Luta armada contra a ditadura militar brasileira: diferenças entre revisões

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Por fim, as formas de luta a serem empreendidas no processo revolucionário também gerava divergências entre os grupos armados. As organizações geralmente se dividiam entre o foquismo e do maoísmo, ainda que alguns grupos tenham adotado posições híbridas entre eles.{{Sfn|Ridenti|1993|p=44}} O foquismo partia da afirmação de que existiam, na América Latina, condições objetivas amadurecidas para o triunfo revolucionário no continente, impondo-se sobre as diferenças nacionais secundárias. As condições subjetivas para a revolução podiam ser criadas ou rapidamente completadas pela ação de um foco guerrilheiro. O foco se iniciaria com um pequeno grupo guerrilheiro, atuando entre os camponeses em regiões cujas condições naturais favorecessem a defesa contra ataques do exército. Numa segunda etapa, a guerrilha se deslocaria da região inicial, levando a luta armada a outras regiões e formando, por fim, um exército rebelde capaz de derrotar o inimigo. Na teoria do foco, o fator militar tinha primazia sobre o fator político, dada a prioridade do foco guerrilheiro sobre o partido.{{Sfn|Gorender|2014|p=90-91}} Essa concepção inspirou os grupos armados de tendência mais "militarista", como a ANL e a VPR, que se destacaram pelo volume de ações armadas realizadas no período em que estiveram ativas.{{Sfn|Ridenti|1993|p=57}} O maoísmo, por sua vez, e em especial a sua concepção da [[guerra popular prolongada]], tinha em comum com o foquismo a ênfase dada ao campesinato e a guerrilha rural; no entanto, o exército guerrilheiro, sob esta concepção, deveria estar sob a direção de um partido de vanguarda, que deveria preceder a guerrilha, que não surge e nem se desenvolve senão mediante o trabalho político entre os camponeses.{{Sfn|Gorender|2014|p=93}} Os grupos inspirados pelo maoísmo, como a AP, o PCdoB e a Ala Vermelha, tendiam a uma orientação mais "massista", defendendo a realização de um trabalho político junto às massas em paralelo às ações armadas na cidade e no campo.{{Sfn|Ridenti|1993|p=57}} Os maoístas da AP e o PCdoB se abstiveram de ações armadas nas cidades, enquanto a Ala Vermelha tomou posições intermediárias, sem descartar as lutas de massas nas cidades e as ações de guerrilha urbana.{{Sfn|Ridenti|1993|p=44-45}}
 
==Desenvolvimento Eclosão da luta armada ==
===Primeiras ações===
 
Ainda que fosse defendida por um grupo muito minoritário dentro da esquerda brasileira até então, a guerrilha não eclodiu antes de 1964.{{Sfn|Ridenti|1993|p=62-63}} A luta armada propriamente dita foi fruto de impasses e dissensos causados na esquerda após o golpe militar. Somente a partir daí o projeto guerrilheiro foi adotado por numerosos militantes e quadros expressivos da esquerda brasileira.{{Sfn|Napolitano|2014|p=124}} Embora tenha assumido um caráter de resistência contra a ditadura, a luta armada tinha como objetivo não o retorno à ordem anterior ao golpe, mas a realização de uma revolução socialista no Brasil.{{Sfn|Ridenti|1993|p=63}}
 
=== Tentativas de insurreição ===
Os grupos nacionalistas de esquerda, compostos principalmente por ex-militares de baixa patente cassados em 1964 e aglutinados em torno da liderança de [[Leonel Brizola]], foram os primeiros a se lançar na luta armada.{{Sfn|Napolitano|2014|p=87}} Organizaram o [[Movimento Nacionalista Revolucionário]] (MNR) e destacaram alguns de seus membros para estabelecer contatos com Brizola, que articulava as oposições em seu exílio no [[Uruguai]]. Embora tenha concordado com o plano de guerrilha, o ex-governador gaúcho insistiu na possibilidade de se tentar uma insurreição no Rio Grande do Sul, convencendo os emissários dos ex-militares, que passaram a conspirar pela insurreição e estabeleceram até mesmo ligações com a oficialidade da ativa. Do plano insurrecional dos exilados e dos ex-militares subalternos também participaram, direta ou indiretamente, organizações como a POLOP e a AP. Em abril de 1966, o Exército descobriu ramificações do plano insurrecional dentro das casernas, efetuou prisões de oficiais e pôs um fim na trama conspirativa.{{Sfn|Ridenti|1993|p=213-214}} Outro esboço de levante, supostamente vinculado ao plano insurrecional de Brizola, foi a chamada [[guerrilha de Três Passos]]. Em março de 1965, o coronel do Exército [[Jefferson Cardim]], no comando de 22 homens, atravessou o Rio Grande do Sul e Santa Catarina até o Paraná, na esperança de engrossar as fileiras dos insurretos durante o percurso, o que não aconteceu. O grupo foi dispersado no dia 27 de março, após uma troca de tiros com uma tropa do Exército.{{Sfn|Ridenti|1993|p=214}}
[[Ficheiro:Guerrila-caparaó.jpeg|miniaturadaimagem|direita|Guerrilheiros presos na serra do Caparaó.]]
 
