Panteão egípcio: diferenças entre revisões

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=== Nomes e epítetos ===
 
Na crença egípcia, os nomes expressam a natureza fundamental das coisas a que se referem. De acordo com essa crença, os nomes das divindades, geralmente, estão relacionados a suas funções ou origens. O nome da deusa predatória [[Sekhmet]] significa "um poderoso", o nome do misterioso deus Ámon significa "um oculto", e o nome de [[Nekhbet]], que era adorada na cidade de [[El Kab|Nekheb]], significa "ela de Nekheb". Muitos outros nomes não possuem significado claro, mesmo quando os deuses que os portam estão intimamente ligados a um único papel. Os nomes de [[Nut]], deusa do céu, e de [[Geb]], deus da terra, não se assemelham aos termos egípcios para céu e terra.<ref name="Hornung 66">{{harvnb|Hornung|1982|pp=66–68, 72}}</ref>
 
Os egípcios também criaram falsas [[Etimologia|etimologias]], dando mais significado aos nomes divinos.<ref name="Hornung 66">{{harvnb|Hornung|1982|pp=66–68, 72}}</ref> Uma passagem nos [[Textos dos Sarcófagos]] traz o nome do deus funerário [[Sokar]] como ''sk r'', que significa "limpeza da boca", para vincular seu nome com o seu papel no ritual da [[Abertura da boca|Abertura da Boca]],<ref>Graindorge, Catherine, "Sokar", in {{harvnb|Redford|2001|pp=305–307|loc=vol. III}}</ref> enquanto um dos [[Textos das Pirâmides|Textos da Pirâmide]] diz que seu nome é baseado nas palavras gritadas por Osíris em um momento de aflição, conectando Sokar com a mais importante divindade funerária.<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|p=210}}</ref>
 
Acreditava-se que os deuses tinham muitos nomes. Entre eles, havia nomes secretos que transmitiam suas verdadeiras naturezas mais profundamente do que outros. Conhecer o [[verdadeiro nome]] de uma divindade erasignificava ter poder sobre ela. A importância dos nomes é demonstrada por um mito no qual Ísis envenena o deus superior Rá e se recusa a curá-lo, a menos que ele revele seu nome secreto para ela. AoApós aprender o nome, ela dizo revela a seu filho, Hórus, e aprendendopor issoconsequência disso, elesambos ganharam maior conhecimento e poder.<ref>{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|pp=97–100}}</ref>
 
Além de seus nomes, os deuses receberam [[Epíteto|epítetos]], como "possuidor de esplendor", "regente de [[Abidos (Egito)|Abidos]]" ou "senhor do céu", que descrevem algum aspecto de seussuas papéisfunções ou de sua adoração. Por causa dos múltiplos e sobrepostos papéis dos deuses, as deidadesdivindades podem ter muitos epítetos - com os deuses mais importantes acumulando mais títulos - e o mesmo epíteto pode ser aplicado a muitas divindades.<ref>{{harvnb|Hornung|1982|pp=90–91}}</ref> AlgunsAlgumas epítetosdivindades sepersonificaram tornaram divindades separadasepítetos,<ref>Budde, Dagmar, "[http://escholarship.org/uc/item/9ct397mm Epithets, Divine]", 2011, in {{harvnb|Wendrich|pp=6–7}}</ref> como com [[Werethekau]], um epíteto aplicado a várias deusas que significa "grande feiticeira", quee veio a ser tratadatratado como uma deusa independente.<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|p=228}}</ref> AOs hoste demuitos nomes e títulos divinos exprimeexprimem a natureza multifária dos deuses.<ref>{{harvnb|Hornung|1982|p=86}}</ref>
 
