Arquitetura gótica: diferenças entre revisões

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{{Links ambíguos}}{{Em construção}}{{Em tradução|en:Gothic architecture|data=setembro de 2018}}
 
{{História da Arquitetura|imagem=Koelner dom blick nach osten.jpg|legenda=Contrafortes da [[Catedral de Colônia]]}}
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'''Arquitetura gótica''' é um [[estilo arquitetónico]] que segundo pesquisas, é evolução da [[arquitetura românica]] e que precede a [[arquitetura renascentista]]. Foi desenvolvida no norte da [[França]] durante a Alta Idade Média {{nwrap||900|1300}} entre os anos 1050 e 1100, originalmente chamando-se "Obra Francesa" (''Opus Francigenum''), embora a [[Catedral de Dublim]] na [[Irlanda]] fundada no ano 1030 já possa ser classificado como pre-gótico. O termo "''gótico"'' só apareceu na época do [[Iluminismo]] nos séculos XVII e XVIII como um insulto estilístico, já que para os iluministas a arte gótica era bárbara, sendo tipicamente [[Medieval]]. A palavra gótico é em referência aos godos, povo bárbaro-germano.<ref name="ano_criação1">HISTÓRIA DA ARQUITETURA I e II, documento. Dados e informações sobre os géneros arquitetónicos [http://www.fag.edu.br/professores/solange/HAU%20III/Revis%E3oGeral.HAU.IeII.pdf]</ref>
 
Suas características mais proeminentes incluíam o uso da [[abóbada em cruzaria]] e do [[arcobotante]], que permitia que o peso do teto fosse contrabalançado por contrafortes do lado de fora do edifício, dando maior altura e mais espaço para janelas.{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=46}} Outra característica importante foi o uso extensivo de vitrais, e a [[Rosácea (arquitetura)|rosácea]], para trazer luz e cor para o interior. Outra característica era o uso de estatuária realista no exterior, particularmente sobre os portais, para ilustrar histórias bíblicas para os paroquianos em grande parte analfabetos. Todas essas tecnologias existiam na [[arquitetura românica]], mas eles foram usados ​​de formas mais inovadoras e mais extensivamente na arquitetura gótica para tornar os edifícios mais altos, mais leves e mais fortes.
 
O primeiro exemplo notável geralmente considerado é a [[Abadia de Saint-Denis]], perto de Paris, cujo coro e fachada foram reconstruídos com traços góticos. O coro foi concluído em 1144. O estilo também apareceu em algumas arquiteturas cívicas do norte da Europa, notadamente em prefeituras e edifícios universitários. Um [[revivalismo gótico]] começou em meados do {{séc|XVIII}} na Inglaterra, espalhou-se pela Europa do {{séc|XIX}} e continuou, em grande parte por estruturas eclesiásticas e universitárias, até o {{séc|XX}}.
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== Nome ==
A arquitetura gótica era conhecida durante o período como ''opus francigenum'' ("obra [[Francos|franco]]-francesa");<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=EVNGNIojGgMC&pg=PA90&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false|título=The Cambridge Illustrated History of France|ultimo=Jones|primeiro=Colin|data=1999-05-28|editora=Cambridge University Press|ano=|local=|página=90|páginas=|lingua=en|isbn=9780521669924|acessodata=}}</ref> o termo "arquitetura gótica" originou-se no século XVI e era originalmente muito negativo, sugerindo algo bárbaro. [[Giorgio Vasari]] usou o termo "estilo bárbaro alemão" em sua obra de 1550 ''[[Le vite de' più eccellenti pittori, scultori e architettori|Vidas dos Artistas]]'' para descrever o que era agora considerado o Estilo Gótico.{{HarvRefsfn|Vasari|1991|p=117, 527}} Na introdução do livro, ele atribuiu várias características arquitetônicas aos "[[Godos]]" que foram responsáveis pela destruição de edifícios antigos depois que conquistaram Roma, e erigindo novos neste estilo.
 
== História ==
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Ficheiro:Laon Cathedral West Front, Picardy, France - Diliff.jpg|[[Catedral de Laon]], iniciada em 1155
Ficheiro:Notre Dame de Paris DSC 0846w.jpg|Fachada da [[Catedral de Notre-Dame de Paris|Notre Dame de Paris]], iniciada por volta de 1200
</gallery>O estilo gótico originou-se na região de [[Ilha de França|''Ile-de-France'']] (''Ilha de França'', em francês), no norte da França, na primeira metade do século XII. Uma nova dinastia de reis franceses, os [[Dinastia capetiana|Capetianos]], subjugaram os senhores feudais e se tornaram os governantes mais poderosos da França, com sua capital em Paris. Eles se aliaram aos bispos das principais cidades do norte da França e reduziram o poder dos abades e mosteiros feudais. Sua ascensão coincidiu com um enorme crescimento da população e da prosperidade das cidades do norte da França. Os Reis Capetianos e seus bispos queriam construir novas catedrais como monumentos de poder, riqueza e fé religiosa.{{HarvRefsfn|Raeburn|1980|p=102}}
 
A igreja que serviu de modelo principal para o estilo foi a [[Abadia de Saint-Denis]], que foi reconstruída pelo abade [[Abade Suger de Saint-Denis|Suger]], primeiro no coro e depois na fachada (1140-44); Suger era um aliado próximo e biógrafo do Rei Francês [[Luís VII de França|Luís VII]], que foi um fervoroso Católico e construtor, e o fundador da [[Universidade de Paris]]. Suger remodelou o deambulatório da Abadia, retirou os recintos que separavam as capelas e substituiu a estrutura existente por imponentes pilares e [[Abóbada em cruzaria|abóbadas em cruzaria]]. Isto criou baías mais altas e mais largas, nas quais ele instalou janelas maiores, que enchiam o fim da igreja com luz. Logo depois, ele reconstruiu a fachada, acrescentando três portais profundos, cada um com um [[Tímpano (arquitetura)|tímpano]], um arco cheio de esculturas ilustrando histórias bíblicas. A nova fachada era ladeada por duas torres. Ele também instalou uma pequena [[Rosácea (arquitetura)|rosácea]] circular sobre o portal central. Este projeto tornou-se o protótipo de uma série de novas catedrais francesas.{{HarvRefsfn|Martindale|1993|pp=17-18}}
 
A [[Catedral de Sens]] (iniciada entre 1135 e 1140) foi a primeira catedral a ser construída no novo estilo (Saint-Denis era uma abadia, não uma catedral). Outras versões do novo estilo logo apareceram na [[Catedral de Noyon]] (iniciada em 1150), na [[Catedral de Laon]] (iniciada em 1165) e na mais famosa de todas, a [[Catedral de Notre-Dame de Paris]], onde a construção havia começado em 1160.{{HarvRefsfn|Martindale|1993|pp=20-22}}
 
