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Um '''conto''' é uma narrativa que cria um universo de seres, de fantasia ou acontecimentos. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo.
 
==Terminologia==
De acordo com [[Anatol Rosenfeld]], no Brasil, costuma-se chamar de conto "todas as formas [[prosa|prosaicas]]icas curtas do gênero [[épica|épico]]", por oposição à [[novela]] e ao [[romance]] - os quais, em inglês, são chamados de ''novella'' e ''novel'', respectivamente.<ref name=Rosenfeld>ROSENFELD, Anatol. "A Manobra". ''O Estado de S. Paulo'', 29 out. 1960. [http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19601029-26230-nac-0007-lit-1-not link]. Republicado em ''Letras Germânicas''. S. Paulo: Perspectiva, 1993, pp. 315-321.</ref>
 
O mesmo autor afirma que, em outros países, o conto pode corresponder a várias outras formas, segundo a distinção feita por alemães :<ref name=Rosenfeld/>
* a ''Erzählung'' (narrativa, ''tale'' em inglês), que, não dependendo de um "acontecimento central", é uma forma mais livre e mais rica de fabulação e fantasia do que a novela, mas de menos densidade e rigor arquitetônico que as ''short stories''; ex., ''[[As Mil e Uma Noites]]'', ''[[ Contos da Cantuária]]'' de [[Geoffrey Chaucer]];
* a ''Kurzgeschichte'' (''short story'' em inglês), caracterizada pelo rigor de sua construção e a "unidade de efeito"; ex., contos de [[Edgar Allan Poe]] (no entanto, este autor ainda usava o termo ''tale'', mais antigo, em vez de ''short story''), [[Jack London]], [[Mark Twain]], [[Hemingway]], [[Faulkner]], [[F. Scott Fitzgerald|Fitzgerald]]; alguns autores, como J. Klein, chegam a considerar a ''Kurzgeschichte'' como uma forma derivada da novela alemã (representada, em especial, por [[E. T. A. Hoffmann]]);<ref>KLEIN, Johannes. ''Geschichte der deutschen Novelle''. Wiesbaden, 1956.</ref>
* a ''Novellette'';
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Veja-se o caso de "Vidas secas": em certas passagens não sabemos exatamente quem fala – é o '''narrador''' (terceira pessoa) ou a '''consciência''' de Fabiano (primeira pessoa)? Este tipo de discurso permite expor os pensamentos da personagem sem que o narrador perca seu poder de mediador.
# '''Monólogo interior''' (ou [[fluxo de consciência]]) é o que se passa "dentro" do mundo psíquico da personagem; "falando" consigo mesma; veja algumas passagens de [[Perto do coração selvagem]], de [[Clarice Lispector]]. O livro [[A canção dos loureiros]] (1887), de [[Édouard Dujardin]] é o precursor moderno deste tipo de discurso da personagem. O [[Lazarillo de Tormes]], de autor desconhecido, é considerado o verdadeiro precursor deste tipo de discurso. Em "[[Ulisses_Ulisses (James_JoyceJames Joyce)|Ulisses]]", Joyce (inspirado em Dujardin) radicalizou no monólogo interior que também pode ser usado a (biografia de um autor de livros e etc).
 
=== Focos narrativos ===
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=== Contistas famosos em língua portuguesa ===
[[Machado de Assis]], [[Aluísio Azevedo]] e [[Artur de Azevedo]], entre outros que destacam-se no panorama brasileiro do conto, abrindo espaço para contistas como [[Monteiro Lobato]], [[Clarice Lispector]], [[Ruth Rocha]], [[Lima Barreto (escritor)|Lima Barreto]], [[Otto Lara Resende|Otto Lara ]] Resende, Barbara [[Lygia Fagundes Telles|Fagundes Telles]], [[José J. Veiga]], [[Dalton Trevisan]] e [[Rubem Fonseca]].
 
[[Eça de Queirós]], mais conhecido como romancista, é referência em [[Portugal]] por seus contos reunidos para publicação em [[1902]], dois anos após seu falecimento, bem como [[Branquinho da Fonseca]], cuja obra inclui diversas antologias de contos. Mário Henrique-Leori e Miguel Torga são outros dois nomes a mencionar
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De qualquer forma, no Brasil, o conto surgiu mesmo foi através da imprensa em meados do século XIX. Por isso, naquela época, quase todos os contistas eram [[jornalista]]s. E não foi só no Brasil que isso ocorreu.
 
Essa tecnologia é, também, em parte, "culpada" pelo [[preconceito]] em relação ao género. "A linha normativa gera uma série de manuais que prescrevem como escrever contos. E a revista popular propicia uma comercialização gradativa do género. Tais fatos são tidos como responsáveis pela degradação técnica e pela formação de estereótipos de contos que, na era industrializada do [[capitalismo]] americano, passa a ser arte padronizada, impessoal, uniformizada, de produção veloz e barata. Tais preocupações provocam, por sua vez, um movimento de diferenciação entre o conto comercial e o conto literário. Daí talvez tenha surgido o preconceito contra o conto…" (Nádia Battella Gotlib, op. cit.).
 
Esse fenômeno também foi notado no Brasil no início dos [[década de 1970|anos 1970]]. As influências exercidas pela [[imprensa escrita]], revistas, TVs, levaram o conto a um ponto de praticamente perder sua "identidade": sendo "quase tudo", passou a ser quase "nada".
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[[Maupassant]] - que escreveu cerca de trezentos contos - dizia que escrever contos era mais difícil do que escrever [[romance]]s. [[Machado de Assis]], citado por Nádia Battella Gotlib, em ''Teoria do Conto'', também não achava fácil escrever contos: "É género difícil, a despeito de sua aparente facilidade", assim como [[Faulkner]]: "quando seriamente explorada, a história curta é a mais difícil e a mais disciplinada forma de escrever prosa… Num romance, pode o escritor ser mais descuidado e deixar escórias e superfluidades, que seriam descartáveis. Mas num conto… quase todas as palavras devem estar em seus lugares exactos", (citado por R. Magalhães Júnior em ''A arte do conto'').
 
O escritor gaúcho [[Moacyr Scliar]], mais conhecido como romancista do que como contista, revela sua preferência pelo conto: "Eu valorizo mais o conto como forma literária. Em termos de criação, o conto exige muito mais do que o romance… Eu me lembro de vários romances em que pulei pedaços, trechos muito chatos. Já o conto não tem meio termo, ou é bom ou é ruim. É um desafio fantástico. As limitações do conto estão associadas ao fato de ser um género curto, que as pessoas ligam a uma ideia de facilidade; é por isso que todo escritor começa contista" (In '''Folha de S. Paulo''', 4 fev. 1996, p. &nbsp;5-11).
 
"Penso que, não por casualidade, a nossa época (anos 1980) é a época do conto, do romance breve", diz [[Italo Calvino]] (1923-1985) em ''Por que ler os clássicos''. Num artigo sobre Borges (1899-1986), Calvino disse que lendo Borges veio-lhe muitas vezes a tentação de formular uma poética do escrever breve, louvando suas vantagens em relação ao escrever longo. "A última grande invenção de um género literário a que assistimos foi levada a efeito por um mestre da escrita breve, [[Jorge Luis Borges]], que se inventou a si mesmo como narrador, um ovo de Colombo que lhe permitiu superar o bloqueio que lhe impedia, por volta dos 40 anos, passar da prosa ensaística à prosa narrativa." (Italo Calvino, Seis propostas para o próximo milênio).
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