Ilíada: diferenças entre revisões

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Pátroco, era Primo"Amigo" de Aquíles ... e não Amante.
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A '''''Ilíada''''' (em [[Língua grega antiga|grego antigo]]: Ἰλιάς, {{IPA2|iːliás}}) é um dos dois principais&nbsp; [[Poesia épica|poemas épicos]] da&nbsp; [[Grécia Antiga]], de autoria atribuída ao poeta [[Homero]], que narra os acontecimentos decorridos no período de 50 dias durante o décimo e último ano da [[Guerra de Troia]], conflito empreendido para a conquista de [[Ílion]] ou [[Troia]], cuja gênese radica na ira (μῆνις, mênis) de [[Aquiles]].<ref>{{citar web|url=http://www.infoescola.com/biografias/homero/|titulo=Homero|acessodata=15 de março de 2016|publicado=Portal Infoescola|autor=Ana Lucia Santana}}</ref><ref name=LEESON-WHITE>{{citar livro | autor= GLEESON-WHITE, Jane| título= 50 Clássicos| subtítulo= que não podem faltar na sua biblioteca| edição= 1| local-publicacao = Campinas| editora= Verus| ano= 2009| páginas= 276| volume= 1| isbn = 978-85-7686-061-7}}</ref>
 
A ''Ilíada'' é atribuída a [[Homero]], que se julga ter vivido por volta do {{AC|século VIII|x}}<ref name=LEESON-WHITE/>, na [[Jônia]] (atualmente região da [[Turquia]]), e constitui o mais antigo e extenso documento literário grego (e ocidental) existente. Ainda hoje, contudo, se discute a verdadeira autoria e a existência real de Homero (nascido ou em Khíos[[Quios]], Grécia ou em [[Esmirna]], Turquia).<ref>{{citar web|url=http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quem-foi-homero|titulo=Quem foi Homero?|acessodata=15 de março de 2015|publicado=Revista Mundo Estranho - Editora Abril}}</ref>
A '''''Ilíada''''' (em [[Língua grega antiga|grego antigo]]: Ἰλιάς, {{IPA2|iːliás}}) é um dos dois principais&nbsp;[[Poesia épica|poemas épicos]] da&nbsp;[[Grécia Antiga]], de autoria atribuída ao poeta [[Homero]], que narra os acontecimentos decorridos no período de 50 dias durante o décimo e último ano da [[Guerra de Troia]], conflito empreendido para a conquista de [[Ílion]] ou [[Troia]], cuja gênese radica na ira (μῆνις, mênis) de [[Aquiles]].<ref>{{citar web|url=http://www.infoescola.com/biografias/homero/|titulo=Homero|acessodata=15 de março de 2016|publicado=Portal Infoescola|autor=Ana Lucia Santana}}</ref><ref name=LEESON-WHITE>{{citar livro | autor= GLEESON-WHITE, Jane| título= 50 Clássicos| subtítulo= que não podem faltar na sua biblioteca| edição= 1| local-publicacao = Campinas| editora= Verus| ano= 2009| páginas= 276| volume= 1| isbn = 978-85-7686-061-7}}</ref>
 
A ''Ilíada'' é atribuída a [[Homero]], que se julga ter vivido por volta do {{AC|século VIII|x}}<ref name=LEESON-WHITE/>, na [[Jônia]] (atualmente região da [[Turquia]]), e constitui o mais antigo e extenso documento literário grego (e ocidental) existente. Ainda hoje, contudo, se discute a verdadeira autoria e a existência real de Homero (nascido ou em Khíos, Grécia ou em Esmirna, Turquia).<ref>{{citar web|url=http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quem-foi-homero|titulo=Quem foi Homero?|acessodata=15 de março de 2015|publicado=Revista Mundo Estranho - Editora Abril}}</ref>
 
== Visão geral ==
[[Imagem:Akhilleus Patroklos Antikensammlung Berlin F2278.jpg|180pxupright=1.0|thumb|esquerda|<center>''Aquiles cura Pátroclo''<br> <small>Detalhe de vaso em técnica de cerâmica vermelha {{AC|500|x}}</small></center>]]
 
A ''Ilíada'' é constituída por 15.693{{fmtn|15693}} versos em [[hexâmetro dactílico|hexâmetro datílico]], a forma tradicional da poesia épica grega. Foi composta por uma mistura de dialetos, resultando numa língua literária artificial, nunca de fato falada na Grécia.
 
