Tema do Peloponeso: diferenças entre revisões

O '''Tema do Peloponeso''' ({{langx|el|θέμα Πελοποννήσου}}) foi um [[tema (distrito bizantino)|tema]] (província civil-militar) [[bizantino]] que abrangia a [[península do Peloponeso]] na Grécia meridional. Fundado por volta de 800, sua capital era [[Corinto]].{{harvrefsfn|name=Nesb62|Nesbitt|1994|p=62}}

De {{AC|27|x}} até o fim do {{Séc|VI}}, o [[Peloponeso]] formou parte da província da [[Acaia (província romana)|Acaia]] que, durante a [[Antiguidade Tardia]], compreendia as partes Oriental e Central da Grécia. Sua capital era [[Corinto]].{{harvrefsfn|Koder|1976|p=50-51}}{{harvrefsfn|Avramea|2012|p=57–67}} Dos anos 580 em diante, como atestado na ''[[Crônica de Monemvasia]]'', as invasões eslavas que afetaram os [[Bálcãs]] alcançaram a península, e levaram ao abandono dos centros urbanos da Antiguidade em favor de localidades remotas ou mar adentro como [[Monemvasia]], enquanto os habitantes de várias cidades, tais como [[Patras]] são reivindicados pela crônica como tendo emigrado para a [[península Itálica]] por completo. As declarações de cronistas medievais, tais como [[Isidoro de Sevilha]] e {{Lknb|Constantino|VII|Porfirogênito}}, afirmaram que a Grécia estava completamente submetida aos eslavos, o que levou a suposições anteriores de que o colapso do controle bizantino foi total, e que o Peloponeso permaneceu fora do controle imperial pelos dois séculos seguintes.{{harvrefsfn|Avramea|2012|p=135-145}}{{harvrefsfn|name=Fine62|Fine|1991|p=59-60; 62}}

A evidência literária é parcialmente confirmada por vários acervos de moedas enterradas nos anos 570/580 e começo do {{séc|VII}} que atestam agitação em grande escala em duas ondas, uma com pico ca. 587, data fornecida pela crônica, e outra com pico no reinado de [[Heráclio]] {{nwrap|r.|610|641}}.{{harvrefsfn|Avramea|2012|p=146-166}} Evidências literárias, toponímicas e arqueológicas, por outro lado, mostram que os invasores eslavos assentaram-se principalmente na metade ocidental da península, ou seja, nas planícies férteis de [[Élis]] e [[Messênia]], Acaia e o planalto da [[Arcádia]], enquanto a autoridade bizantina sobreviveu nas partes orientais mais montanhosas da península, bem como em vários postos ao longo da costa, incluindo Patras.<ref name=Fine62 />{{harvrefsfn|Avramea|2012|p=166-210}} No entanto, como a rápida re-helenização da península no {{séc|IX}} mostra, uma grande população falante de grego deve ter permanecido nas áreas invadidas pelos eslavos.{{harvrefsfn|Fine|1991|p=63-64}}

Corinto permaneceu o centro da autoridade imperial no sul da Grécia, e em algum momento entre 687 e 695, tornou-se a capital do novo [[Tema da Hélade]]. A nova província abrangia todos os territórios imperiais remanescentes no sul da Grécia, e tinha uma forte característica marítima, sendo composta de territórios costeiros e principalmente orientados em direção ao mar.{{harvrefsfn|Avramea|2012|p= 69, 211ff}}{{harvrefsfn|Koder|1976|p=57-58}} Ca. 800, contudo, a Hélade foi dividida, e enquanto o nome foi mantido para o território que compreendia a parte oriental da Grécia Central e a [[Tessália]], o Peloponeso tornou-se um tema separado, novamente com Corinto como sua capital.{{harvrefsfn|Kazhdan|1991|p=1620-1621}} A formação da nova província está diretamente ligado à reimposição do controle do governo bizantino sobre as tribos eslavas neste momento. Isto foi conseguido pelas vitórias do [[estratego]] (governador militar) [[Esclero]] em 805, como registrado pela ''Crônica de Monemvasia'', e o fracasso do [[Cerco de Patras (805 ou 807)|cerco eslavo de Patras]] cerca do mesmo período. O imperador {{Lknb|Nicéforo|I, o Logóteta}} {{nwrap|r.|802|811}} seguiu estes sucessos com um extenso programa de colonização e cristianização, que incluiu a reinstalação da região com gregos da Itália e [[Ásia Menor]].<ref name=Nesb62 />{{harvrefsfn|Fine|1991|p=80-83}}{{harvrefsfn|Koder|1976|p=59}}

