Netuno (planeta): diferenças entre revisões

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{{Netuno}}{{Ver desambig|este=|o deus da mitologia romana, consulte [[Netuno (mitologia)|Neptuno]]; para os demais casos|Netuno}}
[[Imagem:Neptune with rings.jpg|180px|imagem]]
{{PBPE-AO|Netuno|Neptuno|Netuno''' ou '''Neptuno}}<ref>{{citar livro|autor=Porto Editora|título=Dicionários Académicos — Dicionário da Língua Portuguesa |editora=[[Porto Editora]]|ano=2009 |páginas=904|isbn= 978-972-0-01478-8|}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.priberam.pt/dlpo/Neptuno |titulo=Definição: Neptuno |autor=[[Priberam]] Informática S.A. |data=|publicado=Dicionário [[Priberam]] da Língua Portuguesa|acessodata=18 de Abril de 2010}}</ref> é o [[Lista de planetas e planetas anões do Sistema Solar|oitavo planeta]] do [[Sistema Solar]], o último a partir do [[Sol]] desde a reclassificação de [[Plutão]] para a categoria de planeta anão, em [[2006]]. Pertencente ao grupo dos gigantes gasosos, possui um tamanho ligeiramente menor que o de [[Urano (planeta)|Úrano]], mas maior massa, equivalente a 17 [[Massa da Terra|massas terrestres]]. Netuno orbita o Sol a uma distância média de 30,1 [[unidade astronômica|unidades astronômicas]].
 
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Netuno provavelmente possui um núcleo de material rochoso de massa similar à da Terra, cuja temperatura deve ser superior a 5&nbsp;100&nbsp;°C, possivelmente maior do que o núcleo de Úrano.<ref name="estrutura" /> Ao seu redor, existiria um grande "oceano", uma camada formada principalmente por oxigênio, nitrogênio, carbono e hidrogênio, mantidos sob grande pressão e temperatura. Contudo o termo não implica que exista necessariamente uma camada líquida no planeta, mas na verdade uma região onde estes [[elemento químico|elementos]] podem ser encontrados em átomos isolados ou formando [[substância química|substâncias químicas]], principalmente água, metano e amônia. Não se sabe, contudo, a proporçião desses elementos na constituiçião do planeta. Uma quantidade superior de hidrogênio poderia implicar sua manifestação [[hidrogênio metálico|com características metálicas]], o que permitiria o fluxo de corrente elétrica e influenciaria o campo magnético.<ref name="Schmude 2008 78">{{Harvnb|Schmude|2008|p=78}}</ref> [[Reação química|Reações químicas]] podem ocorrer também entre os elementos químicos e substâncias, que teriam como produtos, por exemplo, [[hidrogênio molecular]], que subiria para a atmosfera e [[diamante]], que afundaria em direção ao núcleo.<ref name="Bond 2012 305"/>
 
O fluxo térmico de Neptuno possui um fator de 2,6, ou seja, o planeta emite 2,6 vezes mais energia térmica do que recebe do Sol. Por isso, a atividade convectiva da atmosfera é influenciada pela energia proveniente do interior do planeta, sendo determinante para explicar a grande variabilidade dos eventos meteorológicos observados.<ref>{{Harvnb|Cruikshank|1995|p=491}}</ref> Nos [[planeta telúrico|planetas terrestres]], a fonte de calor do núcleo provém do [[decaimento radioativo]], enquanto que, em Júpiter, a energia térmica provém da [[Mecanismo de Kelvin-Helmholtz|condensação e movimento interno]] do gás hélio. Contudo, os elementos radioativos são pouco abundantes nos confins do Sistema Solar, bem como a quantidade de hélio na composiçião total do planeta é pouco significativa. Desta forma, não há até o presente momento explicaçião para a origem da energia interna adicional do planeta.<ref name="estrutura">{{Harvnb|Elkins-Tanton|2009|p=75,76}}</ref> Um processo de [[diferenciaçãodiferenciaçião planetária]] nas camadas do manto de Netuno poderia contribuir para a liberação de energia térmica.<ref name="Bond 2012 305"/>
 
[[Imagem:Neptune-Methane.jpg|thumb|CombinaçãoCombinaçião de observaçõesobservaçiões no comprimento de onda visível e infravermelho próximo permitem identificar as bandas onde o gás metano é mais abundante (em azul) e a presença de nuvens que refletem o infravermelho (em vermelho). Os quatro pontos ao redor do planeta são os satélites naturais Proteu (o mais brilhante), Larissa, Galatea e Despina.]]
 
