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<!-- Definição e sintomas -->
'''Malária''' é uma [[doença infecciosa]] transmitida por [[mosquito]]s e causada por [[protozoário]]s [[parasitário]]s do [[Género (biologia)|género]] ''[[Plasmodium]]''.<ref name="WHO2014" /> Os sintomas mais comuns são [[febre]], [[fadiga]], [[vómito|vômito]]s e [[Cefaleia|dores de cabeça]].<ref name="Caraballo 2014"/> Em casos graves pode causar [[icterícia]], [[convulsões]], [[coma]] ou [[morte]].<ref name="Caraballo 2014"/> Os sintomas começam-se a manifestarmenifestar entre 10 e 15 dias após a picada.<ref name=WHO2014/> Quando não é tratada, a doença pode recorrer meses mais tarde.<ref name=WHO2014/> Uma nova infeção geralmente causa sintomas mais ligeiros.<ref name="Caraballo 2014"/> No entanto, esta [[imunidade]] parcial pode desaparecer no prazo de meses a anos se a pessoa não for continuamente exposta à doença.<ref name="Caraballo 2014">{{citar periódico|autor =Caraballo H |título=Emergency department management of mosquito-borne illness: Malaria, dengue, and west nile virus |periódico=Emergency Medicine Practice |ano=2014 |volume=16 |número=5 |url=http://www.ebmedicine.net/topics.php?paction=showTopic&topic_id=405 |urlmorta= não|arquivourl=https://web.archive.org/web/20160801202316/http://www.ebmedicine.net/topics.php?paction=showTopic&topic_id=405 |arquivodata=2016-08-01 |df= }}</ref>
 
<!--Causa e diagnóstico-->
A doença é geralmente transmitida pela picada de uma fêmea infectada do mosquito ''[[Anopheles]]''.<ref name=WHO2014/> A picada introduz no [[sistema circulatório]] do [[hospedeiro]] os [[parasita]]s presentes na sua saliva.<ref name=WHO2014/> Os parasitas depositam-se no [[fígado]], onde se desenvolvem e reproduzem.<ref name="Caraballo 2014"/> Existem cinco espécies de ''Plasmodium'' que podem infetar os seres humanos.<ref name="Caraballo 2014"/> A maior parte das mortes são causadas pelo ''[[Plasmodium falciparum|P. falciparum]]''. As espécies ''[[Plasmodium vivax|P. vivax]]'', ''[[Plasmodium ovale|P. ovale]]'' e ''[[Plasmodium malariae|P. malariae]]'' geralmente causam formas menos graves de malária que raramente são fatais.<ref name="Caraballo 2014"/><ref name=WHO2014/> A espécie ''[[Plasmodium knowlesi|P. knowlesi]]'' raramente causa a doença em seres humanos.<ref name=WHO2014/> O diagnóstico de malária tem por base [[Histologia|análises microscópicas]] ao sangue que confirmem a presença do parasita ou através testes de diagnóstico rápido que detectam a presença de [[antigénio]]s no sangue.<ref name="Caraballo 2014"/> Existem também técnicas de diagnóstico que usam a [[Reação em cadeia da polimerase]] para detectar o [[ADN|DNA]] do parasita, embora o seu uso nas regiões onde a doença é [[Endemia|endêmicaendémica]] seja pouco comum devido ao seu elevado custo e complexidade.<ref name="Nadjm 2012">{{citar periódico|vauthors=Nadjm B, Behrens RH |título=Malaria: An update for physicians |periódico=Infectious Disease Clinics of North America |ano=2012 |volume=26 |número=2 |páginas=243–59 |pmid=22632637 |doi=10.1016/j.idc.2012.03.010}}</ref>
 
<!--Prevenção e tratamento-->
A transmissão da doença pode ser combatida através da prevenção das picadas de mosquito. As medidas de prevenção mais comuns são o uso de [[Mosquiteiro|redes mosquiteiras]] ou [[repelente de insetos]] e medidas de erradicação, como o uso de [[inseticida]]s ou o escoamento de águas estagnadas.<ref name="Caraballo 2014"/> Estão disponíveis diversos medicamentos para prevenção da malária em viajantes que se desloquem a países onde a doença seja endêmicaendémica.<ref name=WHO2014/> Em regiões de elevada incidência, está recomendada a administração de [[Associação sulfadoxina/pirimetamina|sulfadoxina/pirimetamina]] nas crianças mais novas e em grávidas após o primeiro trimestre.<ref name=WHO2014/> Não existe [[vacina]] eficaz contra a malária, apesar de haver esforços no sentido de desenvolver uma.<ref name=WHO2014/> O tratamento recomendado para a malária é uma [[artemisinina]] associada a um segundo [[Medicação antimalárica|antimalárico]].<ref name="Caraballo 2014"/><ref name=WHO2014/> Os antimaláricos são geralmente [[mefloquina]], [[lumefantrina]] ou sulfadoxina/pirimetamina.<ref name=WHO2010>{{citar livro|último1 =Organization|primeiro1 =World Health|título=Guidelines for the treatment of malaria|data=2010|publicado=World Health Organization|local=Geneva|isbn=978-92-4-154792-5|página=ix|edição=2nd}}</ref> Quando não está disponível artemisinina pode ser usada [[quinina]] com [[doxiciclina]].<ref name=WHO2010/> Em áreas onde a doença é comum, recomenda-se que se confirme a presença da doença antes de iniciar o tratamento devido à preocupação com a crescente resistência farmacológica.<ref name=WHO2014/> Vários parasitas desenvolveram resistência a uma série de antimaláricos, como é o caso do ''P. falciparum'' resistente o quinino e a resistência a artemisinina em várias partes do Sudeste Asiático.<ref name=WHO2014>{{citar web|título=Malaria Fact sheet N°94|url=http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs094/en/|website=WHO|acessodata=28 de agosto de 2014|data=março de 2014|arquivourl=https://web.archive.org/web/20140903002027/http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs094/en/|arquivodata=3 de setembro de 2014}}</ref>
 
