Batalha da Praça da Sé: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Linha 12:
| métodos = Contramanifestação<br>Conflito armado
}}
'''Batalha da Praça da Sé''' é o nome pelo qual ficou conhecido um conflito entre [[antifascismo|antifascistas]] e [[Ação Integralista Brasileira|integralistas]] no centro da cidade de [[São Paulo (cidade)|São Paulo]] no dia 7 de outubro de 1934. A Ação Integralista Brasileira (AIB) havia marcado para aquele dia um comício em comemoração aos dois anos do Manifesto Integralista, e, tão logo souberam dessa intenção, os antifascistas da capital paulista se organizaram para impedir a realização do evento. Ainda que sem uma direção centralizada, todas as forças anarquistas, trotskistas e da [[esquerda política|esquerda]] paulista participaram do conflito, que resultou em sete mortos — entre eles um estudante antifascista, três integralistas, dois agentes policiais e um guarda civil — e cerca de trinta feridos gravemente.
 
Para as esquerdas, esse evento tornou-se um símbolo da luta antifascista e contra os elementos reacionários da política nacional.{{Sfn|Castro|2002|p=376}} Combinada comA identificaçãoBatalha doda corpoPraça doda jovem militantefoi [[Tobiasum Warchavski]],episódio de uma campanha política contra a Batalhaacensão da Praçaversão datupiniquim do detonoufascismo umae campanha políticatambém contra a política repressora do governo de [[Getúlio Vargas]] que se combinou com o sentimento antifascista, impulsionando um movimento mais geral contra a "reação" e apontando para a formação de uma frente ampla progressista, o que seria concretizado com a formação da [[Aliança Nacional Libertadora]] (ANL).
 
==Contexto==
A década de 1930 foi marcada por uma radicalização política, em decorrência da crise do [[liberalismo]] após a [[quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque]], em 1929.{{Sfn|Castro|2002|p=354}} A ascensão do fascismo e a radicalização dos movimentos comunistas tiveram reverberações no [[Brasil]], em meio ao contexto marcado pelo funcionamento da Assembleia Nacional Constituinte entre 1933 e 1934.{{Sfn|Castro|2002|p=356}} A crise ideológica e política do liberalismo transformou-se no Brasil numa questão política não apenas para as elites econômicas e políticas, mas também para as classes médias e trabalhadores, que buscavam alternativas ao liberalismo pela direita, com o fascismo, e pela esquerda, com o socialismo e o comunismo. Na prática, esse debate sofreu a concorrência do confronto entre o fascismo e o antifascismo.{{Sfn|Castro|2002|p=357}}
 
Embora fascismo e antifascismo se confrontassem no país já desde a década de 1920, foi com a criação da [[Ação Integralista Brasileira]] (AIB) em 1932 que a disputa passou a integrar os temas políticos nacionais.{{Sfn|Castro|2002|p=357}} Da mesma forma, asalgumas organizações de esquerda se preocupavam em criar organizaçõesgrupos para combater o fascismo, como o Comitê Antifascista, articulado pelos anarquistas em torno da Federação Operária de São Paulo (FOSP), o [[Comitê Mundial Contra a Guerra e o Fascismo|Comitê Antiguerreiro]], liderado pelo [[Partido Comunista - Seção Brasileira da Internacional Comunista|Partido Comunista do Brasil]] (PCB), o Comitê Antifascista, articulado pelos anarquistas em torno da Federação Operária de São Paulo (FOSP) e a [[Frente Única Antifascista]] (FUA), organizada pelos trotskistas da [[Liga Comunista]] (LC) e pelos militantes do [[Partido Socialista Brasileiro]] (PSB) paulista.{{Sfn|Castro|2002|p=359-361}} Assim, a AIB e asseus esquerdasoponentes disputavam a atenção das massas urbanas e organizavam eventos que procuravam superar em magnitude os dos concorrentes, logo partindo para o conflito aberto.{{Sfn|Castro|2002|p=373-374}}
 
