Estação Ferroviária de Caldas da Rainha: diferenças entre revisões

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Em 1856, foi inaugurado o primeiro lanço do [[Linha do Norte|Caminho de Ferro do Leste]], entre [[Estação ferroviária de Santa Apolónia|Lisboa]] e o Carregado, substituindo o percurso por navio, enquanto que o resto da viagem até às Caldas da Rainha continuou a ser feito por diligência.<ref>RODRIGUES ''et al'', 1993:287</ref> Em Fevereiro de 1858, Paulo Romeiro fez uma proposta para a construção de uma estrada entre [[Azambuja]] e [[Cadaval]], de forma a ligar a via férrea à estrada de Lisboa a Coimbra, que facilitaria as comunicações entre as Caldas da Rainha e outras povoações da Estremadura com a região Sul do país.<ref>RODRIGUES ''et al'', 1993:286-287</ref>
 
Na Década de 1860, o [[Duque de Saldanha]] começou a planear a instalação de uma rede de caminhos de ferro ligeiros, no sistema ''[[O Larmanjat em Portugal|Larmanjat]]'', que incluía uma linha ao longo da costa Oeste.<ref name=Rodrigues1993:295/> Um decreto de 25 de Outubro de 1869 autorizou a construção de uma linha entre Lisboa e [[Leiria]], passando pelo [[Lumiar]], [[Torres Vedras]], Caldas da Rainha e [[Alcobaça (Portugal)|Alcobaça]].<ref>MARTINS ''et al'', 1996:244</ref> O autor [[Ramalho Ortigão]] falou sobre aquela linha, prevendo que após a sua abertura iria permitir um grande aumento no número de aquistas que procuravam as Caldas da Rainha.<ref>ORTIGÃO, 1871:180-181</ref> Com efeito, a vila das Caldas da Rainha era considerada prioritária para a construção de caminhos de ferro, uma vez que era nessa altura a principal estância termal no país, sendo muito concorrida por turistas nacionais e estrangeiros, além que era um dos destinos favoritos da família real.<ref name=Rodrigues1993:295/> Nessa altura, as termas das Caldas da Rainha também eram muito procuradas pelos espanhóis, especialmente vindos da [[Extremadura]], que frequentavam as praias da costa Oeste.<ref>RODRIGUES ''et al'', 1993:304-305</ref> Por seu turno, uma grande parte da procura nacional vinha das regiões interiores do Alentejo.<ref name=Rodrigues1993:305>RODRIGUES ''et al'', 1993:305</ref> Para manter e aumentar a procura por parte das regiões mais distantes, era necessário um meio de transporte que fosse rápido e cómodo, características que nessa altura só pertenciam ao caminho de ferro.<ref name=Rodrigues1993:306>RODRIGUES ''et al'', 1993:306</ref>
 
No entanto, a linha do Larmanjat só chegou até Torres Vedras, tendo toda a rede sido encerrada em 1877 devido a problemas financeiros.<ref name=Rodrigues1993:295/> Entretanto, continuaram os serviços de diligências entre o Carregado e as Caldas da Rainha, como foi descrito na obra “Banhos''Banhos de Caldas e Águas Minerais”Minerais'', escrita por [[Ramalho Ortigão]] em 1875, onde referiu que o percurso entre a vila e a estação, de cerca de 56 Km, era normalmente feito de carruagem ou por uma diligência que saía duas vezes por dia, ao início e ao fim do dia.<ref name=Rodrigues1993:288/>
 