=== Sexo e gênero ===
 
Os egípcios consideravam a divisão entre macho e fêmea como fundamental para todos os seres, incluindo divindades. Algumas deidadesdivindades eram andróginas e, mas geralmente no contexto dos mitos dade criação, emde queforma geral, representavam o estado indiferenciado que existia antes da criação do mundo.<ref name="Hornung 171">{{harvnb|Hornung|1982|p=171}}</ref> Atum era principalmente masculino, mas tinha um aspecto feminino dentro de si mesmo,<ref name="Graves-Brown2">{{harvnb|Graves-Brown|2010|p=164}}</ref> que às vezes era visto como uma deusa, conhecida como [[Iusaaset]] ou [[Nebethetepet]].<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=150, 156}}</ref> A criação começou quando Atum produziu um par de divindades sexualmente diferenciadas: Shu e seu consorte [[Tefnut]].<ref name="Hornung 171">{{harvnb|Hornung|1982|p=171}}</ref> Similarmente, diz-seé dito que Neith possui traços masculinos e, às vezes, é considerada uma deusa criadora, mas ela é vista, principalmente, como feminina.<ref name="Graves-Brown2">{{harvnb|Graves-Brown|2010|p=164}}</ref>
[[Imagem:Ancient Egyptian Goddess.JPG|thumb|left|214x214px|Cabeça de uma deusa egípcia. O gênero é indicado pela ausência de uma barba, e o penteado simples indica a natureza divina.]]
 
Os egípcios consideravam a divisão entre macho e fêmea como fundamental para todos os seres, incluindo divindades. Algumas deidades eram andróginas, mas geralmente no contexto dos mitos da criação, em que representavam o estado indiferenciado que existia antes da criação do mundo.<ref name="Hornung 171">{{harvnb|Hornung|1982|p=171}}</ref> Atum era principalmente masculino, mas tinha um aspecto feminino dentro de si mesmo,<ref name="Graves-Brown2">{{harvnb|Graves-Brown|2010|p=164}}</ref> que às vezes era visto como uma deusa, conhecida como Iusaaset ou Nebethetepet.<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=150, 156}}</ref> A criação começou quando Atum produziu um par de divindades sexualmente diferenciadas: Shu e seu consorte [[Tefnut]].<ref name="Hornung 171">{{harvnb|Hornung|1982|p=171}}</ref> Similarmente, diz-se que Neith possui traços masculinos e às vezes é considerada uma deusa criadora, mas ela é vista principalmente como feminina.<ref name="Graves-Brown2">{{harvnb|Graves-Brown|2010|p=164}}</ref>
 
Sexo e gênero estavam intimamente ligados à criação e, portanto, ao renascimento.<ref>{{harvnb|Troy|1986|pp=20, 25}}</ref> Os deuses do sexo masculino eram frequentemente ligados à realeza e ao papel ativo na concepção de crianças. Divindades femininas, como as rainhas humanas, eram muitas vezes relegadas adesempenhavam um papel coadjuvante, estimulando a virilidade de suasseus consortes masculinascônjuges e alimentando seus filhos, embora as deusas recebessem um papel maior na procriação no final da história egípcia.<ref>{{harvnb|Graves-Brown|2010|pp=105, 130}}</ref> [[Hator]], consorte de Hórus e Ra, mãe mitológica dos faraós, exemplifica a relação entre sexualidade, reprodução e realeza.<ref>{{harvnb|Troy|1986|pp=53–54}}</ref>
 
Divindades femininas também tinham um aspecto violento que podia ser visto negativamente ou positivamente, como comno caso asdas deusas [[Uto|Wadjet]] e Nekhbet, que protegiam o rei, ou negativamente. O mito do Olho de Rá contrastaContrastando a agressão feminina com sexualidade e carinho, enquantoo aOlho deusade seRá, lançaagindo nacomo formauma deentidade Sekhmetindependente, oupode outrapersonificar deidadeuma perigosagrande atévariedade quede osdeusas outrosegípcias, deusesassumindo, apor aplaquemexemplo, quandoa elaforma seenfurecida tornada deusa Sekhmet ou a forma de uma deusa pacífica e bela como Hator.<ref>{{harvnb|Graves-Brown|2010|pp=131, 169–170}}</ref>
 