Com origem na tradição oral da época micênica ou seja, teria sido cantada pelos [[aedo]]s (artistas que cantavam epopeias), e só muito mais tarde os versos foram compilados numa versão escrita, no {{AC|século VI|x}} em [[Atenas Antiga|Atenas]]. O poema foi então posteriormente dividido em 24 cantos, divisão que persiste até hoje. Onde cada canto corresponde a uma letra do alfabeto grego - divisão atribuída aos estudiosos da [[biblioteca de Alexandria]].
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== Argumento ==
A ''Ilíada'' passa-se durante o decimodécimo ano da [[guerra de Troia]] e trata da ira de [[Aquiles]]. A ira é causada por uma disputa entre Aquiles e [[Agamenon]], comandante dos exércitos gregos em Troia, e consumada com a morte do herói troiano Heitor (ou Héctor), terminando com seu funeral.
 
Embora [[Homero]] se refira a vários mitos e acontecimentos prévios, fortemente presentes na cultura grega, a história da guerra de Troia não é contada na íntegra. Dessa forma, o conhecimento prévio da mitologia grega acerca da guerra é relevante para a compreensão da obra.
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{{AP|Guerra de Troia}}
 
[[Imagem:Helen of Troy.jpg|thumb|upright=1.0|<center>''[[Helena (mitologia)|Helena de Troia]]''</center><br> <center><small>Por [[Evelyn de Morgan]], 1898</small></center>]]
 
Os gregos antigos acreditavam que a [[Guerra de Troia]] foi um fato histórico, ocorrido por volta de {{AC|1200|x}} no [[Civilização Micênica|período micênico]], mas alguns estudiosos modernos têm dúvidas se ela de fato ocorreu. Até à descoberta do sítio arqueológico na Turquia, na [[Anatólia]], a historiografia moderna acreditava que [[Troia]] era uma cidade mitológica.
 
A Guerra de Troia deu-se quando os [[aqueus]] atacaram a cidade de Troia, buscando vingar o rapto de [[Helena de Troia(mitologia)|Helena]], esposa do rei de Esparta [[Menelau]], irmão de [[Agamenão|Agamenon]]<ref name=LEESON-WHITE/>. Os aqueus, atuais gregos que compartilham cultura e idioma comuns, na época se definiam como vários reinos, e não como um povo único.
 
A lenda conta que a deusa do [[mar]], a [[ninfa (mitologia)|ninfa]] Tétis, era desejada como esposa por [[Zeus]] e seu irmão [[Posidão]]. Porém [[Prometeu]] profetizou que o filho da deusa seria maior que seu pai. Então os deuses resolveram dá-la como esposa a [[Peleu]], um mortal já idoso, planejando enfraquecer o filho, que seria apenas um humano, assim nasceu o guerreiro [[Aquiles]]. Sua mãe, visando fortalecer sua natureza mortal, mergulhou-o ainda bebê, nas águas do mitológico rio [[Estige]] (rio infernal no&nbsp;Hades). As águas tornaram um ser invulnerável, exceto no calcanhar, por onde a mãe o segurou para o mergulhar no rio (daí a famosa expressão [[calcanhar de Aquiles]], significando ponto vulnerável). Aquiles tornou-se o mais poderoso dos guerreiros, porém, era mortal. Mais tarde, sua mãe profetiza que ele poderá escolher entre dois destinos: lutar em Troia e alcançar a glória eterna, mas morrer jovem, ou permanecer em sua terra natal e ter uma longa vida, mas sendo logo esquecido.
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Para o casamento de Peleu e Tétis todos os deuses foram convidados, menos [[Éris]], ou Discórdia. Ofendida, a deusa compareceu invisível e deixou à mesa um pomo de ouro com a inscrição “à mais bela”. As deusas [[Hera]], [[Atena]] e [[Afrodite]] disputaram o pomo e o título de mais bela. Zeus então ordenou que o príncipe troiano [[Páris]], à época sendo criado como um pastor ali perto, resolvesse a disputa. Para ganhar o título de “mais bela”, Atena ofereceu a Páris poder na batalha, Hera o poder e Afrodite o amor da mulher mais bela do mundo. Páris deu o pomo a Afrodite, ganhando assim sua proteção, porém atraindo o ódio das outras duas deusas contra si e contra Troia.
 