O estilo gótico também foi adaptado por algumas ordens monásticas francesas, notavelmente a [[Ordem de Cister|Ordem Cisterciense]] de [[São Bernardo de Claraval]]. Foi usada em uma forma austera sem ornamento na nova [[Abadia de Fontenay|Abadia Cisterciense de Fontenay]] (1139-1147) e na igreja da [[Abadia de Claraval]], cujo local agora é ocupado por uma prisão francesa.{{HarvRefsfn|Martindale|1993|pp=24-26}}
 
O novo estilo também foi copiado fora do Reino da França no [[Ducado da Normandia]]. Os primeiros exemplos do gótico normando incluíam a [[Catedral de Coutances]] (1210-1274), a [[Catedral de Bayeux]] (reconstruída a partir do estilo românico no século XII), a [[Catedral de Le Mans]] (reconstruída a partir do românico do século XII) e a [[Catedral de Ruão|Catedral de Rouen]]. Através do domínio da [[Dinastia angevina|dinastia Angevina]], o novo estilo foi introduzido na [[Inglaterra]] e se espalhou para os [[Países Baixos (região)|Países Baixos]], à [[Alemanha]], à [[Espanha]], ao norte da [[Itália]] e à [[Sicília]].{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=46}}{{HarvRefsfn|Grodecki|1977|p=36}} O estilo Gótico não substituiu imediatamente o românico em toda a Europa.{{HarvRefsfn|Raeburn|1980|p=102}} O românico tardio continuou a florescer no [[Sacro Império Romano-Germânico|Sacro Império Romano]] sob o comando dos [[Dinastia de Hohenstaufen|von Hohenstaufen]] e a [[Renânia]].
 
=== Alto Gótico (1200-1270) ===
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Ficheiro:0 Amiens - Cathédrale Notre-Dame (1).JPG|Fachada da [[Catedral de Notre-Dame de Amiens|Catedral de Amiens]] (1220-1266)
Ficheiro:Amiens Cathedral choir Wikimedia Commons.jpg|Coro e Altar da [[Catedral de Notre-Dame de Amiens|Catedral de Amiens]]
</gallery>Do final do século XII até meados do século XIII, o estilo Gótico se espalhou da Île-de-France para aparecer em outras cidades do norte da França. Novas estruturas no estilo incluíram a [[Catedral de Chartres]] (iniciada em 1200),a [[Catedral de Bourges]] (1195 a 1230), a [[Catedral de Reims]] (1211-1275) e a [[Catedral de Amiens]] (iniciada em 1250).{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=48}} Em Chartres, o uso dos arcobotantes permitiu a eliminação do nível da tribuna, o que permitiu arcadas e naves muito mais altas, e janelas maiores. O tipo inicial de abóbada em cruzaria usado em Saint-Denis e Notre-Dame, com seis partes, foi modificado para quatro partes, tornando-se mais simples e mais forte. Amiens e Chartres estavam entre os primeiros a usar o [[arcobotante]]; os contrafortes foram reforçados por um arco adicional e com uma arcada de apoio, permitindo ainda maior altura e paredes e mais janelas. Em Reims, os contrafortes receberam maior peso e força pela adição de pesadas pinças de pedra no topo. Estes eram frequentemente decorados com estátuas de anjos, e tornaram-se um elemento decorativo importante do Alto Gótico. Outro elemento prático e decorativo, a gárgula, apareceu; era uma bica ornamental que canalizava a água do telhado para longe do edifício. Em Amiens, as janelas da nave foram ampliadas, e uma fileira adicional de janelas de vidro transparente (a ''claire-voie'') inundou o interior com luz. As novas tecnologias estruturais permitiram a ampliação dos transeptos e dos coros no extremo leste das catedrais, criando o espaço para um anel de capelas bem iluminadas.{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=48}}
 
=== Gótico Rayonnant (1250-1370) ===
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Ficheiro:Gothic-Rayonnant Rose-6.jpg|Rosácea no transepto norte da [[Catedral de Notre-Dame de Paris|Catedral de Notre Dame]]
Ficheiro:Rose du transept Sud Notre-Dame de Paris 170208 04.jpg|Exterior de rosácea, visto do sul da [[Catedral de Notre-Dame de Paris|Catedral de Notre Dame]] (cerca de 1250)
</gallery>O próximo período foi denominado ''[[Gótico radiante|Rayonnant]]'' ("Radiante"), descrevendo a tendência para o uso de mais e mais vitrais e menos alvenaria no desenho da estrutura, até que as paredes parecessem inteiramente feitas de vidro. O exemplo mais célebre foi a capela de [[Sainte-Chapelle]], a capela anexada à residência real no [[Palais de la Cité]]. Um elaborado sistema de colunas exteriores e arcos reduziu as paredes da capela superior a uma estrutura fina para as enormes janelas. O peso de cada uma das empenas de alvenaria acima da [[arquivolta]] das janelas também ajudava as paredes a resistir ao impulso e a distribuir o peso.{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=58}}
 
Outro marco do Gótico Rayonnant são as duas rosáceas no norte e no sul do transepto da [[Catedral de Notre-Dame de Paris|Catedral de Notre Dame]]. Enquanto as rosáceas anteriores, como as da [[Catedral de Notre-Dame de Amiens|Catedral de Amiens]], eram emolduradas por pedra e ocupavam apenas uma parte da parede, essas duas janelas, com um delicado quadro de renda, ocupavam todo o espaço entre os pilares.{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=58}}
 
=== Gótico Flamboyant (1350-1450) ===
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Ficheiro:Rose Window of Sainte-Chapelle de Vincennes, Interior View 140308 1.jpg|A rosácea de [[Sainte-Chapelle de Vincennes]]. As linhas sinuosas da moldura da janela deram ao estilo o nome "Flamboyant".
Ficheiro:Interieur abbaye.jpg|Coro da [[Abadia do Monte Saint-Michel|Abadia do Monte Saint Michel]] (cerca de 1448)
</gallery>O estilo Gótico ''[[Gótico flamejante|Flamboyant]]'' (também chamado de "Flamejante") apareceu na segunda metade do século XIV. Seus traços característicos incluíam uma decoração mais exuberante, já que os nobres e os cidadãos ricos de cidades predominantemente do norte da França competiam para construir igrejas e catedrais cada vez mais elaboradas. Ele tomou o nome dos desenhos sinuosos e flamejantes que ornamentavam as janelas. Outras novidades incluem o ''arc en accolade'' (arco de cinta), uma janela decorada com um arco, pináculos de pedra e escultura floral. Ele também contou com um aumento no número de nervuras, ou abóbadas em cruzaria, que suportou e decorou cada abóbada do teto, tanto para maior apoio e efeito decorativo. Exemplos notáveis ​​de Gótico Flamboyant incluem as fachada ocidentais da [[Catedral de Ruão|Catedral de Rouen]] e de [[Sainte-Chapelle de Vincennes]], em Paris, ambas construídas na década de 1370; e o Coro da [[Abadia do Monte Saint-Michel|Abadia do Mont Saint Michel]] (cerca de 1448).{{HarvRefsfn|Renault|Lazé|5=2006|p=37}}
 
