Paideia: diferenças entre revisões

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==A ''paideia'' na Grécia==
===Significado===
[[Fileimagem:Stele lyre player Glyptothek Munich.jpg|thumb|Récita de poesia por um jovem acompanhado de um músico. Durante muito tempo uma das formas de transmissão da cultura foi a récita poética. Relevo funerário, ca. 420 a.C. [[Gliptoteca de Munique]].]]
O conceito formou-se difusamente no [[período Arcaico]] da [[Grécia Antiga]], e cristalizou-se mais especificamente em [[Atenas]] no [[Grécia Clássica|período Clássico]]. O seu desenvolvimento tem gerado considerável debate entre os historiadores, havendo muitas opiniões divergentes, e mesmo na Grécia, ele era entendido de várias formas, que mudaram ao longo do tempo. No entanto, havia um padrão genérico nitidamente reconhecido. Inicialmente, a palavra ''paideia'' (de ''paidos'', criança) significava simplesmente "criação de meninos", e seu escopo era limitado a uma instrução em [[Ginástica]] e Música — "música" no sentido das disciplinas presididas pelas [[Musas]], que incluíam, entre outros, elementos de história, eloquência, dança, religião e música propriamente dita. Tinha entre seus objetivos mais centrais a transmissão dos costumes coletivos, e de fato era a expressão e reflexo desses mesmos costumes que passavam de geração em geração.<ref name="Robb"/>
 
De acordo com Kevin Robb, os gregos reconheciam que ''paideia'' era em suma a aceitação dos modelos dos ancestrais, na forma como um jovem, à medida que cresce, aceita e imita o modo de vida de seus pais e seus "ídolos" — em geral os melhores atletas e guerreiros —, um processo de transmissão de cultura que o autor pondera ser tão velho quanto a espécie humana. Uma vez que no período Arcaico a transmissão da cultura estava fundamentada essencialmente na oralidade, o resumo da civilização grega Arcaica compilado por [[Homero]] em suas obras poéticas teve um importante papel no sentido de organizar esse corpo de conhecimento e tradições coletivas, e a ampla autoridade que Homero ganhou entre os gregos garantiu sua perpetuação de uma forma relativamente estável por muito tempo. Não por acaso a educação envolvia a memorização e récita da poesia homérica, concebida também como instrumento didático e [[moral]]izante, e não apenas um deleite para os sentidos ou um simples entretenimento.<ref name="Robb">Robb, Kevin. ''Literacy and Paideia in Ancient Greece''. Oxford University Press, 1994, pp. 33; 165-180</ref>
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===Evolução do conceito===
[[Fileimagem:Doryphoros MAN Napoli Inv6011-2.jpg|thumb|O ideal da educação completa encontrou expressão visual nas artes da época, com a construção de um modelo estético para o corpo humano de vasta influência posterior, que conjugava naturalismo e idealismo e simbolizava as virtudes do cidadão perfeito, alguém que cultivava harmoniosamente a mente, a alma e o corpo, como é exemplo o ''[[Doríforo]]'' de [[Policleto]].<ref>Stewart, Andrew. "Notes on the Reception of the Polykleitan Style: Diomedes to Alexander". In Moon, Warren G. (ed). ''Polykleitos, the Doryphoros, and Tradition.'' University of Wisconsin Press, 1995, pp. 247-253</ref><ref>Osborne, R. "Men Without Clothes: Heroic Nakedness and Greek Art". In: ''Gender & History'', 1997; 9 (3):504-528.</ref> ]]
 
O sistema de educação, antes do século V a.C., que veio a ser conhecido como "Sistema Antigo", não era bem estruturado: o ensino podia ser ministrado conforme a aptidão e disponibilidade dos professores e alunos, e era muito dependente da iniciativa individual. Refere Platão que o ensino não tinha uma duração determinada, mas uma vez deixada a adolescência esperava-se que a pessoa passasse a completar sua educação por conta própria na vida em sociedade.<ref name="Lynch">Lynch, John Patrick. ''Aristotle's School; a Study of a Greek Educational Institution''. University of California Press, 1972, pp. 33-34</ref>
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==A ''paideia'' no cristianismo==
[[Ficheiro:Good.Shepherd.Vatican.Museum.jpg|thumb|Estatueta do [[Bom Pastor]], uma imagem recorrente nos primeiros tempos do cristianismo, alusiva ao papel de Jesus como o mestre perfeito. Século III, [[Museu Pio-Cristão]].]]
 
A fama da cultura grega fez com que os romanos adotassem muitos dos seus princípios e se inspirassem no sistema da ''paideia'' para organizar seu próprio sistema educativo, difundindo-o por toda a volta do [[Mediterrâneo]], inclusive na [[Palestina (região)|Palestina]], onde há evidências do estabelecimento de escolas gregas desde o século III a.C. Porém, não foi sem resistência que os palestinos aceitaram os costumes estrangeiros, principalmente por parte dos sacerdotes judeus, que não aprovavam a competição que essas escolas faziam com as escolas das [[sinagoga]]s e para quem a nudez praticada nos ginásios constituía grave ofensa às leis de sua religião. No entanto, a frequentação das escolas gregas acarretava distinção social, numa fase em que esta região era dominada pelos romanos.<ref name="Torres">Torres, Milton Luiz. "O cuidado da criança nos primórdios da educação grega: semelhanças e contrastes com a educação hebreia". In: ''Protestantismo em Revista'', 2011; (24) </ref>