==Antecedentes==
[[Ficheiro:Conferência anti-integralista (novembro de 1933).png|miniaturadaimagem|esquerda|Conferência anti-integralista realizada em 14 de novembro de 1933, no salão da União das Classes Laboriosas.]]
Já em 1932 o movimento anarquista já organizava reuniões de caráter antifascista em memória de Giacomo Matteotti ou de Errico Malatesta, alertando sobre o perigo internacional. Conflitos entre antifascistas e integralistas já vinham ocorrendo desde 1933. Um dos primeiros registros se deu durante a realização de uma Conferência Anti-integralista, organizada pelopelos anarquistas da imprensa libertária e do Centro de Cultura Social (CCS) em 14 de novembro e que contou com a participação de representantes de diversas correntes políticas da esquerda, como socialista Carmelo Crispino, o anarquista Hermínio Marcos e um representante do jornal ''[[O Homem Livre]]''. O evento, realizado no salão da União das Classes Laboriosas, reuniu cerca de mil pessoas.{{Sfn|Rodrigues|2017|p=94}} Em meio à conferência aparecerem alguns integralistas a fim de tumultuá-la, no entanto, ao perceberem a quantidade de elementos antifascistas que ali se encontravam, retiraram-se e começaram a procurar reforços nas imediações, sendo repelidos por um grupo de trabalhadores.{{Sfn|Rodrigues|2017|p=95}}
 
Ao longo do ano, começaram a surgir relatos de agressão por parte dos integralistas contra militantes de esquerdaopositores em diversas partes do país, de modo que a FUA decidiu organizar uma contramanifestação para o dia 15 de dezembro de 1933, data em que a AIB havia marcado um comício integralista.{{Sfn|Abramo|2014|p=42}} A divulgação, por parte da FUA, de que haveria uma contramanifestação, fez com que a AIB cancelasse a marcha.{{Sfn|Abramo|2014|p=44}} O comício da FUA, no entanto, ocorreu, na sede da ''Lega Lombarda'' e com a presença de cerca de dois mil participantes, incluindo militantes do PCB e do Comitê Antiguerreiro. Neste evento, a FUA demonstrou intenções de articular-se com outras organizações antifascistas de outros estados para a formação de Frente Única Antifascista Nacional, além de ter convocado o movimento operário paulista para a formação de uma frente sindical.{{Sfn|Castro|2002|p=363}}
 
Em 1934, o clima político radicalizou-se no país. No dia 20 de abril, treze dias após o início da votação da Constituição, cerca de 4.000 integralistas desfilaram pelas ruas do [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]].{{Sfn|Castro|2002|p=371-372}} Cerca de um mês depois, no dia 24 de junho, ocorreu um desfile integralista na capital paulista, contando com cerca de 3.000 pessoas. Uma semana depois, no dia 2 de julho, feriado na [[Bahia]], cerca de 400 integralistas fizeram um desfile pelas ruas de [[Salvador (Bahia)|Salvador]].{{Sfn|Castro|2002|p=372}} Por outro lado, no dia 9 de julho, em [[Niterói]], encerrou-se a I Conferência Nacional do PCB que institucionalizou um novo grupo dirigente e marcou uma radicalização nas políticas do partido.{{Sfn|Castro|2002|p=372}} O PCB organizou ainda, no dia 23 de agosto, o primeiro evento político de grandes proporções patrocinado pelo Comitê Antiguerreiro, o I Congresso Nacional Contra a Guerra Imperialista, a Reação e o Fascismo. O evento transcorreu no Teatro João Caetano, após concentração e comício na praça Cristiano Ottoni e passeata de cerca de 3.000 pessoas pela rua Marechal Floriano Peixoto e Avenida Passos. O evento terminou em conflito com as forças policiais, deixando vítimas fatais.{{Sfn|Castro|2002|p=372-373}}
Linha 33:
==Desenrolar do conflito==
===Convocação e preparativos===
Em 25 de janeiro de 1934 aconteceu um grande comício anti-integralista, organizada pelo comite antifascista e diversas organizações, mas que foi reprimido violentamente pela polícia. “E assim, a tiros, a patas de cavalos foi disperso o comício anti-fascista e ferido o direito de liberdade popular” (A Plebe, 27/01/1934).
No dia 7 de outubro de 1934, os integralistas pretendiam realizar um comício na [[Praça da Sé (São Paulo)|Praça da Sé]], no centro de São Paulo, para comemorar os dois anos do Manifesto Integralista.{{Sfn|Castro|2002|p=375}} Tão logo souberam dessa intenção, as forças antifascistas da capital paulista se organizaram para impedir a realização do comício. Existem algumas divergências entre as fontes que relatam o ocorrido; [[Fúlvio Abramo]] relaciona a contramanifestação diretamente com a atuação da FUA; Eduardo Maffei tenta diluir o papel da FUA e atribui a convocação dessa contramanifestação ao trabalho do PCB; [[Mário Pedrosa]], por sua vez, afirmou que “nenhuma organização ou partido pode arrogar-se o mérito de ter conseguido sozinho aquela mobilização formidável de trabalhadores”.{{Sfn|Castro|2002|p=375-376}}
 