<!--Epidemiologia, sociedade e cultura-->
A malária é endêmicaendémica em regiões tropicais e subtropicais devido à chuva abundante, temperatura quente e grande quantidade de água estagnada, o que proporciona habitats ideais para as [[larva]]s do mosquito. A doença encontra-se disseminada pelas regiões [[Trópico|tropicais]] e [[Clima subtropical|subtropicais]] do planeta ao longo de uma larga faixa em redor do [[Linha do Equador|equador]],<ref name="Caraballo 2014"/> que inclui grande parte da [[África subsariana]], [[Ásia]] e [[América Latina]].<ref name=WHO2014/> Em 2016, ocorreram em todo o mundo 216 milhões de casos de malária, que se estima terem sido a causa de {{formatnum:731000}} mortes.<ref name=WHO2017Report/><ref name=GBD2015De/> Cerca de 90% dos casos e da morte ocorreram em África.<ref name=WHO15>{{citar web|título=Malaria Fact sheet N°94|url=http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs094/en/|publicado=WHO|acessodata=2 de fevereiro de 2016|urlmorta= não|arquivourl=https://web.archive.org/web/20140903002027/http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs094/en/|arquivodata=3 de setembro de 2014|df=}}</ref> Entre 2000 e 2015 a incidência da doença diminuiu 37%,<ref name=WHO15/><ref name=WHO2014Book>{{citar livro|último1 =WHO|título=World Malaria Report 2014|data=2014|publicado=World Health Organization|local=Geneva, Switzerland|isbn=978-92-4-156483-0|páginas=32–42|url=http://www.who.int/entity/malaria/publications/world_malaria_report_2014/en/index.html}}</ref> A malária está geralmente associada à [[pobreza]] e tem um grande impacto negativo no [[desenvolvimento económico|desenvolvimento econômico]].<ref name="IftSoL"/><ref name="Worrall 2005"/> Em África, estima-se que a doença resulte em perdas de 12 mil milhões de [[Dólar norte-americano|dólares]] por ano devido aos custos com a prestação de cuidados de saúde, baixas de trabalho e impacto no turismo.<ref name="Greenwood 2005"/>
 
==Sinais e sintomas==
[[Imagem:Sintomas da Malária.pt.png|thumb|250px|Principais sintomas da malária<ref name="PPID 2010"/>]]
 
Os sinais e sintomas da malária manifestam-se geralmente entre 8 a 25 dias após a infecção.<ref name="PPID 2010"/> No entanto, os sintomas podem-se manifestar mais tarde em indivíduos que tenham tomado medicação antimalárica de prevenção.<ref name="Nadjm 2012"/> As manifestações iniciais da doença, iguais em todas as espécies de malária, são semelhantes aos sintomas da [[gripe]],<ref name="Bartoloni 2012"/> podendo ainda ser semelhantes aos de outras doenças virais e condições clínicas como a [[sepse]] ou [[gastroenterite]].<ref name="Nadjm 2012"/> Entre os sinais incluem-se [[Cefaleia|dores de cabeça]], [[febre]], [[Calafrio (fisiologia)|calafrios]], [[Artralgia|dores nas articulações]], [[vómito|vômito]]s, [[anemia hemolítica]], [[icterícia]], [[Hemoglobinúria|hemoglobina na urina]], [[Retinopatia|lesões na retina]] e [[Convulsão|convulsões]].<ref name="Beare 2006"/>
 
O sintoma clássico da malária são [[Ataque paroxístico|ataques paroxísticos]], a ocorrência cíclica de uma sensação súbita de frio intenso seguida por calafrios e posteriormente por febre e sudação. Estes sintomas ocorrem a cada dois dias em infecções por ''P.&nbsp;vivax'' e ''P.&nbsp;ovale'' e a cada três dias em infecções por ''P.&nbsp;malariae''. A infecção por ''P.&nbsp;falciparum'' pode provocar febre recorrente a cada 36-48 horas ou febre menos aguda, mas contínua.<ref name="Ferri 2009"/>
 
Os casos mais graves de malária são geralmente provocados por ''P.&nbsp;falciparum'', variante que é muitas vezes denominada "malária falciparum". Os sintomas desta variante manifestam-se entre 9 a 30 dias após a infecção.<ref name="Bartoloni 2012"/> Os indivíduos com "malária‘’’malária cerebral"cerebral’’’ apresentam muitas vezes sintomas [[Transtorno neurobiológico|neurológicos]], entre os quais [[postura anormal]], [[nistagmo]], [[paralisia do olhar conjugado]] (incapacidade de mover em conjunto os olhos na mesma direção), [[opistótono]], [[convulsão|convulsões]] ou [[coma]].<ref name="Bartoloni 2012"/>
 
===Complicações===
 
Existem diversas complicações graves de malária. Entre elas está o desenvolvimento de [[dispneia|’’stress’’ respiratório]], no qual se verifica a necessidade de um esforço cada vez maior para respirar associado a sensação de desconforto psicológico, o qual ocorre em 25% dos adultos e 40% das crianças com malária falciparum aguda. Entre as possíveis causas estão a compensação respiratória da [[acidose metabólica]], [[edema pulmonar]] não cardiogênicocardiogénico, [[pneumonia]] concomitante e [[anemia]] grave. Embora a sua ocorrência seja rara em crianças, entre 5% e 25% dos adultos e 29% das grávidas com casos graves de malária desenvolvem [[Síndrome do desconforto respiratório do adulto]].<ref name="Taylor 2012"/> A co-infecção de malária com [[VIH|HIV]] aumenta a mortalidade.<ref name="Korenromp 2005"/> Pode ainda ocorrer [[febre da água negra]], uma complicação na qual a [[hemoglobina]] de [[Hemácia|glóbulos vermelhos]] [[Lise|danificados]] se deposita na [[urina]]<ref name="Bartoloni 2012"/>
 
A infecção com ''P.&nbsp;falciparum'' pode provocar malária cerebral, uma forma grave de malária que envolve [[encefalopatia]]. Manifesta-se através do branqueamento da [[retina]], o que pode constituir um sinal clínico auxiliar para distinguir a malária de outras causas de febre.<ref name="Beare 2011"/> Pode também ocorrer [[esplenomegalia]], [[cefaleia|dor de cabeça intensa]], [[hepatomegalia]], [[hipoglicemia]] ou [[hemoglobinúria]] com [[insuficiência renal]].<ref name="Bartoloni 2012"/> Em casos de malária durante a gravidez, entre as complicações graves estão a [[Natimorto|morte do feto]] ou da [[Mortalidade infantil|criança]], ou peso à nascença inferior a 2,5 kg,<ref name="Hartman 2010"/> em particular na infecção por ''P.&nbsp;falciparum'', mas também por ''P.&nbsp;vivax''.<ref name="Rijken 2012"/>
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==Causas==
 
