Dinastia heracliana: diferenças entre revisões

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[[Imagem:42-manasses-chronicle.jpg|thumb|esquerda|300px|Ataque do imperador Heráclio contra um fortaleza persa durante o cerco a Constantinopla.<br><small>[[Iluminura]] na Crônica de [[Constantino Manasses]].</small>]]
 
Para se recuperar de uma aparente sequência de derrotas, Heráclio iniciou um plano de reconstrução de suas forças militares, financiando-as mediante multas aos acusados de corrupção, aumento de impostos, desvalorização da moeda para pagar mais soldados e através de empréstimos forçados. O patriarca de Constantinopla, [[Sérgio I de Constantinopla|Sérgio]], colocou os recursos da Igreja nas mãos do estado, um surpreendente - e bem recebido - sacrifício. O objetivo de Heráclio era eliminar um de seus mais perigosos inimigos, o [[Império Sassânida]]. Os persas haviam conquistado grandes territórios na [[Anatólia]], na [[Mesopotâmia (província romana)|Mesopotâmia]], no [[Levante (Mediterrâneo)|Levante]] e no [[Norte da África]], mas ainda precisavam consolidar suas conquistas.<ref name="Norwich91">{{harvnb|Norwich|1997|p=91}}</ref> Heráclio decidiu negociar uma paz com os ávaros e os eslavos pagando-lhes um grande tributo para poder remanejar seus exércitos da Europa para a Ásia com o objetivo de lançar uma contra-ofensiva.<ref>{{harvnb|Ostrogorsky|1997|p=100}}</ref> Na primavera de 622, com seus oponentes ainda próximos de Calcedônia, Heráclio resolveu dar-lhes combate. Ele embarcou seu recém-criado exército e navegou pela costa [[mar Jônico|jônica]] e desembarcou em [[Isso (Cilícia)|Isso]], no mesmo local onde [[Alexandre, o Grande]], [[Batalha de Isso|havia derrotado decisivamente]] os persas mil anos antes. Ali, Heráclio supervisionou o extenso treinamento de suas tropas. No outono do mesmo ano, ele marchou para o norte e encontrou os persas nas terras altas da [[Capadócia]]. Apesar de não ter experiência alguma liderando um exército em combate, o imperador bizantino derrotou as forças inimigas do experiente general persa [[CharbarazSarbaro]], aumentando o moral de suas tropas e recuperando um enorme território.<ref name="Norwich91"/>
 
No início de 623, Heráclio liderou suas forças pela Armênia até a região onde hoje está o [[Azerbaijão]]. Ao marchar pela região, os bizantinos forçaram os persas a saírem de suas posições na Ásia Menor para seguir Heráclio ''"como um cachorro numa coleira"''.<ref name="Ostrogorsky101">{{harvnb|Ostrogorsky|1997|p=101}}</ref> Foi na Armênia que o exército bizantino uma vez mais venceu CharbarazSarbaro. Porém, eventos na capital imperial forçaram a volta de Heráclio e de seu exército, uma vez que o [[cã]] ávaro estava ameaçando a cidade. Heráclio foi forçado a aumentar o tributo pago aos ávaros, chegando ao ponto de enviar reféns ao cã para assegurar a paz. Esta trégua novamente assegurou a segurança da retaguarda bizantina e permitiu que o imperador voltasse a atacar os persas em 623, quando o rei persa, [[Cosroes II]], desprezando a trégua, se tornou cada vez mais beligerante.<ref name="Ostrogorsky101"/> A caminho da Pérsia, o exército bizantino saqueou e pilhou, destruindo inclusive o palácio persa em [[Ganzaca]]. Incendiando várias cidades adversárias, Heráclio tomou a decisão arriscada de liderar suas tropas até o interior do território inimigo, avançando até Ctesifonte, a capital persa. Porém, CharbarazSarbaro começou a interromper as linhas de suprimento de Heráclio, forçando o imperador a recuar para a margem ocidental do [[mar Cáspio]]. Lá, sua segunda esposa e sobrinha, [[Martina (imperatriz)|Martina]], deu à luz de forma segura a uma criança, embora muitos considerassem a relação [[incesto|incestuosa]].<ref name="Norwich91"/>
 
