Civilização asteca: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Aztecwriting.jpg|thumb|Um exemplo de escrita [[Língua náuatle|náuatle]] de três nomes de lugares]]
 
Os astecas não tinham um sistema de escrita totalmente desenvolvido como os [[maias]], mas, como os maias e os [[zapotecas]], também usavam um sistema de escrita que combinava sinais logográficos com sinais de sílabas fonéticas. [[Logograma]]s seriam, por exemplo, o uso de uma imagem de uma montanha para significar a palavra ''tepetl'' ("montanha"), enquanto um sinal de sílaba fonética seria o uso de uma imagem de um [[dente]] ''tlantli'' para significar a sílaba ''tla'' em palavras não relacionadas aos dentes. A combinação desses princípios permitiu aos astecas representar os sons de nomes de pessoas e lugares. As narrativas tendiam a ser representadas através de sequências de imagens, usando diferentes convenções iconográficas, tais como pegadas para mostrar caminhos, templos em chamas para mostrar eventos de conquista, etc.{{sfn|Prem|1992}}
 
O epígrafista Alfonso Lacadena demonstrou que os diferentes sinais de sílaba usados ​​pelos astecas quase permitiam a representação de todas as sílabas mais frequentes da [[língua náuatle]] (com algumas exceções notáveis),{{sfn|Lacadena|2008}} mas alguns estudiosos argumentaram que um grau tão alto de [[fonética]] só foi alcançado após a [[Conquista do Império Asteca|conquista espanhola]], quando os astecas foram introduzidos aos princípios da escrita fonética pelos [[espanhóis]].{{sfn|Zender|2008}} Outros estudiosos, notadamente Gordon Whittaker, argumentaram que os aspectos silábicos e fonéticos da escrita asteca eram consideravelmente menos sistemáticos e mais criativos do que sugere a proposta de Lacadena, argumentando que a escrita asteca nunca se uniu a um sistema estritamente silábico como a escrita maia, mas sim usada uma ampla gama de diferentes tipos de sinais fonéticos.{{sfn|Whittaker|2009}}
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=== Cerâmicas ===
Os astecas produziam [[cerâmica]]s de diferentes tipos. As chamadas mercadorias laranjas eram comuns, elas eram cerâmicas alaranjadas ou lustrosamente polidas. As peças vermelhas eram cerâmicas avermelhadas e os utensílios policromos eram cerâmicas com brancas ou laranjas, com desenhos pintados em laranja, vermelho, marrom e/ou preto. Muito comum também era a cerâmica "preto em laranja", que era decorada com desenhos pintados em preto.{{sfn|Hodge|Neff|Blackman|Minc|1993}}{{sfn|Minc|2017}}{{sfn|Pasztory|1983|pages=29}}
{{imagem múltipla
| align = right
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=== Identidade nacional mexicana ===
 
A cultura e a história astecas foram centrais para a formação de uma identidade nacional mexicana após a independência mexicana em 1821. Na Europa dos séculos XVII e XVIII, os astecas eram geralmente descritos como bárbaros, cruéis e culturalmente inferiores.{{sfn|Keen|1971|pages=260–270}} Mesmo antes de o México alcançar sua independência, os espanhóis americanos (''criollos'') se basearam na história asteca para fundamentar sua própria busca por símbolos de orgulho local, separados dos da Espanha. Os intelectuais utilizaram [[Códices astecas|escritos astecas]], como aqueles coletados por [[Fernando de Alva Cortés Ixtlilxóchitl]] e escritos por [[Hernando Alvarado Tezozomoc]] e [[Chimalpahin Quauhtlehuanitzin|Chimalpahin]], para entender o passado indígena do México em textos feitos por escritores indígenas. Esta busca se tornou a base para o que o historiador britânico D.A. Brading chama de "patriotismo crioulo". Clérigo e cientista do {{séc|XVII}}, [[Carlos de Sigüenza y Góngora]] adquiriu a coleção de manuscritos do nobre de Texcocan, Alva Ixtlilxochitl. O [[jesuíta]] crioulo [[Francisco Javier Clavijero]] publicou ''La Historia Antigua de México'' (1780-81) em seu exílio [[Itália|italiano]] após a expulsão dos jesuítas em 1767, na qual ele traça a história dos astecas de sua migração ao último governante asteca, [[Cuauhtemoc]]. Ele escreveu expressamente para defender o passado indígena do México contra as calúnias de escritores contemporâneos, como Pauw, Buffon, Raynal e [[William Robertson (historiador)|William Robertson]].{{sfn|Brading|1991| pp=450-55}} Escavações arqueológicas em 1790 na praça principal da capital mexicana descobriram duas enormes esculturas de pedra, enterradas imediatamente após a queda de Tenochtitlan na conquista. Desenterradas foram a famosa [[Pedra do Sol|pedra do calendário]], bem como uma estátua de [[Coatlicue]]. A obra ''Descripción histórico y cronológico de las dos piedras'', escrita em 1792 por [[Antonio de León y Gama]], examina os dois monólitos de pedra. Uma década depois, o cientista alemão [[Alexander von Humboldt]] passou um ano no México, durante sua expedição de quatro anos à [[América espanhola]]. Uma de suas primeiras publicações daquele período foi a ''Visão das Cordilheiras e Monumentos dos Povos Indígenas das Américas''.{{sfn|Humboldt| 2014}} Humboldt foi importante na divulgação de imagens dos astecas para cientistas e leitores em geral no [[mundo ocidental]].{{sfn|Quiñones Keber|1996}}
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[[Imagem:MonumentCuauhtemocPaseo2.jpg|thumb|upright|Monumento a [[Cuauhtémoc]], inaugurado em 1887 por [[Porfirio Díaz]] na [[Cidade do México]]]]
 
