. 315</ref>
 
Em sua carta de Páscoa de 367, [[Atanásio de Alexandria|Atanásio, bispo de Alexandria]], escreveu a primeira lista com os 27 que viriam a formar o Novo Testamento canônico.<ref name = "Lingberg-2006">{{citar livro|título=A Brief History of Christianity|nome=Carter|sobrenome=Lindberg| página=15|ano=2006|editora=Blackwell Publishing|isbn=1405110783}}</ref> O [[SínodoConcílio de Hipona]] em 393 aprovou o Novo Testamento tal como conhecemos hoje, juntamente com os livros da [[Septuaginta]], uma decisão que foi repetida pelos [[Concílio de Cartago|Conselhos de Cartago]] em 397 e em 419.<ref>McDonald & Sanders' ''The Canon Debate'', 2002, Appendix D-2, note 19: "O [[Apocalipse]] foi adicionado posteriormente em 419 em um sínodo subsequente de Cartago."</ref> Esses conselhos foram liderados por [[Santo Agostinho de Hipona]], que considerava o cânone como algo já fechado.<ref>Everett Ferguson, "Factors leading to the Selection and Closure of the New Testament Canon", em ''The Canon Debate''. eds. L. M. McDonald & J. A. Sanders (Hendrickson, 2002) p. 320; F. F. Bruce, ''The Canon of Scripture'' (Intervarsity Press, 1988) p. 230; cf. Agostinho, ''De Civitate Dei'' 22.8</ref> Da mesma forma, o [[Papa Dâmaso I]] comissionou [[Jerônimo]] de Estridão|Jerônimo]] a fim de organizar a edição Latina da [[Vulgata]] em 383, o que foi algo fundamental para a fixação do cânon do [[Ocidente]].<ref>F. F. Bruce, ''The Canon of Scripture'' (Intervarsity Press, 1988) p. 225</ref> Em 405, o papa [[Papa Inocêncio I|Inocêncio I]] mandou uma lista dos livros sagrados para Exuperius, um bispo gaulês.
 
Quando esses bispos e concílios discutiram sobre o assunto, no entanto, eles não estavam definindo algo novo, mas sim "estavam ratificando o que já havia se tornado a mente da Igreja."<ref>Everett Ferguson, "Factors leading to the Selection and Closure of the New Testament Canon", em ''The Canon Debate''. eds. L. M. McDonald & J. A. Sanders (Hendrickson, 2002) p. 320; Bruce Metzger, ''The Canon of the New Testament: Its Origins, Development, and Significance'' (Oxford: Clarendon, 1987) pp. 237–238; F. F. Bruce, ''The Canon of Scripture'' (Intervarsity Press, 1988) p. 97</ref> Assim, por volta do século IV, existia uma unanimidade no [[Ocidente]] sobre o cânon do Novo Testamento;<ref>F. F. Bruce, ''The Canon of Scripture'' (Intervarsity Press, 1988) p. 215</ref> O [[Oriente]], com poucas exceções, havia entrado em harmonia sobre a questão do canôn por volta do século V.<ref>''The Cambridge History of the Bible'' (volume 1) eds. P. R. Ackroyd and C. F. Evans (Cambridge University Press, 1970) p. 305''</ref> A única resistência estava relacionada ao livro do Apocalipse. Não obstante, um articulação dogmática completa do cânon não foi feito até 1546 no [[Concílio de Trento]] para o [[catolicismo romano]];<ref>Catholic Encyclopedia, ''[http://www.newadvent.org/cathen/03274a.htm Canon of the New Testament]''</ref> e em 1563 nos [[Trinta e Nove Artigos de Religião|Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra]]; em 1647 na [[Confissão de Fé de Westminster]] para o [[calvinismo]]; e finalmente em 1672 no [[Sínodo de Jerusalém]] para ortodoxia grega.
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| image1 = Constantine Musei Capitolini.jpg
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| caption1 = [[Constantino I]], estátua nos [[Museus Capitolinos]]
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| caption2 =[[Ícone]] retratando o imperador [[Constantino I]] (centro) e os bispos do [[Primeiro Concílio de Niceia]] (325) segurando a versão litúrgica do [[Credo niceno-constantinopolitano]] de 381
}}
 
