Cultura de Nacada: diferenças entre revisões

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A cerâmica vermelha com parte superior preta continuou a ser produzida embora a tendência foi de vasos vermelhos com decoração abstrata (geométrica) ou figurativa (animais, pessoas, barcos);<ref name=Amratian/> decaiu entre D. S. 30 e 39 no sistema de [[Datação Sequencial]] de [[Flinders Petrie|Petrie]].<ref name="Gardiner 390">{{harvnb|Gardiner|1964|p=390}}</ref> Foram produzidos manufaturados em osso e marfim (colheres, furadores, pentes, punções, agulhas, figuras humanas com barba triangular e toca), pedra (lâminas bifaciais com borda serrilhada, facas romboidais, cabeças de clavas discoides, vasos de [[basalto]], contas de [[cornalina]], paletas geométricas e zoomórficas<ref>{{harvnb|Gardiner|1964|p=393}}</ref> de [[grauvaque]] e [[ardósia]]) e [[cobre]] (pinos, arpões, grânulos, pulseiras e imitações de ferramentas), assim como [[faiança]] e [[esteatita|esteatita vítrea]].<ref name=Amratian/>
 
[[Imagem:Hippo shaped cosmetic palette.jpg|thumb|200px|Paleta[[paleta cosmética]] zoomórfica]]
 
A economia era baseada na caça (gazelas, gansos, hipopótamos, crocodilos, elefantes, avestruzes), pesca, pecuária (ovinos, caprinos, suínos, bovinos, cães), agricultura (trigo, cevada, linho, ervilhas, ervilhacas, frutas) e comércio ([[obsidiana]], cobre, vasos [[lápis-lazúli]]) com o Oriente Próximo (Palestina, Mesopotâmia, Afeganistão), Núbia e oásis.<ref name="Grimal 28">{{harvnb|Grimal|1988|p=28}}</ref><ref name=Formation>{{Citar web|url=http://archive.is/O6FL|título=Polity Formation and Consolidation|língua=inglês}}</ref> A cidade de Nacada era conhecida na antiguidade como ''"Nubt"'', que significa ouro, o que possivelmente indica que tal local prosperou durante o período graças a extração de tal minério do deserto.<ref name=Formation/>
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{{AP|Cultura Semaineana}}
 
[[Imagem:HuntersPalette-BritishMuseum-August21-08.jpg|250px|esquerda|thumb|[[Paleta do caçadorCaçador]]]]
 
A Cultura Semaineana (Nacada III) desenvolveu-se de 3200-{{AC|3000|nl}},<ref name="Shaw 479"/> (período idêntico ao [[período protodinástico do Egito]]) tendo sido marcado pelo surgimento dos primeiros hieróglifos, serekhssereques, narrativas gravadas em paletas, cemitérios realmente reais e irrigação, assim como pela unificação e formação do Estado egípcio; a elite egípcia estava neste instante completamente estabelecida, muitos sítios do Delta dedicaram-se exclusivamente ao comércio com o Oriente Próximo e neste momento o maior centro de poder era Abidos, embora Hieracômpolis tenha mantido muito de seu poder devido a seu acesso privilegiado as rotas comerciais do sul, assim como as minas da Núbia.<ref name=NaqadaIII>{{citar web |url=http://archaeology-easterndesert.com/html/predynastic.html#N3|título=Naqada III and Unification (Late Predynastic)|língua=inglês}}</ref> Uma conotação puramente contextual (dinastia 0) é empregada para agrupar todos os até então conhecidos líderes egípcios de Nacada IIIb-IIIc, embora deve ser citado que estes não formaram uma dinastia concreta.<ref>{{harvnb|Kemp|2005|pp=25}}</ref> Embora não totalmente aceite entre os egiptólogos, o termo dinastia 00 por vezes é atribuído para distinguir todos os líderes regionais atestáveis no Egito entre o período Nacada IIc-IIIa2.<ref name=Predynastic>{{citar web |url=http://xoomer.virgilio.it/francescoraf/hesyra/synthesis.htm|título=Predynastic and Protodynastic Egypt|língua=inglês}}</ref>
 
[[Imagem:Battlefield palette.jpg|thumb|250px|[[Paleta do campoCampo de batalhaBatalha]]]]
 