Os [[parasita]]s da malária pertencem ao gênerogénero ''[[Plasmodium]]'' (filo [[Apicomplexa]]). No ser humano, a malária é provocada por ''[[Plasmodium falciparum|P.&nbsp;falciparum]]'', ''[[Plasmodium malariae|P.&nbsp;malariae]]'', ''[[Plasmodium ovale|P.&nbsp;ovale]]'', ''[[Plasmodium vivax|P.&nbsp;vivax]]'' e ''[[Plasmodium knowlesi|P.&nbsp;knowlesi]]''.<ref name="Mueller 2007"/><ref name="Collins 2012"/> Entre a população infectada, a espécie com maior prevalência é a ''P.&nbsp;falciparum'' (~75%), seguida pela ''P.&nbsp;vivax'' (~20%).<ref name="Nadjm 2012"/> Embora a ''P.&nbsp;falciparum'' seja a responsável pela maioria das mortes,<ref name="Sarkar 2009"/> existem dados recentes que sugerem que a malária por ''P.&nbsp;vivax'' está associada a condições que colocam a vida em risco em igual número com a infecção por ''P. falciparum''.<ref name="Baird 2013"/> A ''P.&nbsp;vivax'' é, em proporção, mais comum fora de África.<ref name="Arnott 2012"/> Estão também documentadas várias infecções humanas com diversas espécies de ''Plasmodium'' de origem [[Símio|símia]]; no entanto, com a exceção da ''P.&nbsp;knowlesi'' – uma espécie [[Zoonose|zoonótica]] que provoca malária nos [[Macaca|macacos]]<ref name="Collins 2012"/> – a relevância para a saúde pública destas infecções é apenas residual.<ref name="Collins 2009"/>
 
===Ciclo de vida do parasita===
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No ciclo de vida do ''Plasmodium'', a fêmea do mosquito ''[[Anopheles]]'' (o [[hospedeiro]] definitivo) transmite a um vertebrado (o hospedeiro secundário, como o ser humano) uma forma infecciosa móvel (denominada [[esporozoíto]]), atuando desta forma como [[Vetor (epidemiologia)|vetor]]. O esporozoíto percorre os vasos sanguíneos até às [[Hepatócito|células hepáticas]], nas quais se reproduz [[Reprodução assexuada|assexualmente]] (através de [[esquizogonia tecidual]]), produzindo milhares de [[merozoíto]]s. Estes últimos irão infectar mais glóbulos vermelhos e dar início a uma série de ciclos de multiplicação assexuada que produzem entre 8 a 24 novos merozoítos infecciosos cada um, até à célula romper e dar início a um novo ciclo de infecção.<ref>{{harvnb|Schlagenhauf-Lawlor|2008|pp=[http://books.google.com/books?id=54Dza0UHyngC&pg=PA70 70–1]}}</ref>
 
Os restantes merozoítos tornam-se [[gametócito]]s imaturos, os quais são os precursores dos [[gâmeta]]s masculinos e femininos. Quando um mosquito pica uma pessoa infectada, os gametócitos são transportados no sangue e amadurecem no sistema digestivo do mosquito. Os gametócitos macho e fêmea fundem-se e formam um [[oocineto]] – um [[zigoto]] fertilizado móvel. Por sua vez, os oocinetos transformam-se em novos esporozoítos que migram para as [[Glândula salivar|glândulas salivares]] do insecto, prontos a infectar novos vertebrados. Quando o mosquito se alimenta através da picada, os esporozoítos são injetadosinjectados para a pele através da sua saliva.<ref name="Cowman 2012"/>
 
Só a fêmea do mosquito é que se alimenta de sangue; os machos alimentam-se do [[néctar]] de plantas, pelo que não transmitem a doença. As fêmeas do gênerogénero ''Anopheles'' preferem alimentar-se ao longo da noite, iniciando a procura de uma refeição com o pôr do sol.<ref name="Arrow 2004"/> Os parasitas da malária podem também ser transmitidos através de [[Transfusão de sangue|transfusões de sangue]], embora a sua ocorrência seja rara.<ref name="Owusu-Ofori 2010"/>
 
===Malária recorrente===
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De acordo com uma revisão de 2005, os elevados níveis de [[letalidade]] e [[morbidade]] provocados pela malária, especialmente pela espécie ''P.&nbsp;falciparum'', são responsáveis pela maior [[pressão seletiva]] sobre o [[genoma humano]] da história recente. Algumas características genéticas proporcionam alguma resistência à malária, entre os quais a [[anemia falciforme]], [[talassemia]], [[deficiência em glucose-6-fosfato desidrogenase]] e a ausência do [[antígeno de Duffy]] nos glóbulos vermelhos.<ref name="Kwiatkowski 2005"/><ref name="Hedrick 2011"/>
 
A anemia falciforme provoca um defeito nas moléculas de [[hemoglobina]] do sangue. As moléculas de [[hemoglobina S]] fazem com que os glóbulos vermelhos assumam uma forma curva semelhante a uma foice (falciforme), em vez da forma bicôncava normal. Devido a esta deformação, a molécula perde alguma da sua eficácia na absorção e libertação de oxigêniooxigénio. A infeção faz com que os glóbulos vermelhos se curvem ainda mais, sendo por isso removidos de circulação mais cedo, o que por sua vez reduz a frequência com que os parasitas completam o seu ciclo de vida na célula. Os indivíduos [[Homozigoto|homozigóticos]] (com duas cópias do [[alelo]] anormal) desenvolvem anemia falciforme, enquanto que os [[Heterozigoto|heterozigóticos]] (com um alelo anormal e outro normal) apresentam resistência à malária.<ref name="Hedrick 2011"/><ref name="Weatherall 2008"/>
 
===Insuficiência hepática===
É pouco comum a ocorrência de [[insuficiência hepática]] provocada por malária, sendo geralmente o resultado da coexistência com outras condições que afetamafectam o fígado, como a [[Hepatite#Hepatites virais|hepatite viral]] ou qualquer doença crônicacrónica do fígado. A síndrome é por vezes denominada “hepatite malárica”. Embora a sua ocorrência seja ainda considerada rara, a hepatopatia malárica tem vindo a aumentar, sobretudo na [[Índia]] e no [[Sudeste Asiático]]. A presença de doenças hepáticas em pacientes de malária aumenta a probabilidade de complicações ou morte.<ref name="Bhalla 2006"/>
 
==Diagnóstico==
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[[Imagem:Malaria rapid diagnostic test 3.jpg|thumb|Os exames de diagnóstico rápido (RDT) determinam resultados em cerca de 20 minutos e são úteis em regiões onde não estão disponíveis análises laboratoriais.]]
 
