Panteão egípcio: diferenças entre revisões

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Unidade do divino, descrições e representações
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=== Áton e possível monoteísmo ===
{{main|Atonismo}}No reinado de [[Aquenáton|Akenáton]] (1353–1336 AC) no meio do Novo Reino, uma única divindade solar, o [[Áton]], tornou-se o único foco da religião do estado. Akenáton deixou de financiar os templos de outras divindades e apagou nomes e imagens de deuses em monumentos, visando Amun em particular. Esse novo sistema religioso, às vezes chamado de [[Atonismo]], diferia dramaticamente do culto [[Politeísmo|politeísta]] de muitos deuses em todos os outros períodos. Considerando que, em tempos antigos, deuses recentemente importantes foram integrados nas crenças religiosas existentes, o Atonismo insistiu em uma única compreensão do divino que excluía a multiplicidade tradicional de perspectivas.<ref>{{harvnb|Teeter|2011|pp=182–186}}</ref> No entanto, o Atonismo pode não ter sido um [[monoteísmo]] completo, o que exclui totalmente a crença em outras divindades. Há evidências sugerindo que a população em geral ainda era permitida a adorar outros deuses em particular. A imagem é ainda mais complicada pela aparente tolerância do atonismo para algumas outras divindades, como Maat, Shu e Tefnut. Por essas razões, o egiptólogo Dominic Montserrat sugeriu que Akenáton poderia ter sido [[Monolatria|monolátrico]], adorando uma única divindade enquanto reconhecia a existência de outras. Em qualquer caso, a teologia aberrante do Atonismo não se enraizou entre a população egípcia, e os sucessores de Akenáton retornaram às crenças tradicionais.<ref>{{harvnb|Montserrat|2000|pp=23, 28, 36–38}}</ref>
 
=== Unidade do divino na religião tradicional ===
[[File:Egypte louvre 044 statue.jpg|thumb|alt=|upright|right|O deus [[Bes]] com os atributos de muitas outras divindades. Imagens como essa representam a presença de uma multidão de poderes divinos dentro de um único ser.<ref name="Dunand and Zivie-Coche 17">{{harvnb|Dunand|Zivie-Coche|2004|pp=17–20}}</ref>]]
Estudiosos debatem há muito tempo se a religião tradicional egípcia afirmou que os múltiplos deuses estavam, em um nível mais profundo, unificados. As razões para este debate incluem a prática do sincretismo, que pode sugerir que todos os deuses separados poderiam finalmente se fundir em um só, e a tendência dos textos egípcios em creditar um deus em particular com poder que superar todas as outras divindades. Outro ponto de discórdia é a aparição da palavra "deus" na [[Sebayt|literatura sapiencial]], onde o termo não se refere a uma divindade específica ou grupo de divindades.<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=35–38}}</ref> No início do século XX, por exemplo, [[E. A. Wallis Budge]] acreditava que os plebeus egípcios eram politeístas, mas o conhecimento da verdadeira natureza monoteísta da religião estava reservado à elite, que escreveu a literatura sapiencial.<ref>{{harvnb|Hornung|1982|pp=24–25}}</ref> Seu contemporâneo, [[James Henry Breasted]], achava que a religião egípcia era [[Panteísmo|panteísta]], com o poder do deus sol presente em todos os outros deuses, enquanto [[Hermann Junker]] argumentava que a civilização egípcia era originalmente monoteísta e tornou-se politeísta no curso de sua história.<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=32, 36}}</ref>
 
