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Sobre o livro
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{{quote2|''E se eu não morrer? Se eu for devolvido à vida? Ah! Que eternidade!|autor=Dostoiévski''{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960|p=61}}}}
 
== Sobre o livro ==
Dostoiévski nesse livro fala do [[nacionalismo]] russo e do [[cristianismo]] eslavo. Com o príncipe, ele tenta resgatar uma figura pura e quase santa de uma sociedade russa que talvez tenha existido. O livro é considerado o mais típico de seu estilo, com abundantes personagens, análises psicológicas, histórias e humor. Pode-se dizer, como será natural, que o livro contém muita coisa da vida do autor e da sua ideologia. Uma semelhança bastante evidente é a de o príncipe também sofrer de ataques epitéticos - ou seja num lapso nervoso, quiçá inspirador, devaneiava profusões de alcunhas - a personagem Aglaia crê-se que foi criada a partir de uma mistura entre ''Ana Korvin Krukovskaia'' e ''Paulina Suslova''. A primeira mulher foi a quem Dostoiévski fez corte durante algum tempo por correspondência e pediu em casamento, mas esta recusou o pedido por achá-lo de aspecto pouco atraente (a família Epantchin também teria sido inspirada na própria família de ''Ana Krukovskaia'', os ''Krukovski''), a segunda mulher foi na realidade a grande paixão de Dostoievski e a pessoa mais retratada nos seus romances.<ref name="2.ºLivro">Livro: Dostoievski de Janko Lavrin</ref>
 
=== Ideologia ===
Os anos em que Dostoiévski viveu na [[Europa]] contribuíram para o escritor um forte conhecimento acerca de vários países e de vários costumes da época. Foi uma oportunidade excelente para este poder fazer comparações entre a [[Rússia]] da altura e a [[Europa Ocidental]], sempre sob o ponto de vista [[eslavo]].
Os avanços técnicos eram notórios na Europa Ocidental com a [[revolução industrial|industrialização]] que batia largamente a Rússia aos pontos, contudo, a espiritualidade da Rússia revelava-se bastante superior à da Europa Ocidental, e Dostoiévski, que acreditava piamente no renascimento da [[ortodoxia]] russa e sendo ele também um devoto da fé ortodoxa, tinha conhecimento desta Rússia e a sua força espiritual. Julgava o sentimento [[patriarca]]l e [[ortodoxia|ortodoxo]] como sendo a única solução verdadeira para realização-pessoal de a Rússia não vir a cair na mesma cultura materialista de afirmação-pessoal que a Europa começava a eleger e até de poder salvar a Europa do seu próprio declínio, daí, sob o desejo de cultivar e propagar esse sentimento eslavo, escreve certas partes do romance acerca da contradição Europa-Rússia.<ref name="2.ºLivro"/>
 
{{quote2|''- É verdade que expões o Anticristo? - Dizem.|autor=Dostoiévski''{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960|p=207}}}}
 
== Edições ==
 
===Portugal===
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Porto : Crisos, 1941.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Porto : Liv. Latina, 1943.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Porto : Progredior, 1944.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Lisboa : Portugália, 1963.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Lisboa : Estúdios Cor. 1969.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Lisboa : Círculo de Leitores, 1976.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Lisboa : Presença, 2001.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Lisboa : Relógio d'Água, 2014.
 
===Brasil===
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Rio de Janeiro : José Olympio. 1960.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. São Paulo : Editora 34, 2010.
 
===Curiosidades===
*A edição da José Olympio de 1960 foi feita com colaboração do escritor [[João Guimarães Rosa]].{{sfn | EDITORA| 1960| p=XXII}}
 
== Enredo ==
{{Revelações sobre o enredo}}
 
O príncipe Míchkin tem 27 anos de idade quando retorna a Petesburgo, após permanecer vários anos em um sanatório na Suíça para tratar da sua epilepsia. Tem-se então o desenrolar da trama cujo tema central recai na problemática do indivíduo puro, superior, que acaba sendo para os demais, numa sociedade corrompida, um idiota, um inadaptado. <br/>
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[[Ficheiro:DostojevskiFlorence.jpg|thumb|250px|right|A casa onde Dostoiévski escreveu ''O Idiota'']]
 
===Personagens principais===
====Príncipe Liév Nikoláievitch Míchkin (o idiota)====
 