Atualmente o processo de unificação do Alto e Baixo Egito é um fato ainda não conclusivamente compreendido, tendo deste modo surgido diversas teorias acerca de possíveis meios para que tal fato ocorresse: formação de Mênfis (adquiriu notória importância como centro comercial, administrativo e cultural<ref>{{harvnb|Wilkinson|1996|p=7}}</ref><ref>{{harvnb|Wenke|1991|p=303}}</ref>) dominação gradual (mesopotâmica,<ref>{{harvnb|Petrie|1920|p=49}}</ref><ref>{{harvnb|Petrie|1939|p=77}}</ref><ref>{{harvnb|Emery|1961|p=38}}</ref>, núbia, deltaica ou do Alto Egito<ref>{{harvnb|Wilkinson|1999|p=50}}</ref>), integração regional (alianças, guerras e trocas culturais<ref name="Hassan 1988 155"/><ref>{{harvnb|Seeher|1992|pp=231-232}}</ref><ref>{{harvnb|Wildung|1984|p=269}}</ref>), comércio (o que explicaria a razão pela qual alguns sítios do Delta foram abandonados<ref>{{harvnb|Kohler|1995|p=86}}</ref><ref>{{harvnb|Lagarcha|1995a|p=49}}</ref><ref>{{harvnb|Assman|1996|p=31}}</ref><ref>{{harvnb|Bard|1987|p=92}}</ref><ref>{{harvnb|Meza|2001|p=3}}</ref>), pressões populacionais (do sul para o norte<ref name="Reynes 2000 57"/><ref>{{harvnb|Bard|1994|p=94}}</ref>) ou uniformidade religiosa.<ref>{{harvnb|Friedman|1992|p=308}}</ref>
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Os principais centros políticos do período são [[Elcabe]], Hieracômpolis e Abidos, embora possivelmente outros Estados tenham surgido em torno de centros como Buto (não deixou de ser ocupado) no Delta, Abadia, [[Tinis]] e Mênfis (seu cemitério localizava-se em [[Sacará]]) no Alto Egito, Seiala e Custul na Baixa Núbia; Nacada foi possivelmente politicamente incorporada por outro Estado;<ref name=Wilkinson376/><ref>{{harvnb|Kemp|1985|p=52}}</ref> possivelmente estes Estados delinearam os chamados nomos, divisão administrativa do Egito na antiguidade.<ref>{{harvnb|Friedman|1992|p=310}}</ref> Os túmulos tornam-se cada vez mais ricos tendo sido construídos com tijolos e os mortos foram depositados em sarcófagos de madeira ou argila de forma contraída para a esquerda e com a cabeça para o sul; há frequência de inumações múltiplas e de crianças e os mortos eram acompanhados com rico e diversificado espólio tumular.<ref>{{citar web |url=http://www.predynastic.co.uk/html/late_predynastic_.html#Burial|título=Burial Practices|língua=inglês}}</ref>
 
Os nômades do deserto oriental, possivelmente, devido a degradação das condições ambientais locais, atuaram como intermediadores do comércio do Egito com regiões do Oriente Próximo.<ref>{{harvnb|Friedman|1992|p=232}}</ref><ref>{{harvnb|Hoffman|1979|p=247}}</ref> Uma acentuada elevação da produção agrícola durante o período devido ao maior número de áreas cultivadas e da melhoria das habilidades empregadas.<ref>{{harvnb|Butzer|1976|p=103}}</ref> Marcas e serekhssereques em vasos são possíveis indicações de práticas administrativas;<ref>{{harvnb|Wilkinson|1999|p=44}}</ref> possivelmente o sistema de nomos começou a surgir neste momento.<ref>{{harvnb|Helk|1974|p=199}}</ref><ref>{{harvnb|Butzer|1976|p=93-94}}</ref>
 
Costumes religiosos (uso de [[estela]]s) assim como alguns deuses do panteão egípcio começaram a surgir durante o período: [[Hórus]], [[Bat (deusa)|Bat]], [[Seti (divindade)|Seti]], [[Necbete]] e [[Min (mitologia)|Min]].<ref>{{citar web |url=http://www.faiyum.com/html/naqada_iii.html#Religion|título=Religion in Naqada III|língua=inglês}}</ref> Segundo estudos, constatou-se que a escrita hieroglífica começa a surgir durante o período (possivelmente baseada na escrita mesopotâmica<ref>{{harvnb|Trigger|1983a|p=37}}</ref>) tendo sido estritamente homogênea em todo o Egito;<ref>{{harvnb|Kemp|1989|p=37}}</ref> arte e iconografia, ambas representadas em paletas cosméticas, também têm seus primeiros exemplos.<ref>{{harvnb|Wilkinson|1999|p=31}}</ref>
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[[Imagem:NarmerPalette ROM-gamma.jpg|thumb|300px|As duas faces da [[Paleta de Narmer]]. Nela é representada a suposta unificação do Alto e Baixo Egito.<ref>{{harvnb|Robins|2001|p=32}}</ref>]]
 