[[Galério]] que havia sido uma das principais figuras na perseguição, em 311 [[Édito de Tolerância de Galério|emitiu um édito]] que acabou com a perseguição de Diocleciano ao cristianismo.<ref name="PersecutionEnded">Lactantius,[http://www.ucalgary.ca/~vandersp/Courses/texts/lactant/lactpers.html#XXXIV ''De Mortibus Persecutorum''] "On the Deaths of the Persecutors" ch. 35–34</ref> O édito foi proclamado de má vontade pelo imperador no seu leito de morte.<ref name="História do Cristianismo">SHELLEY, Bruce. ''História do Cristianismo ao Alcance de Todos''. São Paulo: Shedd, 2004</ref> Após a suspensão da perseguição aos cristãos, Galério reinou por mais dois anos. Ele então foi sucedido por um imperador com forte inclinção ao cristianismo, [[Constantino I|Constantino]], o Grande]].
 
Constantino I, o novo imperador foi apresentado ao cristianismo por meio de sua mãe, [[Helena de Constantinopla|Helena]].<ref name="H. Moran Cruz 2004 p. 55">R. Gerberding and J. H. Moran Cruz, ''Medieval Worlds'' (New York: Houghton Mifflin Company, 2004) p. 55</ref> Na [[Batalha da Ponte Mílvia]], em 28 de outubro de 312, Constantino ordenou que suas tropas pintassem uma cruz nos escudos dos soldados, de acordo com uma visão que tivera na noite anterior. De acordo com a [[Tradição católica|tradição]], Constantino teve uma visão enquanto olhava para o sol que se punha. As [[Alfabeto grego|letras gregas]] XP (Chi-Rho, as primeiras duas letras de ???st??, ''Cristo'') entrelaçadas com uma cruz apareceram-lhe enfeitando o sol, juntamente com a inscrição em [[latim]] ''In Hoc Signo Vinces'' — ''Sob este signo vencerás''. Depois de vencer a batalha com uma vitória esmagadora sobre seus inimigos, Constantino foi capaz de reivindicar o controle da parte [[Império Romano do Ocidente|Ocidental do Império]].<ref>R. Gerberding and J. H. Moran Cruz, ''Medieval Worlds'' (New York: Houghton Mifflin Company, 2004) p. 55; cf. Eusebius, ''Life of Constantine''</ref>
 
Constantino legitimou o cristianismo mas não o tornou à religião oficial do [[Império Romano]]. As [[Moeda da Roma Antiga|moedas romanas]], por exemplo, que foram cunhadas oito anos após a batalha ainda tinha as imagens dos [[Mitologia romana|deuses romanos]].<ref name="H. Moran Cruz 2004 p. 55"/> No entanto, a adesão de Constantino foi um ponto decisivo para a Igreja cristã. Após sua vitória, Constantino apoiou financeiramente a Igreja, construindo basílicas suntuosas e concedendo vários privilégios para o [[clero]], como a isenção de impostos que os Sacerdotessacerdotes Pagãospagãos possuíam. O imperador ainda devolveu bens confiscados durante a perseguição de [[Diocleciano]],<ref>R. Gerberding and J. H. Moran Cruz, ''Medieval Worlds'' (New York: Houghton Mifflin Company, 2004) pp. 55–56</ref> aboliu a execução realizada por meio de [[crucificação]], pôs fim às batalhas dos [[gladiadores]] como punição para crimes e instituiu o [[domingo]] como feriado.<ref name="História do Cristianismo"/> Entre 324 e 330, Constantino construiu uma nova capital imperial praticamente do zero. A cidade veio a ter o seu nome: [[Constantinopla]]. Ela tinha a arquitetura cristã, várias igrejas contidas dentro da muralha da cidade e não tinha templos pagãos.<ref>R. Gerberding and J. H. Moran Cruz, ''Medieval Worlds'' (New York: Houghton Mifflin Company, 2004) p. 56</ref> De acordo com a [[Tradição católica|tradição]], Constantino foi batizado em seu leito de morte.
 