== Elementos do Estilo Gótico ==
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A catedral geralmente tem um [[transepto]], um cruzamento, aproximadamente no meio, que às vezes se projeta para fora a alguma distância, e em outros casos, como Notre-Dame, é mínimo. O ''croisée'' ou cruzamento do transepto, é o centro da igreja, e é cercado por pilares particularmente maciços, que às vezes apoiam uma torre de lanterna, que traz a luz no centro da catedral. As fachadas norte e sul do transepto apresentam frequentemente rosáceas, como na [[Catedral de Notre-Dame de Paris|Notre-Dame de Paris]].
 
A leste do transepto está o [[Coro (arquitetura)|coro]] (onde está localizado o altar) onde acontecem as cerimônias e onde somente o clero era permitido. Esse espaço cresceu muito no século 12, quando as cerimônias se tornaram mais elaboradas. Atrás do coro está uma única ou dupla passagem chamada de [[deambulatório]]. No extremo leste da igreja está a [[abside]], geralmente na forma de um semicírculo e a cabeceira. Geralmente há uma capela ali dedicada à Virgem Maria, que pode ser muito grande. Ao redor da cabeceira geralmente há várias outras capelas menores.{{HarvRefsfn|Wenzler|2018|pp=18-19}}
 
As primeiras catedrais góticas tinham quatro níveis, do chão ao teto. No térreo havia duas fileiras de grandes arcadas com grandes pilares, que recebiam o peso das abóbadas do teto. Acima deles estavam os tribunos, uma seção de aberturas em arco, dando mais apoio. Acima deles estava o ''triforium'' (trifório), uma seção de pequenos arcos. No nível superior, um pouco abaixo das abóbadas, estavam as janelas superiores, a principal fonte de luz para as Catedrais. As paredes inferiores foram apoiadas por maciços ''contreforts'' (ou contrafortes) colocados diretamente contra eles, com cumes na parte superior, o que proporciona peso adicional.
 
Mais tarde, com o desenvolvimento do arcobotante, os suportes afastaram-se das paredes e as paredes foram construídas muito mais altas. Aos poucos, as tribunas e o trifório desapareceram, e as paredes acima das arcadas foram ocupadas quase inteiramente por vitrais.{{HarvRefsfn|Renault|Lazé|2006|p=33}}
 
O braço oriental mostra uma diversidade considerável. Na Inglaterra, geralmente é longo e pode ter duas seções distintas, tanto o coro quanto o presbitério. Muitas vezes é quadrado ou tem uma proeminente ''Lady Chapel'', uma capela dedicada à [[Maria (mãe de Jesus)|Virgem Maria]]. Na França, o extremo leste é muitas vezes poligonal e cercado por uma passarela chamada [[deambulatório]] e, às vezes, um anel de capelas chamado de "[[Abside|''chevet'']]". Embora as igrejas alemãs sejam frequentemente semelhantes às da França, na Itália, a projeção oriental além do transepto é geralmente apenas uma capela absidal com o santuário, como na [[Santa Maria del Fiore|Catedral de Florença]].<ref name=":0">{{citar livro|título=A History of Architecture on the Comparative Method.|ultimo=FLATCHER|primeiro=Banister|editora=|ano=|local=|páginas=|acessodata=}}</ref><ref name=":1">{{citar livro|título=The Gothic Cathedral|ultimo=SWAAN|primeiro=Wim|editora=|ano=|local=|páginas=|acessodata=}}</ref>
 
Outra característica do estilo gótico, doméstico e eclesiástico, é a divisão do espaço interior em células individuais de acordo com as nervuras e abóbadas do edifício, independentemente de a estrutura ter ou não um teto abobadado. Esse sistema de células de tamanho e forma variados, justapostos em vários padrões, foi novamente totalmente único na antiguidade e no [[Idade Média|início da Idade Média]] e os estudiosos, inclusive Frankl, enfatizaram a natureza matemática e geométrica desse design. Frankl, em particular, pensou neste layout como "criação por divisão" em vez de "criação por adição" do [[Arquitetura românica|românico]]. Outros, nomeadamente [[Eugène Viollet-le-Duc|Viollet-le-Duc]], [[Wilhelm Pinder]] e [[August Schmarsow]] em vez disso, propuseram o termo "arquitetura articulada".{{HarvRefsfn|Grodecki|1977|p=14}} A teoria oposta, sugerida por [[Henri Focillon]] e [[Jean Bony]], é de "unificação espacial", ou da criação de um interior que é feito para causar sobrecarga sensorial através da interação de muitos elementos e perspectivas.{{HarvRefsfn|Grodecki|1977|pp=14-17}} Partições interiores e exteriores, muitas vezes extensivamente estudadas, foram encontrados, às vezes, com certas características, tais como vias de acesso à altura da janela, que fazem a ilusão de espessura. Além disso, os [[Pilar|pilares]] que separam as ilhas acabaram deixando de fazer parte das paredes, se tornando objetos independentes que se sobressaem da própria parede do corredor.<ref name="lmc2">{{Citar web|url=http://www.lmc.ep.usp.br/people/hlinde/Estruturas/constru3.htm|titulo=Construção de uma Catedral Gótica|acessodata=2018-09-17|obra=www.lmc.ep.usp.br}}</ref>{{HarvRefsfn|Grodecki|1977|p=17}}
 
=== O arco ogival e a abóbada em cruzaria ===
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Ficheiro:Ely Cathedral Lady Chapel, Cambridgeshire, UK - Diliff.jpg|Abóbadas em cruzaria Flamboyant com nervuras ornamentais na Lady Chapel da Catedral de Ely (iniciado em 1321)
Ficheiro:Peterborough Cathedral Lady Chapel, Cambridgeshire, UK - Diliff.jpg|Abóbada de cruzaria em forma de leque na Catedral de Peterborough (1496-1508)
</gallery>Tanto o arco ogival (também chamado de arco cruzado ou arco quebrado) quanto a abóbada em cruzaria tinham sido usados ​​na [[arquitetura românica]], mas os construtores góticos os refinaram e os usaram com efeito muito maior. Eles fizeram as estruturas mais leves e mais fortes, e assim permitiram as grandes alturas e extensões de vitrais encontrados em catedrais góticas.{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=46}}
 