Até o período Nacada IIIa2 foram atestados em Nacada (cemitério T), Gebeleim, Abidos (Cemitério U) Hieracômpolis (tumbas 100 e 11), [[Custul]] (L24) e [[Seiela]] (137,1) túmulos possivelmente atribuíveis a importantes líderes regionais que emergiam do seio das importantes famílias da elite mercantil egípcia.<ref>{{harvnb|Wilkinson|1999|p=52}}</ref> Recentemente cerâmicas incisas, paletas (especialmente a [[Paleta Líbia]]) e um grafiti inciso nos Colossos Coptos têm produzido nomes de alguns possíveis reis locais que teriam governado até a ascensão dos reis tinitas: ''Órix'', ''Concha'', ''Peixe'', ''Elefante'', ''Touro'', ''Cegonha'', ''Canídeo'', ''Padrão Cabeça de Gado'', ''Escorpião I'', ''Falcão I'', ''padrão Min + planta'', ''?'' (perdido), ''Falcão II'', ''Leão'' ... ''Iry-Hor'', ''Ka'', ''Escorpião II'', ''Narmer''; possivelmente existiram dois reis ''Touro'', um identificado nos Colossos Coptos (''Touro I'') e outro identificado na Paleta Touro (Touro II).<ref>{{harvnb|Dreyer|1998|pp=178}}</ref> Na tumba do rei [[{{lknb|Escorpião |I]]}} (túmulo U-j, Abidos) foram identificados grande número de bens assim como os primeiros hieróglifos conhecidos; tal rei também foi identificado em um grafite inciso de Gebel TjautyTjauti que representa uma possível vitória de Escorpião I sobre outro líder regional: um homem está com as mãos amarradas para trás enquanto o vitorioso segura com uma mão a corda e com a outra uma clava.<ref>{{citar web |url=http://xoomer.virgilio.it/francescoraf/hesyra/dynasty00.htm|título=Dynasty 00|língua=inglês}}</ref>
 
[[Imagem:Narmer Macehead.png|thumb|esquerda|200px|[[Cabeça da clava de Narmer]]]]
 
Alguns dos primeiros líderes da dinastia 0 (Nacada IIIb-IIIc) foram identificados através de seus serekhssereques: [[Falcão Duplo]] (Sinai e Delta), [[Hat-Hor]] (serekhssereques no túmulo 1702 em TarkhanTarcã), [[Ny-Hor]] (serekhssereques em Tura E tarkhanTarcã), [[Pe-Hor]] (serekhssereques em uma cerâmica de QustalCustul, perto de ArmantArmante e em um grafite de Gebel Sheikh Suleiman), [[HedjHedju-Hor]] (serekhssereques no Delta Oriental e Tura) e [[Crocodilo (faraó)|Crocodilo]] (serekhssereques nos túmulos 315, 414 e 1549 de TarkhanTarcã); possivelmente o rei Crocodilo tenha sido um usurpador durante o governo de Narmer.<ref name=dynasty0/> Alguns dos primeiros faraós egípcios tiveram seus jazigos localizados: [[IryIri-Hor]] (túmulo B1-B2, Abidos), [[Ka (faraó)|Ká]] (túmulo B7-B9, Abidos), [[Escorpião II]] (possivelmente quarta camada do túmulo B50 em Abidos ou túmulo 1 do local 6 em Hieracômpolis), [[Narmer]] (túmulo B17-B18, Abidos); Outro grafite de Gebel Sheikh Suleiman e duas cabeças de clavas pertenceram ao rei Escorpião II; evidências apontam que ele havia tentado unificar militarmente o Egito, contudo, não teve êxito em seu objetivo conseguindo, apenas, ampliar seus domínios para [[Mênfis]].<ref name="M. Marciniak"/> O reinado de Narmer é caracterizado por marcante evolução em diversos aspectos culturais egípcios;<ref>{{harvnb|Wilkinson|1999|p=68}}</ref> segundo teorias clássicas, foi durante seu reinado que o Egito unificou-se,<ref name="M. Marciniak">{{harvnb|Marciniak|1978|p=77}}</ref> tendo então muitas vezes ele sido atribuído como o primeiro rei propriamente dinástico;<ref>{{harvnb|Stępień|1999|p=85}}</ref> foi possivelmente o único a terminar na contínua rivalidade dos líderes tinitas com aqueles de Hieracômpolis, presumivelmente através do reconhecimento da autoridade de NekhenHieracômpolis com concessões do rei às famílias locais poderosas.<ref name=Predynastic/> Em Hieracômpolis foram identificados diversos artefatos pertencentes a Narmer, entre eles sua cabeça de clava, sua paleta e um cilindro de madeira com decoração incisa.<ref name=dynasty0/>
 
{{Referências|col=3}}