Infraestrutura e superestrutura: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
maior detalhamento sobre o desenvolvimento dos conceitos
Linha 1:
== Introdução ==
{{Marxismo}}De acordo com a [[Marxismo|teoria marxista]], os diversos atributos dos homens se desenvolvem internamente a uma dada forma de [[sociedade]] e não são dados externamente por uma natureza humana ou divina. Por isso, não existe em Marx um estudo do homem no geral, mas das formas de sociedade humanas. Mas uma dada forma de sociedade não se caracteriza por um amontoado de relações aleatórias. No estudo dessas formas de sociedade Marx reconhece a existência de uma '''infraestrutura e uma superestrutura'''.
 
== Desenvolvimento dos conceitos ==
Quando ainda não era um ativista político comunista, mas apenas um talentoso jovem recém-formado em [[Filosofia]] pela [[Universidade de Berlim]] e admirador da obra de filósofo alemão Hegel, [[Karl Marx]], nos idos de 1842, foi bastante impactado pela cena de homens, mulheres e crianças, esfarrapados, recolhendo galhos de árvores caídos sob perseguição violenta da cavalaria policial; sob alegação de crime de roubo<ref>{{citar web|url=https://emluta.net/2017/09/10/o-jovem-karl-marx/|titulo=O jovem Karl Marx|data=10.09.2017|acessodata=17.01.2019|publicado=https://emluta.net|ultimo=Portela|primeiro=Cristina}}</ref>. Era uma cena expressiva da transição civilizatória entre o feudalismo [quando a coleta de lenha pelos pobres, para fins de aquecimento, era permitida] e o advento do capitalismo, que ensejou o fim da propriedade comunal do solo e sua consequente apropriação privada; evento que, diga-se de passagem, deu causa a expressiva [[emigração]] de contingentes populacionais europeus para os novos territórios da América.
 
Aquela perseguição, como assinala Cristina Portela, “Não era uma perseguição qualquer: poucos anos antes, em 1836, dos 207.478 processos criminais abertos pelo estado prussiano, ¾ referiam-se a roubo de lenha e outras supostas transgressões contra a propriedade florestal”.<ref>{{citar web|url=https://emluta.net/2017/09/10/o-jovem-karl-marx/|titulo=O jovem Karl Marx|data=10.09.2017|acessodata=17.01.2019|publicado=https://emluta.net/2017/09/10/o-jovem-karl-marx/|ultimo=Portela|primeiro=Cristina}}</ref>
 
Essa tomada de consciência acerca do tratamento desumano dispensado aos pobres e a empatia a estes dirigida, é produto do conhecimento adquirido sobre o sofrimento das massas e de reflexão filosófica no sentido de que as coisas [as relações sociais] não precisam ser assim, marcadas pela violência e exploração de muitos por poucos, dado “o contínuo processo civilizatório”.<ref>{{citar web|url=http://www2.unemat.br/revistafaed/content/vol/vol_7_8/artigo_7_8/171_176.pdf|titulo=O futuro de uma ilusão|data=Jan./Dez. 2007|acessodata=17.01.2019|publicado=Revista da Faculdade de Educação, Ano V nº 7/8 (Jan./Dez. 2007), p. 171-176.|ultimo=ANTUNES|primeiro=Maria da Penha Fornanciari}}</ref>
 
Esta a “epifania” que constituiu uma causa relevante em todo o esforço analítico, no âmbito da economia, da política e da sociologia, e filosófico de Karl Marx. Assim, primeiramente estabelecendo uma teoria da sociedade sob o modo capitalista de produção, e, em segundo lugar, uma teoria sobre a superação do capitalismo pelo socialismo. Este esforço cognitivo para compreensão da realidade social sob o capitalismo foi fundamentado em dois planos metodológicos: a) o do [[materialismo dialético]], e b) o do [[materialismo histórico]].
 
A partir do materialismo histórico, Marx desenvolveu dois conceitos importantes para compreensão da organização da sociedade capitalista e sua estrutura social, apontando a sociedade como composta por dois elementos fundamentais: a) a infraestrutura, e b) a superestrutura.<ref name=":0">{{citar web|url=https://www.cafecomsociologia.com/infraestrutura-e-superestrutura-em-marx-2/|titulo=Infraestrutura e superestrutura em Marx|data=25.10.2016|acessodata=17.01.2017|publicado=https://www.cafecomsociologia.com/infraestrutura-e-superestrutura-em-marx-2/|ultimo=BODART|primeiro=Cristiano das Neves}}</ref>
 
* '''Infraestrutura''' - de acordo com Bodart (2016), para Marx, a infraestrutura constitui o conjunto onde está a base econômica da sociedade; portanto a economia, as formas de produção, as relações de produção e as relações de trabalho, estas marcadas pela exploração da força de trabalho no interior do processo de acumulação capitalista. A infraestrutura, assim, constitui o conjunto formado pela matéria-prima, pelos meios de produção e pelos próprios trabalhadores (onde se dá as relações de produção: empregados-empregados, patrões-empregados).<ref>{{citar web|url=https://www.cafecomsociologia.com/infraestrutura-e-superestrutura-em-marx-2/|titulo=Infraestrutura e superestrutura em Marx|data=25.10.2016|acessodata=17.01.2019|publicado=https://www.cafecomsociologia.com/infraestrutura-e-superestrutura-em-marx-2/|ultimo=BODART|primeiro=Cristiano das Neves}}</ref>
 
