Luís de Camões: diferenças entre revisões

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===Comédias===
O conteúdo geral de suas obras para o palco combina, da mesma forma que n{{'}}''Os Lusíadas'', o nacionalismo e a inspiração clássica. A sua produção neste campo resume-se a três obras, todas no género da [[comédia]] e no formato de [[auto]]: ''[[El-Rei Seleuco]]'', ''[[Filodemo]]'' e ''[[Anfitriões]]''. A atribuição do ''El-Rei Seleuco'' a Camões, porém, é controversa. A sua existência não era conhecida até 1654, quando apareceu publicada na primeira parte das ''Rimas'' na edição de Craesbeeck, que não deu detalhes sobre a sua origem e teve poucos cuidados na edição do texto. A peça também diverge em vários aspetos das outras duas que sobreviveram, tais como em sua extensão, bem mais curta (um ato), na existência de um prólogo em [[prosa]], e no tratamento menos profundo e menos erudito do tema amoroso. O tema, da complicada paixão de [[Antíoco I Sóter|Antíoco]], filho do rei [[Seleuco I Nicátor]], por sua madrasta, a rainha Estratonice, foi tirado de um facto histórico da Antiguidade transmitido por [[Plutarco]] e repetido por [[Petrarca]] e pelo cancioneiro popular espanhol, trabalhando-o ao estilo de [[Gil Vicente]].<ref>Anastácio, Vanda. [http://74.125.155.132/scholar?q=cache:kvH0sjLH5fgJ:scholar.google.com/+camoes+comedia&hl=pt-BR&lr=&as_sdt=2000&as_vis=1 "El Rei Seleuco, 1645: Reflexões sobre o «corpus» da obra de Camões"]{{Ligação inativa|1data={{subst:DATA}}janeiro de 2019}}. In: ''Península — Revista de Estudos Ibéricos'', 2005; (2):327-342</ref><ref>Alves, José Edil de Lima. [http://books.google.com/books?id=lq8qqV7jLNsC&pg=PT115&dq=%22el+rei+seleuco%22&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR&cd=11#v=onepage&q=%22el%20rei%20seleuco%22&f=false ''História da Literatura Portuguesa: fundamentos de geografia e história'']. Universidade Luterana do Brasil, 2001, p. 114</ref>
 
''Anfitriões'', publicado em 1587, é uma adaptação do ''Amphitryon'' de [[Plauto]], onde acentua o carácter cómico do mito de [[Anfitrião]], destacando a omnipotência do amor, que subjuga até os imortais, também seguindo a tradição vicentina. A peça foi escrita em [[redondilha]]s menores e faz uso do bilinguismo, empregando o [[castelhano]] nas falas do personagem Sósia, um escravo, para assinalar seu baixo nível social em passagens que chegam ao grotesco, um recurso que aparece nas outras peças também. O ''Filodemo'', composto na Índia e dedicado ao vice-rei D. Francisco Barreto, é uma comédia de moralidade em cinco atos, de acordo com a divisão clássica, sendo das três a que se manteve mais viva no interesse da crítica pela multiplicidade de experiências humanas que descreve e pela agudeza da observação psicológica. O tema versa sobre os amores de um criado, Filodemo, pela filha, Dionisa, do fidalgo em casa de quem serve, com traços autobiográficos.<ref name="Britannica"/><ref>[http://www.uefs.br/nep/labirintos/edicoes/01_2008/01_2008.htm Ribeiro, p.4]</ref><ref>[http://books.google.com/books?id=lq8qqV7jLNsC&pg=PT115&dq=%22el+rei+seleuco%22&lr=&as_drrb_is=q&as_minm_is=0&as_miny_is=&as_maxm_is=0&as_maxy_is=&as_brr=3&hl=pt-BR&cd=11#v=onepage&q=%22el%20rei%20seleuco%22&f=false Alves, pp. 114-115]</ref> Camões via a comédia como um género secundário, de interesse apenas como um divertimento de circunstância, mas conseguiu resultados significativos transferindo a comicidade dos personagens para a ação e refinando a trama, pelo que apontou um caminho para a renovação da comédia portuguesa. Entretanto, sua sugestão não foi seguida pelos cultivadores do género que o sucederam.<ref name="Britannica"/>
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[[Ficheiro:Luis de camoes por fernando marques.JPG|thumb|Monumento ao poeta no Jardim Luís de Camões, Leiria.]]
 
A identificação de Camões e da sua obra como símbolos da nação portuguesa parece datar, como acredita Vanda Anastácio, do início da monarquia dual de [[Filipe II de Espanha]], pois aparentemente o monarca entendeu que seria de interesse prestigiá-los como parte de sua política para assegurar a legitimidade do seu reinado sobre os portugueses, o que justifica a sua ordem de imprimir duas traduções em castelhano de ''Os Lusíadas'' em 1580, pelas universidades de [[Universidade de Salamanca|Salamanca]] e [[Universidade de Alcalá de Henares|Alcalá de Henares]], e sem as submeter à censura eclesiástica.<ref name="Bergel"/><ref>[http://74.125.155.132/scholar?q=cache:kvH0sjLH5fgJ:scholar.google.com/+camoes+comedia&hl=pt-BR&lr=&as_sdt=2000&as_vis=1 Anastácio, pp. 327-329]{{Ligação inativa|1data={{subst:DATA}}janeiro de 2019}}</ref> Mas Camões tornou-se especialmente importante em Portugal no século XIX, quando, conforme afirmaram Lourenço, Freeland, Souza e outros autores, ''Os Lusíadas'' sofreu um processo de releitura e mitificação por alguns dos expoentes do [[Romantismo]] local, como [[Almeida Garrett]], [[Antero de Quental]] e [[Joaquim Pedro de Oliveira Martins|Oliveira Martins]], que o colocaram como um [[símbolo]] da história e do destino que estaria reservado ao país. Até mesmo a biografia do poeta foi readaptada e romantizada para servir aos seus interesses, introduzindo-se uma nota messiânica a seu respeito no imaginário popular da época. Os objetivos principais desse movimento eram compensar o saudosismo dos tempos de glória e a perceção então prevalente de Portugal como uma periferia pouco significativa da Europa, e dar à sua história um sentido mais positivo, abrindo-lhe novas perspetivas de futuro.<ref>Silva, André Luiz Barros da. "Machado de Assis: anti-apologista, anti-romântico, anti-realista". In: ''Anais do VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais''. Coimbra, 16-18/09/2004, pp. 1-11</ref><ref>Freeland, Alan. [http://books.google.es/books?hl=pt-BR&lr=&id=MF3-aXfWnBwC&oi=fnd&pg=PA53&dq=%22camoes%22&ots=GivHCWUp_C&sig=n4bPJZ7TdxFXYIEWbFPU3QzuEFY#v=onepage&q=%22camoes%22&f=false "The People and the Poeta: Portuguese National Identity and the Camões Tercentenary (1880)"]. In: Mar-Molinero, Clare & Smith, Angel. ''Nationalism and the nation in the Iberian Peninsula: competing and conflicting identities''. Berg Publishers, 1996, pp. 53-59</ref><ref name="Ronald">Souza, Ronald W. [http://books.google.es/books?hl=pt-BR&lr=&id=RTUguv3JG0QC&oi=fnd&pg=PA11&dq=%22camoes%22+lusiadas&ots=kve3L5ZseV&sig=UueOgE-gkAAh9-16YthpE3yFg6Q#v=onepage&q=%22camoes%22%20lusiadas&f=false "The Future of a National Symbol"]. In: Monteiro, Fátima et alii. ''Portugal: strategic options in European context''. Lexington Books, 2003, p. 12</ref>
 
Essa tendência atingiu um ponto alto por ocasião das comemorações do tricentenário da morte do poeta, realizadas entre 8 e 10 de junho de 1880. Num momento de crise por que Portugal passava, quando se questionava a legitimidade da [[monarquia]] e se ouviam fortes reivindicações pela [[democracia]], a figura do poeta tornou-se um foco para a causa política e um motivo para reafirmações do valor português contra um pano de fundo ideológico [[positivista]], agregando diferentes segmentos da sociedade, como foi sintetizado nas notícias dos jornais: ''"O Centenário de Camões neste momento histórico, e nesta crise dos espíritos tem a significação de uma revivescência nacional"''... ''"É sublime o acordo entre as conclusões científicas das mais elevadas inteligências da Europa e a intuição da alma popular que encontram em Camões o representante duma literatura inteira e a síntese da nacionalidade"''... ''"Todas as forças vivas da nação se aliavam nesse grande preito à memória do homem cuja alma foi a síntese grandiosa da alma portuguesa"''. Sugestivamente, o comité organizador das festividades intitulou-se "Comité de Salvação Pública". Diversos estudos críticos vieram a luz no momento, incluindo estrangeiros, e a festa nas ruas atraiu enorme público.<ref>Vilela, Mário. [http://books.google.es/books?hl=pt-BR&lr=&id=9gRSVQ7eIQwC&oi=fnd&pg=PA403&dq=%22camoes%22&ots=6OX5xnQdX2&sig=PD5nOsyggUroRVQWNmtlM_0Ndag#v=onepage&q&f=false ''Recepção de Camões nos Jornais de 1880'']. Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1985, pp. 406-411</ref><ref name="Sandmann">Sandmann, Marcelo Corrêa. "As Comemorações do Tricentenário de Camões no Brasil". In: ''Revista Letras'', 2003; (59):197-205</ref> O tricentenário foi comemorado no Brasil com entusiasmo semelhante, com publicação de estudos e cerimónias em muitas cidades, transbordando os círculos intelectuais, e tornou-se um pretexto para um estreitamento das relações entre os dois países.<ref name="Sandmann"/> Em vários outros países a data foi noticiada e comemorada.<ref name="Ramos"/>