===Atmosfera===
A [[atmosfera]] de Netuno é, sob diversos aspectos, similar [[Atmosfera de Urano|à de Urano]]. Contudo sua dinâmica apresenta-se em uma complexa configuração de fortes ventos que varrem o planeta, além da formação de tempestades ciclônicas e de nuvens, com características visuais claramente visíveis.<ref name="Marov 2014 105">{{Harvnb|Marov|2014|p=105}}</ref> Assim como os demais planetas gigantes, Netuno não possui uma superfície visível e definida, por isso as altitudes na atmosfera são medidas a partir do referencial cuja pressão é de 1 bar.<ref>{{Harvnb|Schmude|2008|p=61}}</ref> A partir deste nível de referência, a atmosfera estende-se até uma profundidade de cinco mil quilômetros, onde a pressão chega a cem mil bars.<ref name="Schmude 2008 78"/>
 
A atmosfera superior de Netuno é composta por 79% de [[hidrogênio]], cerca de 18% de [[hélio]] e a maior parte restante por [[metano]], cuja presença confere a coloraçãocoloraçião [[anil|azul anil]] do planeta, ao absorver a radiaçãoradiaçião vermelha incidente. Presume-se que algum outro componente da atmosfera de Netuno contribua para sua acentuada coloraçãocoloraçião, uma vez que Urano possui uma quantidade de metano similar em sua atmosfera, mas apresenta coloraçãocoloracião mais clara.<ref>{{Harvnb|Spohn|2014|p=726}}</ref> Esta camada observada representa somente uma pequena fraçãofraçião do planeta, correspondendo a cerca de 15% do raio do planeta.<ref name="Gregersen 2010 168"/><ref>{{Harvnb|Irwin|2014|p=129}}</ref>
 
A temperatura da atmosfera netuniana varia conforme a altitude. Na altitude cuja pressão equivale a 0,1 [[bar (unidade)|bar]], a temperatura chega ao mínimo de 50K (-223&nbsp;°C), e sobe conforme a pressão diminui, ou seja, conforme a altitude aumenta, atingindo até 327&nbsp;°C a uma pressão de centenas de bilionésimos de bar, o que equivale a uma altitude de 2200 quilômetros acima do nível de referência de 1 bar. Abaixo do nível de pressão de 0,1 bar, a temperatura aumenta conforme a pressão aumenta. No nível de referência de 1 bar, a temperatura média é de 74K (-199,15&nbsp;°C).<ref>{{Harvnb|Gregersen|2010|p=170}}</ref> A alta temperatura da camada superior da atmosfera, embora seja comum em todos os outros planetas gigantes, ainda permanece um mistério, pois não pode ser provocada pela radiação ultravioleta solar, devido à grande distância ao Sol. Possivelmente está relacionada ao comportamento do campo magnético do planeta.<ref>{{Harvnb|Elkins-Tanton|2009|p=82}}</ref>
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Netuno, conforme descoberto a partir de dados enviados pela Voyager 2, possui um campo magnético cujos dipolos principais estão inclinados 47° em relação ao seu eixo de rotação, além de seu centro estar deslocado do centro do planeta, com distância superior a meio raio do planeta. Por este motivo, os polos magnéticos encontram-se em baixas latitudes no planeta, além de ser mais intenso no hemisfério sul, em direção ao qual está deslocado.<ref name="Schmude 2008 79">{{Harvnb|Schmude|2008|p=79}}</ref><ref>{{Harvnb|Cruikshank|1995|p=141,142}}</ref>
 