=== Relacionamentos ===
As divindades egípcias estão conectadas em um conjunto complexo e mutável de relacionamentos. As conexões e interações de um deus com outras divindades ajudaram a definir seu caráter. AssimDesse modo, Ísis, como mãe e protetora de Hórus, era uma grande curandeira, bem como a padroeira dos reis. Tais relações eram o material de base a partir do qual os mitos eram formados.<ref>{{harvnb|Assmann|2001|pp=101, 112, 134}}</ref>
[[Ficheiro:Ramesses-Ptah-Sekhmet.jpg|alt=|direita|miniaturadaimagem|OsO rei, ladeado pelos deuses [[Ptá]] e [[Sekhmet]] ao lado do rei, que assume oa papelfunção de seudo filho deles, [[Nefertum]].<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|p=75}}</ref>]]
Relacionamentos familiares são um tipo comum de conexão entre os deuses. Divindades freqüentemente formam pares masculinos e femininos. Famílias de três divindades, com pai, mãe e filho, representam a criação de uma nova vida e a sucessão do pai pela criança, um padrão que conecta as famílias divinas à sucessão real.<ref>{{harvnb|Traunecker|2001|pp=57–59}}</ref> Osíris, Ísis e Hórus formaram a família por excelência desse tipo. O padrão que eles estabeleceram ficou mais difundido ao longo do tempo, de modo que muitas divindades em centros de culto locais, como Ptá, [[Sekhmet]], e seu filho [[Nefertum]] em Memphis e Ámon, Mut e Khonsu em Tebas, foram reunidas em tríades familiares.<ref>{{harvnb|Dunand|Zivie-Coche|2004|pp=29–31}}</ref><ref>{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|p=184}}</ref> Conexões genealógicas como essas são mutáveis, de acordo com as múltiplas perspectivas da crença egípcia.<ref>{{harvnb|Hornung|1982|p=146}}</ref> HathorHator poderia atuar como mãe de qualquer criança divina, incluindo a forma infantil do deus sol, embora em outras circunstâncias ela fosse filha do deus sol.<ref>{{harvnb|Pinch|2004|pp=137–138}}</ref>
 
Outros grupos divinos eram compostos de divindades com papéis inter-relacionados, ou que juntos representavam uma região do cosmos mitológico egípcio. Havia conjuntos de deuses para as horas do dia e da noite e para cada região do Egito. Alguns desses grupos contêm um número específico e simbolicamente importante de divindades.<ref name="Wilkinson 742">{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=74–79, 83–85}}</ref> Deuses emparelhados às vezes têm papéis similares, assim como Ísis e sua irmã [[Néftis]] em sua proteção e apoio a Osíris.<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=18, 74–75, 160}}</ref> Outros pares representam conceitos opostos, mas inter-relacionados, que fazem parte de uma unidade maior. Ra, que é dinâmico e produtor de luz, e Osíris, que é estático e envolto em trevas, se fundem em um único deus a cada noite.<ref>Englund, Gertie, "The Treatment of Opposites in Temple Thinking and Wisdom Literature", in {{harvnb|Englund|1989|pp=77–79, 81}}</ref> Grupos de três estão ligados à pluralidade no pensamento egípcio antigo, e grupos de quatro conotam completude.<ref name="Wilkinson 742">{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=74–79, 83–85}}</ref> Os governantes do final do Novo Império promoveram um grupo particularmente importante de três deuses, acima de todos os outros: Ámon, Ra e Ptá. Essas deidades representavam a pluralidade de todos os deuses, assim como seus próprios centros de culto (as principais cidades de Tebas, [[Heliópolis (Egito)|Heliópolis]] e Mênfis) e muitos conjuntos tríplices de conceitos no pensamento religioso egípcio.<ref>{{harvnb|Assmann|2001|pp=238–239}}</ref> Às vezes Set, o deus patrono dos reis da [[XIX dinastia egípcia|Décima Nona Dinastia]]<ref>{{harvnb|David|2002|p=247}}</ref> e a corporificação da desordem no mundo, foram acrescentados a esse grupo, que enfatizava uma única visão coerente do panteão.<ref>Baines, John, "Society, Morality, and Religious Practice", in {{harvnb|Shafer|1991|p=188}}</ref>
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Deidades nacionalmente importantes deram origem a manifestações locais, que algumas vezes absorveram as características dos deuses regionais mais antigos. <ref>{{harvnb|Hornung|1982|pp=73–74}}</ref> Hórus tinha muitas formas ligadas a lugares específicos, incluindo Hórus de [[Hieracômpolis|Nekhen]], Hórus de Buhen e Hórus de [[Edfu]].<ref>{{harvnb|Hart|2005|p=75}}</ref> Essas manifestações locais poderiam ser tratadas quase como seres separados. Durante o Império Novo, um homem foi acusado de roubar roupas por um [[oráculo]] que deveria comunicar mensagens de Ámon de Pe-Khenty. Ele consultou dois outros oráculos locais de Ámon esperando por um julgamento diferente.<ref>{{harvnb|Frankfurter|1998|pp=102, 145, 152}}</ref> As manifestações de Deus também diferiam de acordo com seus papéis. Hórus poderia ser um poderoso deus do céu ou uma criança vulnerável, e essas formas eram às vezes contadas como divindades independentes.<ref>{{harvnb|Pinch|2004|p=143}}</ref>
 