Visto que o mundo contém todo o tipo de espíritos entre o bem e o mal, e, se num extremo pode-se encontrar pessoas abomináveis, infames, corruptas e mais uma quantidade de adjectivos que caracterizam a perversidade, então poderemos ter a certeza de encontrar o príncipe Míchkin sentado no trono no extremo oposto a esta perversidade. Tal como o autor do livro, Míchkin é um doente que sofre de epilepsia, mas não é com certeza por padecer desta condição, o motivo que o fez viver completamente privado de poder racional; o seu apurado senso comum é que o dispensa de necessitar dessa racionalidade que lhe está em falta para poder fazer juízos de valor. Em compensação, é pejado de uma grande generosidade, benevolência e, consequentemente, de muita ingenuidade. No entanto, mesmo acarinhado e bem tratado por todos, embora até sendo visto como um coitadinho devido à sua bondade, não se consegue livrar da chacota e das alfinetadas que frequentemente lhe atiram, como é tão próprio serem lançadas por quem se aproveita da bondade de alguém que, erroneamente, a relacionam com algum tipo de pessoa fraca e débil. Nem suspeitam pois que, por ser conotado como um pateta, um ''idiota'' debaixo do olhar de toda a gente, o príncipe seja capaz de ser tão esperto que os restantes, quanto mais detentor de uma mente superior, possuindo um dom intuitivo, praticamente profético, capaz de deslindar a essência do espírito sob os rostos de quem o rodeia, o fundo das pessoas, ou seja, a verdadeira índole de cada um e avaliar na perfeição os seus atributos.
Órfão de pais e sendo o último da linhagem dos Míchkin, a história começa quando ele retorna à Rússia para recolher uma herança deixada por um velho amigo e familiar de seu pai.
 
{{quote2|''Oh! Tempo é que não me falta; é inteiramente propriedade minha...|autor=Dostoiévski''{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960|p=26}}}}
 
====Parfion Rogójin====
Com esta personagem Dostoievski cria um puro antagonismo relativamente ao príncipe Míchkin. Uma personagem bastante sombria e endinheirada devido ao capital que o seu pai, Semion Parfiónovitch Rogójin, lhe deixou ao falecer. Ele e o príncipe Míchkin conhecem-se logo no início da história, criando-se rapidamente um laço de amizade entre os dois.{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960| p=07}} Todavia, o que neste laço que parecia estar bem atado, mais tarde ir-se-ia enfraquecer e tornar numa competição rival pelo afecto de Nastássia Filíppovna, uma mulher que se intromete na amizade entre as duas figuras principais.
 
====Nastássia Filíppovna====
Se na sua mocidade era já uma mulher culta, de boas maneiras e com uma notável presença de espírito, mais tarde iria mudar radicalmente o seu comportamento. Mesmo ainda antes de a conhecer, foi para o príncipe Míchkin uma das mulheres pela qual ele se apaixona imediatamente, quando, na casa dos Epantchin, fixa o olhar fascinado para um retrato seu.{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960| p=31}} Devido à morte trágica de seus pais, foi ainda na sua meninice acolhida por Tótski juntamente com sua irmã, falecendo também esta última pouco tempo depois. Seria entregue a vários cuidados durante a juventude. Concluída a sua educação tornara-se então numa mulher adulta, portadora de grande beleza e de grande poder de sedução. Prometia muito para o seu futuro.{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960| p=43-44}} Contudo, a partir do pedido de casamento do príncipe Míchkin, torna-se numa mulher completamente diferente, enigmática.{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960| p=173}}
 
====Tótski, Afanássi Ivánovitch====
É um homem adequado à alta sociedade. Um conservador bem estabelecido e proprietário de numerosas terras, que teve em Nastássia Filíppovna, o papel de orientá-la na sua educação. Enlaça ainda uma grande amizade com o general Epanchin. Sendo o tutor de Nastássia Filíppovna, reparando que ela estava extremamente sozinha na vida, atribui-lhe um dote no valor de setenta e cinco mil rublos. Desejava que ela se case, embora, visse Filíppovna desprendida de tal desejo, permanecendo ela indiferente a vários candidatos altamente classificados. Tótski, conjuntamente o general Epanchin, elaboram uma manobra de casar Filíppovna com Gavrila Ardaliónitch, talvez o único pretendente a quem ela pudesse vir aceitar como marido. E, sendo o próprio Tótski amante da beleza, um entendido no assunto, pretendia assim nesta ocasião casar-se aos cinquenta anos com uma das filhas do general Epanchin.
 
====Os Epantchin====
*Ivan Fiódorovitch Epantchin é um general com cinquenta e seis anos que se sente na fase ideal da sua vida, em pleno gosto por ele próprio e pela sua família. A fortuna avolumada que juntou deveio-se, substancialmente, do dote de sua mulher quando se haviam casado há já muito tempo, arrecadando apenas uns modestos cinquenta rublos. Dote pequeno, embora importante, que lhe veio servir de base fundamental para negócios posteriores. A sua presente actividade lucrativa é arrendar casas e propriedades, e até uma fábrica nos arredores de Petersburgo, da qual é senhor. A sua família numerosa é composta, no momento da história, pela esposa e pelas suas três filhas adultas.{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960| p=14-15}}
 
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*Aleksandra, Adelaída e Aglaia Epantchiná são as três filhas do casal Epantchin. Umas pequenas princesas, devido à linhagem principesca da mãe. Bonitas, dotadas de cultura e inteligência. Teriam cerca de vinte cinco, vinte e três, e vinte anos respectivamente.{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960| p=37, 55}}
 