A intensidade do campo magnético ao nível atmosférico de 1 bar varia entre 1 e 0,1 [[gauss]] entre os hemisférios sul e norte, respectivamente.<ref group="nota">Para comparação, a intensidade do [[campo magnético da Terra]] é de 0,32 gauss no Equador.</ref> Sua origem possivelmente é a corrente de fluidos [[íons|ionizados]] em seu interior, criando o [[teoria do dínamo|efeito de dínamo]] [[Campo magnético da Terra|similar ao da Terra]] e de Urano. A circulação de cargas elétricas nas camadas internas (localizadas possivelmente na metade do raio do planeta). A distribuiçãodistribuiçião do campo magnético netunianoneptunino, entretanto, apresenta uma configuração complexa, na qual ocorre a superposição de um campo [[quadrupolo]], o qual produz quatro polos magnéticos igualmente espaçados entre si, e [[octopolo]] cuja intensidade por vezes supera o [[dipolo]], sendo o caso mais intenso deste fato em todo o Sistema Solar.<ref name="Schmude 2008 79"/><ref>{{citar web|url=http://www-ssc.igpp.ucla.edu/personnel/russell/papers/nep_mag.html|arquivourl=<!--http://archive.is/5cDr9-->|arquivodata=26 de dezembro de 2014|título=Neptune:magnetic field and magnetosphere|autor=C. T. Russel; J. G. Luhmann|publicado=Encyclopedia of Planetary Sciences (original)|ano=1997|língua=Inglês}}</ref><ref name="Elkins-Tanton 2009 80">{{Harvnb|Elkins-Tanton|2009|p=80}}</ref>
 
A [[magnetosfera]] de NetunoNeptuno, a região livre dos efeitos do vento solar criada pelo campo magnético do planeta, estende-se desde o [[choque em arco|arco de choque]] (região onde as partículas do [[vento solar]] são desaceleradas pelo campo magnético), situado a cerca de 39 raios do planeta a frente de si, até a [[magnetopausa]], a 26 raios do planeta na direção oposta.<ref>{{Harvnb|Schmude|2008|p=79,80}}</ref> A configuraçãoconfiguraçião da magnetosfera de Netuno varia conforme a rotaçãorotaçião do planeta e do campo magnético transcorrem, variando desde uma configuraçãoconfiguraçião normal semelhante ao campo magnético terrestre até aquela em que o polo magnético aponta diretamente na direçãodirecçião do vento solar, cujos ciclos se repetem a cada rotaçãorotaçião do planeta. Isto causa o aquecimento das camadas mais altas da atmosfera bem como a emissão irregular de radiação eletromagnética no comprimento de onda do rádio.<ref name="Bond 2012 305"/><ref name="Elkins-Tanton 2009 80"/>
 
De fato a magnetosfera de Netuno possui a menor densidade de [[próton]]s e [[elétron]]s em comparação com os demais gigantes gasosos. A tênue atmosfera de Tritão, seu maior satélite natural, fornece íons de nitrogênio para a magnetosfera. Contudo, a constante desorientação da magnetosfera netuniana faz com que as partículas presas no mesmo passem pelos satélites e anéis do planeta, que acabam por absorvê-las. Fracas emissões de [[Aurora polar|auroras]] foram detectadas em Netuno, possivelmente originadas próximas aos polos magnéticos.<ref name="Bond 2012 305"/>
 
==Movimentos orbitais==
NetunoNeptuno completa uma [[translaçãoamericanização|americanizando]] ao redor do Sol a cada 164,79 [[ano|anos terrestres]], orbitando a uma velocidade de aproximadamente 5,45 quilômetros por segundo. A partir do ponto onde foi descoberto, NetunoNeptuno completou sua primeira órbita somente em julho de 2011. O [[semieixo maior]] da órbita do planeta, a distância média entre ele e o Sol, mede aproximadamente 30 [[unidade astronômica|unidades astronômicas]], o que equivale a 4,49 bilhões de quilômetros.<ref name="Bond 2012 299">{{Harvnb|Bond|2012|p=299}}</ref> A órbita de Netuno possui uma excentricidade de somente 0,011, o que faz com que seja uma das mais circulares dentre os planetas do Sistema Solar.<ref>{{Harvnb|Bakich|2000|p=290}}</ref>
 