=== Adesão ao projeto guerrilheiro ===
[[Ficheiro:Guerrila-caparaó.jpeg|miniaturadaimagemminiatura|direita|Guerrilheiros presos na serra do Caparaó.]]
 
Fracassadas as tentativas insurrecionais, os nacionalistas e os ex-militares subalternos partiram para o projeto guerrilheiro. Pretendiam lançar cinco frentes de combate: uma na divisa de Minas Gerais com Espírito Santo, na serra do Caparaó, que teria dois comandos, em pontos diferentes; as outras no Mato Grosso; no Rio de Janeiro; na fronteira do Rio Grande do Sul com Santa Catarina; e uma quinta, no sul do Maranhão. Segundo o plano, Brizola entraria no país pelo Rio Grande do Sul com a eclosão das cinco frentes guerrilheiras. Em razão de problemas diversos, apenas a frente da serra do Caparaó chegou a ser preparada, e com um único comando, ao invés dos dois previstos.{{Sfn|Ridenti|1993|p=215}} Grupos de militantes do MNR, quase exclusivamente ex-subalternos das Forças Armadas, foram chegando à região no final de 1966, compondo uma coluna de 14 integrantes, chefiados por [[Amadeu Felipe da Luz Ferreira]]. Entre março e abril de 1967, a [[guerrilha do Caparaó]] terminou sem dar um tiro, com a prisão de seus membros por uma patrulha policial mineira.{{Sfn|Napolitano|2014|p=125-126}}
 
=== Atentado do Aeroporto dos Guararapes ===
O ato de maior impacto da incipiente luta armada brasileira foi realizado em 25 de julho de 1966.: Umauma bomba foi colocada no aeroporto de Guararapes, em Recife, visando atingir o então candidato à Presidência, [[Costa e Silva|Marechal Costa e Silva]]. A bomba matou duas pessoas e feriu mais de dez, mas não atingiu o alvo. O atentado, à época atribuído ao PCBR, foi na verdade obra de [[Alípio de Freitas]], da AP.{{Sfn|Napolitano|2014|p=125}} Membro da comissão militar e dirigente nacional da AP, Alípio encontrava-se em Recife em meados de 1966, quando se anunciou a visita de Costa e Silva, e decidiu realizar a ação por conta própria. Morreram no atentado o almirante [[Nelson Gomes Fernandes]] e o jornalista [[Edson Régis de Carvalho]].{{Sfn|Gorender|2014|p=125-126}} O resultado da ação — que ficou conhecida como [[Atentado do Aeroporto dos Guararapes]] — foi a suspensão imediata, pela direção da AP, de qualquer envolvimento da organização em atos de guerrilha urbana. Convertida ao maoísmo, a AP passou a defender a guerra de guerrilhas no campo, sem realizar ações nas cidades.{{Sfn|Ridenti|1993|p=58}}
[[Ficheiro:Marighella-veja.jpeg|miniaturadaimagem|esquerda|Marighella em capa da revista ''[[Veja]]''. Edição de 20 de novembro de 1968.]]
 
=== Assaltos ===
[[Ficheiro:Marighella-veja.jpeg|miniaturadaimagem|esquerdaminiatura|Marighella em capa da revista ''[[Veja]]''. Edição de 20 de novembro de 1968.]]
 
Em dezembro de 1967, o primeiro assalto promovido por um grupo armado foi realizado pela ALN. Os guerrilheiros interceptaram um carro transportador de dinheiro, no bairro paulistano de Santo Amaro, à altura da estátua de Borba Gato. No comando pessoal da ação, Marighella recolheu imediatamente o dinheiro do assalto. Seguiram-se a esse outros assaltos a agências bancárias e carros pagadores, além da apreensão de explosivos utilizados em construção civil. Os assaltos chamavam a atenção pela quantidade e pelo ''modus operandi'' dos assaltantes. Até 1967, os assaltos a agências bancárias raramente passavam de dois por ano em São Paulo e os criminosos espoliavam os caixas e os clientes, ao passo que os guerrilheiros tinha como objetivo os cofres das agências. Inicialmente, os guerrilheiros não se identificavam, para que a polícia pensasse estar lidando com criminosos comuns e as organizações armadas pudessem acumular maior poder de fogo.{{Sfn|Gorender|2014|p=109-110}} Somente em 13 novembro de 1968 é que as autoridades irão descobrir os responsáveis pelos assaltos de "novo estilo". Na ocasião, um carro pagador do Instituto de Previdência do Estado da Guanabara (IPEG) foi interceptado por três homens armados, que se apoderaram de 120 mil cruzeiros novos. À tarde, um sargento reconheceu o carro no qual os guerrilheiros haviam realizado o assalto em um posto de gasolina. Avisados pelo sargento, os policiais prenderam o motorista, que submetido à tortura, deu informações sobre a autoria daquele ato, revelando inclusive o nome de Marighella. A partir desse momento, jornais e revistas passaram a publicar longas matérias sobre o líder comunista e chefe dos assaltos de autoria até então desconhecida.{{Sfn|Gorender|2014|p=110-111}} Antes disso, porém, a ALN já havia reivindicado um atentado à bomba ocorrido em março de 1968 no Consulado dos EUA em São Paulo, tornando pública a existência de um projeto de luta armada para derrubar o regime.{{Sfn|Napolitano|2014|p=94}}
 