Deuses eram combinados um com o outro tão facilmente quanto eram divididos. Um deus poderia ser chamado de ''ba'' de outro, ou duas ou mais divindades poderiam ser unidas em um deus com um nome e uma [[iconografia]] combinados.<ref>{{harvnb|Dunand|Zivie-Coche|2004|p=27}}</ref> Os deuses locais estavam ligados aos maiores e divindades com funções semelhantes eram combinadas. Ra estava conectado com a divindade local [[Sucho]] para formar Sobek-Ra; com seu companheiro de autoridade, Ámon, para formar Ámon-Ra; com a forma solar de Hórus para formar Ra-Horakhty; e com várias divindades solares como Horemakhet-Khepri-Ra-Atum.<ref name="Wilkinson 33">{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=33–35}}</ref> Em raras ocasiões, até divindades de sexos diferentes se uniram dessa maneira, produzindo combinações como Osíris-Neith e Mut-Min.<ref name="Hornung 92">{{harvnb|Hornung|1982|pp=92, 96–97}}</ref> Essa ligação de divindades é chamada [[sincretismo]]. Ao contrário de outras situações para as quais este termo é usado, a prática egípcia não se destinava a fundir sistemas de crenças concorrentes, embora divindades estrangeiras pudessem ser sincretizadas com divindades nativas.<ref name="Wilkinson 33">{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=33–35}}</ref> Em vez disso, o sincretismo reconheceu a sobreposição entre os papéis das divindades e estendeu a esfera de influência para cada um deles. Combinações sincréticas não eram permanentes; um deus que estava envolvido em uma combinação continuou a aparecer separadamente e a formar novas combinações com outras divindades.<ref name="Hornung 92">{{harvnb|Hornung|1982|pp=92, 96–97}}</ref> Mas deidades intimamente conectadas às vezes se fundiam. Hórus absorveu vários deuses falcões de várias regiões, como Khenti-irty e Khenti-kheti, que se tornaram pouco mais do que manifestações locais dele; HathorHator incluiu uma deusa vaca semelhante, [[Bat (deusa)|Bat]]; e um antigo deus funerário, Khenti-Amentiu, foi suplantado por Osíris e [[Anúbis]].<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=119, 172, 187, 203}}</ref>
 