A mulher mais bela do mundo era [[Helena de Troia(mitologia)|Helena]], filha de Zeus e Leda. Leda era casada com [[Tíndaro]], rei de Esparta. Helena possuía diversos pretendentes, que incluíam muitos dos maiores heróis da Grécia, e o seu pai adotivo, Tíndaro, hesitava tomar uma decisão em favor de um deles temendo enfurecer os outros. Finalmente um dos pretendentes, Odisseu (cujo nome latino era Ulisses), rei de [[Ítaca]], resolveu o impasse propondo que todos os pretendentes jurassem proteger Helena e sua escolha, qualquer que fosse. Helena então se casou com [[Menelau]], que se tornou o rei de [[Esparta]].
 
Quando [[Páris]] foi a Esparta em missão diplomática, se apaixonou por Helena e ambos fugiram para Troia, enfurecendo Menelau. Este apelou aos antigos pretendentes de Helena, lembrando o juramento que haviam feito. Agamenon então assumiu o comando de um exército de mil barcos e atravessou o [[mar Egeu]] para atacar Troia. As naus gregas desembarcaram na praia próxima a Troia e iniciaram um cerco que duraria dez anos, custando a vida de muitos heróis, de ambos os lados. Finalmente, seguindo um estratagema proposto por [[Odisseu]], o famoso [[Cavalo de Troia]], os gregos conseguiram invadir a cidade governada por Príamo e terminar a guerra.
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Os gregos antigos não se definiam como "[[gregos]]" ou "helênicos", denominação posterior, mas como "[[aqueus]]", compostos por diversos povos de diversos reinos que tinham uma língua e cultura razoavelmente compartilhada. Os aqueus também são chamados de "[[Dánaos|Dânaos]]" por [[Homero]].
 
* [[Aquiles]]: príncipe de [[Ftia]], líder dos [[Mirmidão|mirmidões]] (mirmídones), herói e melhor de todos os guerreiros, filho da deusa marinha [[Tétis (Nereidanereida)|Tétis]] e do mortal rei [[Peleu]]. Sua ira é o tema central da ''Ilíada''. Vinga a morte do Primode Pátroclo matando Heitor em um duelo um a um.
 
* [[Agamenão]]: Rei de [[Micenas]] e comandante supremo dos aqueus, sua atitude de tomar a escrava [[Briseis]] de Aquiles é o estopim do desentendimento entre eles.
 
* [[Pátroclo]]: AmanteAmigo de Aquiles. Alguns argumentam que há envolvimento íntimo entre Aquiles e Pátroclo, o que foi, no entanto, refutado por [[Sócrates]], no Diálogodiálogo [[Fedro]], citando passagens da Ilíada que dizem que Aquiles e Pátroclo dormiam em leitos separados, cada um com sua respectiva concubina. Foi morto por Heitor enquanto fingia ser Aquiles.
 
* [[Odisseu]] (Ulisses): Rei de Ítaca, considerado “astuto”, ou “ardiloso”. Frequentemente faz o papel de embaixador entre Aquiles e Agamenão. Foi ele que teve a ideia de fazer uma armadilha aos troianos. É o personagem principal de [[Odisseia]], também atribuído a Homero em que é narrada a volta de Odisseu a Ítaca.
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* [[Ájax]]: É mais forte e habilidoso dos guerreiros gregos depois de Aquiles, era praticamente imbatível e graças a ele os gregos conseguiram muitas vitórias sobre os troianos.
 
* [[Ájax, (filho de Oileu)]]: Liderou um destacamento de lócridas durante a guerra na qual desempenhou um papel importante e foi um dos guerreiros que estava dentro do cavalo de madeira.
 