No dia 7 de outubro de 1934, os integralistas pretendiam realizar um comício na [[Praça da Sé (São Paulo)|Praça da Sé]], no centro de São Paulo, para comemorar os dois anos do Manifesto Integralista.{{Sfn|Castro|2002|p=375}} Tão logo souberam dessa intenção, as forças antifascistas da capital paulista se organizaram para impedir a realização do comício. Existem algumas divergências entre as fontes que relatam o ocorrido; [[Fúlvioos Abramo]]anarquistas relacionareivindicam a contramanifestação diretamente com a atuaçãoparticipação da FUA;Federação EduardoOperária Maffeide tentaSão diluir o papel da FUA e atribui a convocação dessa contramanifestação ao trabalhoPaulo, do PCB;Centro [[Máriode Pedrosa]],Cultura porSocial suae vez,da afirmouimprensa quelibertária. “nenhumaNas organização ou partido pode arrogar-se o méritopalavras de terJaime conseguido sozinho aquela mobilização formidável de trabalhadores”.{{Sfn|Castro|2002|p=375-376}}Cubero:
Todas as organizações de esquerda de São Paulo foram convocadas para participar da contramanifestação, e cada entidade emitiu seu comunicado aos associados, publicou manifestos ao povo e tratou de realizar reuniões preparatórias. A primeira assembleia para o exame da situação realizou-se no Sindicato dos Empregados do Comércio, com a presença de 40 militantes.{{Sfn|Abramo|2014|p=64}} Todos aprovaram a proposta de realizar a contramanifestação; estavam de acordo em que ela deveria realizar-se no mesmo local e hora da anunciada manifestação integralista, com a finalidade de dissolver o comício da AIB; e, na medida do possível, cada organização trataria de fornecer armamento para os contramanifestantes levarem a cabo seus objetivos.{{Sfn|Abramo|2014|p=64-65}} A Livraria Elo, na Rua Senador Feijó, a sede da Legião Cívica 5 de Julho, na Rua Anita Garibaldi, a sede da União dos Trabalhadores Gráficos (UTG), na Venceslau Brás e os sindicatos no Prédio Santa Helena foram utilizados como pontos de apoio logístico, nos quais as armas eram recebidas por militantes antifascistas. Até o dia 5, todo o armamento recebido já havia sido retirado desses lugares.{{Sfn|Maffei|1984|p=82}} Foram estabelecidas duas comissões; uma civil, para organizar a mobilização popular; e outra militar, que traçaria uma estratégia para o conflito, da qual [[João Cabanas]], Roberto Sisson e Euclydes Bopp Krebs tiveram um papel ativo.{{Sfn|Maffei|1984|p=81}} Cabanas traçou um plano estratégico que dividia as forças em três posições principais. A primeira ia da fachada do prédio Santa Helena até a Rua Wenceslau Braz; a segunda se colocaria no fundo da praça, na seção que correspondia à calçada e aos calçadões entre a saída da Rua Direita e a Rua Wenceslau Braz, e a terceira, em frente ao prédio da Equitativa, entre as Ruas Senador Feijó e Barão de Paranapiacaba. Politicamente, a primeira posição seria ocupada pelos membros do PSB, a segunda pelos comunistas e a terceira pelos trotskistas e anarquistas.{{Sfn|Abramo|2014|p=66}}{{Nota de rodapé|De modo geral, os antifascistas não seguiram rigorosamente o planejamento de João Cabanas. Fúlvio Abramo afirmou que o PCB teria preferido agir por conta própria,{{Sfn|Abramo|2014|p=65}} e o historiador Ricardo Figueiredo de Castro notou que, apesar das forças antifascistas terem participado em conjunto da contramanifestação, agiram sem uma direção totalmente centralizada.{{Sfn|Castro|2002|p=376}}}}
 