O imperador também desempenhou um papel ativo na liderança da Igreja. Em 316, ele atuou como juiz em uma disputa que ocorreu no norte africano sobre o [[donatismo]]. Mais significativamente, em [[325]] convocou o [[Primeiro Concílio de Niceia|Concílio de Niceia]], o primeiro [[Concílios ecuménicos católicos|concílio ecumênico]], para lidar principalmente com a [[controvérsia ariana]]. O concílio também emitiu o [[Credo Niceno]]. Dessa forma, Constantino estabeleceu um precedente para o imperador, que seria responsável perante [[Deus, o Pai|Deus]] pela saúde espiritual de seus súditos, tendo o dever de manter a ortodoxia. O imperador iria impor a [[doutrina]], erradicar a [[heresia]], e defender a unidade [[Eclesiologia|eclesiástica]].<ref>Richards, Jeffrey. ''The Popes and the Papacy in the Early Middle Ages 476–752'' (London: Routledge & Kegan Paul, 1979) pp. 14–15</ref>
 
Filho do sucessor de Constantino, conhecido como [[Juliano, o Apóstata(imperador)|Juliano]], foi um [[Filosofia|filósofo]] que ao se tornar imperador, renunciou ao [[cristianismo]] e adotou uma forma mística de [[neoplatonismo]] e de [[paganismo]], que se chocava com a [[Criacionismo|criação cristã]]. Juliano começou a reabrir os templos pagãos, começando assim uma disputa de fiéis entre [[Cristianismo e Paganismopaganismo|cristãos e pagãos]]. Depois, com a intenção de restabelecer o prestígio das [[Paganismo|crenças pagãs]], ele as modificou, assemelhando-as as tradições cristãs, como a [[episcopado|estrutura episcopal]] e a [[caridade]] pública ([[filantropia]]) até então desconhecida na [[Religião na Roma Antiga|religião romana]]. O curto reinado de Juliano acabou com sua morte, enquanto fazia campanha no [[Oriente]].
 
Mais tarde os [[Padres da Igreja]] escreveram volumosos textos teológicos, inclusive [[Agostinho de Hipona]], [[Gregório de Nazianzo]], [[Cirilo de Jerusalém]], [[Ambrósio de Milão]], [[Jerónimo]] de Estridão|Jerônimo]], entre outros. Alguns destes pais, tais como [[São João Crisóstomo|João Crisóstomo]] e [[Santo Atanásio]], sofreram [[exílio]], [[Perseguição aos cristãos|perseguição]], ou o [[Mártir|martírio]] dos [[imperadores bizantinos]].
 
=== Concílios ecumênicos ===
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{{AP|[[Concílio ecuménico#Da Igreja Católica|Concílios ecuménicos cristãos]]}}
 
Durante esta época, vários [[Concílios ecuménicos católicos|concílios ecumênicos]] foram convocados. O principal assunto debatido eram as [[disputas cristológicas]]. O [[Primeiro Concílio de Niceia|primeiro]] (325) e o [[Primeiro Concílio de Constantinopla|segundo]] (381) condenaram os [[Controvérsia ariana|ensinamentos da heresia ariana]], produzindo assim o [[Credo niceno-constantinopolitano]]. O [[Concílio de Éfeso]] condenou o [[nestorianismo]] e afirmava ser [[Theotokos|Maria Theotokos]] (''portadora de Deus'' ou ''Mãe de Deus''). O [[Concílio de Calcedônia]] afirmou que [[Cristologia|Cristo tinha duas naturezas]]: era plenamente Deus e plenamente homem, ambas distintas, mas sempre em perfeita união. Assim, condenou o [[monofisismo]]. Esse Concílio serviu para refutar também o [[monotelismo]]. No entanto, nem todos os grupos aceitaram os termos aceitos nesses [[debate]]s. Os [[nestorianismo|nestorianos]] e a [[Igreja Assíria do Oriente]], por exemplo, se dividiram sobre o [[Primeiro Concílio de Éfeso|Concílio de Éfeso]] em 431; e a [[Igreja Ortodoxa|Ortodoxia Oriental]] se dividiu sobre o [[Concílio de Calcedónia]] de 451.
 