* [[Nestor]]: Um dos dos guerreiros da Grécia , embora Nestor fosse velho era famoso pela sua coragem.
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* [[Hera]]
* [[Atena]]
* [[PoseidonPosidão]]
* [[Hefesto]]
* [[Tétis (nereida)|Tétis]] (mãe de [[Aquiles]])
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=== Resumo da narração ===
[[Imagem:Peter Paul Rubens - Achilles slays Hector.jpg|thumb|<center>upright=1.0|''Aquiles fere Heitor''</center><br> <center><small>Por [[Peter Paul Rubens]], 1630-1635.</small></center>]]
 
No décimo ano do cerco a [[Troia]], há um desentendimento entre as forças dos [[aqueus]], comandadas por [[Agamenão]]. Ao dividirem os espólios de uma conquista, o comandante aqueu fica, entre outros prêmios, com uma moça chamada Criseida, enquanto que a [[Aquiles]] cabe outra bela jovem, [[Briseis]] (Briseida). Criseida era filha de Crises, [[sacerdote]] do deus [[Apolo]], e este pede a Agamenão que lhe restitua a filha em troca de um resgate. O chefe aqueu recusa a troca, e o pai ofendido pede ajuda a seu deus. [[Apolo]] passa então a castigar os aqueus com a peste. Quando forçado a devolver [[Criseida]] ao pai para aplacar o castigo divino, Agamenão toma a Aquiles sua Briseis, como forma de compensação e afronta a Aquiles. Este, ofendido, se retira da guerra junto com seus valentes [[Mirmidão|mirmidões]]. Aquiles pede então a sua divina mãe que interceda junto a Zeus, rogando-lhe para que favoreça aos troianos, como castigo pela ofensa de Agamenão. Tétis consegue a promessa de Zeus de que ajudará aos troianos, a despeito da preferência de sua esposa, Hera, pelo lado aqueu.
 
Então [[Zeus]] manda a Agamenão, através de [[OneirosOniros]], um sonho incitando-o a atacar Troia sem as forças de Aquiles. Agamenão resolve testar a disposição de seu exército. A tentativa por pouco não termina em revolta generalizada, incitada pelo insolente Tersites. A rebelião só é evitada graças à decisiva intervenção de Odisseu, que fustiga Tersites e lembra a profecia de Calcas de que ''Ílion'' cairia no décimo ano do cerco.
 
Os dois exércitos perfilam-se no campo de batalha, diante de Troia. [[Páris]], príncipe de Troia, se adianta, mas logo recua ao ver [[Menelau]], de quem roubara a esposa causando a guerra. Menelau o insulta e Páris responde propondo um [[duelo]] entre ambos. Os aqueus respondem com agressões, porém seu irmão [[Heitor]], o maior herói troiano, reitera o desafio, propondo que o destino da guerra seja decidido numa luta entre Menelau e Páris. Menelau aceita, exigindo juramento de sangue sobre o pacto de respeitar o resultado do duelo. Enquanto os preparativos são feitos, [[Helena (mitologia)|Helena]] se junta a [[Príamo]], rei de Troia, no alto de uma torre para observar a contenda. Ela apresenta os maiores comandantes gregos, apontando-os para Príamo.
 
O duelo tem início e Menelau leva vantagem. Quando está para derrotar Páris, Afrodite intervém e o retira da batalha envolto em névoa, levando-o ao encontro de Helena. Agamenão declara então que Menelau venceu a disputa e exige a entrega de Helena e pagamento do resgate. Porém Hera e [[Atena]] protestam junto a Zeus, pedindo a continuidade da guerra até a destruição de Troia. Zeus cede em troca da não intervenção de Hera caso deseje destruir uma cidade protegida por ela. Atena então desce entre as tropas troianas e convence Pândaro, arqueiro troiano, a disparar contra Menelau, ferindo-o e rompendo o pacto com os gregos. O exército troiano avança, e Agamenão incita os aqueus ao combate. Tem lugar então uma luta violenta, na qual os gregos começam a levar vantagem. Porém Apolo incita aos troianos, lembrando-os que Aquiles não participa da peleja.
 
Os troianos então avançam, retomando a vantagem sobre os gregos, a despeito dos grandiosos esforços de Diomedes, que, insuflado pela deusa Palas Atena, chega a ferir os deuses [[Afrodite]] e [[Ares]], que defendem os troianos. Os gregos por sua vez parecem retomar a vantagem, o que faz com que Heitor então retorne à cidade para pedir a sua mãe que tente acalmar Palas com oferendas. Após falar com a mãe, encontra-se com sua esposa e seu filho em uma torre. O encontro, em que Heitor fala com a esposa e o filho sobre o seus futuros, é bastante triste, pois Heitor pressente que Troia cairá. A seguir, convoca Páris e com ele volta à batalha.
 
Apolo combina com Atena uma [[trégua]] na batalha e para consegui-la incitam Heitor a desafiar um herói grego ao duelo. Ajax[[Ájax]] é o escolhido num sorteio e avança para o combate. O duelo é renhido e prossegue até a noite, quando é interrompido. Os aqueus então aproveitam para recolher seus mortos e preparar um [[baluarte]].
 
Com a manhã, o combate recomeça, porém Zeus proíbe os outros deuses de interferir, enquanto que ele dispara raios dos céus, prejudicando aos aqueus. O combate prossegue desastroso para os gregos, que acabam por se recolher ao baluarte ao final do dia. Os troianos acampam por perto, ameaçadores.
 
Durante a noite Agamenão se desespera, percebendo que havia sido enganado por Zeus. Porém [[Diomedes]] garante que os aqueus têm fibra e ficarão para lutar. Agamenão acaba por ouvir os conselhos de [[Nestor]], e envia a Aquiles uma embaixada composta por Odisseu, AjaxÁjax, dois [[arauto]]s e o veterano [[Fênix (filho de Amintor)|Fênix]] presidindo, para oferecer presentes e pedir ao herói que retorne à batalha. Aquiles, porém, ainda irado, não cede.
 
Agamenão então envia Odisseu e Diomedes ao acampamento troiano numa missão de espionagem. Heitor, por sua vez, envia Dólon espionar o acampamento aqueu. Dólon é capturado por Odisseu e Diomedes, que extraem informações e o matam. A seguir invadem o acampamento troiano e massacram o rei Reso e doze guerreiros que dormiam, retirando-se de volta para o lado aqueu, onde são recebidos com festa.
 
Durante o dia o combate é retomado, e os troianos novamente são superiores, empurrados por Zeus. Heitor manda uma grande pedra de encontro a um dos portões e invade o baluarte grego, expulsando-os e os empurrando até as naus, de onde não haveria mais para onde recuar a não ser para o oceano. Há amargo combate, com os aqueus recebendo apoio agora de Posidão enquanto Zeus favorece os troianos, com heróis realizando grandes feitos de ambos os lados.
 
Hera, então, consegue convencer Hipnos a adormecer Zeus. Os gregos, acuados terrivelmente, se aproveitam desse momento para recuperar alguma vantagem, e AjaxÁjax fere a Heitor. Porém Zeus acorda e, vendo os troianos dispersos e a momentânea vitória grega, reconhece a obra de Hera e a repreende. Hera diz que Posidão é o único culpado, e Zeus a manda falar com Apolo e Íris para que estes instiguem os troianos novamente à luta. Então Zeus impede Posidão de continuar interferindo, e os troianos retomam a vantagem. Os maiores heróis aqueus estão feridos.
 
[[Pátroclo]], vendo o desastre dos aqueus, vai implorar a Aquiles que o deixe comandar os Mirmidões e se juntar à batalha. Aquiles lhe empresta as armas e consente que lidere os Mirmidões, mas recomenda que apenas expulse os troianos da frente das naus, e não os persiga. Pátroclo então sai com as armas de Aquiles (incluindo a [[armadura]], o que faz com que aqueus e troianos achassem que Aquiles havia voltado à batalha) e combate os troianos junto às naus. Ao ver fugindo os troianos, Pátroclo desobedece a recomendação de Aquiles e os persegue até junto da cidade. Lá, Heitor, percebendo que é Pátroclo e não Aquiles, o confronta em duelo e acaba por matá-lo.
 
Há uma disputa pelas armas de Aquiles, e Heitor as ganha, porém AjaxÁjax fica com o corpo de Pátroclo. Os troianos então repelem os gregos, que fogem, acossados. Aquiles, ao saber da morte do companheiro, fica terrivelmente abalado, e relata o acontecido a Tétis. Sua mãe promete novas armas para o dia seguinte e vai ao [[Olimpo]] encomendá-las a Hefesto. Enquanto isso Aquiles vai ao encontro dos troianos que perseguem os aqueus e os detém com seus gritos, permitindo que os gregos cheguem a salvo com o cadáver. A noite interrompe o combate.
 
