Antigo Egito: diferenças entre revisões

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Os faraós do Império Novo estabeleceram um período de prosperidade sem precedentes, ao assegurar as fronteiras e reforçar os laços diplomáticos com seus vizinhos. Campanhas militares levadas a cabo sob o comando de {{lknb|Tutmés|I}} e seu neto {{lknb|Tutmés|III}}, alargaram a influência dos faraós para o maior império que o Egito já havia visto.{{sfn|name=Go22|Gomes|2010|p=22-34}} Quando Tutmés morreu em {{AC|1425|n}}, o Egito prolongava-se desde {{ilc|Nia|Reino de Nia|Niya (reino)|Reino de Niya|Niya}} no norte da [[Síria]] até à quarta catarata do Nilo, na [[Núbia]], cimentando fidelidades e abrindo caminho para importações essenciais como [[bronze]] e madeira.{{sfn|James|2005|p=48}} Os faraós do Império Novo iniciaram uma campanha de construção em grande escala para promover o deus [[Amom (deus)|Amom]], com culto assente em [[Carnaque]].<ref name=Pe29/> Também construíram monumentos para glorificar suas próprias realizações, tanto reais como imaginárias. A faraó [[Hatexepsute]] usou tais meios como propaganda para legitimar sua pretensão ao trono.{{sfn|Grajetzki|2000g}} Seu reinado bem sucedido foi marcado por expedições comerciais a [[Punt]], um elegante [[Deir el-Bahari|templo mortuário]], um par de [[obelisco]]s colossais e uma {{ilc|Capela em Carnaque|Capela Vermelha|Chapelle Rouge}}. Apesar de suas realizações, o sobrinho e enteado de Hatexepsute, {{lknb|Tutmés|III}} tentou fazer desaparecer o seu legado perto do fim de seu reinado, possivelmente em represália pela usurpação do seu trono.{{sfn|Clayton|1994|p=108}}
 
[[Imagem:SFEC EGYPT ABUSIMBEL 2006-003.JPG|thumb|esquerda|upright|As quatro estátuas colossais de {{lknb|RamsésRamessés|II}} na entrada do templo de [[Abu Abul-Simbel]]]]
 
Sob {{lknb|Tutmés|IV}} ({{AC|1397-1388|n}}) o Egito realizou uma aliança com [[Mitani]] para empreender ataques contra o [[Império Hitita]]. Com {{lknb|Amenófis|III}} foram edificados os templos de [[Luxor]], o palácio de [[Malcata (Egito)|Malcata]] e o [[Templo de Milhões de Anos]], do qual atualmente só restam os conhecidos "[[Colossos de Memnon]]", além do templo de Amom em Carnaque ter sido ampliado.{{sfn|name=Salles53|Salles|2008|p=53}} Durante seu reinado, colheitas férteis e excedentes, permitiram a Amenófis&nbsp;III assegurar relações com os reinos orientais e com os nobres das cidades sírio-palestinas por meio de acordo diplomáticos, alguns dos quais envolvendo casamentos reais. Cerca de {{AC|1350|n}}, a estabilidade do Império Novo foi ameaçada quando {{lknb|Amenófis|IV}} subiu ao trono e instituiu uma série de reformas radicais e caóticas. Após mudar o seu nome para ''Aquenáton'' (''O Esplendor de Aton''), decretou como a divindade suprema o até aí obscuro deus Sol [[Aton]], suprimindo o culto de outras divindades e atacando o poder religioso instalado.{{sfn|Aldred|1988|p=259}} Mudando a capital à nova cidade de ''Aquetaton'' (''Horizonte de Áton'', atual [[Amarna]]), Aquenáton tornou-se desatento aos negócios estrangeiros, deixando-se absorver pela devoção a Aton e pela sua personalidade de artista e pacifista.<ref name=Go22/> Durante seu reinado as relações comerciais com o [[Mar Egeu]] ([[Civilização Minoica|minoicos]] e [[Civilização Micênica|micênios]]) são cortadas e os hititas começam a fazer perigar a soberania egípcia na Síria.{{sfn|Herold|2008|p=43}} Após sua morte, o culto de Aton foi rapidamente abandonado, e os faraós [[Tutancâmon]], [[Ay (faraó)|Ay]] e [[Horemeb]] apagaram todas as referências à [[heresia]] de Aquenáton, agora conhecida como [[Período Amarna]].{{sfn|Cline|2001|p=273}}
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[[Imagem:Istanbul - Museo archeol. - Trattato di Qadesh fra ittiti ed egizi (1269 a.C.) - Foto G. Dall'Orto 28-5-2006.jpg|thumb|esquerda|upright|Fragmentos do tratado de paz entre os egípcios e hititas]]
 
