Mauritânia: diferenças entre revisões

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m fonte CIA atualizado o acesso hoje 28-11-2017 / {{cite web alterado para {{citar web
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|gentílico = Mauritano(a)
|localização = Mauritania (orthographic projection).svg
|latitudecapital = [[Nuaquexote]]
|localização_legenda =
|capital maior_cidade = [[Nouakchott]]Nuaquexote
|latitude =
|longitude =
|maior_cidade = Nouakchott
|língua_oficial = [[Língua árabe|Árabe]] (''[[de jure]]'') e [[Língua francesa|francês]] (''[[de facto]]'')
|tipo_governo = [[Semipresidencialismo|República semipresidencialista]]<br>[[República islâmica]]{{Smallsup|1}}
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|rodapé = ¹Não reconhecida internacionalmente. Os líderes depostos, o Presidente, [[Sidi Ould Cheikh Abdallahi]], e o Primeiro-Ministro, Yahya Ould Ahmed El Waghef, deixaram de ter poder desde que foram presos por forças militares.
}}
A '''Mauritânia''' ({{lang-ar|موريتانيا}}; [[Transliteração|transl.]] ''Mūrītānyā''; em [[Línguas berberes|berber]]: ''Muritanya'' ou ''Agawej''; em [[Língua wolofuolofe|uólofe]]: ''Gànnaar''; em [[Língua soninquê|soninquês]]: ''Murutaane''; em [[Língua pulaar|pulaar]]: ''Moritani''; {{lang-fr|''Mauritanie''}}, {{IPA-tudo|moʁitani|pronunciado:}}), oficialmente '''[[República Islâmica]] da Mauritânia''' (em árabe: الجمهورية الإسلامية الموريتانية, translit.: ''al-Jumhūriyyah al-ʾIslāmiyyah al-Mūrītāniyyah'') é um [[país]] situado no noroeste da [[África]]. Situa-se na região do [[deserto do Saara]], e faz fronteira com o [[oceano Atlântico]] a oeste, com o [[Senegal]] a sudoeste, com o [[Mali]] a leste e sudeste, com a [[Argélia]] a nordeste e com o [[Marrocos]] a noroeste. Recebeu o nome da antiga [[província romana]] da [[Mauritânia (Antiguidade)|Mauritânia]], que posteriormente batizou um reino [[Berberes|berbere]] da região. A [[capital]] e maior cidade é [[NouakchottNuaquexote]] (Nuaquechote), localizada na costa do Atlântico.
 
== História ==
{{Artigo principalAP|[[História da Mauritânia]]}}
 
Do [[século {{séc|V]]}} ao [[século VII]], a [[migração humana|migração]] de [[tribo]]s [[berberes]] do [[Norte da África]] expulsou da região os [[bafourbafures]]s, habitantes originais da atual Mauritânia, ancestrais dos [[soninquês]]. Os bafoursbafures eram primordialmente [[Agricultura|agricultores]], e estavam entre os primeiros povos do [[deserto do Saara|Saara]] a abandonar o seu estilo de vida tradicionalmente [[Nomadismo|nômade]]. Com o gradual processo de [[desertificação]] da região, migraram para o sul. Seguiu-se uma migração em massa do povo que habitava a região do Saara Central para a [[África Ocidental]], até que em [[1076]] [[monge]]s-guerreiros [[Islão|islâmicos]] ([[almorávidas]]) atacaram e conquistaram o antigo [[Império do Gana]], e assumiram o controle da região. Pelos próximos 500 anos os [[árabes]] foram a casta dominante da sociedade local, enfrentando resistência feroz da população local (tanto berberes quanto não-berberes), da qual a [[Guerra de Char Bubá]] (1644-1674) foi o esforço derradeiro e malsucedido. Esta guerra colocou a população da Mauritânia contra invasores árabes da tribo [[maquil]], vindos do [[Iêmen]], liderados pela tribo dos [[Beni HassanHaçane]]. Os descendentes desta tribo tornaram-se a ''[[{{ilc|haçanes||hassane]]''}}, camada mais alta da sociedade [[Mouros|moura]]. Os berberes mantiveram sua influência por terem a maior parte dos [[marabuto]]s - indivíduos que preservam e ensinam a tradição islâmica. Muitas das tribos berberes alegam origem iemenita (ou árabe em geral), porém há pouca evidência que comprove o fato, embora existam estudos que façam uma ligação entre os dois povos.<ref>{{citar periódico|autor =Chaabani H |coautor=Sanchez-Mazas A, Sallami SF |ano=2000 |título=Genetic differentiation of Yemeni people according to rhesus and Gm polymorphisms |periódico=[[Annales de Génétique]] |volume=43 |número=3-4 |páginas=155-62 |pmid=11164198 |acessodata= 2008-08-06}}</ref> O ''[[hassaniya]]'', um [[dialeto árabe]] influenciado pelo [[Língua berbere|berbere]], cujo nome é derivado de [[Beni Hassan]]Haçane, tornou-se o idioma dominante entre a população nômade da época.
 