Devido à natureza não específica dos sintomas, o diagnóstico de malária em regiões onde não seja endêmicaendémica exige confirmação redobrada e deve levar em conta factores de diagnóstico auxiliares, como o histórico recente de viagens, [[Esplenomegalia|aumento de volume do baço]], febre, [[Trombocitopenia|número reduzido de plaquetas]] no sangue e quantidade de [[bilirrubina]] no sangue superior ao normal com quantidade normal de [[glóbulos brancos]].<ref name="Nadjm 2012"/>
 
A malária é geralmente confirmada através de exame microscópico de [[Esfregaço de sangue|esfregaços]] ou através de testes de diagnóstico rápido (DRT) baseados na detecçãodeteção de antígenos.<ref name="Abba 2011"/><ref name="Kattenberg 2011"/> A microscopia é o método mais comum na detecçãodeteção do parasita.<ref name="Wilson 2012"/> No entanto, apesar do seu uso generalizado, o diagnóstico por microscopia tem duas desvantagens: muitos locais, sobretudo em meios rurais, não têm equipamento para a realização do exame e a precisão dos resultados depende da destreza do examinador e da quantidade de parasitas no sangue. A sensibilidade dos esfregaços varia entre 75–90% em condições normais, podendo diminuir até 50%. Os testes de diagnóstico rápido disponíveis são mais precisos a determinar a presença de parasitas da malária do que a análise microscópica, embora a sua sensibilidade e especificidade dependam do fabricante e não sejam capazes de determinar o número de parasitas.<ref name="Wilson 2012"/>
 
Em regiões onde estejam disponíveis análises de laboratório, deve-se suspeitar a presença de malária em qualquer paciente que manifeste sintomas e que tenha estado numa região onde a malária seja endêmicaendémica. Em regiões onde não há capacidade de disponibilizar facilmente análise laboratorial, tem vindo a tornar-se rotina usar apenas o histórico de febre subjetiva como indicador de tratamento para malária – um diagnóstico presuntivo que assume que febre corresponde a malária, a não ser que haja prova em contrário. Uma desvantagem desta prática é o [[sobrediagnóstico]] de malária e a gestão inadequada de casos de febre sem relação com a malária, o que desperdiça recursos, diminui a confiança no sistema de saúde e aumenta a resistência a fármacos.<ref name="Perkins 2008"/> Embora tenham já sido desenvolvidos testes que têm por base a [[reação em cadeia da polimerase]], não estão ainda difundidos pelas regiões onde a malária é endêmicaendémica devido à sua complexidade.<ref name="Nadjm 2012"/>
 
===Classificação===
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* [[Glicemia|Hipoglicemia]] (glicose inferior a 2,2&nbsp;mmol/L ou 40&nbsp;mg/dL)
* [[Acidose]] metabólica (bicarbonato plasmático <15&nbsp;mmol/L)
* Anemia normocítica grave (Hb < 5&nbsp;g/dL, hematócritohematrócrito <15%)
* [[Ácido láctico|HiperlactacidemiaHiperlactacidémia]] (lactato >5&nbsp;mmol/L)
* Contagem de parasitas no sangue superior a {{formatnum:100000}} por [[microlitro]] (µL) em áreas de transmissão de pouca intensidade, ou {{formatnum:250000}} por µL em áreas de transmissão de elevada intensidade
 
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[[Imagem:Anopheles stephensi.jpeg|thumb|Um mosquito ''[[Anopheles stephensi]]'', pouco depois de se ter alimentado de sangue de um ser humano. Este mosquito é o principal transmissor da malária e o seu controlo representa uma forma eficaz de reduzir a sua incidência.]]
 
Entre os métodos de prevenção da malária estão a erradicação dos mosquitos, a prevenção de picadas e medicação. A presença de malária numa dada região pressupõe a conjugação de vários factores: elevada densidade populacional humana, elevada densidade populacional de mosquitos ‘’anopheles’’ e elevada taxa de transmissão entre humanos e mosquito e vice-versa. Quando algum destes factores é reduzido de forma significativa, o parasita irá eventualmente desaparecer dessa região, tal como aconteceu na América do Norte, Europa e partes do Médio Oriente. No entanto, a não ser que o parasita seja erradicado à escala global, pode-se voltar a implantar em qualquer uma dessas regiões caso ocorra uma conjugação de factores que proporcione a sua reprodução. Além disso, o custo econômicoeconómico da erradicação do mosquito por pessoa é maior em áreas com menor densidade populacional, o que faz com que seja economicamente inviávelinvável em algumas regiões.<ref name="whqlibdoc"/>
 
Muitos investigadores defendem que, a longo prazo, a prevenção da malária é capaz de representar uma maior relação custo-benefício do que o tratamento da doença. No entanto, as regiões mais pobres e afetadas não dispõem de capital financeiro. Há diferenças significativas entre os custos de controlo (isto é, manter a endemicidade baixa) e os programas de erradicação entre os vários países. Por exemplo, na China, cujo governo anunciou em 2010 um programa estratégico para a eliminação da malária nas províncias, o investimento necessário representa apenas uma pequena parcela dos gastos em saúde. Em contrapartida, um programa semelhante na Tanzânia custaria um quinto do total do orçamento de saúde.<ref name="Sabot 2010"/>
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[[Imagem:Midnight in Pediatric ICU.jpg|thumb|As [[rede mosquiteira|Redes mosquiteiras]] proporcionam uma barreira de proteção contra picadas noturnas de mosquitos infetados. A sua eficácia pode ser melhorada com a aplicação de inseticida.]]
 
Os métodos usados para reduzir a malária através da diminuição do número de transmissões são denominados [[controlo de vetores]]. Em termos de proteção individual, os [[Repelente de insetos|repelentes de insetos]] à base de [[DEET]] ou [[Icaridina]] são os mais eficazes.<ref name="Kajfasz 2009"/> A [[vaporização residual]] de interiores com inseticida e o uso de [[Rede mosquiteira|redes mosquiteiras]], às quais é aplicado também inseticida, são outras técnicas de erradicação que têm demonstrado ser altamente eficazes na prevenção de malária em regiões endêmicasendémicas.<ref name="Lengeler 2004"/><ref name="Pluess 2010"/>
 
Vaporização residual designa uma técnica que consiste na vaporização de inseticida nas paredes interiores de casas em regiões afetadas pela malária. Depois de se alimentarem, muitas espécies de mosquito descansam numa superfície próxima enquanto digerem o sangue. Se as paredes da habitação tiverem sido revestidas com inseticida, é provável que o mosquito morra antes de picar outra pessoa e trensferir o parasita da malária.<ref name="Enayati 2010"/> À data de 2006, a Organização Mundial de Saúde recomenda o uso de doze inseticidas para ações de vaporização residual, entre os quais [[DDT]] e os piretroidespiretoides [[ciflutrina]] e [[deltametrina]].<ref name="WHO Indoor Residual Spraying"/> O uso de pequenas quantidades de DDT para ações de saúde pública é autorizado pela [[Convenção de Estocolmo]] para os [[poluentes orgânicos persistentes]], a qual proíbe o seu uso na agricultura.<ref name="van den Berg 2009"/> Um dos problemas da vaporização residual é a resistência ao pesticida. Os mosquitos afetados pela vaporização geralmente vivem e descansam no interior das habitações e, devido à irritação provocada pela vaporização, os seus descendentes tendem a viver no exterior, o que significa que serão menos afetados pela técnicas de vaporização residual.<ref name="Pates 2005"/>
 