O final do {{séc|XIX}} no México foi um período em que a civilização asteca se tornou um ponto de orgulho nacional. A era foi dominada pelo herói militar liberal, [[Porfirio Díaz]], um mestiço de [[Oaxaca]] que foi presidente do país de 1876 a 1911. Suas políticas abriram o México para investidores estrangeiros e modernizou o país sob uma política de mão firme, a "Ordem e Progresso", que minou as populações indígenas e as suas comunidades. No entanto, em relação às pesquisas de antigas civilizações do México, o seu regime era benevolente, com fundos para apoiar a [[arqueologia]] e para proteger monumentos.{{sfn|Bueno|2016}} "Estudiosos acharam mais lucrativo limitar sua atenção aos índios que haviam morrido há vários séculos."{{sfn|Keen| 1971|p=417}} Sua benevolência viu a colocação de um monumento a [[Cuauhtemoc]] em uma grande rotatória de tráfego (''glorieta'') do vasto [[Paseo de la Reforma]], que ele inaugurou em 1887. Em feiras mundiais do final do {{séc|XIX}}, os pavilhões do México incluíam um foco principal em seu passado indígena, especialmente os astecas. Estudiosos mexicanos como [[Alfredo Chavero]] ajudaram a moldar a imagem cultural do México nessas exibições.{{sfn|Tenorio-Trillo|1996}}
 
A [[Revolução Mexicana]] (1910-1920) e a participação significativa dos povos indígenas na luta em muitas regiões desencadearam um amplo movimento político e cultural de [[indigenismo]], patrocinado pelo governo, quando os símbolos do passado asteca do México se tornando onipresentes, especialmente no [[Muralismo mexicano|muralismo]] mexicano de [[Diego Rivera]].{{sfn|Helland|1990}}{{sfn|Wolfe|2000|p=147}}
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[[Imagem:Piedra_del_sol_Porfirio_Diaz.png|thumb|esquerda|upright|Presidente [[Porfirio Díaz]] em 1910 no [[Museu Nacional de Antropologia (México)|Museu Nacional de Antropologia]] com a [[Pedra do Sol]]]]
 
A partir do {{séc|XIX}}, estudiosos na [[Europa]] e nos [[Estados Unidos]] procuraram cada vez mais pesquisas sobre as civilizações antigas do México. [[Alexander von Humboldt]] foi extremamente importante para trazer o Antigo México para discussões acadêmicas mais amplas sobre civilizações antigas. O [[americanista]] francês [[Charles Étienne Brasseur de Bourbourg]] (1814–1874) afirmou que "a ciência em nosso tempo finalmente estudou e reabilitou efetivamente a América e os americanos do ponto de vista [anterior] da história e da arqueologia. Foi Humboldt ... que nos despertou de nosso sono."{{sfn|Keen|1971|p=336}}
 
