Conspiração dos Pazzi: diferenças entre revisões

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A '''Conspiração dos Pazzi''' (em [[língua italiana|italiano]] ''Congiura dei Pazzi'') foi uma tentativa dessa família de banqueiros [[Florença|florentinos]], chefiada por [[GiacomoJacopo Pazzi]], de tomar o poder à [[família Médici]], na época, em poder dos irmãoirmãos [[Juliano de Médici|Juliano]] e [[Lourenço de Médici]]. Ocorrida em [[26 de abril]] de [[1478]] na catedral da cidade, nela morreu [[Juliano de Médici]]. Lourenço, porém, conseguiu-se salvar, escondendo-se na sacristia da catedral.
 
Existe a possibilidade de que tenha sido arquitetada com a ajuda do papa [[Sisto IV]], do [[Ducado de Urbino|duque de Urbino]] e do arcebispo de [[Pisa]]. Sendo mal sucedida, acarretou em violenta represália por parte de Lourenço de Médici. O arcebispo foi enforcado numa das janelas do [[Palazzo Vecchio]], enquanto a multidão agarrou os outros conspiradores e os trucidaram, esquartejando-os. O papa não se deu por vencido, pois era apoiado por [[Fernando I de Nápoles|Fernando I]], [[Reino de Nápoles|rei de Nápoles]]. Lourenço, porém, foi pessoalmente a [[Nápoles]] e convenceu Fernando a apoiá-lo, encerrando assim, a conspiração.
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== Precedentes ==
[[Ficheiro:Giuliano de' Medici by Sandro Botticelli.jpeg|left|thumb|''Ritratto di Giuliano de' Medici''<br><small>Por [[Sandro Botticelli]], [[Galeria Nacional de Arte]]</small>]]
Desde 1469, Florença era governada pelos filhos de [[Pedro de Médici]] (que morreu naquele ano), Lourenço e Juliano de Médici, dando continuidade ao domínio político e financeiro da [[Casa dos Médici|família Médici]] sobre a cidade, que vinha a ser consolidado desde a fundação do banco da família em 1397.<ref>{{Citar web|url=http://www.themedicifamily.com/The-Medici-Bank.html|titulo=The Medici Bank - The Medici Family|acessodata=2018-11-07|obra=www.themedicifamily.com}}</ref> No entanto, o banco encontrou uma concorrência feroz por parte da ambiciosa e rica família Pazzi que procurou usurpar os Médici e tomar o controlo da cidade para si própria.<ref name=":0">{{Citar web|url=https://www.encyclopedia.com/history/modern-europe/italian-history/pazzi-conspiracy|titulo=Pazzi Conspiracy {{!}} Encyclopedia.com|acessodata=2018-11-07|obra=www.encyclopedia.com|lingua=en}}</ref>
Em 1469 a cidade era governada pelos filhos de [[Pedro de Médici|Piero]] (que morreu naquele ano), Lourenzo e Giuliano,que tinham 20 e 16 anos respectivamente. Lorenzo seguiu a estratégia política de seu avô [[Cosme de Médici|Cosimo]], ou seja, sem se meter diretamente, mas controlando todos os juízes e pontos-chaves por meio de intermediários. Não é claro se a ideia da conspiração nasceu em Florença com a própria família Pazzi, ou em Roma, na mente de um grande aliado,o papa Sisto IV. Em todo caso a ideia de eliminar os governantes envolveu uma série de pessoas desfavoráveis a conspiração em si.
 
Francesco della Rovere, que vinha de uma família pobre de [[Ligúria]] foi eleito papa em 1471. Como [[Papa Sisto IV|Sisto IV]], tornou-se rico e poderoso e um nepotista desenfreado que procurou dar poder e riqueza aos seus sobrinhos das famílias della Rovere e Riario. Poucos meses depois de ter assumido o papado, Sisto IV fez de Giuliano della Rovere (o futuro papa [[Papa Júlio II|Júlio II]]) e Pietro Ricario cardeais e bispos. Quatro dos seus sobrinhos também foram ordenados cardeais.<ref name=":1">Vincent Cronin (1992 [1967]). ''The Florentine Renaissance''. London: Pimlico. <nowiki>ISBN 0712698744</nowiki>.</ref> O papa fez ainda de Giovanni della Rovere, que não era padre, perfeito de Roma e arranjou-lhe um casamento que o integrou na família de Montefeltro, os duques de Urbino.
Com a eleição de Sisto IV Della Rovere (1471) para o papado, o novo papa, desenfreado nepotista,tinha manifestado interesse em assumir o controle dos territórios florentinos para seus netos, entre eles [[Girolamo Riario]], nobre responsável por trabalhos em Roma, como o embelezamento e reorganização da biblioteca do Vaticano. Ele também via desfavoravelmente as ambições expansionistas dos [[Casa de Médici|Médici]] na região da [[Romanha]].
 