* '''Superestrutura''' - é a projeção, a expressão cultural, das formas e relações de produção; ou seja, é a expressão cultural da infraestrutura. Assim, a superestrutura é fruto de estratégias dos grupos dominantes para a consolidação e perpetuação de seu domínio [econômico, político e social]. É composta pela estrutura jurídico-política e a estrutura ideológica (Estado, Religião, Artes, meios de comunicação, etc.).<ref>{{citar web|url=https://www.cafecomsociologia.com/infraestrutura-e-superestrutura-em-marx-2/|titulo=Infraestrutura e superestrutura em Marx|data=25.10.2016|acessodata=17.01.2019|publicado=https://www.cafecomsociologia.com/infraestrutura-e-superestrutura-em-marx-2/|ultimo=BODART|primeiro=Cristiano das Neves}}</ref>
 
 
Sobre o Estado, enquanto elemento da superestrutura, e seu papel, Bodart leciona:<blockquote>"Para essa consolidação e perpetuação da dominação das classes dominantes estes (sic) utilizam de estratégias que demandam ora uso da força, ora da ideologia (MARX, 1993). Um exemplo de um instrumento de uso da força é o Estado, o qual possui o uso da força legitimado pela ideologia. Para Marx, o Estado está sempre à serviço da classe dominante, buscando manter o ''status quo''." <ref name=":0" /></blockquote>
 
 
Já sobre a Religião e seu papel ideológico, [[Lenin]] aponta sua instrumentalização para o controle e a submissão das classes dominadas (conjunto daqueles que vivem do trabalho) pelas classes dominantes (conjunto dos proprietários dos [[meios de produção]]):<blockquote>"A sociedade contemporânea assenta toda na exploração das amplas massas da classe operária por uma minoria insignificante da população, pertencente às classes dos proprietários agrários e dos capitalistas. Esta sociedade é escravista, pois os operários «livres», que trabalham toda a vida para o capital, só «têm direito» aos meios de subsistência que são necessários para manter os escravos que produzem o lucro, para assegurar e perpetuar a escravidão capitalista.</blockquote><blockquote>A exploração econômica dos operários causa e gera inevitavelmente todos os tipos de opressão política, de humilhação social, de embrutecimento e obscurecimento da vida espiritual e moral das massas. Os operários podem alcançar uma maior ou menor liberdade política para lutarem pela sua libertação económica, mas nenhuma liberdade os livrará da miséria, do desemprego e da opressão enquanto não for derrubado o poder do capital. A religião é uma das formas de opressão espiritual que pesa em toda a parte sobre as massas populares, esmagadas pelo seu perpétuo trabalho para outros, pela miséria e pelo isolamento. A impotência das classes exploradas na luta contra os exploradores gera tão inevitavelmente a fé numa vida melhor além-túmulo como a impotência dos selvagens na luta contra a natureza gera a fé em deuses, diabos, milagres, etc. Àquele que toda a vida trabalha e passa miséria a religião ensina a humildade e a paciência na vida terrena, consolando-o com a esperança da recompensa celeste. E àqueles que vivem do trabalho alheio a religião ensina a beneficência na vida terrena, propondo-lhes uma justificação muito barata para toda a sua existência de exploradores e vendendo-lhes a preço módico bilhetes para a felicidade celestial. A religião é o ópio do povo. A religião é uma espécie de má aguardente espiritual na qual os escravos do capital afogam a sua imagem humana, as suas reivindicações de uma vida minimamente digna [...]".<ref>{{citar web|url=https://www.marxists.org/portugues/lenin/1905/12/03.htm|titulo=O socialismo e a religião|data=12.03.1905|acessodata=17.01.2019|publicado=https://www.marxists.org/portugues/lenin/1905/12/03.htm|ultimo=Lenin|primeiro=Vladimir}}</ref></blockquote>
 
 
Em conformidade com Marx e Lenin, [[Sacha Calmon]] (2010) leciona no sentido de que “a Religião, a Ética e o Direito são técnicas normativas. Visam todas elas ao regramento dos comportamentos humanos nas sociedades politicamente organizadas”; e de que “as três religiões semitas, o judaísmo-tronco e seus ramos, o cristianismo e depois o islamismo”, apresentam-se, no palco da História, “como ''sistemas antropomórficos'', ou seja, como sistemas de controle social, altamente repressivos, construídos à imagem e semelhança das ideias, crenças, noções e interesses radicalmente humanos [...]”.<ref>{{citar livro|título=A história da mitologia judaico-cristã|ultimo=CALMON|primeiro=Sacha|editora=Noeses|ano=2010|local=São Paulo|páginas=XIII|acessodata=19.01.2019}}</ref>
 
== Resumo ==
A infraestrutura — que corresponde a um dado nível de desenvolvimento das [[forças produtivas]] e à [[relações de produção]] específicas — se deve ao fato de que "na produção social de sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais" <ref>cf. Karl Marx, ''Contribuição para a Crítica da Economia Política.'', Lisboa, 1971, pg.28</ref>. Como os homens não escolhem a forma de sociedade em que vivem, Marx denomina como infraestruturais ou estruturais as relações sociais necessárias em uma dada forma de organização social. Por serem necessária, tais determinações estruturais condicionam todas as demais. O "conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política"<ref>cf. Karl Marx, ''Contribuição para a Crítica da Economia Política.'', Lisboa, 1971, pg.28</ref>. Diversamente das relações sociais estruturais, a superestrutura são aqueles aspectos ou relações da sociedade que podem ser alterados sem que uma dada forma de sociedade se transforme em seus fundamentos. Aí se insere as formas de governo, de estado, da educação. Apesar uma dada estrutura de sociedade comportar formas superestruturais as mais diversas, este deve, necessariamente, se adequar ao domínio estrutural. Se não for assim, a forma de sociedade deixa de existir.