Crucificação: diferenças entre revisões
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{{Ver desambig|a Crucificação de Cristo|Crucificação de Jesus}}
[[Imagem:Michelangelo Caravaggio 038.jpg|thumb|300px|"[[Crucificação de São Pedro (Caravaggio)|Crucificação de São Pedro]]" por [[Caravaggio]].|borda|right]]
'''Crucificação''' ou '''crucifixão''' é um método de [[pena de morte]] no qual a vítima é amarrada ou pregada em uma viga de madeira e pendurada durante vários dias até a eventual morte por exaustão e [[asfixia]].<ref name="josephus-jewishwars-5.11.1">
Crê-se que o método tenha sido criado na [[Pérsia]]<ref>
No ato de crucificação a [[vítima]] era pendurada de braços abertos em uma [[cruz]] de [[madeira (material)|madeira]], amarrada ou, raramente{{Carece de fontes|geo|si|data=2013-04}}, presa a ela por pregos perfurantes nos [[punho]]s e [[pé]]s. O peso das [[perna]]s sobrecarregava a musculatura abdominal que, cansada, tornava-se incapaz de manter a [[respiração]], levando à [[morte]] por [[asfixia]]. Para abreviar a morte os torturadores às vezes [[:wikt:fratura|fratura]]vam as pernas do condenado, removendo totalmente sua capacidade de sustentação, acelerando o processo que levava à morte. Mas era mais comum{{Carece de fontes|geo|si|data=2013-04}} a colocação de "bancos" no crucifixo, que foi erroneamente interpretado como um pedestal. Essa prática fazia com que a vítima vivesse por mais tempo. Nos momentos que precedem a morte, falar ou gritar exigia um enorme esforço.
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==Terminologia==
O Grego Antigo possui dois verbos para crucificação: ''ana-stauro'' (ἀνασταυρόω), de ''stauros'', "estaca", e ''apo-tumpanizo'' (ἀποτυμπανίζω) "crucificar numa prancha",<ref>[http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.04.0057%3Aentry%3Da)potumpani%2Fzw&highlight=crucify LSJ apotumpanizo] ἀποτυμπα^ν-ίζω (
O Novo Testamento Grego utiliza quatro verbos, três deles baseados em ''stauros'' (σταυρός), normalmente traduzido como "cruz". O termo mais comum é ''stauroo'' (σταυρόω), "crucificar", aparecendo 43 vezes; ''sustauroo'' (συσταυρόω), "crucificar com" ou "ao lado" aparece cinco vezes, enquanto ''anastauroo'' (ἀνασταυρόω), "crucificar novamente" aparece somente uma vez na Epístola de {{Citar bíblia|livro=Hebreus|capítulo=6|verso=6}} ''prospegnumi'' (προσπήγνυμι); "fixar ou amarrar em, empalar, crucificar" ocorre somente uma vez em {{Citar bíblia|livro=Atos dos Apóstolos|capítulo=2|verso=23}}
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A pessoa executada poderia ser amarrada à cruz por cordas, embora pregos e outros materiais afiados sejam mencionados de passagem pelo historiador judaico [[Flávio Josefo]], em que ele afirma que no [[Cerco de Jerusalém (70)]], "os soldados tomados por fúria e ódio, ''pregaram'' aqueles que capturavam, um após o outro, outro após o outro, a cruzes, só por pirraça"..<ref>{{citar web|último1 =Flavius|primeiro1 =Josephus|título=Jewish War, Book V Chapter 11|url=http://www.ccel.org/j/josephus/works/war-5.htm|publicado=ccel.org|acessodata=2018-05-05}}</ref> Objetos utilizados na crucificação de criminosos, como pregos, eram vendidos como [[amuletos]] com notória qualidade medicinal.<ref>Mishna, Shabbath 6.10: see [https://books.google.com/books?id=EdbdQ-5fMr0C&pg=PA182 David W. Chapman, ''Ancient Jewish and Christian Perceptions of Crucifixion''] (Mohn Siebeck 2008 {{ISBN|978-31-6149579-3}}), p. 182</ref>
