Cabala: diferenças entre revisões

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De acordo com o livro de estilo, a introdução deve ter quatro parágrafos. Suprimo este supérfluo que deve estar noutra seção.
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A cabalá originalmente se desenvolveu dentro do domínio do pensamento judaico, e cabalistas judeus usam fontes judaicas clássicas para explicar e demonstrar os seus ensinamentos esotéricos. Esses ensinamentos (''Hokmá ha-Kabbalah'' - Sabedoria da Cabalá) são mantidos pelos seguidores do judaísmo para definir o significado interno, tanto da [[Tanakh|Bíblia hebraica]] e da [[literatura rabínica]] tradicional e sua dimensão [[Torá oral|transmitida]] anteriormente escondida, bem como de explicar o significado das [[Halachá|observâncias religiosas]] judaicas.<ref>[http://www.kabbalaonline.org/kabbalah/article_cdo/aid/380313/jewish/Imbued-with-Holiness.htm "Imbued with Holiness"] - A relação do [[esoterismo]] para o exotérico na interpretação quádrupla da [[Pardes]] da Torá e da existência. de www.kabbalaonline.org</ref>
 
Os cabalistas tradicionais acreditam que sua origem venha da forma antiga de misticismo judaico, a saber a literatura ''Heichalot e Merkavá'' ([[:he:ספרות_ההיכלות_והמרכבהספרות ההיכלות והמרכבה|ספרות ההיכלות והמרכבה]]) embora essa tradição seja realmente antiga a sua forma escrita foi vista a partir do século VI ou VII.<ref>{{citar periódico|ultimo=Elior|primeiro=Rachel|data=|titulo=A literatura do Heichalot e do Merkaba em Hebraico|url=http://pluto.huji.ac.il/~mselio/lit67.pdf|jornal=A literatura do Heichalot e do Merkaba: Sua conexão ao templo, ao templo do celestial e do templo|acessodata=2 de abril de 2018}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=|primeiro=|data=2018-04-02|titulo=Kabbalah|url=https://he.wikipedia.org/w/index.php?title=%D7%A7%D7%91%D7%9C%D7%94&oldid=22737451|jornal=Wikepédia|lingua=he|acessodata=}}</ref><ref name=":0">{{Citar periódico|ultimo=|primeiro=|data=2017-09-03|titulo=Literatura Heichalot e Merkavá|url=https://he.wikipedia.org/w/index.php?title=%D7%A1%D7%A4%D7%A8%D7%95%D7%AA_%D7%94%D7%94%D7%99%D7%9B%D7%9C%D7%95%D7%AA_%D7%95%D7%94%D7%9E%D7%A8%D7%9B%D7%91%D7%94&oldid=21498003|jornal=Wikipédia|lingua=he|acessodata=}}</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.kabbalah.info/brazilkab/liberdade.htm|titulo=Liberdade|data=|acessodata=2 de abril de 2018|publicado=kabbalah.info|ultimo=HaSulam|primeiro=Baal}}</ref> Historicamente, a cabalá surgiu, depois dessas formas anteriores de misticismo judaico, nos séculos XII e XIII, no Sul da França e da Espanha ([[Provence]] - [[Languedoc-Roussillon|Languedoc]] - [[Catalunha]] e outras regiões), tendo como obra principal de estudo o [[Sêfer Yetzirá]], tornando-se reinterpretadas no renascimento místico judeu da [[Safed|Palestina otomana]], no {{séc|XVI}}, período esse conhecido como ''pós-zohar'' em especial na [[Safed|comunidade galileia de Safed]], que incluía [[Yosef Karo]] , [[Moisés Alshich|Moshé Alshich]] , [[:en:Moses_ben_Jacob_CordoveroMoses ben Jacob Cordovero|Cordovero]], [[Cabalá Luriânica|Luria]] e outros, Foi popularizado na forma de [[Judaísmo chassídico|judaísmo hassídico]] do {{séc|XVIII}} em diante. O interesse do {{séc|XX}} pela cabalá tem gerado muitas controvérsias no meio judaico, enquanto os ortodoxos acreditam que o ensinamento dessa Sabedoria deve ser restrito a alguns poucos selecionados, outros como [[Ashlag (dinastia hassídica)|Baal HaSulam]] e seus seguidores acreditam que no atual estado em que se encontra esse Mundo é crucial a disseminação da Cabalá para todos. O fato é que essa '''Sabedoria''' está se propagando cada dia mais e [[In xā llāẖ|oxalá]] a [[Tikun Olam|Tikun]] chegue logo.
== Tradição ==
De acordo com o [[Zohar]], um texto fundamental para o pensamento cabalístico,<ref>{{citar jornal|url=http://reformjudaism.org/what-kabbalah|título=What is Kabbalah?|data=2014-06-18|obra=ReformJudaism.org|acessodata=2017-07-10|língua=en}}</ref> o Estudo da Torá pode prosseguir ao longo de quatro níveis de interpretação ([[Pardes|exegese]]).<ref>{{Citar periódico|data=2018-05-03|titulo=Torah study|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Torah_study&oldid=839513636|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref><ref>Shnei Luchot HaBrit, R. Isaiah Horowitz, Toldot Adam, Beit haChokhma, 14</ref><ref>{{citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=142&letter=Z |título=ZOHAR |publicado=JewishEncyclopedia.com |data= |acessodata=2015-09-27}}</ref> Estes quatro níveis são chamados de ''[[pardes]]'' derivado de suas letras iniciais (PRDS {{lang-he|פַּרדֵס|links=no}}, pomar).
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===Cabalá judaica e não judaica===
[[Imagem:Tree of Life, Medieval.jpg|thumb|200px|direita|''Shaarei Ora'' Traduzido do Latim por [[:en:Joseph_ben_Abraham_GikatillaJoseph ben Abraham Gikatilla|Joseph Gikatilla]], comumente usada para representar o Cabalista e a Árvore da Vida.]]
Desde a [[Renascença]] os textos da Cabalá judaica entraram na cultura não-judaica, onde foram estudados e traduzidos por [[:en:Christian_HebraistChristian Hebraist|Hebraístas Cristãos]] e ocultistas [[Hermeticismo|Herméticos]].<ref>''Kabbalah: A Very Short Introduction'', Joseph Dan, Oxford University Press 2007. Chapters: 5 Modern Times-I The Christian Kabbalah, 9 Some Aspects of Contemporary Kabbalah</ref> As tradições sincréticas da Cabalá Cristã e da Cabalá Hermética desenvolveram-se independentemente da Cabalá Judaica, lendo os textos judaicos como sabedoria antiga universal. Ambos adaptaram os conceitos judaicos livremente de sua compreensão judaica, para se fundirem com outras teologias, tradições religiosas e associações mágicas. Com o declínio da Cabalá Cristã na [[The Age of Reason: Being an Investigation of True and Fabulous Theology|Era da Razão]], a Cabalá Hermética continuou como uma tradição subterrânea central no Esoterismo ocidental.<ref>{{Citar periódico|data=2018-05-02|titulo=Western esotericism|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Western_esotericism&oldid=839240335|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> Através dessas associações não-judaicas com magia, [[alquimia]] e adivinhação, a Cabalá adquiriu algumas conotações [[ocultismo|ocultas]] populares que são proibidas no judaísmo, onde a Cabalá Judaica Prática era uma tradição menor e permitida restrita a algumas elites. Hoje, muitas publicações sobre a Cabalá pertencem à Nova Era não-judaica e às tradições ocultas da Cabalá, em vez de dar uma imagem precisa da Cabalá Judaica.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/A_Concise_Companion_to_the_Jewish_Religi.html?id=GKLXAAAAMAAJ&redir_esc=y|título=A Concise Companion to the Jewish Religion|ultimo=Jacobs|primeiro=Louis|data=1999|editora=Oxford University Press|lingua=en|isbn=9780192800886}}</ref> Em vez disso, as publicações acadêmicas e tradicionais agora traduzem e estudam a Cabala Judaica para um grande número de leitores.
 
== Cabalá Judaica ==
'''''Recepção'''''—Deriva da palavra {{lang-he|קבל}} ('''QaBaL''' ou '''KaBaL'''; ''receber''), {{lang-he|קבלה}} ('''Qabbalah''' ou '''Kabbalah;'''<ref group="Notas">Cabalá (Cabalah, Cabbalah, Qabbālāh, Qabalah, Kabalah, Kabballah), Cabala (Cabbala, Qabbala, Qabala, Kabala, Kabbala).</ref>) é o substantivo ''recebido''.<ref group="Notas">"o conhecimento recebido ou tradicional"</ref><ref>{{Citar web|url=https://en.wiktionary.org/wiki/Kabballah#English|titulo=Kabballah - Wiktionary|acessodata=2018-04-11|obra=en.wiktionary.org|lingua=en}}</ref> O termo específico para a doutrina esotérica ou mística concernente a Deus e ao universo, afirmou-se ter sido revelada como uma eleição para eleger santos de um passado remoto, e preservada apenas por alguns poucos privilegiados.
[[File:Tetragrammaton Sefardi.jpg|thumb|190px|Tetragrama Sefardi]]
Inicialmente consistindo apenas de conhecimentos empíricos, assumiu, sob a influência da ''filosofia neoplatônica'' e ''neopitagórica'', um caráter especulativo.
 
No período [[Gueonim|''gueônico'']], ela é conectada com sendo um livro de texto semelhante a ''Mixná'', o ''Sefer Yeẓirá'', e forma o objeto do estudo sistemático dos eleitos, chamado ''meḳubbalim'' ou ''ba'ale ha-ḳabbalah'' (possuidores de , ou adeptos da ''Recepção''). Estes recebem depois o nome de ''maskilim'' (o sábio), depois de Daniel;<ref group="Veja:">Dan. xii. 10</ref> e porque a ''Recepção'' é chamada a sabedoria oculta (''ḥokmá nistará''), eles também recebem o nome de ''adeptos da graça''.<ref group="Veja:">(Ec. 11, Hebr.)</ref> A partir do século XIII, a ''Recepção'' se ramificou em uma extensa literatura, ao lado e em oposição ao ''Talmud''. Foi escrita em um dialeto aramaico peculiar, e foi agrupada como comentários sobre a Torá, em torno do Zohar como seu livro sagrado, que de repente fez sua aparição.
 
A ''Recepção'' é dividida em um sistema teosófico ou teórico, Ḳabbalah 'Iyyunit e uma cabalá teúrgica ou prática. Em vista do fato de que o nome ''Recepção'' não ocorre na literatura antes do século XI,<ref group="Veja:">(Landauer, ''Orient. Lit.'' vi. 206; compare Zunz, ''GV'' p. 415)</ref> e por causa da pseudepigráfica personagem do Zohar e de quase todos os escritos cabalísticos, a maioria dos estudiosos modernos, entre os quais Zunz, Gratz, Luzzatto, Jost, Steinschneider e Munk,<ref group="Veja:">(bibliografia abaixo)</ref> trataram a ''Recepção'' com um certo [[preconceito]] e de um racionalismo do que do ponto de vista psicológico-histórico; aplicando o nome de ''Recepção'' apenas aos sistemas especulativos que surgiram desde o século XIII, sob títulos pretensiosos e com pretensões fictícias, mas não ao conhecimento místico dos tempos gueônicos e talmúdicos. Tal distinção e parcialidade, no entanto, impedem uma compreensão mais profunda da natureza e progresso da ''Recepção'', que, numa observação mais próxima, mostra uma linha contínua de desenvolvimento a partir das mesmas raízes e elementos.
 
== Kabbalah o termo ==
A '''Kabbalah''' era compreendida tradicionalmente como sendo todo o folclore tradicional, contrastando com a [[Torá|Lei Escrita]], portanto, incluía os livros proféticos e hagiográficos do [[Tanaque]], que partindo do pré-suposto (verossímil) ter sido ''recebido'' do ''[[Ruah HaQodesh|Ruah ÁQodex]]'' (Espirito Santo) e não como escrito pelas mãos de [[D-us|D'us]].<ref group="Veja:">Ta'an. ii. 1; RH 7a, 19a, e em outros lugares no Talmude; compare Zunz, ''GV'' 2ª ed., pp. 46, 366, 415 e Taylor, ''Primeiras provações do Padres Judaicos'', 1899, pp. 106 e segs. , 175 e segs.</ref>
 
Cada doutrina ''recebida'' foi reivindicada como sendo tradição dos Patriarcas - ''masoret me-Abotenu'' -<ref group="Notas">Veja: Josefo, "Ant." xiii. 10, § 6; 16, § 2; Meg. 10b; Sheḳ. vi. 1</ref> que remonta aos Profetas ou a Moisés no Sinai.<ref group="Notas">Compare: "meḳubbalani" em Peah ii. 6; 'Eduy. viii. 7</ref> Então a ''[[Massorá]]'', ''a cerca da Torá,''<ref group="Veja:">(Ab. iii. 13)</ref> é como Taylor afirma,<ref group="Veja:">''l.c''., p. 55</ref> ''uma correlação com a cabalá''. A principal característica da cabalá é a de que, ao contrário das Escrituras, ela foi confiada apenas aos seus poucos eleitos; portanto, de acordo com [[II Esdras|IV Esdras]], [[Moisés]], no monte Sinai, ao receber tanto a [[Torá|Lei]] como o conhecimento de coisas maravilhosas, foi dito pelo [[Tetragrama YHVH|Senhor]]: "Estas palavras tu declararás, e estas esconderás".<ref group="Veja:">[[II Esdras|IV Esdras]] xiv. 5, 6 </ref>
 
Assim, tornando-se regra estabelecida para a transmissão do conhecimento cabalístico na antiga ''Mixná;''<ref group="Veja:">Ḥag. ii. 1</ref> ''não expor o Capítulo da Criação''.<ref group="Veja:">''Ma'aseh Bereshit'', Gen. i.</ref> Antes de mais de um ouvinte nem a da Carruagem Celestial;<ref group="Veja:">''Merkabah'', Ez. i; compare I Cr. xxviii. 18 e Ec. [Sirach] xlix. 8</ref> para qualquer um, mas, um homem de sabedoria e compreensão profunda; isto é, a [[cosmogonia]] e a [[teosofia]] eram consideradas estudos esotéricos.<ref group="Veja:">Ḥag. 13a</ref> Tal foi o ''Masoret ha-Ḥokmá'' (a tradição da sabedoria, entregue por Moisés a [[Josué]];<ref group="Veja:">Tan., Wa'etḥanan, ed. Buber, 13</ref> e igualmente a dupla filosofia dos [[Essênios]], ''a contemplação do ser de Deus e a origem do universo'', especificado por [[Fílon de Alexandria|Philo]].<ref group="Veja:">''Quod Omnis Probus Liber'', xii.</ref> Além destes, havia a [[escatologia]] - isto é, os segredos do lugar e do tempo da retribuição e da redenção futura;<ref group="Veja:">Sifre, Wezot ha-Berakah, 357</ref> ''as câmaras secretas do gigante e [[Leviatã (monstro)|leviatã]]'',<ref group="Veja:">Cant. R. i. 4</ref> o segredo do calendário - isto é,<ref group="Veja:">''Sod ha-'Ibbur''</ref> o modo de calcular os anos com vista ao reino messiânico,<ref group="Veja:">Ket. 111a-112a; Yer. R. H. ii. 58b</ref> finalmente, o conhecimento e uso do Nome Inefável, ''também a ser transmitido apenas aos santos e discretos'',<ref group="Veja:">Ẓenu'im or Essenes; Ḳid. 71a; Yer. Yoma iii. 40d; Ec. R. iii. 11</ref> e dos [[Anjo (judaísmo)|anjos]].<ref group="Veja:">Josefo, ''B. J.'' ii. 8, § 7 </ref> Todos estes formaram a soma e substância dos Mistérios da Torá, ''Sitre'' ou ''Raze Torá'',<ref group="Veja:">Pes. 119a; Meg. 3a; Ab. vi. 1</ref> ''as coisas ditas apenas em um sussurro''.<ref group="Veja:">Ḥag. 14a</ref>
== Procedência da Cabalá ==
=== Quão antiga a cabalá é? ===
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==== Significado de oculto na cabalá? ====
Que muitos desses livros contendo conhecimento secreto foram mantidos escondidos pelos ''sábios'' é claramente declarado em [[II Esdras|IV Esdras]],<ref group="Veja:">IV Esdras xiv. 45-46</ref> onde no Pseudo-Ezra é dito para publicar abertamente os vinte e quatro livros do cânon que os dignos e os indignos podem ler, mas para manter os setenta outros livros escondidos a fim de ''entregá-los apenas a pessoas sábias'';<ref group="compare:">Dn. xii. 10</ref> pois neles está a fonte do entendimento, a fonte da sabedoria e a corrente do conhecimento.<ref group="compare:">Soṭah xv. 3</ref> Um estudo dos poucos livros apócrifos ainda existentes revela o fato, ignorado pela maioria dos escritores modernos sobre a cabalá é que o essenismo, de que ''a tradição mística'' ocasionalmente é aludida na literatura talmúdica ou midráshica<ref group="compare:">Zunz, ''GV'' 2d ed., págs. 172 ''et seq''.; Joël, ''Religionsphilosophie des Sohar'', pp. 45-54</ref> não é muito mais do que uma apresentação sistematizada desses escritos mais antigos, o que dá uma ampla evidência da tradição cabalística contínua; na medida em que a literatura mística do período gueonico é apenas uma reprodução fragmentária dos antigos escritos apocalípticos<ref group="Notas">Cerca de 589-1038 e.C. (ganhou esse nome no meio judaico devido ao rabbi Gueonim (em hebraico: גאונים); veja [[Gueonim]]</ref>, e os santos e sábios do período tannáico herdaram o lugar ocupado primeiramente pelos últimos protoplastos,<ref group="Notas">Mais conhecido como período Mishnáico; veja: [[Tanaíta|Tanaitas]] </ref> patriarcas e escribas bíblicos.
[[File:4Q201.jpg|thumb|4Q201|180px|Fragmento do livro de Enoque 4T201 dos anos 200-150 aC]]
[[File:Ezekiel-Vision-Merkaba.jpg|thumb|180px|Visão de Ezekiel - Merkavá]]
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== Uma cabalá ininterrupta ==
Mais instrutivo ainda para o estudo do desenvolvimento do conhecimento cabalístico é o [[Livro dos Jubileus]] escrito sob o rei [[João Hircano]],<ref group="Veja:">Charles, ''O Livro dos Jubileus'', 1902, Introdução, pp. lviii. ''et seq''. </ref> que também se refere aos escritos de Yarede, Cainã e Noé, e apresenta Abraão como o renovador, e Levi como guardião permanente desses escritos antigos.<ref group="Veja:">Idem:cap. iv. 18, viii. 3, x. 13; Compare: Jellinek, ''B. H.'' iii. 155, xii. 27, xxi. 10, xlv. 16</ref> Porque oferece, tão cedo quanto mil anos antes da suposta data do ''Sefer Yeẓirá'', uma cosmogonia baseada nas vinte e duas letras do [[alfabeto hebraico]], e conectada com a cronologia judaica e messianologia, enquanto ao mesmo tempo insistindo sobre o [[wiktionary:heptad|heptad]] como o número sagrado e não sobre o sistema [[wiktionary:decadic|decadic]] adotado pelos últimos agadistas e o Sefer Yeẓirá.<ref group="Veja:">Idem: cap. ii. 23; E compare Midr. Tadshe vi. Veja: a nota de Charles, vi. 29 et seq.; Epstein, em ''Rev. Et. Juives'', xxii. 11; e em relação ao número sete, compare o Enoque Etíope, lxxvii. 4 et seq. [veja a nota de Charles]; Lev. R. xxix .; Philo, ''De Opificios Mundi'', 80-43, e Ab. v 1-3; Ḥag. 12a.</ref>
 