O papa já tinha manifestado sua oposição aos Médici, negando-lhes as finanças papais a favor dos Pazzi. AlegaramOs Pazzi alegaram para LorenzoLourenço o Magnifico que essa mudança de preferência foi por mérito, e não por impropriedades de negócios, mas Lourenço apenas esperou o momento certo para se vingar. Cuidar das finanças papais dava um enorme prestígio e riqueza, tanto pelas comissões pelas movimentações, quanto pela exploração das minas de alúmen em [[Monte Della Toffa]], no território papal em [[Civitavecchia]], as únicas conhecidas, garantindo o monopólio desse insubstituível fixador de tintura em tecidos e tintas.
 
Em seguida, os Pazzi e o Papa fizeram essa aliança em Roma, mas mesmo assim a ideia da conspiração ainda não tinha se manifestado pois, embora rivais, as duas famílias florentinas ficaram próximas após o casamento de [[Guilherme de Pazzi|Guglielmo de Pazzi]] e [[Bianca de Médici]], irmã de Lorenzo, em 1469.
 
[[Ficheiro:Lorenzo de' Medici-ritratto.jpg|thumb|''[[Lourenço de Médici]]''<br><small>Por [[Girolamo Macchietti]]</small>]]
A faísca que acendeu a ideia pode ter vindo da questão de herança de [[Beatriz Borromei|Beatrice Borromei]], mulher de [[Giovanni de Pazzi]]. Em 1477, quando seu pai, o rico Giovanni Borromei, morreu, LorenzoLourenço promulgou uma lei retroativa que proibia as filhas de receberem a herança na ausência de irmãos vivos, passando-a diretamente para qualquer primo. Assim LorenzoLourenço evitou um crescimento do patrimônio dos Pazzi.
 
O abismo entre as duas famílias se abriu rapidamente, até mesmo quandoapós LorenzoLourenço repreendeurepreender os Pazzi por emprestaremprestarem 30 mil ducados ao papa para que seu sobrinho, Girolamo Riario, se apossasse do [[Ímola|Condado de Imola]], com o objetivo de estabelecer um novo estado papal na zona.<ref name=":1" /> O condado ficava perigosamente perto do território florentino, mesmo quandoe os Médici se negaram e pediram que nenhum banco florentino emprestasse dinheiro para a concretização da venda.
 
A compra foi financiada pelo banco dos Pazzi, apesar de Francesco de Pazzi ter prometido a Lourenço que eles não iriam ajudar o papa. Como recompensa, Sisto IV concedeu aos Pazzi direitos lucrativos de gestão de lucros do papado. Sisto IV nomeou o seu sobrinho Riario governador de Imola e Francesco Salviati arcebispo de [[Pisa]], uma cidade que fora rival comercial de Florença, mas que agora estava sob o seu comando. Lourenço tinha-se recusado a permitir a entrada de Salviati em Pisa devido ao desafio que essa posição eclesiástica criava ao seu próprio governo em Florença.
Foi provavelmente nessa época (c. 1477) que começou a conspiração,sobretudo as partes de Jacopo e Francesco d'Pazzi. Juntaram-se a [[Francesco Salviati (Arcebispo)|Francesco Salviati]],Arcebispo de Pisa, em conflito com os Médici, que haviam conspirado para não lhe dar a posição de Arcebispo.O comando das tropas em Florença dependeria de [[Girolamo Riario]].
 
Foi provavelmente nessa época (c. 1477) que começou a conspiração, sobretudo por parte de Jacopo e Francesco d'Pazzi. Estes juntaram-se a [[Francesco Salviati (Arcebispo)|Francesco Salviati]], em conflito com os Médici desde que haviam conspirado para não lhe dar a posição de Arcebispo. O comando das tropas em Florença dependeria de [[Girolamo Riario]]. O grupo procurou o apoio do papa Sisto, que o forneceu. Este declarou de forma cuidadosa que o seu santo ofício não podia caucionar o assassinato, mas tornou claro que seria um grande benefício para o papado que os Médici fossem retirados da sua posição de poder em Florença e que seria compassivo com quem o fizesse. Sisto deu instruções ao grupo para fazer o que achasse necessário para atingir esse objetivo e que lhes daria todo o apoio que precisassem.<ref name=":1" />
O papa tinha que encontrar outros financiadores externos:a República de Siena, o rei de Nápoles, assim como tropas enviadas pelas cidades de Todi, Città di Castello, [[Perugia]] e [[Imola]] (todas em território papal). O pontífice pediu para evitarem derramamento de sangue,mas essa sugestão foi ignorada pelos conspiradores: os dois Médici tinham que ser eliminados de vez. O braço dessa ação, visto como responsável pelos assassinatos ou por meio de estratagemas ou de próprio punho, era de responsabilidade de Giovan Battista Montesecco,um assassino profissional.
 