Em 1971, [[Erik Hornung]] publicou um estudo{{Nota de rodapé|Der Eine und die Vielen, revisado várias vezes desde 1971. Sua tradução em inglês, Concepções de Deus no Egito: O Um e os Muitos, está listada na seção "Trabalhos citados" deste artigo.}} rebatendo essas visões. Ele aponta que, em qualquer período dado, muitas divindades, mesmo as menores, foram descritas como superiores a todas as outras. Ele também argumenta que o "deus" não especificado nos textos da sabedoria é um termo genérico para qualquer divindade que o leitor escolha reverenciar.<ref>{{harvnb|Hornung|1982|pp=56–59, 234–235}}</ref> Embora as combinações, manifestações e iconografias de cada deus estivessem mudando constantemente, elas estavam sempre restritas a um número finito de formas, nunca se tornando totalmente intercambiáveis ​​de uma maneira monoteísta ou panteísta. O [[henoteísmo]], diz Hornung, descreve a religião egípcia melhor que outros rótulos. Um egípcio poderia adorar qualquer divindade em um determinado momento e creditá-lo com o poder supremo naquele momento, sem negar os outros deuses ou fundi-los todos com o deus em quem ele se concentrou. Hornung conclui que os deuses estavam totalmente unificados apenas no mito da época anterior a criação, após a qual uma multidão de deuses emergiu de uma inexistência uniforme.<ref>{{harvnb|Hornung|1982| pp=235–237, 252–256}}</ref>
 
Os argumentos de Hornung influenciaram muito outros estudiosos da religião egípcia, mas alguns ainda acreditam que os deuses eram mais unificados.<ref name="Traunecker 10">{{harvnb|Traunecker|2001|pp=10–12}}</ref> Jan Assmann sustenta que a noção de uma única divindade desenvolveu-se lentamente através do Novo Reino, começando com um foco em Amon-Ra como o deus solar mais importante.<ref>{{harvnb|Tobin|1989|pp=156–158}}</ref> Em sua opinião, o Atonismo foi uma conseqüência extrema dessa tendência. Equacionou a única divindade com o sol e dispensou todos os outros deuses. Então, na reação contra o Atonismo, os teólogos sacerdotais descreveram o deus universal de uma maneira diferente, que coexistia com o politeísmo tradicional. Acreditava-se que o único deus transcendia o mundo e todas as outras divindades, enquanto, ao mesmo tempo, os múltiplos deuses eram aspectos do outro. De acordo com Assmann, este deus foi especialmente equacionado com Amon, o deus dominante no final do Novo Reino, enquanto que para o resto da história egípcia a divindade universal poderia ser identificada com muitos outros deuses.<ref>{{harvnb|Assmann|2001|pp=198–201, 237–243}}</ref> James P. Allen diz que as noções coexistentes de um deus e muitos deuses se encaixam bem com a "multiplicidade de abordagens" no pensamento egípcio, bem como com a prática henoteísta de adoradores comuns. Ele diz que os egípcios podem ter reconhecido a unidade do divino "identificando sua noção uniforme de 'deus' com um deus particular, dependendo da situação particular".<ref name="Allen 44">{{harvnb|Allen|1999|pp=44–54, 59}}</ref>
 
==Descrições e representações==
Escritos egípcios descrevem os corpos dos deuses em detalhes. Eles são feitos de materiais preciosos; sua carne é dourada, seus ossos são de prata e seus cabelos são lápis-lazúli. Eles emitem um cheiro que os egípcios associavam ao [[incenso]] usado nos rituais. Alguns textos fornecem descrições precisas de divindades específicas, incluindo sua altura e cor dos olhos. No entanto, essas características não são fixas; nos mitos, os deuses mudam suas aparências para se adequarem aos seus próprios propósitos.<ref>{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|pp=55–59}}</ref> Os textos egípcios muitas vezes se referem às formas subjacentes verdadeiras das divindades como "misteriosas". As representações visuais dos egípcios de seus deuses não são, portanto, literais. Eles simbolizam aspectos específicos do caráter de cada divindade, funcionando de maneira muito semelhante aos [[Ideograma|ideogramas]] da escrita hieroglífica.<ref name="Hornung 110">{{harvnb|Hornung|1982|pp=110–117}}</ref> Por esta razão, o deus funerário [[Anúbis]] é comumente mostrado na [[Arte do Antigo Egito|arte egípcia]] como um cão ou [[chacal]], uma criatura cujos hábitos de sequestro ameaçam a preservação de [[Múmia|múmias]] enterradas, em um esforço para contrariar esta ameaça e empregá-la para proteção. Sua coloração negra alude à cor da carne mumificada e ao solo negro fértil que os egípcios viam como um símbolo da ressurreição.<ref>{{harvnb|Hart|2005|p=25}}</ref>
 
==Contexto e história==