As redes [[Mosquiteiro|mosquiteiras]] ajudam a manter os mosquitos afastados de pessoas e reduzem as taxas de infeção e transmissão de malária. No entanto, as redes não constituem uma barreira perfeita e são muitas vezes tratadas com um inseticida próprio para matar o mosquito antes que seja capaz de encontrar uma forma de passar a rede. Estima-se que as redes tratadas com inseticida sejam duas vezes mais eficazes que redes não tratadas e que ofereçam mais 70% de proteção quando comparada com os dados na ausência de qualquer rede.<ref name="Raghavendra 2011"/> Entre 2000 e 2008, o uso de redes tratadas com inseticida salvou a vida a mais de {{formatnum:250000}} crianças na África Subsariana.<ref name="Howitt 2012"/> Embora as redes com inseticida possam prevenir a malária, só estão presentes em cerca de 13% dos lares nos países subsarianos.<ref name="Miller 2007"/> O método de uso recomendado é a suspensão de uma rede de grande dimensão por cima do centro da cama, de modo a envolvê-la por completo, e amarrar as pontas. As redes tratadas com [[piretroide]]s e inseticidas de longa duração proporcionam a proteção pessoal mais eficaz, sobretudo quando usadas desde o anoitecer ao amanhecer.<ref>{{harvnb|Schlagenhauf-Lawlor|2008|pp=[http://books.google.com/books?id=54Dza0UHyngC&pg=PA215 215]}}</ref> Usando uma ferramenta de edição de gene conhecido como [[CRISPR/Cas]]9, em 2015, pesquisadores fizeram uma "vacina genética" que continuamente injetar-se no [[DNA]] de mosquitos. Uma vacina deste tipo, conhecida como uma unidade de gene, pode difundir para quase todos os mosquitos numa população em algumas gerações.<ref>[https://www.sciencenews.org/article/mosquitoes-engineered-zap-ability-carry-malaria Mosquitoes engineered to zap ability to carry malaria] por TINA HESMAN SAEY (2015)</ref> Um método para prevenir a transmissão da malária que consiste em limitar o acesso de mosquitos a casas, bloqueando aberturas e instalação de [[Tubo eave|tubos "eave"]] que contêm um tipo único de ataque com mosquiteiro com inseticida que mata os insetos quando eles tentam entrar, recebeu $10,2 milhões de dólaresdolares da da Fundação Bill & Melinda Gates em 2015.<ref>[http://news.psu.edu/story/384581/2015/12/11/research/researchers-receive-102-million-study-new-malaria-prevention-method Researchers receive $10.2 million to study new malaria-prevention method] por Sara LaJeunesse "PennState News" (2015)</ref>
 
Existem outros métodos destinados a reduzir o número de picadas de mosquito e abrandar a disseminação da malária. Uma vez que a larva do mosquito se desenvolve em águas estagnadas, drenar essa água ou acrescentar-lhe substâncias que diminuem o seu desenvolvimento é uma técnica eficaz nalgumas regiões.<ref>{{citar periódico|último =Tusting|primeiro =LS|coautor=Thwing, J; Sinclair, D; Fillinger, U; Gimnig, J; Bonner, KE; Bottomley, C; Lindsay, SW|título=Mosquito larval source management for controlling malaria.|periódico=The Cochrane database of systematic reviews|data=29 de agosto de 2013|volume=8|páginas=CD008923|pmid=23986463}}</ref> No entanto, não há qualquer evidência que os aparelhos eletrônicoseletrónicos repelentes de insetos através de ultrassons sejam minimamente eficazes.<ref name="Enayati 2007"/>
 
===Medicação===
 
Existem diversos fármacos disponíveis para a prevenção de malária em viajantes que se desloquem para regiões onde a malária é endêmicaendémica. Muitos destes fármacos são também usados no tratamento da doença. Nos casos em que o parasita ainda seja sensível, pode ser usada [[cloroquina]].<ref name="Jacquerioz 2009"/> No entanto, a maior parte dos ''Plasmodium'' é resistente a um ou mais fármacos, pelo que geralmente é necessário recorrer a outros fármacos ou a combinações entre fármacos. Entre estes estão a [[mefloquina]], [[doxiciclina]] (disponível em genéricos) ou a combinação de [[atovaquona]] e [[proguanil]].<ref name="Jacquerioz 2009"/> A combinação entre doxiciclina e a combinação atovaquona-proguanil é a que é melhor tolerada pelo organismo. A mefloquina está associada a episódios de suicídio, morte e sintomas psiquiátricos.<ref name="Jacquerioz 2009"/>
 
O efeito protetor não começa imediatamente após a primeira toma, pelo que os viajantes devem começar a tomar os medicamentos entre uma e duas semanas antes da chegada e continuar a tomá-los ao longo de duas semanas após terem deixado a região (à exceção da combinação atovaquona-proguanl, que só necessita de ser iniciada dois dias antes e prolongada por mais sete dias após).<ref name="Freedman 2008"/> O uso de fármacos preventivos não é prático para os residentes em regiões onde existe malária, pelo que o seu uso se restringe a viajantes e turistas de curta estadia. Isto deve-se ao preço dos medicamentos, aos efeitos secundários provocados pelo uso prolongado e à dificuldade em obter anti-maláricos fora dos países desenvolvidos.<ref name="Fernando 2011"/> O uso de fármacos preventivos nas regiões onde haja mosquitos podem contribuir para o desenvolvimento de resistência parcial.<ref name="Turschner 2009"/>
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]]
 
A malária é atualmente endêmicaendémica nas regiões equatoriais, em regiões da América, algumas partes da Ásia e grande parte de África. Entre 85 e 90% das mortes por malária ocorrem na África subsariana.<ref name="Layne 2006"/> Em 2009, uma estimativa indicou que os países com a maior taxa de mortalidade por cada {{formatnum:100000}} habitantes foram a [[Costa do Marfim]] (86,15), [[Angola]] (56,93) e o [[Burkina Faso]] (50,66).<ref name="Provost 2011"/> Em 2010, uma outra estimativa indicou que os países com maior taxa de mortalidade foram o Burkina Faso, [[Moçambique]] e o [[Mali]].<ref name="lancet-glob-mal-mort"/> Ainda em 2010, cerca de 100 países possuíam malária endêmicaendémica.<ref name="World Malaria Report 2012"/><ref name="Feachem 2010"/> Estes países são visitados anualmente por mais de 125 milhões de viajantes internacionais, dos quais mais de {{formatnum:30000}} contraem a doença.<ref name="Kajfasz 2009"/>
 
