Isabel I de Inglaterra: diferenças entre revisões

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Etiqueta: Reversão
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|imagem = Darnley stage 3.jpg
|imgw = 245px
|nome = IsabelElizabeth I
|titulo = Rainha da Inglaterra, França e Irlanda
|sucessão = [[Lista de monarcas da Inglaterra|Rainha da Inglaterra]] e [[Lista de monarcas da Irlanda |Irlanda]]
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| Religião = [[Protestantismo]]
}}
'''IsabelElizabeth I''' ([[Greenwich (Londres)|Greenwich]], {{dtlink|lang=br|7|9|1533}} – [[Richmond upon Thames |Richmond]], {{dtlink|lang=br|24|3|1603}}), também chamada de "A Rainha Virgem", "Gloriana" ou "Boa Rainha Bess", foi a [[Lista de monarcas da Inglaterra|Rainha da Inglaterra]] e [[Lista de monarcas da Irlanda|Irlanda]] de 1558 até sua morte e a quinta e última monarca da [[Casa de Tudor]]. Como filha do rei [[Henrique VIII de Inglaterra|Henrique VIII]], IsabelElizabeth nasceu dentro da linha de sucessão; entretanto, sua mãe [[Ana Bolena]] foi executada dois anos e meio após seu nascimento e o casamento de seus pais foi anulado. IsabelElizabeth assim foi declarada ilegítima. Seu meio-irmão [[Eduardo VI de Inglaterra|Eduardo VI]] sucedeu a Henrique e reinou até morrer em 1553. Ele colocou a coroa em [[Joana Grey]], excluindo da sucessão suas meia-irmãs IsabelElizabeth e a católica [[Maria I de Inglaterra|Maria]], apesar da existência de um [[Terceiro Ato de Sucessão|estatuto declarando o contrário]]. Seu testamento acabou sendo colocado de lado e Maria tornou-se rainha, com Joana sendo executada. IsabelElizabeth ficou presa por quase um ano durante o reinado de Maria por suspeitas de apoiar os rebeldes protestantes.
 
IsabelElizabeth sucedeu Maria em 1558 e passou a reinar com um bom conselho.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=35}} </ref> Ela muito dependia de um grupo de conselheiros de confiança liderados por [[William Cecil|Guilherme Cecil, Barão Burghley]]. Uma de suas primeiras ações como rainha foi o estabelecimento de uma igreja protestante inglesa, da qual tornou-se sua [[Governador Supremo da Igreja de Inglaterra|Governadora Suprema]]. A Resolução Religiosa IsabelinaElizabetano mais tarde desenvolveu-se na atual [[Igreja Anglicana]]. Era esperado que ela se casasse e gerasse um herdeiro para continuar a linhagem da Casa de Tudor. Entretanto, nunca se casou apesar de vários pretendentes. IsabelElizabeth ficou famosa por sua virgindade enquanto envelhecia. Um culto cresceu ao seu redor em que ela era celebrada em pinturas, desfiles e obras literárias.
 
No governo, IsabelElizabeth foi mais moderada que seu pai e seus meio-irmãos.<ref name=starkey5 > {{harvnb|Starkey|2003|p=5}} </ref> Um de seus lemas era ''video et taceo'' ("Vejo e digo nada").<ref> {{harvnb|Neale|1954|p=386}} </ref> Era relativamente tolerante em questões religiosas, evitando perseguições sistemáticas. Depois de 1570, quando o papa a declarou ilegítima e liberou seus súditos de obedecê-la, várias conspirações ameaçaram sua vida. Todos os complôs foram derrotados com a ajuda do serviço secreto de seus ministros. IsabelElizabeth era cautelosa em assuntos estrangeiros, movimentando-se entre as grandes potências da [[Reino da França|França]] e [[Império Espanhol|Espanha]]. Ela apoiou, sem entusiasmo, várias campanhas militares ineficazes e mal equipadas nos [[Países Baixos do Sul]], na França e [[Reino da Irlanda|Irlanda]]. Porém, por volta da década de 1580, uma guerra contra a Espanha já não podia mais ser evitada. Quando os espanhóis finalmente decidiram em 1588 tentar conquistar a [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]], o fracasso da [[Invencível Armada]] associou IsabelElizabeth a uma das maiores vitórias militares da história inglesa.
 
Seu reinado é conhecido como [[Período Elisabetano|Período Isabelino]], famoso acima de tudo pelo florescimento do [[Teatro isabelino|drama inglês]], liderado por dramaturgos como [[William Shakespeare]] e [[Christopher Marlowe]], além das proezas marítimas de aventureiros ingleses como Sir [[Francis Drake]]. Alguns historiadores são mais contidos em suas avaliações de IsabelElizabeth. Eles a representam como uma governante temperamental, às vezes indecisa e que teve muita sorte.<ref> {{harvnb|Somerset|2003|p=729}} </ref> Uma série de problemas econômicos e militares diminuíram sua popularidade ao final de seu reinado. IsabelElizabeth é reconhecida como uma intérprete carismática e uma sobrevivente obstinada em um período quando o governo era desorganizado e limitado, e monarcas de países vizinhos enfrentavam problemas internos que ameaçavam seus tronos. Assim foi o caso de sua rival [[Maria da Escócia]], quem ela prendeu em 1568, e acabou por executar em 1587. Depois dos curtos reinados de Eduardo VI e Maria I, seu período de 44 anos no trono deu estabilidade ao reino e ajudou a criar um sentimento de identidade nacional.<ref name=starkey5 />
 
== Início de vida ==
[[Ficheiro:Henry VIII and Anne Boleyn.png|thumb|275px|Henrique VIII e Ana Bolena, os pais de IsabelElizabeth I.]]
IsabelElizabeth Tudor nasceu no [[Palácio de Placentia]], [[Greenwich (Londres)|Greenwich]], em {{dtlink|7|9|1533}}, sendo nomeada em homenagem a suas avós: [[Isabel de Iorque]] e [[Isabel Bolena, Condessa de Wiltshire e Ormonde|Isabel Howard]].<ref> {{harvnb|Somerset|2003|p=4}} </ref> Era a segunda filha do rei [[Henrique VIII de Inglaterra]] a sobreviver a infância. Sua mãe era [[Ana Bolena]], a segunda esposa de Henrique. Ao nascer, IsabelElizabeth era a [[Herdeiro presuntivo|herdeira presuntiva]] do trono inglês. Sua meia-irmã mais velha, [[Maria I de Inglaterra|Maria]], havia perdido sua posição como legítima quando o rei anulou seu casamento com sua mãe, [[Catarina de Aragão]], para se casar com Ana e ter um herdeiro homem a fim de garantir a sobrevivência da dinastia da [[Casa de Tudor]]. Ela foi batizada em 10 de setembro por [[Tomás Cranmer]], [[Arcebispo da Cantuária]]; seus padrinhos foram Henrique Courtenay, 1º Marquês de Exeter; Isabel Howard, Duquesa de Norfolk; e Margarida Wotton, Viúva Marquesa de Dorset.<ref> {{harvnb|Loades|2003|pp=3–5}}; {{harvnb|Somerset|2003|pp=4–5}} </ref>
 
[[Ficheiro:Attributed to William Scrots - Elizabeth I when a Princess (1533-1603) - Google Art Project.jpg|thumb|left|190px|Isabel c. 1546.]]
Sua mãe foi executada por acusações de adultério, incesto e alta traição em {{dtlink|19|5|1536}}, quando IsabelElizabeth tinha apenas dois anos e oito meses.<ref> {{harvnb|Loades|2003|pp=6–7}} </ref> Ela foi declarada ilegítima e privada de seu lugar na sucessão real.<ref name=somerset10 />{{nota de rodapé|O [[Segundo Ato de Sucessão]] de 1536 afirmava que IsabelElizabeth era "ilegítima ... e totalmente impedida, excluída e banida de reivindicar, desafiar ou exigir qualquer herança como herdeira legal ... do [rei] por descendência linear".<ref name=somerset10 > {{harvnb|Somerset|2003|p=10}} </ref> }} Onze dias após a execução de Ana Bolena, Henrique se casou com [[Joana Seymour]], porém ela acabou morrendo de complicações pós-parto depois de dar à luz em 1537 ao príncipe [[Eduardo VI de Inglaterra|Eduardo]]. Desde seu nascimento, Eduardo era o [[herdeiro aparente]] incontestável do trono. IsabelElizabeth foi colocada em sua criadagem e carregou o pano batismal em seu batizado.<ref> {{harvnb|Loades|2003|pp=7–8}} </ref>
 
A primeira governanta ou Senhora Patroa de IsabelElizabeth, Margarida Bryan, escreveu que ela era "como para uma criança e tão gentil de condições que jamais conheci em outra em minha vida".<ref> {{harvnb|Somerset|2003|p=11}} </ref><ref> {{citar livro| sobrenome =Jenkins | prenome = Elizabeth|título=Elizabeth the Great|local=Nova Iorque |editora= Capricorn Books, G.P. Putnam's & Sons|ano=1967|página=13|isbn=978-1-898799-70-2 }} </ref> IsabelElizabeth foi colocada aos cuidados de Branca Herbert por volta do outono de 1537, que permaneceu como Senhora Patroa até se aposentar no fim de 1545 ou início de 1546.<ref> {{harvnb|Richardson|2007|pp=39–46}} </ref> Catarina "Kat" Ashley foi nomeada como governanta de IsabelElizabeth em 1537 e permaneceu sua amiga até morrer em 1565, quando Branca Parry a sucedeu como Dama de Companhia Chefe da Câmara Privada.<ref> {{harvnb|Richardson|2007|pp=56, 75–82, 136}} </ref> Ashley ensinou a Isabel quatro línguas: [[Língua francesa|francês]], [[Língua flamenga|flamenco]], [[Língua italiana|italiano]] e [[Língua espanhola|espanhol]].<ref> {{citar livro|autor=Weir, Alison|título=The Children of Henry VIII|local=Londres|editora=Random House|ano=1997|página=7|isbn=978-0-345-40786-3 }} </ref> Na época em que Guilherme Grindal tornou-se seu tutor em 1544, ela já conseguia escrever em [[Língua inglesa|inglês]], [[latim]] e italiano. Com Grindal, um tutor habilidoso e talentoso, Isabel também progrediu em francês e [[Língua grega |grego]].<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=8–10}} </ref> Ele morreu em 1548, e Isabel passou a ser ensinada por [[Roger Ascham|Rogério Ascham]], um professor simpático que acreditava que o ensino também deveria ser cativante.<ref> {{harvnb|Somerset|2003|p=25}} </ref> Quando sua educação formal terminou em 1550, ela era uma das mulheres mais bem educadas de sua geração.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=21}} </ref> IsabelElizabeth, ao final de sua vida, também supostamente falava [[Língua galesa|galês]], [[Língua córnica|córnico]], [[Scots|escocês]] e [[Língua irlandesa |irlandês]].<ref> {{citar web|url=http://www.bbc.co.uk/programmes/b038qsd1|obra=[[BBC Radio]] |acessodata=13 de julho de 2014|título=Series 33. Episode 2|data=21 de agosto de 2013 }} </ref> O embaixador veneziano afirmou em 1603, que ela "dominava [essas] línguas tão completamente que cada uma parecia ser sua língua nativa".<ref> {{citar livro|autor=Brown, Horatio F.|título=Calendar of State Papers Relating to English Affairs in the Archives of Venice|editora=Institute of Historical Research|volume= 9|ano= 1897|páginas= 562–70 |capítulo= Venice: April 1603}} </ref> O historiador Mark Stoyle sugere que provavelmente Guilherme Killigrew, Criado da Câmara Privada e posteriormente Chanceler do Tesouro, ensinou-lhe o córnico.<ref> {{citar livro | prenome =Stoyle | sobrenome = Mark|título=West Britons: Cornish Identities and the Early Modern British State |editora= University of Exeter Press|ano=2002|página=220|isbn= 0-85989688-9}} </ref>
 