Na arquitetura românica, os arcos arredondados das abóbadas de barril que sustentavam o telhado pressionavam diretamente as paredes com peso esmagador. Isso exigia colunas maciças, paredes grossas e pequenas janelas, e limitava naturalmente a altura do prédio.<ref name="ed-terra">{{Citar web|url=http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2005/07/14/001.htm|titulo=A arte medieval: o românico e o gótico|acessodata=2018-09-19|obra=educaterra.terra.com.br}}</ref> O arco ogival ou quebrado, introduzido durante o período românico, era mais forte, mais leve e levava o impulso para fora, em vez de diretamente para baixo.{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=46}}
 
A abóbada de cruzaria aproveitou a força do arco ogival. A abóbada era sustentada por nervuras finas ou arcos de pedra, que se estendiam para baixo e para fora, para se agruparem em torno de pilares de sustentação ao longo do interior das paredes. As antigas abóbadas em cruzaria, usadas em Notre-Dame, Noyon e Laon, foram divididas pelas nervuras em seis compartimentos e só conseguiram atravessar um espaço limitado. Na construção posterior da catedral, o desenho foi melhorado, e as abóbadas de cruzaria tinham apenas quatro compartimentos e podiam cobrir uma extensão maior; uma única abóbada podia atravessar a nave, e menos pilares eram necessários. A abóbada de quatro partes foi usada em Amiens, Reims e as outras catedrais posteriores e, eventualmente, nas catedrais da Europa.{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=46}}
 
No período posterior do estilo gótico, as abóbadas em cruzaria perderam sua simplicidade elegante, e foram carregadas com reforços adicionais, desenhos esculturais e, às vezes, pingentes e outros elementos puramente decorativos.{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=46}}<ref>{{citar web|url=http://www.uel.br/cce/mat/geometrica/php/pdf/dg_arcos.pdf|titulo=Arcos|data=|acessodata=19 de Setembro de 2018|publicado=|ultimo=BARISON|primeiro=Maria Bernadete|ano=2005}}</ref>
 
=== Arcobotantes ===
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</gallery>Outra característica importante da arquitetura gótica foi o arcobotante, projetado para suportar as paredes por meio de arcos conectados a contra-suportes fora das paredes. Os arcobotantes existiam em formas simples desde os tempos romanos, mas os construtores góticos elevaram seu uso a uma arte refinada, equilibrando o impulso do teto interno contra o contra-impulso dos contrafortes. As primeiras catedrais góticas, incluindo Saint-Denis e Notre-Dame em seus estágios iniciais, não possuíam arcobotantes. Suas paredes eram apoiadas por pesados ​​pilares de pedra colocados diretamente contra as paredes. O telhado era sustentado pelas nervuras das abóbadas, que eram empacotadas com as colunas abaixo.
 
No final do século XII e início do século XIII, os contrafortes ficaram mais sofisticados. Novos arcos levavam o impulso do peso inteiramente para fora das paredes, onde era recebido pelo contra-impulso das colunas de pedra, com os pináculos colocados no topo para decoração e peso adicional. Graças a este sistema de contrafortes externos, as paredes poderiam ser mais altas e mais finas, e poderiam suportar grandes vitrais. Os próprios contrafortes passaram a fazer parte da decoração; os pináculos tornaram-se cada vez mais ornamentados, tornando-se cada vez mais elaborados, como na [[Catedral de Beauvais]] e na [[Catedral de Reims]]. Os arcos tinham um propósito prático adicional: eles continham canais de chumbo que transportavam a água da chuva para o telhado; isso era expulso pela boca das [[Gárgula|gárgulas]] de pedra colocadas em fileiras nos contrafortes.{{HarvRefsfn|Ducher|1988|pp=50-51}}
 
Nos últimos períodos góticos, os arcobotantes tornaram-se extremamente ornamentados, com uma grande quantidade de decoração não funcional na forma de pináculos, arcos curvos, contra-curvas, estátuas e pingentes ornamentais.
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Ficheiro:Picardie Beauvais2 tango7174.jpg|O coro da [[Catedral de Beauvais]]. 48,5 m (159 pés) de altura (1230-1569)
Ficheiro:Interior of Il Duomo, Milan.jpg|Nave da [[Catedral de Milão]]. 45 m (148 pés) de altura (1389-1452)
</gallery>Uma característica importante da arquitetura da igreja gótica é sua altura, tanto absoluta quanto proporcional à sua largura, a verticalidade sugerindo uma aspiração ao céu. A altura crescente das catedrais no período gótico era acompanhada por uma proporção crescente do muro dedicado às janelas, até que, no final do gótico, os interiores se tornaram como gaiolas de vidro. Isto foi possível graças ao desenvolvimento do arcobotante, que transferiu o impulso do peso do telhado para os suportes fora das paredes. Como resultado, as paredes gradualmente se tornaram mais finas e mais altas, e a alvenaria foi substituída por vidro. A elevação de quatro partes das naves das primeiras catedrais, como Notre-Dame (arcada, tribuna, trifório e ''claire-voie'') foi transformada como no coro da [[Catedral de Beauvais]]: as arcadas muito altas, um trifório fino e janelas altas até o teto.{{HarvRefsfn|Wenzler|2018|p=108}}
 
A Catedral de Beauvais chegou ao limite do que era possível com a tecnologia gótica. Uma parte do coro desmoronou em 1284, causando alarme em todas as cidades com catedrais muito altas. Painéis de especialistas foram criados em Siena e Chartres para estudar a estabilidade dessas estruturas.{{HarvRefsfn|Martindale|1993|p=86}} Apenas o transepto e coro de Beauvais foram concluídos, e no século XXI as paredes do transepto foram reforçadas com vigas cruzadas. Nenhuma catedral construída desde então excedeu a altura do coro de Beauvais.{{HarvRefsfn|Wenzler|2018|p=108}}
 
