Cruzada Albigense: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Cathédrale Sainte-Cecile Albi.JPG|right|thumb|Catedral de [[Albi (França)|Albi]], localidade francesa que deu nome ao movimento religioso combatida pela força pela Igreja Católica.]]
A '''Cruzada Albigense''' (denominação derivada de [[Albi (Tarn)|Albi]], cidade situada ao sudoeste da [[França]]), também conhecida como '''Cruzada Cátara''' ou '''Cruzada contra os Cátaros''', foi um conflito armado ocorrido em 1209 e 1244, por iniciativa do [[papa Inocêncio III]] com o apoio da [[dinastia capetiana]] (reis da França na época), com o fim de reduzir pela força o [[catarismo]], um movimento religioso qualificado como [[heresia]] pela [[Igreja Católica]] e assentado desde o {{séc|XII}} nos territórios feudais do [[Languedoque]]; favoreceu a expansão para sul das posses da monarquia capetiana e os seus vassalos.
A guerra, que se desenvolveu em várias fases, começou com o confronto entre os exércitos de cruzados súditos do rei [[Filipe II de França|Filipe Augusto da França]] com as forças dos [[Condado de Tolosa|condes de Tolosa]] e vassalos, provocando a intervenção da [[Coroa de Aragão]], que culminou na [[batalha de Muret]]. Numa segunda etapa, na qual inicialmente os tolosanos atingiram certos sucessos, a intervenção de Filipe Augusto decidiu a submissão do Condado, ratificada pelo [[Tratado de Paris (1229)|Tratado de Paris]]. Numa prolongada fase final, as operações militares e as atividades da recém criada [[Inquisição]] focaram-se na supressão dos focos de resistência cátara que, desprovidos dos seus apoios políticos, terminaram por ser reduzidos. A guerra teve episódios de grande violência, provocou a decadência do movimento religioso cátaro, o ocaso da até então florescente cultura languedociana e a formação de um novo espaço geopolítico na Europa ocidental.
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Pouco a pouco, os métodos de Diego de Acebes e Domingos de Gusmão conseguiam os seus efeitos, convertendo crentes cátaros e até mesmo alguns Perfeitos. Diego regressou para Osma e Domingos de Gusmão escolheu então como companheiro a Guillem Claret, clérigo de [[Pamiers]], com o que se instalou em [[Fanjeaux]], no centro da região, onde converteu um grupo de Perfeitas e mulheres crentes cátaras, que instalou no [[Mosteiro de Prouilhe]], perto de Fanjeaux, tornando-se num centro educacional e hospitalar de garotas, a semelhança das "Casas das Perfeitas".
===O insucesso das missões e o ''casus belli''===
[[Imagem:Berruguete ordeal.jpg|upright|thumb|''Auto de Fé de Santo Domingos de Gusmão'', obra do pintor renascentista [[Pedro Berruguete]], exibido no [[Museu do Prado]], reproduz um cena da obra fracassada de conversão dos cátaros encarregue a Domingos de Gusmão.]]
Os sucessos de Domingos de Gusmão dão ao manifesto a eficácia dos seus métodos, mas tratava-se de uma pregação longa e difícil que exigia modéstia e paciência, Domingos de Gusmão parecia adaptado a esta situação mas não assim os [[cistercienses]] que aguardavam uma conversão massiva e entusiasta e, em lugar disso, tinham de ir de povoação em povoação enfrentando os contra-pregadores cátaros que ocasionalmente conheciam o Evangelho melhor que os seus próprios clérigos. Para eles, a campanha de 1207 era um insucesso.
Neste clima, com a heresia em pleno auge e a crescente humilhação da Igreja Romana frente da passividade e conivência dos senhores occitanos, somente faltava uma chispa que servisse de argumento a Inocêncio III para tomar as armas. Esta ocorreu na Primavera de 1208 com o assassinato em [[Saint-Gilles (Gard)|Saint-Gilles]] do legado papal [[Pedro de Castelnou]] (atribuído segundo as crônicas a uma ordem do conde tolosano Raimundo VI). O papa pronunciou um [[anátema]] contra o conde tolosano e declarou as suas terras "entregues como presa". Isto equivalia a uma chamada direta a [[Filipe II Augusto]], rei da França, bem como a todos os condes, barões e cavaleiros do seu reino para acudir à Cruzada.
==Desenvolvimento da Cruzada==
O desenvolvimento desta ''Guerra Santa'' ou [[Cruzadas|cruzada]] é com frequência relatado pela [[historiografia]] em três fases diferenciadas: uma primeira etapa, a partir de [[1209]] e que se destacou por episódios de grande violência como o da matança de [[Béziers]], enfrentou as forças reunidas por [[feudalismo|senhores vassalos]] dos Capetos provenientes nomeadamente de [[ilha de França]] e do [[Nord (departamento)|Norte]], comandadas por [[Simão de MontfortMonforte]], com parte da nobreza tolosana encabeçada pelo conde [[Raimundo VI de Toulouse]] e a família [[Trencavel]] que, sendo aliados e vassalos do rei de [[Condado de Aragão|Aragão]] [[Pedro II de Aragão|Pedro II ''o Católico'']], invocaram à participação direta no conflito do monarca aragonês, que resultou derrotado e morto no curso da batalha de Muret em 1213.