Na manhã seguinte Aquiles, de posse das novas armas e reconciliado com Agamenão, que lhe restituíra Briseida, acossa ferozmente os troianos numa batalha em que Zeus permite que tomem parte todos os deuses. Trucidando diversos heróis, Aquiles termina por empurrar o combate até os portões de Troia. Lá Heitor, aterrorizado, tenta fugir de Aquiles, que o persegue ao redor da cidade. Por fim Heitor é enganado por Atena, que o convence a se deter e enfrentar o maior herói aqueu. Ele pede a Aquiles que seja feito um trato, com o vencedor respeitando o [[cadáver]] do vencido, permitindo seu enterro digno e funerais adequados. Aquiles, enlouquecido de raiva, grita que não há pacto possível entre presa e predador. O terrível duelo acontece e Aquiles fere mortalmente Heitor na garganta, única parte desprotegida pela armadura. Morrendo diante de seus entes queridos, que assistiam de dentro das muralhas, Heitor volta a implorar a Aquiles que permita que seu corpo seja devolvido a Troia para ser devidamente velado. Aquiles, implacável, nega e diz que o corpo de Heitor será pasto de abutres enquanto o de Pátroclo será honrado.
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Aquiles amarra o corpo de Heitor pelos pés à sua biga e o arrasta diante da família e depois o traz até o acampamento grego. São feitos os [[jogos funerais]] de Pátroclo. Durante a noite, o idoso Príamo vem escondido ao acampamento grego pedir a Aquiles pelo corpo do filho. O seu apelo é tão comovente que Aquiles cede, chorando, com a ira arrefecida. Aquiles promete trégua pelo tempo necessário para o adequado funeral de Heitor. Príamo leva o cadáver de seu filho de volta para a cidade, onde são prestadas as honras fúnebres ao príncipe e maior herói de Troia.
 
[[Imagem:Hector brought back to Troy.jpg|center|thumb|upright=2.02|<center>''Corpo de Heitor sendo levado de volta a Troia''</center><br> <center><small>Alto relevo em mármore, detalhe de um sarcófago romano do {{séc|II}}, atualmente no [[Museu do Louvre]].</small></center>]]
 
=== Resumo dos cantos ===
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* Canto V: Diomedes, ajudado por Palas Atena, realiza grandes prodígios, ferindo Afrodite e Ares.
* Canto VI: Heitor retorna a Troia para pedir que se tente apaziguar Palas Atena. Encontra-se com esposa e filho e retorna à batalha junto de seu irmão Páris.
* Canto VII: Heitor duela com AjaxÁjax. A luta empata, interrompida pela noite.
* Canto VIII: Os deuses retiram-se da batalha.
* Canto IX: Agamenão tenta reconciliar-se com Aquiles, mas este recusa.
Linha 184 ⟶ 182:
* Canto XIII: Posidão apieda-se dos gregos e os motiva.
* Canto XIV: Hera adormece Zeus, permitindo a reação grega.
* Canto XV: Zeus acorda e impede que [[PosídonPosidão]] continue interferindo. Os troianos retomam a vantagem no combate.
* Canto XVI: Pátroclo pede a armadura a Aquiles e permissão para entrar na luta. Aquiles concede, porém Pátroclo é morto por Heitor.
* Canto XVII: Há uma disputa pelo corpo e armadura de Pátroclo. Heitor fica com a armadura e AjaxÁjax fica com o corpo de Pátroclo.
* Canto XVIII: Aquiles fica sabendo da morte de Pátroclo, e sua mãe providencia-lhe uma nova armadura.
* Canto XIX: Aquiles, de armadura nova e reconciliado com Agamenão, junta-se à guerra.
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No Brasil há algumas traduções poéticas feitas a partir do original grego.
 