As primeiras tentativas de se obter com precisãoprecisião o [[Movimento de rotação|período de rotaçãorotaçião]] de Netuno foram feitas utilizando-se técnicas de [[espectroscopia]] e [[Fotometria (astronomia)|fotometria]], o que deixava considerável incerteza nas medições. A espectroscopia permitia obter as velocidades com que os dois limbos se moviamoviam em relaçãorelando à Terra e, conhecendo-se o diâmetro, obtinha-se o período de rotaçãorotaçião. A fotometria buscava observar a [[variação|variando]] de brilho causada pela visibilidade de uma grande estrutura em Netuno, medindo-se o intervalo transcorrido entre elas. Somente em 1979 os telescópios atingiram porte suficiente para distinguir regiões brilhantes, as nuvens, a partir do qual obteve-se um período de rotação de cerca de 17 horas.<ref>{{Harvnb|Littmann|2004|p=149,150}}</ref>
 
Contudo, além da imprecisão dos equipamentos utilizados, estes instrumentos obtinham a velocidade somente da atmosfera do planeta. Os ventos giram em velocidades diferentes conforme as bandas de circulação do planeta. Além disso, assim como os demais gigantes gasosos, o planeta apresenta [[rotação diferencial]].<ref>{{Harvnb|Littmann|2004|p=150}}</ref> Somente após a visita da Voyager 2 que o período de rotação do centro do planeta foi estabelecido com razoável precisão, sendo de 16 horas e sete minutos.<ref name="Bond 2012 299"/> O [[eixo de rotação]] de Netuno é inclinado em 28,3°, similar à inclinação do eixo terrestre, que é de 23,5°. Por isso o planeta apresenta [[estações do ano|variações sazonais]] da radiação solar recebida nos hemisférios norte e sul tal como a Terra, embora em Netuno cada estação dure aproximadamente 41 anos.<ref name="Bond 2012 299"/>
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[[Imagem:Lhborbits.png|thumb|400px|Configuraçião das órbitas dos gigantes gasosos no processo de migração planetária. Nota-se como a influência de Neptuno espalha os objetos do Cinturão de Kuiper primordial.]]
{{VT|Formação e evolução do Sistema Solar}}
O planeta Netuno se formou a partir da [[Acreção (astrofísica)|acreçãoacreçião]] de parte da matéria do [[disco protoplanetário]] existente ao redor do Sol primordial, inicialmente pela fusão de diversos [[planetesimal|planetesimais]], de acordo com a [[hipótese nebular]]. Posteriormente, o núcleo de rocha ou gelo que se formara adquiriu dimensões suficientes para atrair o gás e a matéria ao seu redor até que o disco desaparecer por completo.<ref>{{Harvnb|Cruikshank|1995|p=41}}</ref> Esse processo teria durado somente dez milhões de anos.<ref name="Spohn 2014 934">{{Harvnb|Spohn|2014|p=934}}</ref>
 
Após cessada a absorção de gases, muitos planetesimais que não foram incorporados aos planetas gigantes ficaram entre suas órbitas. Modelos numéricos sugerem que Netuno teria se formado bem mais próximo do Sol, somente a 23 UA. Contudo, a interaçãointeraçião gravitacional dos [[Gigante gelado|gigantes gelados]] com os planetesimais os jogava para o interior do Sistema Solar (causando o período caótico do [[intenso bombardeio tardio]]) e, por conservação de energia, impulsionava UranoÚrano e NetunoNeptuno para mais longe do Sol. A [[migração planetária]] pela qual o planeta passou teve reflexo na configuraçãoconfiguraçião do Cinturão de Kuiper, arrastando alguns objetos para órbitas ressonantes, nas quais se mantêm até o presente momento, ou direcionando-os para fora de sua órbita.<ref name="Spohn 2014 934"/><ref>{{Harvnb|Blondel|2006|p=278}}</ref>
 
Tritão provavelmente não se formou próximo a Netuno, mas teria sido capturado pela gravidade do planeta em algum momento em sua história, por isso possui uma órbita [[Movimento prógrado e retrógrado|retrógrada]]. Sua aproximação ao planeta teria perturbado a órbita de eventuais satélites preexistentes, levando à colisão entre eles. A configuração natural da órbita de Tritão faz com que o mesmo se aproxime gradualmente do planeta até que, em algum momento no futuro, o satélite atinja o [[limite de Roche]] e a gravidade de Netuno o faça se romper completamente, formando-se então um grande sistema de anéis.<ref>{{Harvnb|Woolfson|2011|p=238}}</ref><ref>{{Harvnb|Barucci|2008|p=422}}</ref>