== Tomás Seymour ==
[[Ficheiro:Elizabeth1book.jpg|thumb|upright|''The Miroir or Glasse of the Synneful Soul'', presente de IsabelElizabeth a Catarina Parr em 1544. Acredita-se que as letras "KP" foram bordadas pela própria IsabelElizabeth.<ref>{{citar livro | sobrenome =Davenport | prenome = Cyril|editor=Pollard, Alfred|título=English Embroidered Bookbindings |local= Londres |editora= Kegan Paul, Trench, Trübner & Co.|ano=1899|página=32|oclc= 705685}}</ref>]]
Henrique VIII morreu em janeiro de 1547 e foi sucedido pelo filho de nove anos [[Eduardo VI de Inglaterra |Eduardo VI]], meio-irmão de IsabelElizabet. A sexta esposa e viúva do rei, [[Catarina Parr]], logo se casou com [[Tomás Seymour, 1.º Barão Seymour de Sudeley]], tio de Eduardo e irmão de [[Eduardo Seymour, 1.º Duque de Somerset]] e Lorde Protetor. O casal colocou IsabelElizabeth em sua criadagem em [[Chelsea]], [[Londres]]. Lá ela passou por uma crise emocional que alguns historiadores acreditam tê-la afetado pelo restante de sua vida. Seymour, então com quase quarenta anos, porém possuindo charme e "poderoso apelo sexual",{{Sfn |Loades|2003|p= 11}} envolveu-se em brincadeiras grosseiras com IsabelElizabeth, então com quatorze anos. Isso incluía entrar em seu quarto durante a noite, cutucá-la e bater em suas nádegas. Parr juntava-se ao marido ao invés de confrontá-lo por suas atividades impróprias. Duas vezes ela também cutucou a menina e em uma ocasião a segurou enquanto Seymour cortava sua camisola "em milhares de pedaços".<ref>{{citar livro| sobrenome =Starkey | prenome = David |título= Elizabeth: Apprenticeship |local= Londres|editora= Vintage|ano=2001|página=69|isbn=978-0-09-928657-8}}</ref> Entretanto, Parr acabou a situação assim que descobriu os dois abraçados.{{Sfn |Loades|2003|p= 14}} IsabelElizabeth foi mandada embora em maio de 1548.{{Sfn |Loades|2003|p= 16}}
 
Tomás Seymour planejava controlar a família real e tentou ser nomeado Governador da Pessoa Real.{{Sfn |Haigh |2000 |p=8}}{{Sfn |Neale|1954|p= 32}} Quando Parr morreu no parto em 5 de setembro de 1548, ele renovou seu interesse por IsabelElizabeth e tinha a intenção de se casar com ela.{{Sfn |Williams|1972|p=24}} Os detalhes de seu comportamento com IsabelElizabeth tornaram-se públicos;{{Sfn |Loades|2003|pp=14, 16}} isso foi a última gota para seu irmão e para o conselho regencial. Seymour foi preso em janeiro de 1549 sob suspeita de se casar com IsabelElizabeth e depor o irmão. Vivendo na [[Hatfield House|Casa Hatfield]], IsabelElizabeth não admitia nada. Sua teimosia irritou o interrogador sir Roberto Tyrwhitt, que relatou "Não vejo em seu rosto que é culpada". Seymour foi decapitado em 29 de março.{{Sfn |Neale|1954|p= 33}}
 
== Reinado de Maria I ==
[[Imagem:Maria Tudor1.jpg|thumb|left|Maria I em 1554.]]
Eduardo VI morreu em {{dtlink|6|7|1553}} aos quinze anos de idade. Seu testamento colocava de lado o [[Terceiro Ato de Sucessão]] e excluía tanto Maria quanto IsabelElizabeth da sucessão, declarando como herdeira, ao invés disso, [[Joana Grey]], neta de [[Maria Tudor, Rainha de França|Maria, Duquesa de Suffolk]], irmã de Henrique VIII. Joana foi proclamada rainha pelo Conselho Privado, porém ela logo perdeu o apoio e foi deposta em nove dias. Maria entrou triunfantemente em Londres com IsabelElizabeth ao seu lado.<ref name=loades2425 > {{harvnb|Loades|2003|pp=24–25}} </ref>{{nota de rodapé|Isabel havia reunido dois mil cavaleiros montados, "um tributo notável para o tamanho da sua afinidade".<ref name=loades2425 />}}
 
As demonstrações de solidariedade entre as irmãs duraram pouco. A católica devota Maria, estava determinada em esmagar a fé protestante em que IsabelElizabeth havia sido educada, ordenando que todos comparecessem às missas católicas; IsabelElizabeth tinha que obedecer. A popularidade inicial de Maria logo desapareceu em 1554, quando anunciou planos para se casar com o espanhol [[Filipe II de Espanha|Filipe, Príncipe das Astúrias]], um católico e filho do imperador [[Carlos I de Espanha|Carlos V]]. O descontentamento rapidamente cresceu pelo país e muitos olhavam para IsabelElizabeth como o centro da oposição religiosa.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=27}} </ref>
 
A [[Rebelião de Wyatt]] estourou entre janeiro e fevereiro de 1554, porém foi logo suprimida.<ref> {{harvnb|Neale|1954|p=45}} </ref> Isabel foi levada à corte e interrogada sobre seu papel, sendo aprisionada em 18 de março, na [[Torre de Londres]]. Ela fervorosamente declarou sua inocência.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=28}} </ref> Apesar de ser improvável que ela tenha tramado junto aos rebeldes, sabe-se que alguns deles a abordaram. Simão Renard, embaixador de Carlos e confidente próximo de Maria, afirmou que o trono dela nunca estaria seguro enquanto IsabelElizabeth vivesse, com o chanceler [[Stephen Gardiner|Estêvão Gardiner]]. trabalhando para colocá-la sob julgamento.<ref> {{harvnb|Somerset|2003|p=51}} </ref> Os apoiadores de IsabelElizabeth dentro do governo, incluindo Guilherme Paget, 1.º Barão Paget, convenceu a rainha a poupar sua irmã na falta de evidências conclusivas. Ao invés disso, IsabelElizabeth foi levada da Torre a Woodstock, passando quase um ano em prisão domiciliar sob a supervisão de sir Henrique Bedingfeld. Multidões a aclamaram no caminho.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=29}} </ref>{{nota de rodapé|"As esposas de Wycombe passaram bolo e bolachas a ela até que sua liteira ficou tão sobrecarregada que ela tinha que pedir-lhes para parar".<ref> {{harvnb|Neale|1954|p=49}} </ref>}}
 
[[Ficheiro:Hatfield House Old Palace.jpg|thumb|O Velho Palácio da Casa Hatfield, onde IsabelElizabeth viveu sua ascensão.]]
IsabelElizabeth foi chamada de volta à corte em 17 de abril de 1555 para comparecer aos estágios finais da aparente gravidez de Maria. Se a irmã e o filho morressem, IsabelElizabeth tornaria-se rainha. Por outro lado, se Maria desse à luz uma criança saudável, suas chances de ascender ao trono muito diminuiriam. Quando ficou claro que Maria não estava grávida, ninguém mais acreditava que ela seria capaz de produzir um herdeiro.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=32}} </ref> Assim, a sucessão de IsabelElizabeth parecia garantida.<ref> {{harvnb|Somerset|2003|p=66}} </ref>
 
Filipe ascendeu ao trono espanhol em 1556 como Filipe II, reconhecendo a nova realidade política e cultivando sua cunhada. Ela era uma melhor aliada que a principal alternativa, a rainha [[Maria da Escócia]], que havia crescido na [[Reino da França|França]] e estava prometida a [[Francisco II de França|Francisco, Delfim da França]].<ref> {{harvnb|Neale|1954|p=53}} </ref> Quando Maria adoeceu em 1558, ele enviou Gómez Suárez de Figueroa e Córdoba, 1.º Duque de Feria, para consultar com IsabelElizabeth.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=33}} </ref> A entrevista ocorreu na Casa Hatfield, onde tinha voltado a viver em outubro de 1555. Ela já estava fazendo planos para seu governo por volta de outubro de 1558. A rainha acabou reconhecendo a meia-irmã como sua herdeira em 6 de novembro. Maria morreu em {{dtlink|17|11|1558}} e IsabelElizabeth ascendeu ao trono.<ref> {{harvnb|Neale|1954|p=59}} </ref>
 
== Ascensão ==
[[Ficheiro:Elizabeth I in coronation robes.jpg|left|thumb|IsabelElizabeth em trajes de coroação.]]
IsabelElizabeth tornou-se rainha aos 25 anos de idade e declarou suas intenções a seu conselho e outros pariatos que haviam ido para a Casa Hatfield jurar lealdade. O discurso contém o primeiro relato de sua adoção da [[teologia política]] medieval dos "dois corpos" do soberano: o corpo natural e o corpo político.<ref> {{citar livro|autor=Kantorowicz, Ernst|título=The King's Two Bodies: A Study in Mediaeval Political Theology|edição=2ª|local=Princeton|editora=Princeton University Press|ano=1997|página=ix|isbn=978-0-691-01704-4 }} </ref>
 
{{cquote|Meus senhores, a lei da natureza faz-me lamentar por minha irmã; o fardo que caiu em cima de mim me deixa espantada, e mesmo assim, considerando que sou uma criatura de Deus, ordenada a obedecer Sua nomeação, vou dessa maneira render-me, desejando do fundo do meu coração que possa ter a assistência de Sua graça para ser meu ministro de Sua vontade divina no cargo agora comprometido a mim. E como sou apenas um único corpo naturalmente concebido, embora por Sua permissão de um corpo político para governar, assim desejo a todos ... que me ajudem, que eu com meu governo e vós com seu serviço possamos prestar bom serviço a Deus Todo Poderoso e deixarmos algum conforto em nossa posteridade na terra. Pretendo tomar todas as minhas ações por bons conselhos e consultas.<ref> {{harvnb|Loades|2003|pp=36–37}} </ref> }}
 
Ela foi recebida calorosamente por cidadãos e saudada por orações e desfiles, a maioria em forte protestantismo, enquanto progredia por Londres triunfantemente na véspera de sua cerimônia de coroação. As repostas graciosas e abertas de IsabelElizabeth encantaram os espectadores, que estavam "maravilhosamente arrebatados".<ref> {{harvnb|Somerset|2003|pp=89–90}} </ref> No dia seguinte, {{dtlink|15|1|1559}}, Ela foi coroada e ungida na [[Abadia de Westminster]] por Owen Oglethorpe, o católico Bispo de Carlisle. Isabel então foi apresentada à aceitação de seu povo, em meio aos sons ensurdecedores de órgãos, pífaros, trombetas, tambores e sinos.<ref> {{harvnb|Neale|1954|p=70}} </ref>
 