O papa tinha que encontrar outros financiadores externos: a República de Siena, o rei de Nápoles, assim como tropas enviadas pelas cidades de Todi, Città di Castello, [[Perugia]] e [[Imola]] (todas em território papal). O pontífice pediu para evitarem derramamento de sangue, mas essa sugestão foi ignorada pelos conspiradores: os dois Médici tinham que ser eliminados de vez. O braço dessa ação, visto como responsável pelos assassinatos ou por meio de estratagemas ou de próprio punho, era de responsabilidade de Giovan Battista Montesecco, um assassino profissional.
Recentemente, foi descoberto pelo professor Marcello Simonetta uma carta criptografada, mostrando o envolvimento crítico de Federico de Montefelto, Duque de Urbino, na conspiração, mesmo sem Lourenço ter tido suspeitas sobre ele.
 
Recentemente, foi descoberto pelo professor Marcello Simonetta uma carta criptografada, mostrando o envolvimento crítico de Federico de Montefelto, Duque de Urbino, na conspiração, mesmo sem Lourenço ter tido suspeitas sobre ele.<ref>Marcello Simonetta, ''The Montefeltro Conspiracy: A Renaissance Mystery Decoded'', Doubleday (2008) ISBN 0385524684</ref> O duque prometeu levar uma companhia de seiscentos homens a Florença para apoiar os Pazzi.<ref name=":0" />
== Sábado, 25 de abril de 1478 ==
 
Originalmente, o plano era matar os dois Médici, Lourenço e Giuliano, durante um jantar organizado por eles na Villa Médici di Filesole em 25 de abril, por meio do envenenamento de Jacopo d'Pazzi e Girolamo Riario dos vinhos servidos aos irmãos.
== Ataque ==
 
=== Sábado, 25 de abril de 1478 ===
Originalmente, oO plano eraoriginal consistia em matar os dois Médici, Lourenço e GiulianoJuliano, durante um jantar organizado por eles na Villa Médici di Filesole em 25 de abril, por meio do envenenamento de Jacopo d'Pazzi e Girolamo Riario dos vinhos servidos aos irmãos.
 
O motivo do banquete era a eleição, com 18 anos de idade, de Raffaele Riario como cardeal, que ignorava a trama dos conspiradores (talvez notificado pelo seu tio, o papa [[Papa Sisto IV|Sisto IV]]). Os Pazzi haviam se tornado parentes dos Médici recentemente,por meio do matrimônio da irmã de Lourenço e Giuliano, Bianca d'Médici com Guglielmo d'Pazzi. Mas por causa de uma indisposição de Giuliano, a tentativa teve que ser adiada para o dia seguinte, durante a missa em Santa Maria del Fiore.
 
=== Domingo, 26 de abril de 1478 ===
No domingo, o cardeal Riario Sansoni convidou todos para a missa presidida por ele em agradecimento à festa de homenagem da noite anterior, sem suspeitar de nada. Compareceram à missa os Médici e os conspiradores, com exceção de Montesecco, que se recusou a continuar a conspiração em local sagrado. Foram então recrutados às pressas dois padres do local: [[Stephano da Bagnone]] e o vigário apostólico [[António Maffei|Antonio Maffei de Volterra]].
 
Com GiulianoJuliano ainda doente, Bernardo Bandini (o assassino contratado para matá-lo) e Francesco de Pazzi decidiram buscá-lo pessoalmente. No caminho do [[Palazzo Medici Riccardi|Palazzo Médici]] a [[Santa Maria del Fiore]], o historiador {{qual}} recorda que um dos conspiradores abraçou Giuliano para ver se usava uma cota de malha sob a roupa, mas por causa de uma infecção numa das pernas ele estava sem a habitual camisa sob a roupa, e estava sem seu ''gentile'', o apelido que dava à adaga de guerra, que prendeu na perna ferida. Quando chegaram, a missa já havia começado.
 
No momento solenede elevação da missahóstia, enquanto todos estavam de joelhos, foi consumada a conspiração:. enquantoJuliano Giulianofoi caíaapunhalado numa19 poçavezes por Bernardo Bandini e Francesco de sanguePazzi e, sobenquanto oscaía golpesnuma poça de Bandinisangue, Lourenço, acompanhado pelo inseparável Angelo Poliziano e seus escudeiros, André e Lourenço Cavalcanti, mesmo ferido conseguiu entrar na sacristia e fechar as pesadas portas.
 