Uma seção do corpo principal de uma igreja gótica geralmente mostra a [[Nave (arquitetura)|nave]] como consideravelmente mais alta do que larga. Na Inglaterra, a proporção às vezes é maior que 2:1, enquanto a maior diferença proporcional alcançada é na [[Catedral de Colônia]], com uma proporção de 3,6:1. A mais alta abóbada interna fica na [[Catedral de Beauvais]] a 48 metros (157 pés).<ref name=":0" />
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Ficheiro:Canterbury Cathedral, south Oculus (37582928966).jpg|Óculo sul da [[Catedral de Cantuária]]. Ele contém catorze das seções de vidro originais do século XII
Ficheiro:Gothic-Rayonnant Rose-6.jpg|A [[Rosácea (arquitetura)|rosácea]] norte em estilo [[Gótico radiante|Rayonnant]] da [[Catedral de Notre-Dame de Paris|Notre-Dame de Paris]]
</gallery>{{Artigo principal|vt=s|Vitral|Rosácea (arquitetura)}}Uma das características mais proeminentes da arquitetura gótica era o uso de vitrais, que cresciam em altura e tamanho, enchendo as catedrais de luz e cor. Historiadores como Viollet-le-Duc, Focillon, Aubert e [[Max Dvořák]] afirmaram que esta é uma das características mais universais do estilo gótico.{{HarvRefsfn|Grodecki|1977|p=20}}
 
Ensinamentos religiosos na Idade Média, particularmente os escritos do religioso [[Pseudo-Dionísio, o Areopagita|Pseudo-Dionísio]], um místico do século VI cujo livro, ''A Hierarquia Celestial'', era popular entre os monges na França, pois ensinava que toda a luz era divina. Quando o Abade [[Abade Suger de Saint-Denis|Suger]] ordenou a reconstrução da [[Basílica de Saint-Denis]], ele instruiu que as janelas do coro admitissem o máximo de luz possível.
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A principal ameaça às janelas da catedral era o vento; as molduras precisavam ser extremamente fortes. As primeiras janelas estavam encaixadas em aberturas cortadas na pedra. Os pequenos pedaços de vidro colorido foram unidos com pedaços de chumbo, e suas superfícies foram pintadas com rostos e outros detalhes; então as janelas foram montadas nos caixilhos de pedra. Finas barras verticais e horizontais de ferro, chamadas de ''vergettes'' ou ''barlotierres'', foram colocadas dentro da janela para reforçar o vidro. Para obter-se um vitral na época, era necessário que um [[artesão]] realizasse um processo de coloração da peça de vidro. Durante este processo, o vidro cru era misturado a outros [[Substância|componentes químicos]] que determinavam a respectiva tonalidade, durante a fase de derretimento. Este processo mantinha o vidro com um tom de cor sem que bloqueasse os raios solares. Após este procedimento o vidro era aquecido e moldado.<ref name="b-escola">{{Citar web|url=http://www.brasilescola.com/historiag/os-vitrais-goticos.htm|titulo=Os vitrais góticos - Brasil Escola|acessodata=2018-10-13|obra=Brasil Escola|lingua=pt-BR}}</ref>
 
As histórias contadas no vidro eram geralmente episódios da Bíblia, mas às vezes também ilustravam as profissões das guildas que financiavam as janelas, como os vendedores, os pedreiros ou os fabricantes de barris.{{HarvRefsfn|Wenzler|2018|p=28}}
 
Grande parte dos vitrais nas catedrais góticas de hoje datam de restaurações posteriores, mas algumas catedrais, como a [[Catedral de Chartres]] e a [[Catedral de Bourges]], ainda têm muitas de suas janelas originais.{{HarvRefsfn|Wenzler|2018|p=28}}
 
Assim como os vitrais, as rosáceas visam estabelecer um ambiente iluminado no interior das estruturas góticas, porém possuem algumas características diferentes. Estão localizadas, geralmente, em um local alto nos estabelecimentos eclesiásticos, geralmente em regiões próximas ao portal da fachada principal a Oeste ou mesmo no [[transepto]], em pelo menos um de seus extremos. As rosáceas fazem alusão à [[:Categoria:Personagens do Novo Testamento|personagens cristãos]] como [[Jesus|Jesus Cristo]] (que é representado pelo [[sol]]) e [[Maria (mãe de Jesus)|Maria]] (representada pela [[rosa]]).<ref name="doc3">[http://www.willians.pro.br/disciplinas/hist_arte/Equipe4.doc WILLIANS, site. Documento textual sobre características da Arte Gótica]</ref>
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Ficheiro:Frontispice cathédrale Strasbourg.JPG|Portais e tímpano da [[Catedral de Estrasburgo]] (início 1176)
Ficheiro:WestminsterNorth55.jpg|Portal norte da [[Abadia de Westminster]] (iniciado em 1245)
</gallery>As antigas catedrais góticas tradicionalmente têm sua entrada principal no extremo oeste da igreja, em frente ao coro. Baseado no modelo da [[Basílica de Saint-Denis]] e da [[Catedral de Notre-Dame de Paris|Notre-Dame de Paris]], há geralmente três portas com arcos pontiagudos, ricamente preenchidos com esculturas. O tímpano, ou arco, sobre cada porta é preenchido com estátuas realísticas que ilustram histórias bíblicas, e as colunas entre as portas são muitas vezes também cheias de estátuas. Seguindo o exemplo de Amiens, o tímpano sobre o portal central representava tradicionalmente o [[Juízo Final]], o portal da direita mostrava a coroação da Virgem Maria e o portal da esquerda mostrava as vidas dos santos que eram importantes na diocese.{{HarvRefsfn|Renault & Lazé|2006|p=35}}
 
A iconografia da decoração escultural na fachada não foi deixada para os artistas. Um decreto do [[Segundo Concílio de Niceia]], em 787, estabeleceu as regras: "A composição das imagens religiosas não deve ser deixada à inspiração dos artistas; é derivada dos princípios estabelecidos pela Igreja Católica e pela tradição religiosa. Somente a arte pertence ao artista, a composição pertence aos Padres".{{HarvRefsfn|Wenzler|2018|p=79}}
 
Os portais e interiores eram muito mais coloridos do que são hoje. Cada escultura no tímpano e no interior era pintada pelo ''peintre imagie''r, ou pintor de imagens, seguindo um sistema de cores codificado no século XII: amarelo, chamado ''gold'', simbolizava inteligência, grandeza e virtude; branco, chamado ''argent'', simbolizava pureza, sabedoria e correção; preto, ou ''sable'', significava tristeza, mas também vontade; verde, ou ''sinopole'', representava esperança, liberdade e alegria; vermelho ou ''guelues'' significava caridade ou vitória; azul ou ''azure'' simbolizava o céu, fidelidade e perseverança; e violeta, ou ''pourpre'' era a cor da realeza e soberania.{{HarvRefsfn|Wenzler|2018|p=54}}
 