== Resolução religiosa ==
As convicções religiosas pessoais de IsabelElizabeth foram muito discutidas por historiadores. Era protestante, porém mantinha símbolos católicos como o crucifixo e diminuía o papel dos sermões, indo contra a crença protestante.<ref>{{Citar enciclopédia| prenome =Collinson | sobrenome = Patrick|enciclopédia= Oxford Dictionary of National Biography |título=Elizabeth I (1533–1603)|ano= 2008}}</ref>
 
Ela e seus conselheiros viam a ameaça de uma cruzada católica contra a Inglaterra. IsabelElizabeth assim procurou uma solução protestante que não ofenderia muito os católicos enquanto ao mesmo tempo atendia os anseios dos protestantes ingleses; entretanto, não tolerava os [[Puritanismo|puritanos]] mais radicais, que pressionavam por reformas drásticas.<ref>Lee, Christopher (1995, 1998). ''This Sceptred Isle 1547–1660''. "Disco 1". </ref> Assim, o parlamento começou a legislar em 1559 uma igreja baseada na [[Eduardo VI de Inglaterra#Reforma religiosa |resolução protestante de Eduardo VI]], com o monarca como chefe, mas com elementos católicos como vestimentas sacerdotais.{{Sfn |Loades|2003|p= 46}}
 
A Câmara dos Comuns apoiava fortemente as propostas, porém o projeto de lei da supremacia encontrou oposição na [[Câmara dos Lordes]], particularmente dos bispos. IsabelElizabeth teve a sorte de que muitos bispados na época estavam vagos, incluindo o [[Arcebispo da Cantuária | arcebispado da Cantuária]].{{nota de rodapé|"Foi uma sorte que dez dos vinte e seis bispados estavam vagos, havendo uma alta taxa de mortalidade entre o episcopado na época, e uma febre convenientemente levou o Arcebispo da Cantuária de Maria, [[Reginald Pole|Reginaldo Pole]], menos de vinte e quatro horas antes de sua morte".{{Sfn |Somerset|2003|p=98}}}}{{Sfn |Black|1945|p= 10}}{{Sfn |Somerset |2003 |p= 98}} Isso permitiu que apoiadores dentre os pariatos tivessem mais votos que os bispos e pariatos conservadores. Mesmo assim, foi forçada a aceitar o título de [[Governador Supremo da Igreja de Inglaterra |Governadora Suprema da Igreja de Inglaterra]] em vez do mais controverso [[Chefe Supremo da Igreja de Inglaterra |Chefe Suprema]], que muitos achavam inaceitável uma mulher portar. Aprovou-se o novo Ato de Supremacia em 8 de maio de 1559. Todos os oficiais públicos tinham de prestar juramento de lealdade a monarca como governadora suprema ou correrem o risco de perderem o cargo; revogaram-se as leis de [[heresia]] para impedir a perseguição de dissidentes que Maria praticara. Ao mesmo tempo também aprovou-se o novo [[Ato da Uniformidade de 1559 |Ato da Uniformidade]], que obrigava o comparecimento à igreja e o uso de uma versão adaptada do ''[[Livro de Oração Comum]]'' de 1552, apesar das penas de não-conformidade ou de não comparecimento não serem extremas.{{Sfn |Somerset |2003|pp= 101–3}}
 
== Casamento ==
[[Ficheiro:Elizabeth and Leicester miniatures by Hilliard.png|thumb|IsabelElizabeth e seu favorito Roberto Dudley, 1.º Conde de Leicester, c. 1575. A amizade dos dois durou mais de trinta anos até a morte dele.]]
Esperava-se desde o início de seu reinado que IsabelElizabeth se casasse, surgindo questões sobre com quem. Ela nunca se casou, apesar de ter tido vários pretendentes; as razões para isso não são claras. Historiadores especularam que Tomás Seymour facilitou-lhe relações sexuais, ou que ela sabia ser estéril.{{Sfn |Haigh|2000 |p= 19}}{{Sfn |Loades |2003 |p= 38}} A rainha considerou vários pretendentes até os cinquenta anos. Sua última corte foi com o francês [[Francisco, Duque de Anjou]], 22 anos mais novo. Apesar de correr o risco de perder o poder como sua irmã, que fazia o que Filipe II queria, o casamento oferecia a possibilidade de um herdeiro.{{Sfn |Loades |2003 |p= 39}} Entretanto, a escolha de um marido poderia provocar instabilidade política ou até insurreições.<ref>{{citar periódico| sobrenome =Warnicke | prenome = Retha|data=setembro de 2010 |título= Why Elizabeth I Never Married |jornal= History Review|número=67|páginas= 15–20}}</ref>
 
=== Roberto Dudley ===
Ficou evidente no verão de 1559 que IsabelElizabeth apaixonara-se por [[Roberto Dudley, 1.º Conde de Leicester |Roberto Dudley]], seu amigo de infância.{{Sfn |Loades|2003|p=42}}{{Sfn |Wilson|1981|p= 95}} Disse-se que sua esposa [[Amy Dudley |Amy Robsart]] sofria de uma "doença em um de seus seios", e que a rainha gostaria de se casar com Dudley se ela morresse.{{Sfn |Wilson|1981|p=95}} Vários pretendentes competiram pela mão de Isabel no outono do mesmo ano; seus impacientes interessados envolveram-se em conversas cada vez mais escandalosas e relataram que o casamento com seu [[favorito]] não era bem visto na Inglaterra:{{Sfn |Skidmore |2010 |pp= 162, 165, 166–68}} "Não há homem que não clama com indignação sobre ele e ela… ela não se casará com ninguém exceto seu favorito Roberto".{{Sfn |Chamberlain|1939|p=118}} Robsart morreu em setembro de 1560 ao cair de uma escada e, apesar do inquérito legista concluir por um acidente, muitos suspeitavam que Dudley arranjara a morte da esposa para poder se casar com Isabel.{{nota de rodapé |A maioria dos historiadores modernos consideraram impróvavel um assassinato; câncer de mama e suicídio sendo as explicações mais aceitas.{{Sfn |Doran |1996|p=44}} O inquérito legista, considerado perdido por séculos, foi encontrado nos [[Arquivos Nacionais (Reino Unido)|Arquivos Nacionais]] no final da década de 2000, e é compatível com uma queda nas escadas e outros hematomas.<ref> {{harvnb|Skidmore|2010|pp=230–233}} </ref> }}<ref> {{harvnb|Somerset|2003|pp=166–167}} </ref> A rainha considerou seriamente por algum tempo se casar com Dudley. Porém, [[William Cecil|Guilherme Cecil]], Nicolau Throckmorton e outros pariatos conservadores, deixaram claro sua desaprovação.<ref> {{harvnb|Wilson|1981|pp=126–128}} </ref> Houve rumores também que a nobreza iria se revoltar caso o casamento ocorresse.<ref> {{harvnb|Doran|1996|p=45}} </ref>
 
Roberto foi considerado como um possível candidato entre outros pretendentes para a rainha por quase uma década.<ref> {{harvnb|Doran|1996|p=212}} </ref> IsabelElizabeth tinha muito ciúmes, mesmo depois de não mais pretender casar-se com ele.<ref> {{harvnb|Adams|2002|pp=384, 146}} </ref> Ela lhe criou o título de Conde de Leicester em 1564. Dudley finalmente se casou outra vez em 1578 e a rainha respondeu com repetidas cenas de descontentamento e um ódio vitalício contra sua nova esposa, [[Lettice Knollys|Letícia Knollys]].<ref> {{citar livro|autor=Jenkins, Elizabeth|título=Elizabeth and Leicester|local=Nova Iorque|editora=The Phoenix Press|ano=2002|páginas=245, 247|isbn=978-1-84212-560-1 }} </ref><ref> {{harvnb|Hammer|1999|p=46}} </ref> Dudley mesmo assim "permaneceu no centro da vida emocional" de Isabel.<ref> {{citar livro|autor=Doran, Suan|título=Queen Elizabeth I|local=Londres|editora=British Library|ano=2003|página=61|isbn=978-0-7123-4802-7 }} </ref> Ele morreu pouco depois da derrota da [[Invencível Armada]]. Foi encontrada uma carta dele entre os pertences pessoais de IsabelElizabeth após a morte da rainha, marcada como "sua última carta" com a letra dela.<ref> {{harvnb|Wilson|1981|p=303}} </ref>
 
=== Pretendentes estrangeiros ===
[[Ficheiro:François, Duke of Anjou NGA.jpg|thumb|left|upright|Francisco, Duque de Anjou. IsabelElizabeth o chamava de "sapo" e achava que não era "tão deformado" quanto foi levada a esperar.<ref> {{harvnb|Frieda|2005|p=397}} </ref>]]
As negociações de casamento eram parte de um importante elemento da política internacional de Isabel.<ref name=haigh17 > {{harvnb|Haigh|2000|p=17}} </ref> Ela recusou a mão de Filipe II no início de 1559, porém contemplou por anos a proposta do rei [[Érico XIV da Suécia]].<ref> {{citar livro|autor=Jenkins, Elizabeth|título=Elizabeth the Great|local=Nova Iorque|editora=Capricorn Books, G.P. Putnam's and Sons|ano=1967|página=59|isbn=978-1-898799-70-2 }} </ref> Ela também negociou seriamente por muitos anos casar-se com o arquiduque [[Carlos II de Áustria|Carlos II da Áustria]], primo de Filipe. As relações com os [[Casa de Habsburgo|Habsburgo]] deterioraram-se por volta de 1569, e a rainha considerou se casar com dois príncipes franceses de [[Casa de Valois|Valois]], primeiro [[Henrique III de França|Henrique, Duque de Anjou]], e mais tarde seu irmão [[Francisco, Duque de Anjou]], entre 1572 e 1581.<ref> {{harvnb|Loades|2003|pp=53–54}} </ref> A última proposta estava ligada a uma possível aliança contra a Espanha pelo controle dos [[Países Baixos do Sul]].<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=54}} </ref> IsabelElizabeth parece ter considerado seriamente o cortejo por algum tempo, e usava um brinco em formato de sapo que Francisco havia lhe enviado.<ref> {{harvnb|Somerset|2003|p=408}} </ref>
 
IsabelElizabeth disse a um enviado imperial em 1563: "Se eu seguir a inclinação de minha natureza, será esta: mulher pedinte e solteira ao invés de rainha e casada".<ref name=haigh17 /> Mais tarde no mesmo ano, depois dela contrair [[varíola]], a questão da sucessão passou a ser muito debatida no parlamento. Eles imploraram para que a rainha se casasse ou nomeasse um herdeiro para impedir uma guerra civil após sua morte. Isabel recusou-se a fazer as duas coisas. Ela suspendeu o parlamento em abril, e não o reconvocou até precisar aumentar os impostos em 1566. Tendo prometido anteriormente que se casaria, Isabel declarou ao incontrolável parlamento:
 
{{cquote|Nunca quebrarei a palavra de um príncipe dita em espaço público, pelo bem de minha honra. E, portanto, eu digo novamente: casarei-me assim que puder convenientemente, se Deus não levar embora quem eu pretendo casar-me, ou eu mesma, ou então alguma coisa grande deixe acontecer.<ref> {{harvnb|Doran|1996|p=87}} </ref> }}
 