A conspiração terminou assim que a população comprovou que Lourenço de Medici tinha sobrevivido.
 
== Consequências ==
[[Ficheiro:Leonardo da Vinci - Hanging of Bernardo Baroncelli 1479.jpg|miniaturadaimagem]]
A maioria dos conspiradores foi apanhada pouco depois do ataque e sumariamente executada: incluindo Francesco de Pazzi e Salviatti, que foram enforcados nas janelas do [[Palazzo Vecchio|Palazzo della Signoria]]. Jacopo de Pazzi conseguiu fugir de Florença, mas foi apanhado e levado de volta. Ele foi torturado e depois enforcado nas janelas do Palazzo della Signoria, ao lado do corpo em decomposição de Salviati. Jacopo foi enterrado em [[Santa Croce alla Lungara|Santa Croe]], mas o seu corpo foi desenterrado e atirado para uma valeta. Depois, foi arrastado pelas ruas e pendurado na porta do palácio dos Pazzi, onde a sua cabeça em deposição foi usada de forma satírica como aldraba. De seguida, a cabeça foi lançada ao rio Arno, a partir de onde algumas crianças a pescaram e foram pendurá-la a uma árvore, onde a chicotearam. Depois, voltaram a lançá-la ao rio.
 
Apesar de Lourenço ter apelado à população para não exercer justiça sumária, muitos dos conspiradores, assim como muitas pessoas acusadas de serem conspiradores, foram assassinados. Lourenço conseguiu salvar o sobrinho de Sisto IV, o cardinal [[Raffaele Riario]], que estava quase certamente inocente, e ainda dois familiares dos conspiradores. Os principais conspiradores foram perseguidos por toda a Itália. Entre 26 de abril, o dia do ataque, e 20 de outubro de 1478, um total de oito pessoas foram executadas. Bandini dei Baroncelli, que tinha conseguido fugir para Constantinopla, foi detido e enviado de volta para Florença pelo sultão. Baroncelli foi enforcado ainda vestido com trajes turcos de uma janela do Palazzo del Capitano del Popolo em 29 de dezembro de 1479. Houve ainda mais três execuções em 6 de junho de 1481.
 
Os Pazzi foram expulsos de Florença e as suas terras e propriedade confiscadas. O seu nome e brasão foram suprimidos de forma perpétua. O nome foi apagado de registos públicos e de todos os edifícios e ruas que o tinham. O seu escudo com golfinhos foi retirado de todo o lado. Qualquer pessoa com o nome de Pazzi teve de escolher um novo nome e qualquer pessoa casada com um Pazzi foi impedida de exercer cargos públicos. Guglielmo de' Pazzi, o marido da irmã de Lourenço, Bianca, ficou sob prisão domiciliária e mais tarde foi impedido de entrar na cidade. Ele foi viver para Torre a Decima, perto de [[Pontassieve]].
 
O papa Sisto IV colocou Florença sob Interdito, proibindo missas e comunhões, em consequência da execução do arcebispo Salviati. Sisto ordenou ao rei de Nápoles, Fernando I, que atacasse Florença. Sem a ajuda dos aliados tradicionais de Florença, Bolonha e Milão, Lourenço tinha pouca esperança numa vitória, pelo que se viu forçado a seguir um curso pouco ortodoxo: viajou para Nápoles e entregou-se ao rei, ficando preso durante três meses. A coragem e carisma de Lourenço convenceram o rei de Nápoles a apoiar as tentativas de paz de Lourenço e a interceder junto de Sisto IV, apesar de não ter tido grande sucesso.
 
Os acontecimentos da Conspitação dos Pazzi afetaram os desenvolvimentos do regime dos Médici de duas formas: convenceram os apoiantes dos Médici de que era necessária uma maior concentração do poder político e reforçaram o poder de Lourenço, que já tinha demonstrado a sua aptidão ímpar para conduzir os negócios estrangeiros da cidade.
 
Com uma nova motivação, os Médici continuaram com as suas reformas.
 
O derrube de [[Pedro de Médici|Piero de Médici]] em 1494, levou a que a família Pazzi e muitos outros exilados políticos regressassem a Florença e participassem no governo popular.
No momento solene da missa,enquanto todos estavam de joelhos,foi consumada a conspiração: enquanto Giuliano caía numa poça de sangue, sob os golpes de Bandini, Lourenço, acompanhado pelo inseparável Angelo Poliziano e seus escudeiros, André e Lourenço Cavalcanti, mesmo ferido conseguiu entrar na sacristia e fechar as pesadas portas.
 
==Bibliografia==