=== Cristianismo como religião oficial do estado romano ===
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[[Ficheiro:Spread of Christianity in Europe to AD 600.png|thumb|direita|float|250px| {{legend|#FFC96A|Alcance do cristianismo no ano 325}} {{legend|#FFF88B|Alcance do cristianismo no ano 600}}]]
 
Em 27 de fevereiro de 380, o imperador [[Teodósio I]] assinaassinou o [[Édito de Tessalónica]], adotando o [[cristianismo]] [[Primeiro Concílio de Niceia|niceno]] como religião oficial do [[Império Romano]]. Antes disso, [[Constâncio II]] (337-361) e [[Valente (imperador)|Flávio Júlio Valente]] (364-378) tinham pessoalmente favorecido o [[arianismo]] ou outras formas de cristianismo [[Semi-arianismoSemiarianismo|semi-arianosemiariano]], mas [[Arcádio]], sucessor de Teodósio I, apoiou a doutrina trinitariana como foi exposta no [[Primeiro Concílio de Niceia]] (sob Constantino) e reafirmada no [[Primeiro Concílio de Constantinopla]] (sob Teodódsio).
 
No seu Édito, Teodósio I reservou o título de "cristãos católicos" para os crentes "na divindade única do Pai, do Filho e do Espírito Santo sob o conceito de igual majestade e da piedosa Trindade", e declarou de considerar os outros "dementes e loucos sobre os quais pesará a infâmia da [[heresia]]".<ref>[http://droitromain.upmf-grenoble.fr/Constitutiones/CTh16.html#1 Édito de Tesalónica ''Cunctos populos'']</ref><ref>[http://www.fordham.edu/halsall/source/theodcodeXVI.html tradução inglesa do Édito]</ref>
 
Em 385, numa parte do [[Império Romano do Ocidente]], regida por [[Magno Máximo]], não Teodósio, o bispo [[Prisciliano]], que tinha sido excomungado por heresia, foi condenado e executado por um tribunal civil pelo crime civil de feitiçaria, ação que provocou protestas de [[Papa Sirício]], [[Ambrósio]] e [[Martinho de Tours]].<ref>[http://books.google.com/books?id=kBtYocbJq6MC&pg=PA27&dq=Priscillian&hl=en&sa=X&ei=wi9OVMPyPM-V7AbfxIDICg&redir_esc=y#v=onepage&q=Priscillian&f=false Philip Hughes, ''History of the Church'', vol. 2 (A&C Black 1979 ISBN 978-0-72207982-9), pp. 27–28]</ref><ref>[http://www.newadvent.org/cathen/12429b.htm Patrick Healy, "Priscillianism" em ''The Catholic Encyclopedia''. Vol. 12. New York: Robert Appleton Company, 1911]</ref> Alguns apresentam isso como primeiro caso de pena capital de um herege,<ref name = "HereticsExecuted">{{citar web | ano = 2009 | url = http://www.historyguide.org/ancient/lecture27b.html | título= Lecture 27: Heretics, Heresies and the Church}}</ref> outros como primeiro exemplo de intervenção da justiça secular numa questão eclesiástica.<ref>[http://www.brown.edu/Departments/Portuguese_Brazilian_Studies/ejph/html/issue8/html/ajorge_main.html Jorge, Ana. "The Lusitanian Episcopate in the 4th Century: Priscilian of Ávila and the Tensions Between Bishops", e-JPH, Vol.4, number 2, Winter 2006, ISSN 1645-6432]</ref>
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Após sua criação, a Igreja dentro do Império Romano adotou na organização os limites das províncias civis: o bispo da capital de cada província (o [[metropolita]]) tinha certa autoridade sobre os outros bispos da província<ref>''Oxford Dictionary of the Christian Church'' (Oxford University Press 2005 ISBN 978-0-19-280290-3), s.v. ''metropolitan''</ref> O Primeiro Concílio de Niceia reconheceu também a autoridade super-metropolitana dos bispos de [[Papa|Roma]], [[Patriarca de Alexandria|Alexandria]] e [[Patriarca de Antioquia|Antioquia]].<ref>Cânon 6 entre as decisiões do Primeiro Concílio de Niceia: [http://www.earlychurchtexts.com/main/nicaea/canons_of_nicaea_01.shtml texto original com tradução em latim], [http://www.intratext.com/IXT/ENG0425/ em inglês], [http://www.intratext.com/IXT/ITA0141/ em italiano]</ref>
 