Algumas das principais figuras do governo começaram aceitar, em particular por volta de 1570, que IsabelElizabeth nunca se casaria ou nomearia um herdeiro. Guilherme Cecil já estava procurando soluções para o problema de sucessão.{{Sfn |Haigh |2000 |p = 17}} Foi frequentemente acusada de irresponsabilidade por nunca ter casado.{{Sfn |Haigh |2000 |pp= 20–21}} Entretanto, seu silêncio fortaleceu sua própria segurança política: IsabelElizabeth sabia que estaria vulnerável a um golpe se nomeasse um herdeiro; lembrava como "uma segunda pessoa, como fui" fora foco de tramas contra sua predecessora.{{Sfn |Haigh|2000|pp= 22–23}}
 
[[Ficheiro:Elizabeth I Steven Van Der Meulen.jpg|thumb|Isabel c. 1563. O mais antigo retrato de corpo inteiro da rainha feito antes do surgimento dos simbolismos representando a iconografia da "Rainha Virgem".<ref>{{citar web |url= http://www.bucksherald.co.uk/news/historic-painting-is-sold-for-163-2-6-million-1-607827 |acessodata= 19 de julho de 2014|título=Historic painting is sold for £2.6 million|obra=The Bucks Herald |data= 28 de novembro de 2007 | prenome =Dowdeswell | sobrenome = Anna}}</ref>]]
 
O fato de IsabelElizabeth não ter se casado inspirou um culto de virgindade. Era representada na poesia e literatura como uma virgem, uma deusa ou ambas, não como uma mulher normal.<ref>{{citar periódico| sobrenome =King | prenome = John N.|data=1990|título=Queen Elizabeth I: Representations of the Virgin Queen|jornal= Renaissance Quarterly |volume= 43|número=1|páginas=30–74}}</ref> Apenas IsabelElizabeth inicialmente fez de sua virgindade uma virtude: declarou na Câmara dos Comuns em 1559 que "No final, será para mim suficiente, que uma pedra de mármore deverá declarar que uma rainha, tendo reinado por um tempo, viveu e morreu virgem".{{Sfn |Haigh |2000 |p= 23}} Posteriormente, poetas e escritores adotaram o tema e o transformaram numa iconografia que exaltava a rainha. Tributos públicos a ela em 1578 agiam como uma asserção de oposição codificada contra as negociações de casamento de Isabel com Francisco, Duque de Anjou.<ref> {{citar periódico| sobrenome =Doran | prenome = Susan |data= 1995 |título= Juno Versus Diana: The Treatment of Elizabeth I's Marriage in Plays and Entertainments, 1561–1581 |jornal= Historical Journal|volume=38|páginas= 257–74}}</ref>
 
IsabelElizabeth, dando um aspecto positivo à sua situação conjugal, insistiu ser casada com seu reino e súditos, sob proteção divina. Declarou em 1599: "todos os meus maridos, meu bom povo".{{Sfn |Haigh|2000 |p= 24}}
 
== Maria da Escócia ==
A política inicial de IsabelElizabeth com a [[Reino da Escócia|Escócia]] foi a de se opor à presença francesa.<ref> {{harvnb|Haigh|2000|p=131}} </ref> Ela temia que os franceses planejassem invadir a Inglaterra e colocar no trono a rainha [[Maria da Escócia]],{{nota de rodapé|Quando IsabelElizabeth ascendeu ao trono, os parentes de Guise de Maria a declararam Rainha da Inglaterra e empalaram o brasão inglês com o escocês e francês.<ref name=guy9697> {{harvnb|Guy|2004|pp=96–97}} </ref> }}<ref name=guy9697/> considerada por muitos como herdeira da coroa inglesa.{{nota de rodapé|A posição de Maria como herdeira vinha de seu bisavô [[Henrique VII de Inglaterra]] através de sua filha [[Margarida Tudor]]. Em sua próprias palavras: "Eu sou a parente mais próxima que ela tem, sendo ambas de nós de uma casa e estoque, a Rainha minha boa irmã vindo do irmão e eu da irmã".<ref name=guy115 > {{harvnb|Guy|2004|p=115}} </ref> }}<ref name=guy115 /> IsabelElizabeth foi persuadida a enviar uma força para a Escócia ajudar os rebeldes protestantes; apesar da campanha ter sido inepta, o resultante Tratado de Edimburgo de julho de 1560 retirou a ameaça francesa no norte.{{nota de rodapé|Pelo tratado, tanto as tropas francesas quanto as inglesas sairiam da Escócia.<ref name=haigh132 > {{harvnb|Haigh|2000|p=132}} </ref> }}<ref name=haigh132 /> A Escócia tinha uma estabelecida igreja protestante e um governo formado por um conselho de nobres protestantes apoiados por IsabelElizabeth quando Maria voltou para o reino em 1561 para reassumir seu poder.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=67}} </ref> Ela recusou-se a ratificar o tratado.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=68}} </ref>
 
IsabelElizabeth propôs em 1563 que Roberto Dudley, seu próprio pretendente, se casasse com Maria, sem antes falar com nenhum dos dois envolvidos. Ambos não ficaram interessados<ref> {{Citar enciclopédia|autor=Adams, Simon|enciclopédia=Oxford Dictionary of National Biography|título= Dudley, Robert, earl of Leicester (1532/3–1588)|data=maio de 2008 }} </ref> e ela acabou se casando dois anos depois com [[Henrique Stuart, Lorde Darnley]], que tinha sua própria reivindicação ao trono inglês. O casamento foi o primeiro de uma série de erros de julgamento que Maria cometeu e que acabaram dando a vitória para os protestantes escoceses e IsabelElizabeth. Stuart rapidamente ficou impopular e depois infame por participar do assassinato de David Rizzio, secretário italiano de sua esposa. Ele mesmo acabou sendo morto em fevereiro de 1567 por conspiradores quase certamente liderados por [[Jaime Hepburn, 4.º Conde de Bothwell]]. Pouco tempo depois, em maio, Maria se casou com Hepburn e levantou suspeitas que havia participado do assassinato do marido. IsabelElizabeth escreveu a ela:
 
{{cquote|Como pôde fazer pior escolha para a sua honra do que na pressa que teve em casar-se com tal sujeito que, além de outros notórios defeitos, foi acusado em praça pública do assassinato do seu falecido marido, além de alguma culpa também lhe tocar, apesar de acreditarmos que essa parte seja falsa.<ref> {{harvnb|Loades|2003|pp=69–70}} </ref>}}
 
Esses evento rapidamente levaram a derrota de Maria e seu aprisionamento no [[Castelo de Lochleven]]. Os lordes escoceses forçaram sua abdicação em favor do filho [[Jaime VI da Escócia e I de Inglaterra|Jaime]], que havia nascido em junho de 1566. O novo rei foi levado ao [[Castelo de Stirling]] para ser criado como protestante. Maria escapou de [[Loch Leven]] em 1568, porém fugiu para a Inglaterra depois de uma nova derrota, onde haviam lhe garantido que teria apoio de IsabelElizabeth. O primeiro instinto de IsabelElizabeth foi de restaurar a outra monarca, entretanto ela e o conselho decidiram jogar seguro. Ao invés de arriscarem-se a levar Maria de volta a Escócia com um exército inglês ou enviá-la a França para seus inimigos católicos, foi decidido mantê-la na Inglaterra onde ficou aprisionada pelos dezenove anos seguintes.<ref> {{harvnb|Loades|2003|pp=72–73}} </ref>
 
=== Maria e a causa católica ===
[[Ficheiro:Sir Francis Walsingham by John De Critz the Elder.jpg|left|thumb|Sir Francisco Walsingham c. 1585.]]
Maria logo foi o foco de uma rebelião. Houve um grande [[Rebelião do Norte|levante católico no Norte]] em 1569; o objetivo era libertar Maria, casá-la com Tomás Howard, 4.º Duque de Norfolk, e colocá-la no trono inglês.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=73}} </ref> Mais de 750 rebeldes foram executados sob as ordens de IsabelElizabeth após sua derrota.<ref> {{citar livro|autor=Williams, Neville|título=Thomas Howard, Fourth Duke of Norfolk|local=Londres|editora=Barrie & Rockliff|ano=1964|página=174}} </ref> Acreditando que a revolta havia sido bem sucedida, o [[Papa Pio V]] emitiu em 1570 uma bula papal chamada ''Regnans in Excelsis'' em que declarava "IsabelElizabeth, a pretensa Rainha da Inglaterra e servente de crime" excomungada e herética, liberando todos seus súditos de qualquer lealdade a ela.<ref name=mcgrath > {{citar livro|autor=McGrath, Patrick|título=Papists and Puritans under Elizabeth I|local=Londres|editora=Blandford Press|ano=1967|página=69 }} </ref><ref name=collinson67 > {{harvnb|Collinson|2007|p=67}} </ref> Católicos que obedecessem suas ordens estavam ameaçados com excomungação.<ref name=mcgrath /> A bula papal provocou respostas legislativas contra católicos no parlamento, que acabaram mitigadas pela intervenção de IsabelElizabeth.<ref> {{harvnb|Collinson|2007|pp=67–68}} </ref> A conversão de ingleses para o catolicismo com "o intuito" de remover sua lealdade da rainha foi transformada em alta traição em 1581, punível com pena de morte.<ref> {{harvnb|Collinson|2007|p=68}} </ref> [[Missão|Padres missionários]] vindos de [[seminário]]s continentais foram para a Inglaterra secretamente a partir da década de 1570 para causar a "reconversão". Muitos foram executados, criando um culto de martírio.<ref name=collinson67 />
 
''Regnans in Excelsis'' deu aos católicos ingleses uma forte iniciativa para verem Maria como sua verdadeira soberana. Maria talvez não tenha adquirido conhecimento de todas as tramas católicas para colocá-la no trono da Inglaterra, porém da Consipiração de Ridolfi de 1571 (que fez com que Howard fosse decapitado) até a Conspiração de Babington de 1586, sir [[Francis Walsingham|Francisco Walsingham]], mestre espião de IsabelElizabeth, e o conselho sutilmente reuniram um caso contra ela.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=73}} </ref> IsabelElizabeth inicialmente resistiu aos pedidos de execução de Maria. No final de 1586 ela foi persuadida a autorizar seu julgamento e execução sob as evidências de cartas escritas durante a Conspiração de Babington.<ref> {{harvnb|Guy|2004|pp=483–484}} </ref> A proclamação de IsabelElizabeth da sentença anunciava que "a dita Maria, pretendendo o título da mesma Coroa, tinha cercado-se e imaginado-se dentro do mesmo reino diversas coisas com a intenção de ferir, matar e destruir nossa pessoa real".<ref> {{harvnb|Loades|2003|pp=78–79}} </ref> Maria abacou sendo decapitada em {{dtlink|8|2|1587}} no Castelo de Fotheringhay, [[Northamptonshire]].<ref> {{harvnb|Guy|2004|pp=1–11}} </ref> Após a execução, IsabelElizabeth afirmou nunca tê-la ordenado e a maioria dos relatos conta que ela pediu ao secretário Guilherme Davison, quem lhe trouxe o mandato, para não enviar o documento mesmo estando assinado. A sinceridade do remorso da rainha e seus motivos para pedir a Davison não executar o mandato foram questionados por historiadores contemporâneos e posteriores.<ref> {{citar livro|autor=[[Antonia Fraser|Fraser, Antonia]]|título=Mary Queen of Scots|local=Londres|editora=Weidenfeld and Nicolson|ano=1994|página=541|isbn=978-0-297-17773-9 }} </ref><ref> {{harvnb|Guy|2004|p=497}} </ref>
 