A idéia pitagórica dos poderes criativos de números e letras, sobre os quais o ''Sefer Yeẓirá'' é fundado, e que era conhecido nos tempos [[Tanaíta|tannáicos]] - compare o ditado de rabbi: ''[[Besaliel|Bezalel]] sabia combinar as letras pelas quais o céu e a terra foram criado'',<ref group="Veja:">Ber. 55a</ref> e o ditado de rabbi [[:en:Judah_bar_IlaiJudah bar Ilai|Judah b. Ilai]] citado,<ref group="Veja:">Men. 29b</ref> com ditos semelhantes do rabbi,<ref group="Veja:">em Bacher, ''Ag. Bab. Amor''. pp. 18, 19</ref> aqui está provado ser uma antiga concepção cabalística. De fato, a crença no poder mágico das letras do [[Tetragrama YHVH|Tetragrama]] e outros nomes da Deidade,<ref group="compare:">Enoque, lxi. 3 ''et seq.''; Oração de Manassés; Ḳid. 71a; Eccl. R. iii. 11; Yer. Ḥag. ii. 77c</ref> parece ter se originado na [[Caldeia|Caldéia]].<ref group="Veja:">Lenormant, ''Magia dos Caldeus'', pp. 29, 43</ref> Qualquer que seja, então, a cabalá [[Teurgia|teúrgica]], que, sob o nome de ''Sefer'' (ou ''Hilkot Yeẓirah'', induziu rabinos babilônicos do [[século IV]] à criarem um bezerro por magia,<ref group="Veja:">Sanh. 65b, 67b; Zunz; ''G. V''. 2d ed., p. 174.</ref> por um falso racionalismo ignoram ou falham em explicar um fato simples, embora estranho!). Uma antiga tradição parece ter acoplado o nome deste teurgo ''Sefer Yetẓirah'' com o nome de Abraão como um credenciado detentor da sabedoria esotérica e poderes teúrgicos.<ref group="Veja:">Apocalipse de Abraão, e Testamento de Abraão; Beer, ''Das Leben Abrahams'', pp.207 ''et seq''.; e especialmente o Testamento de Abraão, Recensão B, vi., xviii.; Compare: Kohler, em ''Jew. Quart. Rev''. vii. 584, nota</ref> Como afirma Jellinek,<ref group="Veja:">''Beiträge zur Kabbalah'', i. 3</ref> o próprio fato de que Abraão, e não um herói talmúdico como rabbi [[Aquiba]], é introduzido no ''Sefer Yeẓirah'', no final, como possuidor da Sabedoria do Alfabeto, indica uma antiga tradição, se não a antiguidade do próprio livro. ''As maravilhas da Sabedoria Criativa'' também podem ser traçadas a partir do ''Sefer Yeẓirah'', de volta a Ben Sira, ''lc''; Enoque, xlii. 1, xlviii. 1, lxxxii. 2, xcii. 1; Enoque eslavo, xxx. 8 xxxiii. 3;<ref group="Veja:">A nota de Charles para mais paralelos</ref> IV Esdras xiv. 46; Soṭah xv. 3; e o Merkavá viaja para Test. Abraão, x; Test. Jó, xi.;<ref group="Veja:">Kohler, em Kohut Memorial Volume, pp. 282-288</ref> e o Apocalipse de Baruch, e até mesmo II Mac. vii. 22, 28, revelam tradições e terminologias cabalísticas .
[[File:SophiaMystical.jpg|thumb|180px|Mistica Sophia]]
== Gnosticismo e Cabalá ==
O gnosticismo atesta a antiguidade da cabalá. De origem caldéia, como sugerido por Kessler;<ref group="Veja:">''Mandæans'', em Herzog-Hauck, ''Real-Encyc.''</ref> definitivamente mostrado por Anz,<ref group="Veja:">''Die Frage nach dem Ursprung des Gnostizismus'', 1879</ref> o gnosticismo era judeu em caráter muito antes de se tornar cristão.<ref group="Veja:">Joël, ''Blicke in die Religionsgeschichte'', etc., 1880, i. 203; Hönig, ''Die Ophiten'', 1889; Friedländer, ''Der Vorchristliche Jüdische Gnostizismus'', 1898; idem, ''Der Antichrist'', 1901</ref> O gnosticismo - isto é, a cabalística ''Ḥokmá'' (sabedoria), traduzido em ''Madda;''<ref group="Notas">(aramaico, ''Manda'' = conhecimento das coisas divinas)</ref> parece ter sido a primeira tentativa por parte dos sábios judeus de dar o conhecimento místico empírico, com a ajuda de idéias [[Platão|platônicas]] e [[Pitágoras|pitagóricas]] ou [[Estoicismo|estóica]], uma reviravolta especulativa; daí o perigo de heresia de que Aquiba e Ben Zoma se esforçaram para se libertar, e dos quais os sistemas de Philo, um adepto da cabalá,<ref group="Veja:">''(De Cherubim'', 14; ''De Sacrificiis Abelis et Caini'', 15; ''De Eo Quod Deterius Potiori Insidiatur'', 48; ''Quis Rerum Divinarum Heres Sit'', 22), e o de Paulo (Matter, ''História do Gnosticismo'', ii.)</ref> mostra muitas armadilhas.<ref group="Veja:">[[Gnosticismo]], [[Minim]]</ref> Era a antiga Cabalá que, enquanto alegorizava o Cântico dos Cânticos, falava de ''Adão Kadmon'', ou o ''Homem-Deus'', da ''Noiva de Deus'', portanto, o ''mistério da união de poderes em Deus'',<ref group="Veja:">Conybeare, ''A vida contemplativa de Philo'', p. 304</ref> antes que Philo, Paulo, os gnósticos cristãos e a cabalá medieval o fizessem.
 
A cabalá especulativa de antigamente falou;<ref group="Veja:">IV Esd. iii. 21; Sabedoria ii. 24</ref> de ''o germe de veneno da serpente transmitida de Adão a todas as gerações'' (זוהמה של) antes Paulo e rabbi Yohanan se referirem a ela.<ref group="Veja:">'Ab. Zarah 22b</ref> E enquanto a classificação gnóstica das almas em [[Pneumática|pneumáticaspneumática]]s, [[Psique|psíquicas]] e [https://www.google.com.br/search?q=h%C3%ADlico&oq=h%C3%ADlico&aqs=chrome..69i57&sourceid=chrome&ie=UTF-8 hílicas] pode ser rastreada até Platão,<ref group="Veja:">Yoël, ''l.c.'' p. 132</ref> Paulo não foi o primeiro (ou apenas um) a adotá-lo em seu sistema.<ref group="Veja:">Ḥag. 14b; Cant. R. i. 3, citado por Yoël, compare Gn. R. xiv., Onde os cinco nomes para a alma são abordados</ref>
 
== Dualidade Cabalística ==
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Via de regra, tudo o que é empírico e não especulativo, e que o atinge como grosseiramente antropomórfico e mitológico na Cabalá ou na Ággadá, como as descrições da Deidade contidas na ''Sifra de Zeni'uta'' e ''Iddra Zuṭṭa,'' do Zohar, e passagens similares em ''Sefer Aẓilut'' e ''Raziel'', pertencem a um período pré-racionalista, quando nenhum Simeon ben Yoḥai viveu para amaldiçoar o professor que representava os filhos de Deus como tendo órgãos sexuais e cometendo fornicação.<ref group="Veja:">(Gn. R. xxvi.; compare Vita ''Adæ et Evæ'', iii. 4, com Enoque, vii. 1 ''et seq''.; também compare Test. Patr., Reuben, 5; Livro dos Jubileus, v. 1, em particular xv. 27)</ref> Tal assunto pode com um alto grau de probabilidade ser reivindicado como Cabalá (''tradição antiga'').
 
E quanto à cabalá especulativa, não foi a Pérsia com o Sufismo do século X, mas Alexandria do primeiro século ou antes, com sua estranha mistura de cultura egípcia, caldaica, judia e grega, que forneceu o solo e as sementes para isso. Filosofia mística que soube misturar a sabedoria e a loucura das eras e emprestar a toda crença supersticiosa ou praticar um profundo significado. Surgiu a literatura mágica que mostrava o nome do Deus dos judeu e dos Patriarcas colocados ao lado de divindades pagãs e demônios, e os livros de Hermes,<ref group="Notas">(como os copistas escreveram para—não ''Homeros''—Veja: Kohler, ''Jew. Quart. Rev.'' v. 415, nota)</ref> que, reivindicando um posto de igualdade com os escritos bíblicos, atraiu também os pensadores judeus.
 
Mas acima de tudo, foi o neoplatonismo que produziu aquele estado de entusiasmo e fascínio que fez as pessoas ''voarem no ar'' pelo ''vagão da alma'' alcançar todos os tipos de milagres por meio de alucinações e visões. Deu origem a essas canções gnósticas,<ref group="Notas">(Ḥag. 15b; Grätz, ''lc''. p. 16)</ref> que inundou também a Síria e a Palestina.<ref group="Veja:">(Gruppe, ''Die Griechischen Culte und Mysterien'', i. 1886, pp. 329, 443, 494, 497, 659; Von Harless, ''Das Buch von den Ægyptischen Mysterien'', 1858, pp. 13-20, 53-66, 75, e Dieterich, ''Abraxas'', 1891)</ref> Todo o princípio da emanação, com sua idéia do mal inerente à matéria como a escória que se encontra ali,<ref group="Veja:">(Von Harless, ''lc'' p. 20)</ref> e toda cabalá teúrgica está em todos os seus detalhes ali desenvolvida; até mesmo o espírito-rap e mesas-girantes feitas no século XVII pelo alemão cabalista por meio de ''shemot'' (encantamentos mágicos para a literatura),<ref group="Veja:">(Von Harless, ''lc'' pp. 130-132)</ref> pois a literatura têm lá seus protótipos.<ref group="Veja:">(Von Harless, ''lc'' pp. 130-132; ''lc'' p. 107)</ref>
 
== História e Sistema ==
<blockquote>''Esse produto notável da atividade intelectual judaica não pode ser estimado de maneira satisfatória como um todo, a menos que o lado religioso-ético da Cabalá seja mais fortemente enfatizado do que tem sido o caso até agora.'' </blockquote>Constantemente recai sobre as Escrituras por sua origem e autenticidade, por suas tendências especulativa-panteístas e antropomórfica-proféticas. Enquanto o misticismo em geral é a expressão do sentimento religioso mais intenso, onde a razão permanece adormecida, o misticismo judaico é essencialmente uma tentativa de harmonizar a razão universal com as Escrituras; ea interpretação alegórica dos escritos bíblicos pelos alexandrinos, bem como pelos palestinos,<ref group="Veja:">([[Interpretação alegórica da Bíblia|Interpretação alegórica]]; [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/1256-allegorical-interpretation Interpretações alegóricas segundo a J.E.])</ref> pode ser justamente considerado como o seu ponto de partida.
 
Essas interpretações tiveram sua origem na convicção de que as verdades da filosofia grega já estavam contidas nas Escrituras, embora fossem dadas apenas aos poucos escolhidos para erguer o véu e discerni-las sob a letra da Bíblia.
 
=== Doutrinas Místicas em Tempos Talmúdicos ===
Nos tempos talmúdicos, os termos ''Ma'aseh Bereshit'' (História da Criação) e ''Ma'aseh Merkavah'' (História do Trono Divino = Carruagem; Ḥag. ii. 1; Tosef., ib.) indicam claramente a natureza midraxica destas especulações; elas são realmente baseadas no Gn. i. e Ez. i. 4-28; enquanto os nomes ''Sitre Torah'' (Ḥag. 13a) e ''Raze Torah'' (Ab. vi. 1) indicam seu caráter como conhecimento secreto.
 
Em contraste com a declaração explícita das Escrituras de que Deus criou não apenas o mundo, mas também o assunto de que foi feito, a opinião é expressa em tempos muito antigos que Deus criou o mundo a partir da matéria que Ele encontrou pronto - uma opinião provavelmente devido à influência da cosmogonia platônica-estoica.<ref group="compare:">(Philo, ''De Opificiis Mundi'', ii., que afirma isso como uma doutrina de Moisés; Veja: Siegfried, ''Philo von Alexandria'', p. 230)</ref> Eminentes professores palestinos sustentam a doutrina da preexistência da matéria,<ref group="Notas">(Gn. R. i. 5, iv. 6)</ref> apesar do protesto de Gamaliel II.<ref group="Notas">(ib. i. 9)</ref>
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==== Deus na Teosofia do Talmude ====
Refletindo sobre a natureza de Deus e do universo, os místicos do período talmúdico afirmaram, em contraste com o transcendentalismo bíblico, que ''Deus é a morada do universo; mas o universo não é a morada de Deus''.<ref group="Veja:">(Gn. R. lxviii. 9; Midr. Teh. xc.; Ex. xxiv. 11, LXX.)</ref>
 
Possivelmente, a designação ''lugar'' para Deus, tão frequentemente encontrada na literatura Talmúdica Midráxica, é devido a esta concepção, assim como Philo, ao comentar sobre o Gen. xxviii. 11 (compare Gn. R. ''lc'') diz: ''Deus é chamado ha maḳom (lugar) porque Ele encerra o universo, mas não é encerrado por nada''.<ref group="Notas">(''De Somniis'', i. 11)</ref> Espinosa pode ter tido essa passagem em mente quando disse que os antigos judeus não separavam Deus do mundo.
 