===Primeiras Outras ações armadas ===
Até o fim de 1968, outras organizações de esquerda também já haviam realizado ações armadas. A Ala Vermelha, no final daquele ano, praticou cerca de três assaltos, confiscou dinamite de uma pedreira e roubou máquinas gráficas da loja Kelmaq, com vistas à montagem de uma oficina clandestina.{{Sfn|Gorender|2014|p=170}} O COLINA, além de assaltos e roubos de armas, também realizou, na noite de 1 de julho de 1968, o assassinato de Edward Ernest Tito Otto Maximilian von Westernhagen, major do Exército da Alemanha Ocidental, que fora confundido com [[Gary Prado Salmón]], tido como um dos algozes de [[Che Guevara]].{{Sfn|Gorender|2014|p=144}} As ações mais ousadas do período, porém, foram de autoria da VPR, dentre as quais figuram o roubo de dinamite e fuzis [[FN FAL|FAL]] do corpo da guarda do Hospital Militar, no Cambuci, em 22 de junho; o atentado contra o Quartel General do [[Comando Militar do Sudeste|II Exército]], no dia 26 do mesmo mês e que resultou na morte de [[Mário Kozel Filho]]; o assassinato do capitão norte-americano [[Charles Rodney Chandler]], veterano da [[guerra do Vietnã]], em 12 de outubro; e por fim, o roubo de um grande estoque de armadas da Loja Diana, no centro de São Paulo, em 11 de dezembro.{{Sfn|Gorender|2014|p=146-147}}
 
===Lutas deInstitucionalização massa,e fechamento do regime e imersão geral na lutaautoritário armada===
 
Quando instaurada em 1964, a ditadura militar procurou expurgar lideranças políticas, sindicais e militares comprometidas com o reformismo trabalhista, bem como cortar os eventuais laços organizativos entre essas lideranças e os movimentos sociais de base popular.{{Sfn|Napolitano|2014|p=70}} Com o apoio das classes médias urbanas e de setores civis liberais, ancorados na imprensa e nos partidos conservadores, o governo de Castelo Branco agiu no sentido de reorientar a economia brasileira e institucionalizar o regime autoritário. Havia um consenso entre as lideranças militares e a tecnocracia ao seu redor de que era preciso uma modernização do Estado e da economia, em moldes capitalistas, visando facilitar a entrada de capitais estrangeiros. Paralelamente, o governo de Castelo Branco também tinha como objetivo o controle da inflação e a recuperação da capacidade de investimentos da União. Para tal, aplicou uma fórmula recessiva, de controle de gastos públicos e de arrocho salarial.{{Sfn|Napolitano|2014|p=75}} Apesar do apoio político, as medidas adotadas pela equipe econômica de Castelo Branco não surtiram os efeitos desejados. Com a economia em crise, parte da classe média e dos setores liberais que inicialmente apoiaram o golpe logo se desiludiram com o novo governo.{{Sfn|Napolitano|2014|p=78}}
 
Nessa conjuntura, especialmente após a edição do [[Ato Institucional nº 2]] (AI-2), que consolidava o caráter autoritário e ditatorial do regime, vários segmentos políticos e sociais ampliaram o coro da oposição. As principais lideranças políticas pré-golpe — [[Carlos Lacerda]], João Goulart e [[Juscelino Kubitschek]] — organizaram a chamada [[Frente Ampla (Brasil)|Frente Ampla]]; o Congresso resolveu voltar a fiscalizar o governo, instalando várias [[Comissão Parlamentar de Inquérito|Comissões Parlamentares de Inquérito]] (CPIs), como a da desnacionalização das terras da Amazônia e do acordo entre a Time-Life e a Rede Globo;{{Sfn|Napolitano|2014|p=84-85}} e o movimento estudantil se lançava às ruas, chamando a atenção e ganhando até algumas simpatias da imprensa liberal.{{Sfn|Napolitano|2014|p=90}} A repressão e a recessão tornaram o governo impopular, sobretudo nos grandes centros urbanos, e o governo parecia acuado frente a um movimento de oposição que, ao menos inicialmente, dispunha de substancial apoio, embora fosse bastante heterogêneo.{{Sfn|Reis|2005|p=44}}
 