Enquanto uma crucificação era uma execução, era também uma humilhação, fazendo o condenado o mais vulnerável possível. Embora artistas tradicionalmente retratem a figura na cruz com uma tanga ou cobrindo os genitais, a pessoa crucificada era geralmente deixada nua. Escritos de [[Sêneca]] afirmam que algumas vítimas tiveram uma vara de madeira enfiada pela virilha.<ref name="Seneca 1946">Seneca, Dialogue "To Marcia on Consolation", in ''Moral Essays'', 6.20.3, trad. John W. Basore, The Loeb Classical Library (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1946) 2:69</ref><ref>
Frequentemente, as pernas da pessoa executada eram quebradas ou esmagadas com uma barra de ferro, um ato chamado ''crurifragium'', que era também frequentemente aplicado em escravos, mesmo sem crucificação.<ref name="Wine">{{citar periódico|último =Koskenniemi|primeiro =Erkki|autor2 =Kirsi Nisula|autor3 =Jorma Toppari|título=Wine Mixed with Myrrh (Mark 15.23) and Crurifragium (John 19.31-32): Two Details of the Passion Narratives|periódico=Journal for the Study of the New Testament|volume=27|número=4|páginas=379–391|publicado=SAGE Publications|ano=2005|url=http://jnt.sagepub.com/cgi/content/abstract/27/4/379|doi=10.1177/0142064X05055745|acessodata=2018-05-05}}</ref> Esse ato apressava a morte da pessoa mas também significava prevenir aqueles que assistiam à crucificação de cometer crimes.<ref name="Wine"/>
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A [[forca]] na qual a crucificação era realizada podia possuir várias formas. [[Flávio Josefo]] descreve múltiplas torturas e posições de crucificação durante o [[cerco de Jerusalém (70)|Cerco de Jerusalém]] conforme [[Tito]] crucificou os rebeldes;<ref name=josephus-jewishwars-5.11.1/> [[Sêneca]] registrou: "Eu vejo cruzes lá, não de somente um tipo, mas feitas de diferentes maneiras: algumas têm a vítima com a cabeça ao chão; algumas [[Empalamento|empaladas]] pelas partes pudendas; outras com os braços esticados na forca."<ref name="Seneca 1946"/>
Algumas vezes a forca era somente uma estaca vertical, chamada em Latim de ''crux simplex''.<ref>{{citar livro|url=https://books.google.com/books?id=bBOqGJc6tpcC&pg=PA78
Alguns autores do século II garantiam que os braços da pessoa crucificada deveriam ser esticados e não amarrados a uma estaca simples: [[Luciano de Samósata]] fala de [[Prometeu]] crucificado "sobre a ravina com suas mãos esticadas" e explica que a letra 'T' (a letra grega [[tau]]) era vista acima como um sinal de mau presságio (similar ao modo como o número treze é visto atualmente como um número de azar), dizendo que a letra conseguiu esse "significado maligno" devido ao "instrumento odioso" que possuía aquela forma, um instrumento no qual tiranos sacrificavam pessoas. [[Testemunhas de Jeová]] sustentam que Jesus foi crucificado em uma ''crux simplex'', e que a ''crux immissa'' foi utilizada primeiramente como um símbolo Cristão no período da suposta conversão do [[Constantino|Imperador Constantino]].<ref>{{citar web|título=Why do Watch Tower publications show Jesus on a stake with hands over his head instead of on the traditional cross?|url=http://wol.jw.org/en/wol/d/r1/lp-e/1101989219|publicado=Watch Tower Bible and Tract Society of Pennsylvania}}</ref> Outras formas eram em forma da letra X e Y.