Essa concepção de Deus não é apenas panteísta, mas também altamente mística, pois postula a união do homem com Deus;<ref group="compare:">(Creseas, ''Ohr Adonai'', i.)</ref> e ambas essas idéias foram desenvolvidas na Cabalá posterior. Mesmo em épocas muito antigas, a teologia palestina e alexandrina reconhecia os dois atributos de Deus, ''middat hadin'', o atributo da justiça, e ''middat ha-raḥamim'', o atributo da misericórdia;<ref group="compare:">(Sifre, Deut. 27; Philo, ''De Opificiis Mundi'', 60)</ref>
 
Mesmo a hipóstase desses atributos é antiga, como pode ser visto na observação de um [[Tanaíta|tanna]] do começo do segundo século e.C.<ref group="Veja:">(Ḥag. 14a)</ref> Outras hipostatizações são representadas pelas dez ações através das quais Deus criou o mundo, ou seja; ''sabedoria'', ''discernimento'', ''cognição'', ''força'', ''poder'', ''inexorabilidade'', ''justiça'', ''direito'', ''amor'' e ''misericórdia''.<ref group="Notas">(Ḥag. 12a; Ab. R. N. xxxvii. conta apenas sete, enquanto Ab. R. N., versão B, ed. Schechter, xliii., conta dez, não totalmente idênticas às do Talmud)</ref>
 
Enquanto as [[Sefirot]] são baseadas nessas dez potencialidades criativas, é especialmente a personificação da sabedoria (Hokmá) que, em Philo, representa a totalidade dessas idéias primitivas; e o Targ. Yer. i., concordando com ele, traduz o primeiro versículo da Bíblia da seguinte forma: ''Por sabedoria Deus criou o céu e a terra''. Assim, também, a figura de Meṭaṭron passou para a Cabalá a partir do Talmud, onde desempenhou o papel dos demiurgos,<ref group="Notas">([[Gnosticismo]])- {{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/6723-gnosticism|titulo=Gnosticismo|data=|acessodata=26 de abril de 2018|publicado=Jewish Encyclopedia|ultimo=Jacobs, Blau|primeiro=Joseph, Ludwig|lingua=en}}</ref> sendo expressamente mencionado como Deus.<ref group="Veja:">(Sanh. 38b; compare [[Antinomianismo]], nota 1)</ref>
 
Pode-se mencionar também as sete coisas preexistentes enumeradas em um velho Baraita; nomeadamente, a Torá (Ḥokmá), arrependimento (misericórdia), paraíso e inferno (justiça), o trono de Deus, o templo (celestial) e o nome do [[Messias|Maxiah]].<ref group="Veja:">(Pes. 54a)</ref> Embora a origem dessa doutrina deva ser buscada provavelmente em certas idéias mitológicas, a doutrina platônica da preexistência modificou a concepção mais antiga e mais simples, e a preexistência dos sete deve, portanto, ser entendida como uma preexistência ''ideal'',<ref group="Veja:">(Ginzberg, ''Die Haggada bei den Kirchenvätern'', etc., pp. 2-10)</ref> uma concepção que mais tarde foi desenvolvida mais completamente na Cabalá.<ref group="Notas">Os 7 = ''Hesed''; ''Guevurá''; ''Tifferet''; ''Netzah''; Hod (''Áud''); Yesod (''Ysud'') - O Zeir Anpin ([[:en:Zeir_AnpinZeir Anpin|Ze'eir]]- em Aramaico)</ref>
 
As tentativas dos místicos de colmatar o abismo entre Deus e o mundo são especialmente evidentes na doutrina da preexistência da alma.<ref group="compare:">(Enoque Eslavo, xxiii. 5, e as notas de Charles.—K.)</ref> e de sua relação íntima com Deus antes de entrar no corpo humano—uma doutrina ensinada pelos sábios helênicos;<ref group="Veja:">(Sabedoria viii. 19)</ref> bem como pelos rabbis palestinos.<ref group="Veja:">(Ḥag. 12b; 'Ab. Zarah 5a, etc.)</ref>
 
==== O piedoso ====
Intimamente conectado, está a doutrina de que os piedosos estão habilitados a ascender em direção a Deus, mesmo nesta vida, se eles souberem libertar-se dos obstáculos que prendem a alma ao corpo.<ref group="Notas">([[Ascensão]]) - {{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/1885-ascension|titulo=Ascensão|data=|acessodata=26 de abril de 2018|publicado=Jewish Encyclopedia|ultimo=Kohler, Ginzberb|primeiro=Kaufmann, Louis|lingua=en}}</ref>
 
Assim, os primeiros místicos foram capazes de revelar os mistérios do mundo além.
 
De acordo com Anz, ''lc'', e Bousset, ''Die Himmelreise der Seele'', no ''Archiv für Religionswissenschaft'', iv. 136 ''et seq''., a doutrina central do gnosticismo—um movimento intimamente ligado ao misticismo judaico—foi nada mais que a tentativa de libertar a alma e uni-la a Deus.
 
===== Essa concepção explica a grande proeminência de anjos e espíritos no misticismo judaico anterior e posterior. =====
Através do emprego de mistérios, encantamentos, nomes de anjos, etc., o místico assegura para si mesmo a passagem para Deus, e aprende as palavras e fórmulas sagradas com as quais ele domina os espíritos malignos que tentam frustrá-lo e destruí-lo.
 
Assim também os essênios estavam familiarizados com a idéia da jornada para o céu;<ref group="Veja:">(Bousset, l.c. p. 143, explicado em Josefo, ''Ant.'' xviii. 1, § 5)</ref> e eles também eram mestres da angelologia. A prática de magia e encantamento, a angelologia e a demonologia, foram emprestadas da Babilônia, da Pérsia e do Egito; mas esses elementos estrangeiros foram judaizados no processo, e tomaram a forma da adoração mística do nome de Deus e de especulações sobre o poder misterioso do alfabeto hebraico;<ref group="Veja:">(Ber. 55a; compare Pesiḳ. R. 21 [ed. Friedmann, p. 109a], ''o nome de Deus cria e destrói mundos'')</ref> para se tornar, finalmente, fundamentos da filosofia do ''Sefer Yeẓirah''.
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A doutrina da emanação, também comum ao gnosticismo e à cabala, é representada por um [[Tanaíta|tanna]] do meio do segundo século e.C.<ref group="Veja:">(Gn. R. iv. 4; R. Meïr, Parábola da Primavera)</ref> ''A ideia de que as ações piedosas dos justos aumentam o poder celestial'';<ref group="Veja:">(Pesiḳ., ed. Buber, xxvi. 166b)</ref> que os ímpios confiam em seus deuses, mas que os justos são o apoio de ''Deus'',<ref group="Veja:">(Gn. R. lxix. 3)</ref> deu origem à doutrina cabalística posterior da influência do homem no curso da natureza, na medida em que as boas e más ações do homem fortalecem respectivamente os bons ou os maus poderes da vida.
 
Os elementos heterogêneos desse misticismo talmúdico ainda não foram fundidos; os ingredientes platônico-alexandrino, oriental-teosófico e Judæo-alegórico ainda sendo facilmente reconhecíveis e ainda não elaborados no sistema da cabala.
 
O monoteísmo judaico ainda era transcendentalista. Mas como o misticismo tentou resolver os problemas da criação e do governo mundial introduzindo diversos personagens intermediários, potencialidades criativas como ''Meṭaṭron'', ''Xekiná'' e assim por diante, mais se tornou necessário exaltar a Deus a fim de impedir sua redução a uma mera sombra; essa exaltação se tornou possível pela introdução da doutrina panteísta da emanação, que ensinava que na realidade nada existia fora de Deus.
 
Contudo, se Deus é o ''lugar do mundo'' e tudo existe Nele, deve ser a principal tarefa da vida sentir-se em união com Deus - uma condição que os viajantes da Merkavá, ou, como o Talmud os chama, [[Pardes (lenda)|os frequentadores do paraíso]], esforçaram-se para alcançar. Aqui está o ponto em que a especulação dá lugar à imaginação.
 
As visões que esses místicos contemplavam em seus êxtases eram consideradas reais, dando origem, no interior do judaísmo, a um misticismo antropomórfico, que tomava seu lugar ao lado do dos panteístas. Embora a literatura Midráxica-Talmúdica tenha deixado alguns traços desse movimento,<ref group="compare:">(por exemplo, Ber. 7a, Sanh. 95b)</ref> os rabbis se opõem a tais extravagâncias, mas, os escritos dos pais da igreja evidenciam muitos gnósticos judaizantes que eram discípulos do antropomorfismo (Orígenes, ''De Principiis'', compare ''Clementina'', ''Elcesaites'', ''Minim'').<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/4412-clementina|titulo=CLEMENTINA - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-04-27|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref>
 
== Diferentes Grupos de Literatura Mística ==
A literatura mística do período gueônico forma o elo entre as especulações místicas do Talmud e o sistema da cabala; originários de um e terminando no outro. É extremamente difícil resumir o conteúdo e objeto desta literatura, que foi transmitida de forma mais ou menos fragmentária.
 
Talvez seja mais convenientemente dividido em três grupos:
 
# theosophic; ([[teosófica]])
Linha 161:
 
=== Meṭaṭron-Enoch ===
Curiosamente, a descrição antropomórfica de Deus (veja: ''Shi'ur Ḳomah'')<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/13595-shi-ur-komah|titulo=SHI'UR ḲOMAH - JewishEncyclopedia.com|data=|acessodata=2018-04-27|obra=www.jewishencyclopedia.com|publicado=|ultimo=|primeiro=|lingua=en}}</ref> foi colocada em conexão com Meṭaṭron-Enoch no misticismo gueônico. Esta peça vexatória da teosofia judaica, que proporcionou aos cristãos, bem como aos caraítas (compare Agobard; Solomon b. Jeroham)<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/902-agobard|titulo=AGOBARD - JewishEncyclopedia.com|data=|acessodata=2018-04-27|obra=www.jewishencyclopedia.com|publicado=|ultimo=|primeiro=|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/13864-solomon-ben-jeroham|titulo=SOLOMON BEN JEROHAM - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-05-05|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> uma oportunidade bem-vinda para um ataque ao judaísmo rabínico, existia como uma obra separada na época dos Gueonim. A julgar pelos fragmentos de ''Shi'ur Ḳomah'',<ref group="Veja:">(em; Jellinek, ''B. H.'' iii. 91; ii. 41; em Wertheimer, ''Hekalot'', ch. xi.)</ref> representava Deus como um ser de dimensões gigantescas, com membros, braços, mãos, pés, etc.
 
O ''Shi'ur Ḳomah'' deve ter sido muito respeitado pelos judeus, já que [[Saadia Gaon|Saadia]] tentou explicá-lo alegoricamente—embora duvidasse que o tanna Ixmael pudesse ter sido o autor do trabalho—<ref group="Notas">(como citado por Judah b. Barzilai em seu comentário sobre ''Sefer Yeẓirah'', pp. 20-21)</ref> Haim Gaon, apesar de seu repúdio enfático de todo antropomorfismo, defendeu-o.<ref group="Notas">(''Teshubot ha-Geonim'', Lick, p. 12a)</ref>
 
O livro provavelmente se originou em uma época em que a concepção antropomórfica de Deus era atual—isto é, na era do gnosticismo, recebendo sua forma literária apenas no tempo dos Gueonim.
 
Os escritos de Clementine, também, expressamente ensinam que Deus é um corpo, com membros de proporções gigantescas; e assim fez Marcion.
 
''Adam Ḳadmon'',<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/761-adam-kadmon|titulo=ADAM ḲADMON - JewishEncyclopedia.com|data=|acessodata=2018-04-27|obra=www.jewishencyclopedia.com|publicado=|ultimo=|primeiro=|lingua=en}}</ref> o ''homem primitivo'' dos elcesaítas, também era, de acordo com a concepção desses gnósticos judeus, de dimensões enormes; a noventa e seis milhas de altura e noventa e quatro milhas de largura; sendo originalmente andrógino, e depois fissurado em dois, a parte masculina se tornando o [[Mashiach|Maxiah]], e a parte feminina [[Ruah HaQodesh|Ruah á-Qodex]].<ref group="Notas">(Epiphanius, ''Hæres''. xxx. 4, 16, 17; liii. 1)</ref><ref group="Veja:">[[Midrash|Midrax]]</ref>
 
=== Shi'ur Ḳomah ===
De acordo com [[Marcião de Sinope|Marcion]], o próprio Deus está além das medidas e limitações corporais, e como um espírito não pode sequer ser concebido; mas para manter relações sexuais com o homem, Ele criou um ser com forma e dimensões, que está acima dos mais altos anjos.
 
Era, presumivelmente, este ser cuja forma e estatura foram representados no ''Shi'ur Ḳomah'', que mesmo os seguidores rigorosos do Rabinismo puderam aceitar, como pode ser aprendido com o ''Kerub ha-Meyuḥad'' na Cabala Alemã, que será discutido mais adiante neste artigo.
Linha 178:
=== Os salões celestes ===
{{Artigo principal|Literatura Heikalot e Merkavá}}
As descrições dos salões celestiais em tratados; tinham grande valor na época dos Gueonim, e que desceram em fragmentos bastante incompletos e obscuros, originado, de acordo com Haim Gaon, com aqueles [[Mistagogo|mistagogosmistagogo]]s do [[Merkabah|Merkavá]], que se levaram a um estado de visão extasiada por jejum, ascetismo e oração, e que viram os sete salões e tudo o que há nele com seus próprios olhos, enquanto passam de um salão para outro.<ref group="compare:">(''Ascensão'', e para uma descrição similar do êxtase Montanista, Tertuliano, ''De Exhortatione Castitatis'', x.)</ref> Embora essas visões de Heikalot fossem até certo ponto produtivas de uma espécie de êxtase religioso e fossem certamente de grande utilidade no desenvolvimento da poesia litúrgica, como mostrado no ''Ḳedushah piyyuṭim'', elas contribuíram pouco para o desenvolvimento do misticismo especulativo. Este elemento tornou-se efetivo apenas em combinação com a figura de ''Meṭaṭron'' ou ''Meṭaṭron-Enoch'', o líder dos viajantes Merkavá em suas jornadas celestiais, que foram iniciados por ele nos segredos do céu, das estrelas, dos ventos, dos água, e da terra.<ref group="Veja:">(Meṭaṭron, e comparar [[Mitraísmo|Mithras]] como motorista da Carruagem Celestial em ''Dio Chrysostomus'', ii. 60, ed. Dindorf; Windischmann, ''Zoroastrische Studien'', 1863, pp. 309-312; e Kohler, ''Test. de Jó'', p. 292.—K.)</ref>
 
Por isso, muitas doutrinas cosmológicas originalmente contidas nos livros de Enoc foram apropriadas, e a transição da teosofia para a cosmologia pura tornou-se possível.
Linha 185:
 
=== Teorias Cosmológicas ===
Na descrição dos seis dias da criação, no [[Midrash|Midrax]] em questão, a importante declaração é feita de que a água desobedeceu ao mandamento de Deus—uma antiga doutrina mitológica da resposta de Deus com a matéria (aqui representada pela água), que na Cabalá posterior serve como explicação para a presença do mal no mundo.<ref group="Veja:">"[https://www.sefaria.org/Bereishit_Rabbah.1.3?lang=bi&with=all&lang2=en No princípio Deus criou] ..." Rabino Tanchuma abriu [com o verso ( [[Livro de Salmos|Salmos]] 86:10 ),] - ''Eis que; Você é grande, e você realiza maravilhas...''</ref>
 
No entanto, a competição é entre as águas masculinas e femininas que se esforçaram para unir-se, mas que Deus separou a fim de impedir a destruição do mundo pela água; colocando as águas masculinas nos céus e as águas femininas na terra (''l.c.'' p.&nbsp;6).
 
Independentemente da criação, o ''Baraita de-Middot ha-'Olam'' e o ''Ma'aseh Bereshit'' descrevem as regiões do mundo com o paraíso no leste e o mundo inferior no oeste.
 
Todas essas descrições—algumas delas encontradas no segundo século pré-cristão, no Test. de Abraão e em Enoc; e, mais tarde, na literatura cristã apocalíptica—são obviamente remanescentes da antiga cosmologia [[Essênios|essênica]].
 
=== Cabalá teúrgica ===
O misticismo dessa época tinha um lado prático e também teórico. Qualquer um que conheça os nomes e funções dos anjos poderia controlar toda a natureza e todos os seus poderes.<ref group="compare:">por exemplo, Lam. R. ii. 8; e [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/7175-hananeel Hananeel] em [[Literatura rabínica|Literatura Rabínica]]</ref>
 
Provavelmente confiados antigamente apenas à tradição oral, os nomes antigos foram escritos pelos místicos do período gueônico; e assim Hai Gaon;<ref group="Veja:">na coleção de Eliezer Axkenazi, ''Ta'am Zeḳenim'', p. 56b</ref> menciona um grande número de obras como as existentes em seu tempo:
 
* ''Sefer ha-Yashar,''
Linha 203:
* ''Sod Torah,''
* ''Hekalot Rabbati,''
* ''Hekalot Zuṭrati''.
 
De todas essas obras, além do Heikalot, apenas o ''Ḥarba de-Mosheh'' foi publicado por Gaster.<ref group="Veja:">A Espada de Moisés, em Jour. Royal Asiatic Soc. 1896; também impressa separadamente</ref> Este livro consiste quase inteiramente de nomes místicos por meio dos quais o homem pode se proteger contra doenças, inimigos e outros males, e pode subjugar a natureza. Essas e outras obras mais tarde formaram a base da cabala teúrgica.
 
As amplificações do paraíso e do inferno, com suas divisões, ocupam uma posição totalmente independente e um tanto peculiar no misticismo gueônico. Eles são atribuídos para a maior parte do [[Amoraíta|amora]] Joshua bn Levi; mas, além deste herói da Ággadá, o próprio Moisés é acusado de ter sido o autor do trabalho ''Ma'ayan Ḥokmá''.<ref group="compare:">Soṭah ix. 15, que dá conta do céu e dos anjos</ref>
 
=== Literatura Mística em Tempos Gueônicos ===
Linha 229:
 
=== Origem da cabala especulativa ===
Declaração de [[Eleazar de Worms]] que um estudioso babilônico,<ref name="en.wikipedia.org">{{Citar periódico|data=2017-11-02|titulo=Eleazar of Worms|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Eleazar_of_Worms&oldid=808341234|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> [[Aaron b. Samuel]] de nome,<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/87-aaron-ben-samuel|titulo=AARON BEN SAMUEL - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-04-28|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> trouxe a doutrina mística de Babilônia para a Itália em meados do [[século IX]], foi encontrado como sendo realmente verdade.
 
De fato, as doutrinas do ''Kerub ha-Meyuḥad'', do poder misterioso das letras do alfabeto hebraico e da grande importância dos anjos, são todas encontradas no folclore místico gueônico. Mesmo aqueles elementos que parecem desenvolvimentos posteriormente podem ter sido transmitidos oralmente, ou podem ter formado partes das obras perdidas dos antigos místicos.
 
Se, agora, a cabala alemã do século XIII deve ser considerada como sendo meramente uma continuação do misticismo gueônico; conclui-se que a cabala especulativa surgindo simultaneamente na França e na Espanha deve ter tido uma gênese semelhante.
 
É o ''Sefer Yeẓirah'' que assim forma o elo entre a cabala e os místicos gueônicos. Tanto a data quanto a origem deste livro singular ainda são discutíveis, e muitos estudiosos até o atribuem ao período talmúdico.
 