"Havia uma revista do Partido Comunista da época, “Divulgação Marxista”, que era suspeita quando dava dados. O Partido Comunista não chegava na altura a ter 1000 filiados no partido, contudo chegaram quase a dizer que tinham sido eles a enfrentar os integralistas. Irônico não é? Em contrapartida a Federação Operária de São Paulo (organização eminentemente anarcossindicalista) tinha mais de 80 sindicatos que não pertenciam ao Estado".
Outras reuniões foram realizadas na sede da FOSP.{{Sfn|Maffei|1984|p=77}} Segundo Maffei, compareceram nas reuniões preparatórias, entre outros militantes, [[Joaquim Câmara Ferreira]], [[Hermínio Sacchetta]], [[Arnaldo Pedroso d’Horta]], [[Noé Gertel]], [[Miguel Costa Jr.]], Igyno Ortega, Fernando Cordeiro, Leonor Petrarca, Eduardo Maffei e [[Eneida de Moraes]], do PCB; Marcelino Serrano, Carmelo Crispino, João Cabanas, do PSB; os anarquistas [[Edgard Leuenroth]], [[Pedro Catalo]], Rodolfo Felipe, [[Oreste Ristori]] e Gusman Soler; Mário Pedrosa e Fúlvio Abramo, da LCI; além de sindicalistas ligados à Coligação dos Sindicatos Proletários, que incluíam o Sindicato dos Empregados do Comércio e a União dos Alfaiates.{{Sfn|Maffei|1984|p=76-77}} Durante as reuniões, foram comuns discussões entre comunistas e trotskistas.{{Sfn|Abramo|2014|p=66}}{{Sfn|Maffei|1984|p=79}} A todos os militantes foi aconselhado cuidar da segurança própria nos dias mais próximos ao conflito, para evitar possíveis prisões ou provocações que pudessem impedir sua participação.{{Sfn|Abramo|2014|p=68}}
 
[[Fúlvio Abramo]] relaciona a contramanifestação diretamente com a atuação da FUA; Eduardo Maffei tenta diluir o papel da FUA e atribui a convocação dessa contramanifestação ao trabalho do PCB; [[Mário Pedrosa]], por sua vez, afirmou que “nenhuma organização ou partido pode arrogar-se o mérito de ter conseguido sozinho aquela mobilização formidável de trabalhadores”.{{Sfn|Castro|2002|p=375-376}}
 