=== Áton e possível monoteísmo ===
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Escritos egípcios descrevem os corpos dos deuses em detalhes. Eles são feitos de materiais preciosos; sua carne é dourada, seus ossos são de prata e seus cabelos são lápis-lazúli. Eles emitem um cheiro que os egípcios associavam ao [[incenso]] usado nos rituais. Alguns textos fornecem descrições precisas de divindades específicas, incluindo sua altura e cor dos olhos. No entanto, essas características não são fixas; nos mitos, os deuses mudam suas aparências para se adequarem aos seus próprios propósitos.<ref>{{harvnb|Meeks|Favard-Meeks|1996|pp=55–59}}</ref> Os textos egípcios muitas vezes se referem às formas subjacentes verdadeiras das divindades como "misteriosas". As representações visuais dos egípcios de seus deuses não são, portanto, literais. Eles simbolizam aspectos específicos do caráter de cada divindade, funcionando de maneira muito semelhante aos [[Ideograma|ideogramas]] da escrita hieroglífica.<ref name="Hornung 110">{{harvnb|Hornung|1982|pp=110–117}}</ref> Por esta razão, o deus funerário [[Anúbis]] é comumente mostrado na [[Arte do Antigo Egito|arte egípcia]] como um cão ou [[chacal]], uma criatura cujos hábitos de sequestro ameaçam a preservação de [[Múmia|múmias]] enterradas, em um esforço para contrariar esta ameaça e empregá-la para proteção. Sua coloração negra alude à cor da carne mumificada e ao solo negro fértil que os egípcios viam como um símbolo da ressurreição.<ref>{{harvnb|Hart|2005|p=25}}</ref>
 
A maioria das divindades foi descrita de várias maneiras. HathorHator podia ser uma vaca, uma cobra, uma leoa ou uma mulher com chifres ou orelhas de boi. Ao descrever um determinado deus de maneiras diferentes, os egípcios expressaram diferentes aspectos de sua natureza essencial.<ref name="Hornung 110">{{harvnb|Hornung|1982|pp=110–117}}</ref> Os deuses são representados em um número finito dessas formas simbólicas, de modo que muitas vezes podem ser distinguidos uns dos outros por suas [[Iconografia|iconografias]]. Essas formas incluem homens e mulheres ([[antropomorfismo]]), animais ([[zoomorfismo]]) e, mais raramente, objetos inanimados. [[Híbrido (mitologia)|Combinações de formas]], como divindades com corpos humanos e cabeças de animais, são comuns.<ref name="Wilkinson 26">{{harvnb|Wilkinson|2003|pp=26–28}}</ref> Novas formas e combinações cada vez mais complexas surgiram no curso da história,<ref name="Dunand and Zivie-Coche 17">{{harvnb|Dunand|Zivie-Coche|2004|pp=17–20}}</ref> com as formas mais surreais freqüentemente encontradas entre os demônios do submundo.<ref>{{harvnb|Hornung|1982|pp=117–121}}</ref> Alguns deuses só podem ser distinguidos dos outros se forem rotulados por escrito, como Ísis e HathorHator.<ref>Bonhême, Marie-Ange, "Divinity", in {{harvnb|Redford|2001|pp=401–405|loc=vol. I}}</ref> Por causa da estreita conexão entre essas deusas, ambos podiam usar o cocar de chifre de vaca que originalmente era de HathorHator.<ref name="Griffiths in Redford 2001">Griffiths, J. Gwyn, "Isis", in {{harvnb|Redford|2001|pp=188–190|loc=vol. II}}</ref>
 
[[File:Krokodilsstatue.jpg|thumb|alt=|left|Estátua do deus crocodilo [[Sobek]] em forma animal completa.]]
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[[File:Taperet stele E52 mp3h9201.jpg|alt=|thumb|270px|Uma mulher cultuando Ra-Horakhty, que a abençoa com raios de luz.<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|p=33}}</ref>]]
 