A instalação do comboio Larmanjat não foi pacífica, devido à oposição da [[Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses]], proprietária da concessão para as linhas do Norte e Leste, cujo contrato de 1859 com o governo não permitia a emissão de concessões para linhas paralelas às suas vias férreas.<ref name=Rodrigues1993:296/> Com efeito, este problema já tinha surgido antes do ''Larmanjat'', quando a empresa ''Ellicot & Kessler'' tinha apresentado ao governo a intenção de construir uma linha de Lisboa a Torres Vedras, que foi bloqueada pela Companhia Real, criando grande celeuma na imprensa e nos meios políticos.<ref name=Rodrigues1993:296/> A Companhia Real receava que, embora as concessão fosse só até Torres Vedras, depressa as autarquias de Caldas da Rainha e de outras povoações no litoral iriam exigir o prolongamento da linha, que depois poderia ser continuada até Coimbra, abrindo uma ligação ferroviária paralela às suas linhas.<ref name=Rodrigues1993:296>RODRIGUES ''et al'', 1993:296</ref>
 
Antes da construção do caminho de ferro, o concelho de Caldas da Rainha estava ligado por vias rodoviárias a Alcobaça, Leiria, [[Rio Maior]], [[Santarém (Portugal)|Santarém]], [[Óbidos (Portugal)|Óbidos]] e a [[Peniche]], e a Lisboa por [[Torres Vedras]] ou pelo [[Cercal (Cadaval)|Cercal]].<ref name=Rodrigues1993:353/> Excepto pelas estradas reais, todas as outras vias rodoviárias eram muito primitivas.<ref name=Rodrigues1993:353>RODRIGUES ''et al'', 1993:353</ref>
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Posteriormente, foram criados dois comboios diários entre Lisboa e as Caldas da Rainha, o primeiro a sair de Lisboa às 7:15 e a chegar às 11:23, enquanto que o outro partia de Lisboa às 19:15 e atingia as Caldas às 24:00.<ref name=Rodrigues1993:299/> No regresso, o primeiro procedia das Caldas às 05:21 e entrava em Lisboa às 10:23, e o segundo iniciava-se às 17:36 e terminava às 21:12.<ref name=Rodrigues1993:299/> Nos dias festivos, existiam comboios com horários especiais.<ref name=Rodrigues1993:299/> O preço dos bilhetes de primeira classe era de 2$120 Réis, enquanto que os de segunda custavam 1%680 Réis, e os terceira 1$180 Réis, tendo os bilhetes de ida e volta um desconto de 25%.<ref name=Rodrigues1993:299>RODRIGUES ''et al'', 1993:299</ref>
 
A abertura da linha férrea, e a sua posterior continuação até à [[Estação de Figueira da Foz|Figueira da Foz]], melhoraram as comunicações entre as Caldas da Rainha e o resto do país, principalmente Lisboa e [[Coimbra]]<ref name=Rodrigues1993:353/>, permitindo um grande desenvolvimento da vila como um pólo industrial, em especial da cerâmica<ref>RODRIGUES ''et al'', 1993:264</ref>, e como um destino termal, ao facilitar o acesso por parte dos aquistas.<ref name=Rodrigues1993:279>RODRIGUES ''et al'', 1993:279</ref> Além disso, o caminho de ferro também veio desenvolver a vida artística e sócio-cultural da vila, que conheceu uma grande aumento a partir da Década de 1880.<ref>RODRIGUES ''et al'', 1993:322</ref> Com o acréscimo no movimento de pessoas e mercadorias, a vila ganhou uma maior influência a nível regional, fomentando o crescimento económico e populacional em todo o concelho, e em especial na própria vila.<ref>RODRIGUES ''et al'', 1993:369-370</ref> Além de melhorar as comunicações, o caminho de ferro em si teve um impacto no desenvolvimento urbano das Caldas, através das suas infraestruturas, e em especial da estação, que se tornou um pólo de desenvolvimento, com a vila a crescer na sua direcção desde a Praça Maria Pia<ref>RODRIGUES ''et al'', 1993:325</ref> e a Rua Heróis da Grande Guerra.<ref>RODRIGUES ''et al'', 1993:331</ref> Desta forma, a instalação dos caminhos de ferro foi uma das principais bases para a futura progressão à categoria de cidade.<ref>RODRIGUES ''et al'', 1993:304</ref>
 