=== Reação do movimento estudantil ===
O movimento estudantil representava a parcela mais radicalizada do movimento oposicionista. Desde 1966, os estudantes realizavam protestos públicos contra a ditadura, protagonizando conflitos com a polícia e realizando campanhas pregando o [[voto nulo]]. Dispondo de uma certa margem de ação política, sobretudo dentro das universidades, o movimento estudantil tomou para si a tarefa de criticar o regime e assumir a vanguarda da luta por mudanças sociais.{{Sfn|Napolitano|2014|p=90}} Especialmente no ano de 1968, os protestos estudantis alcançaram um novo patamar. A morte do estudante secundarista [[Edson Luís]], baleado pela polícia durante uma manifestação no Rio de Janeiro, iniciou uma série de protestos pelo país. Mais de 60 mil pessoas foram ao seu enterro e a missa de sétimo dia se transformou em um grande conflito entre estudantes e a polícia. A partir do segundo semestre de 1968, influenciados pelas [[Maio de 1968|revoltas estudantis na França de [[maio de 1968]], os protestos ganharam um novo fôlego, chegando ao ápice na chamada [[Passeata dos Cem Mil]], no dia 26 de junho, que contou com grande adesão da sociedade, de artistas e intelectuais.{{Sfn|Napolitano|2014|p=92}} Durante os protestos, os estudantes conseguiram articular a luta reivindicativa com a luta política, disseminando palavras de ordem contra a ditadura a partir de questões estudantis específicas, como as reformas universitárias pretendidas pelo governo. Apesar disso, existiam divergências entre as diversas correntes do movimento estudantil. Enquanto a AP e o PCdoB defendiam o reforço das lutas de massa contra a ditadura, os grupos representados pelas dissidências universitárias do PCB eram partidários da organização da luta armada. O embate entre as diversas orientações políticas do movimento estudantil marcou o XXX Congresso da UNE, realizado clandestinamente em um sítio em [[Ibiúna]], no interior de São Paulo, em outubro de 1968. O encontro, no entanto, terminou com a prisão de 920 estudantes, incluindo dirigentes como [[Luís Travassos]] e [[José Dirceu]]. A vaga repressiva, que se intensificara já em agosto com a ocupação militar da [[Universidade de Brasília]] (UnB), fez com que parte dos estudantes enxergassem na luta armada uma alternativa de oposição ao regime, uma vez que as grandes manifestações de rua refluíam.{{Sfn|Napolitano|2014|p=92-93}}
 
=== Reação do movimento operário ===
Ainda em 1968, o movimento operário também voltava à cena política e social. Mesmo duramente reprimido e controlado desde o primeiro momento do golpe, os operários conseguiram se rearticular em torno de novas lideranças mais jovens e radicalizadas. O arrocho salarial promovido pelo regime começava a ser sentido pelos trabalhadores e, em abril, 15 mil metalúrgicos entraram em greve por melhores salários em [[Contagem]], no interior de Minas Gerais. Em julho, os metalúrgicos de [[Osasco]] realizaram uma greve radicalizada, ocupando a fábrica da [[Companhia Brasileira de Materiais Ferroviários|COBRASMA]]. O sindicato sofreu intervenção e o Exército lançou mão da força repressiva para desocupar a fábrica.{{Sfn|Napolitano|2014|p=94-95}} Ambas as greves tiveram organização e orientação de agrupamentos da esquerda revolucionária, que se ramificavam nas empresas e dominavam os sindicatos de metalúrgicos. A atuação da esquerda se centralizou no aparelho sindical, através do qual preparou e dirigiu as greves.{{Sfn|Gorender|2014|p=159}} Militantes da AP, Corrente e COLINA tiveram um papel importante na organização da greve de Contagem, enquanto militantes da VPR estiveram ligados às agitações grevistas em Osasco.{{Sfn|Gorender|2014|p=156-157}}
 
=== Reação dos políticos de esquerda ===
Além da radicalização estudantil e operária, alimentada pelo oposicionismo crescente da classe média e pela pregação esquerdista de artistas e intelectuais, os políticos da oposição passaram a pressionar o regime. Em setembro, o deputado [[Márcio Moreira Alves]] chamou o Exército de "valhacouto de torturadores" e recomendava o boicote aos desfiles militares do Dia da Independência. O Exército se declarou ofendido, e o governo pediu que o deputado fosse licenciado para ser processado. No dia 12 de dezembro, a Câmara dos Deputados negou o pedido, por 216 votos contra 141.{{Sfn|Napolitano|2014|p=95}} Foi a deixa para a proclamação do [[Ato Institucional nº 5]] (AI-5), que colocou em recesso o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas dos Estados, reabriu as cassações de direitos políticos e aboliu o ''[[habeas corpus]]'' para aqueles que violassem a [[Lei de Segurança Nacional]]. Nesse momento, a censura tornou-se mais dura e impôs o controle total da imprensa, as publicações da oposição deixaram de circular e artistas foram presos e obrigados a sair do país.{{Sfn|Gorender|2014|p=164}}
 