As passagens do Novo Testamento sobre a crucificação de Jesus não explicitam o formato da cruz, mas primeiros escritos que falam sobre seu formato, a partir do ano 100{{nbsp}}EC, descrevem sua forma como a da letra T (a letra grega tau)<ref>[[Epístola de Barnabé]], [[wikisource:Epístola de Barnabé#Chapter_9|Chapter 9]]. O documento sem dúvida pertence ao final do século I ou início do século II.[http://www.earlychristianwritings.com/barnabas-intro.html]</ref> ou composta de uma viga vertical e uma viga transversal, algumas vezes com uma pequena projeção para o alto.<ref>"
===Colocação de Pregos===
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as chagas são descritas como sendo "em suas mãos"), Jesus é retratado com pregos em suas mãos. Mas em Grego a palavra "χείρ", normalmente traduzidas como "mão", podia se referir à toda porção do braço abaixo do cotovelo,<ref>No [[Grego homérico]] da [[Ilíada]] XX, 478–480, uma ponta de lança é dita ter penetrado o χεῖρ "onde os tendões do cotovelo se juntam" (ἵνα τε ξενέχουσι τένοντες / ἀγκῶνος, τῇ τόν γε φίλης διὰ χειρὸς ἔπειρεν / αἰχμῇ χακλκείῃ).</ref> e para denotar a ''mão'' como uma forma distinta de ''braço'' algumas outras palavras poderiam ser adicionadas, como "ἄκρην οὔτασε χεῖρα" (ele a feriu no final do χείρ, i.e., "ele a feriu na mão".<ref>{{LSJ|xe/ir|χείρ|ref}}</ref>
Uma possibilidade que não requer amarração é que os pregos eram fixados logo acima do pulso, entre os ossos do antebraço (o [[rádio (osso)|rádio]] e a [[ulna]]).<ref>{{
Um experimento que foi tema de um documentário ''Busca pela Verdade: A Crucificação'', do [[National Geographic (canal de televisão)|canal National Geographic]],<ref>{{citar web|url=http://www.nbcnews.com/id/7291066/#.Wu0mnrhG2Uk |título=Science replays the crucifixion|publicado=MSNBC|data=2005-03-25|acessodata=2018-05-05}}</ref> mostrou que os pés pregados forneciam suporte suficiente para o corpo e que as mãos poderiam ter sido simplesmente amarradas. Pregar os pés ao lado da cruz alivia a pressão nos pulsos colocando a maior parte do peso na parte de baixo do corpo.
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[[Imagem:Burmese Dacoits Readied for Execution by WW Hooper c1880s.jpg|thumb|left|"Dacoits birmaneses preparados para execução", fotografia por Willough Wallace Hooper (c. 1880). "Dacoit" é um anglicismo da palavra "bandido" no idioma Hindu.]]
O tempo necessário para alcançar a morte poderia variar de horas a dias dependendo do método, da saúde da vítima e do ambiente. Uma revisão de literatura feita por Maslen and Mitchell<ref name=Maslen2006>{{citar periódico|último =Maslen|primeiro =Matthew|autor2 =Piers D Mitchell|título=Medical theories on the cause of death in crucifixion|periódico=Journal of the Royal Society of Medicine|data=2006-04-01|volume=99|número=4|páginas=185–188|doi=10.1258/jrsm.99.4.185|pmid=16574970|pmc=1420788}}</ref> identificou evidências científicas para diversas possíveis causas de morte: ruptura cardíaca,<ref name="StroudSimpson1871">{{citar livro|autor1 =William Stroud|autor2 =Sir James Young Simpson|título=Treatise on the Physical Cause of the Death of Christ and Its Relation to the Principles and Practice of Christianity|url=https://openlibrary.org/works/OL17088989W/Treatise_on_the_physical_cause_of_the_death_of_Christ_and_its_relation_to_the_principles_and_practic|acessodata=2018-05-08|ano=1871|publicado=Hamilton, Adams & Company}}</ref> falha