Jean-Paul Sartre: diferenças entre revisões

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Na literatura, influenciou a poesia da [[Geração Beat]], cujos maiores expoentes foram [[Jack Kerouac]], [[Allen Ginsberg]] e [[William S. Burroughs]], além dos dramaturgos do chamado [[Teatro do absurdo]]. Já na literatura brasileira, podemos destacar a escritora [[Clarice Lispector]]. Pelo menos, desde o seu segundo livro, ''O Ilustre'', conforme ela mesma afirmou mais tarde: "Acontece que só vim a saber da existência de Sartre no meu segundo livro" (Cf. BORELLI, 1981, p. 66). De acordo com Nádia Gotlib, inclusive, "uma das possíveis razões de o livro ter sido bem recebido na França pode ter sido mesmo a idéia de que teria tido ele influência do existencialismo" (GOTLIB, 1995, p. 340). Muitos dos trabalhos críticos sobre a obra da autora confirmam a relação daquela com a filosofia existencialista de Sartre<ref>{{citar livro|título=Restos de Ficção: A Criação Biográfico-Literária de Clarice Lispector.|ultimo=Nolasco|primeiro=Edgar Cezar|editora=Annablume|ano=2004|local=São Paulo|páginas=|acessodata=}}</ref>. A obra de Clarice ''A maçã no escuro'' é também entendida como influenciada pelo pensamento filosófico de Sartre. Guimarães compara ''A maçã no escuro'' ao romance de Sartre ''A náusea'' e nota traço esquizo em Martim, por este apresentar pensamento fragmentado, com ausência de elos. Segundo Guimarães, a consciência tanto de Martim quanto de Roquentin (protagonista do romance de Sartre), "opera por contiguidade, adesão, coexistência em relação aos circunstantes e não por identificação, à maneira psicanalítica".<ref>{{citar livro|título="E" (ensaios de literatura e filosofia)|ultimo=GUIMARÃES|primeiro=Rodrigo|editora=7Letras|ano=2010|local=Rio de Janeiro|páginas=|acessodata=}}</ref> No mais, muitos críticos literários discutiram a influência do existencialismo de Sartre e da discussão e papéis femininos/masculinos de Simone de Beauvoir nas narrativas de Clarice Lispector. Isso pode ser encontrado, por exemplo, nos seguintes textos: BRASIL, Assis. ''Clarice Lispector''. Rio de Janeiro: Simões, 1969; NUNES, Benedito. ''O mundo de Clarice Lispector''; op. cit.; HERMAN, op. cit., p. 69-74; PONTIERO, Giovanni. ''The drama of existence in Laços de família''. Studies in Short Fiction, n.8, 1971 e ANDERSON, Robert K. ''Myth and existencialism in Clarice Lispector's'', 1985<ref>{{citar livro|título=Clarice Lispector: des/fiando as teias da paixão|ultimo=BARBOSA|primeiro=Maria José Somerlate|editora=EdiPUCRS|ano=2001|local=Porto Alegre|páginas=|acessodata=}}</ref>. Neste contexto, e feitas estas considerações pertinentes, é possível pensar uma influência da filosofia formulada por Sartre na obra de Clarice, embora fosse temerário considerar a autora como adepta do existencialismo. A verdade é que a filosofia existencialista de Sartre marcou profundamente a geração de intelectuais contemporâneos de Clarice Lispector<ref>{{citar livro|título=Sartre e Clarice Lispector. In:______ A Passagem de Sartre e Simone de Beauvoir pelo Brasil em 1960|ultimo=ROMANO|primeiro=Luis Antonio Contatori|editora=Mercado de Letras|ano=2002|local=Campinas|páginas=|acessodata=}}</ref><ref>ROMANO, L, A, C. A Passagem de Sartre e Simone de Beauvoir pelo Brasil em 1960. [Tese de Doutorado]. Instituto de Estudos da Linguagem. Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Campinas, 2000.</ref><ref>{{citar web|url=http://www.bv.fapesp.br/pt/auxilios/36489/a-passagem-de-sartre-e-simone-de-beauvoir-pelo-brasil-em-1960/|titulo=A passagem de Sartre e Simone de Beauvoir pelo Brasil em 1960.|data=2000|acessodata=|publicado=Biblioteca Virtual da FAPESP|ultimo=Romano|primeiro=Luís Antônio Contatori}}</ref><ref>{{citar livro|título=Leitura de Clarice Lispector|ultimo=NUNES|primeiro=Benedito|editora=Edições Quiron|ano=1973|local=São Paulo|páginas=|acessodata=}}</ref>. No fim do ano, frequenta o terapeuta Ulysses Girsoler. Ela e Maury passam o ''[[réveillon]]'' na França, com o casal Wainer, a convite de Bluma<ref>{{Citar web|url=https://claricelispectorims.com.br/vida/|titulo=Clarice Lispector: Vida|data=|acessodata=|obra=claricelispectorims.com.br|publicado=Acervo em Centros Culturais IMS - Instituto Moreira Salles - Rio de Janeiro|ultimo=|primeiro=|lingua=pt-BR}}</ref>.
 