Em 2 de Agosto de 1892, foi organizado um comboio especial para transportar o Rei [[Carlos I de Portugal|D. Carlos]] e a Rainha [[Amélia de Orleães|D. Amélia]] até às Caldas da Rainha, para utilizarem as termas, tendo permanecido na vila até ao dia 28.<ref>RODRIGUES ''et al'', 1993:361</ref>
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[[File:Horario comboios Badajoz Valenca Caldas - Guia Official CF 168 1913.jpg|thumb|Horário de 1913 para os comboios directos de [[Badajoz]] a [[Estação de Valença|Valença]] e Caldas da Rainha.]]
=== Século XX ===
====DécadaDécadas de 1900 e 1910====
Em Agosto de 1901, começaram a ser realizados comboios expressos entre Lisboa e Caldas da Rainha.<ref>{{citar jornal|pagina=111-114 |titulo=Efemérides|data=1 de Fevereiro de 1939|numero=1227|volume=51|jornal=Gazeta dos Caminhos de Ferro|url= http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1939/N1227/N1227_master/GazetaCFN1227.pdf|acessodata=30 de Maio de 2014}}</ref>
 
Em 4 de Outubro de 1910, os passageiros do comboio rápido trouxeram às Caldas as primeiras notícias sobre o [[Implantação da República Portuguesa|movimento revolucionário]] que estava a suceder em Lisboa, tendo a via férrea sido depois corta no [[Estação de Bombarral|Bombarral]].<ref>RODRIGUES ''et al'', 1993:422</ref>
 
====Décadas de 1920 e 1930====
Em 1924, o governo autorizou um projecto da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses para modificações nesta estação.<ref>{{citar jornal|pagina=259-261|titulo= Efemérides|data=16 de Maio de 1939|volume=51|jornal=Gazeta dos Caminhos de Ferro|numero= 1234|url= http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1939/N1234/N1234_master/GazetaCFN1234.pdf|acessodata=30 de Maio de 2014}}</ref>
 
Na publicação ''Caldas da Rainha, Portugal: Estância Balnear, Centro de Turismo'', editada em 1925, foi relatado que a Comissão de Iniciativa das Caldas da Rainha, que tinha como principal objectivo realizar obras para melhorar a aparência da vila, tinha promovido a instalação de painéis de azulejos na estação ferroviária.<ref>RODRIGUES ''et al'', 1993:463</ref>
 
Em 1 de Maio de 1935, a Companhia estabeleceu serviços de autocarros entre os despachos centrais de [[Santarém (Portugal)|Santarém]] e [[Rio Maior]] e as estações de Caldas da Rainha e [[Estação de Santarém|Santarém]], com passagem pelas localidades de [[São João da Ribeira]] e [[Vidais]].<ref>{{Citar jornal|titulo=Caminhos de Ferro Nacionais|pagina=226|data=16 de Maio de 1935|jornal=Gazeta dos Caminhos de Ferro|volume=47|numero=1138|url=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1935/N1138/N1138_master/GazetaCFN1138.pdf|acessadoem=30 de Maio de 2014}}</ref>
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Em 1968, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses tinha prevista a realização de obras de renovação parcial no troço entre [[Estação de Cacém|Cacém]] e Caldas da Rainha.<ref>{{Citar jornal|titulo=Vão melhorar os serviços da C. P.|pagina=96|data=16 de Agosto de 1968|jornal=Gazeta dos Caminhos de Ferro|volume=81|numero=1928|url=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1968/N1928/N1928_master/GazetaCFN1928.pdf|acessodata=30 de Maio de 2014}}</ref>
 