Nos Estados Unidos, no início do {{séc|XIX}}, o interesse pelo antigo México impulsionou [[John Lloyd Stephens]] a viajar para o México e depois publicar relatos bem ilustrados no início da década de 1840. Mas a pesquisa de um homem parcialmente cego de [[Boston]], [[William Hickling Prescott]], sobre a conquista espanhola do México resultou em sua obra altamente popular e profundamente pesquisada, ''The Conquest of Mexico'' (1843). Embora não tenha sido formalmente treinado como [[historiador]], Prescott recorreu às óbvias fontes espanholas, mas também à história da conquista de Ixtlilxóchitl e [[Sahagún]]. Seu trabalho resultante foi uma mistura de atitudes pró e anti-asteca. Não foi apenas um ''[[best-seller]]'' em [[Língua inglesa|inglês]], também influenciou intelectuais mexicanos, incluindo o principal político conservador, [[Lucas Alamán]]. Na avaliação de [[Benjamin Keen]], a história de Prescott "sobreviveu a ataques de todos os quadrantes e ainda domina as concepções dos leigos, se não do especialista, sobre a civilização asteca".{{sfn|Keen|1971|p=363}}
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A cultura dos astecas cativou a imaginação dos europeus desde os primeiros encontros e forneceu muitos símbolos icônicos à cultura popular ocidental.{{sfn|Cooper Alarcón|1997}} Em seu livro ''The Aztec Image in Western Thought'', Benjamin Keen argumentou que os pensadores ocidentais geralmente viam a cultura asteca através de um filtro de seus próprios interesses culturais.{{sfn|Keen|1971}}
 
Os astecas e as figuras da [[mitologia asteca]] figuram na cultura ocidental.{{sfn|Carrasco|2012|pages=112–120}} O nome de [[Quetzalcoatl]], um deus serpente emplumado, tem sido usado para um gênero de [[pterossauro]]s, ''[[Quetzalcoatlus]]'', um grande réptil voador com uma envergadura de até 11 metros.{{sfn|Witton|Martill|Loveridge|2010}} Quetzalcoatl apareceu também como personagem em muitos livros, filmes e videogames. [[D. H. Lawrence]] deu o nome de Quetzalcoatl a um rascunho inicial de seu romance ''The Plumed Serpent'', mas seu editor, Alfred A. Knopf, insistiu em uma mudança de título.<ref>{{cite bookcitar livro|author1autor1 =Martz, Louis L. |author2autor2 =Lawrence, D.H. |titletítulo=Quetzalcoatl |publisherpublicado=New Directions Books |yearano=1998 |pagespáginas=iv, ix |isbn=978-0-8112-1385-1}}</ref> O autor estadunidense [[Gary Jennings]] escreveu dois aclamados romances históricos ambientados no México, ''Aztec'' (1980) e ''Aztec Autumn'' (1997).<ref name="Jennings Obit">{{Citecitar newsjornal|last1último1 =Smith|first1primeiro1 =Dinitia|datedata=18 de fevereiro de 1999 |titletítulo=Gary Jennings Is Dead at 70; Author of the Best Seller 'Aztec' |url=https://www.nytimes.com/1999/02/18/arts/gary-jennings-is-dead-at-70-author-of-the-best-seller-aztec.html|newspaperjornal=The New York Times|accessdateacessodata=5 de janeiro de 2016}}</ref> Os romances eram tão populares que mais quatro da série asteca foram escritos após sua morte.<ref>{{citecitar web |url=https://us.macmillan.com/series/aztec |titletítulo=''Aztec'' series |website=Macmillan Publishers}}</ref>
 
A sociedade asteca também foi retratada no cinema. O filme mexicano ''La Otra Conquista'' de 2000 foi dirigido por Salvador Carrasco e ilustrou o resultado colonial da conquista espanhola do México na década de 1520. Adotou a perspectiva de um escriba asteca, Topiltzin, que sobreviveu ao ataque ao templo de [[Tenochtitlan]].<ref>{{cite magazinecitar revista|last1último1 =O'Leary |first1primeiro1 =Devin D. |titletítulo=The Other Conquest Conquers America |magazinerevista=Alibi |datedata=3 de maio de 2007 |volume=16 |issuenúmero=18 |url=https://alibi.com/film/18933/The-Other-Conquest-Conquers-America.html |accessdateacessodata=12 de abril de 2018}}</ref> O filme ''Retorno a Aztlán'' de 1989 de Juan Mora Catlett é uma obra de ficção histórica ambientada durante o governo de [[Moctezuma I]], filmado em náuatle e com o título alternativo ''Necuepaliztli em Aztlan''.<ref>{{citecitar web |url=http://www.nativeamericanfilms.org/mexico1.html |publisherpublicado=Native American Films |titletítulo=Films on the Indigenous Peoples of Mexico. Part One: Historical Films}}</ref>{{sfn|Mora|2005|p=212}} Nos [[Filme B|filmes B]] da década de 1970, uma figura recorrente era a "múmia asteca", assim como os fantasmas e feiticeiros astecas.{{sfn|Greene|2012}}
 
== Ver também ==