A colonização francesa gradualmente absorveu os territórios da atual Mauritânia e [[Senegal]] a partir do início do [[século {{séc|XIX]]}}. Em [[1901]] o [[militar]] [[França|francês]] [[Xavier Coppolani]] assumiu o controle da missão colonial. Através de uma combinação de alianças estratégicas com as tribos [[zawiyazauias]] e pressão militar sobre os guerreiros nômades ''hassane''haçanes, Coppolani conseguiu ampliar o domínio francês por todos os [[emirado]]s mauritanos: [[Trarza]], [[Brakna]] e [[Tagant]] rapidamente se submeteram a tratados com os poderes coloniais (1903-1904), porém o emirado[[Emirado de [[Adrar]], situado ao norte, resistiu por mais tempo, auxiliado pela rebelião anticolonial (''[[jihadjiade]]'') do [[xequexeique]] [[Maa al-Aynayn]]. Foi derrotado militarmente em [[1912]], e incorporado ao território da Mauritânia, que havia sido estabelecido em 1904. A Mauritânia passaria a fazer parte da [[África Ocidental Francesa]] a partir de [[1920]].
 
A dominação francesa trouxe proibições legais contra a [[escravidão]], e pôs um fim às guerras entre os diferentes [[clã]]s. Durante o período colonial a população continuou nômade, porém diversos povos sedentários, cujos ancestrais haviam sido expulsos séculos atrás, começaram a retornar aos poucos à Mauritânia. Quando o país obteve sua [[independência]], em [[1960]], e a [[capital]] [[NouakchottNuaquexote]] foi fundada, no local duma pequena [[aldeia]] colonial, Ksar, 90% ainda era nômade. Com a independência, muitas populações indígenas da [[África subsaariana]], como os [[haalpulaartuculores]], [[soninquês]], e [[wolofuolofes]], entraram na Mauritânia, movendo-se para a área ao norte do [[rio Senegal]]. Educados no [[Língua francesa|idioma]] e nos costumes franceses, muitos destes recém-chegados tornaram-se funcionários, soldados e administradores do novo estado. Este fato, em conjunto com a opressão militar dos franceses, especialmente contra tribos ''hassane''haçanes mais intransigentes, do norte do país, predominantemente mouro, afetou os antigos equilíbrios de poder, e criou novos motivos para conflito entre as populações subsaarianas do sul do país e os mouros e berberes do norte. Entre estes grupos estavam os ''[[haratin]]'', uma enorme população de escravos arabizados, devidamente inseridos na sociedade moura, e integrados numa casta inferior. A escravidão é até hoje em dia uma prática comum no país, embora ilegal.<ref>Ver o relato do proprietário de escravos Abdel Nasser Ould Yasser em ''Enslaved, True stories of Modern Day Slavery'', editado por Jesse Sage e Liora Kasten</ref>
 