== Imersão geral na luta armada ==
Ao iniciar-se o ano de 1969, as organizações já comprometidas com a luta armada concluíram que o seu posicionamento se confirmara acertado diante do fechamento completo da ditadura militar.{{Sfn|Gorender|2014|p=169}} Do AI-5 até o fim de 1969, as esquerdas armadas beneficiaram-se numericamente com a passagem à clandestinidade de vários quadros e simpatizantes que atuavam nos movimentos de massa anteriores ao AI-5.{{Sfn|Ridenti|1993|p=111}} A partir desse momento, as ações armadas se intensificaram e subiu a pressão pelo engajamento na luta armada dentro das organizações da esquerda radical ainda dedicadas ao trabalho direto com os movimentos sociais, em um movimento que [[Jacob Gorender]] chamou de "imersão geral na luta armada". Com exceção do PCB, do [[Partido Operário Revolucionário Trotskista]] (PORT), do PCdoB, da AP e do efêmero [[Movimento Estudantil Libertário]] (MEL), todas as organizações de esquerda do período realizaram algum tipo de ação armada urbana.{{Sfn|Gorender|2014|p=169-170}} Organizações que já realizavam ações armadas, como a ALN, COLINA e VPR cresceram rapidamente em número de adeptos. COLINA e VPR, prejudicadas pela repressão decorrente de suas ações no ano anterior, se recuperaram logo no primeiro semestre de 1969 através da fusão que deu origem à [[VAR-Palmares]], e em julho realizaram o roubo do cofre do ex-governador paulista [[Adhemar de Barros]], em uma ação considerada a mais lucrativa da luta armada brasileira. A ALN, por sua vez, cresceu em São Paulo, na Guanabara e em outros estados, passando a contar com um contingente razoável de quadros guerrilheiros.{{Sfn|Gorender|2014|p=169}} Organizações que ainda não haviam se engajado na luta armada, como a Dissidência Universitária da Guanabara (DI-GB, futuro MR-8) e o PCBR passaram a se organizar nesse sentido. A DI-GB criou um Grupro de Trabalhos Especiais estruturado para ações de guerrilha urbana e passou a realizar assaltos a agências bancárias e roubos de armamentos. O PCBR, a partir do Comitê Regional de Pernambuco, desencadeou algumas ações no Nordeste, que se destacaram por serem as primeiras do tipo naquela região, entre as quais constam um assalto ao Banco da Lavoura em João Pessoa, em maio de 1969, além de assaltos a agências bancárias e postos de gasolina em Recife e mesmo ações de propaganda revolucionária, como a destruição de um palanque preparado para as autoridades no desfile comemorativo do Dia da Independência. As iniciativas dos militantes nordestinos logo suscitaram a militância do Rio e da Guanabara, que não demorou para realizar ações do mesmo tipo.{{Sfn|Gorender|2014|p=170-171}}
[[Ficheiro:Herc 03.jpg|miniaturadaimagem|Foto histórica dos 13 presos políticos trocados pelo embaixador americano [[Charles Burke Elbrick]], na base aérea do Galeão, Rio de Janeiro, antes de partirem para o exílio no [[México]], em setembro de 1969.]]
Das ações realizadas em 1969, duas ganharam destaque e chamaram a atenção pela ousadia. A primeira delas foi a invasão, por parte de doze guerrilheiros da ALN, à estação transmissora da [[Rádio Nacional]] em [[Piraporinha (bairro de São Paulo)|Piraporinha]], perto de [[Diadema]], na manhã do dia 15 de agosto. Os guerrilheiros dominaram os funcionários e transmitiram um manifesto revolucionário lido por Marighella. O jornal paulistano ''[[Diario da Noite (São Paulo)|Diário da Noite]]'' chegou a publicar o texto integral do manifesto, fato que resultou na prisão e abertura de um inquérito contra o diretor de redação, [[Hermínio Sacchetta]].{{Sfn|Gorender|2014|p=179}} Já no mês seguinte, no dia 4 de setembro, um comando conjunto formado pela ALN e pela DI-GB sequestrou o embaixador norte-americano [[Charles Burke Elbrick]], exigindo, para o resgate do embaixador, a libertação de quinze prisioneiros políticos com transferência segura para o exterior e a difusão de um manifesto nos jornais e estações de rádio e televisão de todo o país, dando o prazo de 48 horas para uma resposta pública.{{Sfn|Gorender|2014|p=183}} Surpreendidos e acuados, os militares aceitaram a proposta, libertando os presos políticos e providenciando seu embarque aéreo para o [[México]], e o manifesto assinado pelas duas organizações foi difundido pelos principais jornais e por emissoras de rádio e televisão.{{Sfn|Gorender|2014|p=185}} A partir dessa ação, a DI-GB assumiu a sigla Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), até então utilizada pela Dissidência Universitária de Niterói, desmantelada pela repressão em abril.{{Sfn|Gorender|2014|p=184}}
 