É certo, no entanto, que no início do século IX a obra desfrutou de uma reputação tão grande que ninguém menos que [[Saadia Gaon|Saadia]] escreveu um comentário sobre ele. A questão da relação entre Deus e o mundo é discutida neste livro, o mais antigo trabalho filosófico em hebraico.
Linha 245:
* Os fundamentos de toda a existência são as dez Sefirot.
* Estes são os dez princípios que medeiam entre Deus e o universo.
* Eles incluem as três emanações primárias procedentes do Espírito de Deus:
 
# '''Ar''' ou espírito, provavelmente para ser traduzido como "ar espiritual"), que produziu
# '''Água''' primal, que, por sua vez, foi condensada em
# '''Fogo'''.
 
* Seis outros são as três dimensões em ambas as direções (esquerda e direita); estes nove, junto com o Espírito de Deus, formam as dez Sefirot.
Linha 256:
* O Espírito de Deus, no entanto, não é apenas o começo, mas é também o fim do universo; pois as Sefirot estão intimamente ligadas umas às outras:
 
<blockquote>''<sup><big>1: 7.</big></sup>'' ''<sub><big>10 Sefirot Belimá: Seu fim está no início e seu início começa em seu fim, quando a chama é ligada à brasa; que é o único mestre e não há dois, antes de Um; o que você pode contar?</big> <small>[[Dez Sefirot|10 sefirot de Ain]]</small></sub>'' </blockquote>
 
* Enquanto os três elementos primitivos constituem a substância das coisas, as vinte e duas letras do alfabeto hebraico constituem a forma.
Linha 263:
 
=== Misticismo dos hereges judeus ===
A importância deste livro para a última Cabala, superestimada anteriormente, tem sido subestimada nos tempos modernos. As emanações aqui não são as mesmas que as postuladas pelos cabalistas; pois nenhuma escala graduada de distância das emanações primais é assumida, nem as Sefirot são idênticas àquelas enumeradas na Cabala posterior.
 
Mas o acordo em pontos essenciais entre a Cabala posterior e o ''Sefer Yeẓirah'' não deve ser menosprezado. Ambos postulam seres mediatos em lugar da criação imediata a partir do nada; e esses seres mediatos não foram criados, como aqueles postulados nas várias cosmogonias, mas são emanações.
 
Os três elementos primordiais do ''Sefer Yeẓirah'', que a princípio existiam apenas idealmente e depois se manifestaram em forma, [[Quatro Mundos|Beriá da Cabala]] posterior. Em conexão com o ''Sefer Yeẓirah'' devem ser mencionadas as especulações místicas de certas seitas judaicas, as quais, por volta do ano 800, começaram a difundir doutrinas que durante séculos haviam sido conhecidas apenas por alguns iniciados.
 
Assim, os maghariyites ensinaram que Deus, que é exaltado demais para ter quaisquer atributos atribuídos a Ele nas Escrituras,<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=vfR5ZTDal3oC&pg=PA109&lpg=PA109&dq=Maghariyites&source=bl&ots=y2_18SpY68&sig=e8eYfWi7SD8IW2qLZsCgA7H-ItQ&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiNt_KD993aAhVCGJAKHQKcC0cQ6AEIKTAA|título=History of the Jews|ultimo=Graetz|primeiro=Heinrich|data=2009-01-01|editora=Cosimo, Inc.|lingua=en|isbn=9781605209500}}</ref> criou um anjo para ser o verdadeiro governante do mundo;<ref group="compare:">Meṭaṭron no Talmud.—K.</ref> e para este anjo tudo deve ser referido que a Escritura reconta a Deus.<ref group="Notas">(Ḳirḳisani, extratos de seu manuscrito citados por Harkavy em Rabbinowicz's Tradução hebraica de Grätz's ''Gesch. der Juden'', iii. 496; separadamente sob o título ''Le-Ḳorot ha-Kittot be-Yisrael''</ref> Esta forma judaica do Demiurgo gnóstico, que também era conhecido dos samaritanos,<ref group="Notas">(Baneth, Marquah, nas vinte e duas letras do alfabeto, pp. 52-54)</ref> foi aceita com pequenas modificações pelos caraítas bem como pelos cabalistas alemães, como será mostrado mais adiante.<ref group="Veja:">(Judah Hadassi, ''Eshkol ha-Kofer'', 25c, 26b)</ref>
 
Benjamin Nahawendi parece ter conhecimento de outras emanações além deste Demiurgo.<ref group="Veja:">(Harkavy, l.c. v. 16)</ref> Essas, é claro, não eram novas teorias originadas nessa época, mas um despertar do gnosticismo judeu, que havia sido suprimido por séculos pela crescente preponderância do rabbinismo, e agora reapareceu não por acaso, numa época em que o saduceísmo, o velho inimigo de rabbinismo, também reapareceu, sob o nome de Caraísmo.
 
Mas enquanto os últimos, como atraentes para as massas, foram energicamente e até amargamente atacados pelos representantes do rabbinismo, eles fizeram provisão para um renascimento do gnosticismo.
 
Pois, embora os tratados cabalísticos atribuídos a certos gueonim fossem provavelmente fabricados em épocas posteriores, é certo que os números dos gueonim, mesmo muitos que estavam intimamente ligados às academias, eram fervorosos discípulos de tradição mística.
 
O pai da cabala alemã era, como é agora conhecido, um babilônico,<ref group="Veja:">([http://www.jewishencyclopedia.com/articles/91-aaron-ben-samuel-ha-nasi Aaron b. Samuel ha-Nasi]) em inglês.</ref> que emigrou para a Itália na primeira metade do século IX, onde os Kalonymides levaram seus ensinamentos para a Alemanha,<ref>{{Citar periódico|data=2017-09-28|titulo=Kalonymos family|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Kalonymos_family&oldid=802776002|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> onde no século XIII; uma doutrina esotérica, essencialmente idêntica à que prevalecia na Babilônia, cerca de 800, é encontrada.
Linha 289:
# o mundo das esferas;
# os elementos do mundo sublunar;
# o mundo de minerais, plantas e animais composto por esses elementos.
 
Estes oito formam, junto com Deus, o Absoluto, que está em e com tudo, a escala das nove substâncias primitivas, correspondendo aos nove números primários e às nove esferas.
Linha 299:
As doutrinas de Solomon ibn Gabirol influenciaram o desenvolvimento da cabala mais do que qualquer outro sistema filosófico; e seus pontos de vista sobre a vontade de Deus e sobre os seres intermediários entre Deus e a criação eram especialmente pesados.
 
Gabirol considera Deus como uma unidade absoluta, em quem; forma e substância são idênticas; portanto, nenhum atributo pode ser atribuído a Deus, e o homem só pode compreender Deus por meio dos seres que emanam dEle.
 
Visto que Deus é o começo de todas as coisas, e substância composta é a última de todas as coisas criadas, deve haver elos intermediários entre Deus e o universo; pois há necessariamente uma distância entre o começo e o fim, que de outra forma seria idêntico.<ref group="inserção">Veja: [[Tzimtzum|TzimTzum]]</ref>
 
O primeiro elo intermediário é a vontade de Deus (Ratzon = vontade; desejo), a hipóstase de todas as coisas criadas; Gabirol significa, por vontade, o poder criador de Deus manifestado em um certo ponto do tempo e então procedendo em conformidade com as leis das emanações.
 
Como isso unirá dois contrastes—nomeadamente, Deus e a Criação—deve necessariamente participar da natureza de ambos, sendo fator e factum ao mesmo tempo. A vontade de Deus é imanente em tudo; e dele procederam as duas formas de ser ''materia universalis'' (ὕλη) e ''forma universalis''. Mas só Deus é ''criador ex nihilo'': todos os seres intermediários criam por meio da emanação graduada do que está contido neles potencialmente.
 
Assim, Gabirol assume cinco seres intermediários; entre Deus e a matéria; a saber:
 
# vontade;
Linha 313:
# o espírito universal;
# as três almas, nomeadamente; vegetativa, animal e pensante;
# a natureza, o poder motivador dos corpos.
 
Gabirol também menciona os três mundos cabalísticos, Beriah, Yeshira e 'Asiyah; enquanto ele considera Aẓilut ser idêntico à vontade.<ref group="Notas">(citado por Ibn Ezra, comentário sobre Isa. Xliii. 7)</ref> A teoria da concentração de Deus, pela qual a cabala tenta explicar a criação do finito a partir do infinito, também é encontrada na forma mística em Gabirol.<ref group="Veja:">(Munk, ''Mélanges'', pp. 284, 285)</ref>
 
Ainda assim, por maior que seja a influência que Gabirol exerceu sobre o desenvolvimento da cabala, seria incorreto dizer que o último é derivado principalmente dele.
 
O fato é que, quando a tradição mística judaica entrou em contato com a filosofia árabe-judaica, ela se apropriou dos elementos que a atraíam; isto sendo especialmente o caso com a filosofia de Gabirol por causa do seu caráter místico.
 
Mas outros sistemas filosóficos, de Saadia a Maimônides, também foram colocados sob contribuição. Assim, o importante cabalista alemão Eleazar de Worms foi fortemente influenciado por Saadia; enquanto as opiniões de [[Ibn Ezra]] encontraram aceitação entre os germanos, bem como os cabalistas espanhóis.
 
Possivelmente, mesmo Maimonides, o maior representante do racionalismo entre os judeus da Idade Média, contribuiu para a doutrina cabalística do ''[[Ein Sof|Ein-Sof]]'' por seu ensino que nenhum atributo poderia ser atribuído a Deus [a menos que seja de origem pitagórica].<ref group="Veja:">Bloch em Winter e ''Wünsche, Jüdische Literatur'', iii. 241, nota 3</ref>
 
=== A cabala alemã ===
As doutrinas esotéricas do Talmud, o misticismo do período dos Gueonim e a filosofia neoplatônica árabe são, portanto, os três principais constituintes da Cabala propriamente dita, como é encontrado no século XIII.
 
Esses elementos heterogêneos também explicam o estranho fato de que a cabala apareceu ao mesmo tempo em dois diferentes centros de cultura, sob diferentes condições sociais e políticas, sendo cada forma totalmente diferente em caráter de outra.
 
A cabala alemã é uma continuação direta do misticismo gueônico. Seu primeiro representante é Judá, o Piedoso (falecido em 1217), cujo pupilo, Eleazar de Worms, é seu mais importante expoente literário. [[Abraham Abulafia]] foi seu último representante, meio século depois.
 
A exatidão da afirmação de Eleazar,<ref group="Veja:">''Maẓref la-Ḥokmah'', de Del Medigo, ed. 1890, pp. 64, 65</ref> no sentido de que os Kalonymides levaram consigo as doutrinas esotéricas da Itália para a Alemanha, por volta de 917, foi satisfatoriamente estabelecida. Até a época de Eleazar, essas doutrinas eram, em certo sentido, propriedade privada dos Kalonymides e eram mantidas em segredo até que Judá, o Piedoso, ele mesmo membro dessa família, encarregou seu discípulo Eleazar de introduzir a doutrina esotérica oral e escrita em um círculo.
 
=== Misticismo cristão e judaico ===
As doutrinas essenciais desta escola são as seguintes:
 
* Deus é exaltado demais para a mente mortal compreender, já que nem mesmo os anjos podem formar uma idéia dEle.
* A fim de ser visível tanto para os anjos quanto para os homens, Deus criou a partir do fogo divino Sua (majestade), também chamado de que tem tamanho e forma e senta em um trono no leste, como o representante real de Deus. Seu trono é separado por uma cortina no leste, sul e norte do mundo dos anjos; o lado a oeste sendo descoberto,<ref group="compare:">no entanto, a Shekiná de Deus que habita no leste (''Constituições Apostólicas'', ii. 57) .- K.</ref> para que a luz de Deus, que está no oeste, possa iluminá-lo.
* Todas as declarações antropomórficas da Escritura referem-se a essa ''majestade'', não ao próprio Deus, mas ao Seu representante. Correspondendo aos diferentes mundos dos cabalistas espanhóis, os cabalistas alemães também assumem quatro (às vezes cinco) mundos; a saber:
 
# o mundo da ''glória'' que acabamos de mencionar;
# o mundo dos anjos;
# o mundo da alma animal;
# o mundo da alma intelectual.
 
É fácil discernir que esta teosofia curiosa não é um produto da época em que os cabalistas alemães viveram, mas é composta de doutrinas antigas, que, como dito acima, se originaram no período Talmúdico.
 
Os alemães, carentes de treinamento filosófico, exerceram toda a maior influência na cabala prática, bem como no misticismo extático. Assim como na Espanha nessa época, a mente profundamente religiosa dos judeus se revoltou contra o frio racionalismo aristotélico que começara a dominar o mundo judaico por influência de Maimônides, de modo que os judeus alemães, em parte influenciados por um movimento semelhante no cristianismo, começaram a se levantar contra o ritualismo tradicional.
 
Judá, o Piedoso,<ref group="Notas">(Introdução ao ''Sefer Ḥasidim'')</ref> repreende os talmudistas com ''debruçar-se muito sobre o Talmud sem alcançar nenhum resultado''. Assim, os místicos alemães tentaram satisfazer suas necessidades religiosas à sua maneira; ou seja, pela contemplação e meditação. Como os místicos cristãos,<ref group="Veja:">Preger, ''Gesch. Der Deutschen Mystik'', p. 91</ref> que simbolizavam a estreita ligação entre a alma e Deus pela figura do matrimônio, os místicos judeus descreviam o mais alto grau de amor do homem por Deus em formas sensuais em termos tirados da vida conjugal.
 
Enquanto o estudo da Lei era para os talmudistas o auge da piedade, os místicos concediam o primeiro lugar à oração, que era considerada um progresso místico para Deus, exigindo um estado de êxtase. Foi a principal tarefa da Cabala prática produzir este misticismo extático, já encontrado entre os viajantes Merkavá da época do Talmud e dos Gueonim; portanto, esse estado mental era especialmente favorecido e fomentado pelos alemães.
 
O misticismo alfabético e numeral constitui a maior parte das obras de Eleazar, e deve ser considerado simplesmente como meio para um fim; isto é, alcançar um estado de êxtase pelo emprego apropriado dos nomes de Deus e dos anjos, ''um estado no qual toda parede é removida do olho espiritual''.<ref group="Notas">(Moses of Tachau, em ''Oẓar Neḥmad'', iii. 84; compare Güdemann, ''Gesch. des Erziehungswesens'', i. 159 et seq.)</ref>
 
O ponto de vista representado pelo livro anônimo ''Keter Shem-Ṭob'',<ref group="Veja:">(ed. Jellinek, 1853)</ref> atribuído a Abraão de Colônia e certamente um produto da escola de Eleazar de Worms, representa a fusão desta cabala alemã com a do Misticismo provençal-espanhol.
 
De acordo com este trabalho, o ato de criação foi trazido por um poder primordial que emana da simples vontade de Deus. Esse poder eterno e imutável transformou o universo potencialmente existente no mundo real por meio de emanações graduadas.
 
Essas concepções, originadas na escola de [[Azriel (Místico judeu)|Azriel]], são aqui combinadas com as teorias de Eleazar sobre o significado das letras hebraicas de acordo com suas formas e valores numéricos. A doutrina central deste trabalho refere-se ao [[Tetragrama YHVH|Tetragrama]]; o autor assumindo que as quatro letras yod, he, vaw e he foram escolhidas por Deus para o Seu nome porque eram peculiarmente distinguidas de todas as outras letras.
 
Assim, yod, considerado graficamente, aparece como o ponto matemático a partir do qual os objetos foram desenvolvidos e, portanto, simboliza a espiritualidade de Deus para a qual nada pode ser igual.
 
Como seu valor numérico é igual a dez, o número mais alto, há dez classes de anjos e, correspondentemente, as sete esferas com os dois elementos—fogo coerente com o ar e água com a terra, respectivamente—e Aquele que dirige todos eles, juntos dez poderes; e finalmente as dez Sefirot. Desta forma, as quatro letras do Tetragrama são explicadas em detalhes. Uma geração depois, um movimento em oposição às tendências deste livro surgiu na Espanha; com o objetivo de suplantar a cabala especulativa por um visionário profético.
 
Abraham Abulafia negou as doutrinas das emanações e das Sefirot, e, voltando aos místicos alemães, afirmou que a verdadeira cabala consistia em misticismo letra e número, sistema que, corretamente entendido, traz o homem em relações diretas e estreitas com a ''ratio activa,'' a inteligência ativa do universo, dotando-o assim do poder da profecia.
[[Image:Tree_of_Life,_Medieval.jpg|thumb|160px|Portae Lucis por Joseph Gikatilla (1248 -1325) Augsburg, 1516 O livro é uma tradução Latim de Paulus Ricius do mais influente trabalho cabalístico de Gikatilla.]]
Em certo sentido, [[Joseph ben Abraham Gikatilla|Joseph b. Abraham Gikatilla]], um cabalista oito anos mais novo que Abulafia, também pode ser incluído na escola alemã, desde que ele desenvolveu a carta e o misticismo vocálico, introduzindo assim a Cabala prática em muitos círculos. No entanto, Gikatilla, como seu contemporâneo Tobias Abulafia, ainda hesita entre a cabala abstrata especulativa dos judeus provençais-espanhóis e o simbolismo da carta concreta dos alemães.
 
Esses dois movimentos principais são finalmente combinados nos livros Zoarísticos, nos quais, como diz Jellinek, ''o sincretismo das idéias filosóficas e cabalísticas do século parece completo e acabado''.
 
=== A cabala em Provença ===
Enquanto os místicos alemães podiam se referir a tradições autênticas, os cabalistas da Espanha e do sul da França eram obrigados a admitir que podiam traçar suas doutrinas, que eles designavam como tradição,<ref group="Notas">(Cabalá; portanto, um erudito oriental já em 1223; compare Harkavy, tradução hebraica de ''Gesch. der Juden'', de Grätz, v. 47)</ref> para autoridades não mais antigas que o século XII.
 