Em [[381]], realizou-se realizou em [[Constantinopla]] (desde [[330]] capital do Impérioimpério) um [[Primeiro Concílio de Constantinopla|concílio]], mais tarde reconhecido como ecumênico, que decretou no seu terceiro cânon: "O Bispo de Constantinopla, no entanto, deve ter a prerrogativa de honra, após o Bispo de Roma, porque Constantinopla é a nova Roma". Não lhe designou nenhuma área sobre a qual exercer autoridade super-metropolitana: pelo contrário, declarou no seu cânon 2 que cada [[diocese#Império Romano]] deve administrar os próprios assuntos. Deu-lhe a precedência sobre os bispos de Alexandria e Antioquia, mas não sobre o bispo romano.<ref>{{citar web | url=http://www.earlychurchtexts.com/main/constantinople/canons_of_constantinople.shtml | título=Cânones do Primeiro Concílio de Constantinopla, texto original com tradução em latim }} [http://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf214.ix.viii.iv.html em inglês]</ref> O [[Concílio de Éfeso]] ([[431]]) estendeu o poder de Jerusalém ao longo das três províncias da [[Palestina]], e o [[Concílio de Calcedônia]] ([[451]]) reconheceu no cânone 28 a jurisdição do bispo de Constantinopla sobre [[Ponto (província romana)|Ponto]], [[Ásia menor]] e a [[Trácia]].<ref>[http://books.google.com/books?id=XgRrh2M08p0C&printsec=frontcover#PPA95,M1 The Challenge of Our Past: Studies in Orthodox Canon Law and Church History, by John H. Erickson (St Vladimir's Seminary Press, 1991 ISBN 0881410861, 9780881410860), p. 96–97]</ref>
 
O imperador [[Justiniano I]] (527-565) por primeiro restringiu o título de "patriarca" para designar exclusivamente os bispos de Roma, Constantinopla, Alejandria, Antioquia e Jerusalém: especificou as funções e a liderança de estes cinco patriarcas e teve um papel decisivo na formulação da [[Pentarquia]].<ref>[http://www.timelineindex.com/content/view/1318 Justinian I, Last Roman Emperor]</ref> adoptada depois pelo [[Concílio Quinissexto]] de [[692]].<ref>[http://www.britannica.com/eb/article-9059117/pentarchy ''Encyclopaedia Britannica'': "Pentarchy"]</ref>
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{{Artigo principal|Cristandade gótica|Arianismo}}
 
[[Ficheiro:Constantine burning Arian books.jpg|thumb|direita|165px|''[[Constantino I]] queimando livros do presbítero [[Ário]],''<br><small>Ilustração ilustração deem um livro de [[direito canónico]] de 825</small>]]
 
A perspectiva [[cristologia|cristológica]] popular do século IV foi o [[arianismo]], defendida pelo presbítero egípcio [[Ário]]. Embora esse ponto de vista tivesse sido condenado pela [[Igreja Católica|Igreja romana imperial]], manteve-se popular no Impérioimpério durante algum tempo. No quarto século [[Ulfilas]], bispo romano e adepto do arianismo, foi nomeado o primeiro bispo dos [[godos]]: [[Germanos|povos germânicos]] que habitavam grande parte da [[Europa]] nas fronteiras do [[Império Romano|Império]]. Ulfilas propagou a visão cristã-ariana entre os godos, estabelecendo firmemente a [[fé]] entre muitas das [[Tribos germânicas orientais|tribos germânicas]].<ref name="Padberg 1998, 26">Padberg 1998, 26</ref> Como a Igreja Romana tornou-se cada vez mais antiariana, o [[arianismo]] foi visto por muitos godos como a característica de sua fé que os separava dos [[Igreja Católica|romanos]].
 