=== Torres e pináculos ===
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Ficheiro:Rouen Cathedral as seen from Gros Horloge 140215 4.jpg|Torres da [[Catedral de Ruão|Catedral de Rouen]] (séculos XV e XVI)
Ficheiro:SalisburyCathedral-wyrdlight-EastExt.jpg|Torre da [[Catedral de Salisbury]], a mais alta da Grã-Bretanha (1220-1258)
</gallery>O projeto para a [[Basílica de Saint-Denis]] pedia duas torres de igual altura na fachada oeste, e esse plano geral foi copiado em Notre-Dame e na maioria das primeiras catedrais. As torres de [[Catedral de Notre-Dame de Paris|Notre-Dame de Paris]], de 69 metros de altura (226 pés), deveriam ser vistas em toda a cidade; elas eram as torres mais altas de Paris até a conclusão da [[Torre Eiffel]] em 1889. Uma competição informal mas vigorosa começou no norte da França para as torres mais altas de catedrais.{{HarvRefsfn|Wenzler|2018|pp=95-98}}
 
Para tornar as igrejas mais altas e proeminentes, e visíveis à distância, os construtores "herdeiros" frequentemente acrescentavam uma ''flèche'' (uma "agulha" de estilo único, usualmente feito de madeira e coberto com chumbo), ao topo de cada torre, ou, como em Notre-Dame de Paris, no centro do transepto. Mais tarde, ainda no período gótico, torres mais massivas foram construídas sobre o transepto, rivalizando ou ultrapassando em altura as torres da fachada.
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Os exteriores e interiores das catedrais góticas, particularmente na França, eram profusamente ornamentados com escultura e decoração sobre temas religiosos, destinados à grande maioria dos paroquianos que não sabiam ler. Eles foram descritos como "Livros para os pobres". Para adicionar ao efeito, todas as esculturas nas fachadas foram originalmente pintadas e douradas.<ref name=":2">{{citar livro|título=Dictionnaire Raisonné de l'architecture Française du XIe au XVI siecle|ultimo=VIOLLET-LE-DUC|primeiro=Eugéne|editora=|ano=|series=Project Gutenburg|volume=6|local=|páginas=|acessodata=}}</ref>
 
Cada característica da catedral tinha um significado simbólico. Os principais portais da [[Catedral de Notre-Dame de Paris|Notre-Dame de Paris]], por exemplo, representavam a entrada para o paraíso, com o [[Juízo Final|juízo final]] representado no [[Tímpano (arquitetura)|tímpano]] sobre as portas, mostrando Cristo rodeado pelos apóstolos, e pelos signos do zodíaco, representando os movimentos dos céus. As colunas abaixo do tímpano estão na forma de estátuas de santos, literalmente colocando-as como "os pilares da igreja".{{HarvRefsfn|McNamara|2017|pp=158-159}}
 
Cada santo tinha seu próprio símbolo: um leão alado representava [[São Marcos]]; uma águia de quatro asas significava [[João, o Apóstolo|São João, o Apóstolo]]; e um touro alado simbolizava [[São Lucas]]. Anjos esculpidos tinham funções específicas: às vezes como arautos, soprando trompete; segurando colunas, como anjos da guarda; segurando coroas de espinhos ou cruzes, como símbolos da crucificação de Cristo; ou oscilando um recipiente com incenso, para ilustrar sua função no trono de Deus. A decoração floral e vegetal também era muito comum, representando o Jardim do Éden; as uvas representavam os vinhos da [[Eucaristia]].{{HarvRefsfn|McNamara|2017|pp=158-159}}
 
O [[Tímpano (arquitetura)|tímpano]] sobre o portal central na fachada oeste da [[Catedral de Notre-Dame de Paris|Notre-Dame de Paris]] ilustra vividamente o [[Juízo Final]], com figuras de pecadores sendo levados para o inferno e bons cristãos levados para o céu. A escultura do portal da direita mostra a coroação da Virgem Maria, e o portal da esquerda mostra a vida dos santos que eram importantes para os parisienses, particularmente [[Ana, mãe de Maria|Santa Ana]], a mãe da Virgem Maria.{{HarvRefsfn|Renault|Lazé|5=2006|p=35}}<ref name="book1">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=lang_pt&id=y8LHS-df-l0C&oi=fnd&pg=PP10&dq=escultura+gotica&ots=U_YZijU1qC&sig=IblDfFgh9V0M7jbdIw0jDlKCzyA|título=Escultura Gotica 1140-1300 - Pelican|ultimo=Araújo|primeiro=Paul Williamson, Luiz Antônio|data=1998|editora=COSAC NAIFY|lingua=pt|isbn=9788586374081}}</ref>
 
Os exteriores das catedrais e outras igrejas góticas também foram decoradas com esculturas de uma variedade de fabulosos e assustadores ''[[Quimera (arquitetura)|Grotescos]]'' ou monstros. Estes incluíam a [[quimera]] (uma criatura híbrida mítica que geralmente tinha o corpo de um leão e a cabeça de uma cabra), e a ''[[Estirge]]'' ou ''Estrige'', uma criatura parecida com uma [[coruja]] ou um [[morcego]], que se dizia que comia carne humana. A estirge apareceu na literatura romana clássica, sendo descrita pelo poeta romano [[Ovídio]] (que era amplamente lido na Idade Média) como um pássaro de cabeça grande com olhos paralelepípedos, bico voraz e asas brancas acinzentadas.<ref>{{citar livro|título=Ovid, Fasti VI|ultimo=FRAZER|primeiro=James George|editora=|ano=1933|volume=VI|local=|página=136|páginas=|acessodata=}}</ref> Eles faziam parte da mensagem visual para os adoradores analfabetos, símbolos do mal e do perigo que ameaçavam aqueles que não seguiam os ensinamentos da igreja.{{HarvRefsfn|Wenzler|2018|pp=97-99}}
 
As [[Gárgula|gárgulas]], que foram acrescentadas à Notre-Dame por volta de 1240, tinham um propósito mais prático. Eram as calhas da chuva da catedral, projetadas para dividir a torrente de água que escorria do telhado depois da chuva, projetando-a o mais longe possível dos contrafortes e das paredes e janelas, de modo a não desgastar a argamassa que liga a pedra. Para produzir muitos riachos finos em vez de uma torrente de água, um grande número de gárgulas foi usado, o que fez com que eles também fossem projetados para serem um elemento decorativo da arquitetura. A água da chuva corria do telhado para calhas de chumbo, depois para os canais nos contrafortes, depois para um canal cortado na parte de trás da gárgula e para fora da boca, longe da catedral.<ref name=":2" />
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Muitas das estátuas, particularmente os grotescos, foram removidos da fachada nos séculos XVII e XVIII, ou foram destruídos durante a [[Revolução Francesa]]. Eles foram substituídos por figuras em estilo gótico, projetadas por [[Eugène Viollet-le-Duc]], durante a restauração do século XIX. Figuras semelhantes aparecem nas outras catedrais góticas da França.
 