=== Invasão da Rádio Nacional ===
As ações guerrilheiras tinham como objetivo arrecadar fundos para custear a estrutura clandestina das organizações e fazer propaganda revolucionária para as amassas. O projeto estratégico a longo prazo, porém, era lançar a guerrilha rural, considerada de fundamental importância na luta contra a ditadura.{{Sfn|Napolitano|2014|p=128}} Visando esse objetivo, algumas organizações começaram a preparar a instalação de focos guerrilheiros no interior. Em 1969, a ALN preparava a transferência de guerrilheiros paulistas para o sul do [[Pará]], região que deveria ser o ponto de convergência de guerrilhas que partiriam, simultaneamente, das áreas rurais do norte do [[Paraná]], [[Dourados]], [[Chapada Diamantina]] e [[Guapiaçu]]. Cada uma das colunas de guerrilheiros faria ocupações de povoados e vilas e nelas realizaria a queima dos cartórios, o ataque aos latifúndios e distribuiria gêneros alimentícios à população pobre. A VPR, reconstituída após cisão com a VAR-Palmares, estruturou um campo de treinamento guerrilheiro no Vale da Ribeira. Uma vez treinados, seus guerrilheiros deveriam ser descolados para fazendas já compradas no Maranhão e no Rio Grande do Sul, destinadas à preparação de futuras bases de irradiação da luta armada no campo. Também a VAR chegou a estruturar um campo de treinamento guerrilheiro em uma fazenda comprada no Pará, que logo foi desmantelado. Igualmente o PCBR adquiriu dois sítios no interior do Paraná, enviando alguns militantes para a região, que buscaram organizar os assalariados agrícolas e camponeses locais.{{Sfn|Gorender|2014|p=171-172}}
Das ações realizadas em 1969, duas ganharam destaque e chamaram a atenção pela ousadia. A primeira delas foi a invasão, por parte de doze guerrilheiros da ALN, à estação transmissora da [[Rádio Nacional]] em Piraporinha, perto de Diadema, na manhã do dia 15 de agosto. Os guerrilheiros dominaram os funcionários e transmitiram um manifesto revolucionário lido por Marighella. O jornal paulistano ''[[Diario da Noite (São Paulo)|Diário da Noite]]'' chegou a publicar o texto integral do manifesto, fato que resultou na prisão e abertura de um inquérito contra o diretor de redação, [[Hermínio Sacchetta]].{{Sfn|Gorender|2014|p=179}}
 
=== Sequestro do embaixador norte-americano ===
[[Ficheiro:Herc 03.jpg|miniaturadaimagemminiatura|Foto histórica dos 13 presos políticos trocados pelo embaixador americano [[Charles Burke Elbrick]], na base aérea do Galeão, Rio de Janeiro, antes de partirem para o exílio no [[México]], em setembro de 1969.]]
 
Das ações realizadas em 1969, duas ganharam destaque e chamaram a atenção pela ousadia. A primeira delas foi a invasão, por parte de doze guerrilheiros da ALN, à estação transmissora da [[Rádio Nacional]] em [[Piraporinha (bairro de São Paulo)|Piraporinha]], perto de [[Diadema]], na manhã do dia 15 de agosto. Os guerrilheiros dominaram os funcionários e transmitiram um manifesto revolucionário lido por Marighella. O jornal paulistano ''[[Diario da Noite (São Paulo)|Diário da Noite]]'' chegou a publicar o texto integral do manifesto, fato que resultou na prisão e abertura de um inquérito contra o diretor de redação, [[Hermínio Sacchetta]].{{Sfn|Gorender|2014|p=179}} Já no mês seguinte, no dia 4 de setembro, um comando conjunto formado pela ALN e pela DI-GB sequestrou o embaixador norte-americano [[Charles Burke Elbrick]], exigindo, para o resgate do embaixador, a libertação de quinze prisioneiros políticos com transferência segura para o exterior e a difusão de um manifesto nos jornais e estações de rádio e televisão de todo o país, dando o prazo de 48 horas para uma resposta pública.{{Sfn|Gorender|2014|p=183}} Surpreendidos e acuados, os militares aceitaram a proposta, libertando os presos políticos e providenciando seu embarque aéreo para o [[México]], e o manifesto assinado pelas duas organizações foi difundido pelos principais jornais e por emissoras de rádio e televisão.{{Sfn|Gorender|2014|p=185}} A partir dessa ação, a DI-GB assumiu a sigla Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), até então utilizada pela Dissidência Universitária de Niterói, desmantelada pela repressão em abril.{{Sfn|Gorender|2014|p=184}}
 