O historiador moderno tem maiores dificuldades em determinar a origem da cabala na Provença do que os próprios cabalistas; pois eles concordavam que as doutrinas esotéricas haviam sido reveladas pelo profeta Elias, no começo do século XII, a Jacó ha-Nazir, que iniciou Abraão b. David de Posquières, cujo filho [[Isaac, o Cego]], os transmitiu ainda mais.
 
Mas Isaac, o Cego, não pode ser creditado como sendo o originador da Cabala especulativa, pois é complicado demais para ser o trabalho de um homem, como é evidente pelos escritos de Azriel (nascido por volta de 1160), o suposto aluno de Isaque Azriel, além disso, fala das Sefirot, do En-Sof e dos cabalistas da Espanha;<ref group="Veja:">(em "Ha-Paliṭ" de Sachs, p. 45)</ref> e é absolutamente impossível que Isaque, o Cego, que não era muito mais velho que Azriel (seu pai Abraão morreu em 1198), pudesse ter fundado uma escola tão rapidamente que os estudiosos espanhóis pudessem falar do contraste entre cabalistas e cabalistas filósofos como Azriel faz.
 
Se existe alguma verdade nesta tradição dos cabalistas, isso só pode significar que a relação de Isaac, o Cego, com a cabala especulativa era a mesma que a de seu contemporâneo Eleazar de Worms, ao misticismo alemão; ou seja, que assim como o último fez as doutrinas esotéricas—que foram durante séculos na posse de uma família, ou pelo menos de um círculo muito pequeno—propriedade comum, Isaac introduziu as doutrinas da cabala especulativa pela primeira vez em círculos maiores.
 
Pode-se ainda supor que a filosofia especulativa da Provença, como o misticismo alemão, tenha se originado na Babilônia: o neoplatonismo, alcançando aí seu mais alto desenvolvimento nos séculos VIII e IX, não poderia deixar de influenciar o pensamento judaico.
 
Gabirol, assim como o autor de ''Torat ha-Nefesh'', evidencia essa influência na filosofia judaica; enquanto a cabala assumiu os elementos místicos do neoplatonismo. A cabala, no entanto, não é um produto genuíno dos judeus provençais; pois apenas os círculos em que se encontram são avessos ao estudo da filosofia. As porções essenciais da cabala devem, ao contrário, ter sido levadas para a Provença da Babilônia; sendo conhecido apenas por um pequeno círculo até que o aristotelismo começou a prevalecer, quando os adeptos da cabala especulativa foram forçados a tornar pública sua doutrina.
 
=== O Tratado sobre Emanação ===
O produto literário mais antigo da cabala especulativa é a obra ''Masseket Aẓilut'', que contém a doutrina dos quatro mundos graduados, bem como a da concentração do Ser Divino.
 
A forma em que os rudimentos da Cabala são apresentados aqui, assim como a ênfase dada à manutenção da doutrina em segredo e à piedade compulsória dos alunos, é evidência da data inicial da obra.
 
Na época em que ''Masseket Aẓilut'' foi escrito, a Cabala ainda não havia se tornado objeto de estudo geral, mas ainda estava confinada a alguns dos eleitos. O tratamento é em geral o mesmo que o encontrado nos escritos místicos da época dos Gueonim, com os quais o trabalho tem muito em comum; portanto, não há razão para não considerá-lo como um produto daquela época.
 
As doutrinas do Meṭaṭron e especialmente da angelologia são idênticas às dos Gueonim, e a idéia das Sefirot é apresentada de maneira tão simples e não filosófica que dificilmente se justifica supor que ela foi influenciada diretamente por qualquer sistema filosófico.
Linha 398:
Assim como no ''Masseket Aẓilut'' a doutrina das dez Sefirot é baseada no ''Sefer Yeẓirah'',<ref group="Notas">(ed. Jellinek, p. 6, abaixo)</ref> assim o livro Bahir, que, de acordo com alguns estudiosos, foi composto por Isaac O Cego, e que em qualquer caso se originou em sua escola, parte das doutrinas do ''Sefer Yeẓirah'', que explica e amplia. Este livro foi de importância fundamental em mais de uma maneira para o desenvolvimento da cabala especulativa.
 
As Sefirot são aqui divididas nas três principais—luz primal, sabedoria e razão—e as sete secundárias que têm nomes diferentes. Esta divisão das Sefirot, que atravessa toda a Cabala, é encontrada logo em Pirḳe R. Eliezer III., Da qual o ''Bahir'' emprestou em grande parte; mas aqui pela primeira vez a doutrina da emanação das Sefirot é claramente enunciada.
 
Eles são concebidas como os princípios primordiais inteligíveis do universo, as emanações primárias do Ser Divino, que juntos constituem o (τὸ πᾶν = ''o universo''). A emanação é considerada, não como tendo ocorrido uma vez, mas como contínua e permanente; e o autor tem uma concepção tão imperfeita da importância dessa idéia que considera a emanação como ocorrendo de uma só vez, e não em séries graduadas. Mas essa suposição aniquila toda a teoria da emanação, que tenta explicar a transição gradual do infinito para o finito, compreensível apenas na forma de uma série graduada.
 
==== Oposição ao aristotelismo ====
No geral, o conteúdo do livro—que parece ser uma compilação de pensamentos frouxamente conectados—justifica a suposição de que não é o trabalho de um homem ou o produto de uma escola, mas a primeira tentativa séria de coletar as doutrinas esotéricas. que durante séculos circularam oralmente em certos círculos da Provença e apresentá-los a um público maior.
 
O trabalho é importante porque deu aos estudiosos que nada teriam a ver com a filosofia então corrente—a saber, o aristotelismo—o primeiro incentivo para um estudo aprofundado da metafísica.
 
A primeira tentativa de colocar a doutrina cabalística das Sefirot em uma base dialética poderia ter sido feita apenas por um judeu espanhol, já que os judeus provençais não estavam suficientemente familiarizados com a filosofia, e os poucos entre eles que se dedicavam a essa ciência eram aristotélicos declarados que olhavam com desprezo as especulações dos cabalistas.
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Foi Azriel (1160-1238), um espanhol com formação filosófica, que se comprometeu a explicar as doutrinas da cabala aos filósofos e torná-los aceitáveis para eles. Deve ser notado particularmente que Azriel expressamente diz que a dialética filosófica é para ele apenas os meios para explicar as doutrinas do misticismo judaico,<ref group="Veja:">(em Sachs, "Ha-Pali", p. 45)</ref> para que ''aqueles que também não acreditam, mas peça para ter tudo provado, pode convencer-se da verdade da Cabala''. Os verdadeiros discípulos da cabala estavam satisfeitos com suas doutrinas como eram e sem acréscimos filosóficos. Portanto, a forma atual da Cabala apresentada por Azriel não deve ser considerada absolutamente idêntica à original.
 
Partindo da doutrina dos atributos meramente negativos de Deus, como ensinado pela filosofia judaica da época (ver Atributos),<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/2101-attributes|titulo=ATTRIBUTES - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> Azriel chama Deus de ''Ein Sof'' (אין סוף), o absolutamente Infinito, que só pode ser compreendido como a negação de toda negação. A partir dessa definição do Ein Sof, Azriel deduz a eternidade potencial do mundo —o mundo com todas as suas múltiplas manifestações foi potencialmente contido dentro do Ein Sof; e este universo potencialmente existente tornou-se uma realidade no ato da criação. A transição do potencial para o real é um ato livre de Deus: mas não pode ser chamado de criação; já que uma ''creatio ex nihilo'' é logicamente impensável, e nada do qual o mundo poderia ser formado existe fora de Deus, o Ein Sof.
 
Por isso, não é correto dizer que Deus cria, mas irradia; pois, à medida que o sol irradia calor e luz sem diminuir seu volume, o Ein Sof irradia os elementos do universo sem diminuir seu poder. Esses elementos do universo são as Sefirot, que Azriel tenta definir em sua relação com o Ein Sof, assim como entre si. Embora existam contradições e lacunas no sistema de Azriel, ele foi o primeiro a reunir os elementos dispersos das doutrinas cabalísticas e combiná-los em um todo orgânico. Deixando de lado a forma mística-ággadica das obras cabalísticas que o precederam, Azriel adotou um estilo que era igual e às vezes superior ao dos escritores filosóficos da época.
Linha 426:
 
=== Ibn Latif ===
Isaac ibn Latif,<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/1254-allatif-isaac-ben-abraham-ibn-latif|titulo=ALLATIF, ISAAC BEN ABRAHAM IBN LATIF - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-05-01|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> que floresceu em meados do [[século XIII]], ocupa uma posição peculiar e independente na história da cabala, devido a sua tentativa de introduzir o aristotelismo. Embora ele não fundasse nenhuma escola, e embora os genuínos cabalistas não o considerassem como pertencente ao seu grupo, muitas de suas opiniões encontraram entrada na Cabala.
 
Como [[Maimônides|Maimonides]] ele sustentou o princípio do começo do mundo; sua declaração, Deus não tem vontade porque Ele é vontade, é emprestado de [[Salomão ibne Gabirol|Gabirol]]; e, além disso, ele ensina o princípio da emanação das Sefirot. Ele concebe a primeira emanação divina imediata como o ''primeiro criado'' (הנברא הראשון), um Ser absolutamente divino e absolutamente simples, a substância e condição que tudo contém de tudo o que é. As outras Sefirot partiram disto em gradual emanação serial, crescendo mais grosseira e material à medida que sua distância aumentava de sua origem puramente espiritual e divina. A relação entre o ''primeiro criado'' e tudo o que existe desde então é semelhante àquela entre o simples ponto geométrico e a complicada figura geométrica. O ponto cresce para uma linha, a linha para um plano ou superfícies e isto para um sólido; e assim como o ponto ainda está presente como um elemento fundamental em todas as figuras geométricas, o ''primeiro criado'' continua a agir como o elemento primordial e fundamental de todas as emanações. Essa concepção da primeira Sefirá como um ponto, ou unidade numérica, dentro do universo reaparece com especial freqüência nas apresentações dos cabalistas posteriores.
[[File:SEFER HA-TEMUNAH.jpg|thumb|180px|SEFER HA-TEMUNAH]]
=== Sefer ha-Temunah ===
A continuação real das doutrinas de Azriel, no entanto, pode ser encontrada em várias obras pseudepigráficas da segunda metade do [[século XIII]]. Embora esta literatura tenha sido preservada apenas fragmentariamente, e ainda não tenha sido criticamente editada em qualquer extensão, sua tendência, no entanto, pode ser claramente discernida. Tais obras representam a tentativa de colocar as doutrinas do ''[[Sefer Bahir|Bahir]]'' e de Azriel em forma dogmática, para moldar e determinar os antigos ensinamentos cabalísticos, e não para trazer novos ensinamentos.
 
Entre os produtos importantes desta Cabala dogmática está, em primeiro lugar, a pequena obra ''Sefer ha-Temunah'' (Livro da Forma), que procura ilustrar o princípio da emanação por meio das formas das letras hebraicas. Aqui pela primeira vez a concepção das Sefirot é colocada em formulações definidas no lugar da declaração incerta de que elas deveriam ser consideradas como poderes (כחות) ou como ferramentas (כלים) de Deus. As Sefirot, de acordo com este livro, são poderes inerentes a Deus, e estão relacionados ao Ein Sof, como, por exemplo, os membros são para o corpo humano. Eles estão, por assim dizer, organicamente conectados com Deus, formando um todo indivisível.
 
A questão que por muito tempo ocupou os cabalistas—a saber, como a expressão ou transmissão da vontade pode ser explicada no ato da emanação—é aqui resolvida de uma maneira simples; porque todas as Sefirot, estando organicamente conectadas com o Ein Sof, têm apenas uma vontade comum. Assim como o homem não comunica sua vontade ao seu braço quando ele quer movê-lo, também uma expressão da vontade do Ein Sof não é necessária no ato da emanação. Outro princípio importante, que está muito em evidência desde o [[Zohar]] até as últimas obras cabalísticas, é igualmente claramente expresso pela primeira vez no ''Sefer ha-Temunah''; ou seja, a doutrina da dupla emanação, a positiva e negativa. Isso explica a origem do mal; pois, como a única, a emanação positiva, produziu tudo o que é bom e belo, de modo que o outro, o negativo, produziu tudo o que é mau, feio e imundo.
 
A forma final foi dada à Cabala de Azriel pelo trabalho ''Ma'areket ha-Elohut'', no qual o sistema de Azriel é apresentado mais claro e definitivamente do que em qualquer outro trabalho cabalístico. O princípio fundamental da cabala aqui é a eternidade potencial do mundo; daí o caráter dinâmico das emanações é especialmente enfatizado. O tratamento das Sefirot também é mais completo e extenso do que em Azriel. Eles estão identificados com Deus; a primeira Sefirah Keter (כתר = coroa), contendo em potencia todas as nove emanações subsequentes.
 
A doutrina das emanações duplas, positivas e negativas, é ensinada em ''Ma'areket'', bem como em ''Sefer ha-Temunah'', mas de tal forma que o contraste, que corresponde exatamente com a teoria ''syzygy'' dos gnósticos, aparece apenas na terceira Sefirá, Binah (בינה = "inteligência"). O autor do ''Ma-'areket'' procede como o ''Bahir'' na separação dos três superiores das sete Sefirot inferiores, mas de uma maneira muito mais clara: ele considera apenas os primeiros como sendo de natureza divina, uma vez que eles emanam imediatamente de Deus; enquanto os sete inferiores, que foram todos produzidos pela terceira Sefirá, são menos divinos, pois produzem imediatamente a matéria-mundo inferior. Um contraste que governa o mundo pode, portanto, começar apenas com a terceira Sefirá; porque tal contraste não pode obter no reino puramente espiritual.
Linha 449:
A correspondência com a ordem da Escritura é muito solta, ainda mais do que é frequentemente o caso nos escritos da literatura midraxista. O Zohar é, em muitos casos, um mero agregado de partes [[heterogêneas]]. Além do Zohar propriamente dito, ele contém uma dúzia de peças místicas de várias derivações e datas diferentes que surgem repentinamente, assim desfazendo inteiramente a textura do Zohar que de outro modo seria solta.
[[File:Zohar.png|thumb|180px|Página de rosto da primeira edição do Zoár, Mântua, 1558. Biblioteca do Congresso.]]
Uma menção distinta é feita no Zohar de trechos dos seguintes escritos:
 
# ''Idra Rabba'';
Linha 480:
As doutrinas teóricas da Cabala de Luria foram posteriormente retomadas pelas Ḥasidim e organizadas em um sistema. A influência de Luria foi evidenciada pela primeira vez em certos exercícios religiosos místicos e fantasiosos, por meio dos quais, afirmava ele, podia-se tornar mestre do mundo terrestre.
[[File:Abraham abulafia.jpg|thumb|150px|Abraham Abulafia]] [[File:Shabbetai Zevi JHM 08112012.jpg|thumb|150px|Shabbetai Zevi]]
A escrita de amuletos, a conjuração de demônios, o malabarismo místico com números e letras aumentaram à medida que a influência dessa escola se espalhava. Entre os alunos de Luria, [[Hayyim ben Joseph Vital|Hayyim Vital]] e Israel Saruḳ merecem menção especial,<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/13211-sarug-saruk-israel|titulo=SARUG (SARUḲ), ISRAEL - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> sendo ambos muito ativos como professores e propagandistas da nova escola. Saruḳ conseguiu conquistar o rico Menahem Azariah de Fano.<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishvirtuallibrary.org/fano-menahem-azariah-da|titulo=Fano, Menahem Azariah da|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishvirtuallibrary.org|lingua=en}}</ref> Assim, uma grande escola cabalística foi fundada no [[século XVI]] na Itália, onde até hoje os discípulos dispersos da Cabala podem ser encontrados. Herrera,<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/7609-herrera-alonzo-de|titulo=HERRERA, ALONZO DE - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> outro aluno de Saruḳ, tentou espalhar a cabala entre os cristãos por sua ''Introdução'', escrita em espanhol. Moses Zacuto,<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/11165-moses-zacuto|titulo=MOSES ZACUTO - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-05-01|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> discípulo de Spinoza, escreveu várias obras cabalísticas fortemente marcadas pelo ascetismo, que não foram sem influência sobre os judeus italianos.
 
Na Itália, no entanto, surgiram também os primeiros antagonistas da Cabala, numa época em que ela parecia estar carregando tudo diante dela. Nada se sabe sobre o trabalho de Mordecai Corcos contra a Cabala, uma obra que nunca foi impressa, devido à oposição dos rabinos italianos. A atitude vacilante de Joseph delMedigo em relação à cabala feriu em vez de ajudá-lo.<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/5068-delmedigo-joseph-solomon|titulo=DELMEDIGO, JOSEPH SOLOMON - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-05-01|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> Judah de Modena atacou implacavelmente em seu trabalho ''Sha'agat Aryeh'' (O Rugido do Leão);<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/9766-leon-judah-aryeh-of-modena|titulo=LEON (JUDAH ARYEH) OF MODENA - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-05-01|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> enquanto um defensor entusiasta e inteligente apareceu, um século depois, na pessoa de [[Moshe Chaim Luzzatto|Moses Ḥayyim Luzzatto]]. Um século depois, Samuel David Luzzatto atacou a cabala com as armas da crítica moderna.<ref>{{Citar periódico|data=2017-09-11|titulo=Samuel David Luzzatto|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Samuel_David_Luzzatto&oldid=800066862|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> Mas no Oriente, a Cabala de Luria permaneceu inalterada.
 