Numa segunda fase, a morte de Simão de Montfort no sítio a Toulouse após o retorno do conde [[Raimundo VII de Toulouse]] e a consolidação da resistência occitana apoiada pelo [[conde de Foix]] e forças aragonesas, decidiram a intervenção militar de [[Luís VIII de França]] a partir de 1226 com o apoio do [[Papa Honório III]] que culminou no [[Tratado de Paris (1229)|Tratado de Meaux-Paris]] de 1229, no qual foi pactuada a integração do território occitano na coroa francesa.
Numa terceira e última etapa os abusos da [[Inquisição]] provocaram numerosas revoltas e sublevações urbanas e decidiu uma última tentativa de Raimundo VII à que teve de renunciar apesar do apoio da [[Reino de Inglaterra|coroa inglesa]] e dos [[Lusignan|condes de Lusignan]], terminando com a tomada das últimas fortificações de [[Castelo de Montségur|Montsegur]] e de [[Castelo de Quéribus|Queribus]] em [[1244]].
===O assassinato de Castelnau e chamada a cruzada===
[[Imagem:Carcassonne-vignes.jpg|esquerda|thumb|Cidade murada de Carcassonne, ''La Cité'', posse da família Trencavel, sitiada pelas forças cruzadas em agosto de 1209, durante a cruzada albigense.]]
Em 1207, enquanto Domingos e os outros cistercienses pregavam, o legado papal [[Pierre de Castelnau]] tomou a iniciativa de expor um acordo geral de paz a todos os condes e senhores do [[Languedoque]]. Pedia que se comprometessem a não empregar judeus na sua administração (para evitar empréstimos que não fossem eclesiásticos), devolver o dinheiro não pago às igrejas em conceito de tributo, não contratar salteadores e, sobretudo, perseguir os hereges [[cátaros]].
Ao conde [[Raimundo VI de Toulouse]] era impossível aceitar estas condições sem quebrantar os fundamentos do seu poder, de modo que se negou. Foi excomungado por isso a 29 de maio de 1207. Decidiu então emprestar juramento e foi-lhe levantada a excomunhão. Mas, evidentemente, não pôde efetuar as petições e foi excomungado de novo numa reunião em [[Saint-Gilles (Gard)|Saint-Gilles]].
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==Consequências==
A primeira e evidente consequência da cruzada aconteceu no plano religioso. O movimento cátaro, ainda sem parar de ser minoritário e pese ter sido perseguido em outras partes da Europa, atingiria ao longo o {{séc|XII}} uma influência crescente na sociedade do [[Languedoque]], incrementando o seu número de fiéis, particularmente entre os membros da nobreza. Como consequência da guerra e da repressão posterior, o movimento foi desorganizado e entrou em decadência; embora conseguisse sobreviver em áreas periféricas do reino de Aragão e da Bósnia, a sua influência acabou desaparecendo de [[Europa Ocidental]] em princípios do {{séc|XIV}} (definitivamente com a conquista turca da [[Bósnia]]). A Igreja Romana consolidou assim a sua posição hegemônica antes que a ameaça herética se estendesse por toda a sociedade languedociana ou a outros territórios. Além disso, no curso do conflito nasceram dois instrumentos que seriam fundamentais para a Igreja nos séculos seguintes: a [[Inquisição]] e a [[Ordem dos Irmãos Pregadores]].
[[Imagem:Capitole Toulouse - Salle des Illustres.jpg|thumb|Galeria dos ilustres do [[Capitólio de Toulouse]], onde alguns afrescos representam cenas da Cruzada.]]
No plano político houve dois: o fim da expansão aragonesa a norte dos [[Pirenéus]] e o desaparecimento do Condado de Toulouse.
Os aragoneses sofreram uma dupla derrota, militar na batalha de Muret, e estratégica com o desaparecimento de territórios que lhes rendiam vassalagem. Até aquele momento, Toulouse, Carcassonne, Foix, Provença ou Comminges, embora teóricos vassalos do rei da França, levavam décadas agindo com independência da ilha de França, e em 1213 declararam-se súbditos aragoneses. Após a cruzada albigense, quase todos estes territórios voltaram para a órbita francesa, ficando só como posses da coroa aragonesa o [[senhorio de Montpellier]] (até 1349) e os condados do [[Condado do Rossilhão|Rossilhão]] e a [[Condado de Cerdanha|Cerdanha]]. Este declínio na sua expansão para norte, unido à limitação nos seus avanços para sul ([[Sentença Arbitral de Torrellas]] e [[Tratado de Elche]]) seria uma das causas de a monarquia aragonesa se devotar na sua expansão pelo [[Mediterrâneo]] nos séculos seguintes.