Na Europa e na América do Norte, a doença está praticamente erradicada. Entre 1993 e 2003, a malária provocou a morte a 900 pessoas na Europa.<ref name="Kajfasz 2009"/> Em 2011 houve apenas 102 casos adquiridos ''in loco'', restritos a cinco países.<ref>{{citar web|url=http://www.euro.who.int/en/what-we-do/health-topics/communicable-diseases/malaria|título=Malaria: Elimination from the WHO European Region by 2015|autor=[[Organização Mundial de Saúde]]}}</ref> Em Portugal, os últimos casos de Malária adquirida no país foram diagnosticados em 1959, e desde então a totalidade das ocorrências são casos importados por pessoas que visitaram países tropicais. Em 2011 foram notificados 58 casos importados de Malária.<ref>{{citar web|url=http://www.publico.pt/sociedade/noticia/dgs-assegura-que-portugal-so-tem-casos-importados-de-malaria-1554230|autor=Público|título=Saúde assegura que Portugal só tem casos “importados” de malária}}</ref>
 
No Brasil, 97% dos casos ocorrem na região amazônicaamazónica e pouco menos de 2,9% nas regiões próximas, sendo mais de 80% nas regiões rurais.<ref>{{Citar web|url=http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1526 |titulo=Malária|autor= |arquivourl=http://wayback.archive.org/web/20130806112241/http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_area=1526|li=abril de 2017|arquivodata=6 de agosto de 2013}}</ref> Em Moçambique, a malária é a principal causa de morte infantil. No entanto, entre 2006 e 2012 o número de casos de malária tem vindo a diminuir significativamente. Em 2006 registaram-se 6,5 milhões de casos, os quais provocaram 5053 mortes,<ref name="tsf">{{citar web|url=http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=1836929 |título=Casos de malária em Moçambique baixaram 50 por cento em quatro anos |autor=[[TSF Rádio Notícias|TSF]] |data=24 de abril de 2011}}</ref> enquanto que em 2012 se registaram apenas 3,1 milhões de casos e 1653 mortes.<ref>{{citar web |url=http://www.afro.who.int/pt/mocambique/press-materials/item/5568-moçambique-celebra-o-dia-mundial-de-luta-contra-a-malária.html |título=Moçambique celebra o Dia Mundial de Luta Contra a Malária |autor=[[Organização Mundial de Saúde]] |data=29 de abril de 2013}}</ref> Em Angola, o número de casos também tem vindo a diminuir. Entre 2006 e 2010, registaram-se em média quatro milhões de casos por ano, enquanto que em 2011 se registou pela primeira vez um número inferior a três milhões.<ref name=sol">{{citar web |url=http://sol.sapo.pt/Angola/Interior.aspx?content_id=48608 |título=Malária é a principal causa de morte e absentismo |autor=Jornal Sol |data=5 de maio de 2012}}</ref>
 
A distribuição geográfica da malária nas regiões de grande dimensão é complexa. Há muitos casos de regiões endêmicasendémicas e regiões livres de malária que estão muito próximas entre si.<ref name="Greenwood 2002"/> A malária é prevalente em regiões tropicais e subtropicais devido à chuva intensa, temperatura elevada constante e umidadehumidade elevada, fatoresfactores que proporcionam água estagnada em abundância propícia à reprodução contínua de larvas de mosquito.<ref name="Jamieson 2006"/> Em regiões mais secas, é possível prever com alguma precisão os surtos de malária através da previsão meteorológica da ocorrência de chuva.<ref name="Abeku 2007"/> A malária é mais frequente nas áreas rurais do que em área urbanas. Por exemplo, há várias cidades na bacia do [[rio Mekong]] que são livres de malária mas a doença é prevalente em muitas das regiões rurais.<ref name="Cui 2012"/> Por outro lado, em África a malária está presente tanto em áreas rurais como urbanas, embora o risco seja menor nas maiores cidades.<ref name="Machault 2011"/> É provável que as [[Mudança do clima|alterações climáticas]] venham a criar novos habitats para o mosquito vetor de malária em regiões mais frias e de maior altitude, provocando alterações na sua distribuição geográfica e o aumento de surtos epidêmicosepidémicos.<ref name="UNEP2007"/>
 
==História==
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Desde 2700 a.C., na antiguidade chinesa, que são encontradas ao longo de toda a História escrita referências à febre periódica característica da malária.<ref name="Cox 2002"/> A malária pode ter contribuído para o declínio do [[Império Romano]],<ref name="Sallares 2001"/> onde era uma doença tão comum que chegou a ser conhecida como "febre romana".<ref name="Sallares 2003"/> Várias regiões do império eram consideradas de risco devido à presença de condições favoráveis aos vetores de malária, como o sul de Itália, a ilha de [[Sardenha]], as lagoas Pontinas, as regiões baixas da costa da [[Etrúria]] e a cidade de [[Roma]] ao longo do [[rio Tibre]]. A presença de água estagnada nas terras alagadas e derivada da agricultura proporcionava aos mosquitos condições ideais de reprodução.<ref name="Hays 2005"/>
 
O termo malária tem origem no italiano [[Idade Média|medieval]] ''mala aria'', ou "[[Teoria miasmática|maus ares]]"; a doença era anteriormente denominada "ague" ou "febre dos pântanos" devido à sua associação com os terrenos alagados.<ref name="Reiter 2000"/> A malária era comum em grande parte da Europa e da América do Norte,<ref name="Lindemann 1999"/> onde já não é endêmicaendémica,<ref name="Gratz 2006"/> embora continuem a ser registados casos importados.<ref name="Webb 2009"/>
 
O primeiro progresso significativo na investigação científica da malária deu-se em 1880, data em que [[Charles Louis Alphonse Laveran]], um médico francês que trabalhava no hospital militar de [[Constantina (Argélia)|Constantina]] na [[Argélia]], observou pela primeira vez os parasitas no interior dos glóbulos vermelhos de pessoas infectadas. Laveran propôs que este organismo seria a causa da malária, sendo também a primeira vez que um [[protista]] foi identificado como causa de uma doença.<ref name="Laveran bio"/> Por esta e por descobertas posteriores, em 1907 foi agraciado com o [[Nobel de Fisiologia ou Medicina|Nobel de Medicina]]. Um ano mais tarde, [[Carlos Finlay]], um médico cubano que tratava pacientes de [[febre amarela]] em [[Havana]], apresentou evidências sólidas que os mosquitos eram os transmissores da doença.<ref name="Tan 2008"/> Esta descoberta confirmou sugestões anteriores de Josiah C. Nott,<ref name="Chernin 1983"/> e [[Patrick Manson]], considerado o pai da medicina tropical, sobre a transmissão da [[filaríase]].<ref name="Chernin 1977"/>
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==Sociedade e cultura==
 
=== Impacto econômicoeconómico ===
[[Imagem:Saving Lives with SMS for Life.jpg|thumb|right|Clínica para o tratamento de malária na Tanzânia]]
 