Todas as organizações de esquerdaantifascistas de São Paulo foram convocadas para participar da contramanifestação, e cada entidade emitiu seu comunicado aos associados, publicou manifestos ao povo e tratou de realizar reuniões preparatórias. A primeira assembleia para o exame da situação realizou-se no Sindicato dos Empregados do Comércio, com a presença de 40 militantes.{{Sfn|Abramo|2014|p=64}} Todos aprovaram a proposta de realizar a contramanifestação; estavam de acordo em que ela deveria realizar-se no mesmo local e hora da anunciada manifestação integralista, com a finalidade de dissolver o comício da AIB; e, na medida do possível, cada organização trataria de fornecer armamento para os contramanifestantes levarem a cabo seus objetivos.{{Sfn|Abramo|2014|p=64-65}} A Livraria Elo, na Rua Senador Feijó, a sede da Legião Cívica 5 de Julho, na Rua Anita Garibaldi, a sede da União dos Trabalhadores Gráficos (UTG), na Venceslau Brás e os sindicatos no Prédio Santa Helena foram utilizados como pontos de apoio logístico, nos quais as armas eram recebidas por militantes antifascistas. Até o dia 5, todo o armamento recebido já havia sido retirado desses lugares.{{Sfn|Maffei|1984|p=82}} ForamSegundo alguns autores, foram estabelecidas duas comissões; uma civil, para organizar a mobilização popular; e outra militar, que traçaria uma estratégia para o conflito, da qual [[João Cabanas]], Roberto Sisson e Euclydes Bopp Krebs tiveram um papel ativo.{{Sfn|Maffei|1984|p=81}} Cabanas traçou um plano estratégico que dividia as forças em três posições principais. A primeira ia da fachada do prédio Santa Helena até a Rua Wenceslau Braz; a segunda se colocaria no fundo da praça, na seção que correspondia à calçada e aos calçadões entre a saída da Rua Direita e a Rua Wenceslau Braz, e a terceira, em frente ao prédio da Equitativa, entre as Ruas Senador Feijó e Barão de Paranapiacaba. Politicamente, a primeira posição seria ocupada pelos membros do PSB, a segunda pelos comunistas e a terceira pelos trotskistas e anarquistas.{{Sfn|Abramo|2014|p=66}}{{Nota de rodapé|De modo geral, os antifascistas não seguiram rigorosamente o planejamento de João Cabanas. Fúlvio Abramo afirmou que o PCB teria preferido agir por conta própria,{{Sfn|Abramo|2014|p=65}} e o historiador Ricardo Figueiredo de Castro notou que, apesar das forças antifascistas terem participado em conjunto da contramanifestação, agiram sem uma direção totalmente centralizada.{{Sfn|Castro|2002|p=376}}}}
 
Outras reuniõesReuniões foram realizadas na sede da FOSP e nos sindicatos.{{Sfn|Maffei|1984|p=77}} SegundoNome como os anarquistas [[Edgard Leuenroth]], [[Pedro Catalo|Pedro Catallo]], Rodolfo Felipe, [[Oreste Ristori]] e Gusman Soler; Mário Pedrosa e Fúlvio Abramo, segundo Maffei, compareceram nas reuniões preparatórias, entre outros militantes, também participaram como [[Joaquim Câmara Ferreira]], [[Hermínio Sacchetta]], [[Arnaldo Pedroso d’Horta]], [[Noé Gertel]], [[Miguel Costa Jr.]], Igyno Ortega, Fernando Cordeiro, Leonor Petrarca, Eduardo Maffei e [[Eneida de Moraes]], do PCB; Marcelino Serrano, Carmelo Crispino, João Cabanas, do PSB; os anarquistas [[Edgard Leuenroth]], [[Pedro Catalo]], Rodolfo Felipe, [[Oreste Ristori]] e Gusman Soler; Mário Pedrosa e Fúlvio Abramo, da LCI; além de sindicalistas ligados à Coligação dos Sindicatos Proletários, que incluíam o Sindicato dos Empregados do Comércio e a União dos Alfaiates.{{Sfn|Maffei|1984|p=76-77}} Durante as reuniões, foram comuns discussões entre comunistas e trotskistas.{{Sfn|Abramo|2014|p=66}}{{Sfn|Maffei|1984|p=79}} A todos os militantes foi aconselhado cuidar da segurança própria nos dias mais próximos ao conflito, para evitar possíveis prisões ou provocações que pudessem impedir sua participação.{{Sfn|Abramo|2014|p=68}}
 