== Guerras e comércio estrangeiro ==
[[Ficheiro:Elizabeth I Halfgroat.jpg|thumb|Moeda meia-groat de Isabel.]]
A política internacional de IsabelEkizabeth I foi principalmente defensiva. A exceção foi a ocupação inglesa de [[Le Havre]] de outubro de 1562 a junho de 1563, que terminou em fracasso quando seus aliados [[huguenote]] juntaram-se aos católicos para retomar a cidade. A intenção da rainha era trocar Le Havre por [[Calais]], retomada pela França em janeiro de 1558.<ref> {{harvnb|Frieda|2005|p=191}} </ref> IsabelElizabeth procurou políticas agressivas apenas através das atividades de suas frotas. Isso acabou tendo bons resultados na guerra contra a Espanha, lutada 80% nos mares.<ref name=loades61 > {{harvnb|Loades|2003|p=61}} </ref> Ela fez de [[Francis Drake]] um cavaleiro após sua [[circum-navegação]] entre 1577 e 1580, e ele acabou ganhando fama por ataques a portos e frotas espanholas. Um elemento de pirataria e auto-enriquecimento motivava os marinheiros, sob os quais IsabelElizabeth tinha pouco controle.<ref> {{citar livro|autor=Flynn, Sian; Spence, David|editor=Doran, Susan (ed.)|título=Elizabeth: The Exhibition at the National Maritime Museum|local=Londres|editora=Chatto and Windus|ano=2003|páginas=126–128|capítulo="Elizabeth's Adventurers"|isbn=978-0-7011-7476-7 }} </ref><ref> {{harvnb|Somerset|2003|pp=607–611}} </ref>
 
=== Expedição aos Países Baixos ===
IsabelElizabeth I evitou expedições continentais depois da ocupação e perda de Le Havre até 1585, quando enviou um exército inglês para ajudar rebeldes protestantes holandeses contra Filipe II. Isso ocorreu após as mortes de seus aliados [[Guilherme I, príncipe de Orange|Guilherme I, Príncipe de Orange]], e Francisco, Duque de Anjou, ambos em 1584, junto com a conquista de várias cidades holandesas por [[Alexandre Farnésio de Parma e Placência|Alexandre Farnésio, Duque de Parma e Placência]], governador dos [[Países Baixos do Sul]]. Uma aliança em dezembro de 1584 entre Filipe e a [[Liga católica|Liga Católica]] francesa minou a capacidade de [[Henrique III de França]], irmão de Francisco, de conter a dominação espanhola dos Países Baixos. Isso também expandiu a influência espanhola ao longo do [[Canal da Mancha]] na costa da França, onde a Liga Católica era forte, expondo a Inglaterra a uma invasão.<ref> {{harvnb|Haigh|2000|p=135}} </ref> O cerco de [[Antuérpia]] no verão de 1585 por Farnésio fez necessária uma reação por parte dos ingleses e holandeses. O resultado foi o Tratado de Nonsuch, em que IsabelElizabeth prometia apoio militar aos holandeses.{{sfn|Strong & van Dorsten|1964|pp=20–26}}
 
[[Ficheiro:Elizabeth I of England Marcus Gheeraerts the Elder.jpg|thumb|left|Isabel c. 1580–1585.]]
A expedição foi liderada por Roberto Dudley, Conde de Leicester. Desde o início IsabelElizabeth I não apoio muito esse curso de ação. Sua estratégia era apoiar os holandeses com um exército inglês enquanto secretamente negociava a paz com a Espanha dias antes da chegada de Dudley,{{sfn|Strong & van Dorsten|1964|p=43}} porém necessariamente entrava em conflito com a estratégia do conde, quem os holandeses queriam e era esperado para lutar ativamente em uma campanha. A rainha queria "evitar a todos os custos qualquer ação decisiva contra o inimigo".{{sfn|Strong & van Dorsten|1964|p=72}} Ele irritou IsabelElizabeth ao aceitar o cargo de Governador Geral ofericido pelos [[Estados Gerais dos Países Baixos|Estados Gerais]]. Ela viu isso como uma tentativa holandesa de fazê-la aceitar a soberania sobre os Países Baixos, que até então ela tinha recusado.{{sfn|Strong & van Dorsten|1964|p=50}} Isabel escreveu a Dudley:
 
{{cquote|Nunca poderíamos ter imaginado (se não tivéssemos tido a experiência) que um homem criado por nós e extraordinariamente favorecido por nós, acima de qualquer outro súdito desta terra, poderia ser tão desprezível em espécie e quebrado nosso mandamento em uma causa que nos toca com tanta honra ... E portanto o nosso espresso prazer e comando é que, colocadas de lado todos os atrasos e desculpas, você fará atualmente sobre o dever de obedecer a sua lealdade e cumprir tudo o que o portador deste Estatuto Social deverá direcioná-lo para fazer em nosso nome. Do qual você não falhará, como você vai responder pelo contrário no maior risco.<ref name=loades94 > {{harvnb|Loades|2003|p=94}} </ref> }}
 
O "comando" de IsabelElizabeth era que seu emissário lesse suas cartas de desaprovação em público diante do Conselho de Estado holandês e com Dudley presente.<ref> {{harvnb|Chamberlain|1939|pp=263–264}} </ref> Essa humilhação pública de seu "tenente general" junto com suas conversas de paz em separado com a Espanha{{nota de rodapé|O embaixador inglês na França a estava enganando sobre as verdadeiras intenções de Filipe, que apenas estava tentando ganhar tempo para seu grande ataque contra a Inglaterra com a Invencível Armada.<ref name=parker > {{citar livro|autor=Parker, Geoffrey|título=The Grand Strategy of Philip II|local=New Haven|editora=Yale University Press|ano=2000|páginas=193–194|isbn=978-0-300-08273-9 }} </ref> }} minaram irreversivelmente sua posição entre os holandeses. A campanha militar foi repetidas vezes prejudicada pelas várias recusas da rainha de enviar os fundos prometidos para os soldados famintos. Sua falta de vontade de comprometer-se à causa, as deficiências de Dudley como político e líder militar e a situação caótica da política holandesa foram as razões do fracasso da campanha.<ref> {{citar livro|autor=Haynes, Alan|título=The White Bear: Robert Dudley, the Elizabethan Earl of Leicester|editora=Peter Owen|local=Califórnia|ano=1987|página=15|isbn=978-0-7206-0672-0 }} </ref>{{sfn|Strong & van Dorsten|1964|pp=72–79}}
 
=== Invencível Armada ===
Enquanto isso, sir Francis Drake realizou entre 1585 e 1586 uma grande viagem contra navios e portos espanhóis no [[Caribe]], conseguindo atacar [[Cádis]] em 1587 e destruindo a frota espanhola de navios de guerra destinada para a ''Empreitada da Inglaterra''.<ref name=parker /> Filipe havia decidido fazer guerra contra os ingleses.<ref name=haigh138 > {{harvnb|Haigh|2000|p=138}} </ref>
 
[[Ficheiro:Elizabeth I (Armada Portrait).jpg|thumb|300px|Retrato de 1588 de IsabelElizabeth para comemorar a derrota da Invencível Armada, representada ao fundo. A mão da rainha está sobre um globo, simbolizando seu poder internacional.]]
A [[Invencível Armada]], uma grande frota de navios, partiu para o Canal da Mancha em 12 de julho de 1588 planejando levar uma força de invasão espanhola sob comando de Alexandre Farnésio, Duque de Parma e Placência, para a costa sul da Inglaterra a partir dos Países Baixos. Uma combinação de erros de cálculo,{{nota de rodapé|Quando Alonso Pérez de Guzmán, 7.º Duque de Medina Sidonia e comandante naval espanhol, chegou na costa de Calais, ele encontrou as tropas de Farnésio despreparadas e foi forçado a esperar, dando aos ingleses a oportunidade para lançar seu ataque.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=64}} </ref> }} má sorte e um ataque inglês com [[Navio de fogo|navios de fogo]] em 29 de julho perto de Gravelines acabou dispersando os navios espanhóis para o nordeste e a Armada acabou sendo derrotada.<ref> {{harvnb|Black|1945|p=349}} </ref> Ela voltou para a Espanha em restos despedaçados, após enormes perdas ao oeste da costa da [[Reino da Irlanda|Irlanda]] (alguns navios tentaram voltar para casa através do [[Mar do Norte]], virando para o sul depois da costa irlandesa).<ref name=neale300 > {{harvnb|Neale|1964|p=300}} </ref> Milícias inglesas, sem saber do destino da Armada, reuniram-se para defender o reino sob o comando de Roberto Dudley. Ele convidou IsabelElizabeth para inspecionar as tropas em Tilbury, [[Essex]], no dia 8 de agosto. Usando uma armadura peitoral de prata sobre um vestido de veludo branco, ela dirigiu-se aos homens em um de seus discursos mais famosos:
 
{{cquote|Meu amado povo, fomos persuadidos por alguns que se preocupam com nossa segurança, para termos cuidado com a forma como nos empenhamos em armar multidões por medo de traição; porém garanto-vos, não desejo viver para desconfiar de meu fiel e amado povo ... sei que tenho apenas o corpo de uma mulher fraca é débil, porém tenho o coração e estômago de um rei, e também de um Rei da Inglaterra, e desprezo que Parma ou a Espanha, ou qualquer outro Príncipe da Europa ouse invadir as fronteiras de meu reino.<ref> {{harvnb|Neale|1964|pp=297–298}}; {{harvnb|Somerset|2003|p=591}} </ref> }}
 
A nação comemorou quando não houve nenhuma invasão. A procissão de IsabelElizabeth para um serviço de ação de graças na [[Catedral de São Paulo (Londres)|Catedral de São Paulo]] rivalizou em espetáculo com aquela ocorrida em sua coroação.<ref name=neale300 /> A derrota da Armada foi também uma enorme vitória em propaganda, tanto para a rainha quanto para a Inglaterra protestante. Os ingleses consideraram o ocorrido como um símbolo da preferência divina e a inviolabilidade da nação sob uma rainha virgem.<ref name=loades61 /> Entretanto, a vitória não foi um ponto de virada na guerra, que prosseguiu e frequentemente favorecia a Espanha.<ref name=black353 > {{harvnb|Black|1945|p=353}} </ref> Os espanhóis ainda controlavam os Países Baixos e a ameaça de uma invasão continuou.<ref name=haigh138 /> Sir [[Walter Raleigh|Valter Raleigh]] afirmou após a morte de IsabelElizabeth que a precaução dela impediu a guerra contra a Espanha:
 
{{cquote|Se a falecida rainha tivesse confiado em seus homens de guerra como fez com seus escribas, teríamos em sua época derrotado aquele grande império em pedaços e feito seus reis em figas e laranjas como nos velhos tempos. Porém sua Majestade fez tudo pela metade, e por invasões mesquinhas ensinou o Espanhol como se defender, e ver suas próprias fraquezas.<ref> {{harvnb|Haigh|2000|p=145}} </ref> }}
 