Sob {{lknb|Seti|I}}, o Egito controlou revoltas e conquistou a cidade de [[Cadexe]] e a região vizinha de [[Amurru]], ambas localidades palestinianas. {{lknb|RamsésRamessés|II}} ascendeu ao trono por volta de {{AC|1279|n}}, prosseguindo a construção de um número significativo de templos, estátuas e obeliscos; foi o faraó com a maior quantidade de filhos da história (110 filhos).{{sfn|Clayton|1994|p=146}} Transferiu a capital do império de Tebas para [[Pi-RamsésRamessés]] no [[Delta do Nilo|Delta Oriental]]. Ousado líder militar, comandou seu exército contra os hititas na [[Batalha de Cadexe]] em {{AC|1274|n}} e depois de um impasse, assinou em {{AC|1258|n}}{{sfn|Tyldesley|2001|p=76-77}} o primeiro [[tratado de paz]] conhecido da história, o [[Tratado de Cadexe]], onde ambas as nações comprometiam-se a se ajudar mutuamente contra inimigos internos ou externos.{{sfn|Clayton|1994|p=153}}<ref name=Go22/> O tratado foi selado com o casamento de RamsésRamessés&nbsp;II e a filha mais velha do imperador {{lknb|Hatusil|III}}.{{sfn|name=Salles60|Salles|2008|p=60-64}}
 
A riqueza do Egito fez dele um alvo tentador para uma invasão, em especial de [[Antiga Líbia|líbios]] e dos chamados [[povos do mar]]. No reinado de [[Merneptá]] ambos os povos se aliaram com o objetivo de atacar o Egito, incitando também os [[Núbia|núbios]] à revolta. Com a sequente derrota dos invasores, os revoltosos acabariam por ser suplantados. Durante o reinado de {{lknb|RamsésRamessés|III}} o faraó conseguiu expulsar os povos do mar para fora do Egito em duas grandes batalhas, no entanto, eles acabariam por assentar na costa palestina e durante o reinado de seus sucessores tomariam por completo a região. Entretanto é importante lembrar que o Egito não estava enfrentando apenas problemas externos. Após a morte de RamsésRamessés&nbsp;II e a subida ao trono de seu filho Merneptá, a instabilidade política assolou o Egito.<ref name=Go22/> Diversos golpes de Estado depuseram muitos faraós em pouco tempo e diversos distúrbios civis, corrupção, revoltas de trabalhadores e roubos de túmulos contribuíram à instabilidade interna. Como forma de ganhar popularidade, durante o início da {{lknb|XX|dinastia|egípcia}} foram concedidas terras, tesouros e escravos para os sacerdotes dos templos de [[Amom (deus)|Amom]], o que fortaleceu o poder destes,{{sfn|Pinch|2008|p=39-41}} e esse poder crescente fragmentou o país durante o [[Terceiro Período Intermediário]].{{sfn|James|2005|p=54}}
 
=== Terceiro Período Intermediário {{-nwrap||1069|664}} ===
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[[Imagem:Third Intermediate Period map-pt.svg|thumb|upright|Por volta de {{AC|730|n}}, líbios vindos do oeste fragmentaram a unidade política do país]]
 
Após a morte de {{lknb|RamsésRamessés|XI}} em {{AC|1069|n}}, [[Esmendes]] assumiu a autoridade sobre a parte norte do Egito governando a partir da cidade de [[Tânis]]. O sul foi ''de facto'' controlado pelos sumos sacerdotes de Amom em Tebas, que reconheciam Esmendes apenas formalmente.{{sfn|Cerny|1975|p=645}} O sacerdote [[Piankh]] conseguiu deter a expansão do [[Reino de Cuxe]] que havia dominado boa parte do [[Alto Egito]].{{sfn|name=Go39|Gomes|2010|p=34-39}}
 