=== Monasticismo ===
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{{AP|Iconoclastia}}
 
[[Imagem:Andrej Rublëv 001.jpg|thumb|esquerda|170pxupright=1.0|''[[Trindade (cristianismo)|Santíssima Trindade|Trindade]]''<br><small> por [[Andrei Rublev]], nac. 1400<br>[[Galeria Tretyakov]]</small>]]
 
Após uma série de reveses militares pesados contra os [[muçulmanosmuçulmano]]s, a [[iconoclastia]] surgiu no início do {{séc|VIII}}. Em 720, o imperador bizantino {{Lknb|Leão|III, o Isauro}} proibiu a representação [[imagem|pictórica]] de [[Cristo]], [[santos]] e cenas bíblicas.
 
No Ocidente, o [[Papa Gregório III]] realizou dois sínodos em Roma e condenou as ações de Leão III. O [[Império Bizantino]], convocou o [[Concílio de Hieria|concílio iconoclasta de Hieria]] em 754, declarando que os retratos dos santos eram [[heresia|heréticos]].<ref>Epitome, Iconoclast Council at Hieria, 754</ref> O movimento destruiu grande parte da das representações artísticas cristãs da [[Cristianismo Primitivo|igreja primitiva]]. O movimento iconoclasta foi definido como herético em 787 no [[Segundo Concílio de Niceia]], mas conseguiu um breve ressurgimento entre 815 e 842.
Linha 251:
{{AP|Renascença carolíngia}}
 
A [[Renascença carolíngia]] foi um período de renascimento cultural e intelectual da literatura, das artes e dos estudos das escrituras durante o final do século VIII até o século IX, principalmente durante o reinado de [[Carlos Magno]] e [[Luís I, o Piedoso]], que eram governantes [[francos]]. Para resolver os problemas do [[analfabetismo]] do [[clero]] e dos [[escribasescriba]]s da corte, Carlos Magno fundou escolas e atraiu a maioria dos sábios de toda a [[Europa]] para a sua corte.
 
=== Reforma Monásticamonástica ===
 
[[Ficheiro:Clocher abbaye cluny 2s.jpg|thumb|left|120px|Vista da [[Abadia de Cluny]].]]
Linha 269:
[[Ficheiro:Bernhard von Clairvaux (Initiale-B).jpg|thumb|[[Bernardo de Claraval]] em um manuscrito medieval.]]
 
A segunda onda de reformas monásticas veio com o [[Ordem de Cister|Movimento de Cister]]. Os primeiros cistercienses fundaram uma [[abadia]] em 1098, que ficou conhecida como [[Abadia de Cister]]. A tônica da vida cisterciense foi um retorno à observância literal das [[Ordem de São Bento|regras beneditinas]], rejeitando a evolução dos beneditinos. A característica mais marcante da reforma foi o retorno ao trabalho manual, especialmente o trabalho de campo. Inspirados por [[Bernardo de Claraval]], o principal construtor dos cistercienses, a ordem se tornou a principal força de difusão tecnológica da [[Europa medieval]] (''ver: [[Tecnologia medieval]]''). Até o final do século XII, as casas cistercienses chegavam a 500. No seu auge, no fim do [[século {{séc|XV]]}}, alegou-ser ter perto de 750 casas. A maioria delas foram construídas em áreas de deserto, e desempenharam um papel importante em trazer tais peças isoladas da Europa para o cultivo econômico.
 
=== Ordens mendicantes ===
Linha 275:
{{artigo principal|[[Ordens mendicantes]]}}
 
Um terceiro nível da reforma monástica foi fornecida pelo estabelecimento das [[Ordens mendicantes]]. Vulgarmente conhecido como [[frades]], mendigos vivem sob uma regra monástica tradicional com os [[Castidade|votos de castidade]], pobreza e obediência. Entretanto, eles enfatizam a pregação, a atividade missionária e a educação em um monastério isolado. A partir do [[século {{séc|XII]]}}, a [[Ordem dos Frades Menores|ordem franciscana]] foi instituída pelos seguidores de [[Francisco de Assis|São Francisco de Assis]]. Posteriormente, a [[Ordem dos Pregadores|ordem dos dominicanos]] foi iniciada por [[São Domingos de Gusmão]].
 
{{Referências|Notas e referências|col=2}}