=== Instalação de focos guerrilheiros no interior ===
===Repressão e desmantelamento da guerrilha urbana===
As ações guerrilheiras tinham como objetivo arrecadar fundos para custear a estrutura clandestina das organizações e fazer propaganda revolucionária para as amassas. O projeto estratégico a longo prazo, porém, era lançar a guerrilha rural, considerada de fundamental importância na luta contra a ditadura.{{Sfn|Napolitano|2014|p=128}} Visando esse objetivo, algumas organizações começaram a preparar a instalação de focos guerrilheiros no interior. Em 1969, a ALN preparava a transferência de guerrilheiros paulistas para o sul do [[Pará]], região que deveria ser o ponto de convergência de guerrilhas que partiriam, simultaneamente, das áreas rurais do norte do [[Paraná]], [[Dourados]], [[Chapada Diamantina]] e [[Guapiaçu]]. Cada uma das colunas de guerrilheiros faria ocupações de povoados e vilas e nelas realizaria a queima dos cartórios, o ataque aos latifúndios e distribuiria gêneros alimentícios à população pobre. A VPR, reconstituída após cisão com a VAR-Palmares, estruturou um campo de treinamento guerrilheiro no Vale da Ribeira. Uma vez treinados, seus guerrilheiros deveriam ser descolados para fazendas já compradas no Maranhão e no Rio Grande do Sul, destinadas à preparação de futuras bases de irradiação da luta armada no campo. Também a VAR chegou a estruturar um campo de treinamento guerrilheiro em uma fazenda comprada no Pará, que logo foi desmantelado. Igualmente o PCBR adquiriu dois sítios no interior do Paraná, enviando alguns militantes para a região, que buscaram organizar os assalariados agrícolas e camponeses locais.{{Sfn|Gorender|2014|p=171-172}}
 
=== Repressão e desmantelamento da guerrilha urbana= ==
As ações armadas urbanas, logo qualificadas pelo governo e pela grande imprensa como [[terrorismo]], inicialmente surpreenderam o aparelho repressivo do Estado.{{Sfn|Silva|2014|p=7}} Até o final da década de 1960, as polícias estaduais, através dos [[Departamento de Ordem Política e Social|Departamentos de Ordem Política e Social]] (DEOPS), eram as responsáveis pelas operações de repressão política. Não havia, portanto, um sistema nacional, militarizado e integrado de repressão policial. Os serviços de inteligência das Forças Armadas também se mostravam bastante fragmentados, dividindo as funções entre o [[Centro de Informações da Marinha]] (CENIMAR), [[Centro de Informações da Aeronáutica]] (CISA) e o [[Centro de Informações do Exército]] (CIE). A superposição de agências e comandos no combate à guerrilha urbana, a ausência de uma Polícia Federa estruturada nacionalmente e a ineficiência dos DEOPS dificultavam o combate à luta armada, uma vez que vários procedimentos e metodologias eram aplicadas e não havia uma efetiva troca de informações que permitisse uma ação de âmbito nacional e integrada.{{Sfn|Napolitano|2014|p=136}} O combate às guerrilhas exigia a existência de um aparato repressivo centralizado. Uma vez que São Paulo era o local onde havia a maior profusão de ações armadas, fundou-se ali, em 29 de junho de 1969, a [[Operação Bandeirantes]] (OBAN), iniciativa conjunta do general José Canavarro Pereira, comandante do II Exército, e da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Os quadros da OBAN foram preenchidos por oficiais e subalternos das Forças Armadas e da Força Pública de São Paulo, bem como por delegados, investigadores e burocratas ligados à Secretaria de Segurança. A OBAN tinha caráter extralegal e sua estrutura foi financiada por grandes empresas brasileiras e multinacionais. Instalada nas dependências do 36º Distrito Policial, o lugar se tornou um dos mais famosos centros de tortura do Brasil, junto ao Quartel da Polícia do Exército do Rio de Janeiro.{{Sfn|Gorender|2014|p=173}} O delegado da Polícia Civil [[Sérgio Paranhos Fleury]] logo adquiriu posição de destaque na estrutura da OBAN, dada a inexperiência dos militares nos ofícios propriamente policiais, abrindo mão da tortura sistemática e de execuções extrajudiciais durante as atividades repressivas.{{Sfn|Napolitano|2014|p=137}}
 
