Dialogismo: diferenças entre revisões

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'''Dialogismo''' ou “relações"relações dialógicas"<ref>{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/817220864|título=Estetica da criação verbal|ultimo=Mikhailovitch)|primeiro=Bakhtin, M. M. 1895-1975 (Mikhail|data=2010|editora=Martins Fontes|isbn=9788578272609|oclc=817220864}}</ref> é o princípio unificador da obra de Mikhail [[Mikhail Bakhtin|Bakhtin]]. Para esse filósofo russo, essas relações dialógicas são relações entre índices sociais de valores que constituem o [[enunciado]] o qual é compreendido como unidade da interação social. (FARACO, 2009, p.66). O sujeito social, ao se deparar com outros enunciados, interage com os discursos num [[ato responsivo]], concordando ou discordando, complementando e se construindo na interação. Portanto, a língua tem a propriedade de ser dialógica e os [[enunciados]] são proferidos por vozes, pois o discurso de alguém se encontra com o discurso de outrem, participando, assim, de uma interação viva. Mesmo num monólogo, há dialogismo, pois nesse ato, aparentemente individual, há vozes que dialogam. Portanto, o dialogismo não se restringe ao diálogo face a face, mas a todo enunciado no processo de comunicação manifestado em diferentes dimensões.
 
== 1. Como se dá o dialogismo ==
'''Dialogismo''' ou “relações dialógicas<ref>{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/817220864|título=Estetica da criação verbal|ultimo=Mikhailovitch)|primeiro=Bakhtin, M. M. 1895-1975 (Mikhail|data=2010|editora=Martins Fontes|isbn=9788578272609|oclc=817220864}}</ref>” é o princípio unificador da obra de Mikhail [[Mikhail Bakhtin|Bakhtin]]. Para esse filósofo russo, essas relações dialógicas são relações entre índices sociais de valores que constituem o [[enunciado]] o qual é compreendido como unidade da interação social. (FARACO, 2009, p.66). O sujeito social, ao se deparar com outros enunciados, interage com os discursos num [[ato responsivo]], concordando ou discordando, complementando e se construindo na interação. Portanto, a língua tem a propriedade de ser dialógica e os [[enunciados]] são proferidos por vozes, pois o discurso de alguém se encontra com o discurso de outrem, participando, assim, de uma interação viva. Mesmo num monólogo, há dialogismo, pois nesse ato, aparentemente individual, há vozes que dialogam. Portanto, o dialogismo não se restringe ao diálogo face a face, mas a todo enunciado no processo de comunicação manifestado em diferentes dimensões.
 
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== 1. Como se dá o dialogismo ==
 
Para que ocorram as relações dialógicas, é preciso que qualquer material linguístico ou semiótico entre na esfera do discurso, ou seja, se transforme em enunciado, tenha fixado a posição de um sujeito social. Só assim é possível responder, isto é, fazer réplica ao dito, confrontar posições, fazer intervenções, concordar ou discordar.
 
A palavra chave da linguística bakhtiniana é diálogo: "as relações dialógicas são de índole específica: não podem ser reduzidas a relações meramente lógicas (ainda que dialéticas) nem meramente linguísticas (sintático-composicionais).Elas só são possíveis entre enunciados integrais de diferentes sujeitos do discurso". (BAKHTIN, 2010, p. 323)
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== 2. Os três conceitos de dialogismo em Bakhtin ==
 
 
Para Fiorin<ref>{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/212885467|título=Introdução ao pensamento de Bakhtin|ultimo=Luiz.|primeiro=Fiorin, José|data=2006|editora=Ática|isbn=8508105215|oclc=212885467}}</ref> (2016), os três eixos básicos norteadores do pensamento bakhtiniano que constituem a concepção de dialogismo são: unicidade do ser e do evento; a relação eu/outro; a dimensão axiológica.
 
Assim, Fiorin descreve os três conceitos de dialogismo.
 
O primeiro diz respeito ao modo real de funcionamento da linguagem, ou seja, “todos os enunciados constituem-se a partir de outros” (FIORIN, 2016, p. 34).
 
O segundo conceito trata-se da incorporação da(s) voz(es) de outro(s) no enunciado pelo enunciador. É uma forma composicional visível na qual é possível ver o discurso alheio. “São maneiras externas e visíveis de mostrar outras vozes no discurso.” (FIORIN, 2016, p. 37).
 
O terceiro conceito está relacionado ao sujeito, a subjetividade que é “construída pelo conjunto de relações sociais de que participa o sujeito.” (FIORIN, 2016, p. 60)
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== 3. Dialogismo e Intertextualidade ==
 
== 2. Os três conceitos de dialogismo em Bakhtin ==
Para o linguista brasileiro José Luiz Fiorin, <ref>{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/212885467|título=Introdução ao pensamento de Bakhtin|ultimo=Luiz.|primeiro=Fiorin, José|data=2006|editora=Ática|isbn=8508105215|oclc=212885467}}</ref> (2016), os três eixos básicos norteadores do pensamento bakhtiniano que constituem a concepção de dialogismo são: unicidade do ser e do evento; a relação eu/outro; a dimensão axiológica.
 
