História do tempo presente: diferenças entre revisões

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{{VT|Tortura no Brasil|Desaparecidos Políticos no Brasil|Abertura política}}
[[Ficheiro:Nixon-Médici.gif|miniaturadaimagem|upright=0.7|[[Emílio Garrastazu Médici]] (à esquerda) com o então presidente dos [[Estados Unidos]], [[Richard Nixon]], em dezembro de 1971|esquerda]]
No [[Brasil]], apesar de existirem pesquisadores que utilizaram a abordagem da história do tempo presente antes das décadas de [[Década de 1970|1970]] e [[Década de 1980|1980]], é nesse período que o campo emergiu de maneira institucionalizada por ocasião da fundação de lugares como o [[Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil]] (CPDOC){{Sfn|Rossato|Cunha|2017|p=163}} e pelos trabalhos relacionados à [[História oral|História Oral]] desenvolvidos por pesquisadoras como [[Marieta de Moraes Ferreira]] e Verena Alberti.{{Sfn|Alberti|1998|p=01-02}} Outro marco fundamental nesse processo de institucionalização do campo foi a criação, em 1994, do Laboratório de Estudos do Tempo Presente do [[Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro|Instituto de Filosofia e Ciências Sociais]] da [[Universidade Federal do Rio de Janeiro]] (UFRJ), sendo o primeiro grupo [[universitário]] formal de história do tempo presente no Brasil. Após o surgimento deste primeiro laboratório, outras instituições passaram a enfocar no campo, que em outros países já havia se consolidado nos meios acadêmicos desde a década de 1970, e, em 2007, a [[Universidade do Estado de Santa Catarina]] (UDESC) implementou o primeiro Programa de Pós-graduação em História no Brasil com área de concentração em história do tempo presente.{{Sfn|Gonçalves|2016|p=08}}
 
Durante as últimas décadas é visível a consolidação de alguns temas na historiografia brasileira sobre história do tempo presente. Influenciada pelos autores franceses,{{Sfn|Medeiros|2007|p=07}} a história do tempo presente no Brasil vem mantendo atenção na análise dos principais eventos que marcaram as últimas décadas do {{séc|XX}} e o início do {{séc|XXI}}.{{Sfn|Delacroix|2018|p=44}} Entre os principais temas estão o estudo sobre a [[Ditadura militar no Brasil (1964–1985)|ditadura civil-militar]],<ref group=nota> A decisão por utilizar o termo ditadura civil-militar ao invés de ditadura-militar foi tomada com base nas pesquisas do historiador [[Daniel Aarão Reis]] (2010), que destaca a necessidade de compreender as relações entre sociedade e ditadura. Diversas entidades, como a Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB), a Academia Brasileira de Letras (ABL) e o Conselho Federal de Cultura (CFC), apoiaram, mesmo que apenas inicialmente, o golpe e a implementação do regime militar no país</ref> a [[Comissão Nacional da Verdade]], a [[lei de acesso à informação]]{{Sfn|Ferreira|2012|p=102}} e as possibilidades abertas pela [[história oral|História Oral]] para as análises no campo.{{Sfn|Araújo|Silva|2012}} Se observa também uma ênfase em estudos sobre a história das culturas políticas no contexto da [[redemocratização]] e o campo do [[Património cultural|patrimônio cultural]] no [[Brasil]].{{Sfn|Rossato|Cunha|2017|p=165-166}}
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A maioria dos estudos em história do tempo presente debatem temas que possuem reverberações no [[presente]]. Os sujeitos ainda vivos que atravessaram determinados contextos, ou que estão indiretamente envolvidos neles, representaria, para alguns historiadores, um desafio direto ao campo.{{Sfn|Rousso|2016|pp=13-14}} A presença de sujeitos ainda vivos tem um peso nos processos de construção da própria história, podendo significar desafios e muitas vezes situações de enfrentamento entre historiadores e sociedade. Os historiadores poderiam ser vistos como fazedores de defeitos nas recordações alheias.{{Sfn|Albuquerque Junior|2012}} Assim, alguns historiadores são questionados sobre o seu conhecimento de determinado período ser melhor do que o daqueles que viveram na época estudada. {{Sfn|Rousso|2016|pp=13-14}} Essa questão está relacionada com os limites do que pode ser considerado [[História do tempo presente#Memória|memória]] ou [[história]], onde a experiência passa a ser um fator decisivo para grupos que construíram uma determinada visão e vivência sobre um contexto, muitas vezes traumático, que teriam experienciado.{{Sfn|Ferreira|2012|pp=110-111}}
 
As relações dos historiadores com sujeitos ainda vivos não seria apenas de embate e enfrentamento. Para a historiadora [[Marieta de Moraes Ferreira]], a proximidade possibilitaria ao historiador trabalhar com a questão do testemunho e ter acesso a determinadas narrativas, através da [[história oral]], que romperiam, em muitos casos, com os discursos oficiais institucionalizados.{{Sfn|Portelli|2006}} Em outros casos, apenas as narrativas e a experiência destes sujeitos poderiam ser fontes disponíveis para o estudo de determinados contextos. Por isso, a própria ideia de demanda social é fundamental na compreensão do desenvolvimento de tais relações. Com os traumas recentes do {{séc|XX}} e {{séc|XXI}}, por exemplo, novos movimentos ligados a desejos de reparação e por justiça foram sentidos e materializados em instituições como as [[Comissão Nacional da Verdade|Comissões Nacionais da Verdade]], destacadas por [[Carlos Fico]].{{Sfn|Ferreira|2012|pp=102-103}} Movimentos como esse colocam os historiadores no centro da demanda social, uma vez que foram muitas vezes convocados, e criticados, por determinados grupos por se envolverem em situações que dizem respeito a traumas e processos ainda não concluídos na sociedade.{{Sfn|Ferreira|2012}} Observa-se aí uma outra relação possível, a de historiadores e sociedade trabalhando em conjunto, em um processo de apoio ou de autoridade compartilhada, marco da [[história oral]] e da [[história pública]].{{Sfn|Santhiago|2016}}
 
== Algumas abordagens ==