=== No Oriente ===
Após a morte de Vital e do imigrante Shlumiel da Morávia, que por seus métodos um tanto vociferantes contribuíram muito para a difusão das doutrinas de Luria, foi especialmente Samuel Vital,<ref>{{Citar periódico|data=2017-09-26|titulo=Samuel Vital|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Samuel_Vital&oldid=802439875|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> filho de Ḥayyim Vital, juntamente com Jacob Ẓemaḥ,<ref>{{Citar periódico|data=2016-07-23|titulo=Jacob ben Hayyim Zemah|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Jacob_ben_Hayyim_Zemah&oldid=731102919|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> e [[Abraham Azulai]], que se esforçou para espalhar o modo de vida (הנהנות) e as meditações místicas para a oração (כונות) defendidas por Luria. Banhos freqüentes (טבילות), vigílias em certas noites, bem como à meia-noite (ver Ḥaẓot),<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/7425-hazot|titulo=ḤAẒOT - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> penitência pelos pecados e disciplinas similares, foram introduzidos por este crescimento posterior da escola de Luria.
 
Deve ser notado em seu favor que eles colocaram grande ênfase em uma vida pura, filantropia, amor fraternal para com todos e amizade. A crença de que tais ações apressariam o tempo messiânico cresceu até que se concretizasse na aparência de [[Sabbatai Zevi|Shabbethai Ẓebi]],<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/13480-shabbethai-zebi-b-mordecai|titulo=SHABBETHAI ẒEBI B. MORDECAI - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> por volta de 1665. O Shabbethaismo induziu muitos estudiosos a estudarem a cabala especulativa mais a fundo; e, de fato, a Nehemiah Shabbethaian Ḥayyun mostrou em seus trabalhos cabalísticos heréticos um conhecimento mais completo da Cabala do que seus oponentes,<ref>{{Citar periódico|data=2017-10-07|titulo=Nehemiah Hayyun|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Nehemiah_Hayyun&oldid=804195741|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> os grandes talmudistas, que eram zelosos seguidores da Cabala sem compreender seu lado especulativo. O Shabbethaismo, no entanto, não comprometeu a Cabala aos olhos dos Judeus Orientais, a maioria dos quais até hoje a consideram santo e acredita nela.
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[[File:Brockhaus and Efron Jewish Encyclopedia e16 058-0.jpg|thumb|150px|Shneur Zalman of Liadi - Ilustração de Brockhaus e Efron Jewish Encyclopedia (1906-1913).]]
=== Na Alemanha e na Polônia ===
Enquanto a Cabala, em suas diferentes formas, se espalhava pelo leste e pelo oeste em poucos séculos, a Alemanha, que parecia um campo promissor para o misticismo no início do [[século XIII]], logo foi deixada para trás. Não há literatura cabalística adequada entre os judeus alemães, além da escola de Eleazar de Worms.<ref>{{Citar periódico|dataname=2017-11-02|titulo=Eleazar of Worms|url=https://"en.wikipedia.org"/w/index.php?title=Eleazar_of_Worms&oldid=808341234|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> Lippman Mühlhausen,<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/10008-lipmann-mulhausen-yom-tob-ben-solomon|titulo=LIPMANN-MÜLHAUSEN, YOM-ṬOB BEN SOLOMON - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> por volta de 1400, conhecia algumas características da cabala; mas não havia cabalistas reais na Alemanha até o [[século XVIII]], quando acadêmicos poloneses invadiram o país. Na Polônia, a cabala foi estudada pela primeira vez no início do [[século XVI]], mas não sem a oposição das autoridades talmúdicas, como, por exemplo, Salomão b. Jeiel Luria,<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/10192-luria|titulo=LURIA - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> que, ele mesmo um devoto discípulo da Cabala, desejava ter seu estudo confinado a um pequeno círculo dos eleitos. Seu amigo Isserles dá provas de ampla leitura em literatura cabalística e de insight em sua parte especulativa; e o mesmo pode ser dito do pupilo de Isserles, Mordecai Jaffe.<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishvirtuallibrary.org/jaffe-mordecai-ben-abraham|titulo=Jaffe, Mordecai ben Abraham|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishvirtuallibrary.org|lingua=en}}</ref> Mas talvez não seja um mero acaso que a primeira obra cabalística escrita na Polônia tenha sido composta por Mattathias Delacrut (1570),<ref>{{Citar periódico|data=2014-06-11|titulo=Mattithiah ben Solomon Delacrut|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Mattithiah_ben_Solomon_Delacrut&oldid=612499229|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> descendente do sul da Europa, como seu nome indica. Asher ou Anschel de Cracóvia,<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/1916-asher|titulo=ASHER - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/1562-anschel|titulo=ANSCHEL - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> no início do [[século XVI]], é nomeado como um grande cabalista, mas a natureza de sua doutrina não pode ser averiguada. No [[século XVII]], no entanto, a Cabala se espalhou por toda a Polônia, de modo que era considerado natural que todos os rabinos tivessem um treinamento cabalístico. Nathan Spiro, [[Isaiah Horowitz]] e Naftali b. Jacob Elhanan foi o principal contribuinte para a disseminação da Cabala de Luria na Polônia e daí para a Alemanha.<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishvirtuallibrary.org/bacharach-naphtali-ben-jacob-elhanan|titulo=Bacharach, Naphtali ben Jacob Elhanan|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishvirtuallibrary.org|lingua=en}}</ref>
 
No entanto, com exceção do trabalho de Horwitz ''Shene Luḥot ha-Berit'' (As Duas Tábuas da Aliança), dificilmente existe uma entre as muitas obras cabalísticas originárias da Polônia que se eleva de qualquer forma acima da mediocridade. No século seguinte, no entanto, algumas obras importantes apareceram na Cabala de Eybeschütz e Emden, mas de diferentes pontos de vista. O primeiro contribuiu com um trabalho monumental para a cabala especulativa em seu ''Shem 'Olam'' (Nome eterno); este último tornou-se o pai da moderna crítica da Cabala por seu penetrante escrutínio literário do Zohar.
 
=== Ḥassidismo ===
A verdadeira continuação da cabala deve ser encontrada no Ḥassidismo, que em suas diferentes formas inclui os lados místico e especulativo. Embora as doutrinas do ḤaBaD tenham mostrado que a cabala luriânica é algo mais do que uma brincadeira sem sentido com as letras, outras formas de Ḥassidismo, também derivadas da cabala, representam o auge do discurso cantado e irracional.
 
Os ataques de [[Vilna Gaon|Elias de Wilna]] ao Ḥassidismo provocou principalmente nos círculos na Rússia e na Polônia que se opunham ao Ḥassidismo também evitassem a cabala, como o domínio real dos Ḥassidim. Embora Elias, do próprio Wilna, fosse um seguidor da Cabala, suas anotações ao Zohar e outros produtos cabalísticos mostram que ele negava a autoridade de muitas das obras dos escritores lurianicos: sua escola produzia apenas talmudistas, não cabalistas. Embora ''Nefesh ha-Ḥayyim'' (A Alma da Vida), o trabalho de seu discípulo Ḥayyim de Volozhin,<ref>{{Citar periódico|data=2018-04-03|titulo=Chaim of Volozhin|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Chaim_of_Volozhin&oldid=833978750|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> tenha um colorido cabalístico, é principalmente ético em espírito. O aluno de Ḥayyim, Isaac Ḥaber,<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/8176-isaac-eisak-ben-jacob-haber|titulo=ISAAC (EISAK) BEN JACOB ḤABER - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> no entanto, evidencia em suas obras muito discernimento sobre a Cabala mais antiga. Este último também escreveu uma defesa da cabala contra os ataques de Modena. Os círculos não-hassídicos da Rússia nos tempos modernos, embora eles mantenham a Cabala em reverência, não a estudam.
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Essa pesquisa histórica sobre o desenvolvimento da cabala não seria completa se nenhuma menção fosse feita à sua relação com o mundo cristão. O primeiro estudioso cristão que deu prova de sua familiaridade com a cabala foi [[Raimundo Lúlio|Raymond Lulli]] (nascido em 1225, falecido em 30 de junho de 1315), chamado ''doctor illuminatus'' por causa de seu grande aprendizado. A Cabala forneceu-lhe material para seu ''Ars Magna'', por meio do qual ele pensou realizar uma revolução completa nos métodos de investigação científica, sendo seus meios nada mais do que misticismo de letras e números em suas diferentes variedades.
 
A identidade entre Deus e a natureza encontrada nas obras de Lulli mostra que ele também foi influenciado pela cabala especulativa. Mas foi Pico di Mirandola (1463-94) quem introduziu a cabala no mundo cristão.<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/12139-pico-de-mirandola-count-gio-vanni-frederico-prince-of-concordia|titulo=PICO DE MIRANDOLA, COUNT GIO-VANNI FREDERICO (Prince of Concordia) - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-04-29|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> A Cabala é, para ele, a soma das doutrinas religiosas reveladas dos judeus que não foram originalmente escritas, mas transmitidas pela tradição oral.
 
No caso de Esdras, eles foram escritosurante seu tempo, para que não se perdessem.<ref group="compare:">(II Esdras, capítulo 45)</ref> Pico, é claro, afirma que a Cabala contém todas as doutrinas do cristianismo, de modo que ''os judeus podem ser refutados por seus próprios livros''.<ref group="Veja:">(''De Hom. Dignit'', pp. 329 e segs.)</ref> Ele, portanto, fez uso livre de idéias cabalísticas em sua filosofia, ou melhor, sua filosofia consiste em doutrinas cabalísticas neoplatônicas em trajes cristãos. Através de Reuchlin (1455-1522), a cabala tornou-se um fator importante na fermentação dos movimentos religiosos da época da Reforma.
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Sua doutrina central, para ele, era a messianologia, em torno da qual todas as outras doutrinas se agrupavam. E como a doutrina cabalística se originou na revelação divina, a arte cabalística derivou imediatamente da iluminação divina. Por meio dessa iluminação, o homem é capaz de compreender o conteúdo da doutrina cabalística por meio da interpretação simbólica das letras, palavras e conteúdos das Escrituras; daí a Cabala é uma teologia simbólica. Quem quer que se torne um adepto da arte cabalística e, assim, penetre nos segredos cabalísticos, deve ter iluminação e inspiração divinas. O cabalista deve, portanto, antes de tudo, purificar sua alma do pecado e ordenar sua vida de acordo com os preceitos da virtude e da moralidade.
[[File:Agrippa von Nettesheim.jpg|thumb|130px|Agrippa von Nettesheim]]
Todo o sistema filosófico de Reuchlin, a doutrina de Deus, cognição, etc., é inteiramente cabalístico, como ele admite livremente. O contemporâneo de Reuchlin, [[Heinrich Cornelius Agrippa von Nettesheim|Heinrich Cornelius Agrippa de Nettesheim]] (1487-1535), mantém as mesmas visões, com essa diferença, que presta atenção especial ao lado prático da Cabala—a saber, a magia—que ele se esforça para desenvolver e explicar completamente.
 
Em seu principal trabalho, ''De Occulta Philosophia'', Paris, 1528, ele lida principalmente com as doutrinas de Deus, as Sefirot (inteiramente à maneira dos cabalistas) e os três mundos. O último ponto nomeado, a divisão do universo em três mundos distintos:
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Menção também deve ser feita de [[Francisco Zorzi|Francesco Zorzi]] (1460-1540), cuja teosofia é cabalística, e que se refere ao ''Hebræi''.<ref group="Veja:">(''De Harmonia Mundi'', cantus iii. 1, cap. Iii.)</ref> Sua doutrina da alma tripla é especialmente característica, já que ele usa até mesmo os termos hebraicos ''Nefesh'', ''Ruaḥ'' e ''Neshamá''. A filosofia natural em combinação com a cabala cristã é encontrada nas obras do alemão [[Paracelso|Teofrasto Paracelso]] (1493- 1541), do italiano [[Girolamo Cardano|Hieronymus Cardanus]] (1501-76), do holandês Johann Baptist von Helmont (1577-1644),<ref>{{Citar periódico|data=2018-04-16|titulo=Jan Baptist van Helmont|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Jan_Baptist_van_Helmont&oldid=836775692|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> e do inglês [[Robert Fludd]] (1574-1637). A ciência natural estava prestes a se livrar de seus panos-roupas—uma crise que não podia ser passada de um lado para o outro, mas exigia uma série de passos intermediários. Ainda não tendo atingido a independência e ligado mais ou menos a princípios puramente especulativos, buscava apoio na Cabala, que gozava de um Grande reputação. Entre os representantes mencionados acima deste sincretismo peculiar, o inglês Fludd é especialmente notável por conta de seu conhecimento da Cabala. Quase todas as suas idéias metafísicas são encontradas na [[Cabalá Luriânica|Cabala Luriânica]], que Isso pode ser explicado pelo fato de que ele formou conexões com os cabalistas judeus durante suas muitas viagens pela Alemanha, França e Itália.
[[File:PhilippMelanchthon.jpg|thumb|130px|Philipp Melanchthon]] [[File:Athanasius Kircher.jpg|thumb|esquerda|130px|Athanasius Kircher]]
As idéias cabalísticas continuaram a exercer sua influência mesmo depois que uma grande parte do cristianismo rompeu com as tradições da Igreja. Muitas concepções derivadas da Cabala podem ser encontradas na dogmática do protestantismo, como ensinado por seus primeiros representantes, [[Martinho Lutero|Lutero]] e [[Filipe Melâncton|Melanchthon]]. Este é ainda mais o caso dos místicos alemães Valentin Weigel (1533-88) e [[Jakob Böhme|Jacob Böhme]] (1575-1624).<ref>{{Citar periódico|data=2018-04-09|titulo=Valentin Weigel|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Valentin_Weigel&oldid=835505192|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> Apesar de não dever nada diretamente à literatura dos cabalistas, idéias cabalísticas permearam todo o período de tal modo que até mesmo homens de realizações literárias limitadas, como Böhme, por exemplo, não puderam permanecer sem influências.
 
Além desses pensadores cristãos, que adotaram as doutrinas da cabala e tentaram desenvolvê-las à sua maneira, Joseph de Voisin (1610-85),<ref>{{Citar periódico|data=2016-12-17|titulo=Charles-Joseph Voisin|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Charles-Joseph_Voisin&oldid=755395009|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> [[Athanasius Kircher|Atanásio Kircher]] (1602-84) e Barron Knorr von Rosenroth;<ref>{{Citar periódico|data=2017-04-04|titulo=Christian Knorr von Rosenroth|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Christian_Knorr_von_Rosenroth&oldid=773834223|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> esforçaram-se para espalhar a cabala entre os cristãos, traduzindo obras cabalísticas, que eles consideravam como a sabedoria mais antiga. A maioria deles também tinha a ideia absurda de que a Cabala continha provas da verdade do cristianismo. Nos tempos modernos, os estudiosos cristãos pouco contribuíram para a investigação científica da literatura cabalística. Molitor, Kleuker e Tholuk podem ser mencionados, embora seu tratamento crítico deixe muito a desejar.
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Apenas um sistema pode, no entanto, ser considerado aqui; ou seja, aquilo que mais consistentemente levou a cabo as doutrinas básicas da Cabala. Deixando de lado o Ḥasidismo, portanto, os sistemas Zoarístico interpretados por [[Moses ben Jacob Cordovero|Moses Cordovero]] e [[Isaac Luria]], desenvolveram consistentemente estas doutrinas, e serão tratadas aqui como o sistema cabalístico por excelência. O valor literário e histórico de seus principais trabalhos será discutido em artigos especiais.
 
A cabala, pela qual a cabala especulativa (Aceitação Teórica - <big>עיונית קבלה</big>) é essencialmente, estava em sua origem meramente em um sistema de [[metafísica]]; mas no curso de seu desenvolvimento incluiu muitos [[Dogma|dogmasdogma]]s de [[Dogmatismo|dogmática]], [[adoração divina]] e [[ética]]. [[Ain Soph|Ein Sof]] (Senhor - Deus), Malkut (O Reino), [[Quatro Mundos|Beriá (Criação)]], [[Adam Kadmon|A"K]] (Homem Primordial), [[Ruah HaQodesh|Ruah HaQodex]] (Revelação), o Maxiah (O livrador - Salvador), lei (Torá), pecado (o <s>outro lado</s>), expiação ([[Tikun Olam|Tiqun]]), etc.—tais são os variados assuntos examinados e descritos.
[[File:Ein Sof1.jpg|thumb|190px|Ein Sof]]
=== Deus ===
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==== Identidade da substância e forma ====
Mas outro perigo surge aqui. Se Deus é [[Imanência|imanente]] no universo, os objetos individuais—ou, como [[Baruch Espinoza|Spinoza]] os denomina, os ''modos''—podem facilmente ser considerados como parte da substância.
 
Para resolver essa dificuldade, os cabalistas apontam, em primeiro lugar, que se percebe nas coisas acidentais do universo não apenas sua existência, mas também uma vida orgânica, que é a unidade na pluralidade, o objetivo geral e fim das coisas individuais que existem apenas para seus objetivos e fins individuais. Essa interconexão apropriada das coisas, harmonizando-se com a suprema sabedoria, não é inerente às coisas em si, mas só pode se originar na perfeita sabedoria de Deus.
 
Daqui segue a estreita conexão entre o infinito e o finito, o espiritual e o corpóreo, sendo este último contido no primeiro. De acordo com essa suposição, seria justificável deduzir o espiritual e infinito do corpóreo e finito, que se relacionam entre si como o protótipo de sua cópia. Sabe-se que tudo o que é finito consiste em substância e forma; portanto, conclui-se que o Ser Infinito também tem uma forma em absoluta unidade com ele, que é infinita, seguramente espiritual e geral.
 