OAssim, Fiorin descreve os três conceitos de dialogismo: o primeiro diz respeito ao modo real de funcionamento da linguagem, ou seja, “todos os enunciados constituem-se a partir de outros” (FIORIN, 2016, p. 34); o segundo conceito trata-se da incorporação da(s) voz(es) de outro(s) no enunciado pelo enunciador. É uma forma composicional visível na qual é possível ver o discurso alheio. “São maneiras externas e visíveis de mostrar outras vozes no discurso.” (FIORIN, 2016, p. 37); o terceiro conceito está relacionado ao sujeito, a subjetividade que é “construída pelo conjunto de relações sociais de que participa o sujeito. (FIORIN, 2016, p. 60)
 
== 3. Dialogismo e Intertextualidade ==
Dialogismo não deve ser confundido com intertextualidade, pois não é qualquer relação dialógica que se pode chamar de intertextualidade. Para Bakhtin, há uma diferença entre texto e enunciado. Em Fiorin (2016, p. 57), a diferença entre eles seria:
 
* Enunciado – é um todo de sentido, uma posição assumida pelo enunciador, "marcado pelo acabamento, dado pela possibilidade de admitir uma réplica" (FIORIN, 2016, p. 57).
* Texto – pertence ao domínio da materialidade, ou seja, a um conjunto coerente de signos verbais e não verbais, é uma realidade imediata. É a manifestação do enunciado.
 
Texto – pertence ao domínio da materialidade, ou seja, a um conjunto coerente de signos verbais e não verbais, é uma realidade imediata. É a manifestação do enunciado.
 
Dessa forma, pode haver relação dialógica entre textos e entre enunciados. Assim, a intertextualidade refere-se apenas às relações dialógicas materializadas em textos. "Isso pressupõe que toda intertextualidade implica a existência de uma interdiscursividade (relações entre enunciados), mas nem toda interdiscursividade implica intertextualidade" (FIORIN, 2016, p. 58). Pois há textos que não mostram o discurso do outro, mas possibilita a interdiscursividade.
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== 4. Dialogismo e polifonia ==
 
== 4. Dialogismo e polifonia ==
Polifonia para Bakhtin não é um universos de muitas vozes, mas um universo em que todas as vozes são equipolentes. (FARACO<ref>{{citar livro|título=Linguagem e diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin|ultimo=FARACO|primeiro=Carlos Alberto|editora=Parábola|ano=2009|local=São Paulo|páginas=77-80|acessodata=}}</ref>, 2009, p. 77,78). O estudo voltado a esse tema se encontra na obra Problemas da poética de Dostoiévski<ref>{{Citar livro|url=http://worldcat.org/oclc/298933230|título=Problemas da poética de Dostoievski|ultimo=1895-1975.|primeiro=Bakhtin, Mikhail M.|data=2008|editora=Forense Universitária|isbn=9788521804376|oclc=298933230}}</ref> (1963) a qual Bakhtin dedica suas reflexões ao gênero romance polifônico, dando origem ao conceito de polifonia.
 
Nas palavras de [[Cristóvão Tezza|Tezza]] (p. 297-98), "a polifonia é mais uma visão de mundo do que uma categoria técnica".
 
Muitos pesquisadores usam o dialogismo como sinônimo de polifonia, no entanto, há estudos que mostram a diferença. Como em Maciel<ref>{{Citar periódico|ultimo=Maciel|primeiro=Lucas Vinício de Carvalho|data=2016-03-18|titulo=Diferenças entre dialogismo e polifonia|url=http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.24.2.580-601|jornal=Revista de Estudos da Linguagem|volume=24|numero=2|paginas=580|doi=10.17851/2237-2083.24.2.580-601|issn=2237-2083}}</ref> no artigo Diferenças entre dialogismo e polifonia. Nas palavras no autor, "Se o dialogismo já se faz presente na interação entre quaisquer vozes, a polifonia depende da amplitude das ideias que se discute." Assim, pode-se dizer que as relações dialógicas integram a polifonia, mas não coincidem com ela. "No romance polifônico, expressa-se um conjunto específico de relações dialógicas. Os vínculos entre microdiálogo, diálogo e grande diálogo se realizam por meio de relações dialógicas. A passagem de um tema por muitas e diferentes vozes se dá por meio de relações dialógicas."
 
== Ver também ==
* [[Análise dialógica do discurso|Análise dialógica]]
* [[Contrapalavra]]
* [[Polifonia (linguística)|Polifonia]]
 
{{Referências}}
[[Contrapalavra]]
 
[[Polifonia (linguística)|Polifonia]]
 
== Bibliografia ==
{{InícioRef}}
* BAKHTIN, Mikhail. O problema do texto na Linguística, na filologia e em outras ciências Humanas. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010, p. 307-335.)
* FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2016
* FARACO, Carlos Alberto. Linguagem e diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola, 2009
* TEZZA, C. Polyphony as an Ethical Category, in Zylko, B. (Org.) Bakhtin & his Intellectual Ambience. Gdansk: Wydawnictwo Uniwersytetu Gdanskiego, 2002, p. 292-300
{{RefFim}}
 
 
 
 
 
{{esboço-linguística}}