cardíaca,<ref>{{citar periódico|último =Davis|primeiro =CT|título=The Crucifixion of Jesus. The Passion of Christ From a Medical Point of View|periódico=Arizona Medicine|ano=1962|volume=22|página=182}}</ref> [[hipovolemia]],<ref name="Zugibe2005">{{citar livro|autor =Frederick T. Zugibe|título=The Crucifixion of Jesus: A Forensic Inquiry|url=https://books.google.com/books?id=_iU4CPSvDK4C|acessodata=2018-05-08|data=2005-04-30|publicado=Rowman & Littlefield|isbn=978-1-59077-070-2}}</ref> [[acidose]],<ref name=Wijffels>{{citar periódico|último =Wijffels|primeiro =F|título=Death on the cross: did the Turin Shroud once envelop a crucified body?|periódico=Br Soc Turin Shroud Newsl|ano=2000|volume=52|número=3}}</ref> [[asfixia]],<ref name="Barbet1953">{{citar livro|autor =Pierre Barbet|título=A Doctor at Calvary: The Passion of Our Lord Jesus Christ as Described by a Surgeon|url=https://books.google.com/books?id=F509AAAAYAAJ|acessodata=2018-05-08|ano=1953|publicado=Kenedy}}</ref> [[Arritmia cardíaca|arritmia]],<ref name="Edwards1986">{{citar periódico|último
Uma teoria atribuída a [[Pierre Barbet (médico)|Pierre Barbet]] atesta que, quando todo o peso do corpo é suportado pelos braços esticados, a causa típica da morte era [[asfixia]].<ref>[http://www.columbia.edu/cu/augustine/arch/barbet.html Columbia University page of Pierre Barbet on Crucifixion]</ref> Ele escreveu que o condenado teria muita dificuldade para inspirar, devida à super expansão dos músculos do tórax e pulmões. O condenado deveria então se suspender pelos braços, levando à [[exaustão]], ou ter seus pés apoiados por um suporte ou peça de madeira. Quando não podia mais sustentar seu corpo, o condenado morreria em poucos minutos. Alguns acadêmicos, inclusive [[Frederick Zugibe]], atestam outras causas da morte. Zugibe suspendeu indivíduos em testes com seus braços de 60° a 70° em relação à vertical. As cobaias tiveram dificuldade de respirar durante os experimentos, mas sofreram rapidamente um aumento da dor,<ref>{{citar livro|último =Zugibe|primeiro =Frederick T|autorlink =Frederick Zugibe|título=The cross and the shroud: a medical inquiry into the crucifixion|publicado=Paragon House|local=New York|ano=1988|isbn=0-913729-75-2}}{{Page needed|data=2010-07-01}}</ref><ref>{{citar livro|autor =Zugibe, Frederick T. |título=The Crucifixion Of Jesus: A Forensic Inquiry |publicado=M. Evans and Company |local=New York |ano=2005 |páginas= |isbn=1-59077-070-6}}{{Page needed|data=2010-09-01}}</ref> o que é consistente com o uso romano da crucificação para atingir uma morte prolongada e agonizante. Não obstante, a posição dos pés das cobaias de Zugibe não são referendadas por qualquer evidência histórica ou arqueológica.<ref>{{citar periódico|pmc=1420788|pmid=16574970|doi=10.1258/jrsm.99.4.185|volume=99|número=4|título=Medical theories on the cause of death in crucifixion|ano=2006|periódico=J R Soc Med|páginas=185–8|último1 =Maslen|primeiro1 =MW|último2 =Mitchell|primeiro2 =PD}}</ref>
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==Nas Artes==
{{principal|Crucificação nas Artes}}
<gallery heights="200px" mode="packed">
Ficheiro:Construction Crucifixion Homage to Mondrian crop.jpg|Escultura: ''Crucificação, homenagem a Mondrian'', por Barbara Hepworth, Reino Unido (2007)
Ficheiro:Sergey Solomko 025.JPG|''Alegoria na Polônia'' (1914-1918), cartão postal por [[Sergey Solomko]]
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