Os mouros reagiram a estas mudanças, e aos apelos dos [[Nacionalismo árabe|nacionalistas árabes]] do exterior, através de uma maior pressão para [[Arabização|arabizar]] diversos aspectos da vida mauritana, como as [[lei]]s e o [[idioma]]. Um [[cisma]] acabou por desenvolver-se entre os mouros que consideram a Mauritânia um país árabe, e aqueles que desejam um papel dominante para os povos não-mouros, com diversos modelos para a contenção da diversidade cultural do país tendo sido sugeridos sem que qualquer um deles tenha sido implementado com sucesso. Esta discórdia étnica ficou evidente durante os episódios de violência intercomunitária que eclodiram em abril de [[1989]] ([[Eventos de 1989 na Mauritânia|eventos de 1989]] e [[conflito senegalo-mauritano]]), que já arrefeceram. A tensão étnica e a questão delicada da escravidão - tanto no passado como, em diversas áreas do país, no presente - ainda é um tema de muita força no debate político nacional; porém um número significativo de pessoas de todos os grupos parece procurar uma sociedade mais diversa e pluralista. Foi também um dos últimos países a abolir a escravidão no mundo, somente em 9 de novembro de 1981, pelo decreto n.º 81.234<ref>{{citar web|url=http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1569|titulo=O secular nó cego da Mauritânia: escravidão que persiste|data=|acessodata=|obra=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>.
 
== Geografia ==
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; Religiões : 99.84% [[Islão|muçulmanos]], a maioria [[Sunismo|sunita]]
; Idiomas : Dialeto ''[[hassaniya]]'' do [[Língua árabe|árabe]] (língua oficial e nacional); outros idiomas são falados no país, como [[Língua fula|fula]] (''pulaar''), [[Língua soninquê|soninquê]], [[Língua uólofe|uólofe]] e [[Língua francesa|francês]].
 
=== Cidades mais populosas ===
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A situação [[política]] da Mauritânia sempre foi determinada mais por indivíduos e tribos específicas do que por [[ideologia]]s. A habilidade dos líderes em exercer seu poder político esteve sempre intimamente ligada ao controle dos recursos, à visão comunitária a respeito de sua habilidade e integridade e considerações tribais, étnicas, familiares e pessoais. O conflito entre os chamados "mouros brancos", "mouros negros" (''haratine'') e [[Grupo étnico|grupos étnicos]] não mouros (''haal pulaars'', [[soninquês]], [[uólofes]] e [[bambaras]]), com ênfase no [[idioma]], propriedade de terras e outras questões, continua a ser o principal desafio à unidade nacional.
 
A [[burocracia]] governamental é composta de [[ministério]]s tradicionais, além de agências especiais e companhias [[Paraestatal|paraestatais]]. O [[Ministério do Interior]] comanda um sistema de [[governador]]es e [[prefeito]]s regionais, que seguem o modelo do sistema [[França|francês]] de administração local. Sob este sistema, a Mauritânia se divide em treze regiões (''[[wilayavilaiete]]''s), incluindo o distrito da capital, [[NouakchottNuaquexote]]. O controle está fortemente centralizado no ramo [[Poder Executivo|executivo]] do governo central; no entanto, uma série de eleições nacionais e municipalismunicipais desde [[1992]] já produziram alguma [[descentralização]], ainda que limitada em seu escopo.
 
A Mauritânia, juntamente com o [[Marrocos]], anexou o território vizinho do [[Saara Ocidental]] em [[1976]], capturando o terço sul do país a pedido da antiga potência [[Colonialismo|colonial]], [[Espanha]]. Após diversas derrotas militares na luta contra a resistência local, o [[Polisário]], fortemente armada e apoiada pela [[Argélia]], a Mauritânia foi forçada a recuar em [[1979]] e sua parte foi tomada pelo Marrocos. Devido à sua economia enfraquecida, a Mauritânia tem tido um papel pouco significante nas discussões sobre as disputas territoriais daquele país e sua posição oficial é de que ela deseja uma solução rápida que seja aceita unanimamenteunanimemente por todas as partes envolvidas. Enquanto o antigo Saara Espanhol ou Ocidental acabou sendo incorporado ao Marrocos, a [[Organização das Nações Unidas]] ainda o considera um território que precisa expressar seus desejos a respeito da sua soberania e planeja um futuro [[referendo]] a este respeito.
 