Apesar de alguns historiadores terem criticado IsabelElizabeth por razões semelhantes,<ref> {{harvnb|Haigh|2000|p=183}} </ref> o veredito de Raleigh foi frequentemente considerado como injusto. A rainha tinha bons motivos para não confiar em seus comandantes, que uma vez em ação tendiam "a serem transportados com um tamento de vanglória", como ela mesma colocou.<ref> {{harvnb|Somerset|2003|p=655}} </ref>
 
=== Apoio a Henrique IV de França ===
[[Ficheiro:Henri IV by F. Pourbus the Younger (Royal Collection).jpg|thumb|left|180px|Henrique III & IV.]]
Quando o protestante [[Henrique IV de França|Henrique III de Navarra]] herdou o trono da França em 1589, IsabelElizabeth lhe enviou apoio militar. Foi sua primeira empreitada no país desde a retirada de Le Havre em 1563. A ascensão de Henrique foi muito contestada pela [[Liga católica|Liga Católica]] e por Filipe, com IsabelElizabeth temendo que os espanhóis tomassem os portos franceses ao longo do canal. Entretanto, as campanhas seguintes da Inglaterra em território francês foram desorganizadas e ineficientes<ref name=haigh142 > {{harvnb|Haigh|2000|p=142}} </ref> Lorde Peregrine Bertie, 13.º Barão Willoughby de Eresby, ignorou as ordens da rainha e marchou para o norte da França com quatro mil homens, porém acabou realizando muito pouco. Ele recuou em desordem em dezembro de 1589, perdendo metade de suas tropas. A campanha de João Norreys em 1591 levou três mil homens a [[Bretanha]], terminando em um desastre ainda maior. IsabelElizabeth não queria investir em suprimentos e reforços como seus comandantes pediam por causa de tais expedições. Norreys foi para Londres pedir apoio a rainha pessoalmente. O exército da Liga Católica praticamente destruiu em maio de 1591 o restante de seu exército em Craon, noroeste da França, durante sua ausência. IsabelElizabeth enviou outra força em julho sob o comando de [[Robert Devereux|Roberto Devereux, 2.º Conde de Essex]], para ajudar Henrique no cerco a [[Ruão]]. O resultado foi outro desastre. Devereux não conseguiu realizar nada e voltou em janeiro de 1592. Henrique abandonou o cerco em abril seguinte.<ref> {{harvnb|Haigh|2000|p=143}} </ref> Como sempre, a rainha não tinha controle sobre seus comandantes uma vez que eles estivessem no exterior. "Onde ele está, ou o que ele faz, ou o que ele fará", ela escreveu a Devereux, "somos ignorantes".<ref> {{harvnb|Haigh|2000|pp=143–144}} </ref>
 
=== Irlanda ===
Apesar da [[Reino da Irlanda|Irlanda]] ser um de seus reinos, IsabelElizabeth enfrentava em certos lugares uma população hostil e até mesmo autônoma{{nota de rodapé|Um observador comentou que por exemplo [[Ulster]] era "tão desconhecida para os ingleses aqui quanto a parte mais interior da Virgínia".<ref> {{harvnb|Somerset|2003|p=667}} </ref> }} que aderia ao catolicismo e estava disposta a desafiar sua autoridade e conspirar com seus inimigos. Sua política na região era entregar terras a seus cortesãos e impedir que os rebeldes dessem a Espanha uma base de onde pudesse atacar a Inglaterra.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=55}} </ref> As forças da coroa utilizaram táticas de [[Terra queimada|terra arrasada]] contra uma série de levantes, queimando a terra e chacinando homens, mulheres e crianças. Durante uma revolta liderada por Geraldo FitzGerald, 15.º Conde de Desmond, em [[Munster (Irlanda)|Munster]] em 1582, por volta de trinta mil irlandeses morreram de fome. O poeta e colono [[Edmund Spenser]] escreveu que as vítimas "foram levadas a tal miséria como que qualquer coração de pedra teria lamentado o mesmo".<ref> {{harvnb|Somerset|2003|p=668}} </ref> IsabelElizabeth aconselhou seus comandantes que "aquela nação rude e bárbara" fosse bem tratada, porém não demonstrou remorso quando a força e derramamento de sangue foram necessários.<ref> {{harvnb|Somerset|2003|p=668–669}} </ref>
 
IsabelElizabeth enfrentou seu teste mais severo na Irlanda entre 1594 e 1603 durante a [[Guerra dos Nove Anos (Irlanda)|Guerra dos Nove Anos]], uma guerra que aconteceu no ponto alto das hostilidades contra a Espanha, que apoiava o líder rebelde Hugo O'Neill, 2.º Conde de Tyrone.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=98}} </ref> Isabel enviou Roberto Devereux na primavera de 1599 para acabar com a revolta. Ele fez pouco progresso e voltou para a Inglaterra contra suas ordens, para a frustração da rainha.{{nota de rodapé|Em uma carta a Devereux de 19 de julho de 1599, escreveu: "Pois o que pode ser mais verdadeiro (se as coisas sejam corretamente examinadas) que sua jornada de dois meses nunca trouxe uma capital rebelde a qual seja digna de ter se aventurado mil homens".<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=98}} </ref> }} Devereux foi substituído por Carlos Blount, 8.º Barão Mountjoy, que precisou de três anos para derrotar os rebeldes. O'Neill finalmente se rendeu em 1603, alguns dias após a morte de IsabelElizabeth.<ref> {{harvnb|Loades|2003|pp=98–99}} </ref>
 
=== Rússia ===
[[Ficheiro:Ivan the Terrible and Harsey.jpg|thumb|300px|Ivã IV mostra seus tesouros ao embaixador inglês.]]
IsabelElizabeth continuou a manter as relações diplomáticas que Eduardo VI havia estabelecido com o [[Czarado da Rússia]]. Ela frenquentemente escrevia ao imperador [[Ivã IV da Rússia|Ivã IV]] em termos amigáveis, apesar dele ficar frequentemente irritado por seu foco em comércio ao invés de uma possível aliança militar. Ivã até a pediu em casamento, também pedindo garantias durante a segunda metade do reinado de Isabel que recebesse asilo na Inglaterra caso seu reinado fosse colocado em risco. Seu simplório filho [[Teodoro I da Rússia|Teodoro I]] o sucedeu depois de sua morte. Diferentemente do pai, o novo imperador não queria manter direitos exclusivos de comércio com a Inglaterra. Ele declarou seu reino aberto a todos os estrangeiros, dispensando o embaixador inglês sir Jerônimo Bowes, cuja pomposidade havia sido tolerada por Ivã. IsabelElizabeth enviou o dr. Giles Fletcher como novo embaixador para exigir que o regente [[Boris Godunov da Rússia|Bóris Godunov]] convencesse Teodoro a reconsiderar. As negociações falharam pois Fletcher omitiu dois títulos ao dirigir-se a ele. A rainha continuou a falar com Teodoro em cartas meio suplicantes e meio reprovatórias. Ela propôs uma aliança, algo que sempre recusou com Ivã, mas nada adiantou.<ref> {{citar livro|autor=Crankshaw, Edward|título=Russia and Britain|local=Londres|editora=Collins|ano=1944|página=126 }} </ref>
 
=== Berbéria e Império Otomano===
[[Ficheiro:MoorishAmbassador to Elizabeth I.jpg|thumb|left|upright|Abd el-Ouahed ben Messaoud, embaixador mouro de Berbéria.]]
A Inglaterra desenvolveu relações diplomáticas e de comércio com [[Berbéria]] durante o reinado de IsabelElizabeth I .<ref name=virginia > {{citar livro|autor=Vaughan, Virginia M.|título=Performing Blackness on English Stages, 1500–1800|local=Cambridge|editora=Cambridge University Press|ano=2005|página=57|isbn=9780521845847 }} </ref><ref name=nicoll > {{citar livro|autor=Nicoll, Allardyce|título=Shakespeare Survey With Index 1–10|local=Cambridge|editora=Cambridge University Press|ano=2002|página=90, 96|isbn=978-0-521-52347-9 }} </ref> Ela estabeleceu relações de comércio com o [[Saadianos|Marrocos]] em oposição a Espanha, vendendo armaduras, munição, madeira e metais em troca de açúcar, mesmo com uma proibição papal.<ref> {{citar livro|autor=Bartels, Emily C.|título=Speaking of the Moor: From Alcazar to Othello|local=Filadélfia|editora=University of Pennsylvania Press|ano=2008|página=24|isbn=9780812240764 }} </ref> Abd el-Ouahed ben Messaoud, principal secretário de [[Ahmed al-Mansur Saadi]] do Marrocos, visitou a Inglaterra em 1600 como embaixador na corte para negociar uma aliança anglo-marroquina contra os espanhóis.<ref name=virginia /> IsabelElizabeth "concordou em vender munições e suprimentos aos Marrocos, e ela e Mulai Ahmad al-Mansur conversaram de vez em quando sobre montarem uma operação conjunta contra os espanhóis".<ref name=kupperman39 > {{harvnb|Kupperman|2007|p=39}} </ref> As discussões permaneceram inconclusivas, com os dois morrendo dois anos depois da visita de ben Messaoud.<ref name=nicoll />
 
Também foram estabelecidas relações diplomáticas com o [[Império Otomano]] através do estabelecimento da Companhia de Levante e o envio em 1578 do primeiro embaixador à [[Sublime Porta]], Guilherme Harborne.<ref name=kupperman39 /> Um tratado de comércio foi assinado pela primeira vez em 1580.<ref> {{citar livro|autor=Stearns, Peter N. (ed.)|título=The Encyclopedia of World History: Ancient, Medieval and Modern - Chronologically Arranged|local=Nova Iorque|editora=James Clarke & Co Ltd|ano=2002|página=353|isbn=0227679687 }} </ref> Os dois países mandaram vários enviados uns ao outro e trocas epistolares ocorreram entre IsabelElizabeth e o sultão [[Murad III]].<ref name=kupperman39 /> Ele expressou sua noção em uma das cartas que o islamismo e o protestantismo tinham "muito mais em comum que ambos tinham com o Catolicismo Romano, já que os dois rejeitavam a idolatria de ídolos", discutindo para uma aliança entre a Inglaterra e o Império Otomano.<ref> {{harvnb|Kupperman|2007|p=40}} </ref> Os inglês exportaram estanho e chumbo (para a criação de canhões) e munição, para o desalento da Europa católica, com IsabelElizabeth discutindo seriamente com Murad operações militares conjuntas durante o início da guerra contra a Espanha em 1585, já que Francisco Walsingham estava fazendo lobby para um envolvimento otomano direto contra o inimigo em comum.<ref> {{harvnb|Kupperman|2007|p=41}} </ref>
 
