Livro de Daniel: diferenças entre revisões

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As outras supostas dificuldades históricas que confundiam aos comentaristas conservadores de Daniel, foram resolvidas pelo aumento do conhecimento histórico que nos proporcionou a arqueologia. Mencionaremos a seguir alguns destes problemas mais importantes que já foram resolvidos:
 
* '''A suposta discrepância cronológica entre Daniel 1:1 e Jeremias 25:1'''. Jeremias, que segundo o critério geral dos eruditos é uma fonte histórica digna de confiança, sincroniza o 4.º ano de Joaquim de Judá com o primeiro ano de Nabucodonosor da Babilônia. No entanto, Daniel fala que a primeira conquista de Jerusalém efetuada por Nabucodonosor ocorreu no terceiro ano de Joaquim, com o que indubitavelmente afirma que o primeiro ano de Nabucodonosor coincide com o terceiro ano de Joaquim. Antes da descoberta de registos dessa época que revelam os variados sistemas de computar nos anos de reinado dos antigos monarcas, os comentaristas tinham dificuldade para explicar esta aparente discrepância. Tratavam de resolver o problema supondo uma corregência de Nabucodonosor com seu pai [[Nabopolasar]] ou pressupondo que Jeremias e Daniel localizavam os acontecimentos segundo diferentes sistemas de datas: Jeremias segundo o sistema judeu e Daniel segundo o babilônico. Ambas explicações já não são válidas. Resolveu-se a dificuldade ao descobrir que os reis babilônios, como os de Judá desse tempo, contavam os anos de seus reinados segundo o método do "ano de ascensão". O ano em que um rei babilônio ascendia ao trono não se contava oficialmente como seu primeiro ano, mas como o ano de ascensão ao trono. Seu primeiro ano, é o primeiro ano completo no calendário, não começava até o próximo dia de ano novo, quando, numa cerimônia religiosa, tomava as mãos do deus babilônico Bel. Também sabemos por [[Josefo]] e pela [[Crônica Babilônica]] (documento que narra os acontecimentos dos onze primeiros anos de Nabucodonosor, descoberto em 1956) que Nabucodonosor estava empenhado numa campanha militar na [[Palestina (região)|Palestina]] contra [[Antigo Egito|Egito]] quando seu pai morreu e ele tomou o trono. Portanto, Daniel e Jeremias concordam completamente. Jeremias sincronizou o primeiro ano do reinado de Nabucodonosor com o quarto ano de Joaquim, enquanto Daniel foi tomado cativo no ano que subiu ao trono Nabucodonosor, ano que ele identifica como o terceiro de Joaquim.
* '''Nabucodonosor como grande construtor de Babilônia'''. De acordo com os historiadores gregos, Nabucodonosor desempenhou um papel insignificante na história antiga. Nunca se referem a ele como um grande construtor ou como o criador de uma nova e maior Babilônia. Todo leitor das histórias clássicas gregas reconhecerá que esta honra é dada à rainha [[Semíramis]]. No entanto, os registos cuneiformes dessa época, descobertos por arqueólogos durante os últimos cem anos, mudaram inteiramente o quadro apresentado pelos autores clássicos e confirmaram o relato do Livro de Daniel que atribui a Nabucodonosor a construção - em verdade reconstrução - da "Grande Babilônia" (Daniel 4:30). Descobriu-se agora que Semíramis era rainha mãe em Assíria, regente de seu filho menor de idade [[Adadenirari III]] ({{AC|810-782|x}}), e não reinou em Babilônia como afirmavam as fontes clássicas. As inscrições mostraram que ela não teve nada que ver com a construção de Babilônia. Por outro lado, numerosas inscrições de Nabucodonosor que ficaram nas construções provam que ele foi o criador de uma nova Babilônia, pois reedificou os palácios, templos e a torre-templo da cidade, e adicionou novos edifícios e fortificações. Já que essa informação se tinha perdido completamente antes da época helenística, nenhum autor poderia tê-la, salvo um neo-babilônico. A presença de tal informação no Livro de Daniel é motivo de perplexidade para os eruditos críticos que não creem que o Livro de Daniel foi escrito no século VI, senão no II. Um exemplo típico de seu dilema é a seguinte afirmação de R. H. Pfeiffer, da Universidade de Harvard: ''"Provavelmente nunca saberemos como soube nosso autor que a nova Babilônia era criação de Nabucodonosor… como o provaram as escavações"'' - (Introduction to the Old Testament - New York, 1941).
* '''Belsasar, rei de Babilônia'''. O assombroso relato da descoberta feita por orientalistas modernos a respeito da identidade de Belsasar. O fato de que o nome deste rei não se tivesse encontrado em fontes antigas alheias à Bíblia, enquanto Nabonido sempre aparecia como o último rei de Babilônia antes da conquista dos persas, usava-se como um dos mais poderosos argumentos na contramão da historicidade do Livro de Daniel. Mas as descobertas efetuadas desde meados do século XIX refutaram a todos os críticos de Daniel neste respeito e têm vindicado de maneira impressionante o caráter fidedigno do relato histórico do profeta com respeito a Belsasar.
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== Estrutura literária ==
[[Imagem:Daniel lions Egypte 6th century British Museum.jpg|thumb|esquerda|300px|Daniel na cova dos leões. Artista desconhecido, [[Egito romano|Egito]], século {{séc|VI.}}]]
 
O livro se divide em duas partes fáceis de distinguir. A primeira (capítulos 1 a 6) é principalmente histórica. A segunda (capítulos 7 a 12) tem um cunho profético ou apocalíptico. Apesar disto o livro constitui uma unidade literária. Para defender tal unidade podem apresentar-se os seguintes argumentos: