Brega: diferenças entre revisões

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'''Brega''' é um [[gênero musical]] [[brasil]]eiro. Sua definição como [[estética musical]] tem sido um tanto difícil, pois não há um só ritmo musical propriamente "brega". É muito usado para designar a música romântica popular de "baixa qualidade", com exageros dramáticos ou ingenuidade.<ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB" /><ref name="CliqueMusic/BREGAcm">{{Citar web|url=http://cliquemusic.uol.com.br/generos/ver/brega|titulo=Cliquemusic : Gênero : Brega|acessodata=2018-02-24|obra=cliquemusic.uol.com.br |arquivodata=31/12/2012 |autor=Silvio Essinger |arquivourl=http://archive.is/MLGY6 |urlmorta=sim}}</ref> O [[samba-canção]], [[bolero]] e [[Jovem Guarda|jovem-guarda]] foram vinculados a esta estética,<ref name="CliqueMusic/BREGAcm" /> atualmente o brega envolve ''kizomba'', ''zouk'', funana, além do ''twist'' modernizado que batizaram de forma aportuguesada de tecno-brega.
 
== Etimologia ==
[[Ficheiro:Vividoras del Amor by Julio Romero de Torres.jpg|miniaturadaimagem|O [[prostíbulo]] ou "brega": o nome do lugar deu origem ao termo.<br><small>"Vividoras del Amor", por [[Julio Romero de Torres]]</small>.]]
 
Várias são as hipóteses para a origem do termo ''brega'' como sinônimo de [[prostíbulo]] e, daí, como sinônimo do estilo musical. Segundo o dicionário de [[Antônio Houaiss]] o termo derivaria da palavra "esbregue" que, segundo ele, seria utilizado no [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]] nas décadas de 1920 a 1950 "como sinônimo de algo mal feito, confuso, ordinário, servindo tanto para objetos como para pessoas".<ref name=amazonas>{{citar web|URL=https://seer.ufs.br/index.php/historiar/article/view/3474/3025 |título=Hibridismos culturais, fronteiras estéticas e tecnobrega como fenômeno na História da Música Amazônida |autor1=Chayenne Farias |autor2=Daniel Chaves |ano=2015|publicado=Boletim Historiar, nº 7|acessodata=9/1/2019 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20180427112936/https://seer.ufs.br/index.php/historiar/article/view/3474/3025 |arquivodata=27/4/2018}}</ref> ParaSegundo Altair Aranha ([[pseudônimo]] do escritor [[Luís Milanesi]]), o termo deriva de "Nóbrega", nome da rua (Manuel da Nóbrega) que ficava em uma região de [[meretrício]] na cidade de [[Salvador (Bahia)|Salvador]].<ref name=aranha/>{{Nota de rodapé|O termo "[[wikt:brega|brega]]" significa: de mau gosto, de baixo nível. Para Altair J. Aranha, a palavra teve origem em Salvador, mais propriamente numa área urbana de baixo meretrício onde uma placa indicando a rua Padre Manuel da Nóbrega teve gasto o letreiro, sobrando apenas as duas últimas sílabas. Aplica-se a pessoas que se mostram sem elegância, que exibem mau gosto.<ref name=aranha>{{citar livro|editoraurl=São Paulohttps: Ateliê Editorial//books.google.com.br/books?id=EYcp4KqFuzwC|ano=2002|autorultimo=Aranha|primeiro=ARANHA, Altair J|título=Dicionário Brasileiro de Insultos|páginas=60|editora=Ateliê Editorial|isbn=8574800783|oclc=55147530}}</ref>}}{{Nota de rodapé|Para o mundo da [[moda]], o termo "brega" caracteriza as pessoas "deselegantes", "ou seja, aquelas que não se enquadravam nas regras, utilizando sempre do excesso e da extravagância. O sentido atribuído ao brega passou a representar também algo de qualidade inferior ou alguém que possui um mau gosto no vestir e nas atitudes".<ref>{{citar livro|editora=Natal: XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação |ano=2008 |url=http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2008/resumos/R3-1890-1.pdf |autor=LIMA, Izaíra Thalita da Silva; QUEIROZ, Tobias|título=Eu não sou cachorro não: a transformação do brega em arte com elementos de cinema no DVD de Waldick Soriano|páginas=3}}</ref>}} Assim o termo brega é dicionarizado no século XX também com a acepção de "zona de prostíbulo".<ref>[[Dicionário Aurélio]], verbete "xumbergar"</ref><ref name="amazonas" />{{Citar web|url=https://dicionariodoaurelio.com/brega|titulo=Brega no Dicionário Aurélio de Português Online|acessodata=2019-01-14||dicionario=Dicionário do Aurélio}}</ref><ref>{{Citar web|url=http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=brega|titulo=Brega|acessodata=2019-01-14||dicionario=Dicionário Michaelis}}</ref>
 
De acordo comSegundo [[Sérgio Nogueira]], alguns [[etimólogo]]s afirmam que a palavra brega é uma forma reduzida de "xumbrega" (mau gosto).<ref name=":0">{{citar web|url=http://g1.globo.com/educacao/blog/dicas-de-portugues/post/eponimos-gente-que-ficou-famosa-virando-coisa.html|título=Epônimos: gente que ficou famosa virando coisa|autor=[[Sérgio Nogueira]]|publicado=G1|acessodata=23-12-2018 |arquivourl=https://archive.fo/zdGyZ |arquivodata=23/12/2018 }}</ref> De acordo com [[Amaro Quintas]], tem origem em [[Pernambuco]] no ano de [[1666]], com o administrador colonial português [[Jerônimo de Mendonça Furtado]], o Xumbergas, apelidado assim pela população pernambucana em referência ao general alemão [[Armando Frederico|Frederico Armando Schomberg]] (militar combatente em Portugal na [[Guerra da Restauração]]), pois o administrador usava bigode ao modo Schönberg (ou ao modo Chomberga).<ref name=":0" /> E por este gostar em excesso de bebida alcoólica, o [[Alcunha|apelido]] Xumbergas assumiu em Pernambuco a acepção de "embriaguez" ou embriagar-se, originando o verbo xumbergar.<ref name=":0" /><ref>{{citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Amaro_Quintas.html?id=595BCwAAQBAJ&printsec=frontcover&source=kp_read_button&redir_esc=y#v=onepage&q=xumbergas&f=false |título=Amaro Quintas - O Historiador da Liberdade|autor=[[Amaro Quintas]]|publicado=Companhia Editora de Pernambuco |ano=2015 |acessodata=23-12-2018 |isbn=9788578583019 |páginas=456 }}</ref><ref>[[Dicionário Aurélio]], verbete "xumbergar"</ref> Dessa origem remota o termo que teria, no século XX, assumido a acepção de "prostíbulo", que como tal é dicionarizada por [[Aurélio Buarque de Holanda Ferreira]].<ref>{{Citar nameweb|url="amazonas"http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=xumbergar|titulo=Xumbergar|acessodata=2019-01-14|obra=Dicionário Michaelis}}</ref>
 
Sendo alvo de discussões por estudiosos e profissionais do meio musical, o termo brega foi empregado por classe média e alta às pessoas de baixo poder aquisitivo das regiões periféricas e aos prostíbulos nordestinos que tinham a [[música romântica]] como trilha sonora.<ref name="CliqueMusic/BREGAcm" /> Foi somente a partir da década de 1980, entretanto, que o termo ''brega'' se tornou sinônimo uma "vertente da música popular" que, na década anterior, era simplesmente chamada de "cafona", segundo [[Paulo César Araújo]].<ref name=amazonas/>
 
== Informações gerais ==
Em meados dos anos [[1960]], o termo designava um tipo de música romântica, com arranjo musical sem grandes elaborações, vinda das camadas populares e considerada cafona e deselegante.<ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB">{{Citar web|url=http://www.dicionariompb.com.br/musica-brega/dados-artisticos|titulo=Música brega|data=|acessodata=2018-02-24|obra=Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{citar livro|autor=CABRERA, Antônio Carlos|título=Almanaque da música brega|editora=São Paulo: Matrix|ano=2007|página=08}}</ref><ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB" /> Com o passar dos anos o brega foi se sistematizando de forma menos rígida em relação ao outros ritmos. A partir de 2008 em Recife surgiu um brega-''funk'', ritmo que se originou da mistura entre ''kizomba'' (ritmo angolano), o ''zouk'' das [[Antilhas Francesas]] e as mesmas baladas românticas usadas durante o tempo de seu auge com bastante apelo sentimental, fortes melodias, letras com rimas fáceis e palavras simples, em outras palavras, uma [[música]] supostamente ruim ou cafona.<ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB" /><ref name="CliqueMusic/BREGAcm" /> Mas a partir da imprecisão conceitual que o termo carrega desde sua origem, podia abarcar artistas de outros gêneros musicais da [[Música do Brasil|música brasileira]], o que, na verdade, só reforçaria essa imprecisão.<ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB" />
 
Em meados dos anos [[1960]], o termo designava um tipo de música romântica, com arranjo musical sem grandes elaborações, vinda das camadas populares e considerada cafona e deselegante.<ref name="DicionarioMPB/BREGA">{{Citar web|url=http://www.dicionariompb.com.br/musica-brega/dados-artisticos|titulo=Música brega|data=|acessodata=2018-02-24|obra=Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{citar livro|autor=CABRERA, Antônio Carlos|título=Almanaque da música brega|editora=São Paulo: Matrix|ano=2007|página=08}}</ref><ref name="DicionarioMPB/BREGA" /> Com o passar dos anos o brega foi se sistematizando de forma menos rígida em relação ao outros ritmos. A partir de 2008 em Recife surgiu um brega-''funk'', ritmo que se originou da mistura entre ''kizomba'' (ritmo angolano), o ''zouk'' das [[Antilhas Francesas]] e as mesmas baladas românticas usadas durante o tempo de seu auge com bastante apelo sentimental, fortes melodias, letras com rimas fáceis e palavras simples, em outras palavras, uma [[música]] supostamente ruim ou cafona.<ref name="DicionarioMPB/BREGA" /><ref name="CliqueMusic/BREGA" /> Mas a partir da imprecisão conceitual que o termo carrega desde sua origem, podia abarcar artistas de outros gêneros musicais da [[Música do Brasil|música brasileira]], o que, na verdade, só reforçaria essa imprecisão.<ref name="DicionarioMPB/BREGA" />
 
Para tornar a conceituação mais difícil, o "brega" assimilaria na década de 1990 novos aspectos — alguns dos quais distantes da linha romântica popular, como são os casos do [[Brega Pop|brega pop]] e do [[tecnobrega]] que é categorizado pela modernização dos instrumentos musicais, bastante populares na cena regional do [[Região Norte do Brasil|norte]] e [[Região Nordeste do Brasil|nordeste]] brasileiro e que se difundiu até mesmo no sul do País com o surgimento das bandas/cantores: Calypso, Reginaldo Rosi e Dejavu. Além disso, enquanto artistas da "velha guarda" romântica-popular ainda rejeitavam o rótulo "brega", chamando de ''twist'' americano, de Paul Anka e Jerry Lee Lewis.
 
Alguns aceitaram o termo Brega com orgulho — altamente influenciado por Paul Anka — o Rei do Brega [[Reginaldo Rossi]] iniciou sua carreira com ''rock'', porém suas canções eram consideradas de grande teor sentimental e a categoria rica da época não gostava e apelidou o ritmo preconceituosamente de Brega, porém se tratava do ''twist'' dos anos 1960 e Reginaldo em sua Glória musical Reginaldo cantou até o fim seus dias as baladas românticas que lhe deram a Glória de ser chamado de Rei do Brega.<ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB" />
 
O "brega" segue alcançando grande aceitação entre segmentos das camadas populares do Brasil.<ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB" />
 
== História ==
=== Antecedentes ===
Não se sabe ao certo a origem musical do "brega". Críticos apontam alguns precursores do "estilo" em cantores das décadas de [[década de 1940|1940]] e [[década de 1950|1950]], que seguiam, através do [[bolero]] e do [[samba-canção]], uma temática mais "romântica".<ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB" /> Entre os quais, [[Orlando Dias]], [[Carlos Alberto (cantor)|Carlos Alberto]] e Cauby Peixoto.
 
Durante a [[década de 1960]], a música romântica de artistas oriundos basicamente das classes mais populares passou a ser considerada cafona e deselegante.<ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB" /> Isso foi especialmente reforçado pelas grandes transformações vivenciadas pela música popular do país naquele período, com o surgimento de inovações estilísticas dentro cenário musical que agradavam principalmente aos jovens do meio urbano. De um lado, surgiram uma geração oriunda da classe média universitária e que se consolidaria, na década seguinte, sob a sigla [[MPB]], nada menos do que "música popular brasileira". Por outro, os movimentos [[tropicalista]] — inspirado em correntes artísticas de [[vanguarda]] e da [[cultura pop]] nacional e estrangeira e por manifestações tradicionais da [[cultura brasileira]] a inovações estéticas radicais<ref name="DicionarioMPB/TROPICALISMO">{{Citar web|url=http://www.dicionariompb.com.br/tropicalismo/dados-artisticos|titulo=Tropicalismo|data=|acessodata=2018-02-24|obra=Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref> — e do [[Iê-iê-iê]] — que capitaneou o [[Rock'N'Roll|''rock'n'roll'']] estrangeiro, dando-lhe uma roupagem nacional, e transformou-se num grande fenômeno de [[comportamento]] e [[moda]].<ref name="DicionarioMPB/JOVEM-GUARDA">{{Citar web|url=http://www.dicionariompb.com.br/jovem-guarda/dados-artisticos|titulo=Jovem Guarda|data=|acessodata=2018-02-24|obra=Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>
 
E foi a Jovem Guarda que abriria caminho para novos artistas que desafiaram os padrões de bom gosto da classe média brasileira na década seguinte,<ref name="CliqueMusic/BREGAcm" /> já que alguns dos artistas que tiveram uma ligação com o movimento viriam a se tornar populares cantores "cafonas" na década seguinte. É o caso por exemplo do [[pernambucano]] [[Reginaldo Rossi]], que liderou a banda The Silver Jets.<ref name="CliqueMusic/BREGAcm" />
 
=== A raiz "cafona" ===
Em princípio da década de 1970, acentuava-se as estilizações dentro da música brasileira. Em especial, o meio musical predominante definia os cânones da chamada [[MPB]], gênero cada vez mais distante de outras vertentes populares da música brasileira, como o [[samba]], a [[música caipira]], além do [[rock brasileiro|''rock'' feito no Brasil]] e da música romântica — que teria em [[Roberto Carlos]] o seu maior representante. O cantor capixaba era um dos poucos artistas que fazia música romântica sucesso de crítica e de público. Para a maioria dos artistas brasileiros românticos populares, mesmo que grandes vendedores no [[indústria fonográfica|mercado fonográfico]] brasileiro, sobrava a alcunha nada positiva de "cafona". O termo passou a estigmatizar artistas como [[Paulo Sérgio (cantor)|Paulo Sérgio]], [[Altemar Dutra]], [[Odair José]], [[Reginaldo Rossi]] e [[Waldick Soriano]] dentro do amplo leque da música brasileira.<ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB" />
 
Na segunda metade dos anos setenta, uma "nova vertente cafona" surgia com destaque. Era um estilo de roupagem "moderna", bastante influenciado pela [[disco music|discotéque]] e o pop dançante em voga à época, e que enfatizada danças e gestos sensuais (para alguns, no limite do vulgaridade). Este "novo cafona" foi capitaneado por artistas como [[Sidney Magal]] (de ''Sandra Rosa Madalena'' e ''O Meu Sangue Ferve por Você'') e [[Gretchen]] (''Melô do Piripipi'' e ''Conga La Conga'').<ref name="CliqueMusic/BREGAcm" />
 
=== O rótulo "brega" ===
A partir da [[década de 1980]], o termo "brega" passou a ser cunhado largamente na [[imprensa]] brasileira pelos [[mídia|meios de comunicação]] para designar, de maneira pejorativa, música sem valor artístico.<ref name="ARAUJO/2003">ARAÚJO, Paulo Cesar de. ''Eu não sou cachorro não: Música Popular Cafona e Ditadura Militar''. Rio de Janeiro: Editora Record. 2003</ref> Embora sem uma conceituação aprofundada, a pecha servia para designar uma "música de mau gosto, geralmente feita para as camadas populares, com exageros de dramaticidade e/ou letras de uma insuportável ingenuidade".<ref name="CliqueMusic/BREGAcm" /> Era o caso por exemplo do trabalho de cantores da linha romântica "cafona", como os ainda populares [[Amado Batista]] e [[Wando]], ou de outros cantores românticos constantemente presentes em programas de auditório da [[televisão]], como [[Gilliard]], [[Fábio Junior]] e [[José Augusto (cantor)|José Augusto]].
 
Ao mesmo tempo em que críticos esboçavam uma conceituação estilística pejorativa sobre o "brega", o estilo passou a influenciar e se fundir a outros artistas e gêneros musicais, o que tornava, na verdade, cada vez mais impreciso estabelecer uma definição clara sobre o que seria "música brega".<ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB" /> Como resultado desta ausência conceitual exata e precisa sobre o que seria o "brega", o termo muitas vezes não se restringia apenas aos artistas romântico-populares, como também podia abarcar artistas vinculados a outros gêneros musicais, como por exemplo, ([[Alcione (cantora)|Alcione]]) e ([[Chitãozinho e Xororó]]), ligados respectivamente ao [[samba]] e ao [[música caipira|sertanejo]]. Mesmo cantores do time da chamada [[MPB]], como [[Gal Costa]], eram criticados quando interpretavam canções consideradas de pouco valor artístico pela crítica hegemônica, como o caso do [[dueto]] ''Um Dia de Domingo'',<ref>{{Citar web|url=http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/828401-almanaque-da-musica-brega-aponta-escorregadas-sonoras-de-caetano-veloso-e-gal-costa.shtml|titulo="Almanaque da Música Brega" aponta escorregadas sonoras de Caetano Veloso e Gal Costa|data=12/11/2010|acessodata=2018-02-24|obra=Livraria da Folha|publicado=Folha.com|ultimo=|primeiro=}}</ref> com [[Tim Maia]] — um grande sucesso comercial composto pela dupla [[Michael Sullivan]] e [[Paulo Massadas]], que se especializou em composições tidas como "bregas". Entre elas, ''Me Dê Motivo'',{{Carece de fontes|arte=sim|Brasil=sim|data=setembro de 2017}} na voz de Tim Maia, e ''Deslizes'', na voz de [[Raimundo Fagner]].<ref name="CliqueMusic/BREGAcm" />
 
Além das tendências românticas, a década de 1980 marcou a ascensão de outros gêneros considerados de baixo valor artístico, como a axé e, no final da década, o surgimento do ''funk'' carioca (inspirado pelo ''[[miami bass]]'' da Costa Leste dos EUA). Havia também artistas do brega propriamente dito, como Ovelha, Nahim e Harmony Cats, hoje lembrados nas festas ''trash''.
 
Dentro desta confusão, jovens artistas do [[Sudeste do Brasil|Sudeste Brasileiro]] (alguns até [[universitário]]s) assumiram traços do que seria um "estilo brega" em seus trabalhos. Entre os quais, o compositor [[pianista]] e [[ator]] [[carioca]] [[Eduardo Dusek]] (que fez o [[LP]] ''Brega-chique'', em [[1984]]) e a banda [[paulistana]] ''Língua de Trapo''.<ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB" />
 
=== Mutação e consolidação em Belém ===
{{Artigo principal|Brega Pop|Tecnobrega}}
 
A chegada à década de 1990 levou o "brega" a mais fusões e confusões em torno da conceituação.<ref name="CliqueMusic/BREGAcm" />
 
Nessa década, uma série de artistas passou a se assumir como "bregas". Um dos mais notórios foi [[Reginaldo Rossi]], autoproclamado "Rei do Brega". Dentro da tradicional linha romântico popular, Reginaldo Rossi mantinha-se como uma espécie de "contraponto nordestino" para Roberto Carlos, inclusive se apropriando do título de "rei" que já acompanhava o companheiro de [[Jovem Guarda]]. A canção ''Garçom'' transformou-o subitamente em sensação no Sudeste, ajudando a detonar uma onda de reavaliação do brega — inclusive com gravações feitas por artistas do [[establishment]] musical nacional, como [[Caetano Veloso]] — o cantor baiano, que já havia gravado em [[1982]] a canção ''Sonhos'', de [[Peninha (compositor)|Peninha]], regravaria em [[2004]] ''Você não me ensinou a te esquecer'', famosa canção de [[Fernando Mendes]]. Nos [[anos 2000]], outros "cafonas" receberam reconhecimento, como [[Odair José]], que ganhou [[tributo|álbum-tributo]] do qual participam [[Pato Fu]], [[Mundo Livre S/A]] e [[Zeca Baleiro]].<ref name="ÉPOCA/TRIBUTO-ODAIR/2005">{{citar revista|url=http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,,EPT983999-1661,00.html|título=Do brega às cabeças|revista=[[Revista Época]]|data=27 de junho de 2005}}</ref><ref name="UOL/TRIBUTO-ODAIR/2006">{{citar web|url=http://musica.uol.com.br/ultnot/reuters/2006/02/14/ult279u5767.jhtm|título=Odair José ganha tributo de bandas nacionais em 18 regravações|website=UOL Música|data=14 de fevereiro de 2006}}</ref>
 
Na primeira metade da década de 1990, grupos como o paulistano Vexame e o carioca Os Copacabanas especializaram-se em regravar sucessos do repertório popular "cafona" de [[Amado Batista]] e [[Reginaldo Rossi]]. Pelo lado do [[pastiche]] e da [[sátira]], estes grupos algum sucesso dentre plateias mais intelectualizadas no Sudeste brasileiro. Também numa linha "brega-escrachada", o cearense [[Falcão (músico)|Falcão]] e, principalmente, os paulistas [[Mamonas Assassinas]] obtiveram grande êxito comercial.<ref name="CliqueMusic/BREGAcm" />
 
Mas foi nas regiões Norte e Nordeste que o "brega" resistia e se consolidava como uma grande força musical.<ref name="CliqueMusic/BREGAcm" /> Embora as emissoras de rádios e as grandes gravadoras passassem a ignorar sua existência, os artistas "bregas" continuaram produzindo e assimilando novas influências. Mesmo com limitações de capital de investimento e [[suporte técnico]], esses músicos mantiveram um público significativo nas periferias urbanas destas regiões, fora do campo de cobertura cultural da [[mídia]] hegemônica."<ref name="FONTANELA/BREGA/200X">{{citar livro|autor=FONTANELLA, Fernando Israel|título=Do brega popularesco ao calypso do consumo:Corpo e subalternidade na hegemonia do consumo|editora=Revista Contracultura (artigo)|página=02-13|url=http://www.uff.br/revistacontracultura/Do%20Brega%20POPULARESCO%20ao%20Calypso%20Artigo.pdf}}</ref> [[Belém do Pará|Belém]] do [[Pará]] tornou-se a principal referência na consolidação do "brega" como estilo musical no país. Inicialmente restrito a circuitos de bailes e ''shows'' — chamados "bregões" — em casas noturnas da periferia belemense, a cena adquiriu grandes proporções regionais com as "aparelhagens" (grandes e potentes sistemas profissionais de som) das grandes festas populares, frequentadas por milhares de pessoas, geralmente caracterizada por músicas típicas da região Norte, alguns sucessos da [[música pop]] (nacional e internacional) e ritmos caribenhos, como o [[calipso (música)|calipso]]. A mistura destes sons influenciou novas vertentes praticadas pelos artistas "bregas" que surgiam.<ref name="FONTANELA/BREGA/200X" /> Fora do âmbito da [[indústria fonográfica]] nacional, a produção musical "brega" paraense era distribuída diretamente por vendedores ambulantes e [[camelô]]s, consolidando um mercado alternativo<ref name="FONTANELA/BREGA/200X" /> para esse movimento, regionalmente batizado como "[[Brega Pop|brega ''pop'']]".<ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB" />
 
Com letras que ainda mantinham em geral a carga romântica — embora frequentemente se desvie para erotização explícita, refletida até mesmo na [[coreografia]] dos dançarinos que acompanha a malícia da música —, o "brega pop" é caracterizada por um ritmo mais acelerado, com ênfase no acorde das [[guitarra]]s.<ref>{{citar web|url=http://www.amazonia.org.br/noticias/print.cfm?id=326508|título=Amazônia também é gigante cultural|autor=Agência Brasil|data=4 de setembro de 2009}}</ref> Embora tenha se desenvolvido no mercado paralelo das periferias, o "brega pop" transformou-se em um negócio lucrativo e reconquistou espaço nas mídias locais, com presença na programação das grandes rádios comerciais. Embora algumas grandes bandas do "brega pop" ganhassem projeção nacional — e até mesmo internacional —, a grande maioria se seus músicos ainda desenvolvia carreiras efêmeras e se mantinha dentro do circuitos de bailes de periferia.<ref name="FONTANELA/BREGA/200X" /> O maior expoente nacional do movimento seria a [[Banda Calypso]].<ref group=nota>Conceituar o estilo da banda é complicado. De acordo com Bruno Brito, a Calypso cantava no início da carreira músicas alusivas ao que ele chamou "Bregafó". Mas, segundo [[Chimbinha]] ([[guitarrista]] da banda), a Calypso mistura uma série de sons de gêneros como [[lambada]], [[reggae]], [[merengue]], [[cúmbia]], [[samba]], [[salsa]], [[carimbó]] e [[forró]], em suma, ninguém saber ao certo o que a banda toca.<br />{{citar livro|autor=BRITO, Bruno|título=A indústria do brega. IN: Revista Continente, ano VIII, n. 92|editora=|ano=2008|páginas=19-23}}</ref> Ainda no Pará surgiram outras ramificações dentro do "brega", tais como o popularmente conhecido "[[tecnobrega]]", resultado da fusão do "brega" com estilos da [[música eletrônica]].<ref name=":Brega Pop - Tecnobrega - A música paralela">{{Citar web |url=http://www.bregapop.com/historia/index_hermano.asp: |título=Brega Pop - Tecnobrega - A música paralela |língua= |autor=}}</ref>
 
== Conceituação difusa ==
Definir a existência ou não e quem pertence e quem não pertence ao "estilo brega" é um debate feito por [[pesquisador]]es, [[crítico]]s, [[artista]]s e [[Espectador|público]], e está longe de chegar a um [[consenso]].<ref name="DicionarioMPB/BREGAdiciMPB" /><ref name="CliqueMusic/BREGAcm" /><ref name="ARAUJO/2003">ARAÚJO, Paulo Cesar de. ''Eu não sou cachorro não: Música Popular Cafona e Ditadura Militar''. Rio de Janeiro: Editora Record. 2003</ref>
 
Esta dificuldade estaria expressa na pluralidade musical em voga no mundo contemporâneo, que "provoca um constante movimento de apropriação–reapropriação contínua e ao mesmo tempo inconstante promovendo uma hibridação de referências musicais que termina por impossibilitar qualquer definição precisa capaz de ser fielmente classificada rigidamente em um [[gênero musical|estilo musical]]."<ref name="souzaUFBA">{{citar web|autor=SOUZA, Vinicius Rodrigues Alves |título=A Existência Inexistente da Música Brega |publicado=UFBA |ano=2009|páginas=15|url=http://www.cult.ufba.br/enecult2009/19570.pdf |acessodata=23/12/2018 |arquivourl=http://web.archive.org/web/20181223152751/http://www.cult.ufba.br/enecult2009/19570.pdf |arquivodata=23/12/2018 }}</ref> Outro ponto de dificuldade na discussão em torno do que seria "música brega" é o estabelecimento por parte das "[[ideologia]]s excludentes e classistas da [[intelectual]]idade [[hegemonia|hegemônica]]" de uma relação direta do "estilo com o poder classificatório do gosto, além de uma série de adjetivações pejorativas que estão associadas à denominação brega."<ref name="souzaUFBA" />
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Mesmo entre o público brasileiro, consumidor ou não do artistas e tendências supostamente "bregas", há muita confusão sobre o que seria o "estilo". Em alguns casos, ocorre a associação de algumas vertentes musicais melhor estabelecidas — como o [[Música sertaneja|sertanejo]] (de linha mais comercial-romântica, a partir da década de 1980), a [[lambada]], o [[pagode (música)|pagode]] (especialmente seu estilo mais [[pagode romântico|"romântico]], a partir da década de 1990), a [[axé music|axé ''music'']], o [[funk carioca|''funk'' carioca]] — no rol de "estilos bregas".<ref>{{citar web|url=http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=379JDB005|título=Mídia glamuriza a cafonice|autor=Alexandre Figueiredo|publicado=Observatório da Imprensa|data=2 de maio de 2006}}</ref> A autora Carmen Lúcia José observou em suas pesquisas a opinião de indivíduos de segmentos sociais distintos sobre alguns artistas quanto aos seus estilos musicais. Por exemplo, as duplas [[Chitãozinho e Xororó]] e [[Leandro e Leonardo]]. A primeira dupla, para segmentos sociais acima da média com repertório, é considerada brega; já para os segmentos médios e acima da média sem repertório, a dupla é considerada som sertanejo; e para os segmentos mais baixos, também. Com relação a duplas Leandro e Leonardo, para os segmentos acima da média e médios, é brega; os segmentos médios e acima da média sem repertório musical, a dupla também é considerada brega, nos segmentos mais baixos, a dupla representa o sertanejo jovem.<ref name="CARMEN-JOSÉ/BREGA/DISSERTACAO/1991">{{citar livro|autor=JOSÉ, Carmen Lúcia|título=Isto é brega, Isto é brega|editora=São Paulo: (dissertação de mestrado)|ano=1991|páginas=134}}</ref>
 
Entre os artistas rotulados como "bregas", também não é diferente a dificuldade em torno do que seria o "estilo". Como observa o jornalista João Teles, "não é exatamente a música, mas o intérprete que confere o status de brega ou não."<ref>TELES, João. ''Do brega à fuleragem music''. IN: Revista Continente, ano VIII, n. 92,(p: 16-18) Agosto/2008.</ref> Alguns desses rejeitam serem representados sob o estigma da cafonice e mau gosto. Em uma entrevista em [[2008]], o cantor [[Wando]] afirmou sentir-se incomodado com o termo pejorativo. "Quando as pessoas falam de brega, sempre se referem a uma coisa ruim. Então eu brigo por isso".<ref>{{citar web|url=http://clientes.agestado.com.br/tribuna/20070515213.html |título=Wando estreia show no centro de São Paulo|autor=Agência Estado|data=15 de maio de 2007}}</ref><ref>{{citar web|url=http://www.an.com.br/2007/mai/26/0ane.jsp |título=Mesmo incomodado com o estereótipo, Wando continua distribuindo calcinhas|jornal=A Notícia|local=Santa Catarina|data=26 de maio de 2007}}</ref> Questionado sobre o assunto, Fernando Mendes disse certa vez que "brega era um lugar onde a gente ia, era um substantivo e hoje é um adjetivo com que falam mal da gente. Quando me perguntaram o que eu achava, eu disse, brega é o termo, a palavra é o nome que o invejoso usa pra criticar o vitorioso".<ref>{{citar web|url=http://www.fernandomendes.com/materias/entrevista.html|título=Ele não nos ensinou a esquecê-lo!|autor=A Crítica (Amazonas)|websitepublicado=Sítio Fernando Mendes.com}}</ref> [[Waldick Soriano]] diz que "Concordar, a gente não concorda. Porque brega é usado para falar de casa de prostituição. Nesses lugares, as pessoas ouvem música romântica, mas não só nos bregas. Faço música romântica, as pessoas gostam disso".<ref>{{citar web|url=http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI2049667-EI6596,00.html |título=Waldick Soriano: "Sou da universidade da vida"|website=Terra Magazine|data=7 de novembro de 2007}}</ref> Com o tempo, porém, alguns outros artistas assumiram o termo "brega". É o caso de [[Reginaldo Rossi]], que se autointitula como o "Rei do Brega". Outro exemplo é, ainda que não seja consensual e conceitualmente um estilo, o próprio surgimento das "vertentes" [[Pará|paraenses]] [[Brega Pop|brega ''pop'']] e [[tecnobrega]], que indicam que seus artistas assumem-se de alguma forma ou de outra como "bregas".
 
== Crítica ==