A primeira é de [[Odorico Mendes|Manuel Odorico Mendes]], feita no {{séc|XIX}} (publicada originalmente em 1874), em que, seguindo a tradição épica em português, emprega o verso [[Verso decassílabo|decassílabo]], porém branco. A tradução é marcada pela extrema concisão - com o total de versos sendo até menor que o do texto original -, estruturas sintática incomuns, muitas vezes decorrentes dessa concisão, preciosismo lexical e neologismos ou latinismos - sobretudo para traduzir os epítetos gregos, como em "Juno ''bracinívea''" [Juno de braços brancos], ou ainda "Aurora ''dedirrósea''" [Aurora de dedos róseos]. Outra característica (na verdade, comum até sua época) é a substituição dos nomes gregos pelos correspondentes latinos: Zeus, por Júpiter, PosidoPosidão por Netuno, Atena por Minerva etc. Sua tradução foi recentemente reeditada pela editora Ateliê, na coleção "Clássicos comentados", a cargo de Sálvio Nienkötter, na qual há abundantes notas explicativas - verso a verso - para o vocabulário, sintaxe, etc.
 
Eis o [[proêmio]] traduzido por Odorico Mendes:
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:''O de homens chefe e o Mirmidon divino.''
 
A segunda tradução, feita na década de 401940 {{séc|XX}} (primeira edição com data incerta, mas publicada por volta de 1945), é de [[Carlos Alberto Nunes]], cujo principal critério foi a tentativa de transpor a métrica original do poema ([[hexâmetro dactílico]]) para o português, resultando num verso de dezesseis sílabas poéticas, cujo ritmo é a sequência de seis grupos (chamados "pés") de sílabas, sendo cada um composto por uma sílaba tônica seguida de duas átonas (o sexto grupo, em geral, com uma tônica seguida de apenas uma átona), no seguinte esquema: ó o o | ó o o | ó o o | ó o o | ó o o | ó o (o); ou seja, com acentuação na 1ª, 4ª, 7ª, 10ª, 13ª e 16ª sílabas. Para correta leitura do hexâmetro vernaculizado de Nunes, entretanto, é necessário atentar ainda para a ''cesura'', normalmente ocorrendo uma vez, no meio do verso (terceiro ''pé''), ou, menos frequentemente, duas vezes no mesmo verso.
 
A tradução de Nunes foi originalmente publicada pela editora Atena. O texto foi posteriormente revisado pelo tradutor e republicado diversas vezes por outras editoras. A edição mais recente foi publicada pela editora Nova Fronteira
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== Adaptações ==
 
A história da [[Guerra de Troia]] em geral e da ''Ilíada'' em particular foi amplamente adaptada ao longo dos séculos, tanto na literatura quanto em outras artes. Uma das adaptações mais recentes que ganharam notoriedade é a do filme norte-americano [[Troia (filme)|Troia]] ([http://www.imdb.com/title/tt0332452/ veja IMDB]) de [[2004 no cinema|2004]], que narra basicamente os eventos da Ilíada acrescidos de uma introdução e do desfecho da guerra. Embora tenha sido baseado na ''Ilíada'', o filme toma uma série de liberdades em relação à história de Homero. A mais notável delas é a exclusão dos deuses gregos como personagens ativas da trama, sendo referidos apenas pela fé das personagens neles. Além disso, diversos eventos foram alterados no filme, como o destino de Agamenão, de Menelau, de AjaxÁjax. Pátroclo foi transformado em primo de Aquiles, Briseis em sua amante e a duração da guerra foi reduzida de dez anos para algumas semanas, entre outras mudanças.
 
Em 2003, o autor [[Dan Simmons]] lançou um livro épico de ficção científica chamado ''Ilium'', adaptando/homenageando o poema homérico.
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== Bibliografia ==
{{Refbegin}}
* HOMERO. ''Ilíada''. Trad. Odorico Mendes; pref. Augusto Magne. Rio de Janeiro / São Paulo / Porto Alegre: W. M. Jackson Inc., 1950 (''in'': Clássicos Jackson, vol. XXI)
* HOMERO. ''Ilíada''. Trad. Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Ediouro, 1969.
Linha 277 ⟶ 276:
* HOMERO. ''Ilíada''. Trad. Haroldo de Campos; intro. e org. Trajano Viera; 2 v. (bilíngüe). São Paulo: Arx, 2003
* HOMERO. ''Ilíada''. Trad. Frederico Lourenço. Lisboa: Livros Cotovia, 2005.
{{Refend}}
 
{{Referências}}