====Os Ívolguin====
*General Ívolguin (Ardalion Aleksándrovitch Ívolguin) é o patriarca da família. Um general na reserva, acabado e amigo da bebida, simultaneamente com uma necessidade compulsiva de mentir, pedindo sempre dinheiro emprestado a toda a gente que lhe aparece pela frente para, enfim, gastá-lo todo em bebida.{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960| p=99,130}}
*Gavrila Ardaliónitch Ívolguin (por vezes ''Gánia'', ''Gánetchka'' ou ainda ''Ganka'') é um amigo e secretário do general Epantchin. Sabendo da amizade que este mantinha com Tótski, acabaria para o interesse de todos por ganhar o consentimento de se casar com Nastássia Filíppovna assim que esta desse sua permissão. Ao mesmo tempo que isto, enquanto que Tótski, o general, e ele próprio congeminavam forças para que o enlace se concretizasse, o seu coração pertencia a Aglaia Epantchiná, alimentando esperanças ocultas para que esta findasse qualquer pretensão do seu casamento com Filíppovna.{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960| p=35}}
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*Varvara Ardaliónovna Ívolguina (por vezes ''Vária'') é a irmã de Gavrila Ardaliónitch.{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960| p=93}}
*Nikolay Ardaliónovich (por vezes ''Kólia'') é o irmão de Gavrila Ardaliónitch. É um miúdo alegre que se dá bem com toda a gente.{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960| p=95}}
 
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{{quote2|''Oh! Tempo é que não me falta; é inteiramente propriedade minha...|autor=Dostoiévski''{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960|p=26}}}}
== Desenvolvimento==
Dostoiévski nesse livro fala do [[nacionalismo]] russo e do [[cristianismo]] eslavo. Com o príncipe, ele tenta resgatar uma figura pura e quase santa de uma sociedade russa que talvez tenha existido. O livro é considerado o mais típico de seu estilo, com abundantes personagens, análises psicológicas, histórias e humor. Pode-se dizer, como será natural, que o livro contém muita coisa da vida do autor e da sua ideologia. Uma semelhança bastante evidente é a de o príncipe também sofrer de ataques epitéticos - ou seja num lapso nervoso, quiçá inspirador, devaneiava profusões de alcunhas - a personagem Aglaia crê-se que foi criada a partir de uma mistura entre ''Ana Korvin Krukovskaia'' e ''Paulina Suslova''. A primeira mulher foi a quem Dostoiévski fez corte durante algum tempo por correspondência e pediu em casamento, mas esta recusou o pedido por achá-lo de aspecto pouco atraente (a família Epantchin também teria sido inspirada na própria família de ''Ana Krukovskaia'', os ''Krukovski''), a segunda mulher foi na realidade a grande paixão de Dostoievski e a pessoa mais retratada nos seus romances.<ref name="2.ºLivro">Livro: Dostoievski de Janko Lavrin</ref>
 
{{quote2|''- É verdade que expões o Anticristo? - Dizem.|autor=Dostoiévski''{{sfn | DOSTOIÉVSKI| 1960|p=207}}}}
 
== Publicação==
 
===Portugal===
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Porto : Crisos, 1941.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Porto : Liv. Latina, 1943.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Porto : Progredior, 1944.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Lisboa : Portugália, 1963.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Lisboa : Estúdios Cor. 1969.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Lisboa : Círculo de Leitores, 1976.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Lisboa : Presença, 2001.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Lisboa : Relógio d'Água, 2014.
 
===Brasil===
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. Rio de Janeiro : José Olympio. 1960.
* Dostoiévski, Fiódor. ''O Idiota''. São Paulo : Editora 34, 2010.
 
===Curiosidades===
*A edição da José Olympio de 1960 foi feita com colaboração do escritor [[João Guimarães Rosa]].{{sfn | EDITORA| 1960| p=XXII}}
 
== Crítica ==
Os anos em que Dostoiévski viveu na [[Europa]] contribuíram para o escritor um forte conhecimento acerca de vários países e de vários costumes da época. Foi uma oportunidade excelente para este poder fazer comparações entre a [[Rússia]] da altura e a [[Europa Ocidental]], sempre sob o ponto de vista [[eslavo]].
Os avanços técnicos eram notórios na Europa Ocidental com a [[revolução industrial|industrialização]] que batia largamente a Rússia aos pontos, contudo, a espiritualidade da Rússia revelava-se bastante superior à da Europa Ocidental, e Dostoiévski, que acreditava piamente no renascimento da [[ortodoxia]] russa e sendo ele também um devoto da fé ortodoxa, tinha conhecimento desta Rússia e a sua força espiritual. Julgava o sentimento [[patriarca]]l e [[ortodoxia|ortodoxo]] como sendo a única solução verdadeira para realização-pessoal de a Rússia não vir a cair na mesma cultura materialista de afirmação-pessoal que a Europa começava a eleger e até de poder salvar a Europa do seu próprio declínio, daí, sob o desejo de cultivar e propagar esse sentimento eslavo, escreve certas partes do romance acerca da contradição Europa-Rússia.<ref name="2.ºLivro"/>
 
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