Outra característica comum das catedrais góticas na França eram os [[Labirinto|labirintos]] no chão da nave perto do coro, que simbolizava a difícil e muitas vezes complicada jornada de uma vida cristã antes de alcançar o paraíso. A maioria dos labirintos foram removidos no século XVIII, mas alguns, como o da [[Catedral de Notre-Dame de Amiens|Catedral de Amiens]], foram reconstruídos, e o labirinto da [[Catedral de Chartres]] ainda existe essencialmente em sua forma original.{{HarvRefsfn|Wenzler|2018|pp=99-100}}
 
=== Outros elementos arquitetônicos ===
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</gallery>A partir do século XII, o estilo gótico espalhou-se do norte da França para outras regiões francesas e gradualmente para o resto da Europa. Era muitas vezes levado pelos artesãos altamente qualificados que haviam treinado na Ile-de-France e depois levado seus artesanatos para outras cidades. O estilo foi adaptado aos estilos e materiais locais.
 
Na [[Normandia (região francesa)|Normandia]], as novas naves eram geralmente muito longas, às vezes com mais de cem metros e, a partir da longa tradição românica, as paredes eram mais grossas que no norte da França e tinham arcadas menores. Os interiores eram mais estreitos do que no norte, e recebiam uma forte sensação de verticalidade por vãos longos e estreitos e arcos de lancetas. Rosáceas eram raras, substituídas no exterior por um grande compartimento em ''tiers point''. As fachadas tinham menos decoração escultural; a decoração no interior era, em grande parte, de formas geométricas. O gótico normando também costumava apresentar uma profusão de torres, lanternas e pináculos (torres e pináculos às vezes tinham setenta metros de altura). A [[Catedral de Bayeux]], a [[Catedral de Ruão|Catedral de Rouen]] e a [[Catedral de Coutances]] são exemplos notáveis ​​do gótico normando.{{HarvRefsfn|Wenzler|2018|pp=39-41}}
 
Na [[Borgonha]], que tinha uma longa tradição de [[Arquitetura românica|Estilo Românico]], um [[zimbório]] era frequentemente incluído, e as catedrais frequentemente tinham uma passagem estreita no comprimento da catedral ao nível dos vitrais. como na [[Catedral de Auxerre]].
 
No sudoeste da França, as paredes eram mais grossas, com aberturas estreitas e dobradas com arcos. O arcobotante raramente era usado, substituído por pilares pesados ​​com capelas entre eles.{{HarvRefsfn|Wenzler|2018|pp=39-41}}
 
No sul da França, as catedrais góticas eram frequentemente construídas com tijolos e azulejos em vez de pedra. Eles geralmente tinham paredes grossas e janelas estreitas, e eram apoiados por pilares pesados ​​em vez de arcobotantes. A forma da torre da [[Catedral de Toulouse]] foi copiada por várias catedrais no sul. Elas geralmente tinham uma nave única ou dois ou três de altura igual. Algumas catedrais góticas do [[Midi (região)|Midi]] assumiram uma forma incomum: a [[Catedral de Albi]] (1282–1480) foi originalmente construída como fortaleza e depois convertida em catedral; uma de suas características mais distintas é o seu interior colorido e teto pintado.{{HarvRefsfn|Wenzler|2018|pp=39-41}}
 
A fachada da [[Catedral de Toulouse]] é incomum: é a combinação de dois edifícios inacabados da catedral, iniciada no século XIII e no final colocadas juntas. A Catedral de Toulouse não possui arcobotantes; é apoiada por contrafortes maciços da altura do edifício, com capelas entre elas.
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Ficheiro:Gloucester Cathedral High Altar, Gloucestershire, UK - Diliff.jpg|[[Catedral de Gloucester]] (Gótico Perpendicular) (1351–1377)
Ficheiro:Westminster abbey16.jpg|Abóbadas em leque com pingentes na Capela de Henrique VII, da [[Abadia de Westminster]] (Gótico Perpendicular) (1503)
</gallery>O estilo gótico foi importado muito cedo para a Inglaterra, em parte devido à estreita ligação com o [[Ducado da Normandia]], que até 1204 ainda era governado pelos reis da Inglaterra. O primeiro período é geralmente chamado de Gótico Inglês Inicial, e foi dominante de 1180 a 1275. A primeira parte da grande catedral inglesa, que caracterizou o novo estilo, foi o coro da [[Catedral de Canterbury]], iniciado por volta de 1175. Foi criado por um mestre de obras francês, [[Guilherme de Sens]]. Ele adicionou vários toques originais, incluindo um pavimento de mármore colorido, colunas duplas nas arcadas e ''colonettes'' (tipo de coluna) esbeltas acopladas que alcançavam até as abóbadas, design emprestado da [[Catedral de Laon]].{{HarvRefsfn|Martindale|1993|pp=34-35}} A [[Abadia de Westminster]] começou a ser reconstruída dentro desse período, entre 1245 e 1517. A [[Catedral de Salisbury]] (1220–1320) é também um bom exemplo do gótico inicial, com exceção de sua torre e pináculo, que foram adicionadas em 1320.{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=62}}
 
O segundo período do gótico inglês é conhecido como Gótico Decorado. Costuma-se dividir em dois: o estilo "Geométrico" (1250-90) e o estilo "Curvilíneo" (1290-1350), este semelhante ao estilo [[Gótico radiante|Rayonnant]] francês, com ênfase nas formas curvilíneas, particularmente nas janelas. Nesse período, o entalhe em pedra atingiu seu auge, com janelas e [[Capitel|capitéis]] elaboradamente esculpidos, muitas vezes com motivos florais, ou com um toque simbólico, um arco esculpido sobre uma janela decorada com pináculos e um [[Florão (arquitetura)|florão]], ou um elemento floral esculpido.{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=62}}
 
As abóbadas em cruzaria do Gótico Decorado tornaram-se extremamente ornamentadas, com uma profusão de nervuras que eram puramente ornamentais. As abóbadas eram frequentemente decoradas com pingentes de pedras suspensas. As colunas também se tornaram mais ornamentais, como na Catedral de Peterborough, com as nervuras se espalhando para cima.{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=62}}
 
O Gótico Perpendicular (c. 1380-1520) foi a fase final do gótico inglês, que durou até o século XVI. Como o nome sugere, sua ênfase estava em linhas horizontais e verticais claras, encontrando-se em ângulos retos. Colunas se estendiam para cima até o teto, dando ao interior a aparência de uma gaiola de vidro e pedra, como na nave da [[Catedral de Gloucester]]. O [[Arco Tudor]] apareceu, mais largo e mais baixo e muitas vezes enquadradas por molduras, que foi usada para criar janelas maiores e equilibrar os elementos verticais robustos. O desenho das abóbadas de arcos tornou-se ainda mais complexo, incluindo a [[abóbada em leque]] com pingentes usada ​​na capela de Henrique IV na [[Abadia de Westminster]] (1503–07).{{HarvRefsfn|Ducher|1988|p=62}}<ref name=":0" /><ref name=":3">{{citar livro|título=The Cathedrals of England|ultimo=CLIFTON-TAYLOR|primeiro=Alec|editora=|ano=|local=|páginas=|acessodata=}}</ref>
 