Embora não se possa conceber qualquer concepção da Ein-Sof, a substância pura, ainda se pode tirar conclusões do Ohr Ein-Sof (A Luz Infinita), que em parte pode ser conhecida pelo pensamento racional; isto é, a partir da aparência da substância, pode-se inferir sua natureza. A aparência de Deus é, naturalmente, diferenciada de todas as outras coisas; pois, enquanto tudo mais pode ser reconhecido apenas como um fenômeno, Deus pode ser concebido como real sem fenômeno, mas o fenômeno não pode ser concebido sem Ele.<ref group="Veja:">(Cordovero, ''Pardes'', xxv., ''Sha'ar ha-Temurot'')</ref> Embora se deva admitir que a Primeira Causa é inteiramente incognoscível, a definição dela inclui a admissão de que contém em si toda a realidade, já que sem ela não seria a Primeira Causa geral. O infinito transcende o finito, mas não o exclui, porque o conceito de infinito e ilimitado não pode ser combinado com o conceito de exclusão. O finito, além disso, não pode existir se excluído, porque não tem existência própria. O fato de o finito estar enraizado no infinito constitui o começo do fenômeno que os cabalistas designam como a ''luz no teste da criação'' (אור בבחינת בריאה), indicando assim que ele não constitui ou completou a natureza de Deus, mas é meramente um reflexo disso. A Causa Primeira, para corresponder ao seu conceito como contendo todas as realidades, mesmo aquelas que são finitas, por assim dizer, se retiraram em sua própria natureza, foram limitadas e ocultas, de modo que o fenômeno pode se tornar possível, ou de acordo com a terminologia cabalística, que a primeira concentração (<big>צמצום הראשון -</big> Tzimtzum Alef) pode ocorrer. Essa concentração, no entanto, não representa a transição da potencialidade para a atualidade, do infinito para o finito; porque aconteceu dentro do próprio infinito para produzir a luz infinita. Essa concentração também é descrita como clivagem (<big>בקיעה</big>), o que significa que não a mudança realmente ocorreu dentro do infinito, assim como podemos olhar para um objeto através de uma fissura em sua superfície, enquanto nenhuma mudança ocorreu dentro do próprio objeto. É somente após a luz infinita ter sido produzida por essa concentração, ou seja,—após a Primeira Causa se tornar um fenômeno,— que um começo é feito para a transição para o finito e determinado, que é então trazido por uma segunda concentração (Tzimtzum Bet).
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Isso leva à doutrina das Sefirot, que é talvez a mais importante doutrina da Cabala. Não obstante a sua importância, é apresentado de forma muito diferente em diferentes trabalhos. Enquanto alguns cabalistas consideram as Sefirot como idênticas, em sua totalidade, com o Ser Divino - isto é, cada Sefirá (sing. de Sefirot) representando apenas uma visão diferente do infinito, que é compreendida desta maneira<ref group="compare:">(com "Ma'areket", p. 8b, abaixo)</ref>—os outros olham para as Sefirot meramente como ferramentas do poder Divino, criaturas superiores, que são, no entanto, totalmente diferentes do Ser Primevo.<ref group="Veja:">(Recanati, ''Ṭa'ame Miẓwot'', passim)</ref> A seguinte definição das Sefirot, de acordo com [[Moses ben Jacob Cordovero|Cordovero]] e [[Isaac Luria|Luria]], pode, entretanto, ser considerada como logicamente correta:
 
* Deus é imanente nas Sefirot, mas Ele é mais do que pode ser percebido nessas formas de idéia e de ser.
 
Assim como, de acordo com Spinoza, a substância primordial tem atributos infinitos, mas se manifesta apenas em dois deles—ou seja, extensão e pensamento—assim também é, de acordo com a concepção da Cabala, a relação das Sefirot com a Ein-Sof. As próprias Sefirot, em e através das quais todas as mudanças ocorrem no universo, são compostas na medida em que duas naturezas podem ser distinguidas nelas; nomeadamente:
 
# 'que em e através do qual todas as mudanças ocorrem,
# 'aquilo que é imutável, a luz ou o poder Divino.
 
Os cabalistas chamam estas duas naturezas diferentes das Sefirot de ''Luz'' ([[Ohr]]) e ''Vasos'' (Kelim, sing. Kli). Pois, como os vasos de cores diferentes refletem a luz do sol de maneira diferente, sem produzir nenhuma mudança, a luz divina manifestada nas Sefirot não é modificada por suas diferenças aparentes.<ref group="Veja:">(Cordovero, l.c. ''Sha'ar Aẓamot we-Kelim'', iv.)</ref>
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===== As Primeiras Três Sefirot =====
Keter, Ḥokmá e Biná, formam uma unidade entre si; isto é, o conhecimento, o conhecedor e o conhecido são em Deus idênticos, assim, o mundo é apenas a expressão das idéias ou das formas absolutas de inteligência. E sendo assim, a identidade do pensamento e do ser, ou do real e ideal, é ensinada na Cabala da mesma maneira que em [[Georg Wilhelm Friedrich Hegel|Hegel]].
 
O pensamento em sua tripla manifestação novamente produz princípios contrastantes; ou seja, Ḥesed (חסד = misericórdia), o princípio ativo masculino, e Din (דינ = ''justiça''), o feminino, princípio passivo, também chamado Paḥad (פחד = ''espanto'') e Guevurá (גבורה = ''força''), que combinar em um princípio comum, Tiferet (תפארת = ''beleza''). Os conceitos de justiça e misericórdia, no entanto, não devem ser tomados em seu sentido literal, mas como designações simbólicas para expansão e contração da vontade; a soma de ambos, a ordem moral, aparece como beleza.
 
A última trindade das Sefirot representa a natureza dinâmica, a saber, o masculino Neẓaḥ (נצח = ''triunfo''); e o feminino Hod (הוד = ''glória''); o primeiro significa aumento, e o segundo, pela força da qual procedem todas as forças produzidas no universo. Neẓaḥ e Hod se unem para produzir Yesod (יסוד = ''fundação''), o elemento reprodutivo, a raiz de toda a existência.
 
Essas três trinidades das Sefirot são também designadas da seguinte maneira:
 
* As três primeiras Sefirot formam o mundo inteligível (עולם מושכל ou עולם השכל, como Azriel [l.c. p. &nbsp;3b] o chama, correspondendo aos κόσμο1ς νοητός dos neoplatônicos), representando, como vimos, a identidade absoluta de ser e pensar.
* A segunda tríade das Sefirot é de caráter moral; daí Azriel (l.c.) chama isso de ''mundo da alma'' e, posteriormente, cabalistas עולם מורגש (''o mundo sensível''); enquanto a terceira tríade constitui o mundo natural (עולם הטבע, ou, como em Azriel [l.c.], עולם הגוף, na terminologia de Spinoza ''natura naturata'').
* A décima Sefirá é Malkut (מלכות = domínio), aquela em que a vontade, o plano e as forças ativas se manifestam, a soma da atividade permanente e imanente de todas as Sefirot.
 
As Sefirot, em sua primeira aparição, ainda não são as ferramentas dinâmicas propriamente ditas, construindo e regulando o mundo dos fenômenos, mas meramente os protótipos delas.
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==== Os quatro mundos ====
{{Artigo principal|Quatro Mundos}}
Em seu próprio reino, chamado עולם האצילות (reino da emanação; veja [[Atziluth|Aẓilut]]),<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/2217-azilut|titulo=AẒILUT - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-05-01|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> ou às vezes [[Adam Kadmon|Adam Ḳadmon]],<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/761-adam-kadmon|titulo=ADAM ḲADMON - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-05-01|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> porque a figura do homem é empregada na representação simbólica das Sefirot, as Sefirot são concebidas meramente como condições do finito que é ser ; pois sua atividade só começa nos outros chamados três mundos;
 
# o mundo das idéias criativas (עולם הבריאה),
# o mundo das formações criativas (עולם היצירה)
# o mundo da matéria criativa (עולם העשיה).
 
A descrição mais antiga desses quatro mundos é encontrada no Masseket Aẓilut.<ref>{{Citar periódico|data=2016-12-11|titulo=Masseket Azilut|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Masseket_Azilut&oldid=754132483|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> O primeiro mundo Asiyyático contém as Sefirot (כבור nesta passagem = ספירות, como Azriel, lc. 5a, diz), e no mundo Beriático (בריאה) estão as almas do piedoso, do trono divino e dos salões divinos. O mundo Yeẓirático (יצירה) é a sede das dez classes de anjos com seus chefes, presididos por Meṭaṭron, que foi transformado em fogo; e há também os espíritos dos homens. No mundo 'Asiyyático (עשיה) estão os Eofanim,<ref>{{Citar periódico|data=2018-04-11|titulo=Ophanim|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Ophanim&oldid=835866857|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> os anjos que recebem as orações e controlam as ações dos homens, e fazem guerra contra o mal ou [[Samael]].<ref group="Veja:">(''Masseket Aẓilut'', em Jellinek, ''Ginze Ḥokmat ha-Ḳabbalah'', pp. 3-4)</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/13055-samael|titulo=SAMAEL - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-05-01|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> Embora não haja dúvida de que esses quatro mundos foram originalmente concebidos como reais, ocasionando as muitas descrições fantásticas deles na Cabala antiga, eles foram subsequentemente interpretados como sendo puramente idealistas.
 
A Cabala posterior assume três poderes na natureza, o mecânico, o orgânico e o teleológico, que são conectados como resultado de uma idéia principal geral, independente, puramente espiritual. Eles são simbolizados pelos quatro mundos. O mundo corpóreo (עולם העשיה) é percebido como um mundo submetido a mecanismos. Como isso não pode ser derivado de um corpo ou corporalidade, a Cabala tenta encontrar a base para isso no não-corpóreo; pois até mesmo o mundo Asiyyático tem suas Sefirot; isto é, poderes não corporais que estão intimamente relacionados com as mônadas de [[Gottfried Wilhelm Leibniz|Leibnitz]].
 
Essa suposição, no entanto, explica apenas a natureza inorgânica; enquanto corpos orgânicos, formadores e em desenvolvimento devem proceder de um poder que opera de dentro e não de fora. Esses poderes internos que formam o organismo a partir de dentro representam o mundo Yeẓirático, o reino da criação. Como não se encontra na natureza atividade meramente, mas também atividade sábia, os cabalistas chamam essa inteligência que manifesta na natureza o reino das idéias criativas.
 
Como, no entanto, as idéias inteligentes que se manifestam na natureza provêm de verdades eternas que são independentes da natureza existente, deve necessariamente existir o domínio dessas verdades eternas, o mundo aludido. Assim, os diferentes mundos são essencialmente um, relacionados uns aos outros como protótipo e cópia. Tudo o que está contido no mundo inferior é encontrado em forma arquetípica superior no mundo superior seguinte. Assim, o universo forma um grande todo unificado, um ser vivo e indiviso, que consiste em três partes que se envolvem sucessivamente; e sobre eles sobe, como o mais alto selo arquetípico, o mundo de Aẓilut.
 
==== Homem ====
A psicologia da cabala está intimamente ligada às suas doutrinas metafísicas. Como no [[Talmude|Talmud]], assim também na Cabala o homem é representado como a soma e o produto mais elevado da criação. Os próprios órgãos de seu corpo são construídos de acordo com os mistérios da mais alta sabedoria: mas o próprio homem é a alma; pois o corpo é apenas a vestimenta,<ref group="Veja:">[[Kelipót]]</ref> a cobertura na qual o verdadeiro homem interior aparece. A alma é tripla, sendo composta de Nefesh, Ruaḥ e Neshamá; Nefesh (נפש - mente) corresponde ao mundo Asiyyático, Ruaḥ (רוח - inspiração) ao Yeẓirático, e Neshamá (נשמה) ao Beriático. Nefesh é o princípio animal e sensível do homem, como tal, está em contato imediato com o corpo. Ruaḥ representa a natureza moral; sendo a sede do bem e do mal, dos desejos bons e maus, conforme se volta para Neshamá ou Nefesh. Neshamá é inteligência pura, espírito puro, incapaz do bem ou do mal: é pura luz divina, o clímax da vida da alma. A gênese desses três poderes da alma é obviamente diferente. Neshamá procede diretamente da Sabedoria Divina, Ruaḥ da Sefirá Tiferet (''Beleza'') e Nefesh da Sefirá Malkut (''Domínio''). Além dessa trindade da alma, há também o princípio individual Yehidá (יחודה); isto é, a ideia do corpo com os traços pertencentes a cada pessoa individualmente e o espírito de vida que tem sua sede no coração.
 
Mas como esses dois últimos elementos não fazem mais parte da natureza espiritual do homem (Neshamá e Yehidá), eles não estão incluídos nas divisões da alma. Os cabalistas explicam a conexão entre alma e corpo da seguinte forma:<blockquote>''Todas as almas existem antes da formação do corpo no mundo supra-sensível (compare a pré-existência), sendo unidas no decorrer do tempo com seus respectivos corpos. A descida da alma ao corpo é necessária pela natureza finita da primeira: ela está unida ao corpo para tomar parte no universo, contemplar o espetáculo da criação, tornar-se consciente de si mesma e de sua origem, e, finalmente, retornar, após ter completado suas tarefas na vida, à fonte inesgotável de luz e vida—Deus.''</blockquote>
 
==== Imortalidade ====
Enquanto Neshamá ascende a Deus, Ruaḥ entra no Éden para desfrutar dos prazeres do paraíso, e Nefesh permanece em paz na terra. Esta declaração, no entanto, se aplica apenas aos justos. Na morte dos ímpios, Neshamá, estando manchada de pecados, encontra obstáculos que dificultam o retorno à sua fonte; e até que ele retorne, Ruaḥ não pode entrar no Éden, e Nefesh não encontra paz na terra.
 
Intimamente conectado com essa visão está a doutrina da transmigração da alma,<ref group="Veja:">([[Metempsicose]])</ref> sobre a qual a Cabala dá grande ênfase. Para que a alma possa retornar à sua fonte, ela deve previamente ter atingido o pleno desenvolvimento de todas as suas perfeições na vida terrestre. Se não cumpriu essa condição no curso de uma vida, ela deve recomeçar em outro corpo, continuando até completar sua tarefa.
 
A [[Cabalá Luriânica|cabala luriânica]] acrescentou à metempsicose própria a teoria da impregnação (עבור - Ibur) das almas; isto é, se duas almas não se sentem iguais às suas tarefas, Deus une ambas em um só corpo, para que possam apoiar e completar cada uma delas, como, por exemplo, um homem coxo e um cego.<ref group="compare:">(com a parábola em Sanh. 91a, b)</ref> Se uma das duas almas precisa de ajuda, a outra se torna, por assim dizer, sua mãe, carregando-a em seu colo e alimentando-a com sua própria substância.
 
==== Amor, a maior relação com Deus ====
No que diz respeito à relação adequada da alma com Deus, como o objeto final de seu ser, os cabalistas distinguem, tanto na cognição como na vontade, uma dupla gradação nisso. Quanto à vontade, podemos temer a Deus e também amá-lo. O medo é justificado, pois leva ao amor. ''No amor é encontrado o segredo da unidade divina: é o amor que une os estágios superior e inferior, e isso eleva tudo ao estágio em que todos devem ser um''.<ref group="Veja:">(Zohar, wa-Yaḳhel, ii. 216a)</ref>
 
Da mesma forma, o conhecimento humano pode ser refletido ou intuitivo, sendo este último novamente evidentemente o mais elevado. A alma deve elevar-se a esses planos superiores de conhecimento e vontade, para a contemplação e o amor de Deus; e desta forma retorna à sua fonte.
 
A além vida é uma vida de completa contemplação e completo amor. A relação entre a alma e Deus é representada na linguagem figurativa da Cabala Zoarística como segue: ''A alma, Neshamá'' [que procede da Sefirá Binah, como mencionado acima]'', vem ao mundo através da união do rei com a matrona—rei significa a Sefirá Tiferet e matrona a Sefirá Malkut'' [Malkut sem o Vav (u) é ''rainha'']''—e o retorno da alma a Deus é simbolizado pela união da matrona com o rei.'' Da mesma forma, a bênção misericordiosa que Deus concede ao mundo é simbolizada pela primeira figura; e pela segunda, a espiritualização e enobrecimento do que é material e comum através do cumprimento do dever do homem.
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==== A Doutrina da Influência ====
O conhecimento da lei em seus aspectos éticos e religiosos também é um meio de influenciar as regiões mais altas; para o estudo da lei significa a união do homem com a sabedoria divina. É claro que a doutrina revelada deve ser tomada em seu verdadeiro sentido; isto é, o significado oculto da Escritura deve ser buscado.<ref group="Veja:">(Jew. Encyc. i. 409, s.v. [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/1256-allegorical-interpretation Interpretação Alegórica])</ref> O ritual também tem um significado místico mais profundo, pois serve para preservar o universo e assegurar bênçãos para ele. Anteriormente este era o objeto dos sacrifícios rituais no Templo; mas agora o lugar deles é tomado pela oração.
 
A adoração devota, durante a qual a alma é tão exaltada que parece desejosa de deixar o corpo para estar unida à sua fonte, agita a alma celestial; isto é, a Sefirá Biná. Esse estímulo ocasiona um movimento secreto entre as Sefirot de todos os mundos, de modo que todos se aproximem mais ou menos de sua fonte até que a plenitude de Ein-Sof chegue à última Sefirá Malkut, quando todos os mundos se tornarem conscientes de uma influência benéfica.
 