O Ministro do Exterior da Mauritânia Ahmed Sid’Ahmed e seu equivalente [[israel]]ense [[David Levy (político israelense)|David Levy]] assinaram um acordo em [[Washington, DC]], nos [[Estados Unidos]], em [[28 de outubro]] de [[1999]], estabelecendo as relações diplomáticas entre os dois países, na presença da secretária de estado estadunidense [[Madeleine Albright]]. A Mauritânia se juntou ao [[Egito]] e à [[Jordânia]] como únicos membros da [[Liga Árabe]] a ter [[embaixador]]es em Israel.
 
Em [[31 de janeiro]] de [[2008]], o representante permanente da [[Armênia|República da Armênia]] nas Nações Unidas, Armen Martirosyan, assinou um [[protocolo]] com Abderahim Ould Hadrami, representante da Mauritânia, estabelecendo as relações diplomáticas entre os dois países.
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== Subdivisões ==
{{Artigo principalAP|[[Subdivisõesubdivisões da Mauritânia]]}}
 
A Mauritânia está dividida em doze [[região|regiões]] (''régions'') e um [[distrito capital]], que por sua vez está subdividido em 44 [[Lista de departamentos da Mauritânia|departamentos]] (''département''). As regiões, o distrito capital (em ordem alfabética), juntamente com suas [[Capital|capitais]], são:
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| [[Inchiri]] || [[Akjoujt]]
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|colspan="2"| [[NouakchottNuaquexote]] <small>(distrito capital)</small>
|-
| [[Tagant]] || [[Tidjikdja]]
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{{Artigo principal|[[Economia da Mauritânia]]}}
 
Uma maioria da população depende da [[agricultura]] e da [[pecuária]] para a sobrevivência, ainda que a maioria dos nômades e praticantes do cultivo de subsistência tenham sido forçados para as cidades, devido às secas recorrentes ocorridas nas décadas de 1970 e 1980. A Mauritânia tem amplos depósitos de minério de [[ferro]], que totalizam quase 50% do total das exportações do país. Com o aumento dos preços dos [[Metal|metais]], companhias mineradores de [[ouro]] e [[cobre]] abriram [[Mina (mineração)|minas]] no interior do país. As águas territoriais mauritanas estão entre as mais ricas em [[peixe]]s no mundo, porém a exploração abusiva por parte de pescadores estrangeiros tem ameaçado esta fonte vital de renda. O primeiro [[porto de águas profundas]] foi aberto perto de [[NouakchottNuaquexote]], capital do país, em [[1986]]. Nos últimos anos, as secas e as crises financeiras ocasionaram o aumento da [[dívida externa]]. Em março de [[1999]] o governo assinou um acordo com uma missão conjunta do [[Banco Mundial]] e do [[Fundo Monetário Internacional]], visando a fazer os ajustes necessários na situação econômica do país e estabelecer metas de crescimento.
 
O [[petróleo]] foi descoberto na Mauritânia em [[2001]] no [[Depósito de Chinguetti]]. Embora sejam potencialmente significativas para a economia do país, as jazidas foram descritas como "de pequeno porte."<ref>[http://www.startribune.com/world/26331384.html?elr=KArksLckD8EQDUoaEyqyP4O:DW3ckUiD3aPc:_Yyc:aUUJ A day after a coup, Mauritania's new junta promises free elections "soon as possible"], [[Associated Press]]</ref> A Mauritânia possui 51 blocos confirmados de petróleo - 19 ''offshore'' e 32 ''onshore'' - mas existem pesquisas em andamento visando a futuras descobertas de campos petrolíferos.
 
== Cultura ==