O primeiro estratego conhecido do Peloponeso é [[Leão Esclero]], atestado por 811 (possivelmente o mesmo, ou um parente próximo, do Esclero de 805), que pode até mesmo ter sido o primeiro na função.<ref name=Nesb62/>{{harvrefsfn|name=Kazh1621|Kazhdan|1991|p=1621}}{{harvrefsfn|Pertusi|1952|p=172–173}} O estratego do Peloponeso ficou em primeiro lugar na hierarquia dos governadores temáticos "ocidentais" (ou seja, europeus).{{harvrefsfn|Pertusi|1952|p=173}} O papel de sua administração foi principalmente controlar as tribos eslavas do interior - rebeliões por autonomia e pagamento de tributo às tribos dos [[melingos]] e [[ezeritas]] ocorreram em 840/842 e 921/922, a última seguida também por uma rebelião de [[Eslavos da Ásia Menor|tropas eslavas da Ásia Menor]]{{harvrefsfn|Herrin|2013|p=16}}{{harvrefsfn|Curta|2011|p=171-173}} - e a defesa contra os raides árabes, que foram frequentes nos séculos IX e X: entre outros oficiais subordinados, um [[turmarca]] foi encarregado com a defesa da costa e ainda teve uma esquadrão naval de quatro ''[[Chelandion|chelandia]]'' sob suas ordens.<ref name=Nesb62/><ref name=Kazh1621 />

Após a reconquista de Creta em 961 ter encerrado o [[Emirado de Creta|estado pirata]] que se estabelecera ali, o Peloponeso prosperou imensamente.<ref name=Kazh1621/> A partir do {{séc|X}}, a administração era geralmente acumulada com o Tema da Hélade e, no final do {{séc|XI}}, esta união se tornou permanente, com ambas as províncias sob o controle de um [[mega-duque]], um [[comandante-em-chefe]] da [[marinha bizantina]]. Por conta da ausência deste localmente na província, porém, os temas locais permaneceram sob o controle de um [[pretor]], uma posição que geralmente era exercida por oficiais seniores e distintos como os juristas Aleixo Aristeno e Nicolau Hagioteodorita.<ref name=Nesb62/>{{harvrefsfn|Magdalino|2002|p=234}} O tema reunido da Hélade-Peloponeso foi dividido novamente no {{séc|XII}} numa série de distritos chamados, dependendo da fonte, de órios (''oria''), cartulários (''chartoularia'') e ''[[episkepsis|episkepseis]]''.{{ref label2|a}} O Peloponeso permaneceu sob controle bizantino até o início do {{séc|XII}} (1205) quando, na sequência do [[saque de Constantinopla]] pela [[Quarta Cruzada]], o [[latinocracia|latino]] [[Principado de Acaia]] foi fundado na região.<ref name=Kazh1621/>

{{Note label2|a}} Os ''episkepseis'' eram grandes domínios alocados para sustentarem indivíduos, casas nobres ou igrejas e monastérios.{{harvrefsfn|Magdalino|2002|p=162ff., 234}} Os órios eram distritos encarregado da manutenção dos navios de guerra e prover tripulações para a marinha. Os cartularatos eram distritos sob o comando de um [[cartulário (título bizantino)|cartulário]] e encarregados de prover a marinha com cavalos e animais de carga. Eles também funcionavam como postos militares intermediários, similares aos antigos [[mitato]]s e os [[aplecto]]s.{{harvrefsfn|Magdalino|2002|p=234–235}}