Lexicografia: diferenças entre revisões

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A '''Lexicografia''' é área de estudos do léxico que se dedica a organização do repertório lexical existente em uma língua<ref name=":0">ZAVAGLIA, Cláudia. Metodologia em ciências da linguagem: lexicografia. In: GOÍS, Marcos Lúcio de Sousa; GONÇALVES, Adair Vieira. (Org.) Ciências da linguagem: o fazer científico? Campinas: Mercado das Letras, 2011, p. 231-263, v.1. </ref>, sendo então a responsável pela produção de dicionários, vocabulários e glossários. Por ser o léxico "um saber partilhado que existe na consciência dos falantes de uma língua"<ref>ISQUERDO, Aparecida Negri; OLIVEIRA, Ana Maria Pinto Pires de. Apresentação. In: ISQUERDO, Aparecida Negri; OLIVEIRA, Ana Maria Pinto Pires de. (Org.) As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. 2. ed. Campo Grande: EDUFMS, 2001, p. 9-11, v.1. </ref>, é possível afirmar que tal área de estudos tem como uma das principais características a interdisciplinaridade. Entre as áreas de trabalho em conjunto pode-se citar como exemplos a [[Semântica]] – área de estudos que em muito dialoga com os estudos lexicais, tendo em vista os seus estudos relativos ao significado –, a [[Etimologia]], a [[Terminologia]] e a [[Filologia]] – visto ser o texto escrito a principal fonte de trabalho para os estudos lexicais –, etc.
== As produções lexicográficas ==
A Lexicografia não se faz apenas de dicionários, apesar destes serem os mais famosos entre as suas produções. Os estudos lexicográficos também podem vir a produzir vocabulários e glossários. Apesar de por muitas vezes os três termos serem considerados (e empregados) como sinônimos, um dicionário, um vocabulário e um glossário, apesar de próximos, tem objetivos e funções distintas.
 
Entende-se por glossário a reunião de palavras de um texto consideradas raras ou difíceis. As entradas são curtas e podem ser apresentadas sob a forma de um a tradução<ref name=":0" /><ref name=":1">DUBOIS, Jean et al. Dicionário de linguística. Tradução Frederico Pessoa de Barros et al. 2. ed. São Paulo, Cultrix, 2014 [1978]. </ref>. O vocabulário, vem a ser o conjunto dos vocábulos empregados por uma sociedade/um autor, dentro de uma determinada temática,  em um dado espaço físico e temporal<ref>{{citar periódico|ultimo=VilelaVILELA|primeiro=Mário|data=agosto de 1997|titulo=O léxico do português: perspectivação geral|url=http://www.revistas.usp.br/flp/article/view/59644/62740|jornal=Filologia e Linguística Portuguesa|acessodata=15 de novembro de 2018}}</ref>. Os dicionários se dão sob a forma de uma organização de itens lexicais de uma língua considerando aspectos como a pronúncia, a etimologia, a categoria gramatical, etc<ref name=":1" />. Com uma produção extensa, os dicionários podem se apresentar sob diversos formatos, suportes, possuindo objetivos diversos: dicionários bilíngues ou monolíngues, dicionários escolares (para fins de ensino, que atualmente se insere na chamada lexicografia pedagógica), dicionários de termos técnicos (relacionados a uma área de conhecimento especifica, trabalho realizado dialogando diretamente com outra área de estudos do léxico, a [[Terminologia]].) etc.  Tal produção pode ser feita sob uma perspectiva onomasiológica (parte do conceito, para o item lexical) ou semasiológico (que parte do item lexical para o conceito)<ref name=":1" />.
 
== A lexicografia ocidental: da Antiguidade ao início da Idade Moderna ==
O interesse em inventariar as unidades lexicais de uma língua está presente desde a Antiguidade, tendo o ''[[Appendix Probi]]'' como um exemplo para tal período. Porém, tal prática de organização encontra-se distante do que se entende atualmente como Lexicografia. Segundo Biderman (1984)<ref name=":2">{{citar periódico|ultimo=BIDERMAN|primeiro=Maria Teresa Camargo|data=1984|titulo=A ciência da lexicografia|url=Alfa: Revista de Linguística|jornal=https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/3676|acessodata=15 de novembro de 2018}}</ref> os “precursores do moderno lexicógrafo eram, na verdade, filólogos ou gramáticos, preocupados com a compreensão de textos literários anteriores, ou com a correção de "erros" lingüísticos. Os filólogos alexandrinos, p.ex., buscaram elaborar léxicos e glossários sobre os textos homéricos para a sua melhor compreensão.”.
 
Durante a Idade Média, tal interesse pela organização do léxico se manteve existente.  Ainda que não se possa enquadrá-las dentro do fazer lexicográfico como este é compreendido atualmente, pode-se citar como exemplo as [[Reicheneau|glosas de Reicheneau]] (datada do século VIII) que vem a ser "listas de palavras tiradas da ''Vulgata'' (versão latina da bíblia) de difícil compreensão para a época do autor, traduzidas no vernáculo românico da região<ref name=":2" />". Diante disso, pode-se entender então que tais repertórios lexicais visavam um apoio a leitura de textos específicos datados de épocas pretéritas.
 
O fazer lexicográfico como se conhece atualmente tem suas origens ainda no século XVI. Os primeiros dicionários modernos eram bilíngues, em geral fazendo uso do latim – língua que, de modo geral, regia a justiça e a administração governamental – e da língua empregada em cada nova nação moderna. Foi assim com o dicionário ''Latino Español'' (1492), de autoria de [[Antonio de Nebrija|Antônio de Nebrija]], e com o ''Dictionnaire françois-latin'' (1584), de autoria de [[Jean Nicot]]. Tais dicionários apresentam as primeiras tentativas de uma normatização linguística<ref name=":2" />