Uma característica distintiva das catedrais inglesas é sua extensão extrema e sua ênfase interna na horizontal, que pode ser enfatizada visualmente como muito ou mais do que as linhas verticais. Cada catedral inglesa (com exceção de Salisbury) tem um extraordinário grau de diversidade estilística, quando comparada com a maioria das catedrais francesas, alemãs e italianas. Não é incomum que todas as partes do edifício tenham sido construídas em um século diferente e em um estilo diferente, sem nenhuma tentativa de criar uma unidade estilística. Ao contrário das catedrais francesas, as catedrais inglesas se espalham pelos seus locais, com transeptos duplos se projetando robustamente e uma Capela de Virgem Maria sendo acrescentada em uma data posterior, como na Abadia de Westminster. Na frente oeste, as portas não são tão significativas quanto na França; a entrada congregacional usual é através de uma varanda lateral. A janela oeste é muito grande e nunca uma rosácea, a qual é reservada para os frontões do transepto. A frente oeste pode ter duas torres, como uma catedral francesa, ou nenhuma. Há quase sempre uma torre no cruzamento e pode ser muito grande e encimada por um pináculo. O distintivo extremo leste inglês é quadrado, mas pode assumir uma forma completamente diferente. Tanto interna como externamente, a pedra é muitas vezes ricamente decorada com esculturas, particularmente os capitéis.<ref name=":0" /><ref name=":3" />
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</gallery>Entre os séculos XIII e XVI, as catedrais góticas foram construídas na maioria das grandes cidades do norte da Europa. Na maior parte, eles seguiram o modelo francês, mas com certas variações, dependendo das tradições locais e dos materiais disponíveis. As primeiras igrejas góticas na Alemanha foram construídas por volta de 1230 e incluíam a [[Igreja de Nossa Senhora (Tréveris)|Igreja de Nossa Senhora]] (cerca de 1233-1283) em [[Tréveris]], declarada a mais antiga igreja gótica na Alemanha,<ref>{{Citar web|titulo=Roman Monuments, Cathedral of St Peter and Church of Our Lady in Trier|url=http://whc.unesco.org/en/list/367/|obra=UNESCO World Heritage Centre|acessodata=2019-02-02|lingua=en|primeiro=UNESCO World Heritage|ultimo=Centre}}</ref> e a [[Catedral de Friburgo]], que foi construída em três estágios, a primeiro começando em 1120, embora ainda existam as fundações da catedral original. É conhecida por sua torre de 116 metros, a única torre gótica da Alemanha que foi concluída na Idade Média (1330).
 
[[Praga]], na região da [[Boémia|Boêmia]] dentro do [[Sacro Império Romano-Germânico|Sacro Império Romano]], era outro centro florescente da arquitetura gótica. [[Carlos VI do Sacro Império Romano-Germânico|Carlos IV da Boêmia]] era rei da Boêmia e do Sacro Império Romano e tinha gostos monumentais. Ele começou a construção da [[Catedral de São Vito]] de Praga, em estilo gótico, em 1344, bem como um palácio gótico, o [[Castelo de Karlstein]] na Boêmia Central, e edifícios góticos para a nova [[Universidade de Praga]]. A nave da [[Catedral de Praga]] apresentava a abóbada de filete, um tipo decorativo de abóbada em que as nervuras cruzavam em um padrão de malha, semelhante às abóbadas da [[Catedral de Bristol]].e outras igrejas inglesas. Seus outros projetos góticos incluíam a ricamente decorada Capela da Santa Cruz, dentro do [[Castelo de Karlstein]] (1357-1367), e o coro da [[Catedral de Aachen]], iniciado em 1355, que foi construído no modelo de [[Sainte-Chapelle]], em Paris.{{HarvRefsfn|Martindale|1993|pp=221-230}} A arquitetura gótica na Alemanha e os reinos do [[Sacro Império Romano-Germânico|Sacro Império Romano]] geralmente seguiam a fórmula francesa, mas as torres eram muito mais altas e, se completadas, eram muitas vezes encimadas por enormes pináculos a céu aberto. O caráter distintivo do interior das catedrais góticas alemãs é sua amplitude e abertura. As catedrais alemãs e tchecas, como as francesas, tendem a não ter transeptos que projetam maciçamente. Existem também muitas [[Igreja-salão|igrejas-salão]] (''Hallenkirchen'') sem janelas de [[clerestório]].<ref name=":0" /><ref name=":1" /> A [[Catedral de Colônia]] fica atrás da [[Catedral de Milão]], a maior catedral gótica do mundo. A construção começou em 1248 e levou, com interrupções, até 1880 para completar - um período de mais de 600 anos. Tem 144,5 metros de comprimento, 86,5 m de largura e duas torres de 157 m de altura.<ref>{{Citar web|titulo=Kölner Dom|url=http://www.koelner-dom.de/interessantes/interesting-issues/?L=1|obra=www.koelner-dom.de|acessodata=2019-02-02|lingua=en}}</ref>
 
O [[Gótico de tijolos]] (em [[Língua alemã|alemão]]: ''Backsteingotik;'' em [[Língua polaca|polonês]]: ''Gotyk ceglany'') é um estilo específico comum no [[Europa Setentrional|norte da Europa]], especialmente no norte da Alemanha, na Polônia e nas regiões ao redor do [[Mar Báltico]], sem recursos de rochas naturais. Os principais exemplos de gótico de tijolos incluem a [[Igreja de Santa Maria (Danzigue)|Igreja de Santa Maria]], em [[Danzigue]] (1379–1502),<ref>{{Citar web|titulo=Bazylika Mariacka - Bazylika Mariacka w Gdańsku - Kościół pod wezwaniem Wniebowzięcia Najświętszej Marii Panny|url=https://web.archive.org/web/20101031174354/http://www.bazylikamariacka.pl/historia-bazylika-mariacka-gdansk/opis-archikatedralna-bazylika-mariacka|obra=web.archive.org|data=2010-10-31|acessodata=2019-02-02}}</ref> a [[Basílica de Santa Maria (Cracóvia)|Basílica de Santa Maria]], em [[Cracóvia]] (1290–1365) e o [[Castelo de Malbork]] (século XIII).