A malária não é apenas uma doença associada à pobreza; algumas conclusões sugerem que a própria doença seja uma das causas de pobreza e um entrave significativo ao [[desenvolvimento económico|desenvolvimento econômico]].<ref name="IftSoL"/><ref name="Worrall 2005"/> Embora as regiões mais afetadas sejam as tropicais, a malária atinge também regiões temperadas com alterações sazonais profundas. A doença tem vindo a ser associada a efeitos nefastos muito significativos na economia das regiões onde está disseminada.<ref name="Humphreys 2001"/> Em 1995, a comparação
do [[PIB]] ''per capita'', corrigido pela [[paridade do poder de compra]], entre países com malária e países sem malária indicou uma diferença na proporção de um para cinco ({{formatnum:1526}} $ e {{formatnum:8268}} $, respetivamente). No período entre 1965 e 1990, nos países onde a malária era endêmicaendémica o crescimento econômicoeconómico do PIB ‘’per capita’’ foi, em média, de apenas 0,4% ao ano, em contraste com os 2,4% dos restantes países.<ref name="Sachs 2002"/>
 
A pobreza pode aumentar o risco de malária, uma vez que aqueles que vivem na pobreza não têm recursos financeiros para prevenir ou tratar a doença. Estima-se que o custo global do impacto da malária em África seja anualmente de 12 mil milhões de dólares. O impacto econômicoeconómico engloba as despesas com cuidados de saúde, dias de trabalho perdidos, dias perdidos na educação, diminuição da produtividade devido às lesões cerebrais e perda de receitas de investimento e de turismo.<ref name="Greenwood 2005"/> A doença representa um fardo pesado para alguns países, nos quais é responsável por 30-50% dos internamentos hospitalares, até 50% dos doentes de ambulatório, e até 40% da despesa pública de saúde.<ref name="Roll Back Malaria WHO"/>
 
A malária cerebral é uma das principais causas de deficiências neurológicas em crianças africanas.<ref name="Idro 2010"/> Os estudos comparativos de funções cognitivas antes e após o tratamento para a malária grave continuam a demonstrar a diminuição do desempenho escolar e das capacidades cognitivas, mesmo após o recobro.<ref name="Fernando 2010"/> Assim, a malária grave e cerebral representam consequências sócio-econômicaseconómicas que se prolongam muito para além das consequências imediatas da doença.<ref name="Ricci 2012"/>
 
===Contrafação e falsificação de medicamentos===
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===Estratégias de erradicação===
[[Imagem:Malaria treatment in Angola (5686571327).jpg|thumb|left|Tratamento de malária numa clínica do [[Huambo]] em [[Angola]].]]
Têm sido realizadas diversas tentativas notáveis com o intuito de eliminar o parasita de várias partes do mundo, ou de o erradicar por completo. Em 2006, a organização ''Malaria No More'' anunciou o objetivo de erradicar a malária de África em 2015.<ref name="Strom 2011"/> Existem várias vacinas em fase de ensaio clínico, destinadas a proporcionar proteção para as crianças de regiões endêmicasendémicas e reduzir a velocidade de transmissão da doença. Em 2012, o [[Fundo Global de luta contra a SIDA, Tuberculose e Malária]] distribuiu 230 milhões de redes tratadas com inseticida destinadas a impedir a transmissão através da picada do mosquito.<ref name="Global Fund"/> A norte-americana Fundação Clinton tem trabalhado para gerir a procura e estabilizar preços no mercado da artemisinina.<ref name="WSJ 2008"/> Outros projetos, como o [[Projeto do Atlas da Malária]], estão focados na análise de dados climáticos e meteorológicos que permitam prever a propagação de malária com base na disponibilidade de habitats para os vectores de parasitas.<ref name="Guerra 2007"/>
 
A malária já foi erradicada ou bastante reduzida em determinadas regiões. A doença já foi comum nos Estados Unidos e na Europa do sul, mas as iniciativas de controlo de vectores em conjunto com a monitorização e tratamento de indivíduos infetados, proporcionaram a sua erradicação. Para tal contribuíram vários factores: a drenagem de terrenos alagados para agricultura, diversas alterações nas práticas de [[gestão de água|gestão de recursos hídricos]], generalização do saneamento e uso de janelas de vidro e redes mosquiteiras nas habitações.<ref name="Meade 2010"/> Os mesmos métodos permitiram erradicar a malária da maior parte dos Estados Unidos no início do {{séc|XX}}, restando apenas nalguns focos no Sul, tendo sido erradicada por completo na década de 1950 com recurso a [[DDT]].<ref name="Williams 1963"/> No [[Suriname]], a doença foi erradicada da capital e regiões costeiras em 1955 através de um programa que consistia em três medidas: controlo de vectores através do uso de DDT e vaporização residual; recolha regular de amostras de sangue da população para identificar casos da doença; e tratamento com [[quimioterapia]] para todos os infetados.<ref name="Breeveld 2012"/> O [[Butão]] tem implementada uma estratégia agressiva de erradicação, tendo conseguido entre 1994 e 2010 uma redução de 98,7% dos casos confirmados através de microscopia. Estas metas foram conseguidas com recurso a técnicas de controlo de vectores, como a vaporização residual em áreas de risco e através da distribuição de redes tratadas com pesticidas, auxiliadas pelo desenvolvimento econômicoeconómico e melhoria no acesso a serviços de saúde.<ref name="Yangzom 2012"/>
 
==Investigação==
[[Imagem:Histopathology of malaria exoerythrocytic forms in liver 07G0024 lores.jpg|thumb|[[Histopatologia]] de formas exoeritróciticas da malária no fígado.]]
A imunidade (ou, mais precisamente, a [[tolerância imunológica]]) à malária ''P.&nbsp;falciparum'' pode ocorrer naturalmente, mas apenas enquanto resposta a anos de infeções repetidas.<ref name="Tran 2012"/> Um indivíduo pode ser protegido contra uma infeção ''P.&nbsp;falciparum'' se receber cerca de mil picadas de mosquitos contaminados com uma versão não infectanteinfetiva do parasita, inoculada por [[raio X]].<ref name="Hill 2011"/> Não está ainda disponível qualquer vacina para a malária, embora estejam a ser desenvolvidas.<ref name="Geels 2011"/> A natureza extremamente [[Polimorfismo (biologia)|polimórfica]] de muitas das proteínas ''P.&nbsp;falciparum'' representa um desafio significativo para a criação de uma eventual vacina. Os candidatos a vacina que têm por alvo os antígenos nos gâmetas, zigotos ou oocinetos no sistema digestivo do mosquito pretendem bloquear a transmissão de malária. Estas vacinas induzem anticorpos no sangue humano; quando o mosquito se alimenta do sangue de um indivíduo inoculado, os anticorpos impedem o parasita de concluir o seu desenvolvimento no mosquito.<ref name="Cromptom 2010"/> Outros candidatos, que têm como alvo a fase sanguínea do ciclo de vida do parasita, têm-se mostrado inadequadas.<ref name="Graves 2006b"/> Por exemplo, a SPf66 foi amplamente testada em áreas endêmicasendémicas na década de 1990, mas os ensaios clínicos demonstraram não ser suficientemente eficaz.<ref name="Graves 2006"/> Estão em desenvolvimento potenciais vacinas que têm por alvo a fase pré-eritrócita do ciclo de vida do parasita, sendo a RTS,S a principal candidata;<ref name="Hill 2011"/> estando previsto o seu licenciamento em 2015.<ref name="Riley 2013"/> Está também a ser desenvolvida uma [[Vírus atenuado|vacina atenuada]] pré-eritrocíta denominada PfSPZ que usa esporozoítos completos para induzir uma resposta imune.<ref name="Hoffman 2010"/> Em 2006, a OMS delineou uma orientação ("Malaria Vaccine Technology Roadmap") em que um dos principais objetivos para 2015 é o "desenvolvimento e licenciamento de uma vacina de primeira geração contra a malária que tenha uma eficácia de proteção superior a 50% contra a forma grave da doença e a morte, e cuja duração seja superior a um ano."<ref name="Roadmap 2006"/>
 