Na mesma época, os líbios tinham se instalado no [[Delta do Nilo|Delta Ocidental]], e os líderes destes colonos começaram a ganhar autonomia. Os príncipes líbios assumiram o controle do delta no reinado de {{lknb|Sisaque|I}} em {{AC|945|n}}, fundando a dinastia chamada Líbia ou Bubastilas, que governaria por cerca de 200 anos. Sisaque também ganhou o controle do sul do Egito, ao colocar os seus familiares em importantes cargos sacerdotais. Invadiu a [[Palestina (região)|Palestina]] durante o reinado do rei [[Roboão]] e restaurou o comércio com [[Biblos]], aumentando a prosperidade da dinastia.<ref name=Go39/>
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O gênero conhecido como ''[[Sebayt]]'' (''instruções'') foi desenvolvido para comunicar os ensinamentos e orientações dos nobres famosos. Deste género destaca-se o ''[[Ensinamento de Ptaotepe]]'', que em trinta e seis máximas expõe as reflexões do seu autor (um vizir) sobre as relações humanas. O ''[[Papiro Ipuur]]'', um poema de lamentações descrevendo catástrofes naturais e agitação social, é um papiro contraditório, pois até o presente não se chegou a um consenso quanto a seu período, podendo ser um poema descritivo do [[Primeiro Período Intermediário|Primeiro]] ou [[Segundo Período Intermediário]]. A ''[[Aventuras de Sinué|história de Sinué]]'', escrita em egípcio médio, é um clássico da literatura egípcia, contando as peripécias da personagem homônima.{{sfn|Lichtheim|1975|p=11}} O ''[[Papiro Westcar]]'' também escrito nesse período, é um conjunto de histórias contadas a [[Quéops]] por seus filhos, relatando as maravilhas realizadas pelos sacerdotes.{{sfn|Lichtheim|1975|p=215}} A obra ''[[Instruções de Amenemés]]'' é considerada uma obra-prima da literatura do [[Oriente Próximo]].{{sfn|Day|1997|p=23}} Outras histórias famosas são o ''[[Conto do Náufrago]]'' (história de um marinheiro que naufragou em uma ilha habitada por uma serpente), do ''Príncipe predestinado'' (história de um príncipe amaldiçoado), dos ''Dois Irmãos'' (história de vinganças causada pela mulher de um dos irmãos) e a ''Sátira das profissões'' ([[sátira]] realizada por escribas para mostrar os incômodos das outras profissões que não fossem o ofício de escriba).<ref name=Be78/>
 
O egípcio tardio foi falado no [[Império Novo]] e está representado em documentos administrativos do [[Império Novo|período raméssida]],, poesias de amor e contos, bem como em textos demóticos e coptas. No final do Império Novo, a língua vernácula foi mais frequentemente empregada para escrever peças populares como a ''[[História de Unamón]]'' e a ''[[Instrução de Any]]''. O primeiro conta a história de um nobre que é roubado quando se dirigia ao [[Fenícia|Líbano]] para comprar madeira de [[cedro-do-líbano|cedro]] e as suas peripécias para voltar ao Egito. Durante este período, papiros como o ''[[Papiro Cester Beatty I|Papiro Cester Beatty&nbsp;I]]'', ''[[Papiro Harris 500]]'' e um fragmento do ''[[Papiro de Turim]]'' mostram um tipo de poesia amorosa, com temas de paixão e [[erotismo]]. A partir de cerca de {{AC|700|n}}, histórias narrativas e instruções, como a popular ''Instruções de Onchsheshonqy'', bem como documentos pessoais e empresariais foram escritos em [[Egípcio demótico|demótico]]. A ação de muitas histórias escritas em demótico durante o período greco-romano decorria em épocas históricas anteriores, de quando o Egito era uma nação independente governada por grandes faraós como {{lknb|RamsésRamessés|II}}.{{sfn|Lichtheim|1980|p=159}}
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