Também na música brasileira, Sartre influenciou canções como a “Infinita highway” da banda [[Engenheiros do Hawaii]]. Por exemplo, essa música que mudou definitivamente a trajetória dos Engenheiros explicita trechos como “a dúvida é o preço da pureza”, uma frase da obra ''O Muro'', de Sartre. A “Infinita highway” permite induzir a presença de uma temática existencial. Além da citação de ''O Muro'' em “Infinita highway”, Sartre é mencionado em “Guardas da fronteira” (“Acontece que eu não tenho escolha / Por isso mesmo é que eu sou livre / Não sou eu o mentiroso / Foi Sartre quem escreveu o livro”)<ref>{{citar periódico|ultimo=MORI|primeiro=Rafael Cava|data=2014|titulo=Ciência, filosofia e arte: 1.000 destinos cruzados em “Lance de dados”, de Humberto Gessinger|jornal=Revista Brasileira de Estudos da Canção, Natal, n.5, jan-jun 2014 – Universidade Federal do Rio Grande do Norte – ISSN 2238-1198.|doi=|url=http://www.rbec.ect.ufrn.br/data/_uploaded/artigo/N5/RBEC_N5_A1.pdf|acessadoem=}}</ref>. O próprio [[Humberto Gessinger]], líder da banda Engenheiros do Hawaii, afirma que "Infinita Highway" coloca sobre uma base musical progressiva reflexões existencialistas inspiradas por Sartre<ref>{{Citar periódico|ultimo=|primeiro=|data=|titulo=Humberto Gessinger fala sobre a letra de "Infinita Highway" para Zero Hora|jornal=Jornal Zero Hora, 2014|doi=|url=http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2013/05/humberto-gessinger-fala-sobre-a-letra-de-infinita-highway-para-zero-hora-4144283.html|acessadoem=|idioma=pt-br}}</ref>. O segundo disco da banda, ''A Revolta dos Dândis'', um dos mais aclamados pela crítica nacional, também é o que mais deixa transparecer as preferências de Humberto por Sartre. Ao mesmo tempo, o grupo foi acusado de elitista e fascista devido ao conteúdo de suas letras. Em resposta, Gessinger afirmou que o povo brasileiro entende tanto de existencialismo como de boxe, sendo os dois produtos de consumo. Entre as faixas que mais nitidamente evidenciam a filosofia existencial estão: "Infinita Highway", "Terra de Gigantes", "Refrão de Bolero" e a faixa que dá nome ao álbum, "A Revolta dos Dândis"<ref>{{Citar web|url=httphttps://www2vivendoafilosofia.uolwordpress.com.br/engenheirosdohawaii2015/historia02/13/existencialismo-e-engenheiros-do-hawaii-filosofia-musicada/historia.shtm|titulo=Existencialismo e Engenheiros do Hawaii: Filosofia Musicada {{!}} www.engenheirosdohawaii.com.br|data=2015|acessodata=2017-09-11|obra=www2.uol.com.br|publicado=Vi(Vendo) a FiloSofia|ultimo=DUTRA|primeiro=Paulo Roberto}}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo=GOMES; CAMATTI|primeiro=Vanessa de Lima, Tassiara Baldissera|data=2009|titulo=Análise Semiótica da Obra Dom Quixote: Música e Literatura|jornal=XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Curitiba, PR – 4 a 7 de setembro de 2009|doi=|url=|acessadoem=}}</ref><ref>FRANZ, J, P, R. ''Mapas do acaso: as canções de Humberto Gessinger sob a ótica contemporânea''. [Dissertação de mestrado]. Insituto de Pós-graduação em Letras e Literatura. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.</ref>. Já [[Caetano Veloso]], em entrevista ao jornal Gazeta de Alagoas, diz que "... entre [[Maurice Merleau-Ponty|Merleau-Ponty]] que defendia a percepção do mundo por meio do corpo, e Sartre, que defendia a tomada de posição intelectual, sempre fui mais Sartre, desde a universidade", sendo retrucado pelo entrevistador que argumenta que sendo Caetano homem de "afirmação erótica" e de "presença intensa", estaria mais para Merleau-Ponty. Ao que Caetano acrescentou: "Pois é. Mas o fato é que líamos Sartre, e não Merleau-Ponty"<ref>MONTEIRO, W, S. ''"Nada no bolso ou nas mãos". Influências do existencialismo sartreano na contracultura brasileira 1960-1970''. [Mestrado]. Universidade Severino Sombra, Vassouras, 2007.</ref>.
 
Sartre influenciou do mesmo modo o famoso psiquiatra [[David Cooper]], que foi um psiquiatra sul-africano, notável teórico e líder do movimento anti-psiquiatria, ao lado de R. D. Laing, Thomas Szasz e Michel Foucault. A influência da filosofia de Sartre, especialmente com a obra "Crítica da Razão Dialética", segundo a qual Laing e Cooper compuseram um notável texto com o título ''Raison et violence,'' fez Cooper lutar contra a repressão manicomial que se encontra associada a outras lutas anti-repressivas e se soma às reivindicações por um mundo melhor e mais livre<ref>{{Citar periódico|ultimo=Christian|primeiro=Delacampagne,|data=June 2004|titulo=A contestação antipsiquiátrica|url=http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-44272004000100003|jornal=Mental|volume=2|numero=2|issn=1679-4427}}</ref>.