Em 624, Heráclio liderou outra campanha na região do [[lago Van]]. Porém, a vitória que ele buscava não viria até início do ano seguinte. Liderando seu exército através do [[Ararate]] em direção ao [[rio Arsânias]] por uns 320 quilômetros com o objetivo de capturar [[Martirópolis]] e [[Amida (cidade romana)|Amida]], Heráclio finalmente encontrou um exército persa ao norte da cidade de [[Adana]] ao final de outra marcha de pouco mais de 110 quilômetros pela região da Mesopotâmia.<ref name="Norwich91"/> Inicialmente, a batalha correu bem para os persas, pois eles conseguiram destruir a vanguarda dos bizantinos.<ref name="Norwich92">{{harvnb|Norwich|1997|p=92}}</ref> Porém, Heráclio tomou a iniciativa ao lançar cargas aparentemente suicidas através do [[Eufrates]], virando a batalha. Nem mesmo CharbarazSarbaro negou a bravura do imperador:
{{citação2|Veja seu imperador! Ele não teme estas flechas e lanças mais do que temeria uma [[:wikt:bigorna|bigorna]]!|CharbarazSarbaro<ref name="Norwich92"/>}}
 
=== Cerco de Constantinopla ===
{{AP|Cerco de Constantinopla (626)}}
 
A vitória foi bizantina e agora a guerra estava equilibrada, porém, a ameaça persa não diminuiu. O já esperado ataque à capital bizantina estava finalmente começando a se materializar - os ávaros começaram a movimentar suas [[armas de cerco]] para [[Constantinopla]] (o cerco começou em 29 de junho de 626) enquanto CharbarazSarbaro recebeu ordens de Cosroes II para enviar um exército até Calcedônia para se unir aos ávaros. O xá persa começou então a alistar todos os homens capazes para formar um novo exército, que chegou a ter {{Formatnum|50000}} homens. Heráclio, ao que parece, estava não apenas sendo enganado, mas enganado por diversos grandes exércitos. Porém, o imperador tentou conter os persas utilizando a mesma estratégia que eles: ele dividiu suas forças em três contingentes distintos.<ref name="Norwich92"/> Um exército ficou para defender a capital, enquanto outro, sob o comando do irmão do imperador, [[Teodoro (irmão de Heráclio)|Teodoro]], enfrentaria os {{Formatnum|50000}} [[Conscrição|conscritos]] - que eram liderados pelo general persa [[Sain]] - na Mesopotâmia. Enquanto isso, o terceiro, liderado pelo próprio Heráclio, marcharia através da Armênia e do [[Cáucaso]] para invadir a Pérsia, que ele acreditava estar agora desprotegida por causa do alistamento de Cosroes. Heráclio esperava conseguir chegar facilmente ao coração do território inimigo.
 
O contingente de Teodoro se deu bem contra Sain na Mesopotâmia, infligindo uma fragorosa derrota aos persas.<ref name="Norwich92"/> Durante a batalha de Constantinopla, a cidade foi bem defendida por uma força de {{Formatnum|12000}} cavaleiros (provavelmente desmontados) apoiados por toda a população da cidade. Foram fundamentais os esforços do patriarca [[Sérgio I de Constantinopla|Sérgio]] para elevar o espírito da população, que reagiu com um fervor religioso e patriótico contra os inimigos. Quando a [[marinha bizantina|frota bizantina]] aniquilou as frotas persa e ávara em duas emboscadas, os atacantes aparente recuaram em pânico. E, quando as notícias da vitória de Teodoro chegaram, a conclusão dos persas foi de que os bizantinos estavam de fato sob a proteção do Deus cristão romano.<ref name="Norwich92"/>