Os festivais frequentemente envolviam uma procissão cerimonial na qual uma imagem de culto era carregada no templo em um santuário em forma de barca. Essas procissões serviram a vários propósitos.<ref name="Dunand and Zivie-Coche 95">{{harvnb|Dunand|Zivie-Coche|2004|pp=95–96}}</ref> No tempo dos romanos, quando se acreditava que divindades locais de todos os tipos tinham poder sobre a inundação do Nilo, procissões em muitas comunidades levavam imagens do templo às margens dos rios para que os deuses pudessem invocar uma inundação grande e frutífera.<ref>{{harvnb|Frankfurter|1998|p=42}}</ref> Procissões também viajaram entre os templos, como quando a imagem de HathorHator do Templo de [[Dendera]] visitou seu consorte Hórus no Templo de Edfu.<ref name="Dunand and Zivie-Coche 95">{{harvnb|Dunand|Zivie-Coche|2004|pp=95–96}}</ref> Rituais para um deus eram frequentemente baseados na mitologia daquela divindade. Tais rituais deveriam ser repetições dos eventos do passado mítico, renovando os efeitos benéficos dos eventos originais.<ref>{{harvnb|Tobin|1989|pp=28–30}}</ref> No festival Khoiak em homenagem a Osíris, sua morte e ressurreição foram ritualmente reencenadas em uma época em que as plantações começavam a brotar. A verdura que retornava simbolizava a renovação da vida do próprio deus.<ref>{{harvnb|Teeter|2011|pp=58–63}}</ref>
 
A interação pessoal com os deuses assumiu muitas formas. As pessoas que queriam informações ou conselhos consultavam oráculos, dirigidos por templos, que deveriam transmitir as respostas dos deuses às perguntas.<ref name="Baines 165">Baines, John, "Society, Morality, and Religious Practice", in {{harvnb|Shafer|1991|pp=165–172}}</ref> [[Amuletos|Amuletos]] e outras imagens de divindades protetoras eram usados ​​para afastar os demônios que poderiam ameaçar o bem-estar humano<ref>{{harvnb|Frankfurter|1998|pp=119, 175}}</ref> ou para transmitir as características positivas do deus para o usuário.<ref>Andrews, Carol, "Amulets", in {{harvnb|Redford|2001|loc=vol. I|p=81}}</ref> Rituais privados invocavam o poder dos deuses de realizar objetivos pessoais, de curar enfermidades a amaldiçoar inimigos.<ref name="Baines 165">Baines, John, "Society, Morality, and Religious Practice", in {{harvnb|Shafer|1991|pp=165–172}}</ref> Essas práticas usavam ''heka'', a mesma força de magia que os deuses usavam, que o criador dizia ter dado aos humanos para que eles pudessem se defender do infortúnio. O intérprete de um rito privado muitas vezes assumiu o papel de um deus em um mito, ou até mesmo ameaçou uma divindade, para envolver os deuses na realização do objetivo.<ref>Ritner, Robert K., "Magic: An Overview", in {{harvnb|Redford|2001|loc=vol. II|pp= 321–326}}</ref> Tais rituais coexistiam com oferendas e orações particulares, e todos os três eram meios aceitos para obter ajuda divina.<ref>{{harvnb|David|2002|pp=270–272, 283–286}}</ref>
 