== Últimos anos ==
[[Ficheiro:Queen Elizabeth I ('The Ditchley portrait') by Marcus Gheeraerts the Younger.jpg|thumb|Isabel c. 1592.]]
O périodo após a derrota da Invencível Armada em 1588 trouxe novas dificuldades a IsabelElizabeth I que duraram pelos quinze últimos anos de seu reinado.<ref name=black353 /> Os conflitos com a Espanha e Irlanda se arrastaram, os impostos ficaram mais pesados e a economia foi atingida por colheitas ruins e os custos das guerras. Os preços subiram e a qualidade de vida caiu.<ref name=haigh155 > {{harvnb|Haigh|2000|p=155}} </ref><ref> {{harvnb|Black|1945|pp=355–356}} </ref> A repressão contra os católicos se intensificou nessa época, com a rainha autorizando em 1591 comissões para monitorar e interrogar chefes de família católicos.<ref> {{harvnb|Black|1945|p=355}} </ref> Ela dependia cada vez mais de espiões internos e propaganda para manter a ilusão de paz e prosperidade.<ref name=haigh155 /> As críticas cada vez maiores refletiam o declínio da efeição pública por IsabelElizabeth em seus últimos anos.<ref> {{harvnb|Haigh|2000|pp=149–169}} </ref>
 
Uma das causas para esse "segundo reinado", como é as vezes chamado,<ref> {{harvnb|Adams|2002|p=7}}; {{harvnb|Collinson|2007|p=89}} {{harvnb|Hammer|1999|p=1}} </ref> foi a mudança da personalidade do Conselho Privado na década de 1590, o órgão de governo de IsabelElizabeth I. Havia uma nova geração no poder. Com a exceção de Guilherme Cecil, os políticos mais importantes do reino haviam morrido por volta de 1590: Dudley em 1588, Walsingham em 1590 e sir Cristóvão Hatton em 1591.<ref> {{harvnb|Collinson|2007|p=89}} </ref> Brigas entre facções no governo, que não existiram de forma notória antes de 1590,<ref> {{harvnb|Doran|1996|p=216}} </ref> agora eram uma característica.<ref> {{harvnb|Hammer|1999|pp=1–2}} </ref> Surgiu uma grande rivalidade entre Devereux e Roberto Cecil, filho de Guilherme, com a disputa pelas posições mais poderosas no reino interferindo na política.<ref> {{harvnb|Hammer|1999|pp=1, 9}} </ref> A autoridade pessoal da rainha estava diminuindo,<ref> {{harvnb|Hammer|1999|pp=9–10}} </ref> como foi demonstrado em 1594 pelo caso do dr. Lopez, seu médico. Quando ele foi erroneamente acusado de traição por Devereux em uma disputa pessoal, IsabelElizabeth não conseguiu impedir sua execução, mesmo tendo ficado brava por sua prisão e aparentando não ter acreditado que ele era culpado.<ref> {{citar livro|autor=Lacey, Robert|título=Robert Earl of Essex: An Elizabethan Icarus|local=Londres|editora=Weidenfeld & Nicolson|ano=1971|páginas=117–120|isbn=978-0-297-00320-5 }} </ref>
 
IsabelElizabeth passou a depender da concessão de monopólios durante os últimos anos de seu reinado; era um sistema de patronagem de custo zero ao invés de pedir ao parlamento mais subsídios em tempos de guerra.{{Nota de rodapé|Uma Patente de Monopólio dava ao detentor um aspecto de troca ou manufatura.<ref> {{harvnb|Neale|1954|p=382}} </ref> }} A prática logo levou à fixação de preços, o enriquecimento de cortesãos aos custos públicos e grande indignação.<ref> {{harvnb|Williams|1972|p=208}} </ref> Isso culminou em 1601 com uma agitação na Câmara dos Comuns.<ref> {{harvnb|Black|1945|pp=192–194}} </ref> Em seu famoso "Discurso Dourado" de 30 de novembro de 1601 no [[Palácio de Whitehall]] para 140 membros, IsabelElizabeth professou sua ignorância dos abusos e conquistou os presentes com promessas a o apelo usual às emoções:<ref> {{harvnb|Neale|1954|pp=383–384}} </ref>
 
{{cquote|Quem mantém sua soberana do lapso do erro, em que, por ignorância e não pela intenção que podem ter recaído, o agradecimento que merecem, sabemos, por vós podem imaginar. E como há nada mais caro a nós que a conservação dos corações de nossos súditos, o que é uma dúvida imerecida que poderíamos ter incorrido se os abusadores da nossa liberalidade, os ameaçadores de nosso povo, os espremedores dos pobres, não tivessem sido nos avisado!.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=86}} </ref> }}
 
[[Ficheiro:Elizabeth I portrait, Marcus Gheeraerts the Younger c.1595.jpg|thumb|left|Isabel c. 1595.]]
Entretanto, esse mesmo período de incerteza política produziu um florescimento literário insuperável na Inglaterra.<ref> {{harvnb|Black|1945|p=239}} </ref> Os primeiros sinais de um novo movimento literário apareceram ao final da segunda década do reinado de Isabel, com ''Euphues'' de [[John Lyly]] e ''The Shepheardes Calender'' de [[Edmund Spenser]] em 1578. Alguns grandes nomes da [[literatura inglesa]] entraram em sua maturidade durante a década de 1590, incluindo [[William Shakespeare]] e [[Christopher Marlowe]]. O teatro inglês alcançou seu auge nesse período e no Período Jacobino que seguiu-se.<ref> {{harvnb|Black|1945|pp=239–245}} </ref> A noção de um grande [[Período elisabetano|Período Isabelino]] depende muito dos construtores, dramaturgos, poetas e músicos que estavam em atividade no reinado de IsabelElizabeth. Deviam pouco diretamente à rainha, que nunca foi uma grande patrona das artes.<ref> {{harvnb|Haigh|2000|p=176}} </ref>
 
A imagem de IsabelElizabeth mudou gradualmente enquanto envelhecia. Ela foi retratada como Belphoebe e [[Astreia]], e também como Gloriana, a eternamente jovem [[A Rainha das Fadas|Rainha das Fadas]] do poema de Spenser, após a derrota da Invencível Armada. Seus retratos deixaram de ser realistas e passaram a ser um conjunto de [[ícone]]s enigmáticos que a faziam parecer muito mais jovem que era. Na realidade, sua pele havia sido marcada e 1562 pela [[varíola]], a deixando meia careca e dependente de perucas e cosméticos.<ref name=loades92 > {{harvnb|Loades|2003|p=92}} </ref> Sir Valter Raleigh a chamou de "uma senhora cujo tempo ultrapassou".<ref> {{harvnb|Haigh|2000|p=171}} </ref> Entretanto, enquanto mais diminuía sua beleza, mais seus cortesãos a elogiavam.<ref name=loades92 />
 
IsabelElizabeth gostava de representar o papel,{{nota de rodapé|"A metáfora do drama é uma apropriada para o reinado de IsabelElizabeth I, para ela era uma ilusão – e uma ilusão era seu poder. Como Henrique IV da França, ela projetou uma imagem de si mesma que trouxe estabilidade e prestígio ao seu país. Por atenção constante aos detalhes de sua interpretação total, ela manteve o resto do elenco na ponta dos pés e manteve seu papel como rainha".<ref> {{harvnb|Haigh|2000|p=179}} </ref> }} porém é possível que ela passou a acreditar em sua própria interpretação na última década de sua vida. Ela se afeiçoou e ficou indulgente ao charmoso e petulante Roberto Devereux, que era sobrinho de Dudley e tomava certas liberdades com ela que acabavam sendo perdoadas.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=93}} </ref> IsabelElizabeth repetidas vezes o nomeou para cargos militares apesar de seu histórico cada vez maior de irresponsabilidade. A rainha o colocou em prisão domiciliar depois de desertar em 1599 de seu comando na Irlanda, tirando seus monopólios no ano seguinte.<ref> {{harvnb|Loades|2003|p=97}} </ref> Devereux tentou armar uma rebelião em Londres em fevereiro de 1601 com a intenção de tomar posse de Isabel, porém não conseguiu reunir apoio e foi executado no dia 25 do mesmo mês. A rainha sabia que seus próprios erros de julgamento eram em parte responsáveis pelos acontecimentos. Como um observador relatou em 1602, "Seu prazer é sentar-se no escuro, e por vezes derramar lágrimas para lamentar Essex".<ref> {{harvnb|Black|1945|p=410}} </ref>
 
== Morte ==
[[Ficheiro:Funeral Elisabeth.jpg|thumb|300px|Cortejo fúnebre de IsabelElizabeth I, com os estandartes de seus antecessores reais.]]
[[William Cecil|Guilherme Cecil, 1.º Barão Burghley]], o principal conselheiro de IsabelElizabeth, morreu em 4 de agosto de 1598. Seu manto político foi passado ao filho Roberto Cecil, que logo tornou-se o líder do governo.{{nota de rodapé|Após a queda de Devereux, Jaime VI chamou Cecil de "o rei de lá em efeito".<ref> {{citar livro|autor=Croft, Pauline|título=King James|local=Basingstoke & Nova Iorque|editora=Palgrave Macmillan|ano=2003|página=48|isbn=978-0-333-61395-5 }} </ref> }} Uma das tarefas que ele tomou conta foi preparar o caminho para uma sucessão tranquila. Cecil foi obrigado a trabalhar em segredo já que IsabelElizabeth nunca nomeou um sucessor.{{nota de rodapé|Cecil escreveu a Jaime, "O tema em si é tão perigoso para tocar entre nós, uma vez que põe um sinal em sua cabeça sempre que choca tal pássaro".<ref name=willson > {{citar livro|autor=Willson, David Harris|título=King James VI & I|local=Londres|editora=Jonathan Cape|ano=1963|páginas=154–155|isbn=978-0-224-60572-4 }} </ref> }} Assim ele entrou em correspondências codificadas com o rei [[Jaime VI da Escócia e I de Inglaterra|Jaime VI da Escócia]], que tinha uma reivindicação forte mas não reconhecida.{{nota de rodapé|Jaime VI era tataraneto de Henrique VII, assim sendo primo em primeiro grau duas vezes removido de IsabelElizabeth, que era neta de Henrique.}} Cecil aconselhou o impaciente rei escocês a ser gentil com IsabelElizabeth e "assegurar o coração da mais elevada, para cujo sexo e qualidade nada é assim inadequado quer como admoestações desnecessárias ou sobre muita curiosidade em suas próprias ações". O conselho funcionou. O tom de Jaime encantou a rainha, que respondeu: "Então confio que vós não duvidará que tuas últimas cartas são tão aceitas e tomadas como meus agradecimentos que não faltam à mesma, mas oferecei-los a vós de maneira grata".<ref name=willson /> Na visão do historiador J. E. Neale, IsabelElizabeth I pode não ter abertamente declarado seus desejos a Jaime, porém os fez conhecidos por meio de "frases inconfundíveis, senão veladas".<ref> {{harvnb|Neale|1954|p=385}} </ref>
 
[[Ficheiro:Elizabeth I of England grave (left) 2013 crop2.jpg|thumb|left|Efígie de IsabelElizabeth I em sua tumba na Abadia de Westminster.]]
A saúde da rainha permaneceu boa até o outono de 1602, quando uma série de mortes entre seus amigos a colocaram em uma grande depressão. A morte de Catarina Howard, Condessa de Nottingham e sobrinha de sua amiga [[Catarina Carey]], em fevereiro de 1603 a atingiu severamente. IsabelElizabeth adoeceu no mês seguinte e permaneceu em uma "melancolia assentada e irremovível".<ref> {{harvnb|Black|1945|p=411}} </ref> IsabelElizabeth morreu no dia {{dtlink|24|3|1603}} no [[Palácio de Richmond]] entre às 2h e 3h da madrugada. Cecil e o conselho colocaram seus planos em movimento algumas horas depois e proclamaram Jaime VI da Escócia como Jaime I da Inglaterra.<ref> {{harvnb|Black|1945|pp=410–411}} </ref>
 