[[Imagem:Plano da Rede 1930 - Gazeta CF 1167 1936.jpg|thumb|Mapa do Plano de 1930, incluindo a [[Ramal de Rio Maior|linha de Setil a Peniche por Rio Maior]].]]
==== Ligação projectada a Peniche e à Linha do Norte ====
{{artigo principal|Ramal de Rio Maior}}
Em 4 de Outubro de 1887, o administrador do [[Hospital Termal Rainha D. Leonor|Hospital Real]], [[Francisco de Andrade Pimentel]], discutiu a necessidade de construir outras linhas férreas servindo as Caldas, de forma a fazer crescer a procura, tendo proposto a instalação de uma linha perpendicular que ligasse a Linha do Oeste com a do Norte, facilitando desta forma as comunicações entre a costa Oeste e o Sul do país.<ref name=Rodrigues1993:305/> Além de passageiros, a linha também seria de interesse no transporte de mercadorias, especialmente dos produtos cerâmicos das Caldas.<ref>RODRIGUES ''et al'', 1993:383-384</ref> Esta proposta foi a génese da futura linha do [[estação de Setil|Setil]] a [[Peniche]] pelas Caldas da Rainha, que foi considerada a mais prioritária de todas as linhas em planeamento, pela comissão que tinha sido estabelecida por um decreto de 27 de Setembro de 1899 para estudar a rede ferroviária entre oos rios Mondego e o Tejo.<ref name=Rodrigues1993:305>RODRIGUES ''et al'', 1993:305</ref>
 
Em 27 de Janeiro de 1904, a Associação Comercial e Industrial de Caldas da Rainha enviou uma representação ao governo, assinada pelo presidente da assembleia regional, Rafael Bordalo Pinheiro, e pelo presidente da direcção, Henrique de Salles Henriques, para pedir ao governo que a linha passasse pelas Caldas, devido à sua importância em termos comerciais, industriais e de turismo balnear, e por facilitar o acesso por parte das populações espanholas.<ref name=Rodrigues1993:451/> Em 1905, o [[Ministério das Obras Públicas (Portugal)|Ministério das Obras Públicas]] lançou o ''Relatório da Comissão, encarregada de estudar o plano da rede ferroviária entre Mondego e o Tejo pelo Decreto de 27 de Setembro de 1899'', onde se descrevia a candidatura das Caldas da Rainha para ser um ponto de passagem da linha entre o Setil e Peniche.<ref name=Rodrigues1993:451>RODRIGUES ''et al'', 1993:451</ref>
 
Em 16 de Janeiro de 1912, a Gazeta dos Caminhos de Ferro noticiou que estava a ser planeada a construção desta linha, passando por [[Rio Maior]].<ref>{{Citar jornal|titulo=Efemérides|pagina=177-179|jornal=Gazeta dos Caminhos de Ferro|volume=51|numero=1230| data=16 de Março de 1939|url=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1939/N1230/N1230_master/GazetaCFN1230.pdf| acessodata=9 de Julho de 2017}}</ref> Em 16 de Janeiro de 1929, a Gazeta relatou que tinha sido requerida a construção desta linha.<ref>{{citar jornal|titulo=Efemérides|pagina=299-300|data=16 de Junho de 1939|jornal=Gazeta dos Caminhos de Ferro|volume=51|numero= 1236|url=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1939/N1236/N1236_master/GazetaCFN1236.pdf|acessodata=9 de Julho de 2017}}</ref> Em 1948, o Distrito de Santarém ainda pedia a construção deste caminho de ferro, podendo a bifurcação com a Linha do Oeste ser feita nas Caldas ou em [[Apeadeiro de Óbidos]].<ref>{{Citar jornal|autor=[[Jaime Jacinto Galo|GALO, Jaime Jacinto]]| titulo=A Rêde Ferroviária de Portugal|pagina=380-382|numero=1454|volume=60|jornal=Gazeta dos Caminhos de Ferro|data=16 de Julho de 1948|url=http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/GazetaCF/1948/N1454/N1454_master/GazetaCFN1454.pdf|acessodata=9 de Julho de 2017}}</ref>