Os parasitas de malária contêm [[apicoplasto]]s, [[organela]]s geralmente presentes nas plantas, completos com o seu próprio [[genoma]]. Pensa-se que estes apicoplastos se tenham formado a partir da [[endossimbiose]] de algas e desempenham um papel crucial em vários aspetos do metabolismo do parasita, como por exemplo na biossíntese de ácidos gordos. Foram identificadas mais de 400 proteínas produzidas pelos apicoplastos, e que estão agora a ser investigadas enquanto possíveis alvos de novos fármacos antimaláricos.<ref name="Kalanon 2010"/> O [[plasmodium]] também fabrica [[molécula]]s de odor atrativo, chamados [[terpeno]]s. Ele faz isso usando uma [[organela]] semelhante ao [[cloroplasto]], como aquele que as plantas usam para captar a luz solar. A versão do parasita da malária não pode capturar luz, mas ele ainda pode fabricar perfume.<ref>[http://mbio.asm.org/content/6/2/e00235-15.abstract Malaria Parasites Produce Volatile Mosquito Attractants] por Megan Kelly et al, estudo foi publicado na revista mBio </ref> Os parasitas, no laboratório, produzem esses perfumes e os mosquitos são atraídos por eles. Os cientistas estão tentando descobrir se essas substâncias químicas também aparecem na respiração dos seres humanos infectados. Se o fizerem, o objetivo dos cientistas é criar um [[bafômetro]] para a malária, em vez de o exame de sangue usado hoje.<ref>[http://www.scientificamerican.com/podcast/episode/malaria-parasite-attracts-mosquitoes-with-perfume/ Malaria Parasite Attracts Mosquitoes with Perfume] por Christopher Intagliata em 24-mar-2015 na revista "ScientificAmerican"</ref>
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Com o aparecimento de cada vez mais parasitas ''Plasmodium'' resistentes, estão a ser desenvolvidas novas estratégias para combater a disseminação da malária. Uma destas estratégias consiste na introdução de [[aduto]]s sintéticos de aminoácidos [[Piridoxal|piridoxais]], que são recolhidos pelo parasita e interferem com a sua capacidade de criar [[Complexo B|vitaminas B]] essenciais.<ref name="Müller 2010"/><ref name="Du 2011"/> Estão também a despertar interesse os fármacos antimaláricos à base de [[Composto de coordenação|complexos]] sintéticos de [[Química organometálica|base metálica]].<ref name="Biot 2012"/><ref name="Roux 2012"/>
 
Outra estratégia de controlo de vetores não química envolve a manipulação genética de mosquitos de malária. O progresso na tecnologia de [[engenharia genética]] tornou possível introduzir [[ADN|DNA]]&nbsp;externo no genoma do mosquito, diminuindo a sua esperança de vida ou tornando-o mais resistente ao parasita da malária.<ref name="Raghavendra 2011"/> A [[técnica do inseto estéril]] é um método de controlo genético pelo qual são criadas grandes quantidades de mosquitos machos estéreis, que depois são libertados. O acasalamento com fêmeas reduz a população em estado selvagem na geração seguinte, e a libertação sucessiva eventualmente erradica a população-alvo.<ref name="Raghavendra 2011"/>
 
Em 2017, dois pesquisadores da [[Universidade Stanford|Stanford]] criaram a [[Centrífuga#Tipos de centrífugas|centrífuga de papel]] que pode revolucionar como infecções como malária e [[HIV]] são detectadas nos [[país em desenvolvimento|países em desenvolvimento]]<ref>[http://www.mnn.com/green-tech/research-innovations/blogs/low-cost-paperfuge-may-one-day-save-countless-lives This low-cost paper centrifuge may one day save countless lives <small>Used to detect various blood infections, the 'paperfuge' can be made for less than 20 cents.</small>] por Michael D'Estries, publicado em [[Nature]] (2017)</ref>.
 
==Em animais==
Estão identificadas cerca de 200 espécies parasíticas de ''Plasmodium'' capazes de infetar aves, répteis e outros mamíferos,<ref name="Rich 2006"/> e cerca de 30 espécies que infetam naturalmente outros primatas para além do ser humano.<ref name="Baird 2009"/> Alguns dos parasitas de malária que afetam outros primatas funcionam como [[organismo modelo|organismos modelo]] para os parasitas humanos; por exemplo o ''[[Plasmodium coatneyi|P.&nbsp;coatneyi]]'' é um modelo para o ''P.&nbsp;falciparum'' e o ''[[Plasmodium cynomolgi|P.&nbsp;cynomolgi]]'' para o ''P.&nbsp;vivax''. As técnicas de diagnóstico usadas para detectar parasitas em primatas são semelhantes às usadas para detectar em humanos.<ref name="Ameri 2010"/> Os parasitas de malária que afetam roedores são amplamente usados como modelos na investigação, como por exemplo o ''[[Plasmodium berghei|P.&nbsp;berghei]]''.<ref name="Mlambo 2008"/>A [[malária aviária]] afeta principalmente as espécies da ordem dos [[Passeriformes]], e constitui uma ameaça significativa para as aves de [[arquipélagos]] como as [[Galápagos]] ou o [[Havai]]. Sabe-se, por exemplo, que o parasita ''[[Plasmodium relictum|P.&nbsp;relictum]]'' desempenha um papel na limitação da distribuição e abundância das aves endêmicasendémicas do HavaíHavai. Prevê-se que o [[aquecimento global]] aumente a prevalência e distribuição mundial da malária aviária, à medida que a subida da temperatura proporciona condições ótimas para a reprodução do parasita.<ref name="LaPointe 2012"/>
 
{{Referências|colwidth=30em|refs=