O caixão de Isabel foi carregado Elizabeth I pelo [[rio Tâmisa]] em uma barca com tochas durante a noite até o [[Palácio de Whitehall]]. Seu funeral ocorreu no dia 28 de abril, com o caixão sendo levado até a [[Abadia de Westminster]] em um [[carro fúnebre]] puxado por quatro cavalos decorados com veludo preto. Nas palavras do crônico John Stow:
 
{{cquote|Westminster estava sobrecarregada com multidões de todos os tipos de pessoas em suas ruas, casas, janelas, pistas e sarjetas, que sairam para ver o funeral, e quando eles viram a sua estátua deitada sobre o caixão, houve tal suspiro, gemino e choro como nunca tenha se visto ou conhecido na história do homem.<ref> {{harvnb|Weir|1999|p=486}} </ref> }}
 
IsabelElizabeth foi enterrada na Abadia de Westminster ao lado de sua meia-irmã Maria. A inscrição em latim da tumba, ''Regno consortes & urna, hic obdormimus Elizabetha et Maria sorores, in spe resurrectionis'', se traduz para "Consortes em reino e tumba, aqui dormimos, IsabelElizabeth e Maria, irmãs, na esperança de ressurreição".<ref> {{citar livro|autor=Stanley, Arthur Penrhyn|título=Historical Memorials of Westminster Abbey|local=Londres|editora=John Murray|ano=1868|página=178|capítulo="The Royal Tombs"|oclc=24223816 }} </ref>
 
== Legado e memória ==
[[Ficheiro:Elizabeth I Rainbow Portrait.jpg|thumb|IsabelElizabeth I c. 1600, uma representação alegórica da rainha, que tornou-se atemporal em sua velhice.]]
IsabelElizabeth foi lamentada por muitos de seus súditos, porém outros ficaram aliviados por sua morte.<ref name=loades100101 > {{harvnb|Loades|2003|pp=100–101}} </ref> As expectativas para Jaime começaram altas porém caíram, então por volta da década de 1620 houve um reavivamento nostálgico do culto a IsabelElizabeth.<ref name=somerset726 > {{harvnb|Somerset|2003|p=726}} </ref> Ela foi louvada como uma heroína da causa protestante e governante de uma era de ouro. Jaime era representado como um simpatizante católico que presidia sobre uma corte corrupta.<ref name=strong > {{citar livro|autor=Strong, Roy C.|título=Gloriana: The Portraits of Queen Elizabeth I|local=Londres|editora=Pimlico|ano=2003|páginas=163–164|isbn=978-0-7126-0944-9 }} </ref> A imagem triunfalista que IsabelElizabeth cultivou ao final de seu reinado, contra um fundo de dificuldades econômicas, faccionalistas e militares,<ref> {{harvnb|Haigh|2000|p=170}} </ref> foi tomada como se realidade fosse e sua reputação foi inflada. Godofredo Goodman, Bispo de Gloucester, lembra: "Quando tivemos a experiência de um governo escocês, a Rainha parecia reviver. Então sua memória foi muito ampliada.<ref> {{harvnb|Weir|1999|p=488}} </ref> Seu reinado foi idealizado em uma época que a coroa, igreja e parlamento trabalhavam em equilíbrio constitucional.<ref name=dobson > {{citar livro|autor=Dobson, Michael; Watson, Nicola|editora=Doran, Susan (ed.)|título=Elizabeth: The Exhibition at the National Maritime Museum|local=Londres|editora=Chatto and Windus|ano=2003|páginas=257–258|isbn=978-0-7011-7476-7 }} </ref>
 
A imagem de IsabelElizabeth retratada por seus admiradores protestantes no início do século XVII mostrou-se duradoura e influente.<ref> {{harvnb|Haigh|2000|pp=175, 182}} </ref> Sua memória também foi reavivada durante a [[Guerras Napoleónicas|Guerras Napoleônicas]], quando a [[Reino da Grã-Bretanha|nação]] encontrou-se novamente a beira de uma invasão.<ref name=dobson /> Na [[Era vitoriana|Era Vitoriana]], a lenda IsabelinaElisabelina foi adaptada para a ideologia imperial da época,<ref> {{harvnb|Loades|2003|pp=100–101}} </ref>{{nota de rodapé|A era de IsabelElizabeth foi redesenhada como uma de [[cavalaria medieval]], epitomizada por encontros galantes entre a rainha e heroicos "cães do mar" como Drake e Raleigh. Algumas narrativas, como Raleigh colocando seu casaco na frente de IsabelElizabeth ou dando uma batata de presente a ela, permanecem parte do mito.<ref name=dobson /> }} e no meio do século XX ela era um símbolo romântico da resistência nacional contra uma ameaça estrangeira.<ref> {{harvnb|Haigh|2000|p=175}} </ref> Alguns historiadores do período como J. E. Neale e A. L. Rowse interpretaram seu reino como uma época de ouro do progresso.<ref> {{harvnb|Haigh|2000|p=182}} </ref> Neale e Rowse também idealizaram a rainha pessoalmente: ela sempre fez tudo corretamente; seus traços mais desagradáveis foram ignorados ou explicados como sinais de estresse.<ref> {{citar livro|autor=Kenyon, John P.|título=The History Men: The Historical Profession in England Since the Renaissance|local=Londres|editora=Weidenfeld & Nicolson|ano=2003|página=207|isbn=978-0-297-78254-4 }} </ref>
 
[[Ficheiro:Elizabeth-I-Allegorical-Po.jpg|thumb|left|IsabelElizabeth após 1620, durante o primeiro reavivamento de interesse em seu reinado. Tempo dorme à sua direita e Morte olha sobre seu ombro esquerdo; dois [[Putto|putti]] seguram a coroa sobre sua cabeça.<ref name=dobson />]]
Entretanto, historiadores recentes assumiram uma visão mais complicada de IsabelElizabeth.<ref> {{harvnb|Haigh|2000|p=183}} </ref> Seu reinado é mais famoso pela derrota da Invencível Armada e por ataques bem sucedidos contra os espanhóis, como aqueles em Cádiz em 1587 e 1596, porém alguns historiadores salientam fracassos militares tanto em terra quanto no mar.<ref name=haigh142 /> As forças de IsabelElizabeth acabaram prevalecendo na Irlanda, porém suas táticas sujaram o registro.<ref> {{harvnb|Black|1945|pp=408–409}} </ref> Ela é mais frequentemente considerada como cautelosa em questões estrangeiras ao invés de uma corajosa defensora das nações protestantes contra a Espanha e os Habsburgo. IsabelElizabeth ofereceu apenas apoio bem limitado a protestantes estrangeiros e não conseguiu prover fundos suficientes para seus comandantes fazerem a diferença internacionalmente.<ref> {{harvnb|Haigh|2000|pp=142–147, 174–177}} </ref>
 
IsabelElizabeth estabeleceu uma igreja inglesa que ajudou a moldar uma identidade nacional que permanece até hoje.<ref> {{harvnb|Loades|2003|pp=46–50}}; {{harvnb|Weir|1999|p=487}} </ref><ref name=hogge > {{citar livro|autor=Hogge, Alice|título=God's Secret Agents: Queen Elizabeth's Forbidden Priests and the Hatching of the Gunpowder Plot|local=Londres|editora=HarperCollins|ano=2005|páginas=9–10|isbn=0-00-715637-5 }} </ref> Aqueles que posteriormente a elogiaram como heroína protestante negligenciaram o fato dela ter se recusado a abandonar todas as práticas de origem católica na Igreja Anglicana.{{nota de rodapé|A nova religião foi condenada na época em termos como "camuflagem papista, ou calandra misturada".<ref> {{harvnb|Somerset|2003|p=102}} </ref> }} Historiadores perceberam que os protestantes fervorosos da época consideravam o Ato de Resolução e Uniformidade de 1559 como um compromisso.<ref> {{harvnb|Black|1945|pp=14–15}}; {{harvnb|Haigh|2000|p=45–46, 177}} </ref> Na realidade, a rainha acreditava que a fé era pessoal e não queria "criar janelas nos corações e pensamentos secretos dos homens", como [[Francis Bacon]] colocou.<ref> {{harvnb|Haigh|2000|p=42}}; {{harvnb|Williams|1972|p=50}} </ref>
 
Apesar de IsabelElizabeth ter seguido uma política internacional defensiva, seu reinado valorizou a Inglaterra no estrangeiro. "Ela é apenas uma mulher, apenas a senhora de meia ilha", afirmou o [[Papa Sisto V]], "e mesmo assim se faz temida pela Espanha, pela França, pelo Império, por todos!"<ref name=somerset727 > {{harvnb|Somerset|2003|p=727}} </ref> Sob IsabelElizabeth, a nação ganhou uma nova auto-confiança e senso de soberania, uma cristandade fragmentada.<ref name=hogge /><ref> {{harvnb|Loades|2003|p=1}}; {{harvnb|Somerset|2003|p=726}} </ref> A rainha foi a primeira Tudor a perceber que o monarca governa por consenso popular.{{nota de rodapé|Sir Nicolau Bacon, Lorde Guardião do Grande Selo, afirmou em nome de IsabelElizabeth I diante do parlamento em 1559 que a rainha "não é, e nunca deverá ser, tão apegada a sua própria vontade e fantasia que ela fará de tudo para a satisfação dos mesmos ... para trazer qualquer escravidão ou servidão ao seu povo, ou dar qualquer ocasião que possam surgir qualquer rancor interior pelo qual quaisquer tumultos possam surgir atualmente".<ref> {{harvnb|Starkey|2003|p=7}} </ref> }} Assim ela sempre trabalhou com o parlamento e conselheiros em quem confiava para lhe dizerem a verdade – uma forma de governo que seus sucessores [[Casa de Stuart|Stuart]] falharam em seguir. Alguns historiadores a chamaram de sortuda.<ref name=somerset727 /> Isabel acreditava que Deus a estava protegendo.<ref> {{harvnb|Somerset|2003|pp=75–76}} </ref> Orgulhando-se de ser "meramente inglesa", ela confiava em Deus, em conselhos honestos e no amor de seus súditos para governar. Em oração, agradeceu:
 
{{cquote|[Em uma época] que guerras e sedições com cruéis perseguições contrariaram todos os reis e países ao meu redor, meu reinado foi pacífico, e meu reino um receptáculo a tua aflita Igreja. O amor de meu povo parece ser firme, e frustrados os dispositivos de meus inimigos.<ref name=somerset727 /> }}
Linha 221:
 
== Ancestrais ==
{{ahnentafel top|width=100%|Ancestrais de IsabelElizabeth I de Inglaterra<ref> {{citar web|url=http://www.royalist.info/execute/ancestors?person=215|título=Queen Elizabeth I > Ancestors|obra=RoyaList|acessodata=13 de julho de 2014 }} </ref> }}
<center>{{ahnentafel-compact5
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Linha 231:
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|1= '''IsabelElizabeth I de Inglaterra'''
|2= [[Henrique VIII de Inglaterra]]
|3= [[Ana Bolena]]
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{{Portal3|Biografias|Mulheres|Monarquia|História|Reino Unido}}
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[[Categoria:Naturais de Greenwich]]
[[Categoria:Princesas da Inglaterra]]