Da mesma forma, assim como as boas ações do homem exercem uma influência benéfica em todos os mundos, suas ações más os prejudicam. A questão sobre o que constitui o mal e o que é bom, os cabalistas respondem da seguinte forma:
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=== O problema do mal ===
Ao discutir o problema do mal, uma distinção deve ser feita entre o próprio mal e o mal na natureza humana. O mal é o reverso do divino [סטרא אחרא o lado esquerdo, enquanto o bom é o lado direito—uma idéia gnóstica (ver acima). - K.]. Como o divino tem um ser verdadeiro, o mal é aquilo que não tem ser, o irreal ou o que parece, a coisa como aparece.
 
E aqui novamente a distinção deve ser feita, entre a coisa que parece ser, mas não é—isto é, a aparência de uma coisa que é irreal—e a aparência de uma coisa que é o que parece ser—isto é, como um ser de próprio, tendo um tipo original de existência própria. Essa ''aparência de aparência'' ou semelhança do fenômeno manifesta-se nos primórdios do finito e do multiforme, porque esses inícios incluem os limites da natureza divina; e as fronteiras do divino constituem o ímpio, o mal. Em outras palavras, o mal é o finito.
 
Como o finito inclui não apenas o mundo da matéria, mas, como já foi mostrado acima, também a sua ideia, os cabalistas falam dos mundos do mal Beriático, Yeẓirático e Asiyyático, pois esses mundos contêm o começo do finito.
 
Somente o mundo das emanações imediatas (עולם האצילות), onde o finito é concebido como sem existência e buscando a existência, está livre do mal. O mal em relação ao homem manifesta-se na medida em que ele assume a aparência de substância e tenta afastar-se da fonte divina primordial em vez de se esforçar após a união com ela.
 
=== A queda do homem ===
A maioria das obras cabalísticas pós-Zoáricas combinam com essa teoria do mal uma doutrina sobre a queda do homem que se assemelha ao princípio cristão. Conectando-se com a visão antiga da excelência corporal e espiritual de Adão antes da Queda,<ref group="Veja:">(Adão na Literatura Rabínica)</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/758-adam|titulo=ADAM - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-05-01|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref><ref>{{Citar periódico|data=2016-11-06|titulo=Adam in rabbinic literature|url=https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Adam_in_rabbinic_literature&oldid=748115611|jornal=Wikipedia|lingua=en}}</ref> os cabalistas posteriores afirmam que originalmente todas as almas foram combinadas em uma, formando a alma de Adão.
 
O homem em seu estado original, portanto, ainda era um ser geral, não dotado da individualidade empírica com a qual ele agora aparece no mundo; e junto com o homem toda a criação inferior estava em um estado espiritual glorificado. Mas o veneno da serpente entrou no homem, envenenando ele e toda a natureza, que então se tornou suscetível à influência do mal.
 
Então a natureza humana foi escurecida e tornada grosseira, e o homem recebeu um corpo corpóreo; ao mesmo tempo, todo o mundo Asiyyático, do qual o homem fora senhor e mestre, estava condensado e grosseiro. Os mundos Beriático e Yeẓirático também foram afetados. Influenciados pelo homem, afundaram como o mundo Asiyyático, e também se condensaram em um grau proporcionalmente superior. Por essa teoria, os cabalistas explicam a origem do mal físico e moral no mundo.
 
No entanto, a cabala não considera o homem como perdido depois da queda. O maior pecador, eles afirmam, pode atrair o poder celestial mais elevado pela penitência, contrariando assim o veneno da serpente que opera nele. A guerra entre o homem e o poder satânico só cessará quando o homem for novamente elevado ao centro da luz divina, e mais uma vez estiver em contato real com ele. Esta glória original e espiritualidade do homem e do mundo serão restauradas na era messiânica, quando o céu e a terra forem renovados, e até mesmo Satanás renunciará à sua maldade.
 
Este último ponto tem um tom algo cristão, assim como outras idéias cristãs também são encontradas na Cabala, como, por exemplo, a trindade das Sefirot, e especialmente da primeira tríade.<ref group="Notas">[Mas em três poderes no único Deus comparar Philo, ''De Sacrificio Abelis et Caini'', xv .; idem, ''Quæstio in Genes''. iv. 2; e F. Conybeare, ''A Vida Contemplativa de Philo'', 1895, p. 304 - K.]</ref> Mas, embora a Cabala aceitasse vários elementos estrangeiros, os elementos cristãos reais não podem ser definitivamente apontados.
 
Muito do que parece cristão, na verdade, nada mais é do que o desenvolvimento lógico de certas antigas doutrinas esotéricas, que foram incorporadas ao cristianismo e contribuíram muito para o seu desenvolvimento, e que também são encontradas em obras talmúdicas e no judaísmo talmúdico.
 
== Opiniões sobre o valor da cabala ==
Ao formar uma opinião sobre a Cabala, não se deve ser prejudicado pela impressão geral feita na mente moderna pelos escritos cabalísticos, especialmente a cabala Zoaristica, muitas vezes repulsiva. Nos primeiros séculos, a Cabala era encarada como uma revelação divina; os críticos modernos estão inclinados a condená-la inteiramente devido à fantástica vestimenta em que a maioria dos cabalistas veste suas doutrinas, o que dá a estas uma aparência inteiramente não-judaica.
 
Se a cabala fosse realmente tão anti-judaica quanto alegada, sua influência sobre milhares de mentes judaicas seria um enigma psicológico que desafiaria todo o processo de raciocínio.
 
Enquanto a tentativa, inaugurada por [[Saadia Gaon|Saadia]], de harmonizar o judaísmo talmúdico com o aristotelismo fracassou apesar das brilhantes realizações de [[Maimônides]] e sua escola, a Cabala conseguiu se fundir tão inteiramente no judaísmo talmúdico que durante meio século os dois eram quase idênticos.
 
Embora alguns cabalistas, como [[Abraham Abulafia|Abulafia]] e o pseudônimo autor de ''Kanah'',<ref>{{Citar web|url=https://www.sefaria.org/Sefer_HaKana|titulo=Sefer HaKana|acessodata=2018-05-01|obra=www.sefaria.org}}</ref> não estivessem favoravelmente inclinados ao Talmudismo, esta exceção apenas prova a regra de que os cabalistas não estavam cônscios de qualquer oposição ao Judaísmo Talmúdico, como está suficientemente claro do fato que homens como [[Nahmanides|Naḥmanides]], Salomão ibn Adret, [[Yosef Karo|José Q'ro]], Moisés Isserles e [[Vilna Gaon|Eliá bn Salomão de Vilnius]] não eram apenas defensores da cabala, mas até contribuíram largamente para o seu desenvolvimento.
 
=== A Cabala e o Talmud ===
Como esses homens eram os verdadeiros representantes do verdadeiro judaísmo talmúdico, deve ter havido algo na cabala que os atraísse. Não pode ter sido sua metafísica; pois o judaísmo talmúdico não estava muito interessado em tais especulações.
 
Deve ser, então, que a psicologia da Cabala, em que uma posição muito alta é atribuída ao homem, apelou para a mente judaica. Enquanto Maimônides e seus seguidores consideravam a especulação filosófica como o mais alto dever do homem, e até faziam da imortalidade da alma dependente dela; ou, falando mais corretamente, enquanto a imortalidade significou para eles apenas o mais alto desenvolvimento do intelecto ativo (שבל הפועל) no homem, ao qual poucos alcançaram, os cabalistas ensinaram não apenas que todo homem pode esperar muito no mundo futuro, de acordo com suas ações boas e piedosas, mas até mesmo que ele é o fator mais importante na natureza neste mundo.
 
Não a inteligência do homem, mas sua natureza moral, determina o que ele é. Nem ele é meramente um raio na roda, um fragmento pequeno e sem importância do universo, mas o centro em torno do qual tudo se move. Aqui a cabala judaica, em contraste com a filosofia alienígena (estrangeira), tentou apresentar a verdadeira visão judaica da vida e uma que apelou para o judaísmo talmúdico.
 
=== A cabala e a filosofia ===
O judeu, assim como o homem, foi reconhecido na cabala. Não obstante a coloração fortemente panteísta de sua metafísica, a cabala nunca tentou menosprezar a importância do judaísmo histórico, mas, ao contrário, enfatizou-o. Como a escola de Maimônides, os cabalistas também interpretaram as Escrituras alegoricamente; ainda existe uma diferença essencial entre os dois.
 
Abraão e a maioria dos Patriarcas são, para ambos, os símbolos de certas virtudes, mas com essa diferença; ou seja, que a Cabala considerava a vida dos Patriarcas, repleta de ações boas e piedosas, como encarnações de certas virtudes—por exemplo, a vida de Abraão como encarnação do amor—enquanto a filosofia alegórica buscava idéias exclusivamente abstratas nas narrativas das Escrituras.
 
Se os talmudistas olhassem com horror as alegorias da escola filosófica, as quais, se executa logicamente—e sempre houve pensadores lógicos entre os judeus—privariam o judaísmo de todas as bases históricas, não se opuseram à interpretação cabalística das Escrituras, que aqui também identificou a idealidade com a realidade.
 
O mesmo vale para a lei. Os cabalistas foram reprovados por levar ao extremo a alegorização da parte ritual da lei. Mas a grande importância da cabala para o judaísmo rabínico está no fato de impedir que ela se fossilize. Foi a Cabala que elevou a oração à posição que ocupou durante séculos entre os judeus, como um meio de transcender os assuntos terrenos por um tempo e de sentir-se em união com Deus.
 
E a Cabala conseguiu isso num período em que a oração estava gradativamente se tornando um exercício religioso meramente externo, um serviço dos lábios e não do coração. E assim como a oração foi enobrecida pela influência da Cabala, a maioria das ações rituais deixou de lado seu formalismo, tornou-se espiritualizada e purificada. A cabala prestou assim dois grandes serviços ao desenvolvimento do judaísmo: reprimiu tanto o aristotelismo quanto o formalismo talmúdico.
 
== Influências nocivas ==
Estas influências benéficas da Cabala são, no entanto, contrabalançadas por várias das mais perniciosas. Do axioma metafísico, de que não há nada no mundo sem vida espiritual, os cabalistas desenvolveram uma magia judaica.<ref>{{Citar web|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/10264-magic|titulo=MAGIC - JewishEncyclopedia.com|acessodata=2018-05-01|obra=www.jewishencyclopedia.com}}</ref> Eles ensinaram que os elementos são a morada dos seres que são os resíduos remanescentes da vida espiritual mais baixa e que são divididos em quatro classes; ou seja, seres elementares de fogo, ar, água e terra; os dois primeiros são invisíveis, enquanto os dois últimos podem ser facilmente percebidos pelos sentidos.
 
Enquanto estes últimos são geralmente malucos maliciosos que vexam e zombam do homem, os primeiros são bem dispostos e prestativos. A demonologia, portanto, ocupa uma posição importante nas obras de muitos cabalistas; pois os diabinhos estão relacionados àqueles seres que são geralmente designados como demônios (שדים), sendo dotados de vários poderes sobrenaturais e com insight sobre os reinos ocultos da natureza inferior, e mesmo ocasionalmente no futuro e no mundo espiritual mais elevado. Magia (מעשה שרים) pode ser praticada com a ajuda desses seres, os cabalistas significam magia branca em contraste com מעשה כישוף (a arte negra).
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== Superstição cabalística ==
A concepção metafísica da identidade do real com o ideal deu origem à concepção mística de que tudo o que nossos sentidos observam tem um significado místico; que os fenômenos podem instruir o homem quanto ao que acontece na idéia divina ou no intelecto humano. Daí a doutrina cabalística do alfabeto celeste, cujos signos são as constelações e as estrelas. Assim, a astrologia foi legitimada, e a bibliomancia encontrou sua justificativa na suposição de que as letras hebraicas sagradas não são meramente sinais de coisas, mas implementos de poderes divinos por meio dos quais a natureza pode ser subjugada.
 
É fácil ver que todas essas visões foram mais perniciosas em sua influência sobre o intelecto e a alma do judeu. Mas é igualmente verdade que essas coisas não se originaram na Cabala, mas gravitaram em direção a ela.
 
Em uma palavra, suas obras representam aquele movimento no judaísmo que tentou judaizar todos os elementos estrangeiros nele, um processo pelo qual visões saudáveis e anormais foram introduzidas juntas.<ref group="compare:">[http://www.jewishencyclopedia.com/articles/761-adam-kadmon Adam Ḳadmon], [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/1256-allegorical-interpretation Interpretação Alegórica], [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/1445-amulet Amuletos], [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/1885-ascension Ascensão], [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/2217-azilut Aẓilut], [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/4730-creation Criação], [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/5717-emanation Emanação], [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/10737-metempsychosis Metempsicose], [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/13387-sefirot-the-ten Sefirot], [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/14170-syzygies Syzygies], [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/15278-zohar Zohar]; e, na relação da cabala com as religiões não-judaicas, o [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/6723-gnosticism gnosticismo].</ref>
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Yehuda Ashlag (1884 - 1954), conhecido como ''dono da escada'' (Baal HaSulam) título esse recebido devido a tradução comentada do livro do Zohar para o Hebraico. Além dessa interpretação, ele também escreveu o Talmud Eser Sefirot (Uma compilação dos escritos do ARI comentados tópico por tópico e palavra por palavra), O Portão das Intensões (o livro do ARI comentado), Shamati (que na verdade é um caderno de anotações das suas palavras, anotadas por seu filho [[RABASH|Rabash]]), diversos outros escritos incluindo artigos, cartas e prefácios e introduções (inclusos: Introdução ao Livro do Zohar e Prefácio ao Livro do Zohar) e Ággadá de Pascoa.<ref>{{Citar web|url=https://archive.kbb1.com/en/sources|titulo=Library|acessodata=2018-05-02|obra=Kabbalah Media|lingua=en-US}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://www.encyclopedia.com/religion/encyclopedias-almanacs-transcripts-and-maps/ashlag-yehudah|titulo=Ashlag, Yehudah - Dictionary definition of Ashlag, Yehudah {{!}} Encyclopedia.com: FREE online dictionary|acessodata=2018-05-02|obra=www.encyclopedia.com|lingua=en}}</ref>
 
Baal HaSulam enfatizou a importância de doar. Na sua opinião, a reparação da ''quebra dos vasos'' será feita quando cada pessoa consuma apenas o que ele precisa e dê aos outros o máximo que puder, no perfeito cumprimento da vontade divina.<ref group="Veja:">"Ama ao próximo como a ti mesmo" (A [[Mitzvá]])</ref> Todas as falhas na sociedade humana (por exemplo, as lacunas entre os ricos e os pobres; as guerras) são os resultados do egoísmo e o desejo de receber, o que afasta a alma do homem de seu criador.
 
Ele apontou a necessidade do homem de subir na escadas espirituais e alcançar em sua totalidade o conceito de ''amor de amigo'' que inclui toda a abundância e a bondade. A ascensão e a aderência espiritual também são acompanhadas pelo progresso social físico que se manifestará em uma estrutura social abrangente, um mundo de unidade e fraternidade.
 
Seus artigos e livros se tornam referências em Cabalá para o judeu. Ao mesmo tempo, as idéias marxistas se transformam em uma escala dialética que leva à redenção coletiva. Cada recibo é percebido como um modelo para o progresso. Baal HaSulam é tido até o momento como sendo o último cabalista, cujas escolas de cabalá revelada (Kabbalah La'am - Recepção para o Povo) à sua maneira refletem seu método.<ref>{{Citar web|url=http://www.kabbalah.info/brazilkab/hasulam_2.htm|titulo=Baal HaSulam|data=|acessodata=2018-05-02|obra=www.kabbalah.info|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://www.kabbalahcentre.com.br/rav_ashlag|titulo=Rav Ashlag {{!}} Kabbalah Centre Brasil|acessodata=2018-05-02|obra=www.kabbalahcentre.com.br|lingua=pt-br}}</ref><ref>{{Citar periódico|titulo=Rabbi Yehuda Ashlag {{!}} My Jewish Learning|url=https://www.myjewishlearning.com/article/rabbi-yehuda-ashlag/|jornal=My Jewish Learning|lingua=en-US}}</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.theguardian.com/world/2004/dec/11/religion.uk|titulo=Elena Lappin investigates Kabbalah: part one|data=2004-12-11|acessodata=2018-05-02|obra=the Guardian|ultimo=Lappin|primeiro=Elena|lingua=en}}</ref>
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{{JewishEncyclopedia}}
* A. Adler, in Nowack, Jahrbücher der Philosophie, 1846-47;
* Bernfeld, Da'at Elohim, pp. 335-399&nbsp;335–399;
* Sam. A. Binion, The Kabbalah, in Library of the World's Best Literature, ed. C. D. Warner, pp. 8425-8442&nbsp;8425–8442;
* Bloch, Die jüdische Mystik und Kabbala, in Winter and Wünsche, Jüdische Literatur, iii., also separately;
* Buddeus, Introductio ad Historiam Philosophiœ Hebrœorum, Halle, 1702, 1721;
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* Rosner, Yad Binyamin, Vienna, 1882;
* Tedeschi, La Cabbala, Triest, 1900;
* Zunz, G. V. 2d ed., pp. &nbsp;415 et seq.;
* Rubin, Heidentum, und Kabbala, in Hebrew, Vienna, 1888; in German, ib. 1893; idem, Kabbala und Agada, Vienna, 1895;
* Stöckl, Gesch. der Philosophie, des Mittelalters, ii. 232-251, Mayence, 1865, with an account of the influence of the Cabala on the Reformation;
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{{Portal3|Religião|Judaísmo}}
 
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