===Confronto===
Linha 51 ⟶ 57:
<blockquote>Começou então o tiroteio. As balas sibilavam em todas as direções, vindas de todos os pontos da praça, das esquinas das ruas, das portas dos prédios, onde se entrincheiravam grupos de pessoas armadas que atiravam contra os “camisas verdes”. Ouviram-se estrondos semelhantes ao das granadas de mão e parece que, de fato, foram empregadas no combate, pois foram encontrados estilhaços na Praça da Sé. {{Sfn|Samis|2014|p=33-34}}</blockquote>
[[Ficheiro:Integralista ferido na Praça da Sé, 1934.jpg|miniaturadaimagem|Integralista ferido durante o conflito, carregado por companheiros.]]
Logo os integralistas responderam ao fogo dos antifascistas. Fúlvio Abramo aproveitou o momento para iniciar a contramanifestação, subindo no pedestal da coluna do edifício A Equitativa e pronunciou breves palavras, no que uma saraivada de balas foi dirigida contra ele e os antifascistas. Nesse momento, Mário Pedrosa acabou ferido e [[Décio Pinto de Oliveira]], estudante de direito e militante da Juventude Comunista, foi morto com um tiro na nucacabeça enquanto discursava.{{Sfn|Abramo|2014|p=84}} Os trechos entre a Benjamin Constant e Barão de Paranapiacaba foram onde o conflito se demonstrou mais intenso. Os anarquistas se bateram com violência contra os integralistas e a Força Pública durante o confronto. Gusman Soller teria afirmado nas reuniões preparativas que a melhor forma de organização contra os integralistas seria a dinamite, e Edgard Leuenroth expressou que “só o impedimento da parada fascista interessava”.{{Sfn|Samis|2014|p=33}} Alguns soldados da Força Pública se uniram aos antifascistas, influenciados por João Cabanas, que tinha entre eles grande prestígio.{{Sfn|Samis|2014|p=33}} Outros aproveitaram o momento para acertar as contas com a recém-criada Polícia Federal, cujos poderes centralizadores retiravam das instâncias estaduais a relativa independência de que gozavam, o que irritava profundamente os paulistas.{{Sfn|Abramo|2014|p=86-87}}
 
Entre as 16h e 17h, ainda persistiam alguns focos de conflito entre integralistas e antifascistas que ainda não haviam abandonado a praça. Os integralistas logo se retiraram, seguindo pela Rua Senador Feijó e atingindo o Largo São Francisco. O grupo que foi ao Largo São Francisco exigia a continuação do comício, mas foram impedidos pela polícia.{{Sfn|Abramo|2014|p=89}} Ao final do conflito, os integralistas debandaram e abandonaram suas camisas verdes pelas ruas do centro da cidade, para evitar mais agressões.{{Sfn|Samis|2004|p=177}} ''A Plebe'', de maneira sarcástica, descreveu a debandada da seguinte forma:
Linha 59 ⟶ 65:
Estima-se que o confronto tenha terminado com cerca de trinta feridos e sete mortos; entre eles, os agentes da polícia Hernani de Oliveira e José M. Rodrigues Bonfim; os integralistas Jaime Guimarães, Caetano Spinelli e Teciano Bessornia; o guarda civil Geraldo Cobra e o estudante antifascista Décio Pinto de Oliveira.<ref name="leuenroth"/> Os feridos foram transportados para os hospitais da Santa Casa.{{Sfn|Abramo|2014|p=90}}
 
Após o conflito, os integralistas afirmaram que os antifascistas, escondidos nas sacadas do prédios Santa Helena, observaram atentamente a manifestação integralista e abriram fogo assim que houve um grande número de militantes concentrados, atirando inclusive contra mulheres e crianças. FúlvioEdgard AbramoLeuenroth e EdgardFúlvio LeuenrothAbramo desmentiram essa versão, afirmando que os prédios que circundavam a Praça da Sé haviam sido interditados pela polícia.{{Sfn|Abramo|2014|p=74-75}}<ref name="leuenroth"/> No entanto, João Cabanas havia proposto, nas reuniões preparatórias, a disposição de atiradores no interior dos prédios que rodeavam a praça, proposta que foi rejeitada pelos outros militantes.{{Sfn|Abramo|2014|p=66}} Mais tarde, [[Goffredo da Silva Telles Júnior]], que em sua juventude participou da AIB, minimizou o caráter do conflito, numa entrevista concedida em 1990 a [[Eugênio Bucci]], na revista ''Teoria e Debate'':
 