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Após o sequestro do embaixador suíço, as organizações armadas começaram a passar por dificuldades cada vez mais sérias. Em 1971, quase todas as organizações armadas foram desarticuladas pela repressão e seus dirigentes presos ou mortos.{{Sfn|Gorender|2014|p=226-227}}{{Sfn|Gorender|2014|p=228-229}} A ALN ainda conseguiu sustentar a guerrilha até 1973, passando por cisões que deram origem ao [[Movimento de Libertação Popular]] (MOLIPO) e a [[Tendência Leninista]] (TL).{{Sfn|Gorender|2014|p=230-231}} Nessa última fase da luta armada, com as organizações destroçadas, militantes presos, mortos, exilados ou desaparecidos, e sem nenhuma perspectiva de recrutar novos quadros, as ações armadas tornaram-se um meio desesperado de sobrevivência dos militantes e organizações ainda engajados na guerrilha.{{Sfn|Rollemberg|2007|p=73}} Com a crescente marginalização social dos grupos armados, já no início de 1970, os militantes viviam um dilema entre abandonar suas organizações e serem tachados de "traidores" ou permanecer na luta armada para enfrentar quase que fatalmente a prisão ou a morte.{{Sfn|Silva|2014|p=20}} Quando o general [[Ernesto Geisel]] tomou posse da Presidência da República em março de 1974, a guerrilha urbana já havia sido extinta, ao custo de centenas de presos, mortos, exilados e desaparecidos.{{Sfn|Gorender|2014|p=264}}
 
=== Guerrilha do Araguaia e desarticulação total da luta armada= ==
{{Artigo principal|Guerrilha do Araguaia}}
Uma vez dizimadas as organizações revolucionárias urbanas, houve pelo menos uma tentativa de desencadear a guerrilha rural antes da desarticulação total da luta armada. O PCdoB, que tinha optado o não envolvimento nas ações armadas urbanas, não foi tão atingido pela repressão e teve melhores condições para preparar e deflagrar a guerrilha no campo.{{Sfn|Silva|2014|p=7}} A região escolhida pelo partido para iniciar a luta armada no campo foi a região do [[rio Araguaia]], no sul do [[Pará]]. Desde 1966 o PCdoB já tinha militantes vivendo na região. A partir de 1967, novos militantes foram chegando ao local, geralmente membros do partido bastante procurados pela polícia, em razão de sua vinculação ao movimento estudantil. No início de 1972, pouco mais de sessenta militantes do PCdoB estavam instalados na região, incluindo boa parte do Comitê Central e da Comissão Executiva do partido. A guerrilha era dirigida por uma comissão militar, que coordenada três destacamentos, cada qual com seu comandante e contando com cerca de 21 integrantes. Cada destacamento subdividia-se em três grupos de militantes, dentre os quais, um chefe e um subchefe para cada grupo. As normas disciplinares e de segurança procuravam ser rígidas, de modo que os guerrilheiros só conheciam os companheiros de seu próprio destacamento, ignorando as atividades dos demais. A preparação da guerrilha não era conhecida pela população do Araguaia. Os guerrilheiros assentavam-se como moradores comuns, que procuravam ser solícitos e solidários com os vizinhos. Como se tratava de uma região de povoamento recente, era comum a chegada de novos habitantes. O baixo nível de conflitos sociais e a escassa presença policial facilitou o trabalho dos militantes, que se integraram ao cotidiano dos demais trabalhadores rurais sem desenvolver atividades políticas. Eventualmente, os militantes desenvolveram algumas atividades assistenciais, como o atendimento médico e sanitário aos moradores do local.{{Sfn|Ridenti|1993|p=227-228}}
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A guerrilha do Araguaia foi abafada e escondida pelos militares e a censura total dos meios de comunicação impediu que fossem divulgadas notícias sobre o que acontecia na região. As únicas exceções foram o furo do jornal ''[[O Estado de São Paulo]]'', a 24 de setembro de 1972, e uma reportagem do ''[[Jornal da Tarde (São Paulo)|Jornal da Tarde]]'', publicada no dia seguinte, com extensas reportagens sobre a segunda campanha do Exército no Araguaia. Depois disso, somente a partir de 1978, já durante o processo de abertura política, é que os jornais e revistas começaram a investigar a guerrilha do Araguaia e a recuperá-la como fato histórico.{{Sfn|Gorender|2014|p=240-241}}
 
=== Apoio externo= ==
Alguns grupos guerrilheiros chegaram a contar com o apoio externo chinês e cubano. Às vésperas do golpe, em 29 de março de 1964, dez militantes do PCdoB foram à China para a realização de um curso político-militar. Até 1966, mais dos grupos do partido fariam este curso.{{Sfn|Rollemberg|2007|p=66}} Entre esses militantes, estavam [[Osvaldo Orlando da Costa]] (Osvaldão), [[João Carlos Haas Sobrinho]], [[André Grabois]], [[José Humberto Bronca]] e [[Paulo Mendes Rodrigues]], que em 1967 se fixaram às margens do [[rio Araguaia]] para iniciar a guerrilha rural.{{Sfn|Gorender|2014|p=236}} A AP, após o abandono do foquismo e a adesão ao maoísmo em 1967, também teve militantes fazendo treinamento político-militar na China.{{Sfn|Rollemberg|2007|p=66}}
[[Imagem:Edmund S. Valtman, What you need is a revolution like mine ppmsca.02969.jpg|thumb|"Homem, o que você precisa é de uma revolução como a minha": [[Fidel Castro]] aconselhando o Brasil, enquanto oculta Cuba acorrentada. Charge anticomunista de Edmund S. Valtman.]]