Oração e ofertas privadas são geralmente chamadas de "piedade pessoal": atos que refletem uma relação próxima entre um indivíduo e um deus. Evidência de piedade pessoal é escassa antes do Novo Reino. Ofertas votivas e nomes pessoais, muitos dos quais são [[Nome teóforo|teofóricos]], sugerem que os plebeus sentiam alguma conexão entre eles e seus deuses. Mas uma evidência firme de devoção às divindades tornou-se visível apenas no Novo Reino, atingindo um pico no final daquela era.<ref>Baines, John, "Society, Morality, and Religious Practice", in {{harvnb|Shafer|1991|pp=173–179}}</ref> Estudiosos discordam sobre o significado dessa mudança - se a interação direta com os deuses era um novo desenvolvimento ou uma conseqüência de tradições mais antigas.<ref>Luiselli, Michela, "[http://escholarship.org/uc/item/49q0397q Personal Piety (modern theories related to)]", 2008, in {{harvnb|Wendrich|pp= 1–4}}</ref> Os egípcios agora expressavam sua devoção através de uma nova variedade de atividades dentro e ao redor dos templos.<ref>Baines, John, "Society, Morality, and Religious Practice", in {{harvnb|Shafer|1991|pp=180–184}}</ref> Eles gravaram suas orações e seus agradecimentos pela ajuda divina em [[Estela|estelas]]. Eles davam oferendas de figuras que representavam os deuses para os quais eles estavam orando, ou que simbolizavam o resultado que desejavam; assim, uma imagem em relevo de HathorHator e uma estatueta de uma mulher poderiam representar uma oração pela fertilidade. Ocasionalmente, uma pessoa tomava um deus em particular como patrono, dedicando sua propriedade ou trabalho ao culto do deus. Essas práticas continuaram nos últimos períodos da história egípcia.<ref>{{harvnb|Teeter|2011|pp= 78–90, 102–103}}</ref> Essas eras posteriores viram mais inovações religiosas, incluindo a prática de [[mumificação de animais]] como oferendas a divindades representadas em forma animal, como as múmias de gatos dadas à deusa felina [[Bastet]].<ref>{{harvnb|David|2002|pp=312–315}}</ref> Algumas das principais divindades do mito e da religião oficial raramente eram invocadas no culto popular, mas muitos dos grandes deuses do Estado eram importantes na tradição popular.<ref name="Englund 19">Englund, Gertie, "Gods as a Frame of Reference: On Thinking and Concepts of Thought in Ancient Egypt", in {{harvnb|Englund|1989|pp=19–20, 26–27}}</ref>
 
A adoração de alguns deuses egípcios se espalhou para as terras vizinhas, especialmente para Canaã e Núbia durante o Império Novo, quando essas regiões estavam sob controle faraônico. Em Canaã, as divindades exportadas, incluindo HathorHator, Ámon e Set, eram frequentemente sincretizadas com deuses nativos, que por sua vez se espalharam para o Egito.<ref name="Morenz 235">{{harvnb|Morenz|1973|pp=235–243}}</ref> As divindades egípcias podem não ter tido templos permanentes em Canaã,<ref>{{harvnb|Traunecker|2001|pp=108–110}}</ref> e sua importância diminuiu depois que o Egito perdeu o controle da região.<ref name="Morenz 235">{{harvnb|Morenz|1973|pp=235–243}}</ref> Em contraste, muitos templos para os principais deuses egípcios e faraós deificados foram construídos na Núbia.<ref name="Morenz 235">{{harvnb|Morenz|1973|pp=235–243}}</ref> Após o fim do domínio egípcio, os deuses importados, particularmente Ámon e Ísis, foram sincretizados com divindades locais e permaneceram como parte da religião do [[Reino de Cuxe|reino independente de Cuxe]], na Núbia. Esses deuses foram incorporados à ideologia núbia da realeza, assim como no Egito, de modo que Ámon era considerado o pai divino do rei, e Ísis e outras deusas estavam ligadas à rainha núbia, o ''[[candace]]''.<ref>{{harvnb|Fisher|Lacovara|Ikram|D'Auria|2012|pp=122–129}}</ref> Algumas divindades chegaram mais longe. Taweret tornou-se uma deusa em na [[Civilização Minoica|civilização minoica]],<ref>{{harvnb|Wilkinson|2003|p=186}}</ref> e o oráculo de Ámon no [[Oásis de Siuá]] era conhecido e consultado por pessoas em toda a região do Mediterrâneo.<ref>Mills, Anthony J., "Western Desert", in {{harvnb|Redford|2001|loc=vol. III|p=500}}</ref>
 
[[File:Museo Barracco - Giove Ammone 1010637.JPG|thumb|alt=|right|upright|Júpiter Ámon, uma combinação de Ámon e o deus romano [[Júpiter (mitologia)| Júpiter]].]]