<blockquote>Não houve enfrentamento nenhum. O que houve foi uma repressão policial a uma manifestação de operários e estudantes. Foi uma tristeza. Operários morreram. Uma bala da polícia atingiu Mário Pedrosa ... Assisti a tudo. Eu era um estudante da Faculdade de Direito. Tinha dezenove anos de idade nessa ocasião ... A manifestação era de operários e estudantes. Naquele tempo, ninguém andava armado...<ref>{{citar web |url= http://www.goffredotellesjr.adv.br/site/pagina.php?id_pg=10|título= Entrevista com Goffredo da Silva Telles Júnior|acessodata=25 de fevereiro de 2018|autor= Bucci, Eugênio|publicado= Teoria e Debate}}</ref>
Linha 66 ⟶ 72:
==Consequências==
[[Ficheiro:Jornal_do_Povo_-_"Revoada_dos_Galinhas_Verdes".jpeg|esquerda|miniaturadaimagem|Manchete no ''Jornal do Povo'' satirizando os membros da AIB: "Um integralista não corre: vôa..."]]
A Batalha da Praça da Sé teve uma repercussão positiva entre o movimento antifascista brasileiro, especialmente no Distrito Federal e, combinada com a identificação do corpo do jovem militante [[Tobias Warchavski]], detonou uma campanha política contra a política repressora do governo Vargas que se combinou com o sentimento antifascista, impulsionando um movimento mais geral contra a "reação" e apontando para a formação de uma frente ampla progressista, o que seria concretizado com a formação da [[Aliança Nacional Libertadora]] (ANL).{{Sfn|Castro|2002|p=377-379}} No entanto, após o conflito, a polícia prendeu vários militantes de esquerdaantifascistas. A sede da FOSP foi invadida e lacrada pelas autoridades. Os anarquistas, subsequentemente, trataram de reorganizar a FOSP e buscaram formas de auxiliar os militantes que foram presos em decorrência da luta antifascista, chegando a criar o Comitê Pró-Presos Sociais, que realizou algumas atividades festivas voltadas a arrecadar fundos de auxílios aos companheiros encarcerados e aos seus familiares.{{Sfn|Rodrigues|2017|p=97}}
 
Outro acontecimento chamaria a atenção no Distrito Federal. Com a identificação do corpo do jovem militante e cartunista [[Tobias Warchavski]], detonou-se uma campanha política contra a política repressora do governo Vargas que se combinou com o sentimento antifascista, impulsionando um movimento mais geral contra a "reação" e apontando para a formação de uma frente ampla progressista, o que seria concretizado com a formação da [[Aliança Nacional Libertadora]] (ANL).{{Sfn|Castro|2002|p=377-379}}
 
No Rio de Janeiro, ainda no dia 7 de outubro, foi lançado o primeiro número do periódico ''Jornal do Povo'', editado por [[Barão de Itararé|Aparício Torelly]] e ligado ao PCB. Durante a semana seguinte ao conflito, o jornal dedicou várias reportagens ao episódio paulista, procurando descrever o acontecimento de forma satírica e fazer pilhéria dos integralistas. Uma das suas manchetes da semana seguinte ao evento foi “Um integralista não corre, voa”, seguida de um texto, abaixo de uma imagem do conflito: “A debandada integralista, como se vê, foi na mais perfeita desordem. Vê-se à esquerda um galinha-verde escondido atrás do poste, e no centro vários acocorados. A retirada dos 10 mil… Salve-se quem puder! E os integralistas, que gostam de frases sonoras bem sonantes, repetiam nessa hora, acompanhados pela castanhola dos dentes: morra meu pai que é mais velho!".{{Sfn|Castro|2002|p=377}}